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Apostila aulas 6 e 7 civil 5 profº Amanda

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Apostila Esquematizada Direito das Famílias 
Direito Civil V 
2019.1 
Professora Amanda G. Ferreira – amandaguedesferreira@gmail.com / (24) 9.8155-6089 
 
 ATENÇÃO: a presente apostila NÃO 
substitui a leitura de doutrina e do material 
complementar e do acompanhamento 
das aulas. 
O conteúdo aqui abordado não exaure a 
matéria e NÃO vincula o conteúdo da 
prova. 
 
ATENÇÃO – 
APOSTILA EM 
ATUALIZAÇÃO!!!! 
CONTEÚDO DAS 
AULAS 6 E 7! NÃO 
IMPRIMIR!!!!!! 
 
- CASAMENTO PUTATIVO - 
 
Art. 1.561 CC/02. Embora anulável 
ou mesmo nulo, se contraído de 
boa-fé por ambos os cônjuges, o 
casamento, em relação a estes 
como aos filhos, produz todos os 
efeitos até o dia da sentença 
anulatória. 
 
§ 1º Se um dos cônjuges estava de 
boa-fé ao celebrar o casamento, 
os seus efeitos civis só a ele e aos 
filhos aproveitarão. 
 
§ 2º Se ambos os cônjuges estavam 
de má-fé ao celebrar o casamento, 
os seus efeitos civis só aos filhos 
aproveitarão. 
 
Putare é uma palavra latina que significa 
imaginar. 
 
A putatividade não é novidade no estudo 
jurídico, podendo mencionar a legítima 
defesa putativa, disposta em nosso Código 
Penal. 
 
A mesma essência da legítima defesa 
putativa é aplicável para o casamento 
putativo. 
 
Aqui, o cônjuge imagina inexistir qualquer 
causa obstativa do casamento, agindo de 
boa-fé ao contrair vínculo aparentemente 
válido. 
 
Há verdadeira ignorância em relação à 
existência de causa de nulidade ou 
anulabilidade do casamento. 
 
Interessante que estaremos diante do 
casamento putativo inclusive quando 
ambos os cônjuges, agindo de boa-fé, 
desconhecem a presença de um 
impedimento matrimonial, como é o caso, 
por exemplo, de serem irmãos. 
 
Há a aplicação da teoria da aparência e o 
respeito ao princípio da ETICIDADE (as partes 
devem ser éticas, agirem com lealdade!). 
Trazendo a conceituação de Pablo Stolze e 
Rodolfo Pamplona: 
 
“O casamento putativo é o 
matrimônio que, contraído de boa-
fé por um ou ambos os consortes, 
posto padeça de nulidade 
absoluta ou relativa, tem os seus 
efeitos jurídicos resguardados em 
favor do cônjuge inocente.” (p. 
273) 
 
Especificamente em relação aos filhos, 
não importa se o casamento é putativo ou 
não, visto que os direitos à prole sempre 
serão resguardados. 
 
Observe que só estaremos diante de 
casamento putativo se houver invalidade do 
matrimônio. Ou seja, estamos diante do 
plano da validade, e não da existência. 
 
Só poderemos falar em casamento putativo 
se o mesmo for nulo ou anulável; nunca 
inexistente. 
 
A putatividade do casamento pode ser 
reconhecida de ofício pelo juiz, no bojo da 
ação de nulidade ou de anulação do 
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casamento. Ou seja: independe de 
alegação pela parte. 
 
Ademais, observe: a ignorância não pode 
ser jurídica, já que é vedado argumentar o 
desconhecimento da lei como forma de 
defesa. É o caso quando ocorre o 
casamento entre parentes por afinidade na 
linha reta (sogro com nora etc), e 
argumentam que não sabiam que sogro e 
sogra é para sempre! Neste caso o 
casamento será NULO e não haverá 
casamento putativo! 
 
- Efeitos do casamento putativo 
 
O reconhecimento do casamento putativo 
enseja a preservação dos efeitos jurídicos do 
casamento ao cônjuge que estiver de boa-
fé. 
 
Teremos duas situações distintas: 
 
- Ambos os cônjuges de boa-fé 
- Apenas um dos cônjuges de boa-fé 
 
Vamos analisar cada uma das hipóteses: 
 
Casamento putativo contraído de boa-fé por 
ambos os cônjuges 
 
Com a invalidação do casamento há a 
cessação dos deveres e direitos conjugais, 
como é o caso, por exemplo, da fidelidade 
recíproca e da coabitação. 
 
Em relação aos alimentos, há de se observar 
o princípio da solidariedade, sendo justo que 
haja sua fixação segundo a necessidade e 
a possibilidade dos cônjuges. 
 
Já questões relativas à herança não se 
manterão, sendo extinto o direito à herança 
a partir da prolação da sentença de 
nulidade ou de anulação. Assim, se um dos 
cônjuges falecer antes da sentença de 
invalidade do casamento, o direito 
sucessório deverá ser mantido. 
 
Em relação a partilha, tendo em vista a boa-
fé dos nubentes, há de ser feita de acordo 
com o regime de bens firmado, como se o 
juiz estivesse conduzindo um simples 
divórcio. 
 
Quanto ao nome, adotamos a corrente que 
entende que, mesmo de boa-fé, o cônjuge 
que tiver adotado o nome do outro deverá 
perdê-lo, salvo em hipóteses excepcionais e 
com plausível justificativa. 
 
Por fim, em relação à emancipação, a 
mesma será mantida em relação ao 
cônjuge que casou de boa-fé, inexistindo 
retorno à situação de incapacidade. 
 
Casamento inválido contraído de boa-fé por 
um dos cônjuges 
 
A outra hipótese cabível é quando apenas 
um dos cônjuges está de boa-fé. 
 
Por questões óbvias, os deveres e direitos 
advindos do casamento deverão cessar 
para ambos os cônjuges. 
 
Entretanto, em relação aos alimentos, este 
será devido única e exclusivamente para o 
cônjuge de boa-fé. 
 
Assim, mesmo que o outro necessite de 
pensão, essa não será devida já que ele 
tinha ciência da impossibilidade jurídica de 
se contrair o matrimônio – afasta-se o 
princípio da solidariedade. 
 
O direito à herança deve ser extinto a contar 
da data da prolação da sentença, e, 
ocorrendo a morte do cônjuge de má-fé 
ainda no trâmite da ação de invalidade do 
casamento, terá o cônjuge de boa-fé direito 
à sucessão. 
 
Nesse ponto é interessante verificarmos a 
situação entre a divisão hereditária ocorrida 
entre o cônjuge inocente (putativo) e o 
primeiro cônjuge do bígamo. 
 
Em razão da equidade, recomenda-se a 
divisão do patrimônio deixado pelo cônjuge 
de má-fé (bígamo), resguardando-se o 
direito próprio de meação do primeiro 
cônjuge do bígamo e do cônjuge putativo. 
Desde já ressaltamos a impossibilidade de se 
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confundir herança com meação! Tal tema 
será estudado em direito sucessório. 
 
Ainda sobre a questão patrimonial, o 
cônjuge putativo tem direito de haver de 
volta tudo o que concorreu para a formação 
do patrimônio comum, inclusive as doações 
que eventualmente tenha feito ao outro. 
 
Quanto ao nome e a emancipação, 
mantemos os entendimentos estabelecidos 
supra, com uma única ressalva: o cônjuge 
de má-fé, caso tenha sido emancipado, 
voltará à situação de incapacidade. 
 
Por fim, pode o cônjuge putativo pleitear 
reparação pelos danos morais suportados. 
 
Plano de Eficácia 
 
Já analisamos dois planos da escada 
ponteana, quais sejam: existência e 
validade. 
 
Iniciamos agora o estudo do terceiro e 
último plano, o qual engloba os efeitos 
jurídicos pessoais e patrimoniais do 
casamento: deveres matrimoniais e das 
causas suspensivas do casamento. 
 
- CAUSAS SUSPENSIVAS – 
 
Muitas pessoas acabam crendo, com razão, 
que as causas suspensivas do casamento 
acabariam suspendendo o matrimônio. 
 
Entretanto, desde já vale ressaltar que, em 
verdade, a suspensão é única e 
exclusivamente da prerrogativa de escolha 
do regime de bens – estatutopatrimonial. 
 
A incidência de uma das causas suspensivas 
não irá atingir a validade do casamento, 
mas sim o plano de eficácia: eficácia 
patrimonial. 
 
Nesse sentido estabelece o artigo 1.641, 
inciso I, do CC/02 a obrigatoriedade da 
incidência do regime de separação 
obrigatória de bens: 
 
Art. 1.641 CC/02. É obrigatório o 
regime da separação de bens no 
casamento: 
 
I - das pessoas que o contraírem 
com inobservância das causas 
suspensivas da celebração do 
casamento; (...) 
 
