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RESUMO SOBRE “O ESPÍRITO DAS LEIS” – MONTESQUIEU Após conceituar o que seriam as leis, Montesquieu, diferentemente dos teóricos que o precedem, não está preocupado em estabelecer o motivo e a maneira de como os Estados surgem, mas sim constatar e definir as diversas formas de realização do governo (República, Monarquia e Despotismo) que são caracterizadas por natureza e princípio. Sendo a natureza a forma como o poder se distribui na sociedade , ou seja, quem detém o poder, e o princípio a forma como o poder é exercido, a paixão que o move, como a virtude, a honra, e o temor. O livro trata da questão de como a legislação e a educação devem ser formuladas para que haja uma estabilidade no governo em suas diferentes formas. O autor também define corrupção como o não cumprimento dos princípios, o que leva a extinção dos governos. A obra aborda as forças defensivas e ofensivas do Estado, e como elas se relacionam com as leis para a manutenção da segurança em seu território e para a conquista de outros. Por fim, Montesquieu estabelece a relação entre a liberdade política do cidadão e o ordenamento político do Estado, tal qual no sistema de governo britânico, observado por ele em uma viagem. Concluindo que a divisão de poderes em judiciário, executivo e legislativo estabeleceria um equilíbrio de poderes com um sistema de freios e contrapesos que não permitissem os abusos de poder. · LIVRO I "DAS LEIS EM GERAL" · Das Leis Em Suas Relações Com Os diversos Seres: Neste capítulo Montesquieu fala sobre as leis e relação entre os seres e já diferencia as leis naturais das leis positivas, sobre o significado das leis, encontramos: "As leis, no seu sentido mais amplo, são relações necessárias que derivam da natureza das coisas." Para Montesquieu todos os seres tem as suas leis, inclusive Deus e seres superiores ao homem. Deus, que tem relação com o universo, age segundo as leis que ele próprio criou, e elas tem relação com a sua sabedoria e poder. Seres particulares inteligentes criam suas leis, mas existem também outras leis, as quais eles não fizeram. Tais leis são as leis de Deus e são violadas pelo homem, que apesar de possuir inteligência, também é susceptível e se torna um escravo de suas próprias paixões. § Das Leis Da Natureza Antes de o homem criar suas próprias leis, quando ele se encontrava em seu estado natural, no qual ele “teria a faculdade de conhecer, e não conhecimentos (...). Ele pensaria na conservação do seu ser antes de procurar a origem de seu ser.(...)” o homem era regido pelas leis da natureza. A lei da natureza que é mais importante ao homem é a ideia de um criador, porém ela não é a primeira. A primeira lei seria a paz, pois o homem em seu estado original teria uma extrema timidez, e se sentiria fraco, então ainda não existia a ideia de dominação. O sentimento de fraqueza se junta no homem, ao sentimento de suas necessidades, daí então a segunda lei natural seria a que o faz procurar alimentar-se. O fascínio que os dois sexos sentem um pelo outro e o prazer que traz a um animal ter outro de sua própria espécie próximo, criaria uma procura natural de um pelo outro, sendo essa a terceira lei. Os homens, como seres que são capazes de adquirir conhecimentos tem um motivo para unir-se, e assim o desejo de viver em sociedade surge, junto com a quarta lei. § Das Leis Positivas Com o homem vivendo em sociedade, perde o sentimento de suas fraquezas; a igualdade que existia entre eles desaparece e se iniciam as guerras. Guerras entre nações, e guerras entre os homens em uma mesma sociedade, que tentam colocar a seu favor as vantagens da sociedade em que vivem. Surgem então as leis que regulam os relacionamentos dos povos entre si, que são chamadas de Direito das Gentes, que se fundamenta no principio de que quando nações entram em guerra devem fazer o mínimo possível de mal, e em tempo paz, o máximo possível de bem, sem que isso prejudique os seus próprios interesses. Considerando o relacionamento dos governantes e governados surge o Direito Político, já que uma sociedade não poderia existir sem um governo. Finalmente, as leis que regulam o relacionamento dos cidadãos entre si é o Direito Civil. As leis, seguem a razão humana, tanto as leis políticas quanto civis de todas as Nações são casos particulares em que se aplica a razão humana. As leis são feitas para o povo, e devem ser apropriadas a ele, assim como também aos elementos físicos do país, como o terreno, o clima e o gênero de vida dos povos (como agricultores, caçadores ou pastores). Também devem se relacionar com religião do povo, seu numero, costumes, inclinações, etc. · LIVRO II "DAS LEIS QUE DERIVAM DIRETAMENTE DA NATUREZA DO GOVERNO" § Da Natureza Dos Três Diferentes Governos: Existem três espécies de governo: o Republicano, onde o povo todo, ou uma parte dele tem o poder soberano; o Monárquico, onde só um governa por leis fixas e estabelecidas e o Despotismo, uma só pessoa, sem obedecer a leis e regras, realiza tudo por sua vontade e seus caprichos. § Do Governo Republicano e Das Leis Relativas à Democracia: Quando todo o povo, em uma república tem poder, é chamado democracia, nela o povo e suas vontades (sufrágio) prevalecem, por isso as vontades são tão importantes neste tipo de Governo. Quando apenas uma parte do povo tem o poder, é chamado Aristocracia. Na Democracia, o povo é sob muitos aspectos o Monarca, já que com os sufrágios, o povo expressa suas vontades, portanto, é importante estabelecer quem tem o direito de sufrágio. Nas assembleias é essencial que exista um numero fixo de cidadãos, assim quando houver uma votação pode-se saber se quem falou foi o povo, ou apenas uma parcela dele. Montesquieu da ênfase nessa questão no ponto em que diz que o Império Romano, em toda sua extensão, população e poder, não especificou o numero de cidadãos fixo para compor a assembleia, sendo essa, segundo ele, uma das principais causas de sua ruína. O povo que possui o poder soberano deve fazer por si mesmo tudo o que for capaz, e para o que não for deve fazer por intermédio de seus ministros. É uma maxima fundamental da democracia que o povo nomeie seus ministros, isto é, seus magistrados. Assim como na monarquia, povo tem a necessidade de ser guiado, ou conduzido, no caso da espécie de governo tratado, por um conselho ou senado, que para ter uma relação de confiança com ele, deve ser eleito pelo povo ou pelo magistrado. O povo sabe bem escolher a quem confiar autoridade, sabendo dos feitos daquele em quem confia, porém ele não sabe como realizar tais feitos, como conduzir um negócio, conhecer lugares, oportunidades e momentos. - “A maioria dos cidadãos tem bastante competência para