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RESUMO LIVRO A CONQUISTA DA AMÉRICA

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RESUMO LIVRO A CONQUISTA DA AMÉRICA
Em seu livro “A Conquista da América: a questão do outro ”, Todorov afirma, logo nas primeiras linhas, que pretendeu falar da descoberta que o “eu ” faz do “outro ”, mas, para isso, escolheu contar uma história. E essa história recaiu sobre o choque cultural que envolveu conquistadores e nativos da América, embate que, segundo o autor, veria perpetrar-se o maior genocídio da história da humanidade. Todorov dividiu o seu trabalho em quatro capítulos (Descobrir, Conquistar, Amar e Conhecer), todos com três subcapítulos, onde procura, por meio de diversas obras do século XVI, promover o diálogo entre os seus autores. Dessa forma, a leitura torna -se agradável, como uma espécie de narrativa literária , onde os cronistas antigos são as personagens, sem perder o rigor e a dimensão de um trabalho acadêmico. Um Epílogo finaliza a obra, momento em que Todorov deixa o lado titereio, que colocou em movimento autores de ideias e de momentos distintos, e aparece como o teórico e filósofo que mergulha no passado para construir reflexões presentes. 
No primeiro capítulo, “Descobrir”, o autor defende que Colombo buscava no Novo Mundo menos o ouro do que uma expansão do Cristianismo, sentindo -se em um a espécie de Cruzada marítima. Não que a riqueza não fosse importante, até para motivar os patrocinadores de novas viagens e empreitadas. Porém, a sua visão de “conquista” estava muito associada ao conceito europeu da época: o aumento da influência e ocupação territorial, de maneira que a preferência dele acabaria recaindo sobre a “terra” e não sobre os “homens”. A própria conversão dos nativos não estava dissociada desse intento, pois, conforme registros do diário do navegador, seu propósito seria ‘converter à nossa fé uma multidão de povos, ganhando grandes territórios e riquezas’ (p. 43). Todorov chama a atenção para o fato de Colombo apresentar extremo interesse em nominar tudo o que encontrava (ilhas, montanhas, rios, etc.), como se fosse um inventário de posse e sem se importar em saber se aqueles lugares já possuíam algum nome. Os nativos, com suas línguas e culturas, só eram percebidos por meio do filtro da paisagem e, por conseguinte, de maneira ambígua: ora ingênuos, ora maliciosos; ora covardes, ora valentes. A dificuldade de entender o outro teria ampliado a visão egocêntrica dos navegadores, levando-os a enxergar o s nativos apenas a partir dos seus próprios valores europeus. Por não perceber o outro, sustenta o autor, impõe m a ele sua própria visão de mundo. A alteridade, enfim, teria se estabelecido a partir de uma posição de desigualdade hierarquizada, onde os europeus se colocaram sempre em um patamar de superioridade. Todorov afirma que, gradativamente, Colombo passará do assimilacionismo, que implica uma igualdade de princípio, à ideologia escravagista e, portanto, à afirmação da inferioridade dos índios (p. 44). Conclui, enfim, que o navegador genovês descobriu a América, mas não os americanos (p. 47).
I.”Descobrir”
Neste capítulo é feita uma análise da viagem e dos motivos de Colombo e de como eles definiram o que viria a ser o paradigma da descoberta e posteriormente o paradigma da conquista. O Outro como o ente completamente desconhecido e o Eu com entidade única e redutora perfeitamente condicionada aos axiomas societários limitados do século XVI. 
Todorov demonstra desde o inicio “ de que lado está”, isto é, do lado dos opressores perante a redução primária à relação conquistador\ conquistado sempre num plano de análise de homem urbano do século XX, carregado de valores assimilados e construídos ao longo de mais de 500 anos ( que também contribuiu o facto que analisa). É disso prova a citação inicial da mulher Maia, casada, atirada aos cães por se recusar a ser seduzida pelos conquistadores.