Como restará facilmente demonstrado, tais 
hipóteses visam basicamente a proteção: 
 
✓ da prole; 
✓ de relacionamentos anteriores; 
✓ da idoneidade da manifestação de 
vontades. 
As causas suspensivas estão dispostas no 
artigo 1.523 CC/02: 
 
Art. 1.523 CC/02. Não devem casar: 
 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho 
do cônjuge falecido, enquanto não 
fizer inventário dos bens do casal e 
der partilha aos herdeiros; 
 
II - a viúva, ou a mulher cujo 
casamento se desfez por ser nulo ou 
ter sido anulado, até dez meses 
depois do começo da viuvez, ou da 
dissolução da sociedade conjugal; 
 
III - o divorciado, enquanto não 
houver sido homologada ou 
decidida a partilha dos bens do 
casal; 
 
IV - o tutor ou o curador e os seus 
descendentes, ascendentes, 
irmãos, cunhados ou sobrinhos, 
com a pessoa tutelada ou 
curatelada, enquanto não cessar a 
tutela ou curatela, e não estiverem 
saldadas as respectivas contas. 
 
Parágrafo único. É permitido aos 
nubentes solicitar ao juiz que não 
lhes sejam aplicadas as causas 
suspensivas previstas nos incisos I, III 
e IV deste artigo, provando-se a 
inexistência de prejuízo, 
respectivamente, para o herdeiro, 
para o ex-cônjuge e para a pessoa 
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tutelada ou curatelada; no caso do 
inciso II, a nubente deverá provar 
nascimento de filho, ou inexistência 
de gravidez, na fluência do prazo. 
 
Desde já é interessante deixamos registrado 
que o parágrafo único do referido artigo 
estabelece a possibilidade dos nubentes 
solicitarem ao juiz a não aplicação da causa 
suspensiva, desde que haja a comprovação 
de ausência de prejuízo, ou então a 
inexistência de nascimento de filho ou de 
gravidez. 
 
Nos aprofundaremos em cada um dos 
incisos. 
Casamento do(a) viúvo(a), com filhos do 
falecio, sem a realização do inventário e da 
partilha 
 
Não há dúvidas de que a intenção do 
legislador foi a preservação dos interesses 
patrimoniais do filho do cônjuge falecido. 
 
Evitar a confusão patrimonial. 
 
Já que a massa patrimonial não estará 
individualizada no caso de inexistência do 
inventário e da partilha, não se sabe 
exatamente quais os bens serão destinados 
ao patrimônio pessoal do filho e quais serão 
do viúvo, o que justifica a proteção relativa 
ao regime de bens. 
 
Entretanto, sabemos que nem sempre é 
necessário o inventário, como ocorre 
quando da inexistência de bens a partilhar. 
 
Nessas hipóteses é recomendável a 
realização de inventário negativo, o qual 
pode ser realizado extrajudicialmente (art. 
610, parágrafo 1º, CPC/15), e visa 
justamente comprovar que não há bens 
para serem partilhados, afastando, inclusive, 
a norma do artigo 1.523, inciso I, CC/02. 
 
Casamento da viúva ou da mulher cujo 
casamento tenha sido nulo ou anulado, 
antes do decurso de dez meses 
 
Essa hipótese visa evitar a confusão 
relacionada a paternidade, mais conhecida 
como confusio sanguinis ou turbatio 
sanguinis. 
 
 
O artigo 1.597 CC/02, estabelece que: 
 
Art. 1.597 CC/02. Presumem-se 
concebidos na constância do 
casamento os filhos: 
 
I - nascidos cento e oitenta dias, 
pelo menos, depois de 
estabelecida a convivência 
conjugal; 
 
 
II - nascidos nos trezentos dias 
subsequentes à dissolução da 
sociedade conjugal, por morte, 
separação judicial, nulidade e 
anulação do casamento; 
 
Inclua-se ao inciso II, supratranscrito, a 
hipótese de divórcio, face a inexistência de 
prazo após a Emenda Constitucional 66/10. 
 
Atenção: nós sabemos que para o Direito 10 
meses é diferente de 300 dias; entretanto, 
em matéria de causas suspensivas, teremos 
que trabalhar as hipóteses como análogas. 
 
Questiona-se: diante do avanço da 
medicina há ainda razoabilidade para 
manter tal causa suspensiva?! 
 
 
 
Casamento do(a) divorciado(a), pendente 
a partilha dos bens do casal 
 
Seguindo o mesmo fundamento da alínea 
‘a’, o Código Civil não recomenda o 
casamento quando inexiste a partilha dos 
bens de relação anterior. 
 
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Observe-se que aqui estamos diante da 
necessidade de homologação ou decisão 
judicial relativa a tal divisão, não bastando a 
mera propositura de ação judicial, por 
exemplo. 
 
Há nítida preservação dos interesses do 
antigo cônjuge. 
 
Mas, por razões óbvias, demonstrada a 
ausência de prejuízo (por exemplo, caso 
inexistam bens a serem partilhados), o 
segundo casamento poderá ser realizado 
seguindo o regime de bens escolhido pelos 
novos cônjuges. 
 
Casamento do(a) tutor(a), curador(a) ou 
seus parentes com a pessoa tutelada ou 
curatelada 
 
Finalmente, esta hipótese também visa a 
proteção patrimonial e da efetiva 
manifestação de vontade da pessoa 
tutelada ou curatelada, visto que, para os 
legisladores, o curador/tutor pode acabar 
influenciando na decisão do 
curatelado/tutelado. 
 
Por óbvio que cessada a tutela ou a 
curatela, após a devida prestação de 
constas (e sua aprovação), não haverá a 
incidência de causa suspensiva. 
 
- FORMA DE ARGUIÇÃO DAS CAUSAS 
SUSPENSIVAS 
 
Os próprios interessados podem arguir a 
existência de causa suspensiva, conforme se 
afere por meio da interpretação do artigo 
1.524 CC/02: 
 
Art. 1.524 CC/02. As causas 
suspensivas da celebração do 
casamento podem ser arguidas 
pelos parentes em linha reta de um 
dos nubentes, sejam 
consanguíneos ou afins, e pelos 
colaterais em segundo grau, sejam 
também consanguíneos ou afins. 
 
Ponto focal também deve ser ressaltado em 
relação à legitimidade do ex-marido / ex-
esposa. Verifica-se que em momento algum 
o artigo menciona tais personagens como 
legitimados para a arguição (lembrem-se: 
marido e mulher não são parentes!). 
 
Entretanto, não se pode negar sua 
legitimidade quando estivermos diante da 
hipótese disposta no artigo 1.523, incisos II e 
III CC/02, por questões óbvias: os titulares da 
proteção são exatamente eles! 
 
 
 
 
 
 
 
Após a publicação do Edital de Proclamas, 
o interessado deverá apresentar a 
impugnação de forma escrita, a qual 
também deverá ser assinada, conforme já 
estudamos anteriormente (arts. 1.527 e 1.529 
CC/02) – reforçamos que a oposição de 
causas suspensivas deve ser feita dentro dos 
15 dias em que o Edital ficará afixado. 
 
Após o contraditório, caso o juiz julgue 
procedente a impugnação, haverá a 
incidência do regime de separação 
obrigatória para a celebração do 
casamento. 
 
No momento em que há a arguição de 
causa suspensiva, pode o nubente requerer 
autorização do juiz para a celebração do 
casamento sem a incidênciado regime de 
separação de bens, desde que haja a 
comprovação de inexistência de prejuízo. 
 
- CONSEQUÊNCIAS DA VERIFICAÇÃO DE 
CAUSAS SUSPENSIVAS 
 
E se… 
E se o casamento for realizado sem a 
oposição de causa suspensiva durante o 
proclamas, sendo que existe tal 
circunstância?! 
 
Como já dissemos, não há nenhuma 
consequência no plano da validade do 
casamento. Ou seja: O CASAMENTO NÃO 
SERÁ NULO NEM ANULÁVEL! O casamento é 
EXISTENTE! 
 
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Nos parece sensata a conclusão de que 
com a verificação posterior da existência de 
causa suspensiva, por meio de ação 
autônoma ou incidental (ex.: ação de 
separação ou inventário), a consequência 
será a incidência do regime de separação 
obrigatória, de forma retroativa (a contar da 
data da celebração do casamento!), 
tornando ineficaz outro regime de bens 
previamente estipulado. 
 