eleger, mas não para ser eleita. Pois assim também o povo, que tem bastante capacidade para fazer lhe prestem contas da gestão dos outros, não é capaz de gerir ele próprio.” Ou seja, muitos podem não ter capacidade para serem eleitos, mas podem julgar se uma gestão foi boa, ou não. O povo é dividido em certas classes no Estado popular, e os grandes legisladores se distinguem no modo em que fazem essa divisão, e é dela que sempre dependeu a duração da democracia e sua prosperidade Assim como decidir quem tem direito ao voto é importante, a maneira de da-lo, também é. Com o sorteio todo cidadão tem a esperança de ser eleito. Sendo o sufrágio pelo sorteio de natureza democrática e o sufrágio pela escolha, aristocrático. Uma das leis fundamentais na democracia é o modo em que o voto é feito, se ele é público ou secreto. Montesquieu acredita que os votos devem ser públicos. Outra lei fundamental na democracia, é que o povo faça as leis, mesmo que em muitas vezes ele precise que o Senado legisle. § Das Leis Relativasà Natureza da Aristocracia: Na aristocracia o poder esta nas mãos de um certo número de pessoas, que fazem as leis e as executam, enquanto o resto do povo fica em relação a elas como súditos em relação a um monarca. Quando existe um grande numero de nobres, é preciso a existência de um senado, no qual está a aristocracia, e a democracia esta no corpo de nobres, enquanto o povo não tem valor algum. Seria bom, se em uma aristocracia, fizessem o povo sair de sua inércia. O senado não deve se renovar por si mesmo. Em Roma, que foi nos primeiros tempos um tipo de Aristocracia os novos senadores eram nomeados pelos censores. Em toda magistratura quanto maior o grau de poder, mais breve é a sua duração. A Aristocracia deve se aproximar da democracia o maximo possível, enquanto se afastar mais da monarquia, para que ela seja perfeita. § Das Leis Em Sua Relação Com A Natureza Do Governo Monárquico: O governo Monárquico se constitui de poderes intermediários, subordinados e dependentes, no qual um sozinho governa por leis fundamentais, sendo que o poder intermediário subordinado mais natural é o da nobreza. Nesse Estado, existe apenas a vontade momentânea e de uma única pessoa, consequentemente nada é fixo, e nenhuma lei poderá ser natural. O poder do clero em uma república é muito perigoso, enquanto em uma monarquia é conveniente, principalmente se tal monarquia segue o rumo do despotismo. § Das Leis Relativas Ao Governo Despótico: No governo despótico, apenas um homem exerce o poder. Este homem acredita que é tudo, enquanto os outros nada são. Também é ignorante e preguiçoso. Ele abandona os negócios públicos e confia ele a um homem, que teria os mesmos poderes que ele, pois se confiasse a vários homens, haveriam disputas entre eles. Quando o poder é entregue ao outro homem, o déspota passa a achar tudo muito fácil e simples, e se entrega às suas paixões. Portanto, quanto mais se tem para governar, menos se pensa no governo. · LIVRO III "DOS PRINCÍPIOS DOS TRÊS GOVERNOS" § Diferença Entre A Natureza Do Governo E Seu Princípio: Depois de analisar, as leis relativas a cada governo, percebemos que a natureza de cada governo é o que o faz ser como ele é, e o seu principio é o que o movimenta. § Do Princípio Da Democracia Em um Estado popular, virtude é muito importante pois quem manda executar a leis, esta sujeito a elas próprias, e tem que arcar com o seu peso. Quando nesse governo, as leis não são mais executadas, isso é sinal de corrupção pública, portanto o Estado está perdido. E quando a virtude desaparece, tudo muda "(...) cada cidadão é como um escravo que fugiu da casa de seu senhor; chama-se rigor o que era maxima; chama-se imposição o que era regra; chama-se temor o que era respeito." § Do Princípio Da Aristocracia: Na aristocracia a virtude é tão necessária quanto no governo popular, entretanto não é tão requerido. Para os nobres, o povo é como os súditos são para um monarca, é então, coibido por suas leis. Dessa forma, os nobres, sentem que estão agindo contra si mesmos ao mandar executar uma lei contra outro nobre. Juntos, os nobres, tentam reprimir o povo, fazendo com que leis e esse respeito, sejam executadas. Assim, as únicas formas dos nobres reprimirem a si próprios, seria se acreditassem que fossem semelhantes ao povo, ou que são iguais entre si, portanto seria uma moderação. § De Como A Virtude Não É O Princípio Do Governo Monárquico: Nas monarquias a virtude é mínima. O Estado existe mesmo sem o patriotismo, o altruísmo, e os sacrifícios para o bem comum. As leis acabam por fim, ocupando o lugar de tais virtudes, que nesse Estado, são dispensáveis. Infelizmente, é muito comum que cortesãos abandonem seus compromissos, sejam orgulhosos, se deixem levar pela lisonja, traições. É lamentável que tantos deles sejam desonestos. § Do Princípio Da Monarquia: A ambição é vantajosa em uma monarquia, pois nela a ambição não é perigosa, pois pode ser facilmente reprimida. Na monarquia a honra movimenta o corpo político, e faz com que se caminhe pelo caminho que leva ao bem comum, a honra pode inspirar as mais belas ações. § De Como A Honra Não É O Principio Dos Estados Despóticos: No estado despótico, a honra não é um principio, já que para a existência dela, é necessária uma constituição fixa, que possua leis certas. O déspota não observa nenhum regulamento e os seus caprichos destroem todos os demais. § Do Principio Do Governo Despótico: Assim como a virtude é importante na república, e a honra na monarquia, o medo, se faz necessário em um governo despótico. O príncipe passa o poder para aqueles em quem ele confia, tais pessoas seriam capazes de promover revoluções, portanto o medo faz com que o menor sentimento de ambição, desapareça. § De Como A Obediência É Diferente Nos Governos Moderados E Nos Governos Despóticos: No governo despótico, a obediência é extrema e absoluta, não existem acordos, termos ou algo melhor a ser proposto. Enquanto um manda, o outro obedece. A única coisa que pode as vezes se opor a vontade do príncipe, é a religião. · LIVRO IV "QUE A EDUCAÇÃO DEVE RELACIONAR-SE COM OS PRINCÍPIOS DO GOVERNO" Montesquieu dizia que as leis da educação são as primeiras que recebemos e, por serem as que nos preparam para sermos cidadãos, cada família deve ser governada de acordo com a Grande Família, que são todas as outras famílias. Para ele, se o povo tinha um princípio, as outras partes que o compõem também o terão e a educação seria diferente em cada espécie de governo sendo que na monarquia, o objeto seria a honra, nas repúblicas, a virtude ou patriotismo, e no despotismo, o temor. § Da Educação no Governo Monárquico: A principal educação nas monarquias não é recebida, segundo