Neste capitulo também são analisadas as intenções de Colombo antes e depois da descoberta dos novos territórios, a sua paixão pela natureza e a sua profunda religiosidade.
A questão de base é que foram após os primeiros contactos com os habitantes desses novos territórios que se estabeleceu uma primeira fase de um relacionamento que acabaria por condicionar os 200 anos seguintes. Na prática os autóctones não eram considerados como seres humanos como provam quer os escritos de Colombo e os relatos dos cronistas das Índias. 
O autor também desenvolve neste capítulo os esquemas de comunicação, verbal e não verbal, as novas linguagens, as primeiras traduções, os primeiros contactos e o estabelecimento das primeiras relações quer humanas quer institucionais.
DESCOBRIR
“Desde a mais tenra infância vivi a vida dos marinheiros, e o faço até hoje. Este ofício leva aqueles que a abraçam a querer conhecer os segredos deste mundo”. Pag. 24
Segundo o autor Colombo está preocupado mais com a natureza do que com as pessoas, pois aquelas têm mais afinidade com Deus do que estas.
Concordo com o autor, pois Colombo, parece viver em um mundo distante de sua realidade, chegando a ser poético em seus pensamentos, mas sem atentar que o ápice da criação, ou a melhor das criaturas, “feito um pouco menor do que os seres celestiais” (Salmos 8 vers. 5 – NVI), é o homem. Apesar de ser homem ele não atenta para o mesmo, a sua busca em ser o herói o afasta de uma visão humanista.
 Nas páginas 27 à 29, o autor cita a interpretação direcionada de Colombo, que o leva a ver o que deseja, sem ao menos perceber que o período de mais de um mês para alcançar a ilha de Guanaani era contrária a sua interpretação de proximidade do mar, isto leva a Las Casa ao seguinte comentário:
“É uma maravilha ver como, quando um homem deseja muito algo e se agarra firmemente a isso em sua imaginação, tem a impressão, a todo momento, de que ouve e vê testemunha a favor dessa coisa”. Pag. 29.
Uma pessoa que fixa o seu pensamento em algo que muito deseja, pode ter a sua interpretação induzida por esta fixação. Desta forma Colombo interpretava a proximidade de terra, como ela já estivesse próxima. Como um adolescente apaixonado que ao menor sinal da pretendida  interpreta como a reposta esperada, assim agia Colombo acreditando na terra sonhada. Contudo levando-se em conta esta paixão desenfreada, quem mais acreditaria neste sonho além dele? Será que ele realmente pensava assim, louco apaixonado, ou ele não queria colocar em pânico a sua tribulação que longe da pátria, na solidão dos nautas, necessitassem de sonhar como o seu comandante, para vencer o desconhecido? Esta é uma resposta que não se obtém facilmente.
O autor cita a falta de interpretação do outro, Colombo não os reconhecem como povo, nem que eles possuem uma língua. Colombo não os quer ouvir.
“ Se Deus assim o quiser, no momento da partida levarei seis deles a Vossas Altezas, para que aprendam a falar”. Pag. 42.
Este pensamento é a sintaxe de quem não reconhece o outro, o não ouvir, o não reconhecer como povo, pois a linguagem é a manifestação máxima de uma cultura. Não reconhecer que os índios possuem língua é considerá-los inferior, é não perceber que há vidas humanas envolvidas, famílias, filhos, esposas. O pior de tudo é não ouvir a outra voz em detrimento a voz que emana de seu interior. Neste ponto pode-se perceber a continuidade do louco apaixonado que sacia os seus desejos sem importar se é amado, a sua fonte de prazer resume-se a si e nada mais. Um sentimento deveras egoísta.
Colombo e os índios
O autor observa o tratamento dualístico dado por Colombo. Só há duas possibilidades de percepção: Bom ou Mau.
“Sem dúvida, o que mais chama a atenção aqui é o fato de Colombo só encontrar, para caracterizar os índios, adjetivos do tipo bom / mau, que na verdade não dizem nada:além de dependerem do ponto de vista de cada um, são qualidades que correspondem a extremos e não a características estáveis, porque relacionadas à apreciação pragmática de uma situação, e não ao desejo de conhecer”. Pag. 51 e 52.
