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Alergias - por que tantas

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SAUDE
era das 
alergias
As reações alérgicas aumentaram no mundo
todo, e as crianças são as mais afetadas devido
a genética, ambiente em que vivem e hábitos
de vida. Conheça as causas, os tratamentos
e as histórias de filhos e pais que convivem
com incômodos como coceiras, espirros
e inchaços, passageiros ou crônicos
TEXTO - Mauricio Brum e Silvia Lisboa 
EDI ÇÃO - Renata Menezes 
ILUSTRAÇÕES - Priscila Barbosa
N
a primeira semana 
de vida, Maria Luísa 
dormia e só resmungava 
quando tinha fome ou 
a fralda suja. Mamava 
bem e o exame de rotina indicava 
que estava com a saúde perfeita. Até 
que, no décimo dia, a paz acabou.
A recém-nascida acordou berrando, e 
nada do que seus pais tentaram - enrolar 
num cobertor, embalar, fazer massagem 
no abdômen — a acalmava. Foram 15 
horas de choro intenso, irritação na 
pele, refluxo, diarreia e muita dor.
No hospital, a pediatra viu que o 
quadro não era normal. A peregrinação
por clínicas e nutricionistas durou 
dois meses, quando tiveram a primeira 
consulta com um alergista. O médico 
cortou leite de vaca e banana da 
alimentação da mãe, a psicóloga Ivana 
Aquino, 38 anos, que a amamentava. 
Após testes, veio o diagnóstico: Maria 
Luísa, hoje com 5 anos, tinira alergia 
alimentar múltipla - e das graves.
A lista de alimentos vetados 
da dieta de Ivana aumentou 
e passou a incluir ovo, frutas 
cítricas, mamão, soja, arroz, carne 
vermelha, peixe, entre outros.
Mais tarde, a própria Malu teve 
de obedecer a mesma restrição.
50 CRESCER
SAÚDE
EPIDEMIAMUNDIAL
Mas ela não está sozinha. De acordo 
com o Consenso Brasileiro sobre 
Alergia Alimentar, da Sociedade 
Brasileira de Pediatria (SBP) e da 
Associação Brasileira de Aleigia e 
Imunologia (Asbai), divulgado em 
2018, estima-se que 6% das crianças 
brasileiras com menos de 3 anos 
tenham alguma alergia alimentar, 
a que mais cresce no mundo.
Mas, embora esse tipo esteja em plena 
ascensão nas últimas décadas, os outros 
tipos (dermatológicos e respiratórios) 
também tiveram aumento. “Todos 
cresceram, e as crianças são as mais 
atingidas. Estima-se que, no mundo, 
20% delas tenham alergia”, diz o médico 
Antonio Carlos Pastorino, coordenador 
do Departamento Científico de Alergia 
na Infância e Adolescência da Asbai.
Se por um lado a alimentar é a que 
mais cresce, por outro, a dermatológica 
é a que mais acomete os pequenos. 
Pesquisa do Center for Disease 
Control & Prevention (Centro de 
Controle e Prevenção de Doenças), 
dos Estados Unidos, mostra que cerca 
de 13% das crianças americanas têm 
alergia de pele, 10% respiratória, e 6%
PARA IDENTIFICAR O PROBLEMA
Testes cutâneos
A substância suspeita de causar 
a alergia é aplicada sobre a 
pele e mantida por um período 
determinado para comprovar 
a reação (irritações, inchaços, 
vermelhidões). Outro muito 
utilizado é o prick test, com 
resultados mais rápidos, em que a 
pele é perfurada por uma agulha 
contendo o alérgeno. O resultado 
se dá ao se observar o aspecto da 
irritação que se forma na pele.
alimentar. No Brasil não há pesquisas 
que apontem números de todos os 
tipos, mas Pastorino acredita que siga 
a mesma divisão. A dermatológica é a 
mais prevalente porque reações alérgicas 
alimentares também podem resultar em 
inchaços, vermelhidões e coceira na pele.
Mas o que está por trás desse boom de 
alergias? Segundo Pastorino, a principal 
razão são as mudanças de hábitos.
Locais excessivamente limpos e o pouco 
convívio com animais, que limitam o 
contato da criança com os alérgenos 
(substâncias que provocam as alergias), 
podem aumentar a sensibilidade do 
pequeno ao se relacionar com eles. É 
por isso que crianças que cresceram 
em ambientes rurais, que têm mais 
contato com bactérias e leite não 
pasteurizado são menos alérgicas do 
que as que vivem em centros urbanos, 
conforme revelou estudo realizado no 
Centro de Pesquisa em Inflamação de 
VIB, da Universidade de Ghent, na 
Bélgica. Outra razão para o mundo 
estar mais alérgico: o aumento do 
consumo de alimentos industrializados 
e, consequentemente, o maior 
contato com substâncias que podem 
causar reações. Ainda há a exposição 
aos poluentes, que pode provocar
Testes de sangue
São exames como o RAST 
(radioalergosorvente), que 
busca identificara presença de 
anticorpos IgE específicos para 
os alérgenos mais comuns.