Montesquieu, nas escolas públicas. Ela seria recebida, na verdade, ao nascemos, e é a chamada honra, a maestria universal que deve nos guiar por toda a nossa vida e por isso que o autor dizia "que se deve colocar nas virtudes certa nobreza, nos costumes certa franqueza, nas maneiras certa polidez." As virtudes são sempre menos o que devemos aos outros do que o que devemos a nós mesmos: não são tantos os que nos aproximam de outras pessoas do que os que nos distinguem delas. As ações dos homens não são julgadas como boas, e sim como belas; não como justas, e sim como grandes; não como razoáveis, e sim como extraordinárias. Sobre os costumes, o autor dizia que a educação das monarquias deveriam por certa franqueza. Procura-se então a verdade nas palavras, mas não por amor à elas e sim pois o homem acostumado com ela parece audacioso e livre. Por fim, a educação exige nas maneiras um certa polidez. Os homens que nascem para viver juntos, também nascem para agradar um ao outro. Mas não é de fonte tão pura que a polidez costuma surgir, ela na verdade nasce da vontade de se distinguir dos demais. É por orgulho que as pessoas são polidas: elas se sentem lisonjeadas de terem maneiras que provem que não estão na baixeza e que não vivem com o tipo de gente que foi deixada de lado em todas as épocas. Não há nada na monarquia que as leis, a religião e a honra prescrevam mais do que a obediência às vontades do príncipe: mas essa honra nos dita que o príncipe não deve jamais prescrever uma ação que nos desonre, porque as pessoas seriam incapazes de servi-lo. Portanto a honra tem suas regras supremas e a educação deve se adaptar a elas. § Da Educação no Governo Despótico: Se na monarquia a educação tinha como princípio a honra, no despotismo ela procura oprimir. Ela há de ser servil, para tornar o povo escravo e, para isso, é reduzida à instalar o temor no coração das pessoas e oferecer ao espírito alguns conhecimentos simples da religião, paraque o povo possa obedecer sem discordar ou questionar. Segundo Aristóteles, não havia nenhuma virtude essencial aos escravos e isso limitaria e muito a função da educação nesse estilo de Estado. O saber nele é perigoso e é necessário que se faça um mau súdito, para se fazer um bom escravo. § Da Educação no Governo Republicano: É nesse tipo de governo que é necessário todo o poder da educação. O temor nos governos despóticos nascem em meio a ameaças e castigos. Nas monarquias, a honra surge pelas paixões. Mas as virtudes nada mais são do que uma renúncia a si mesmo. Pode ser definidas como o amor às leis e à Pátria e esse amor requer que se prevaleça o interesse público sobre o particular. Esse tipo de amor está relacionado particularmente às democracias pois somente nelas que o governo é confiado ao povo e para, assim como tudo no mundo, para conservá-lo é preciso amá-lo. Assim como os reis amam as Monarquias e os déspotas amam o Despotismo, o povo deve amar a democracia e, para que esse amor seja estabelecido, deve à educação inspirá-lo. Mas para que esse amor cresça nas crianças, é necessário que os pais o tenham eles próprios pois são eles que devem transmitir aos descendentes seus conhecimentos e, acima disso, suas paixões. Quando isso não acontece é porque o que é aprendido em casa é desfeito por algo de fora. "Não é a juventude que degenera; ela só se perde quando os adultos já estão corrompidos." · LIVRO V "QUE A LEGISLAÇÃO DEVE RELACIONAR-SE COM OS PRINCÍPIOS DO GOVERNO" § Como As Leis Se Relacionam Com O Princípio No Governo Republicano: 1ª Seção: Na Democracia Essa seção abrange os capítulos I ao VII do quinto livro da obra. Montesquieu inicia esse livro dando uma definição sobre o que são as virtudes. Para ele essas virtudes, ou patriotismo, em uma república tem um significado simples: é o amor à República. É um sentimento, e não uma série de conhecimentos. O homem menos importante de um Estado pode ter esse sentimento, assim como o mais importante. Segundo o autor, o amor à pátria conduz à excelência nos costumes e tal excelência leva ao amor à Pátria. Quanto menos as pessoas satisfazem suas paixões pessoais, mais eles se entregam às gerais. Nessa passagem Montesquieu cita como exemplo os monges ao questionar o porque de eles amarem tanto a regra deles. Ele mesmo responde sua pergunta ao dizer que os monges a amam pois ela priva-os de todas as coisas sobre as quais as paixões comuns recaem e por isso sobra apenas a paixão pela regra. Quando os monges conseguem evitar o amor à outras paixões, o amor a sua regra cresce, e assim deveria ser a relação entre os amores particulares e o amor à Pátria. A partir daí o autor começa a responder algumas perguntas que tem como objeto a relação entre as leis na democracia começando com o que é o amor na democracia. Responde com a seguinte fala: "O amor à república, numa democracia, é o amor à democracia; o amor à democracia é o amor à igualdade. O amor à democracia é também o teor à frugalidade. Cada um deve possuir a mesma felicidade e as mesmas vantagens, deve experimentar os mesmos prazeres e ter as mesmas esperanças; coisa que só se pode esperar da frugalidade geral. O amor à igualdade, numa democracia, limita a ambição ao único desejo, à única felicidade, de prestar à pátria maiores serviços do que os outros cidadãos. Estes não podem prestar todos iguais serviços mas devem, toda igualmente, prestar algum serviço. Ao nascermos, contraímos para com ela uma dívida imensa que nunca conseguimos quitar." Em seguida questiona como que faz para se inspirar o Amor da Igualdade e frugalidade. Responde que tais amores são estimulados pela própria Igualdade e Frugalidade. Nas Monarquias e nos Estados Despóticos ninguém aspira à igualdade pois todos procuram ser superiores, portanto para serem iguais as pessoas têm que quererem serem iguais. A mesma coisa com relação a Frugalidade. Quem já foi corrompido pelos prazeres da vida, ou que invejaram os luxos dos outros jamais conseguirão amar a vida frugal. A seguir questiona de que maneira as leis estabelecem a Igualdade e depois como elas conservam a Frugalidade na Democracia. A resposta para a primeira delas veio divida em quatro partes: A) Quando legisladores antigos repartiram as terras igualmente, segundo Montesquieu, o único modo dessa repartição se manter seria criando leis para protegê-la. Com esse objetivo os dotes das mulheres, as doações, as sucessões, os testamentos e todas as outras formas de transmitir riquezas teriam que ser disciplinados pois se fosse permitido repassar seus bens a quem gostaria, cada vontade particular atrapalharia a lei fundamental. B) Sólon permitiu deixar os bens por testamento para quem se quisesse, desde que não tivesse filhos, contrariando as leis antigas