 
 
 
 
Por fim, já adiantando o assunto que será 
aprofundado quando estudarmos o pacto 
antenupcial, extinguindo uma das causas 
que gerou o regime de separação 
obrigatória (causas suspensivas, por 
exemplo), poderão os cônjuges alterar o 
regime para outro que melhor lhe convir. 
 
Art. 1.639, § 2º CC/02. É admissível 
alteração do regime de bens, 
mediante autorização judicial em 
pedido motivado de ambos os 
cônjuges, apurada a procedência 
das razões invocadas e ressalvados 
os direitos de terceiros 
 
- DEVERES DO CASAMENTO – EFICÁCIA 
DO CASAMENTO – 
 
Utilizando o termo ‘Eficácia’, o Código Civil 
de 2002, em seu artigo 1.566, regula alguns 
dos efeitos do casamento. Desde já 
deixamos claro que são apenas alguns, pois 
o rol é meramente exemplificativo, 
conforme ensina doutrina majoritária (para 
não afirmarmos unânime, pois pelo menos 
nesse sentido não parece haver 
divergências). 
 
Entretanto, antes de analisarmos o artigo 
mencionado, é importante observarmos 
que, segundo o professor Flávio Monteiro de 
Barros, o casamento gera efeitos de ordem: 
 
PESSOAL: 
Artigo 1.566 CC/02 
PATRIMONIAL 
Dever recíproco de sustento 
Regime de bens 
Direito à sucessão 
Bem de família 
Presunção de filiação 
SOCIAL 
Constituição de Família 
Obrigação de não fazer (não 
intervenção) 
Vincula terceiros (parentesco por 
afinidade) 
 
Em que pese tal divisão não ser unânime, ela 
é endossada por Maria Berenice Dias. 
 
Assim, com o casamento surgem deveres e 
direitos para ambos os cônjuges, além de 
atingir terceiros em hipóteses excepcionais, 
como nos casos de parentesco por 
afinidade e na obrigação de não fazer. 
 
Os efeitos patrimoniais e sociais não 
precisam de maiores explicações, pois são 
autoexplicativos. 
 
Analisaremos, assim, os efeitos de ordem 
pessoal. 
 
Art. 1.566 CC/02. São deveres de 
ambos os cônjuges: 
 
I - fidelidade recíproca; 
 
II - vida em comum, no domicílio 
conjugal; 
 
III - mútua assistência; 
 
IV - sustento, guarda e educação 
dos filhos; 
 
V - respeito e consideração mútuos. 
 
Ressaltamos que atualmente há a 
horizontalização dos deveres e direitos 
matrimoniais, ou seja existe igualdade entre 
os cônjuges tanto em relação aos direitos 
quanto aos deveres que nascem com o 
casamento, inexistindo a antiga visão da 
mulher como subordinada. 
 
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Em verdade, a partir de agora temos 
condutas colaboradoras e corresponsáveis 
entre os casais. 
 
Nesse sentido: 
 
Art. 226 CC/02. A família, base da 
sociedade, tem especial proteção 
do Estado. 
(…) 
 § 5º Os direitos e deveres referentes 
à sociedade conjugal são 
exercidos igualmente pelo homem 
e pela mulher. 
 
 
Art. 1.565 CC/02. Pelo casamento, 
homem e mulher assumem 
mutuamente a condição de 
consortes, companheiros e 
responsáveis pelos encargos da 
família. 
 
Art. 1.567 CC/02. A direção da 
sociedade conjugal será exercida, 
em colaboração, pelo marido e 
pela mulher, sempre no interesse do 
casal e dos filhos. 
 
Parágrafo único. Havendo 
divergência, qualquer dos cônjuges 
poderá recorrer ao juiz, que 
decidirá tendo em consideração 
aqueles interesses. 
 
- Estado Civil 
 
Em que pese não estar presente no artigo 
1.566 do CC/02, o ‘segundo’ efeito do 
casamento (logo após a Constituição da 
Família) é a alteração do estado civil dos 
cônjuges, os quais passam de 
solteiros/viúvos/divorciados para casados. 
 
No Direito de Família, como regra geral, não 
é possível que as partes voltem ao status quo 
(estado anterior), ou seja, uma vez casado 
nunca mais será solteiro, salvo se houver a 
nulidade ou a anulação do casamento, 
como já estudamos. 
 
Com o fito de enriquecermos os estudos, 
trazemos o ensinamento de Maria Berenice 
Dias sobre o tema: 
 
“A condição de casado cria 
restrições para a prática de 
determinados atos, daí a 
justificativa de essa informação 
integrar a qualificação das pessoas. 
O estado civil identifica a 
titularidade dos bens e a 
necessidade de haver a 
concordância de outrem para a 
prática de determinados atos (CC 
1.647). No entanto, a partir do 
momento em que a união estável 
passou a produzir os mesmos efeitos 
de ordem patrimonial, sem reflexos 
no estado civil dos conviventes, a 
insegurança jurídica está 
instalada”. (DIAS, Maria Berenice, 
Manual de Direito das Famílias, 
2018). 
 
Na tentativa de facilitar a compreensão, 
com a máxima vênia à nobre jurista, a 
alteração do estado civil visa alertar 
terceiros em relação à existência ou não de 
restrições para a prática de determinados 
atos. 
 
É como ‘acender a luz de atenção’ quando 
da realização de negócios jurídicos 
envolvendo bens, especialmente bens 
imóveis em razão da indispensável 
autorização conjugal (outorga uxória ou 
marital). 
 
Reforçamos que a união estável não altera 
o estado civil dos envolvidos (continuam 
sendo solteiros, viúvos, divorciados ou até 
mesmo casados (art. 1.723, parágrafo 1º 
CC/02): 
 
Art. 1.723, § 1º CC/02. A união 
estável não se constituirá se 
ocorrerem os impedimentos do art. 
1.521; não se aplicando a 
incidência do inciso VI no caso de a 
pessoa casada se achar separada 
de fato ou judicialmente. 
 
- Patronímico 
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O ‘segundo’ efeito natural do casamento é 
a possibilidade de um adotar o nome do 
outro (artigo 1.565, parágrafo 1º CC/02). 
 
Diferentemente do que ocorria outrora, 
atualmente não há qualquer vedação para 
o acréscimo do nome de família do seu par. 
 
Art. 1.565, § 1º CC/02. Qualquer dos 
nubentes, querendo, poderá 
acrescer ao seu o sobrenome do 
outro. 
 
Assim, a inclusão pode ser recíproca, 
unitária, ou sequer ocorrer, ocasião em que 
manterão os nomes de solteiros. 
 
O momento mais adequado para a 
realização da aludida alteração é no bojo 
do processo de habilitação, ocasião em que 
é dispensável a propositura de processo 
judicial para tanto. 
 
Importante ressaltarmos a polêmica 
doutrinária relativa a possibilidade de 
exclusão de um nomede família, uma vez 
que o artigo supramencionado utiliza o 
verbo ‘acrescer’. 
 
Os doutrinadores mais legalistas afirmam a 
impossibilidade de excluir patronímico 
familiar, visto que interpretação contrária 
afrontaria texto expresso da lei. 
 
Por outro lado, corrente mais 
contemporânea (seguida por Maria 
Berenice Dias, Pablo Stolze, Rodolfo 
Pamplona, Flávio Tartuce, Leoni e, por mais 
incrível que possa parecer, Maria Helena 
Diniz), afirma que a exclusão é possível visto 
que inexiste qualquer vedação para tanto. 
 
Como nada no Direito é tão ‘simples’, 
mesmo admitindo a exclusão há 
divergência entre os doutrinadores, pois há 
aqueles, como José Maria Leoni, que 
entendem que é imprescindível ajuizar 
demanda judicial para tanto (conforme 
entendimento inclusive do STJ), e outros, 
como Maria Berenice Dias, que 
simplesmente afirmam pela viabilidade da 
exclusão, sem qualquer requisito adicional. 
 
Ademais, é importante que tal mudança 
não gere confusão entre os parentes, como 
é o caso, por exemplo, de se excluir ‘Júnior’, 
‘Filho’, ‘Neto’, etc. 
 
Recomendamos a Leitura do Material 
Complementar 
 
Por fim, a título de conhecimento, ainda 
existem os que aceitam a alteração, mas 
afirmam a necessidade de se justificar tal 
ato, como, por exemplo, nos casos de 
nomes extremamente longos. 
 
 
 
Ainda em relação ao patronímico, ressalta-
se que a doutrina majoritária, seguindo 
entendimento jurisprudencial do STJ, 
entende pela viabilidade de 
inclusão/alteração do nome após o 
casamento, desde que haja ação judicial 
requerendo tal intento: 
 
“Deve-se estender ao período de 
convivência do casal, enquanto 
perdurar o vínculo conjugal. Porém, 
nesta hipótese, o nome deve ser 
acrescido por intermédio da ação 
de retificação de registros públicos, 
nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei 
de Registros Públicos (Lei n. 
6.015/1973)”. STJ – REsp 910.094-SC, 
rel. Raul Araújo, julgado em 
4/9/2012. 
 