                       
 O dualismo empregado por Colombo seguia a sua conveniência. Caso a situação fosse favorável, ele se valia do ‘bon sauvage’, caso fosse desfavorável ele dizia que o selvagem era mau. Isto tudo levando em conta tão somente sua hermenêutica, ou seja, ele não observava os motivos pelo qual os índios agiam, só contava o que ele pensava. Porém o que mais chama a atenção é o dualismo como solução de compreender o outro, esta lógica binária sempre tende a distorcer a interpretação das coisas, pois resume tudo a zero ou um, deixando de lado todo um contexto envolvido. Pode-se exemplificar da seguinte forma: Caso o índio estivesse em situação de desvantagem o de algum modo dando lucro, este era inocente, indefeso e inofensivo; mas se a situação era inversa, o índio era cruel, traiçoeiro e perigoso. A lógica binária sempre atuando em seus contrários. Para quem acredita na alteridade, o dualismo é algo que não se compactua, pois observa pelos extremos sem perceber a grandiosidade da natureza humana.
No segundo capítulo, “Conquistar”, Todorov trata da conquista propriamente dita, após a chegada de Cortez. Começa afirmando que o choque entre o Velho e o Novo Mundos constituiu uma guerra, devendo o termo “conquista” ser entendido nesse contexto, ou seja, como o resultado do conflito. Entretanto, o autor ressalva que a mais devastadora arma utilizada não foram os arcabuzes, os canhões ou os cavalos, m s o controle da “comunicação”. Conforme o autor, os dois lados possuíam diferentes formas de se comunicar. Enquanto os europeus viviam a efervescência teórica promovida pelo Renascimento, com o acúmulo de astúcias guerreiras adquiridas durante séculos de conflitos territoriais, internos ou nas Cruzadas, os nativos tinham presentes os signos, os presságios e as profecias como memória efetiva. O mundo destes era voltado para o passado, para as tradições, dentro de uma perspectiva de tempo cíclico: saber sobre o passado seria saber sobre o futuro, pois tudo se repetiria. Assim, os líderes, como Montezuma, não admitiam a existência de um acontecimento novo e menos ainda puderam entender que estavam em meio a uma guerra de “assimilação total”, levada a cabo pelos espanhóis. Ou seja, acreditavam que tudo acabaria em um acordo de paz, como sempre ocorrera. As batalhas em si apresentavam estratégias de comunicação radicalmente opostas: os gritos de guerra utilizados pelos índios , para assustar o inimigo , funcionavam, na verdade, para denunciar a presença deles. Já os espanhóis, por vezes usavam tiros de canhões apenas para assustar, o que garantia a vitória mesmo sem luta . A animosidade e a discórdia que os povos nutriam uns com outros, como os Astecas e os Maias, foram fartamente usadas pelos europeus. Estes enviavam mensagens contraditórias a uma o u outra nação, ora amistosas, ora agressivas, com o único objetivo de confundir a percepção dos oponentes. Também se mostravam fortes quando estavam fracos, o que evitava perdas importantes, e se faziam de fracos quando estavam fortes, para atrair o adversário para armadilhas. Como o autor assinala, “os índios não se dão conta de que as palavras podem ser uma arma tão perigosa quanto as flechas” (p. 87) . A grande superioridade dos europeus, conclui, é a capacidade de comunicação inter-humana, ou, dito de outra forma, “os especialistas da comunicação humana levam a melhor” (p. 94). Entretanto, ressalva Todorov, tal conquista trouxe em si uma perda irreparável: a revelação de que o europeu, ao tentar impor ao Mundo a sua superioridade, destruía a sua própria capacidade de se integrar ao diferente. Século depois, conclui o autor, tentará reconstituir o “bom selvagem”, mas será em vão, pois este já estará assassinado ou assimilado. 