que ordenavam que a herança continuasse na família do testador. Por isso foi criticado por Montesquieu que acreditava que a lei que proibia alguém de receber duas heranças era boa para a Democracia já que tinha origem na repartição igual de terras e nas porções dadas a cada cidadão. C) Ainda que na democracia a igualdade real seja a alma do Estado, ela é, no entanto, tão difícil de ser estabelecida que uma extrema exatidão neste sentido nem sempre seria conveniente. Basta que se estabeleça um censo que reduza ou que fixe as diferenças num certo ponto; depois é função das leis particulares igualar, por assim dizer, as desigualdades, com os encargos que impõem aos ricos e com alívio que dão aos pobres. Porém apenas as riquezas medianas é que sofreriam tais compensações, já que as imoderadas, tudo que não lhes concedam de poder e de honra considerarão como injúria D) Toda desigualdade na democracia deve ser tirada da natureza da democracia e do próprio princípio da igualdade. Por exemplo, pode-se, temer que pessoas que precisem de um trabalho contínuo para viver fossem muito empobrecidas por uma magistratura, ou negligenciassem suas funções; que artesãos se tornassem orgulhosos; que libertos demasiados numerosos se tornassem mais poderosos do que antigos cidadãos. Nestes casos, a igualdade entre os cidadãos pode ser suprimida da democracia em proveito da democracia. Mas é apenas uma igualdade aparente que se suprime, pois um homem arruinado por uma magistratura estaria em pior situação do que os outros cidadãos, e este mesmo homem, que se veria obrigado a negligenciar suas funções, colocaria os outros cidadãos numa situação pior do que a sua; e assim por diante. Acerca da segunda pergunta, de como as Leis devem conservar a frugalidade, Montesquieu é a favor da ideia de que não basta que as porções de terras sejam iguais, eles também devem ser pequenos. Assim como a Igualdade de fortunas mantém a Frugalidade, a Frugalidade mantém a Igualdade das fortunas. Essas coisas, mesmo sendo diferentes, não subsistem sem a outra, cada qual sendo uma causa e, ao mesmo tempo, um efeito. O único modo de algum particular acumular grande riqueza seria em uma democracia fundada no comércio, já que o comércio em si traz consigo próprio o espírito de simplicidade. Portanto mesmo que alguém acumulasse riquezas, se mantivesse o espírito intacto, a riqueza não faria mal algum. No último capítulo dessa primeira sessão, Montesquieu discute outras meios de favorecer o princípio da democracia. Diz ele que nem sempre tudo aquilo que manteria os costumes da democracia deve ser aplicado. A repartição igualitária, por exemplo, não pode ser aplicada em todas as repúblicas pois há circunstâncias em que tal providência seria impraticável e poderia até se chocar com a constituição. De qualquer modo deve-se sempre buscar manter os costumes antigos, já que povos corruptos não costumam estabelecer sociedades duradouras.2ª Sessão: Na Aristocracia Essa segunda sessão abrange apenas o capítulo VIII do livro. Montesquieu começa dizendo que se o povo for patriota, isso é, virtuoso, desfrutará mais ou menos da felicidade do governo popular, e o Estado se tornará poderoso, mas que, por ser raro encontrar tanto patriotismo onde as riquezas são tão desiguais, as Leis devem dar, tanto quanto possam, o espírito de moderação, e devem procurar estabelecer a igualdade que a constituição do Estado afasta necessariamente. O chamado espírito de moderação nada mais é do que o patriotismo na aristocracia, substituindo o espírito de Igualdade da democracia. Há duas fontes principais de desordens no Estado aristocrático: a extrema desigualdade entra governantes e governados e a mesma desigualdade entre os componentes do corpo dos governantes; dessas duas desigualdades surgem ódio e ciúmes que as leis devem ao máximo tentar prevenir. A primeira das desvantagens ocorre quando os privilégios das pessoas consideradas "superiores" são afrontosos aos do Povo; ela ocorrerá ainda caso a condição dos cidadãos em relação aos tributos forem diferentes. Isso se verifica de quatro maneiras: quando os nobres se dão ao privilégio de não pagá-los; quando promovem fraudes para se livrarem deles; quando os atribuem a si como forma de retribuição ou vencimentos pelos cargos que exercem; ou quando tornam o Povo tributário, e repartem entre si os impostos que coletam dele. Montesquieu admirava bastante a Aristocracia em Roma e a cita diversas vezes nesse capítulo. Diz ele que os romanos evitaram muito bem os inconvenientes dessa forma de Estado pois os nobres não se beneficiavam de seus cargos para adquirirem para si os tributos e os principais de Roma sempre foram taxados como os outros, as vezes até mais e outra vezes ainda apenas eles eram taxados. Ou seja longe de repartirem entre si o produto obtido, eles repartiam na verdade entre o Povo tudo o que podiam retirar de tesouro público. Uma máxima fundamental é a que rezam que as distribuições feitas ao povo numa democracia têm tantos efeitos perniciosos quanto bons efeitos têm no governo aristocrático. As primeiras fazem com que se perca o espírito de cidadania, as segundas levam a ele. Segundo o autor é essencial, na Aristocracia, que os nobres não arrecadem os tributos. Essa tarefa deveria recair sobre as demais classes e no governo aristocrático em que os nobres arrecadassem os tributos todos os particulares estariam à discrição dos homens de negócio portanto não haveria, para corrigi-los, um tribunal superior. Aqueles dentre os nobres encarregados de eliminar os abusos iriam na verdade preferir se aproveitar deles e, portanto, seriam como os Príncipes dos Estados Despóticos, que confiscam os bens da formar como preferirem. Seguindo o mesmo princípio as leis devem lhes proibir o comércio: comerciantes com tamanha influência fariam todo tipo de monopólio. O comércio é a profissão de pessoas iguais e, até entre os Estados Despóticos, aqueles onde o Príncipe é também comerciante são os mais miseráveis. Duas coisas são prejudiciais à Aristocracia: a extrema pobreza dos nobres, e sua riqueza exorbitante. Para que ocorra a prevenção da pobreza é necessário desde cedo obrigar-lhes a pagarem suas dívidas. Para moderar sua riqueza é preciso dispor de sensatas e imperceptíveis tributações e não confiscações abusivas ou leis agrárias, que fazem males infinitos. As Leis devem também abolir entre os nobres o direito de primogenitura, a fim de que, pela contínua partilha das sucessões, as fortunas tendam à igualdade. São desnecessários as inalienabilidades, as retrovendas de família, morgadios, adoções e todo tipo de expediente inventado para perpetuar as grandezas das famílias nos Estados Monárquicos. Quando as leis conseguirem finalmente