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RESUMO A MULHER POPULAR REBELDE
PERROT, Michelle. IN______ Os excluídos da história; operários, mulheres e prisioneiros.
O foco do texto é majoritariamente voltado para aquelas que seriam as mais esquecidas entre as esquecidas: as mulheres pobres, tanto operárias quanto prostitutas, lavadeiras e donas de casa, sem escolaridade, que penam para ganhar um sustento para si e sua família, que fazem pequenos bicos, trabalham como camelôs, participam de protestos e se organizam, causando medo e preocupação nas autoridades, em particular as policiais.
É um relato saboroso das revoltas lideradas pelas mulheres em favor da manutenção da vida da família: elas se rebelam contra a alta do preço dos alimentos, fazem motins, exercem vigilância cerrada nos mercados, intimam os vendedores de trigo a lhes entregarem o cereal; se eles se recusam, elas tomam, taxam-no e vendem-no elas mesmas; são mulheres jovens e velhas, grávidas, lactantes, jovens solteiras que sustentam os pais doentes, diaristas, prostitutas, remendeiras e lavadeiras. Durante os motins de 1817, elas se sobressaem, muitas são presas, condenadas a trabalhos forçados ou à morte.
Não são apenas guardiãs do pão, mas também do teto – lutam contra senhorios e, quando não podem pagar o aluguel, organizam mudanças na calada da noite e colocam tudo o que possuem em carrinhos de mão, as crianças no topo dos pertences que carregam. Também se insurgem contra as máquinas que vêm destruir o modo de trabalho tradicional e impor disciplinamento de seus corpos. Realizam motins também nas florestas, pelo direito à madeira. Porém, ao longo do século, passam de organizadoras a auxiliares. Os homens a limitam ou desprezam nos momentos revolucionários conforme as revoltas se militarizam. São toleradas apenas como cantineiras e enfermeiras e não podem falar ou dirigir.
Aqui, Perrot relata sobre um espaço privilegiado da sociabilidade das mulheres no século XIX: o lavadouro. A rua pertence a elas após os homens irem para o trabalho, mas somente às mulheres pobres. As ricas estão presas em suas casas e vigiadas pela criadagem. A mulher do povo está livre de espartilhos e circula em busca de sustento. Fala palavrões, é explosiva e gera receio nas autoridades. Nos lavadouros não apenas se lava roupa, mas se trocam informações, receitas e remédios; acolhem-se as mulheres abandonadas, as prostitutas, as recém-saídas da prisão e os órfãos. “Os lavadouros são locais de feminismo prático”, diz Perrot.
Aqui, a discussão também é atual: o machismo renhido dos homens ditos revolucionários. O desprezo, o apagamento, a invisibilidade e até mesmo a violência física cometida por esses homens contra as mulheres. A noção de cidadania destes homens não inclui as mulheres. Pensa-se classe, mas a discussão da condição feminina “dividiria” e “enfraqueceria” a revolução. 
Nessa sociedade cheia de problemas e desestruturada, onde imperava a exploração nas fábricas e a miséria do povo, uma figura merece destaque. Tal figura é aquela que cuidava, ao mesmo tempo, da casa, do dinheiro, das crianças e, por vezes, trabalhava ao mesmo tempo. A figura da mulher. Era a mulher quem era a dona DA casa. Era ela que, depois de muito lutar por isso, administrava o dinheiro e era responsável por todo o bem-estar de sua família. Além disso, os filhos eram seus e não de seus maridos.
Mas, porque muitas vezes, não vemos as mulheres nos holofotes do século XIX? Segundo Perrot, é porque era o home quem observava e descrevia-a. Não havia uma perspectiva feminina sobre a mulher. Era considerado normal o homem ser aquele que fala por elas. Além disso, esse silencio feminino advém de as mesmas não poderem participar das esferas políticas. Esses fatores tornavam o século XIX, segundo a autora, o ápice da segregação sexual.