Testes de provocação
Orais ou nasais, dependendo 
do tipo de alergia: deve-se 
ingerirou inalara substância e 
aguardar para ver se há reação.
asma, rinite e problemas de pele.
Os especialistas acreditam que 
esses fatores contribuíram para que 
as alergias virassem uma epidemia, 
que pode até levar à morte em casos 
graves - quando a criança tem uma 
reação súbita que causa falta de ar, 
inchaço, diminuição da pressão arterial 
e o temido choque anafilático.
CONTATO ANTECIPADO 
Felizmente, hoje, os médicos têm revisto 
algumas condutas para evitar as chances 
de alergias. Uma delas é antecipar o 
contato com as substâncias que podem 
causá-las. Isso costuma acontecer na 
chamada “janela imunológica”, quando 
a criança deve ser exposta a diferentes 
alérgenos, como os presentes na sujeira 
e nos animais. Esse período, que os 
cientistas ainda não sabem precisar 
quanto tempo dura, costuma ocorrer 
entre os três e os cinco meses de vida. 
“Hoje a recomendação é apresentar 
durante a introdução alimentar 
(a partir dos seis meses) todos os 
tipos de alimentos, inclusive o ovo, 
que é um alérgeno bem conhecido. 
Antes, os pediatras só indicavam a 
partir de 1 ano”, diz Pastorino.
A amamentação também tem um 
papel crucial para o fortalecimento 
das defesas dos bebês, o que ajuda 
indiretamente na prevenção das 
alergias. Ainda assim, mesmo com 
essas medidas, não é certeza que o 
seu filho não venha a ter alergia, já 
que entra em cena a predisposição 
genética. Segundo a Asbai, se o pai e a 
mãe têm alergia, a chance de a criança 
ser alérgica também é cerca de três 
vezes maior do que nos casos em que 
nenhum dos pais tem o problema.
Então, o que fazer? Se ela tiver uma 
reação, a principal recomendação 
é afastá-la dos alérgenos para 
não piorar as crises e buscar o 
tratamento adequado. Afinal, cada 
alergia deve ter cuidados específicos, 
como mostramos a seguir.
B
ALERGIAS ALIMENTARES:
OMALQUE 
ENTRA PELA BOCA
Os vilões dessas alergias em bebês são as proteínas novas, com as 
quais eles não estão acostumados.
Entre os inimigos, o maior deles é o 
leite de vaca, responsável pela maioria 
das reações alérgicas - a tão conhecida 
APLV, a alergia à proteína do leite de 
vaca -, seguido pelo ovo, castanhas e 
soja. Segundo um estudo publicado 
em 2018 pelo Colégio Americano de 
Alergia, Asma e Imunologia (Acaai), 
o leite de vaca é o alérgeno alimentar 
mais comum em menores de 5 anos.
Não se sabe o que toma esses 
alimentos mais propícios a causar 
reações do que os outros. Mas há pistas: 
“O crescimento recente se deve, entre 
outras razões, ao fato de que estamos
fazendo uma dieta com menos itens 
naturais e mais itens industrializados. 
Isso muda a flora intestinal, o que afeta 
o sistema imunológico”, diz Pastorino.
Neste tipo de alergia, até o parto 
pode influenciar. Um levantamento 
da Universidade de Orebro, na Suécia, 
indicou um risco 21% maior de o 
bebê desenvolver alergias alimentares 
ao nascer de cesárea. A explicação 
estaria na falta de contato com a 
flora microbiana do canal vaginal 
da mãe - que acontece em partos 
normais —, o que levaria a uma maior 
propensão a esse tipo de alergia.
Parte dessa reação exagerada do corpo 
a alimentos está relacionada à presença 
de uma forma ativa da Imunoglobulina 
E, a IgE, um anticorpo que atua na 
defesa do corpo. Ele provoca a liberação 
de substâncias que, na tentativa de 
combater (supostos) inimigos, causamDE OLHO NO RÓTULO
Desde 2016, está em vigor uma 
resolução da Anvisa exigindo 
quealimentose bebidas 
informem na embalagem se 
contêm algum dos 17 alérgenos 
alimentares mais comuns.