igualarem as famílias, resta apenas manter entre elas a união. As pendências entre os nobres devem ser resolvidas imediatamente. Sem isso, as disputas entre pessoas se tornam disputas entre famílias. Os juízes tem portanto a opção de terminar os processos, ou simplesmente de evitá-los no nascedouro. § Como As Leis Se Relacionam Com O Princípio No Governo Monárquico: Sendo a Honra o princípio desse governo, as leis devem se relacionar com ela. É preciso que elas trabalhem para sustentar este nobre sentimento, tornando-o algo hereditário para que ela seja não o limite, mas o liame entre o poder do Príncipe e a fraqueza do Povo. As inalienabilidades, que conservam os bens de família, embora prejudiciais nas outras formas de governo, são úteis nessa em particular. As reversões familiares devolverão às famílias nobres as terras que a prodigalidade de um parente houver alienado. As terras dos nobres deverão ter privilégios, assim como as pessoas. Da mesma forma que não se pode separar a dignidade do monarca da de seu reino, também não se pode separar a dignidade de um nobre da de sua terra. Algo importante de se ressaltar é que todos esses privilégios serão privativos da nobreza, não devendo passar pelo povo se não se quiser chocar o princípio desse governo, diminuindo a força da nobreza e aumentado a do povo. Tais privilégios quando ligados aos feudos dão às pessoas que as sofrem poder restrito, mas quando são estendidas ao povo, chocam-se inutilmente todos os princípios. Em seguida Montesquieu faz uma espécie de comparação entre a Monarquia e as outras duas formas de governo (república e despotismo). Com relação à República, diz ele, o governo monárquico possui uma grande vantagem que é, sendo os comércios tratados por uma pessoa apenas, há maior presteza na execução. Mas como essa presteza poderia se tornar precipitação, as leis deverão colocar certa lentidão. Os corpos que têm os encargos das leis obedecem melhor quando caminham a passos lentos e trazem para os negócios do príncipe a reflexão de que não se pode esperar muito da falta de competência da corte sobre as leis de Estado, nem da precipitação de seus Conselhos. Após isso o autor escreve sobre as diferenças entra monarquia e despotismo. Mais uma vez o Governo Monárquico tem uma vantagem sobre seu "concorrente": como da natureza que surge sob Príncipe há várias ordens ligadas à constituição, o Estado é mais estável e a pessoa que governa tem mais garantias. Aqui o autor cita novamente Roma ao citar uma frase de Cícero que acreditava que o estabelecimento dos Tribunos em Roma foi a salvação da República: "Com efeito - diz ele - a força do Povo que não tem chefe é mais terrível. Um chefe sente que o negócio passa por ele e pensa nisso; mas o Povo, na sua impetuosidade, desconhece o perigo em que se atira". Para Montesquieu, portanto, um Estado Despótico é um povo sem tribunos, enquanto a monarquia, de certa forma, é um povo com tribunos pois verifica-se que nos Governos Despóticos, o povo, conduzido por si mesmo, sempre leva as coisas até onde pode, todas as desordens que provocam são extremas, enquanto nas monarquias as coisas raramente são levadas a excessos. Montesquieu termina a parte sobre monarquia dizendo que os povos que vivem numa boa disciplina são mais felizes do que aqueles que vivem nas florestas, sem regras e sem chefe. Da mesma forma os monarcas que vivem sobre as leis de seu Estado são mais felizes que os príncipes despóticos, os quais nada têm que possam regrar o coração de seus povos, nem o seu próprio. § Como As Leis Se Relacionam Com O Princípio No Governo Despótico Montesquieu começa essa parte do livro com uma analogia. Diz ele que os selvagens da Luisiana, quando querem frutas, cortam a árvore e as colhem, Para ele, esse seria o Governo Despótico. O Governo Despótico tem por princípio o temor e por isso, para povos tímidos e ignorantes, não é preciso muitas leis. Bastamduas ou três ideias e, contando que tudo gire em torno delas, o príncipe não terá problemas. A seguir o autor critica veementemente os governantes despóticos e o próprio estilo de Governo. Diz ele: "Tal príncipe tem tantos defeitos que se deveria temer expor à luz do dia sua estupidez natural. Ele fica escondido e ignora-se o estado em que se encontra. [...] A conservação do Estado é apenas a conservação do príncipe, ou melhor, do palácio ande ele está trancado. Tudo a que não ameaça diretamente este palácio ou a capital não causa nenhuma impressão em espíritos ignorantes, orgulhosos e preconceituosos; e, quanto ao desenvolvimento dos acontecimentos, eles não conseguem acompanha-lo, prevê-lo e até pensar nele. A política, seus mecanismos e suas leis devem ser limitados neste governo; e o governo político é ali tão simples quanto o governo civil. Tal Estado estará em sua melhor situação quando puder considerar-se o único no mundo; quando estiver cercado por desertos e separado das povos que chamar de bárbaros. Não podendo contar com sua milícia, será bom que ele destrua uma parte de si mesmo. Assim como o princípio do governo despótico é o temor, seu objetivo é a tranquilidade; mas não se trata de paz; é o silêncio dessas cidades que o inimigo está prestes a ocupar. Sendo que “a força não se encontra no Estado, mas no exército que o fundou, seria necessário, para defender o Estado, conservar este exército; mas ele é formidável demais para o príncipe." Continua o livro dizendo que nesses Estados a religião tem mais influência do que nos demais, por se tratar de um temor acrescido a outro temor. A seguir fala que de todos os governos despóticos, aqueles que mais se arrasam são aqueles em que o Príncipe se elege proprietário de todas as terras e herdeiro de todos os seus súditos. Isso resultaria no abandono da cultura das terras e, caso o governante também seja comerciante, toda espécie de indústria estará arruinada. Em seguida Montesquieu volta a criticar o despotismo da seguinte maneira: "Para formar um governo moderado, devem-se combinar os poderes, regulá-los, temperá-los, fazê-los agir, dar, por assim dizer, maior peso a um deles, para colocá-lo em condições de resistir a outro; é uma obra-prima de legislação, que o acaso cria raramente e que raramente se deixa à prudência. Um governo despótico, pelo contrário, salta, por assim dizer, aos olhos; é uniforme por toda parte: como só precisamos de paixões para estabelecê-lo, todos são bons para isso." Após tratar sobre as três formas de Governo Montesquieu fala sobre a comunicação do Poder. Começa dizendo que no governo despótico, o poder passa por inteiro para as mãos daquele a quem foi dado. No governo monárquico, o poder se aplica menos imediatamente; o monarca, quando o exerce, modera-o. Faz tal distribuição