II.”Conquistar”
Neste capítulo são analisados, perante as mesmas premissas, os factos que levaram a efectivação da conquista do México por Cortez e a todo o complexo jogo de relações e interpretações que se estabeleceram no contacto entre duas culturas e civilizações tão diferentes.
O autor também nos desenvolve possíveis perspectivas do Outro perante os invasores espanhóis e os complexos jogos de poder e hierárquicos que condicionaram toda a sociedade Asteca e dos povos que habitavam no México.
São também dissecados por Todorov as dificuldades de comunicação efectiva e de como o controlo total da mesma por Cortez acabou por ser fundamental para uma conquista rápida apesar da desproporcionalidade das forças em questão.
É também sublinhado o elevado simbolismo e ritual da sociedade Asteca e de como os signos acabarão por antecipar o desfecho final: o Outro e o Eu em perspectivas anacrónicas, diversas e distantes. O autor faz também uma análise do signo como limitador e condicionador numa perspectiva estruturalista (comme il faut) em que o significantes e significados quase nunca coincidem quando comparados.
CONQUISTAR
O autor apresenta algumas possibilidades que levou os espanhóis a conquistar: A diversidade de tribos, a superioridade bélica espanhola, as armas bacteriológicas (varíola, gripe), o retardo de Mantezuma em atuar preventivamente contra os espanhóis, a perda de referência religiosa por parte dos astecas, a falta de comunicação entre os índios sobre os acontecimentos, a falta de interpretação dos signos. Pag. 73 a 86.
Montezuma e os signos
O autor relata como os astecas compreendem a relação tempo / espaço diferentemente do conquistador. Enquanto este se utiliza de dimensões cíclicas e lineares, aqueles tinham tudo como cíclicas. Tudo se repete tudo esta previsto, sem esta repetição as coisas ficam imprevistas e confusas para os astecas. Montezuma no afã de compreender a presença espanhola procura resposta em seus agoureiros, mesmo na falta de respostas, ele continua a procurar, até que obtém de um o seguinte relato:
“ Para que creiais que o que digo é a verdade, olha atentamente para este desenho! Ele me foi legado por meus antepassados. –E, tirando então um desenho muito antigo, mostrou a ele o barco e os homens vestidos como estavam pintados [no novo desenho]. O rei viu nele outros homens montados em cavalos e outros em águias voadoras, todos vestidos com muitas cores, chapéu à cabeça e espada à cinta”. Pag. 121.
 
Neste ponto o autor faz uma análise profunda do modo de ver o mundo dos astecas: um mundo previsto e programado. E a incapacidade de entender o novo sem olhar o passado que os prejudicou. Agostinho Bispo de Hipona diz que o tempo é dividido em “passado presente” (memória), “presente presente” (ação) e futuro presente (esperança). Partindo deste pensamento podemos dizer que o tempo asteca era determinado pelo seu passado, ou seja, a memória tinha mais efeito do que a ação atual. E o pior, o futuro era determinado por esta memória. Ora para os astecas não importava a ação que tivessem se o seu futuro já estivesse determinado, até o futuro dos recém nascidos era assim determinado. E o mais interessante, caso esta memória não existisse, criava-se uma, posicionando-a no passado a fim de se justificar o presente. O autor relata que Montezuma teve dificuldade em dar as ordens corretas devido a esta má leitura dos fatos.
Cortez e os signos
O autor começa a relatar sobre a capacidade de Cortez de compreender os signos astecas, antes de conquistar ele analisa o povo a qual ele se depara, tenta compreender a visão de mundo destes. Percebe a inimizades entre eles, utiliza-se de sua interprete para compreender os outros, adquire vantagensna sua silenciosa guerra de informação. Cortes sabe gerenciar as informações ao seu favor e a faz com eficácia, obtendo vantagem e vencendo as batalhas impostas uma a uma, até se consolidar no poder da nova terra.