 
Finalmente analisaremos os efeitos 
matrimoniais típicos dispostos no artigo 1.566 
do Código Civil de 2002. 
 
Art. 1.566 CC/02. São deveres de 
ambos os cônjuges: 
 
I - fidelidade recíproca; 
II - vida em comum, no domicílio 
conjugal; 
III - mútua assistência; 
IV - sustento, guarda e educação 
dos filhos; 
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V - respeito e consideração mútuos. 
 
- Fidelidade Recíproca 
 
Digamos, utilizando uma linguagem mais 
‘vulgar’, que esse efeito/dever ‘está na 
boca do povo’ – todo mundo sabe do que 
se trata – ou deveria saber! 
 
Em razão do ‘princípio’ da monogamia o 
Estado intervém na vida do casal afirmando 
que ambos devem ser fiéis, reciprocamente. 
 
 
 
 
Mas, o que é ser fiel?! O que vem a ser o 
adultério?! 
 
A doutrina clássica afirma que para a 
configuração da violação do dever de 
fidelidade é indispensável a caracterização 
do adultério, o qual só ocorria quando da 
prática de relações sexuais (Orlando 
Gomes). 
 
Assim, ‘beijo na boca’, ‘abraços 
acalorados’, ‘apertos de mãos demorados’, 
‘olhar 43, 44, 45, 46...’ não poderiam ser 
considerados adultérios, mas meras 
condutas desonrosas ou injúrias graves, 
afastando, consequentemente, a 
infidelidade. 
 
Uma vez que o crime de adultério não mais 
existe, além das alterações de conceitos 
advindas com as práticas cotidianas, não 
mais se justifica tantas formalidades para a 
caracterização da infidelidade. 
 
As carícias, os afagos, conversas íntimas, 
enfim, todo e qualquer comportamento que 
acabe invadindo a esfera íntima do casal 
atualmente pode ser considerada 
infidelidade. 
 
Seja injúria grave, adultério ou ‘apenas’ 
condutas desonrosas, o que importa é que 
cabe exclusivamente ao casal estabelecer 
se tais atos são ou não considerados 
infidelidade. 
 
Ora, devemos deixar de ser tão 
conservadores e analisar a situação de 
forma mais contemporânea: não cabe 
única e exclusivamente ao casal traçar as 
decisões relativas à forma como se dará o 
casamento e o planejamento familiar como 
um todo?! Além disso, não podemos afirmar 
que é inegável a existência de verdadeira 
obrigação de NÃO FAZER em relação a 
terceiros e ao Estado?! 
 
Bem, então não cabe a nós julgarmos como 
proibido a um casal a escolha de viverem o 
moderno ‘relacionamento aberto’, desde 
que tal seja a expressão da mais 
transparente vontade de ambos. 
 
Se marido e marido, mulher e mulher, ou 
marido e mulher desejam manter relações 
sexuais ou amorosas extraconjugais; 
desejam frequentar ‘boates de swing’ ou 
qualquer outro tipo de relacionamento mais 
liberal, o problema é deles, e não nosso. 
 
Entretanto, devemos realizar uma 
ponderação: tal liberdade não pode ferir a 
monogamia. Em outras palavras: é vedado 
que tais escolhas acabem ocasionando a 
constituição de famílias simultâneas ou o 
poliamorismo, sob pena de configuração de 
concubinato, e, dependendo da hipótese, 
até o crime de bigamia. 
 
Apoiamos a ideia de que a liberdade existe, 
mas com limites. 
 
Afastamos inclusive o argumento daqueles 
que fundamentam o dever de fidelidade na 
tentativa de se evitar a confusão quanto a 
filiação, tendo em vista a presunção 
disposta no artigo 1.597 CC. 
 
Art. 1.597 CC/02. Presumem-se 
concebidos na constância do 
casamento os filhos: 
 
I - nascidos cento e oitenta dias, 
pelo menos, depois de 
estabelecida a convivência 
conjugal; 
 
II - nascidos nos trezentos dias 
subsequentes à dissolução da 
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sociedade conjugal, por morte, 
separação judicial, nulidade e 
anulação do casamento; 
 
III - havidos por fecundação 
artificial homóloga, mesmo que 
falecido o marido; 
 
IV - havidos, a qualquer tempo, 
quando se tratar de embriões 
excedentários, decorrentes de 
concepção artificial homóloga; 
 
V - havidos por inseminação 
artificial heteróloga, desde que 
tenha prévia autorização do 
marido. 
Ora, em época em que se existe DNA nada 
mais justifica a limitação almejada. 
 
- Infidelidade Virtual 
 
Bem, ainda sobre o efeito/dever de 
fidelidade, temos modernamente a 
denominada ‘Infidelidade Virtual’, a qual 
nada mais é do que o ato de manter 
conversas com terceiro(a), pela internet ou 
telefone, com o intuito de satisfação sexual 
ou até mesmo pessoal, suprindo anseios e 
desejos íntimos. 
 
É o ‘namoro à distância’. 
 
A doutrina considera que tal prática pode 
ser considerada infidelidade moral, visto que 
afronta o dever de lealdade do casal, 
configurando injúria grave. 
 
Por outro lado, Leoni levanta a possibilidade 
do cônjuge alegar a inviolabilidade do sigilo 
de correspondência (em seu sentido amplo 
– artigo 5º, XII CRFB/88), e a invasão de 
privacidade (art. 5º, X, CRFB/88). Se 
analisarmos friamente, tal alegação não é 
descabida. 
 
Estamos diante de um conflito de interesses, 
e há de se adotar o critério da 
proporcionalidade: o direito do cônjuge que 
alega a traição vai de encontro ao direito à 
intimidade do outro, o qual é 
constitucionalmente amparado. 
 
Por fim, interessante a ponderação de Maria 
Berenice Dias, a qual afirma que: 
 
“Quando se está frente à auréolade absoluta privacidade de 
alguém, e seu agir em nada atinge 
a dignidade do outro, não se pode 
falar em adultério ou infidelidade 
virtual. Senão, em pouco tempo, se 
estará querendo reconhecer como 
infringência ao dever de fidelidade 
o mero devaneio, a simples fantasia 
que empresta tanto sentido à vida. 
Não há como nominar de 
infidelidade – e muito menos de 
adultério – encontros virtuais, sob 
pena de se ter como reprovável o 
simples desejo, ou a idealização de 
um contato com o protagonista de 
um filme que se esteja assistindo. 
(...) Afinal, ninguém pode ser 
impedido de sonhar!” (DIAS, Maria 
Berenice, Manual de Direito das 
Famílias, 2018). 
 
O tema é de interessante debate, sendo 
certo que há inúmeras pesquisas e estudos 
que buscam aprofundar as consequências 
de tais comportamentos. 
 
Entretanto, não nos parece aceitável a 
simples afirmação de que em decorrência 
da impossibilidade momentânea de 
contato físico afastada estará a ilicitude do 
ato. 
 
Interessante reportagem fora publicada no 
portal Conjur: 
 
“A Justiça do Distrito Federal 
aceitou a troca de mensagens por 
e-mail entre um homem e sua 
amante como prova de adultério e 
condenou o homem a pagar 
indenização de R$ 20 mil por danos 
morais à ex-mulher. O autor da 
sentença, juiz Jansen Fialho de 
Almeida, titular da 2ª Vara Cível de 
Brasília, desconsiderou a alegação 
do homem de quebra de sigilo das 
mensagens eletrônicas, porque os 
e-mails estavam gravados no 
computador de uso da família e a 
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mulher tinha acesso à senha do ex-
marido. ‘Simples arquivos não estão 
resguardados pelo sigilo conferido 
às correspondências’, concluiu. 
Cabe recurso ao Tribunal de Justiça 
do Distrito Federal. Para o juiz, o 
adultério foi demonstrado pela 
troca de mensagens eróticas. O 
dano moral se caracterizou porque, 
nas mensagens, o marido fazia 
comentários jocosos sobre o 
desempenho sexual da mulher, 
afirmando que ela era ‘fria’ na 
cama. 
 