de sua autoridade, que nunca dá uma parte sem que tenha ficado com outra maior. Nos países moderados, a lei é conhecida em toda parte e em toda parte conhecida, e os menores magistrados podem segui-la. Mas no despotismo, onde a lei não é nada além da vontade do príncipe, ainda que o príncipe fosse sábio, como um magistrado poderia seguir uma vontade que não conhece? Tem que seguir a sua própria. E mais: sendo que a lei é só o que o príncipe quer, e sendo que o príncipe só pode querer o que conhece, é preciso que exista uma infinidade de pessoas que queiram por ele e como ele. Enfim, sendo que a lei é a vontade momentânea do príncipe, é necessário que os que querem por ele queiram subitamente como ele. Em seguida o autor trata sobre as recompensas que o soberano dá e sobre os presentes. Diz ele que é comum nos países despóticos não abordar alguém superior sem lhe oferecer um presente. Isso é claro em um governo onde fica claro que o superior nada deve ao inferior, um governo de poucos negócios, onde é raro se apresentar a um superior para lhe fazer um pedido e, menos ainda, uma queixa. Na República, por outro lado, os presente são evitados a todo custo, porque o patriotismo não tem necessidade disso. Nas monarquias, a honra é sempre maior do que os presentes. Mas no despotismo, onde não há honra e nem patriotismo, ninguém pode ser levado a agir senão pela esperança de comodidades da vida. Com relação às recompensas, no despotismo, as pessoas, por serem levadas a agir buscando certas facilidades, olham para as recompensas como uma comodidade. E o príncipe usa do dinheiro para recompensar alguém. Nas repúblicas, o patriotismo já basta como motivo e por isso tudo o resto é excluído, cabendo ao Estado recompensar apenas como conhecimento sobre o próprio patriotismo. As recompensas na monarquia e na república, como regra geral, constituem sinal de decadência, por provarem que seu princípios estão corrompidos. De um lado a ideia de honra, que já não tem tanta força, do outro a qualidade do cidadão que enfraqueceu-se. LIVRO VIII: "DA CORRUPÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO TRÊS GOVERNOS" Ideia geral do livro: A corrupção de cada Governo começa, quase sempre, pela corrupção dos seus princípios. § Da Corrupção Do Principio Da República: 1ª Seção: Na Democracia A corrupção do princípio da democracia acontece não só quando se perde o espírito de Igualdade, mas ainda quando se obtém o espírito de extrema igualdade, e cada um quer ser igual aos que escolheu para governar. Então, o povo, não podendo suportar o poder que ele mesmo confiou, quer fazer tudo por si: deliberar no lugar do senado, executar no lugar do magistrado e despojar todos os juízes. Os magistrados não seriam mais respeitados, o senado não teria mais importância, se perderia o respeito aos anciãos e, por consequência, aos pais, os maridos não mereceriam deferência, e nem os senhores; as mulheres, as crianças e os escravos não seriam submissos a ninguém. Se perderia os costumes, o amor à ordem e, por fim, o patriotismo. O povo, segundo Montesquieu, cairia nessa desgraça quando aqueles que recebem o poder procuram ocultar sua própria corrupção, corrompendo o povo. Estimulam a avareza do povo para que não percebam a sua própria, por exemplo. O povo distribuirá entre si o dinheiro público e, como ele terá juntado preguiça a gestão dos negócios, irá querer juntar à sua pobreza os gostos do luxo. E então, com sua preguiça e seu luxo, o alvo acabaria sendo o dinheiro público. Portanto a democracia tem que evitar dois excessos: o espírito de desigualdade, que leva à Aristocracia, ou ao governo de um só; e o espírito de extrema igualdade, que conduz ao despotismo. O Espírito de Igualdade: "Assim como o céu está distante da terra, o verdadeiro espírito de igualdade o está do espírito de igualdade extrema." Tal espírito não consiste em fazer com que todo mundo mande, ou que ninguém seja mandado. Consiste apenas em mandar e obedecer a seus iguais. No estado natural o homem nasce assim, mas não pode permanecer assim: a sociedade os faz perdê-lo, e eles não se tornam iguais senão através das leis. A diferença entra a democracia regrada e aquela que não é é que, nesta só se é igual como cidadão; na outra também se é igual como magistrado, senador, juiz, como pai, marido ou senhor. 2ª Sessão: Na Aristocracia A Aristocracia se corrompe quando o poder dos nobres se torna arbitrário, dessa forma não poderia mais haver patriotismo nos governantes, e nem nos governados. Quando as famílias que estão no poder respeitam as leis surge uma monarquia com diversos monarcas, o que, por natureza, é algo bom. Porém, quando não as observam, surge um Estado Despótico, com vários déspotas. Neste caso, a república não subsiste senão a respeito dos nobres e somente deles. A extrema corrupção se dá quando os nobres tornam-se hereditários. Nesse caso eles quase não podem mais ter moderação. Se sãoem pequeno número, seu poder aumenta, mas sua segurança diminui. Se são em maior número, por consequência, seu poder é menor, mas a segurança se torna maior. E dessa forma vai o poder crescendo e a segurança diminuindo sobre um grupo cada vez menor até que sobre apenas o déspota, sobre cuja a cabeça recai todo o poder, assim como toda o perigo. Portanto, o grande número de nobres na aristocracia hereditária tornará o governo menos violento, mas, como o patriotismo é pouco, cai-se numa espécie de negligência, ou abandono, que faz com que o Estado não tenha mais ímpeto algum. Uma Aristocracia pode então manter a força de seu princípio se as leis são tais que façam os nobres sentirem mais os perigos e as fadigas do mando do que as suas delícias; e se o Estado tiver algo a temer a segurança deve vir de dentro e a incerteza de fora. Assim como uma certa confiança faz a glória e a segurança de uma Monarquia, ao contrário a República precisa temer algo. § Da Corrupção Do Princípio Da Monarquia: Assim como as democracias se perdem quando o povo despoja das funções do senado, dos magistrados e dos juízes, as monarquias também se corrompem quando, pouco a pouco se tiram as prerrogativas das categorias, ou os privilégios das cidades. A monarquia se perde quando o príncipe acreditar ser mais o seu poder mudando a ordem das coisas do que seguindo-a, quando ele retira as funções naturais de uns para conferi-las a outros arbitrariamente ou quando prefere seus caprichos às suas vontades. A monarquia se perde quando o príncipe centraliza tudo nele, relacionando tudo unicamente em si: absorve o Estado na sua capital, a capital na sua corte, e a corte na sua pessoa. Enfim, ela se perde quando o Príncipe desconhece a sua autoridade, sua condição e o amor do seu Povo. O Perigo Da