Outro fato observado é a intransigência em dividir a Divindade cristã com as astecas. Montezuma pede permissão para se manter os seus deuses, o que é rejeitado por Cortez, “a intransigência sempre venceu a tolerância”. Pag. 153.
Aqui se pode notar a determinação de Cortez em tirar o referencial daquele povo, pois a vida social e cultural deles girava em torno de seus rituais sagrados. Para os astecas era fácil tolerar o Deus cristão, pois eles o tinham com mais um, ou até como o Deus que se representava da mais variadas formas. Mas o etnocentrismo cristão era bem arraigado, talvez, devido aos anos de combate contra os infiéis mouros, do que aos preceitos cristãos propriamente dito. Basta lembrar que as viagens de conquistas iniciaram-se após a queda de Granada e a expulsão dos judeus da Espanha. Por outro lado a falta de referência religiosa de um povo e a imposição de novo Deus aos astecas fez com que sua cultura sucumbisse à nova cultura imposta pelo conquistador.
O terceiro capítulo, “Amar”, começa com uma questão inquietante: se os conquistadores tiveram uma compreensão superior da sociedade nativa, por que cuidaram em destruí-la? A resposta sugerida é a busca incessante pelas riquezas, como o ouro, tornando o índio mero instrumento de sua obtenção, o que causou, segundo o autor, a morte de tanta gente ao mesmo tempo, que não se pode comparar a nenhum dos grandes massacres do século XX. Entretanto, a retirada do nativo de suas lavouras, a destruição das plantações ou o confisco delas, a desestruturação das famílias, o trabalho forçado até o esgotamento e a morte, o suicídio com o recurso para escapar do sofrimento, são pontos que ele coloca ao lado da teoria simplista da “guerra biológica”. Ou seja, os maus tratos e o descaso com o bem estar e a vida do outro (ação humana direta), constituiu fator extremamente importante no chamado “choque microbiano” ( ação humana indireta). A religião também teria contribuído para a tragédia, a o sugerir que as doenças serviam para punir os descrentes e era uma prova de que Deus estava ao lado dos conquistadores. Todorov apresenta, ainda , uma distinção entre a sociedade dos sacrifícios e sociedade dos massacres. Enquanto a primeira executa o ritual em praça pública, evidenciando a força dos laços sociais e o seu predomínio sobre o ser individual, o massacre, ao contrário, revela a fragilidade desses laços sociais , sendo, de preferência, executado longe, o que teria sido o caso dos europeus no distante Novo Mundo. Todos esse eventos, prossegue o autor, não ocorreriam sem o estabelecimento da igualdade como identidade, ou seja, da colocação do diferente como inferior, de ver o índio como algo entre o ser o humano e os animais. Para sustentar esse argumento, ele apresenta o documento chamado Requerimiento, de 1514, o qual, por baixo da suposta intenção de regulamentar o processo de colonização, determina a punição exemplar dos índios que se recusarem a tais regras. Em outras palavras, ou eles “se submetem de livre e espontânea vontade, ou serão submetidos à força, e escravizados” (p. 145). Estaria, assim, criado um dos primeiros estatutos do que posteriormente ficou conhecido por “guerras justas”. O autor se detém, então, em um debate de textos entre o erudito e filósofo Gines de Sepúlveda e o padre dominicano Bartolomé de Las Casas. Enquanto o primeiro defende a diferença, o preceito maniqueísta do bem contra o mal , para justificar a “guerra legítima”, o segundo invoca a semelhança natural de todos os homens , o fato de todos serem “filhos de Deus”, para condenar essa mesma guerra . Não demora para o religioso vislumbrar os índios como dóceis, obedientes e pacíficos, dotados, inclusive, de virtude s cristãs. Todorov nos leva a perceber que hoje sabemos mais dos nativos por meio das “acusações” d e Sepúlveda d o que pelas “defesas” empreendidas por Las Casas , ou seja, o preconceito da igualdade pode se revelar pior do que o da superioridade . Retomando o tema da Conquista para efeitos comparativos, o autor conclui que enquanto “Las Casas ama os índios, mas não os conhece; Cortez conhece -os, a seu modo, embora não sinta por eles nenhum ‘amor’ especial” (p. 173). 
