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ESTUDO DE CASO: FADIGA EM PARAFUSO DE FIXAÇÃO DE HÉLICE DE UMA AERONAVE N.J. Lourenco (IAE); M.F.J. Sena (ITA); O.M.M. Silva (IAE); M.L.A.Graça (IAE); L.A.L.Franco (IAE). Praça Mal. Eduardo Gomes, 50 - Vila das Acácias CEP: 12.228-904 - São José dos Campos - SP – Brasil nicelionjl@iae.cta.br RESUMO Este trabalho tem como objetivo estudar as causas que levaram à falha em voo de parafusos de fixação da hélice de uma pequena aeronave de instrução. Foram utilizados métodos tradicionais de analise como inspeção visual, estereoscopia, exames metalográficos e microscopia eletrônica de varredura. Os exames realizados apontam para a falha do parafuso a partir do mecanismo de fadiga. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6518 INTRODUCÃO A literatura apresenta varias definições do termo “falha” assim, podemos definir como a diferença entre o desempenho desejado e desempenho esperado [1], ou mudanças no tamanho, forma, ou propriedades do material que o tornam incapaz de desempenhar as suas funções originais [2] entre outras definições. A falha de um componente estrutural pode levar a consequências catastróficas, com perda de vidas bem como prejuízos econômicos e os acontecimentos desta natureza são de conhecimento publico e eventos como, por exemplo, a queda sequencial das primeiras aeronaves comerciais a jato De Havilland Comet na década de 50 deixou clara a importância de analise de falhas na indústria aeronáutica. Ensaios posteriores realizados em solo, pela indústria construtora da aeronave, demonstraram que houve falha de projeto devido à construção de janelas quadradas [3,4] assim, após esta tomada de conhecimento, a indústria aeronáutica, como um todo passou a fabricar aeronaves a jato com janelas ovais. O presente estudo busca compreender as causas que levaram a falha com ruptura de um componente da hélice de uma pequena aeronave de instrução de fabricação nacional da década de 70 do século passado. Hélices em aeronaves são partes sensíveis na operação, pois a perda de operacionalidade da mesma produz como efeito imediato a impossibilidade de um voo dentro das normas de segurança. Ha causa mais comum de falha é a fadiga e para que a mesma ocorra é necessária a presença de tensões cíclicas e/ou de um sítio de nucleação. Os sítios de nucleação comuns são os produzidos por pites de corrosão e os produzidos a partir de impactos de pequenos objetos durante a operação, como por exemplo, pequenos seixos de pedra em pistas não pavimentadas, fato muito comum no Brasil. MATERIAIS E METODOS: 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6519 O procedimento experimental teve como objetivo caracterizar a fratura. Foram realizados exames visuais, exames estereoscópicos, microscopia eletrônica de varredura e exames metalográficos. A Figura 1 mostra uma aeronave semelhante à acidentada na qual é possível observar a posição dos parafusos de fixação da hélice. O material como recebido pode ser visto na Figura 2. Detalhe de um parafuso fraturado pode ser visto na Figura 3. Figura 1- Aeronave semelhante à acidentada. Pode-se observar a hélice e os parafusos. Figura 2: Material como recebido. Parafusos da hélice 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6520 Figura 3: Parafuso fraturado Exames estereoscópicos: Foram observadas marcas de praia indicativas de fadiga em duas partes de parafuso, conforme pode ser visto nas Figuras 4 e 5. Figura 4: Região com indícios de fadiga. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6521 Figura 5: Detalhe que mostra as marcas de praia e provável início da fratura. Exames por Microscopia Eletrônica de Varredura: A superfície de fratura analisada mostrou-se oxidada. Esta oxidação foi posterior ao evento da fratura e retirou a possibilidade de observação das estrias de fadiga. A Figura 6 mostra a região de inicio provável da fadiga e a Figura 7 mostra oxidação na superfície da mesma. Figura 6: Microscopia eletrônica da superfície de fratura da parte de parafuso visto na Figura 2 mostrando a região suspeita de fadiga. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6522 Figura 7: Detalhe da figura anterior. A superfície de fratura sofreu processo de oxidação, não sendo possível observar a presença de estrias de fadiga. Exames metalográficos O exame metalográfico sem ataque químico mostrou a presença de trinca secundaria na região da rosca do parafuso próxima a superfície de fratura. A Figura 8 mostra o parafuso embutido e a Figura 9 mostra a presença de inicio de trinca em um dos dentes. Figura 8: Embutimento da amostra após secionamento do parafuso fraturado. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6523 Figura 8: Parafuso secionado. Pode-se observar a presença de uma trinca (seta branca). RESULTADOS E DISCUSSÃO: De uma forma geral há fatores conhecidos que podem ser determinantes em uma ruptura a partir de fadiga como, por exemplo, corrosão, erros de manutenção como o ocorrido com a aeronave EMBRAER 120 na Georgia, EUA, em 1995[5], impactos de objetos nas hélices, designados F.O.D (Foreign object damage) entre outros. Neste trabalho foi possível determinar que a fratura foi causada por fadiga. A verificação de estrias na superfície fraturada foi prejudicada pela presença de forte oxidação, e assim uma contagem de estrias para estimar o numero possível de ciclos não foi possível. A presença de uma pequena trinca na região da rosca pode ser indicativa de presença de corrosão na superfície dos parafusos. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6524 REFERÊNCIAS: [1[Bhaumik, S. A View on the General Practice in Engineering Failure Analysis. in: Journal of Failure Analysis and Prevention 9 (3): 2009. 185 – 192. [2[Collins, J. A. Failure of Materials in Mechanical Design: Analysis, Prediction, Prevention. 2nd ed., Wiley, New York.1993. [3]Kletz, T. Learning from Accidents. 3nd ed.,Gulf Professional Publishing, Oxford. 2001. [4]Withey, P.A. Fatigue failure of the de Havilland comet I. Engineering Failure Analysis .Volume 4, Issue 2, June 1997, Pages 147–154 [5]NTSB.Aircraft Accident Report. In-flight Loss of Propeller Blade Forced Landing, and Collision with Terrain. Washington, D.C. 1996. Disponível em: https://www.ntsb.gov/doclib/reports/1996/AAR9606.pdf acesso em 22/08/2014. CASE STUDY: FATIGUE IN SCREW PROPELLER AIRCRAFT ABSTRACT In this work we present a case study of a light aircraft that sustained an in-flight screw propeller failure. Traditional methods of analysis were used as visual inspection, metallographic examinations stereoscopy and scanning electron microscopy. The evidences of experimental analysis and fractography of the failed screw propeller as beach marks on a macroscopic scale indicate that screw fracture was a result of fatigue mechanism. 21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciênciados Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil 6525