Corrupção Do Princípio Do Governo Monárquico: O inconveniente não ocorre quando certo Estado passa de uma forma moderada de governo para outra forma moderada como, por exemplo, passando de república para uma monarquia ou de monarquia para uma república. O verdadeiro problema é quando o governo cai, se precipita, de uma forma moderada para o despotismo. § Da Corrupção Do Princípio Do Governo Despótico: Na visão de Montesquieu, o princípio do governo despótico se corrompe a toda hora, sem nunca cessar, pois o despotismo é corrupto por natureza. Os outros tipos de governo perecem por acidentes particulares que acabam violentando o seu princípio. O despótico perece por seu próprio vício interior. Portanto, ele só se mantém quando circunstâncias decorrentes do clima, da religião ou da índole do povo forçam-no a seguir alguma ordem e a sofrer alguma regra. Tais circunstâncias forçam a sua natureza sem mudá-la; sua ferocidade permanece; está domada momentaneamente. § Efeitos Da Corrupção Dos Princípios 1) Uma vez corrompidos os princípios dos governos, as melhores leis tornam-se más e prejudicam o Estado. Quando os princípios estão sadios, por outro lado, até as más leis têm o efeito de boas. A força dos princípios é que prevalece. 2) Quando uma república é corrompida não há de remediar-se qualquer dos males resultantes a não ser afastando a própria corrupção e restabelecendo os princípios. Qualquer outra forma de correção será inútil ou somente causará um novo mal. Na sequência, Montesquieu trata sobre as propriedades distintivas de cada forma de Governo § Propriedades Distintivas da República É da natureza da república que ela só possua um pequeno território; sem isto não pode subsistir. Numa república grande, existem grandes fortunas e consequentemente pouca moderação nos espíritos; existem grandes fortunas nas mãos dos cidadãos, e por isso os interesses se privatizam. Primeiro um homem sente que pode ser feliz sem sua pátria; depois que pode ser grande sozinho, sobre as ruínas da pátria. Numa grande república, o bem comum é sacrificado por diversas razões; fica subordinado a exceções, dependendo de acidentes. Nas repúblicas pequenas, o bem comum é sentido melhor, conhecido melhor, mais próximo de cada cidadão. Nelas, os abusos são menos vultosos, por conseguintes menos protegidos. § Propriedades Distintivas da Monarquia Um Estado Monárquico deve ser de tamanho médio. Caso fosse pequeno demais se tornaria um república. Fosse muito extenso os membros mais importantes do Estado, não estando sob a vista do Príncipe, e tendo sua própria corte fora delem as vezes até mesmo garantidos pelas leis e costumes contra as execuções prontas, parariam de obedecer ao governante, pois não temeriam uma punição excessivamente lenta e distante. § Propriedades Distintivas do Despotismo Um grande império requer um governante único e autoritário. Requer portanto uma autoridade despótica. Cumpre que a presteza das resoluções compense a distância dos lugares de destino; que a lei esteja num cabeça só, e que ela mude sem cessar, como os acidente, que se multiplicam sempre no Estado, na proporção de seu tamanho. É propriedade natural dos pequenos Estados serem governados como república, dos Estados medianos serem submetidos a um monarca, e dos Impérios serem dominados por um déspota. Então segue-se que, para conservar os princípios do governo estabelecido precisa conservar- se o Estado do tamanho que já tinha; e que esse Estado mudará de espírito, à medida que reduzirem ou estenderem seus limites. · LIVRO IX "DAS LEIS NA RELAÇÃO QUE POSSUEM COM A FORÇA DEFENSIVA" § Como as Repúblicas Proveem À Sua Segurança: Montesquieu via a formação de repúblicas federativas como uma solução para o problema da segurança nas repúblicas. Algo que combinaria as vantagens internas do governo republicano e a força externa da monarquia. “Esta forma de governo é uma convenção segundo a qual vários corpos políticos consentem em se tornar cidadãos de um Estado maior que pretende formar. É uma sociedade de sociedades, que formam uma nova sociedade, que pode crescer com novos associados que se unirem a ela.” Se acontecer alguma sedição em um dos membros confederados, os outros podem pacificá-la. Se abusos se introduzirem em alguma parte, serão corrigidos pelas partes sãs. A constituição federativa deve ser composta por Estados da mesma natureza, principalmente por Estados republicanos. “O espírito da monarquia é a guerra e o crescimento; o espírito da república é da paz e a moderação. Estes dois tipos de governo só podem subsistir forçados numa república federativa.” § Como os Estado Despóticos Proveem À Sua Segurança: Os Estados despóticos adquirem segurança através de separações entre si e isolamentos, dificultando a acessibilidade. § Como A Monarquia Provê À Sua Segurança: Por meio de fortificações e exércitos § Da Força Defensiva Dos Estados Em geral Montesquieu observa que é necessário para a segurança de um Estado que sua grandeza seja tal qual exista uma relação entre a rapidez com que se pode executar contra ele alguma ofensiva e a prontidão com que pode torna-la vã. Portanto a extensão dos Estados é de grande importância para a segurança de um Estado, sendo um território de médio porte o ideal. Como exemplo, temos a Espanha e a França. “Desta forma, assim como os monarcas devem possuir sabedoria para aumentar seu poder, também não devem possuir menos prudência para limitá-lo. Fazendo cessar os inconvenientes da pequenez, é preciso que vigiem sempre os inconvenientes da grandeza.” · Da Força Relativa Dos Estados: “Toda grandeza, toda força, todo poder é relativo. É preciso que se tome bastante cuidado para que. Procurando aumentar a grandeza real, não se diminua a grandeza relativa.” Da Fraqueza Dos Estados Vizinhos: “Quando temos como vizinho um Estado que se encontra em decadência, devemos evitar apressarsua ruína, porque estamos neste sentido na situação mais feliz em que poderíamos estar; e não há nada que seja mais cômodo para um príncipe do que estar perto de outro que recebe todos os golpes me todos os ultrajes da sorte. E é raro que, com a conquista de tal Estado, cresçamos tanto em poder real quanto em poder relativo.” · LIVRO X "DAS LEIS NA RELAÇÃO QUE POSSUEM COM A FORÇA OFENSIVA" § Da Força Ofensiva: “A força ofensiva é regulada pelo direito das gentes, que é a lei política das nações consideradas na relação que possuem umas com as outras.” § Da Guerra: Da mesma maneira que os homens possuem o direito de matar no caso de defesa natural; os Estados possuem o direito de fazer a guerra para sua própria conservação. Enquanto o direito de defesa dos homens deve ser exercido somente em casos momentâneos em que estariam perdidos se esperassem