III.”Amar”
Em mais um capítulo peculiar, o autor transporta-nos para o patamar seguinte onde são introduzidos os níveis da compreensão, admiração e respeito perante uma sociedade Asteca extremamente desenvolvida e rica. Estes sentimentos acabarão por degenerar em aniquilação e destruição do objecto admirado pelo receptor desorientado. Porquê? Interroga-se Todorov. Esta questão irá percorrer toda a ponta final do livro onde são detalhadas as razões do genocídio directo e indirecto da população indígena.
Neste capítulo o discurso do autor assume por vezes um discurso extremamente vitimizador e redutor que descarta qualquer tipo de análise objectiva e imparcial.
AMAR
Apesar de Cortez compreender relativamente bem o mundo asteca, obtendo vantagem sobre estes, os espanhóis partem para um genocídio sem precedentes até aquela época. Não houve simpatia nem empatia, apenas o desejo de subjugar o outro sem o reconhecê-lo.
Entre as atrocidades cometidas pode-se citar esta:
“ Queimaram vivos certos índios, outros tiveram as mãos cortadas, ou o nariz, a língua, e outros membros; outros foram entregues aos cães; cortaram os seios das mulheres...”
É de se admirar como essa crueldade humana se estabeleceu em várias épocas. Apesar de a Bíblia relatar que foi ordem de Deus assolar cidades na palestina, durante a conquista da terra prometida, não se pode deixar de disser que num olhar humano isto é uma crueldade, principalmente quando direcionada a civis que não podiam se defender. O autor fala da crueldade espanhola para com o nativo da América, sem misericórdia para com as crianças. E hoje o homem ainda impulsionado pela vontade de subjugar o outro, utiliza armas químicas como o fez Sadam Russen, os assassinatos cruéis das vítimas do tráfico de drogas, ou mesmo a crueldade de um filho que assassina os pais. De onde vem essa vontade cruel de sangue?
Igualdade e desigualdade
Surge neste capítulo a figura do erudito e filósofo Gines de Sepúlveda que em 1550 envolve-se na célebre controvérsia de Valladolid onde tem a oposição do Bispo de Chiapas, Bartolomeu de Las Casas. O pensamento de Sepúlveda está tomado pelo aristotelismo e de uma visão dualista:
	Superiores
	Espanhóis
	Adultos
	Humanos
	Homem
	Alma
	Temperança
	Bem
	Inferiores
	Índio
	Criança
	Animais
	Mulher
	Corpo
	Intemperança
	Mal
  Baseado nesta visão de superioridade e inferioridade ele justifica em argumentos lógicos a dominação sobre o outro. Levando em conta sua visão aristotélica de que o escravo e a mulher não são cidadãos, logo é fácil para este assemelhar o outro a uma posição de inferioridade.
Como resposta pode-se citar Las Casas: “ Adeus Aristóteles! O Cristo, que é a verdade eterna, deixou-nos este mandamento: ‘Amarás ao próximo como a ti mesmo! (...) Apesar de ter sido um filósofo profundo, Aristóteles não era digno de ser salvo e de chegar a Deus pelo conhecimento da verdadeira fé” (Apologia, 3). Pag. 234.
Escravismo, colonialismo e comunicação
O contraponto de Sepúlveda é Las Casas, este dominicano possui uma visão amorosa em relação ao índio,mas percebe-se em seu discurso de assimilação do outro um pequeno conflito, o autor comenta: “Las Casas ama os índios. E é cristão. Para ele, esses doistraços são solidários: ama-os precisamente porque é cristão, e seu amor ilustra sua fé. Entretanto, essa solidariedade não é óbvia: vimos que, justamente por ser cristão, não via claramente os índios. Será que é possível amar realmente alguém ignorando sua identidade, vendo em lugar dessa identidade, uma projeção de si mesmo ou de seu ideal? Sabemos que isto é possível, e até freqüente, nas relações interpessoais, mas como fica no encontro das culturas? Não se corre o risco de querer transformar o outro em nome de si mesmo, e, consequentemente, de submetê-lo? De que vale então esse amor?” Pag. 245.