Os alertas valem para trigo, 
crustáceos, ovos, peixes, 
amendoim, soja, leite de todos 
os mamíferos, amêndoa, avelã, 
castanha-de-caju, castanha-do- 
pará, macadâmia, nozes, pecã, 
pistache, pinoli e látex natural.
CRESCER 53
SAÚDE
os sintomas alérgicos. Quando é uma 
reação intermediada pelo anticorpo 
IgE (ele próprio reage à comida), os 
sintomas se manifestam logo após 
a ingestão na forma de inchaços, 
urticária, vômitos e diarréias. Já em 
uma alergia alimentar não mediada 
pela IgE, desencadeada por células, 
sem o envolvimento de anticorpos, os 
sintomas aparecem horas ou dias depois. 
Fatores genéticos estão diretamente 
envolvidos na produção da IgE.
Mas nem sempre uma resposta 
negativa à primeira exposição significa 
que a criança continuará tendo 
problemas. As vezes, ocorre a “falsa 
alergia”, um diagnóstico apressado dos 
pais. “Se houver uma reação leve, que se 
limita à vermelhidão ou coceira na pele, 
o ideal é aguardar uma semana, dar o 
alimento de novo e observar a evolução. 
Muitos pais ficam assustados e não 
repetem a experiência”, revela Pastorino.
No caso de Malu, hoje com 5 anos, 
citada no começo da reportagem, o 
principal tratamento foi a dieta de 
exclusão: suspender qualquer traço 
de uma comida e, após alguns meses 
ou anos, reintroduzi-la lentamente 
até acostumar o sistema imunológico. 
Aos poucos, o corpo da menina foi 
tolerando e aceitando novos alimentos.
Casos com final feliz também 
acontecem. Ramiro Senderowicz 
Flores, hoje com 4 anos, sofreu 
quando começou com as primeiras 
frutas e papinhas. “Ele reagia a quase 
tudo”, lembra a mãe, a jornalista 
Marianna Senderowicz, 38. Mas, 
aos poucos, voltou a comer de tudo. 
“Não dá para desistir”, diz a mãe.
Vale lembrar que, por se 
manifestarem mais rapidamente, com 
mais intensidade e risco de choque 
anafilático, as alergias alimentares 
exigem intervenção imediata com 
adrenalina autoinjetável, aplicada em 
ambiente hospitalar e, se necessário, 
antialérgico ou outras medicações.
È importante procurar o pronto- 
socorro tão logo os sintomas como 
vermelhidão, coceira, inchaço na 
boca, língua e olhos comecem.
ALERGIAS 
DERMATOLÓGICAS: 
COÇA, COÇA, COÇA..
A impressão de que bebês e crianças sofrem mais do que adultos com 
certos tipos de alergias de pele, como a 
dermatite atópica, um dos tipos mais 
comuns - caracterizado por manchas 
avermelhadas e coceira intensa - tem 
base científica. Ela faz parte de uma 
evolução que os médicos chamam de
“marcha atópica”, que é o caminho 
que o corpo vai percorrendo na relação 
com os alérgenos. Sendo assim, uma 
criança que sofreu com vermelhidão, 
irritação e muita coceira na pele tende a 
desenvolver outras alergias atópicas mais 
tarde, que se manifestam no sistema 
respiratório, como a finite e a asma.
Mas alto lá: nem toda dermatite 
atópica é alérgica. A dermatite 
provocada por fralda, por exemplo, 
é irritativa - relacionada ao pH das 
substâncias com as quais a pele tem 
contato, no caso, a urina e as fezes. Já 
as brotoejas (a chamada dermatite 
de calor) são um tipo de dermatite 
causado pela obstrução nas glândulas 
sudoríparas, impedindo o bebê de suar 
corretamente. É importante diferenciar 
para o tratamento ser certeiro.
Crianças com dermatite têm a 
pele muito sensível, que reage de 
forma exagerada a substâncias como 
pólen, mofo, ácaros, pelos de animais, 
fragrâncias e corantes adicionados em 
loções e sabonetes, e mesmo por roupas 
de lã ou tecido sintético, formando 
lesões na pele. “Conforme vamos 
mudando para uma sociedade mais 
‘moderna,com mais poluentes no ar, 
mas com menos sujeira, menos filhos, 
menos irmãos, menos convívio com 
animais e a natureza, há uma tendência
COMBATE 
À COCEIRA
Hidratação
O ideal são cremes espessos, 
sem fragrância, aplicados pelo 
menos duas vezes ao dia.
