Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
METODOLOGIAS E PRÁTICAS DOCENTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Ana Carolina Caetano Senger GUIA DA DISCIPLINA 2019 1 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. A TRAJETÓRIA HISTÓRICA E SOCIAL DA CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E INFÂNCIA Objetivo: Conhecer o percurso histórico e social da concepção de criança e infância. Introdução: Estudar sobre os Fundamentos da Educação Infantil requer de nós, educadores, uma análise e discussão do fenômeno educativo, sobre os diversos olhares do cuidar, do educar, da criança e da infância, considerando as relações entre educação e sociedade, a partir de uma reflexão teórica entre os saberes. Na medida em que desvendamos as práticas e posturas junto à população infantil, vamos conhecendo também as concepções sobre criança que norteiam essas práticas. Falar da creche ou da educação infantil é muito mais do que falar de uma instituição, de suas qualidades e defeitos, da sua necessidade social ou da sua importância educacional. É falar da criança. De um ser humano, pequenino, mas exuberante de vida. (DIDONET, 2001, p. 11). 1.1. Conceito de infância ao longo da história A forma como vemos a criança hoje em dia, como um ser que tem história, que possui direitos e que exerce influência na sociedade, não é a mesma que existia nos séculos passados. Agora sabemos que a criança tem necessidades e características próprias. Mas você já parou para pensar como as crianças viviam, como elas eram vistas e entendidas antigamente? Para responder a esta pergunta, precisamos mergulhar na história e estudar as concepções de criança e infância do ponto de vista histórico e social. Num percurso histórico, percebemos que o conceito de infância vem sofrendo modificações. Corazza (2002, p. 81) afirma que “[...] as crianças estão ausentes na história no período que compreende a Antiguidade até a Idade Média por não existir este objeto discursivo que chamamos ‘infância’, nem esta figura social e cultural ‘criança’.” Até o século XII não havia uma concepção de infância, os estudos científicos mostram que este período da vida ficou incógnito. 2 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Na Europa, a transição do feudalismo para o capitalismo provocou uma reorganização da sociedade. O impacto causado pela Revolução Industrial fez com que a classe operária se submetesse ao regime do sistema fabril: as máquinas substituíam cada vez mais o trabalho humano. Devido a esta grande mudança, houve a entrada massiva da mulher no mercado de trabalho. Com isso, é claro que a forma da família cuidar e educar seus filhos acabou se alterando. As mães operárias acabaram ficando sem alternativa, pois não tinham com quem deixar seus filhos. Sua única alternativa acabou sendo a opção de deixar suas crianças aos cuidados de outras mulheres, as conhecidas mães mercenárias. Essas, por optarem em não trabalhar nas fábricas, vendiam seus serviços, abrigando e cuidando dos filhos das mães operárias. Criou-se uma nova oferta de emprego para as mulheres, mas aumentaram os riscos de maus tratos às crianças, reunidas em maior número, aos cuidados de uma única, pobre e despreparada mulher. Tudo isso, aliado a pouca comida e higiene, gerou um quadro caótico de confusão, que terminou no aumento de castigos e muita pancadaria, a fim de tornar as crianças mais sossegadas e passivas. Mais violência e mortalidade infantil. (RIZZO, 2003, p. 31). Devido a este triste retrato da realidade da época surgiram as primeiras instituições na Europa e Estados Unidos que tinham como objetivos proteger e cuidar das crianças, enquanto às mães saíam para o trabalho. É preciso que você perceba que essas instituições que foram pioneiras em cuidar da infância tiveram, somente no seu início, o objetivo assistencialista, cujo enfoque era apenas a guarda, higiene, alimentação e os cuidados físicos das crianças. Foi em 1840 em Blankenburgo, que Froebel criou o primeiro Jardim de Infância, a primeira instituição que demonstrou ter uma preocupação não só em cuidar das crianças, mas de educar e transformar a estrutura familiar, de modo que as famílias pudessem cuidar melhor de seus filhos. “A partir da segunda metade do século XIX, o quadro das instituições destinadas à primeira infância era formado basicamente da creche e do jardim de infância ao lado de outras modalidades educacionais, que foram absorvidas como modelos em diferentes países.” (KUHLMANN, 2001, p. 26). 1.2. Philippe Ariès e a “História Social da Criança e da Família” Para entender o percurso histórico da evolução do entendimento da criança não podemos deixar de conhecer os estudos do historiador francês Philippe Ariès, por se 3 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância constituir hoje uma das referências mais frequentes dos estudiosos na concepção da infância. Ele é conhecido, sobretudo, por seu livro L’Enfant et la Vie Familiale sous l’Ancien Régime (1960), traduzido no Brasil como História Social da Criança e da Família. Este livro ocupa lugar de destaque na história da infância, uma vez que foi essencialmente a primeira obra a tratar do assunto de forma abrangente. Até hoje, Philippe Airès é visto como referência primária neste tema. É famosa sua afirmação de que "na sociedade medieval, a ideia de infância não existia." A tese central de História Social da Criança e da Família é a de que as atitudes em relação às crianças progrediram e evoluíram no tempo juntamente com as mudanças econômicas e os avanços sociais, até que a infância, enquanto conceito e elemento constitutivo da família se consolidou no século dezessete. Pensava-se que as crianças eram frágeis demais para serem levadas em conta e que elas poderiam desaparecer a qualquer momento. [...] Fundamentalmente, a obra demonstra que o surgimento de um discurso sobre a infância está vinculado à emergência da percepção da especificidade do infantil na modernidade. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippe_Ari%C3%A8s Acesso em: 09 ago. 2016. Philippe Ariès estuda por meio da iconografia religiosa e leiga a inserção da criança na vida social do cotidiano. Ele analisa a evolução das relações entre criança e adulto desde a Idade Média até os tempos modernos. Sua obra muito contribuiu para contar sobre a transformação da criança e da família e também sobre a idealização da figura da criança e da infância. 1.3. Os modelos de representação da criança A arte medieval que tinha como tema cenas infantis, as imagens de crianças eram reproduzidas como homens em miniatura. O tema é a cena do evangelho em que Jesus pede que se deixe vir a mim as criancinhas, [...] as miniaturas que se agruparam em torno de Jesus oito verdadeiros homens, sem nenhuma das características da infância, foram reproduzidos em uma escala menor. Apenas seu tamanho distingue dos adultos. (ARIÈS, p.50, 1981) Era frequentemente utilizado o traço da inocência das crianças, mas o corpo e o rosto eram do adulto; a inocência era representada na nudez e a criança, no tamanho. No século XIII, a criança era representada na iconografia como tema da infância sagrada. Nesta época, a criança era retratada basicamente de três formas diferentes: como Anjo, como o Menino Jesus ou como Nossa Senhora ainda menina e como uma criança nua. Durante este período, essas foram as representações da infância, unindo o religioso ao artístico, que ganharam vida no imaginário popular e familiar,de uma noção utópica para o real. 4 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1.4. A mulher e a criança: a roda de expostos ou dos