  Essa análise é muito precisa. O que se ama no outro? O eu de quem ama ou o outro na sua essência? O cristão que cumpre o ide não pode seguir o caminho de satisfazer o seu amor projetando-se no outro, pois não estará amando o próximo, mas somente a si mesmo. Quantos não trilham esse caminho erradamente? O caminho da auto projeção de si no outro. Daí a perspicácia da pergunta de Todorov, vale apena amar alguém quando se enxerga neste somente o próprio reflexo? Esta análise aponta para a verdade do amor, que não se realiza nos valores de quem ama, mas no que o outro realmente é.
           
Outra observação a respeito de Las Casas é a questão do negro. Em 1514 ele renunciou a seus índios, mas em 1544 ainda possuía um escravo negro. Então o autor questiona:
“Não seria porque sua generosidade baseia-se no espírito de assimilação, na afirmação de que o outro é como eu, essa afirmação seria esquisita demais no caso dos negros?” Pag. 249.
Parece que Las Casa projetou-se mais nos índios que nos negros, o que até faz sentido:
1.    Os negros já eram utilizados como escravos, logo sua visão já estava comprometida com essa realidade.
2.    Las Casas praticamente cresceu no novo continente, o que o tornou mais próximo dos índios.
3.    Como Las Casas se projetaria naquele que ele entendia como diferente?
Então, se pode dizer que a falta de empatia para com o negro já estava arraigada na vida do dominicano, de modo que não percebia o quanto estava distante do amor perfeito.
No quarto e último capítulo, Todorov analisa em detalhes ainda dois outros cronistas do século XVI. O primeiro é o dominicano Diego Durán , que chegou ao México ainda criança e lá ficou por toda a vida. Assim, não apenas foi “formado” no Novo Mundo, como teve a oportunidade de a prender a língua dos nativos, incluindo símbolos culturais e religiosos. Durán defendeu o entendimento da cultura nativa como recurso imprescindível à conversão. Condenou o mero assimilacionismo por achar, não sem razão, que os índios poderiam “fingir” a conversão e eles, por desconhecimento, não perceber. Logo o religioso identifica fortes semelhanças entre os cultos nativos e cristãos, atribuindo a isso a algum peregrino que por ali tenha passado antes de Colombo, podendo ser até o andarilho São Tomé. O fato é que, ao se concentrar nas semelhanças e desconsiderar as diferenças, torna-se o chamado “mestiço cultural” que, por não compreender o seu lugar, termina por emitir opiniões ambíguas ou contraditórias, atribuindo muitas vezes pensamentos próprios às suas personagens. O sincretismo proposto por ele acaba tendo o cristianismo como ponto de partida. Ensina Todorov: “O domínio do saber leva a uma aproximação com o objeto observado; mas essa aproximação, justamente, bloqueia o processo do saber” (p. 214). O outro cronista discutido foi o franciscano Bernardino de Sahagún, que também chegou jovem ao Novo Mundo e aqui permaneceu o resto da existência . Por sua formação em gramática, a chamada “linguística”, buscou não apenas aprender a língua nativa, o “nahuatl”, mas também ensinar latim aos índios. Mesmo ironizado pelos conterrâneos ele não se intimidou e, em uma via de mão dupla, ensinou aos nativos os preceitos cristãos e aos europeus a cultura local. Do verbo passou à escrita. Coletou oralmente lendas e rituais e os converteu na língua “nahuatl”, preocupando -se em escrever uma versão em espanhol, onde expunha o seu ponto de vista. Enquanto outros buscam intervir nos textos narrados, buscando aproxima-los dos seus objetivos, Sahagún teria optado pela fidelidade integral dentro do possível, ou seja, esforça-se por manter o material “original”, sem tentar adapta-lo ou com pará-lo às tradições europeias. A própria tradução que realiza