Com o tempo, além da mulher ser a dona da casa e a única responsável pelo bem-estar de seus filhos, sua mão de obra passou a ser preferível dentro das fábricas. As mulheres, justamente por conta de seus filhos, aceitavam salários menores. Afinal, não era somente as próprias bocas que precisavam alimentar e não podiam se dar ao luxo se não trabalhar. O desespero de ter que suprir e cuidar de seu filho tornava a mulher uma mão de obra mais barata. Além disso, elas faziam tudo com mais minucia e, como não tinham com quem deixar seus filhos, os levavam para o trabalho. Onde os pequenos trabalhavam também, usando suas pequenas mãos para realizar tarefas impossíveis para um adulto.
 Entretanto, apesar disso a mulher ainda vive à “margem do assalariamento” sendo, assim, dependente do salário que o marido ganha. Este salário, entretanto, é responsabilidade da dona-de-casa, que têm a função de administrá-lo para bancar todas as despesas e manter o sustento de toda família. (pp.190-191)
A mulher também foi um expoente importante nas lutas e motins organizados contra a mecanização dos processos de produção, tanto por visualizar nas máquinas uma inimiga contra o emprego de seus maridos e também de suas próprias atividades manuais que complementavam o orçamento da família. Além disso, as mulheres lutavam por outras frentes também, mas seu papel nesses motins mudaram, passando de iniciadoras a auxiliares. Isso porque a mulher não conseguia se identificar apropriadamente quando se tratava da luta de classes, mas era possível notar expressiva participação quando se tratava de assuntos “do povo”. (p. 198-200)
Michelle chama a atenção para os lavadouros que, segundo ela, possui um papel de extrema importância por se mostrar uma forma de organização original, já que nestes locais as mulheres podiam socializar, trocar informações e até mesmo disponibilizarem ajuda. Os lavadouros deram origem a associações que chegaram até mesmo a oferecer ajuda para militares que haviam fugido das prisões; tal comportamento despertou a irritação do poder, que começou a regulamentar e restringir os espaços, até que, por fim, “o lavadouro não é mais o que era”. Contraposto a isso, os lavadouros também podem ser entendidos como uma tentativa de disciplinar e racionalizar um dos principais serviços domésticos exercidos pela mulher. (pp. 202-204, p. 229)
Ainda, Michelle frisa para a separação dos sexos nos espaços urbanos. Ela parte do ponto em que homens e mulheres habitavam os mesmos espaços, exemplificando com os bailes das tavernas, em que todos dançavam e bebiam juntos. Entretanto, a separação tem início ao privar o acesso feminino (e também do operariado) à política e, com isso, definindo os espaços públicos como espaços políticos a qual apenas os homens têm acesso. Aliás, o corpo dos operários, que também eram excluídos dessa esfera, acabavam excluindo também as mulheres quando lutavam por mudanças. Tal quadro chega ao ponto em que, para que uma mulher possa tomar a palavra, ela necessite pedir o intermédio de algum familiar. Entretanto, apesar de tamanha exclusão, é possível notar a idealização e ampliação crescente da figura feminina, sempre expressa em quadros e fotografias. (p. 209, p. 211, pp. 218-219)
Assim, Michelle conclui sua exposição afirmando que, apesar de não estar fielmente representada e quase sempre ser negligenciada pela História, a mulher sempre esteve presente. 
Por causa dessas péssimas condições de vida, as mulheres ganham um forte papel na vida cotidiana dessas cidades. Por serem elas as que tomam conta da casa, elas passaram a comandar tudo aquilo que envolve o bem estar da sua família. Elas controlam os preços dos alimentos, controlam o salário dos maridos (alguns gastavam o salário todo em bebidas, por isso há o relato de algumas mulheres pedindo pra elas próprias receberem o salário do marido, ou parte dele, para conseguir sustentar a casa), e controlam até mesmo as condições dos seus trabalhos, já que serão elas as pioneiras no estado de greves. Essas mulheres populares se tornaram a arma mais mortal a ser criada, já que elas não se curvavam, mesmo quando tentavam silencia-las. Verdadeiras guerreiras, lutando pela sobrevivência de sua família.

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