enjeitados A relação entre criança, mulher e abandono data de muitos séculos. Na Bíblia, Moisés teve que ser abandonado pela mãe, à beira do rio Nilo, para sobreviver. Muitas vezes, acreditou-se que o abandono dos filhos pelos próprios pais fosse legítimo, assim como deixá-los à mercê de pessoas dispostas a criá-los. O acolhimento de crianças enjeitadas começou no Ocidente medieval, em estabelecimentos que utilizavam uma “roda” – uma espécie de portinhola giratória onde o bebê era deixado, para ficar sob os cuidados de uma instituição de caridade, sem que sua procedência pudesse ser identificada pelos internos –, ajudando a manter o anonimato da mãe e as chances de sobrevivência do bebê. Esse modelo de acolhimento de recém-nascidos ganhou inúmeros adeptos por toda a Europa, principalmente a católica, a partir do século XVI. (MARCÍLIO, p. 24, 2006) As crianças acolhidas nas Irmandades de Misericórdia eram batizadas, registradas e encaminhadas para as amas de leite. Uma das principais razões para se acolher cada vez mais crianças era evitar que elas morressem sem o batismo. O enjeitamento de bebês era visto como alternativa para práticas duramente recriminadas, como o aborto e o infanticídio. Quando alguém deixava uma criança na roda, sua procedência não precisava ser reconhecida. Cabia aos pais, caso quisessem reaver seus filhos, deixar sinais, bilhetes ou objetos que pudessem identificá-los. ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro, Zahar, 1981. CORAZZA, S.M. Percurso pela história da criança. In: ____ Infância e educação. Era uma vez... quer que conte outra vez? Petrópolis: Vozes, 2002. DIDONET, Vital. Creche: a que veio, para onde vai. In: Educação Infantil: a creche, um bom começo. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. v 18, n. 73. Brasília, 2001. p.11-28. KUHLMANN JR., Moisés. O jardim de infância e a educação das crianças pobres: final do século XIX, início do século XX. In: MONARCHA, Carlos, (Org.). Educação da infância brasileira: 1875-1983. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. p. 3-30 (Coleção educação contemporânea). MARCÍLIO, Maria Luíza. História Social da Criança Abandonada. 2ª ed. São Paulo: Hucitec, 2006. RIZZO, Gilda. Creche: organização, currículo, montagem e funcionamento. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 5 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. OS TEÓRICOS E AS METODOLOGIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Conhecer os principais teóricos que são referências no estudo da Educação Infantil. Introdução Agora vamos estudar sobre alguns dos principais pensadores que muito contribuíram com seus conceitos, suas propostas e metodologias de ensino para a Educação Infantil, cujas ideias repercutem até nossos dias. Você deve perceber que a educação já era assunto de pensadores, antes mesmo de existirem escolas. Por trás do trabalho de cada professor, em qualquer sala de aula do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de educar. Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/- 5vokOmOosdY/TxBrlUrBNsI/AAAAAAAAABY/UkFaoK8dOtE/s1600/Sem+t%25C3%25ADtulo.png Acesso em: 13 jul. 2017 Autores como Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel, Montessori, entre outros, contribuíram para a uma nova visão de criança, considerando-a diferente dos adultos, com necessidades e características próprias: interessadas em explorar objetos e participar de brincadeiras. Vamos, então, aprender um pouco mais sobre eles? 2.1. Jan Amos Comenius Comenius foi um estudioso pioneiro na aplicação de métodos que despertassem o crescente interesse do aluno. Devido a sua grande dedicação à educação, ele é considerado o fundador da didática moderna. 6 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Em seu mais famoso livro, “Didática Magna”, Comenius indicava que poderíamos ensinar tudo a todos. Compreendia que o único meio de educar só poderia residir num método que unificasse as práticas pedagógicas, racionalizando o espaço e o tempo escolares para que as crianças pudessem não somente aprender, mas, realizar plenamente a sua humanidade. No que se refere especificamente à infância, Comenius escreveu “A escola da infância”, em 1628, obra que fazia parte de um amplo projeto de reforma e melhoria das escolas tchecas. Nela, a criança surge não apenas como um sujeito dotado de particularidades, mas também inserido em um projeto educacional que deve respeitar seu desenvolvimento físico e mental. Comenius sinaliza neste livro sua concepção de educação como um processo universal de formação, de que a própria vida é uma escola. Comenius enfocou, ainda, a ideia de educar crianças menores de seis anos e de diferentes condições sociais. O autor propunha que o acesso à educação dessas crianças fosse feito em um nível inicial de ensino que era como o “colo da mãe” (mother’s lap). 2.2. Jean-Jacques Rousseau Rousseau foi um filósofo iluminista que pregou o retorno à natureza e o respeito ao desenvolvimento físico e cognitivo da criança. Segundo ele, “A instrução das crianças é um ofício em que é necessário saber perder tempo, a fim de ganhá-lo" e "Que a criança corra, se divirta, caia cem vezes por dia, tanto melhor, aprenderá mais cedo a se levantar." O princípio fundamental de toda a obra de Rousseau, pelo qual ela é definida até os dias atuais, é que o homem é bom por natureza, mas está submetido à influência corruptora da sociedade. Um dos sintomas das falhas da civilização em atingir o bem comum, segundo o pensador, é a desigualdade, que pode ser de dois tipos: a que se deve às características individuais de cada ser humano e aquela causada por circunstâncias sociais. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/458/filosofo-liberdade-como- valor-supremo Acesso em: 12 jul. 2017 Os estudos de Rousseau retiraram as crianças da posição de adulto em miniatura, defendida na Idade Média, e trouxeram à tona a ideia de que elas tinham características próprias e que necessitavam de uma educação que respeitasse suas fases de desenvolvimento, com professores capacitados para tal entendimento. Ele afirmava que a infância tinha suas maneiras próprias de ver, de pensar e de sentir. Veja que aqui há, também, uma preocupação pelo respeito às fases do 7 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância desenvolvimento ou do crescimento humano. Segundo ele, essas fases ou estágios são: 1) infância (0-5 anos); 2) meninice (5-12 anos); 3) adolescência inicial (12-15 anos); 4) adolescência posterior e 5) idade da humanidade. (GROSSI, 2009, p.20). 2.3. Johann Heinrich Pestalozzi Pestalozzi foi um dos pioneiros da Pedagogia moderna, influenciando profundamente todas as correntes educacionais, e longe está de deixar de ser uma referência. Fundou escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo de poucos. Dedicou seus primeiros momentos como educador à observação, à preparação do homem integral e à prática junto aos órfãos. Para Souza (2002), a escola criada por Pestalozzi se constituía, na verdade, num ambiente de convivênciamútua, onde moravam conjuntamente alunos e mestres. A rotina previa propostas diferenciadas, com brincadeiras, rezas, refeições e lições. Os educandos formavam grupos por faixa etária: os de menos de oito anos, os de idade entre oito e onze anos e, finalmente, aqueles entre doze e dezoito anos. De acordo com o método desenvolvido por Pestalozzi, o ensino deveria ser relacionado à experiência e ao ambiente da criança; precisaria partir do concreto para o abstrato; e alicerçaria as práticas baseadas no desenvolvimento das habilidades das mais simples para as mais complexas. Desse modo, o aprendizado seria, em grande parte, conduzido pelo próprio aluno, com base na experimentação prática e na vivência intelectual, sensorial e emocional do conhecimento. É a ideia do "aprender fazendo", amplamente incorporada pela maioria das escolas pedagógicas posteriores a Pestalozzi. O método deveria partir do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato, com ênfase na ação e na percepção dos objetos, mais do que nas palavras. O que importava não era tanto o conteúdo, mas o desenvolvimento das habilidades e dos valores. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1941/pestalozzi-o-teorico-que- incorporou-o-afeto-a-sala-de-aula Acesso em: 13 jul. 2017 2.4. Friedrich Froebel Froebel foi o criador dos jardins de infância e defendia um ensino sem obrigações. Segundo ele, o aprendizado depende dos interesses de cada um e se faz por meio da prática. O termo “Jardim de Infância” foi por ele utilizado para expressar justamente o cuidado que se deveria ter com as crianças: planta frágil, que precisavam de cuidado e atenção desde o estágio de semente. 8 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os jardins de infância rapidamente se espalharam pela Europa e nos Estados Unidos, onde foram incorporados aos preceitos educacionais do filósofo John Dewey (1859- 1952). Froebel se destacou por ter desenvolvido uma teoria educacional voltada às crianças pequenas, dando ênfase à sistematização da educação dos pequenos, na exploração do lúdico e do brinquedo na sua proposta pedagógica e na importância que deu à preparação mais específica dos professores ligados à primeira infância. As técnicas utilizadas até hoje em Educação Infantil devem muito a Froebel. Para ele, as brincadeiras são o primeiro recurso no caminho da aprendizagem. Não são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. Com base na observação das atividades dos pequenos com jogos e brinquedos, Froebel foi um dos primeiros pedagogos a falar em autoeducação, um conceito que só se difundiria no início do século 20, graças ao movimento da Escola Nova, de Maria Montessori (1870-1952) e Célestin Freinet (1896-1966), entre outros. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/96/friedrich-froebel-o-formador-das-criancas- pequenas Acesso em: 13 jul. 2017 2.5. Jean-Ovide Decroly Decroly, um médico e educador belga, defendia a ideia de que as crianças apreendem o mundo com base em uma visão do todo. O princípio de globalização de Decroly afirma que, posteriormente, a criança pode se organizar em partes, ou seja, que vai do caos à ordem. Devido a sua própria experiência de vida, ele se dedicou a experimentar uma escola centrada no aluno, e não no professor. Ele desejava que a instituição preparasse as crianças para viver em sociedade, em vez de simplesmente fornecer a elas conhecimentos destinados à sua formação profissional. Decroly foi um dos precursores dos métodos ativos, fundamentados na possibilidade de o aluno conduzir o próprio aprendizado e, assim, aprender a aprender. Alguns de seus pensamentos estão bem vivos nas salas de aula e coincidem com propostas pedagógicas difundidas atualmente. É o caso da ideia de globalização de conhecimentos - que inclui o chamado método global de alfabetização - e dos centros de interesse. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1851/ovide-decroly-o-primeiro-a-tratar-o-saber- de-forma-unica Acesso em: 13 jul. 2017 9 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para Decroly, a criança deve ser criança e não um adulto em potencial, em que tudo acontece a seu tempo, e educar é, antes de tudo, viver. O ensino deve ser globalizado, pois a criança se interessa por tudo que acontece ao seu redor. Segundo ele, o desenvolvimento infantil passa por três fases: a observação (pesquisa – resgate das origens, o concreto), a associação (fase em que o professor serve como mediador) e a expressão (conclusões, palavras, teatro, desenho, vídeo, trabalho manual, dramatização, música, etc.) 2.6. Maria Montessori Montessori, uma pesquisadora italiana, afirmava que o potencial de aprender está em cada um de nós. Montessori graduou-se em pedagogia, antropologia e psicologia e pôs suas ideias em prática na primeira Casa dei Bambini (Casa das crianças), aberta numa região pobre no centro de Roma. Depois dessa, foram fundadas outras em diversos lugares da Itália. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/459/medica- valorizou-aluno Acesso em: 13 jul. 2017 Ela propunha despertar a atividade infantil por meios de estímulos e promover a autoeducação da criança, colocando meios adequados de trabalho à sua disposição. O educador, portanto, não atuaria diretamente sobre a criança, mas ofereceria meios para a sua auto-formação. Atividade, liberdade e individualidade do aluno são as bases de sua teoria. Montessori defendia uma concepção de educação que se estende além dos limites do acúmulo de informações. O objetivo da escola é a formação integral do jovem, uma "educação para a vida". Uma das maiores contribuições de Montessori é seu “material dourado”, usado para auxiliar o ensino e aprendizagem do sistema de números decimais e operações fundamentais. Com o “material dourado”, as crianças passam a ter uma imagem concreta facilitando a compreensão desenvolvendo um raciocínio e aprendizado mais agradável. 2.7. Célestin Freinet Freinet foi o educador francês que desenvolveu atividades que hoje são comuns, como as aulas-passeio, cantinhos pedagógicos e jornal de classe, e criou um projeto de escola moderna e democrática. 10 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ele levava os alunos para observar a natureza e todo o mundo exterior e, depois da “aula-passeio”, estimulava-os a fazer uma análise sobre ela. Freinet introduziu o texto livre infantil, dando assim a oportunidade para a criança construir, expressar-se e pensar mediante vivências. Para as crianças pequenas, era dado destaque ao desenho, o qual substituía o texto livre oral. Os melhores desenhos ou textos eram escolhidos por todos e então colocados no “Livro de Vida”. (FERRARI; CARVALHO, p. 102, 2008). Não foi por acaso que Freinet criou uma pedagogia do trabalho. Para ele, a atividade é o que orienta a prática escolar e o objetivo final da educação é formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, capaz de dominar e transformar o meio e emancipar quem o exerce. Um dos deveres do professor, segundo Freinet, é criar uma atmosfera laboriosa na escola, de modo a estimular as crianças a fazer experiências, procurar respostas para suas necessidades e inquietações, ajudando e sendo ajudadas por seus colegas e buscando no professor alguém que organize o trabalho. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1754/celestin-freinet- o-mestre-do-trabalho-e-do-bom-sensoAcesso em: 13 jul. 2017 2.8. Jean Piaget Piaget foi o cientista suíço que revolucionou o modo de encarar a educação de crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos e constroem o próprio aprendizado. Jean Piaget foi o nome mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança. Do estudo das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética – isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1709/jean-piaget-o-biologo-que-colocou-a- aprendizagem-no-microscopio Acesso em: 13 jul. 2017 O aluno da educação infantil enquadra-se nos dois primeiros estágios da teoria de Piaget. O primeiro é o estágio sensório-motor, que vai até os 2 anos. Nessa fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos, desenvolvem a percepção de si mesmas e dos objetos que as rodeiam. O segundo estágio é o pré- operacional, que vai dos 2 aos 7 anos. Nessa fase a criança começa a dominar a linguagem e a representar por meio de símbolos. 