 
‘Se a traição, por si só, já causa 
abalo psicológico ao cônjuge 
traído, tenho que a honra subjetiva 
da autora foi muito mais agredida, 
em saber que seu marido, além de 
traí-la, não a respeitava, fazendo 
comentários difamatórios quanto à 
sua vida íntima, perante sua 
amante’, decidiu Jansen de 
Almeida”. (Conjur – 
www.conjur.com.br/static/text?665
69,1#null) 
 
Apenas complementando o estudo e 
deixando certos questionamentos que 
envolvem a infidelidade e os limites da 
mente humana: 
 
“(…) Outra notícia, fora do mundo 
do Second Life, dá conta da 
determinação do japonês Taichi 
Takashita em querer casar com 
uma personagem de desenho 
animado. Para justificar seu intento, 
indaga: ‘Por que não criar uma 
autorização legal para o 
casamento com personagens 
biodimensionais?’” (Lourival Serejo, 
Família Virtual, Boletim IBDFAM n. 54, 
jan./fev. 2009, p. 9) 
 
- Adultério casto ou de seringa 
 
Finalizando o tema, importante observarmos 
que há o denominado adultério casto, o 
qual, ao contrário do adultério tradicional, 
não exige a prática de ato sexual. 
 
Em verdade, a situação de infidelidade 
ocorre mediante inseminação artificial 
heteróloga, utilizando material genético de 
terceiro, sem a autorização do marido, a 
qual, reforce-se, é necessária. 
 
A situação inversa também pode ocorrer 
quando o marido, sem anuência da esposa, 
doa seu sêmen a um laboratório e, 
posteriormente, fica provado ter gerado o 
filho (mediante ação de investigação de 
paternidade), fato raro de ocorrer na prática, 
face o sigilo quanto aos dados do doador. 
 
Nesse caso também é possível a 
responsabilização cível do cônjuge que agir 
violando o dever de fidelidade. 
 
A consequência da violação do dever de 
fidelidade pode gerar, além da dissolução 
da sociedade conjugal (divórcio), a 
responsabilidade do cônjuge culpado em 
indenizar o inocente – dano moral. 
 
Entretanto, ressalta-se: não cabe ao Estado 
ou à sociedade requerer tais 
responsabilizações, visto, inclusive, a 
possibilidade do ‘cônjuge traído’ ‘perdoar’ 
a traição. 
 
Não se esqueçam: ‘em briga de marido e 
mulher ninguém coloca a colher’. O maior 
dos maiores ensinamentos! 
 
- Vida em comum no domicílio conjugal 
 
Segundo Orlando Gomes, ‘a coabitação 
representa mais do que a simples 
convivência sob o mesmo teto’ (p. 134), 
fazendo referência à ‘conjunção carnal’. 
 
Primeiro de tudo, a questão do domicílio 
conjugal hoje deve ser relativizada. Mais 
uma vez nos socorremos do princípio da 
intervenção mínima do Direito de Família, 
não cabendo ao Estado impor que os 
cônjuges devam obrigatoriamente morar no 
mesmo imóvel para a formação familiar. 
 
Pelo contrário, cabe única e exclusivamente 
aos dois a escolha se irão morar juntos ou em 
casas separadas. 
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Aliás, mesmo aos que não são adeptos a 
‘tanta modernidade’, o próprio Código Civil 
já previa tal possibilidade: 
 
Art. 1.569 CC/02. O domicílio do 
casal será escolhido por ambos os 
cônjuges, mas um e outro podem 
ausentar-se do domicílio conjugal 
para atender a encargos públicos, 
ao exercício de sua profissão, ou a 
interesses particulares relevantes. 
 
 
Entretanto, interessante interpretação 
normativa é realizada por Pablo Stolze e 
Rodolfo Pamplona, ao informar que o 
legislador não tinha o interesse que se 
estabelecesse a obrigação de convivência 
sob um único teto. 
 
Assim, afirmam os doutrinadores: 
 
“O que o legislador pretende, em 
nosso sentir, é, preservando a 
necessária comunhão de vida – 
pedra de toque do casamento – 
vedar que um cônjuge abandone 
a esfera de convivência com o 
outro, passando a residir em local 
diverso, sem motivo justificado e 
contra a vontade do seu consorte. 
 
Neste caso, o abandono, por 
traduzir descumprimento do dever 
conjugal (e ruptura fática), poderá 
resultar em ação judicial de 
divórcio (ou, até mesmo, de 
responsabilização civil)”. (p. 302) 
 
Seguindo a linha de Pamplona e Stolze, vale 
reforçar que havendo motivos para tal 
alteração de lar (violência física, ameaça, 
tortura, maus tratos etc), é possível ao 
cônjuge prejudicado requerer judicialmente 
a separação de corpos, com o fito de obter 
ordem que determine a saída de seu 
consorte do domicílio conjugal, ou então a 
autorização oficial para que ele mesmo saia 
do lar. 
 
- Mútua assistência 
 
Muito maior do que o amparo recíproco de 
ordem material, estamos diante de auxílio 
moral e espiritual. 
 
O casamento pressupõe (ou ao menos 
deveria pressupor) a escolha de um parceiro 
de vida. Aquela pessoa com quem se pode 
compartilhar os prazeres e as dores diárias. 
 
Alguém com quem se possa revelar os 
maiores segredos, desejos e anseios; a base 
necessária para seguir em frente, mesmo nos 
piores momentos. É o empurrão, o puxão, o 
desejo e a realização. 
Por mais romântico que possa parecer, não 
nos mostra justificável se submeter ao 
casamento se não for para seguir o mesmo 
caminho, mesmo com a existência de certas 
ideologias distintas… 
 
O casamento, a nosso sentir, vai além de 
amparo material e de satisfação sexual. 
Deveser o porto mais seguro e mais firme 
para que cada um evolua como pessoa… 
Ah, enfim… Deu para entender?! 
 
Quando falamos em auxílio material, não 
estamos única e exclusivamente perante 
uma obrigação de fazer, mas também um 
dever alimentar, com base no princípio da 
solidariedade familiar. 
 
E, atenção: quando falamos em alimentos 
não estamos limitando aos alimentos 
‘consumíveis’, mas em tudo que é 
necessário para que haja uma vida digna, 
incluindo, por óbvio, lazer, educação, saúde 
etc. 
 
Além disso, é importante reforçarmos que a 
ideia do homem-provedor não mais existe! A 
obrigação é de ambos, observando, por 
questões óbvias, a proporção de seus 
rendimentos: 
 
Art. 1.568 CC/02. Os cônjuges são 
obrigados a concorrer, na 
proporção de seus bens e dos 
rendimentos do trabalho, para o 
sustento da família e a educação 
dos filhos, qualquer que seja o 
regime patrimonial. 
 
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Por outro lado, o auxílio moral é o mais 
profundo e, ao mesmo tempo, o mais difícil. 
 
O material se compra com dinheiro. O moral 
com atenção, afeto, ombro amigo, 
broncas, brigas, conciliações, conselhos, 
olhar atento, choro, respeito... 
 
É estar ali para o que der e o que vier! 
 
 
 
 
 
- Sustento, guarda e educação dos filhos 
 
Mais uma vez, o dever de sustento, guarda e 
educação dos filhos não advém do estado 
de casado, mas sim da condição de pais. 
 
O legislador, mais uma vez, realiza um erro 
topográfico ao incluir como deveres 
matrimoniais… 
Precisamos urgentemente parar de 
enxergar as obrigações relativas aos filhos 
como oriundas do casamento. Não me 
interessa se os pais são casados ou não! A 
partir do momento que assumem o status de 
PAIS (sejam genitores ou não!), adquirem 
direitos e obrigações, os quais não têm 
nenhum elo com eventual marido / esposa / 
companheiro / mãe / genitora / pai / genitor 
etc. 
 
Nesse sentido, Cristiano Chaves e Nelson 
Rosenvald: 
 
“In fine, tem-se o dever de guarda, sustento 
e educação dos filhos. Não nos parece, 
porém, cuidar essa hipótese de um efeito 
tipicamente matrimonial. Efetivamente, a 
guarda, sustento e educação da prole 
parece estar mais razoavelmente ligada aos 
deveres decorrentes da paternidade ou 
maternidade, que, por lógico, independem 
da existência ou não de um casamento” (p. 
194) 
 
 
- Dever de respeito e consideração mútuos 
 
Esse último dever é uma junção lógica de 
todos os anteriores. 
 
Casamento sem respeito está fadado ao 
fracasso. 
 
LAR = LUGAR DE AFETO E RESPEITO. 
 
Na nossa concepção, o casamento 
pressupõe o respeito. 
 
Iremos até mais longe: o respeito deve existir 
até com a inexistência do casamento, da 
união estável ou de qualquer ato que tenha 
afeto. 
 
Caso o amor acabe, o respeito deve 
permanecer. É, por óbvio, uma questão que 
ultrapassa qualquer conceituação jurídica. 
 