constitui acréscimos ou esclarecimentos, mas jamais substituição; constitui escolhas, como a preferência pelo tema da crueldade e o silêncio sobre a questão da sexualidade, mas nunca a anulação do outro. Seus estudos o levam a concluir que não se pode derrubar os ídolos de um povo sem pôr abaixo toda uma sociedade. Sugere, daí, um “Estado Novo”, “mexicano”, com orientação cristã. Passa, então, a condenar a situação existente, ganhando rapidamente a antipatia dos seus, o que leva o rei espanhol Felipe II a cortar -lhe as ajudas financeiras e a proibir com rigor a circulação das suas obras (p. 235). Sahagún, ao contrário de Las Casas, não emprega uma visão idealizada dos índios: enxerga-os com qualidades e defeitos, mas ambos diferentes dos apresentados pelos espanhóis. Não alimenta ilusões, a exemplo de Durán, quanto a um sincretismo em termos consensuais. “Sua intenção é justapor as vozes e m vez de fazer com que elas se interpenetrem” (p. 238). 
IV.”Conhecer”
Este capítulo é para mim o mais interessante, racional e consistente pois define a relação com os outros sob o prisma da alteridade e em que são definidos vários níveis segundo os quais a relação é estabelecida:
1-Plano axiológico: juízo de valor (bom/mau, amor/ódio)
2-Plano praxiológico: aproximação ou afastamento (identificação/ ignorância, assimilação/ rejeição)
3-Plano epistémico: conhecimento ou indiferença 
Com base nestes níveis Todorov analisa todos os intervenientes históricos que testemunharam e participaram nessa etapa marcante da passagem de uma mentalidade medieval para uma modernidade que se viria a revelar redefinidora e construtora de novos conceitos e valores.
O autor apresenta-nos ainda um epílogo, o qual subtitula de “A profecia de Las Casas”. Diante dos crimes perpetrados pelos espanhóis no Novo Mundo, o religioso do século XVI teria profetizado um futuro sombrio para a Espanha. A longa duração de atos como a escravidão e o colonialismo primordial, sustenta Todorov, teria gerado sentimentos de vingança, ódio e outras reações, aproximando a situação atual à profecia citada, com uma única ressalva: a substituição da palavra “Espanha” por “Europa”, uma vez que várias nações logo seguiram os passos dos primeiros conquistadores. Para que tais injustiças e violências feitas ao “outro” não sejam esquecidas, justifica Todorov, é que o seu livro teria sido escrito. “O outro precisa ser descoberto”, diz, pois a estranheza do outro exterior acaba revelando um outro interior (p. 244). No momento em que a suposta superioridade cultural europeia parece fadada à superação definitiva, o autor espera que sobreviva entre os seus escombros uma igualdade que não leve à identidade e uma diferença que não implique em subordinação . Para escrever o livro, Todorov revela que escolheu a linha do “diálogo”, ou seja, buscou evitar a mera reprodução da voz das personagens, bem como o controle total delas. Diz ele: “Eu interpelo, transponho, interpreto esses textos; mas também deixo que falem (daí tantas citações) e se defendam” (p. 246). Dessa forma, o trabalho resultante extrapolao assunto de que trata, tornando-se também ótima referência como método de pesquisa histórica, notadamente aquelas relacionadas a temas como identidade, diferença e alteridade. Para além de Cortez, que teria dito que “a conquista do saber leva à conquista do poder”, Todorov advoga a conquista do saber “ainda que seja para resistir ao poder”, e conclui: “Reconhecer, aqui e ali, a superioridade dos conquistadores não significa fazer seu elogio; é necessário analisar as armas da conquista, se quisermos ter possibilidade de freá-la um dia. Pois as conquistas não pertencem só ao passado” (p. 250).

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