11 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2.9. Lev Vygotsky Vygotsky ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é um dos teóricos mais estudados pela pedagogia contemporânea. Sua obra é muito extensa e atribui um papel importante às relações sociais no desenvolvimento intelectual. Sua influência foi tão grande que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Vygotsky defendia o convívio em sala de aula de crianças mais adiantadas com aquelas que ainda precisam de apoio para dar seus primeiros passos. Autor de mais de 200 trabalhos sobre Psicologia, Educação e Ciências Sociais, ele propõe a existência de dois níveis de desenvolvimento infantil. O primeiro é chamado de real e engloba as funções mentais que já estão completamente desenvolvidas (resultado de habilidades e conhecimentos adquiridos pela criança). Geralmente, esse nível é estimado pelo que uma criança realiza sozinha. Essa avaliação, entretanto, não leva em conta o que ela conseguiria fazer ou alcançar com a ajuda de um colega ou do próprio professor. É justamente aí - na distância entre o que já se sabe e o que se pode saber com alguma assistência - que reside o segundo nível de desenvolvimento apregoado por Vygotsky e batizado por ele de proximal. [...] Nas palavras do próprio psicólogo, "a zona proximal de hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã". Ou seja: aquilo que nesse momento uma criança só consegue fazer com a ajuda de alguém, um pouco mais adiante ela certamente conseguirá fazer sozinha. Depois que Vygotsky elaborou o conceito, há mais de 80 anos, a integração de crianças em diferentes níveis de desenvolvimento passou a ser encarada como um fator determinante no processo de aprendizado. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1972/vygotsky-e-o-conceito-de- zona-de-desenvolvimento-proximal Acesso em: 13 jul. 2017 2.10. Henri Paul Hyacinthe Wallon Wallon mostrou em seus estudos que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças. Hoje em dia isso não é novidade para nós, educadores, mas essa proposta foi inovadora no início do século passado, revolucionando o ensino. A teoria de Wallon afirmava que as emoções também devem ser consideradas em sala de aula, pois a criança tem corpo e sentimentos. Segundo ele, é por meio das emoções que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. 12 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino". Disponível em: http://webartigos.com/artigos/henri-wallon-o-educador- integral/37386 Acesso em: 13 jul. 2017 FERRARI, C. M. N. das N.; CARVALHO, S. R. A. Educação Infantil: caminhos percorridos no cotidiano da prática docente. Niterói: Intertexto, 2008. GROSSI, Pillar Gabriel. Grandes Pensadores: 41 educadores que fizeram história, da Grécia antiga aos dias de hoje. Nova Escola. São Paulo, jul. 2009, ed. esp. 25, 180 p. SOUZA, Emanuel. Aprender na Educação Infantil. Porto Alegre: Editora Independente Farroupilha, 2002. 13 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Conhecer as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Introdução Todo profissional que atua na Educação infantil deve conhecer quais são as principais orientações referentes ao trabalho em creches e pré-escolas, como forma de fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Por isso que vamos estudar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI. 3.1. Objetivos das DCNEI A Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009 fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que têm como objetivos: 1.1 Esta norma tem por objetivo estabelecer as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil a serem observadas na organização de propostas pedagógicas na educação infantil. 1.2 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil articulam-se às Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares de Educação Infantil. 1.3 Além das exigências dessas diretrizes, devem também ser observadas a legislação estadual e municipal atinentes ao assunto, bem como as normas do respectivo sistema. (BRASIL, 2010, p. 11) 3.2. Princípios As DCNEI afirmam que as propostas de Educação Infantil devem seguir três princípios básicos: Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. 14 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdadede expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. (BRASIL, 2010, p. 16) 3.3. Concepção e objetivos da proposta pedagógica De acordo com as DCNEI, a proposta pedagógica das escolas de Educação Infantil deve garantir que elas cumpram plenamente sua função sociopolítica e pedagógica: Oferecendo condições e recursos para que as crianças usufruam seus direitos civis, humanos e sociais; Assumindo a responsabilidade de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as famílias; Possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre adultos e crianças quanto à ampliação de saberes e conhecimentos de diferentes naturezas; Promovendo a igualdade de oportunidades educacionais entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância; Construindo novas formas de sociabilidade e de subjetividade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa. (BRASIL, 2010, p. 17) Todas essas orientações procuram fazer com que os objetivos da proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil garantam “[...] à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças.” (BRASIL, 2010, p. 18) As propostas pedagógicas deverão ainda prever condições para o trabalho coletivo e para a organização de materiais, espaços e tempos. Não podemos esquecer que a proposta curricular da Educação Infantil deve ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira e garantir experiências que “promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança.” (BRASIL, 2010, p. 25) 15 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Disponível em: http://www.brasilescola.com/upload/conteudo/images/f880ce2f9e4feb9154d9076db9ab1926.jpg Acesso em: 18 ago. 2016. 3.4. O processo de concepção, elaboração e implementação das Diretrizes Todo o processo de concepção e elaboração das DCNEI começou em 2008, com a parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Conselho Nacional de Educação. Em 2009, as contribuições apresentadas por grupos de pesquisa e pesquisadores, conselheiros tutelares, Ministério Público, sindicatos, secretários e conselheiros municipais de educação, entidades não governamentais e movimentos sociais que participaram das audiências e de debates e reuniões regionais finalmente consolidaram e elaboraram as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Todo o processo de implementação foi orientado pelo Ministério da Educação. As principais orientações visam abordar como deve ser o currículo na educação infantil a partir das novas Diretrizes Nacionais, atendendo as especificidades da ação pedagógica com bebês. Além disso, falam sobre a importância dos brinquedos e brincadeiras na infância e das relações entre crianças e adultos na educação infantil. A saúde e bem-estar das crianças também é uma meta para educadores infantis, em parceria com familiares e profissionais de saúde. Como orientações curriculares, abordam a questão da linguagem escrita e o direito à educação na primeira infância, o conhecimento matemático como fonte de experiências de exploração e ampliação de conceitos e relações matemáticas e a relação das crianças com a natureza. 