Bandagens
Fechar o local onde foi passado 
o creme hidratante intensifica 
o efeito, especialmente na hora de 
dormir: durante a noite, a oclusão 
aumenta a umidade e a absorção.
Unhas curtas
Embora não alivie a coceira, é 
fundamental manter as unhas da 
criança aparadas para não machucar 
a pele - o que causa mais coceira 
e pode levar a infecções. Bebês 
também podem usar luvinhas.
Remédios
Antialérgicos, receitados 
por médicos, também ajudam 
a aliviar o desconforto.
54CRESCER
a ser mais alérgico”, aponta Pastorino.
As crianças alemãs sentiram isso na 
pele (e no nariz) após a reunificação 
do país, em 1990. Vivendo em uma 
região menos industrializada e mais 
pobre do que os vizinhos, as crianças 
da então Alemanha Oriental ficavam 
menos dentro de casa e tinham famílias 
normalmente maiores. Por lá, havia 
menos casos de dermatite e finite do 
que no lado ocidental. Nos anos após a 
integração dos dois países e a mudança 
de hábitos, os casos dispararam entre 
os pequenos alemães orientais.
Embora não haja cura conhecida, a 
alergia dermatológica tende a melhorar 
naturalmente com o crescimento da 
criança. “Há dois picos importantes, 
que acontecem na infância precoce e 
na adolescência. Se for muito grave,
ela pode continuar no adulto, mas 
normalmente melhora”, diz Pastorino. 
Vale lembrar que a dermatite atópica 
pode ser confundida com a urticária 
crônica espontânea, também conhecida 
como UCE. Os sintomas das duas são 
parecidos, mas a UCE nem sempre 
tem como gatilho agentes externos 
porque é uma reação do organismo. 
Essa distinção não é simples e deve 
ser feita por um especialista.
Diferenciar isso é importante porque, 
se a causa da irritação for uma alergia 
dermatológica, há fatores de risco 
conhecidos - a vantagem é que, assim, 
os pais podem saber o que afastar das 
crianças para não agravar o quadro.
Foi o que fez a publicitária Clarissa 
San Pedro, 40, quando a filha Olga,
4, foi diagnosticada com dermatite
atópica. Com quatro meses, a menina 
arranhava as bochechas para aplacar a 
comichão, e o aspecto da lesão piorava 
muito. Após o diagnóstico, veio um 
tratamento com pomadas de uso tópico 
e hidratante — muito hidratante. “Os 
banhos ficaram mais curtos e menos 
quentes, e mantínhamos as unhas bem 
curtas para que ela não machucasse a 
pele quando coçasse”, recorda a mãe.
Conforme Olga crescia, a dermatite 
migrou. Do rosto foi para as dobras 
do corpo - sempre acompanhada de 
coceira. Para controlar as lesões, o jeito 
foi tornar a hidratação da pele um 
hábito, já que esse cuidado constante 
faz com que as crises sejam cada vez 
mais espaçadas, pois a camada sobre a 
pele ajuda a protegê-la dos agressores. 
A menina está bem melhor hoje.
CRESCER 55
SAÚDE
ALERGIAS
RESPIRATÓRIAS:
POR TRÁS DOS ATCHINS
HT oda vez que alguém espirra,
I todo mundo diz: ‘Isto é
alergia!’. Mas, quando o Raul espirrava, 
ninguém falava nada, porque ele 
espirrava tanto... que ficava roxo!” As 
crises de espirros são uma constante 
na vida do personagem Raul, o 
menino do livro Atchim? (Editora 
Positivo), de Gláucia de Souza.
Não só na dele, mas na de muitas 
crianças e adolescentes. E o pior: não 
costuma arrefecer na vida adulta.
Enquanto as alergias alimentares 
e dermatológicas tendem a ser mais
intensas na infância, diminuindo 
conforme a criança cresce, as 
respiratórias podem continuar com a 
idade. Marcada por rajadas de espirros 
como as de Raul e dificuldade para 
respirar, a doença tem suas formas 
mais comuns na rinite e na asma, 
caracterizadas pela inflamação das vias 
respiratórias. Enquanto a rinite provoca 
coriza, nariz entupido, coceira nos olhos 
e espirros, a asma provoca respiração 
ofegante, chiado no peito, tosse crônica 
e faltade ar. É importante distinguir: 
a asma induzida por alergia ocorre 
quando o corpo entra em contato 
com alguma substância alérgena 
(ácaros, pólen, mofo, pelos de animais), 
enquanto a não alérgica é desencadeada
por fatores como ansiedade, estresse, 
exercícios físicos, ar frio ou seco.