Formas de 
Casamento 
 
Estudaremos, a partir de agora, as 
modalidades básicas e as especiais de 
casamento, quais sejam: 
 
Modalidades 
básicas 
Modalidades 
especiais 
Casamento civil Casamento por 
procuração 
Casamento 
religioso com efeito 
civil 
Casamento 
nuncupativo 
----------------------- Casamento em 
caso de moléstia 
grave 
----------------------- Casamento 
perante autoridade 
diplomática 
 
- MODALIDADES BÁSICAS - 
 
Como vimos, atualmente temos duas 
modalidades básicas de casamento. 
 
O Decreto n. 181, de 24 de janeiro de 1890, 
oficializou o casamento civil no Brasil, 
afastando a ideia de que apenas a igreja 
católica era capaz de legitimar a família. 
 
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Já com a vigência da Constituição de 1934, 
o casamento religioso voltou ao cenário 
brasileiro, ocasião em que ficara 
estabelecidas as regras para a concessão 
de efeitos civis ao mesmo. 
 
Casamento religioso com efeitos civis: 
 
Na verdade, tal modalidade corresponde 
ao casamento civil; entretanto, tendo em 
vista que a celebração é realizada por 
autoridade de qualquer religião (visto 
sermos um Estado laico, inexistindo uma 
religião oficial), houve certa ‘diferenciação’. 
 
Mas, atenção: a não observância dos 
procedimentos necessários para o 
reconhecimento civil da aludida 
celebração transforma o casamento 
religioso em uma união informal (união 
estável), não sendo oficialmente 
reconhecido como casamento. 
 
Art. 1.515 CC/02. O casamento 
religioso, que atender às exigências 
da lei para a validade do 
casamento civil, equipara-se a este, 
desde que registrado no registro 
próprio, produzindo efeitos a partir 
da data de sua celebração. 
 
Art. 1.516 CC/02. O registro do 
casamento religioso submete-se 
aos mesmos requisitos exigidos para 
o casamento civil. 
 
§ 1º O registro civil do casamento 
religioso deverá ser promovido 
dentro de noventa dias de sua 
realização, mediante 
comunicação do celebrante ao 
ofício competente, ou por iniciativa 
de qualquer interessado, desde 
que haja sido homologada 
previamente a habilitação 
regulada neste Código. Após o 
referido prazo, o registro 
dependerá de nova habilitação. 
 
§ 2º O casamento religioso, 
celebrado sem as formalidades 
exigidas neste Código, terá efeitos 
civis se, a requerimento do casal, for 
registrado, a qualquer tempo, no 
registro civil, mediante prévia 
habilitação perante a autoridade 
competente e observado o prazo 
do art. 1.532. 
 
§ 3º Será nulo o registro civil do 
casamento religioso se, antes dele, 
qualquer dos consorciados houver 
contraído com outrem casamento 
civil. 
 
 
 
Desde já deixamos registrado que o Código 
Civil de 2002 revogou o disposto no artigo 73 
da Lei de Registros Públicos, no tocante ao 
prazo para a realização de registro do 
casamento religioso no Cartório de Registro 
Civil. 
 
Ou seja, CUIDADO!, pois a LRP informa que os 
nubentes, a autoridade celebrante ou 
qualquer interessado deverão providenciar 
o registro do casamento religioso no prazo 
máximo de 30 dias a contar da realização 
da cerimônia. Entretanto, tal prazo foi 
DILATADO pelo Código Civil para 90 DIAS! 
 
E, afinal, o que isso quer dizer?! Quer dizer 
que, havendo a habilitação do casamento 
(com prazo de validade de 90 dias a contar 
da extração da Certidão), o casal, após a 
data da celebração religiosa, terá mais 90 
dias para providenciar o registro do ato no 
cartório! Se ultrapassar esse prazo será 
necessária a realização de nova 
habilitação! 
 
Questiona-se: os efeitos civis do casamento 
podem ser reconhecidos quando a 
celebração for realizada perante autoridade 
espírita?! 
 
Esse questionamento se faz importante 
observando as seguintes ponderações 
levantadas por Joselito Rodrigues de 
Miranda Jr: 
 
“ - Falta ao chamado ‘casamento 
espírita’ uma das condições 
essenciais à sua existência jurídica: 
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celebração por autoridade 
competente. 
- Quem não tem, de modo 
absoluto, competência para a 
celebraçãodo casamento sequer 
pode ser reputado autoridade 
celebrante. 
 
 
 
 
 
 
 
- A doutrina mais atual admite a 
possibilidade de se autorizar a 
realização de casamento em 
‘cerimônia’ de cunho espírita, 
desde que sejam demonstrados: os 
preceitos seguidos e a existência de 
rituais compatíveis com a ordem 
legal e os bons costumes: existência 
da religião e a legitimidade da 
representação dentro do credo do 
celebrante. Tais cuidados não 
foram observados no caso 
concreto. 
- Os casamentos religiosos, 
celebrados sob a égide dos credos 
tradicionais, a exemplo do 
catolicismo, são legitimados pelo 
costume, fonte supletiva (LICC, art. 
4º) que deriva de longa prática 
uniforme, constante, pública geral 
de determinado ato, com a 
convicção de sua necessidade 
jurídica.” (Parecer Administrativo n. 
21.207/2005 – Prof. De Direito Civil e 
Juiz Corregedor do Tribunal de 
Justiça do Estado da Bahia, Joselito 
Rodrigues de Miranda Jr). 
 
Com a data vênia aos que pensam em 
sentido contrário, julgamos a total 
viabilidade da realização do 
reconhecimento em tais hipóteses. 
 
Ao contrário do que se possa parecer, o 
espiritismo tradicional (Kardecista), bem 
como suas demais linhas (umbanda, 
candomblé, indianistas etc), seguem 
práticas previamente estabelecidas e que 
devem ser observadas em diversos Centros 
ou Grupos de Reunião – passes, palestras 
doutrinárias, ‘Evangelho no Lar’, etc. Por 
mais que haja divergência em relação às 
demais religiões, não estamos diante de 
reuniões sem regras e diretrizes. 
 
Pelo contrário, estamos diante de especial 
liturgia, como ocorre em qualquer religião. 
 
 
 
 
 
Ademais, há necessidade de se respeitar a 
liberdade de consciência e de crença, 
conforme disposto no artigo 5º, VI, CRFB/88. 
 
Não é aceitável qualquer tipo de vedação 
nesse sentido, o que geraria uma 
discriminação. 
 
Entretanto, o ponto que nos mostra maior 
relevância é relativo ao espiritismo ser ou 
não considerado religião. 
 
Nesse sentido, colacionamos o brilhante 
ensinamento de Pablo Stolze e Rodolfo 
Pamplona Filho: 
 
“Sem nos apegarmos a dogmas da 
doutrina, por não ser essa a nossa 
tarefa, forçoso convir, que, no Brasil, 
o espiritismo é abraçado por 
milhões de pessoas, não como uma 
simples prática de natureza técnica 
ou científica, mas como uma 
corrente religiosa própria, 
consoante observou o próprio IBGE: 
 
Religião 
O Brasil é um país de grande 
diversidade religiosa. No Censo 
2000, a maioria da população se 
declarou católica apostólica 
romana, seguida dos evangélicos. 
Confira a tabela abaixo: 
 
Distribuição percentual da 
população residente, por religião – 
Brasil – 1991/2000 
Religiões 1991 (%) 2000 (%) 
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Católica 
apostólica 
romana 
83,0 73,6 
Evangélicas 9,0 15,4 
Espíritas 1,1 1,3 
Umbanda e 
Candomblé 
0,4 0,3 
Outras 
religiosidades 
1,4 1,8 
Sem religião 4,7 7,4 
 
 
 
 
(…) 
De fato, desde que observados os 
requisitos formais da celebração, 
não vemos razão jurídica para se 
negar o matrimônio celebrado 
perante aquele que, segundo a 
vontade dos noivos, é o 
representante da religião que 
professam ou da crença que 
seguem. 
 
(…) 
 
Recomendável, finalmente, em 
nosso sentir, que os Tribunais, por 
suas Corregedorias de Justiça, 
regulamentem 
administrativamente a questão, 
orientando adequadamente, não 
apenas as instituições celebrantes, 
mas também os respectivos 
Cartórios de Registro Civil, a fim de 
escoimar eventuais dúvidas.” 
(Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo 
Pamplona Filho, Novo Curso de 
Direito Civil, v. 6 – Direito de Família 
– 2018, p. 134/138) 
 
A única ressalva que deve ser feita é quando 
a crença aceitar a poligamia, com a 
celebração de múltiplos casamentos de 
uma mesma pessoa, ou a adoção de 
condutas que violem a dignidade dos 
nubentes, conforme ensina Maria Berenice 
Dias. 
 