16 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As creches e pré-escolas, na elaboração da proposta curricular, de acordo com suas características, identidade institucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas, estabelecerão modos de integração dessas experiências. (BRASIL, 2010, p. 27) Além disso tudo, faz orientações curriculares para a educação infantil do campo e sobre avaliação e transições na infância. Disponível em: https://blogproinfanciabahia.files.wordpress.com/2014/06/excerto-dcnei.jpg?w=600&h=450 Acesso em: 18 ago. 2016. As principais orientações para a avalição de crianças em creches e pré-escolas são: A observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano; Utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); A continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); Documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; A não retenção das crianças na Educação Infantil. (BRASIL, 2010, p. 29) 17 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&al ias=9769-diretrizescurriculares-2012&category_slug=janeiro-2012- pdf&Itemid=30192 Acesso: 18 ago. 2016. 18 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. PRÁTICAS DOCENTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Discutir a prática docente na educação infantil, enfatizando a função do professor na concretização do processo curricular. Introdução As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, assim como alguns outros materiais de orientação curricular, foram criadas para orientar as propostas pedagógicas das instituições de educação infantil do Brasil, apresentando atualizações nas áreas da didática e do currículo, mostrando grande preocupação com o desenvolvimento integral da criança. Assim, vemos que é necessário haver integração entre as várias áreas do saber, entre os projetos e a contextualização do ensino, enfatizando o desenvolvimento de competências. Esses aspectos são muito discutidos na atualidade e merecem ser considerados pelos educadores que atuam na educação infantil. 4.1. O desenvolvimento integral do educando A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96 estabelece como uma das finalidades da educação nacional o pleno desenvolvimento do educando. Baseando- se nessa premissa, algumas propostas educacionais têm sido justificadas pelas contribuições para o alcance dessa finalidade. Conseguimos criar condições para a formação integral das crianças quando geramos ações que permitam à criança vivenciar temas interessantes, estimulando-a com atividades prazerosas, buscando o sentido daquilo que se está aprendendo (contextualização), a troca de conhecimentos, o estabelecimento de relações com outros campos de aprendizagem (interdisciplinaridade) e a construção de valores. 4.2. A importância da organizaçãodo espaço escolar A primeira proposta a que iremos nos referir baseia-se na organização do espaço escolar. Faria (1999) afirmou em seu trabalho que o ensino na educação infantil deve garantir o direito à infância e o direito a melhores condições de vida para todas as crianças, sem distinção. A proposta educativa deve considerar nossa diversidade cultural, fazendo 19 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância com que a organização do espaço contemple a gama de interesses da sociedade, das famílias e das crianças, atendendo as especificidades da demanda, permitindo que haja identidade cultural e sentido de pertencimento. A autora afirma ainda que não devemos pensar em rotina no ensino infantil, mas sim em jornada diária. Ela diz que esse pensamento considera todas as dimensões humanas, potencializando nas crianças o imaginário, o lúdico, o artístico, o afetivo e o cognitivo. Assim, precisamos pensar na organização espacial que tradicionalmente é utilizada nas escolas, reformulando-a. 4.3. A importância da interdisciplinaridade Outra proposta para o desenvolvimento integral do educando, investe na maior articulação entre as diferentes áreas do conhecimento. A organização da educação infantil é, em princípio, um ambiente propício para o trabalho interdisciplinar. Um ambiente aprazível, que evite a fragmentação do saber contribui com a organização curricular por campos de experiência, integrando os saberes. Zabala (1998) explica que ao longo do tempo, a ciência terminou por fragmentar o saber até diversificar o conhecimento numa multiplicidade de disciplinas. A organização dos conteúdos na escola deu lugar a diversas formas de relação e colaboração entre elas. O autor define três graus de relações disciplinares: Multidisciplinaridade: é a organização de conteúdos mais tradicional. Os conteúdos escolares são apresentados por componentes curriculares independentes uns dos outros. Interdisciplinaridade: é a interação entre dois ou mais componentes curriculares. Essas interações podem dar lugar, inclusive, a um novo campo disciplinar, como por exemplo: bioquímica, psicolinguística, etc. Transdisciplinaridade: é o grau máximo de relações entre componentes curriculares. Esse sistema favorece uma unidade interpretativa, com o objetivo de constituir uma ciência que explique a realidade sem parcelamento. Diante da visão de Zabala (1998) sobre a importância da interdisciplinaridade na Educação Infantil, pode-se afirmar que precisamos trabalhar com conteúdos que façam sentido para as crianças. Os conteúdos que já são significativos para as crianças adquirem outros e novos significados a partir da metodologia com que são trabalhados e também dos 20 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância valores éticos e morais que veiculam, quando são trazidos para compor o universo das aulas na Educação Infantil. Ainda sobre a importância da interdisciplinaridade, a BNCC (2018) [...] propõe a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida. 4.4. A importância da contextualização As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI orientam as escolas a conduzirem propostas curriculares que sejam capazes de articular os campos de experiência da base comum curricular com a parte diversificada do contexto social. É de responsabilidade das instituições escolares de educação infantil a atualização de conhecimentos e valores, dentro de uma postura crítica e contextualizada. De acordo com as DCNEI, a contextualização pressupõe a existência de um referencial que permita aos alunos identificar e se identificar com as questões propostas, visando gerar a capacidade de compreender e intervir na realidade, numa perspectiva autônoma. Existe a necessidade de relacionar a teoria com a prática, mostrando aos alunos o que os conteúdos têm em comum com a vida deles, e como eles podem aplicá-los na vida real. Segundo Hernandez (1998), a proposta de trabalhar com projetos permite uma maior articulação entre as diferentes áreas de conhecimento, com um ensino contextualizado. Para o autor, os projetos têm conquistado lugar de destaque nas discussões atuais sobre didática e currículo, pois eles se apresentam como uma concepção de educação e de escola que leva em conta: A abertura para os conhecimentos e problemas que circulam fora da sala de aula e que vão além do currículo básico. O questionamento de toda forma de pensamento único, o contraste de pontos de vista, a incorporação de uma visão crítica que interrogue a quem beneficia determinada visão dos fatos, a incorporação de uma perspectiva relativista, para 21 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância que toda realidade responda a uma interpretação que não é inocente, objetiva ou científica. A função do professor como facilitador e problematizador da relação dos alunos com o conhecimento, processo no qual o docente também atua como aprendiz. A organização do currículo como algo fixo e estável, mas sim a partir de uma concepção de currículo integrado, que leve em conta um horizonte educativo para o final da escolaridade básica. Segundo o autor, os projetos são uma maneira de representar o conhecimento escolar baseado na interpretação da realidade, orientada para o estabelecimento de relações entre a vida das crianças e professores e o conhecimento que as disciplinas e outros saberes não disciplinares vão elaborando. Hernandez (1998) afirma ainda que o currículo integrado organiza os conhecimentos escolares a partir de grandes temas-problema, que permitem explorar diversos campos do saber, por meio de uma série de estratégias de busca, ordenação, análise, interpretação e representação da informação. 