Enzo Zanetti, 8, sofre de asma 
e rinite e teve sua primeira reação 
alérgica aos 9 meses. Depois de várias 
idas ao hospital e algumas internações, 
quando o nível de oxigênio no sangue 
estava abaixo do normal, descobriram- 
se os vilões da asma dele. “Tanto a 
poluição, poeira, pelos de animais e 
corantes quanto mudanças bruscas de 
temperatura e excesso de atividade física 
exigem atenção, pois desencadeiam 
crises”, diz a mãe do menino, a 
advogada Maria Emilia Zanetti, 43.
Ela explica que também sofre com 
quadros de rinite desde a infância, o 
que ajuda a entender o problema do
56 CRESCER
MITOS E VERDADES 
DAS ALERGIAS
Frio causa rinite alérgica
MITO
As alergias respiratórias são 
provocadas por reações a 
proteínas específicas, não a micro­
organismos. O ar condicionado 
pode ressecar mucosas e permitir 
a entrada de agentes irritantes, 
mas isso ocorre tanto em 
ambientes quentes quanto frios.
Bichos de estimação dão alergia
VERDADE
O pelo dos animais domésticos é 
um dos gatilhos para as alergias 
respiratórias. Mas estudos indicam 
que se as crianças tiverem 
contato desde cedo com bichos 
de estimação, elas podem não 
ter problemas no futuro.
Asmáticos não devem 
fazer exercício
MITO
Na verdade, uma das melhores 
formas de tratar a asma é incentivar 
o exercício moderado para aumentar
a capacidade pulmonar - claro, 
sempre com os medicamentos 
indicados pelo médico por perto. O 
nadador e campeão olímpico César 
Cielo, por exemplo, é asmático.
filho. Crianças com pais e mães com 
rinite ou asma alérgicos têm pelo 
menos 50% a mais de predisposição 
genética para desenvolver a doença, de 
acordo com a Asbai. “Mas embora os 
fatores genéticos aumentem o risco, o 
filho pode virar alérgico mesmo que 
ninguém na família seja”, diz a pediatra 
Magali Lumertz, do Hospital Moinhos 
de Vento, de Porto Alegre (RS). A 
possibilidade está relacionada a fatores 
ambientais, como a poluição, e também 
a outras doenças, como mostrou uma 
pesquisa recente do Journal of Allergy 
and Clinical Immunology. Os cientistas 
sugerem que há certa correlação entre 
obesidade e asma, inclusive na infância. 
Segundo os pesquisadores, crianças 
obesas são mais suscetíveis a alergia e 
têm mais resistência ao tratamento, que 
é feito geralmente com corticóides.
Outra opção de tratamento é a 
imunoterapia - aplicação de vacina 
injetável ao longo de três a cinco 
anos, com o objetivo de aumentar a 
tolerância às substâncias alérgenas. O 
problema são as picadas, que assustam. 
Um estudo publicado em 2018 por 
pesquisadores do Hospital Geral de 
Brighton, na Inglaterra, porém, trouxe 
a boa notícia: já está em testes a vacina 
via oral, com resultados semelhantes.
“A imunoterapia é a única que pode 
mudar a história da doença”, garante 
o otorrinolaringologista Olavo Mion, 
professor da Universidade de São 
Paulo. “O único senão é que ela não
funciona em algumas pessoas, e os 
estudos ainda não explicam o porquê.”
O caminho é se prevenir, evitar o 
contato com os causadores dos espirros 
e tratar as crises, claro. No caso da 
rinite, menos grave, o indicado é lavar 
o nariz com soro fisiológico. Apenas 
essa medida costuma resolver. Caso 
contrário, o médico pode receitar algum 
outro medicamento. Já em relação 
à asma, o caminho é a bombinha, 
em geral à base de corticóides, que 
combate o fechamento dos brônquios, 
e deve ser prescrita por médicos.
Vale lembrar que a alergia respiratória 
pode melhorar muito na idade adulta.
O professor de educação física Fábio 
Bernardo, 44, pai de João Pedro, 7, 
sofreu na infância e na adolescência 
com crises fortes de rinite e asma que 
acabavam com o uso de bombinha 
ou internações. Aos poucos, as crises 
foram diminuindo e hoje ele comemora 
não ter de usar mais nenhum 
medicamento. E, confirmando o dado 
desta reportagem de que cerca de 
50% das alergias respiratórias são 
hereditárias, João Pedro também 
sofre com o problema, só que de 
forma muito mais branda do que o 
pai. “Felizmente nem se compara 
à minha, uma vez que eu vivi a 
infância inteira praticamente dentro 
de um hospital”, diz, aliviado. ©
CRESCER 57

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