pelo socorro das leis, o direito de ataque entre as sociedades às vezes é necessário quando um povo percebe que uma paz mais prolongada colocaria o outro Estado em condições de destruí-lo e que o ataque é, neste momento, o único meio de impedir esta destruição. Portanto as pequenas sociedades têm o direito de fazer a guerra com mais frequência do que as maiores, porque se encontram com maior frequência no caso de temerem ser destruídas. § Do Direito De Conquista: “Do direito à guerra deriva o de conquista, que é sua consequência; logo, deve seguir seu espírito.” Após a conquista o Estado conquistador trata o outro de uma das maneiras seguintes: continua a governá-lo segundo suas leis e só toma para si o exercício do governo político e civil; ou dá-lhe um novo governo político civil; ou destrói a sociedade e dispersa-a; ou enfim extermina todos os cidadãos. O extermínio dos homens com o pretexto de destruição da sociedade não é válido, pois a sociedade é a união dos homens, e não os homens; o cidadão pode morrer e o homem permanecer. O direito de reduzir a servidão só é válido quando ela é necessária para a conservação da conquista. O objetivo da conquista é a conservação: a servidão nunca é o objetivo da conquista; mas pode acontecer que ela seja um meio necessário para se chegar à conservação. Portanto a servidão não deve ser eterna, é preciso que o povo escravo possa tornar-se súdito com a assimilação sociocultural. É dever de um conquistador reparar uma parte dos males que fez. § De Uma República Que Conquista: Se uma democracia conquistar um povo para governá-lo como súdito, exporá a sua própria liberdade, porque confiará um poder grande demais aos magistrados que enviar ao Estado conquistado. Nas conquistas feitas pela democracia, seu governo é sempre odioso para os Estados sujeitados. “É monárquico na ficção, mas na verdade é mais duro do que o monárquico, como a experiência de todos os tempos e de todos os países demonstrou. Os povos conquistados ficam num triste estado; não gozam nem das vantagens da república, nem das da monarquia. Isso também serve para as aristocracias.” Assim quando uma república mantém algum povo em sua dependência. É preciso que ela procure reparar os inconvenientes que nascem da natureza da coisa, dando-lhe um bom direito político e boas leis civis. § Da Monarquia Que Conquista: As monarquias conquistadoras de províncias geralmente causam um estado de luxo absurdo na capital e de miséria nas províncias que estão distantes. “Algumas vezes, uma monarquia conquista outra. Quanto menor for esta última, melhor será contida por fortalezas, quanto maior for, melhor será conservada por colônias.” Nestas conquistas, não é suficiente deixar para a nação vencida suas leis; é talvez mais necessário deixar-lhe seus costumes, porque um povo conhece, ama e defende sempre melhor seus costumes do que suas leis. § Novos Meios De Conservar A Conquista: Para não desesperar o povo vencido e não orgulhar o vencedor, para impedir que o governo se tornasse militar e para manter os dois povos dentro dos limites do dever estabelece-se que cada corpo de tropas seria composto metade pelo povo conquistado e metade pelo povo conquistador, assim como os tribunais. “Isto produz vários bons efeitos: 1º as duas nações contém uma a outra; 2º ambas mantêm o poder militar e civil, e uma não é destruída pela outra; 3º a nação conquistadora pode espalhar-se por toda parte sem se enfraquecer e se perder; ela se torna capaz de resistir às guerras civis e estrangeiras.” Uma ferramenta que o conquistador pode usar para a conservação da conquista é o ato de ceder o trono ao príncipe legítimo, fazendo com que ele vire um aliado, obtendo um maior controle da população e aumentando suas tropas. § De Um Estado Despótico Que Conquista: Quando a conquista é imensa, ela supõe o despotismo. Para tanto, o exército espalhado pelas províncias não é suficiente. É preciso que sempre haja em volta do príncipe uma guarda particularmente fiel. · LIVRO XI "DAS LEIS QUE FORMAM A LIBERDADE POLÍTICA EM SUA RELAÇÃO COM A CONSTITUIÇÃO" Neste capítulo, Montesquieu discorre sobre a relação entre a liberdade política do cidadão e o ordenamento político do Estado. § Ideia Geral: Distingue as leis que formam a liberdade política em sua relação com a constituição daquelas que formam em sua relação com o cidadão. No livro XI observa-se o primeiro caso. § Diversos Significados Atribuídos À Palavra Liberdade: A palavra liberdade pode adquirir diversos significados de acordo com a pessoa ou grupo social que a profere. Cada um chamou liberdade ao governo conforme a seus costumes ou as suas inclinações; e como numa república não se têm diante dos olhos, e de maneira tão presente, os instrumentos dos males dos quais se queixa, e menos, ela é normalmente situada nas repúblicas e excluída das monarquias. Enfim, como nas democracias o povo parece mais ou menos fazer o que quer, situou-se a liberdade nestes tipos de governo e confundiu-se o poder do povo com a liberdade de povo. § Que É A Liberdade A liberdade política não consiste em se fazer o que se quer. Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem ele já não teria liberdade, porque os outros também teriam esse poder. Podemos observar a privação da liberdade política no abuso do poder. Portanto, é preciso que, pela disposição das coisas, que o poder limite o poder. Uma constituição pode ser tal que ninguém seja obrigado a fazer as coisas a que a lei não obriga e a não fazer aquelas que a lei permite. § Da Constituição Da Inglaterra: Montesquieu realiza um estudo, na Inglaterra, sobre as bases constitucionais da liberdade e seu sistema de governo e de distribuição de poderes. Onde acreditava que a liberdade política era por princípio o eixo de condução dos governos. Sendo então, a teoria da separação dos poderes um retrato do convívio, na Inglaterra, entre liberdade e governo. Considerava que havia em cada Estado três tipos de poder: o poder legislativo, o poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o poder executivo daquelas que dependem do direito civil. O primeiro seria responsável pela formulação e manutenção de um sistema de normas jurídicas; o segundo (também chamado de poder executivo, somente) é responsável pela política exterior, instauração da segurança, prevenção de invasões e construção e manutenção da estrutura pública; o último (poder judiciário) possui a função de julgar. A liberdade política só é encontrada nos governos moderados, que teria um sistema de freios e contrapesos responsável pelo equilíbrio entre os poderes. FONTE: https://.jusbrasil.com.br/artigos/454397060/resenha-do-livro-o-espirito-das-leis
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