4.5. A importância das competências Uma outra proposta sobre as práticas docentes na educação infantil que merece destaque refere-se as discussões atuais sobre as escolas organizarem seus currículos de modo que os conteúdos não tenham fim em si mesmos, mas que sejam meios para construir competências cognitivas ou sociais. A diferença desta proposição curricular é que o centro da prática pedagógica não se baseia na transmissão de saberes, mas no processo de construção, apropriação e mobilização desses saberes. As aprendizagens essenciais definidas na BNCC (2018, p. 8) “devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento.” Ainda no mesmo documento, “competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e 22 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.” (BRASIL, 2018, p. 8) BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase Acesso em: 01 nov. 2018. FARIA, Ana Lucia. O espaço físico como um dos elementos fundamentais para uma pedagogia da educação infantil. In: Educação infantil pós-LDB:rumos e desafios. Campinas: Autores associados FE/UNICAMP, 1999. HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação – os projetos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998. ZABALA, Antoni. A prática educativa – como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998. 23 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. EDUCAÇÃO INFANTIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Objetivo Compreender a importância do cuidar, do brincar e do educar e a educação infantil. Introdução Ultimamente temos discutido bastante sobre a educação infantil, principalmente sobre a integração das funções de educar e cuidar crianças pequenas. As novas funções para a educação infantil devem estar associadas a padrões de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma. (BRASIL, 1998, p. 23) Assim, todo profissional que atua com crianças, precisa saber equilibrar as funções de educar, cuidar e brincar na rotina da educação infantil. Disponível em: https://encrypted- tbn1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQnQodnQhe4qSpYhYaCQMkj5_jA4dmFr9XWvd9vNyTfaGjnhHgkL g Acesso em: 18 ago. 2016. 5.1. O cuidar e a Educação Infantil Cuidar de uma criança no ambiente educativo demanda carinho, atenção e reponsabilidade. Por isso que precisa haver a integração de vários campos de conhecimentos, bem como de profissionais de diversas áreas de atuação. Ajudar o outro a se desenvolver é a base do cuidado humano. “Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a 24 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos.” (BRASIL, 1998, p. 24) Na escola, a preocupação com a qualidade da alimentação, com a dimensão afetiva e com os cuidados com a saúde é um fator obrigatório. Disponível em: http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Images/noticias_agosto_2015/17916.jpg Acesso em: 18 ago. 2016. Cuidar significa ainda Atender às suas necessidades de proteção, segurança, bem-estar, saúde. Estar atento a seus afetos, emoções e sentimentos, às relações com os outros, com as coisas, com o ambiente. Planejar um espaço que estimule sua inteligência e imaginação, que permita descobertas e aguce sua curiosidade (ROSEMBERG, 1999, p. 23). O professor de educação infantil deve estar atento a todas as manifestações da criança, pois um choro de um bebê pode indicar muitas coisas: fome, dor, necessidade de chamar atenção, manha, irritação, entre outros. “O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo.” (BRASIL, 1998, p. 25) 5.2. O brincar e Educação Infantil A brincadeira é uma atividade essencial na educação infantil. Por meio dela, a criança exercita sua capacidade criadora, explorando a imaginação e a sensibilidade. Quando brincam, os pequenos passam a ressignificar os gestos, objetos, sons e espaços que os circundam. 25 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Disponível em: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/foto/0,,56769556,00.jpg Acesso em: 18 ago. 2016. Santos (2002, p. 90) relata que “[...] os jogos simbólicos, também chamados brincadeira simbólica ou faz-de-conta, são jogos através dos quais a criança expressa capacidade de representar dramaticamente.” Assim, a criança experimenta diferentes papéis e funções sociais generalizadas a partir da observação do mundo dos adultos. O professor de creches e pré-escolas deve entender que a ludicidade é [...] uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento. (SANTOS, 2002, p. 12) A ludicidade, as brincadeiras, os brinquedos e os jogos são meios que a criança utiliza para se relacionar com o ambiente físico e social, despertando sua curiosidade e ampliando seus conhecimentos e suas habilidades. Assim, não podemos deixar de dedicar momentos especiais do dia a dia pedagógico na educação infantil para o brincar. A criança aprende por meio da brincadeira. Basta que o educador organize situações em que o brincar e a aprender sejam colaborativos, e propiciem o desenvolvimento emocional, sentimental, social e cognitivo das crianças. 5.3. O educar e Educação Infantil Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. (BRASIL, 1998, p. 23) 26 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para educar, o educador deve criar situações significativas de aprendizagem, caso ele deseje alcançar o desenvolvimento de habilidades cognitivas, psicomotoras e socio afetivas. A formação da criança deve ser vista como um ato inacabado, sempre sujeito a novas inserções, a novos recuos, a novas tentativas, por meio de um processo dinâmico e em constante evolução. Disponível em: https://encrypted- tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQjEgxcViL8mfk_jqLIA4L_U5Ow79txnSiqP10HxOJrfwpZoox0ag Acesso em: 13 jul. 2017 O professor deve notar que, desde bem pequenas, as crianças mostram interesse em desvendar o mundo que as cerca. Elas são curiosas e querem respostas para suas perguntas, por isso que o trabalho do educador deve ser baseado no estímulo e na orientação, valorizando as experiências vividas por elas e trazidas de casa, para que, no seu dia a dia, elas possam construir seu próprio conhecimento. As instituições infantis, além de prestar cuidados físicos, precisa criar condições para o desenvolvimento cognitivo, simbólico, social e emocional das crianças. O importante é que a instituição seja pensada não como instituição substituta da família, mas como ambiente de socialização diferente do familiar. Nela se dá o cuidado, a brincadeira e a educação de crianças, que aí vivem, convivem, exploram, conhecem, construindo uma visão de mundo e de si mesmas, constituindo-se como sujeitos. 27 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BRASIL. Ministério da Educaçãoe do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1998. 3v.: il. OLIVEIRA, Z. de M. R. Educação infantil: muitos olhares. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. ROSEMBERG, Fúlvia. Educar e cuidar como funções da educação infantil no Brasil: perspectiva histórica. São Paulo: Faculdade de Ciências Sociais, Pontifícia Universidade de Campinas, 1999. SANTOS, Santa Marli Pires. O lúdico na formação do educador. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 28 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. A INSTITUIÇÃO ESCOLAR E O PROJETO EDUCATIVO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Objetivo Conhecer as influências que os fatores externos e internos exercem sobre o projeto educativo da educação infantil. Introdução O Ministério da Educação propõe um diálogo com programas e projetos curriculares de instituições de educação infantil, nos estados e municípios. Este diálogo supõe atentar para duas dimensões complementares que possam garantir a efetividade das propostas: uma de natureza externa; outra, interna às instituições. 6.1. Condições externas e internas As condições externas dizem respeito “às características socioculturais da comunidade na qual a instituição de educação infantil está inserida e às necessidades e expectativas da população atendida.” (BRASIL, 1998, p. 64) Quando a escola conhece bem as necessidades, as características e as expectativas da população, fica muito mais fácil programar as atividades que serão desenvolvidas com as crianças, pois assim, conseguimos atender à diversidade existente no grupo. Já as condições internas dizem respeito ao clima institucional, às formas de gestão, à organização do espaço e do tempo, dos agrupamentos, da seleção e oferta dos materiais, da parceria com as famílias e da função do professor na educação infantil. 6.2. Os espaços e os recursos A instituição precisa estar atenta para dois aspectos importantes do projeto educativo: o espaço físico e os recursos materiais. “A estruturação do espaço, a forma como os materiais estão organizados, a qualidade e adequação dos mesmos são elementos essenciais de um projeto educativo.” (BRASIL, 1998, p. 68) 29 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tanto os materiais quanto os espaços são poderosos recursos auxiliares da aprendizagem. Os professores devem preparar o ambiente e selecionar o material para que a criança possa aprender de forma ativa. A questão da versatilidade do espaço também é muito importante. O espaço na instituição de educação infantil deve propiciar condições para que as crianças possam usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento e aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos professores em função das ações desenvolvidas. (BRASIL, 1998, p. 69) Dependendo da atividade desenvolvida, o professor deve estar preparado para mudar o layout da sala. Algumas brincadeiras necessitam de mais espaço que outras. Às vezes, é preciso arrastar as carteiras e deslocar móveis para se ter espaço para ensinar ou brincar. Disponível em: http://www1.colegiorecanto.com/assets_pagina/images/sala_jardim_300.jpg Acesso em: 18 ago. 2016. Além disso, não podemos esquecer que em muitos casos, uma mesma sala de aula é usada por crianças de diferentes faixas etárias, que possuem necessidades também diversificadas. Nunca se esqueça de explorar os vários ambientes que a escola oferece; tanto os internos como os externos. A sala de artes e de leitura, por exemplo, são tão apreciadas pelas crianças quanto o jardim e o playground. 30 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Disponível em: http://www.semecjaperi.rj.gov.br/imagens/galeria/sala_leitura_pf_6.jpg http://www.moppe.com.br/_upload/rteImages/SAM_5234.JPG Acesso em: 18 ago. 2016. Os recursos materiais também são muito relevantes. Eles [...] constituem um instrumento importante para o desenvolvimento da tarefa educativa, uma vez que são um meio que auxilia a ação das crianças. Se de um lado, possuem qualidades físicas que permitem a construção de um conhecimento mais direto e baseado na experiência imediata, por outro lado, possuem qualidades outras que serão conhecidas apenas pela intervenção dos adultos ou de parceiros mais experientes.” (BRASIL, 1998, p. 71) Os brinquedos são os objetos mais privilegiados da educação das crianças. São objetos que dão suporte ao brincar e podem ser das mais diversas origens materiais, formas, texturas, tamanho e cor. A acessibilidade dos materiais é outro aspecto importante: “Os brinquedos e demais materiais precisam estar dispostos de forma acessível às crianças, permitindo seu uso autônomo, sua visibilidade, bem como uma organização que possibilite identificar os critérios de ordenação.” (BRASIL, 1998, p. 71) 6.3. As crianças, as famílias e a instituição As instituições escolares devem ter um ambiente institucional acolhedor e que seja propício para o desenvolvimento das crianças e para o trabalho dos educadores. “Em se tratando de crianças tão pequenas, a atmosfera criada pelos adultos precisa ter um forte componente afetivo. As crianças só se desenvolverão bem, caso o clima institucional esteja em condições de proporcionar-lhes segurança, tranquilidade e alegria.” (BRASIL, 1998, p. 67) Além disso, a instituição necessita criar um ambiente de cuidado que considere as necessidades das diferentes faixas etárias, das famílias e as condições de atendimento da instituição. 31 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância As escolas precisam travar uma parceria com as famílias. Enfoques teóricos mais recentes procuram entender a família como uma criação humana mutável, sujeita a determinações culturais e históricas que se constitui tanto em espaço de solidariedade, afeto e segurança como em campo de conflitos, lutas e disputa. A valorização e o conhecimento das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que compõem a nossa sociedade, e a crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes indicam que, novos caminhos devem ser trilhados na relação entre as instituições de educação infantil e as famílias. (BRASIL, 1998, p. 75-76) Precisamos lembrar que atualmente encontramos os mais diversos arranjos familiares, por isso é preciso respeitar os vários tipos de estruturas sociais: família nuclear, monoparentais, novos casamentos etc. Disponível em: http://phpwebquest.org/newphp/user_image/hrwmme784451.jpg Acesso em: 18 ago. 2016. Além disso, precisamos acolher as diferentes culturas, valores e crenças sobre educação de crianças. O trabalho com a diversidade e o convívio com a diferença possibilitam a ampliação de horizontes tanto para o professor quanto para a criança. Isto porque permite a conscientização de que a realidade de cada um é apenas parte de um universo maior que oferece múltiplas escolhas. Assumir um trabalho de acolhimento às diferentes expressões e manifestações das crianças e suas famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não implicando a adesão incondicional aos valores do outro.(BRASIL, 1998, p. 77) A família deve ser uma parceira da escola, por isso precisa existir um trabalho coletivo, com trocas recíprocas e o suporte mútuo. “Os profissionais da instituição devem partilhar, com os pais, conhecimentos sobre desenvolvimento infantil e informações relevantes sobre as crianças utilizando uma sistemática de comunicações regulares.” (BRASIL, 1998, p. 79) 32 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ÁVILA, I. S. et alii. Plano de atenção à infância: objetivos e metas na área pedagógica. Porto Alegre: Mediação, 1997. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1998. 3v.: il. __________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Departamento de Políticas Educacionais. Coordenação Geral de Educação Infantil. Subsídios para elaboração de orientações nacionais para educação infantil. Brasília: MEC/SEF/DPE/COEDI, 1997. 