Especificamente em relação à realização 
do casamento religioso com efeitos civis, 
temos que tecer algumas ponderações. 
 
O registro do casamento religioso possui 
efeito retroativo (ex tunc), ou seja, se o 
casamento foi realizado em 21 de novembro 
de 2017, e o registro ocorreu em 20 de 
dezembro de 2017, os efeitos irão retroagir 
para o dia 21 de novembro de 2017. 
 
 
 
 
 
 
Interessante julgado sobre o tema deve ser 
transcrito: 
 
“Registro civil. Suprimento judicial 
de casamento civil. Casamento 
religioso realizado em 1893. 
Possibilidade. Bisneta que visa a 
obtenção de cidadania italiana. 1. 
Diante do disposto no art. 226, § 2.º, 
da Constituição Federal e no art. 
1.515 do Código Civil, é atribuído ao 
casamento religioso o efeito civil, 
desde que atendidas as exigências 
da Lei para validade do casamento 
civil. 2. É de ser reconhecida a 
possibilidade de suprimento do 
registro civil de casamento dos 
bisavós quando demonstrada a 
vontade das partes à época, em 
1893, e resta inequívoca a 
formação de uma família com 
prole, não se podendo perder de 
vista que o casamento civil no Brasil 
somente foi instituído através do 
Decreto n.º 181, de 1890. Recurso 
desprovido” (TJRS, Apelação Cível 
459972-74.2010.8.21.7000, 
Montenegro, 7.ª Câmara Cível, Rel. 
Des. Sérgio Fernando de 
Vasconcellos Chaves, j. 23.03.2011, 
DJERS 06.04.2011). 
 
Os requisitos do casamento religioso são os 
mesmos que o do casamento civil, inclusive 
em relação ao registro. 
 
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Direito Civil V 
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Professora Amanda G. Ferreira – amandaguedesferreira@gmail.com / (24) 9.8155-6089 
 
Como vimos, havendo o respeito dos 
requisitos estabelecidos pela lei civil (prévia 
habilitação), os cônjuges, interessados ou a 
autoridade celebrante possuem 90 dias para 
proceder o registro da cerimônia, o qual 
possui efeito retroativo. 
 
Entretanto, caso inexista a prévia 
habilitação, realizando o casamento sem a 
observância das formalidades, o casamento 
religioso terá efeitos civis se, a requerimento 
do casal, houver o registro, a qualquer 
tempo, mediante prévia habilitação perante 
a autoridade competente. 
 
 
Ou seja, inexistindo habilitação e tendo o 
casal se casado no religioso, poderão 
proceder a habilitação e realizar o registro 
(observando o prazo máximo de 90 dias a 
contar da expedição da habilitação), o qual 
terá efeito ex tunc. 
 
Casamento civil: 
 
Todo o procedimento e os requisitos já foram 
estudados outrora. 
 
 
As modalidades especiais de casamento 
são pouco vistas na prática. Entretanto, tal 
fato não diminui sua importância 
acadêmica. 
 
Casamento por procuração 
 
Art. 1.542 CC/02. O casamento 
pode celebrar-se mediante 
procuração, por instrumento 
público, com poderes especiais. 
 
§ 1º A revogação do mandato não 
necessita chegar ao conhecimento 
do mandatário; mas, celebrado o 
casamento sem que o mandatário 
ou o outro contraente tivessem 
ciência da revogação, responderá 
o mandante por perdas e danos. 
 
§ 2º O nubente que não estiver em 
iminente risco de vida poderá fazer-
se representar no casamento 
nuncupativo. 
 
§ 3º A eficácia do mandato não 
ultrapassará noventa dias. 
 
§ 4º Só por instrumento público sepoderá revogar o mandato. 
Por mais estranho que possa 
parecer, nossa legislação 
estabeleceu critérios para a 
validade do casamento realizado 
sem a presença de ao menos um 
dos nubentes – casamento por 
procuração. 
 
Ocorre, por exemplo, quando um dos noivos 
está em país distante, não podendo 
comparecer na data da cerimônia. 
 
Interessante mencionarmos a orientação do 
Consulado-Geral em Lisboa: 
 
“A legislação brasileira permite 
casamento por procuração. Neste 
caso, o cidadão português deverá 
lavrar a procuração em Notário 
Público e autenticá-la no Consulado-
Geral. No texto deste instrumento 
particular constará igualmente o 
nome e a qualificação da pessoa 
com quem pretende casar, o regime 
de bens e o nome que passará a 
adotar, (noiva ou noivo) após o 
casamento” (Consulado-Geral em 
Lisboa – Ministério das Relações 
Exteriores) 
 
A procuração, assim, constitui o instrumento 
onde constará todos os poderes que o 
outorgante dará ao mandatário, o que nos 
permite afirmar que tal modalidade de 
casamento, em verdade, é por meio de 
mandato, e não por meio de procuração. 
 
Reforça-se que a procuração deve ser 
pública (lavrada em Livro de Notas de 
Tabelião), contendo poderes especiais e 
todas as informações relativas ao(à) 
noivo(a). 
 
Ademais, a procuração possui prazo 
máximo de validade: 90 dias! 
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E se… 
Mas e se o procurador, durante o 
exercício dos poderes que lhe foram 
outorgados, se recusar a falar o ‘sim’?! 
 
A recusa do procurador só será válida se 
possuir uma justificativa, ou seja, o 
outorgado somente poderá se recusar a 
falar o ‘sim’ se o outorgante assim agisse se 
estivesse presente. 
 
Ademais, já estudamos a situação relativa à 
revogação do mandato, a qual também 
deve ser realizada por instrumento público. 
Como é direito do nubente desistir do 
casamento, lhe é conferido o direito de 
revogar (desfazer) a procuração 
anteriormente outorgada, não sendo válida 
eventual cláusula de irrevogabilidade. 
 
A revogação não precisa chegar ao 
conhecimento do nubente ou do 
mandatário; entretanto, caso o casamento 
se realize, poderá o mandante ser 
responsabilizado por perdas e danos. 
 
Lembrem-se que o casamento realizado 
pelo mandatário, sem o conhecimento da 
revogação do mandato, pode ser anulado, 
na forma do artigo 1.550, V, CC/02, mas, 
para tal, é imprescindível que não haja 
coabitação dos cônjuges. 
 
Como bem ponderam Pablo Stolze e 
Rodolfo Pamplona: 
 
“De maneira pouco ortodoxa, e até 
meio esquisita, é como se o 
encontro sexual “convalidasse” o 
ato anulável” (p. 157) 
 
Casamento nuncupativo 
 
Art. 1.540 CC/02. Quando algum 
dos contraentes estiver em iminente 
risco de vida, não obtendo a 
presença da autoridade à qual 
incumba presidir o ato, nem a de 
seu substituto, poderá o casamento 
ser celebrado na presença de seis 
testemunhas, que com os nubentes 
não tenham parentesco em linha 
reta, ou, na colateral, até segundo 
grau. 
 
Art. 1.541 CC/02. Realizado o 
casamento, devem as testemunhas 
comparecer perante a autoridade 
judicial mais próxima, dentro em 
dez dias, pedindo que lhes tome 
por termo a declaração de: 
 
I - que foram convocadas por parte 
do enfermo; 
 
II - que este parecia em perigo de 
vida, mas em seu juízo; 
III - que, em sua presença, 
declararam os contraentes, livre e 
espontaneamente, receber-se por 
marido e mulher. 
 
§ 1º Autuado o pedido e tomadas 
as declarações, o juiz procederá às 
diligências necessárias para 
verificar se os contraentes podiam 
ter-se habilitado, na forma 
ordinária, ouvidos os interessados 
que o requererem, dentro em 
quinze dias. 
 
§ 2º Verificada a idoneidade dos 
cônjuges para o casamento, assim 
o decidirá a autoridade 
competente, com recurso 
voluntário às partes. 
 
§ 3º Se da decisão não se tiver 
recorrido, ou se ela passar em 
julgado, apesar dos recursos 
interpostos, o juiz mandará registrá-
la no livro do Registro dos 
Casamentos. 
 
§ 4º O assento assim lavrado 
retrotrairá os efeitos do casamento, 
quanto ao estado dos cônjuges, à 
data da celebração. 
 
§ 5º Serão dispensadas as 
formalidades deste e do artigo 
antecedente, se o enfermo 
convalescer e puder ratificar o 
casamento na presença da 
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autoridade competente e do 
oficial do registro. 
 
O casamento nuncupativo também é 
denominado casamento in extremis vitae 
momentis, ou in articulo mortis. 
 