33 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Objetivo Conhecer a proposta da Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular. Introdução A versão final homologada da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ressalta que a aprendizagem de qualidade é uma meta que o país deve perseguir incansavelmente, e a BNCC é uma peça central nessa direção. Concluída após amplos debates com a sociedade e os educadores do Brasil, o texto visa garantir o conjunto de aprendizagens essenciais aos estudantes brasileiros, seu desenvolvimento integral por meio das dez competências gerais para a Educação Básica, apoiando as escolhas necessárias para a concretização dos seus projetos de vida e a continuidade dos estudos. (BRASIL, 2018, p. 5) Veja quais são as competências gerais da Educação Básica: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar 34 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. 35 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7.1. A Educação Infantil no contexto da Educação Básica Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e o fundamento do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Nessa direção, e para potencializar as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças, a prática do diálogo e o compartilhamento de responsabilidades entre a instituição de Educação Infantil e a família são essenciais. Além disso, a instituição precisa conhecer e trabalhar com as culturas plurais, dialogando com a riqueza/diversidade cultural das famílias e da comunidade. (BRASIL, 2018, p. 36- 37) De acordo com as DCNEI, em seu Artigo 9º, os eixos estruturantes das práticas pedagógicas da Educação Infantil são as interações e a brincadeira, “experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização.” (BRASIL, 2018, p. 37) 7.2. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. (BRASIL, 2018) São eles: Conviver Brincar Participar Explorar Expressar Conhecer-se Segundo a BNCC (2018, p. 38), essa concepção de criança como ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento sistematizado por meio da ação e nas interações com o 36 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância mundo físico e social não deve resultar no confinamento dessas aprendizagens a um processo de desenvolvimento natural ou espontâneo. Deve existiruma intencionalidade educativa às práticas pedagógicas na Educação Infantil, tanto na creche quanto na pré-escola. 7.3. Os campos de experiências A organização curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. “Os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural.” (BRASIL, 2018, p. 39) Considerando esses saberes e conhecimentos, os campos de experiências em que se organiza a BNCC são: O eu, o outro e o nós: na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças ampliem o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos. Corpo, gestos e movimentos: a instituição escolar precisa promover oportunidades para que as crianças possam explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo. Traços, sons, cores e formas: a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças. Escuta, fala, pensamento e imaginação: na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui. 37 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: a instituição escolar deve criar oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. 7.4. Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para a educação infantil Reconhecendo as especificidades dos diferentes grupos etários que constituem a etapa da Educação Infantil, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento estão organizados em três grupos por faixa etária, que correspondem, aproximadamente, às possibilidades de aprendizagem e às características do desenvolvimento das crianças, conforme indicado na figura a seguir. Fonte: (BRASIL, 208, p. 44) Todavia, esses grupos não podem ser considerados de forma rígida, já que há diferenças de ritmo na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase Acesso em: 01 nov. 2018. 38 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Objetivo Conhecer os saberes e conhecimentos fundamentais a serem propiciados às crianças e associados às suas experiências. Introdução Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças têm como eixos estruturantes as interações e a brincadeira, assegurando-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se, a organização curricular da Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. As propostas pedagógicas para a educação infantil devem estar associadas a padrões de qualidade. Essa qualidade advém de concepções de desenvolvimento que consideram as crianças nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas interações e práticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados às mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construção de uma identidade autônoma. Vejamos agora as aprendizagens esperadas para cada um dos campos de experiência: 8.1. O eu, o outro e o nós A instituição deve criar um ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às crianças, garantindo oportunidades para que sejam capazes de experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades e desagrados, e agindo com progressiva autonomia. As crianças precisam familiarizar-se com o “eu”, com a imagem do próprio corpo, conhecendo progressivamente seus limites, sua unidade e as sensações que ele produz. Precisam também reconhecer o “outro”, identificando e enfrentando situações de conflitos, utilizando seus recursos pessoais, respeitando as outras crianças e adultos e exigindo reciprocidade. Como também devem conviver, identificar o “nós”, sabendo valorizar ações 39 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância de cooperação e solidariedade, desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração e compartilhando suas vivências. Observe algumas das aprendizagens esperadas para esse campo de experiência de acordo com a BNCC (2018): Os bebês devem fazer um reconhecimento progressivo do próprio corpo e das diferentes sensações e ritmos que produz; vestir uma bermuda ou sapato e os retirar sem ajuda e brincar diante do espelho, observando os próprios gestos ou imitar outros. As crianças bem pequenas precisam apoiar parceiros em dificuldade, sem discriminá-los por suas características; escolher com os companheiros uma história a ser encenada, usando justificativas e argumentos ligados a seus sentimentos e compartilhar os objetos e os espaços com crianças da mesma faixa etária e adultos. As crianças pequenas necessitam demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir; ampliar relações interpessoais, com atitudes de participação e cooperação e saber lidar com conflitos nas interações. A mediação do professor nesse campo se torna importante quando ele cria situações em que as crianças possam expressar afetos, desejos e saberes e aprendam a ouvir o outro, conversar, argumentar, fazer planos, enfrentar conflitos, participar de atividades em grupo e criar amizades. 8.2. Corpo, gestos e movimentos As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. O trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança. 40 Metodologias e Práticas Docentes na Educação Infantil Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Observe algumas das aprendizagens esperadas para esse campo de experiência de acordo com a BNCC (2018): Os bebês devem experimentar possibilidades corporais nas brincadeiras e interações em
Compartilhar