Por mais ‘diferente’ que possa parecer, ou 
até mesmo dar a ideia de verdadeira ficção 
jurídica, retratamos que existe na prática e a 
professora que esta apostila escreve, 
infelizmente, já vivenciou essa experiência. 
 
O casamento nuncupativo é aquele 
realizado de viva voz, por nubente que 
encontra-se quase morrendo, na presença 
de ao menos seis testemunhas e 
independentemente da presença de 
autoridade celebrante. 
 
É uma modalidade excepcional de 
matrimônio, afastando todas as 
formalidades exigidas para o casamento, 
inclusive a prévia habilitação. 
 
Mas atenção: o nubente que está correndo 
sério e efetivo risco de morte deve gozar de 
todas as suas aptidões mentais, ou seja, 
deve estar totalmente consciente no 
momento de manifestar sua vontade. 
 
Situação menos comum ainda, mas 
totalmente viável, é aquela em que ambos 
os nubentes encontram-se em situação de 
risco de morte, e resolvem contrair 
matrimônio. 
 
Observe que apesar da legislação permitir o 
casamento sem a observância das 
formalidades, estabelece critérios que 
devem ser observados para que o 
casamento nuncupativo seja considerado 
válido. 
 
Primeiro, é imprescindível a presença de ao 
menos seis testemunhas, as quais, nesta 
hipótese específica, não podem ser 
parentes dos noivos em linha reta, ou 
colateral até o segundo grau (parentesco 
natural, civil ou por afinidade). 
 
Após a realização do casamento, as 
testemunhas devem comparecer perante a 
autoridade judicial mais próxima, 
observando o prazo máximo de 10 dias (o 
art. 76 da Lei n. 6.015/73, estabelecia o prazo 
máximo de 5 dias, mas encontra-se 
revogado pelo CC/02), ocasião em que 
solicitarão que lhes tome por termo a 
declaração disposta no artigo 1.541 e seus 
incisos, CC/02. 
 
Instaura-se, assim, um procedimento de 
jurisdição voluntária com participação do 
Ministério Público. 
 
Não há, aqui, uma habilitação (nem prévia 
nem posterior ao casamento (há 
doutrinadores como o professor Sandro 
Gaspar que afirma que há habilitação 
posterior, mas entendemos que não se trata 
propriamente de uma habilitação); 
entretanto, o juiz averigua se o casal 
preencheria todos os requisitos necessários 
para a habilitação. 
 
Inexistindo fraude e preenchidos os requisitos 
legais, o juiz determinará, por mandado, o 
registro do casamento. 
 
Cabe ao magistrado agir com cautela para 
evitar fraude ou empreitada golpista. Assim, 
havendo depoimentos contraditórios, deve 
o juiz negar o registro. 
 
Com o registro do casamento, os efeitos 
retroagirão à data da celebração – efeito ex 
tunc. 
 
As formalidades serãodispensadas caso o 
enfermo se convalescer e puder ratificar o 
casamento na presença da autoridade 
competente e do oficial do registro. 
 
Como o registro altera o estado civil do 
indivíduo, o juízo competente é o da Vara de 
Família, e não na de Registros Públicos. 
 
Casamento em caso de moléstia grave 
 
Art. 1.539 CC/02. No caso de 
moléstia grave de um dos 
nubentes, o presidente do ato irá 
celebrá-lo onde se encontrar o 
impedido, sendo urgente, ainda 
que à noite, perante duas 
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testemunhas que saibam ler e 
escrever. 
§ 1º A falta ou impedimento da 
autoridade competente para 
presidir o casamento suprir-se-á por 
qualquer dos seus substitutos legais, 
e a do oficial do Registro Civil por 
outro ad hoc, nomeado pelo 
presidente do ato. 
 
 
 
 
§ 2º O termo avulso, lavrado pelo 
oficial ad hoc, será registrado no 
respectivo registro dentro em cinco 
dias, perante duas testemunhas, 
ficando arquivado. 
 
É muito comum haver confusão entre 
casamento em caso de moléstia grave e o 
casamento nuncupativo. 
 
Entretanto, tais institutos não são idênticos. 
 
No primeiro caso, como vimos, o nubente 
encontra-se em leito de morte, inexistindo 
tempo hábil para a habilitação e para a 
solicitação da presença de autoridade 
celebrante. 
 
Já nesta hipótese o nubente não pode se 
deslocar ao salão do casamento em razão 
de doença grave, mas houve prévia 
habilitação. 
 
A solicitação é no sentido de que a 
autoridade celebrante se dirija até o 
nubente, e não o contrário. 
 
Aqui há a necessidade de se fazer presente 
apenas duas testemunhas (salvo se um dos 
nubentes não puder escrever, ocasião em 
que são necessárias quatro). 
 
Casamento celebrado fora do país, perante 
autoridade diplomática brasileira 
 
Caso o brasileiro estiver fora do território 
nacional, pode eventualmente decidir 
contrair núpcias. 
 
Havendo interesse que o matrimônio siga as 
leis brasileiras, deverá casar-se perante a 
autoridade diplomática brasileira, na forma 
do artigo 18 da Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro (LINDB). 
 
Art. 18 CC/02. Tratando-se de 
brasileiros, são competentes as 
autoridades consulares brasileiras 
para lhes celebrar o casamento e 
os mais atos de Registro Civil e de 
tabelionato, inclusive o registro de 
nascimento e de óbito dos filhos de 
brasileiro ou brasileira nascido no 
país da sede do Consulado. 
 
Assim, devem ser observados todos os 
requisitos de validade do casamento (idade 
núbil e celebração, bem como inexistência 
de impedimentos) para que possa produzir 
efeitos no território brasileiro. 
 
Além disso, o aludido casamento realizado 
no estrangeiro perante os cônsules brasileiros 
deverá ser registrado em até 180 dias a 
contar da volta de um ou de ambos os 
cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo 
domicílio. 
 
Art. 1.544 CC/02. O casamento de 
brasileiro, celebrado no estrangeiro, 
perante as respectivas autoridades 
ou os cônsules brasileiros, deverá ser 
registrado em cento e oitenta dias, 
a contar da volta de um ou de 
ambos os cônjuges ao Brasil, no 
cartório do respectivo domicílio, ou, 
em sua falta, no 1º Ofício da Capital 
do Estado em que passarem a 
residir. 
 
Este prazo é decadencial e sua 
inobservância gerará a impossibilidade de 
produção de efeitos jurídicos, não 
considerando tais pessoas como casadas 
de acordo com a lei brasileira. 
 
Atenção: o prazo de 180 dias inicia-se a 
contar da volta de um ou de ambos os 
nubentes, que pode ser brasileiro ou 
estrangeiro. 
 
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Direito Civil V 
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Ademais, o termo ‘volta’ deve ser 
interpretado no sentido de permanência. 
Assim, não se conclui pela decadência caso 
o cônjuge tenha vindo apenas passar férias, 
retornando para o exterior dias após. 
 
Casamento celebrado fora do país, perante 
autoridade estrangeira 
 
Como regra geral, em razão do disposto no 
artigo 7º e em seus parágrafos da LINDB, as 
normas do local do domicílio do casal que 
determinam a existência, a validade e a 
eficácia do casamento. 
Assim, caso o casal se case em um país que 
aceita a poligamia, respeita-se tal 
normatização estrangeira, com a 
consagração da figura do ‘estatuto pessoal’ 
– a norma de um Estado acompanha seu 
nacional, mesmo que para regular seus 
interesses em outro país. 
 
Essa regra se aplica tanto para cidadãos 
estrangeiros quanto para brasileiros que se 
casarem fora do país, independentemente 
de ali ser domiciliado, seja casando-se com 
brasileiro ou com estrangeiro. 
 
Assim, para que o casamento realizado fora 
do Brasil tenha validade aqui, é necessário 
que se respeite as providências como se 
tratasse de matrimônio civil realizado no 
estrangeiro. 
 
Nesse sentido: 
 
“Na hipótese de casamento de 
brasileiros ou de brasileiro(a) com 
estrangeiro(a) celebrado perante 
autoridade estrangeira, o termo 
respectivo deverá ser autenticado 
em Consulado brasileiro e, 
posteriormente, traduzido por 
tradutor juramentado ou tradutor 
ad hoc designado pelo juiz, para 
que possa ser registrado no Brasil. 
O registro poderá ser negado se o 
documento contiver obrigações e 
direitos incompatíveis com os 
princípios enunciados pela 
Declaração Universal dos Direitos 
do Homem (Resolução n. 843/54, 
da ONU), da qual o Brasil é 
signatário, e na Constituição 
brasileira.” (Paulo Lôbo, Direito Civil: 
Famílias, 2 ed., São Paulo: Saraiva, 
2009, p. 98). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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