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TOMELIN, Janes Fidélis; SIEGEL, Norberto. Filosofia da educação. Indaial, 178 p. 2013. Enquanto a Filosofia procura discutir os fundamentos da realidade através da razão para poder alcançar o conhecimento, a consciência religiosa tem por base a fé perante um conhecimento revelado. Esta consciência procura dar ênfase aos dados revelados, enquanto a razão não participa do seu processo de análise. Este tipo de consciência predominou sobretudo na Idade Média, principalmente com a Igreja Católica. Podemos citar como exemplo Santo Agostinho, que afirmava ser necessário “compreender para crer, crer para compreender”, ou seja, a certeza só seria possível por meio da fé, não sendo uma função ligada ao intelecto. Tanto a consciência mítica quanto a religiosa baseiam-se na fé e não apelam para a crítica ou para as dúvidas, apenas procuram transmitir uma certeza. A principal diferença está em que o mito segue uma forma mais fantasiosa de compreensão da realidade, enquanto que a religião segue uma doutrina e seu pensamento é mais sistematizado. Neste contexto, a formação de uma consciência crítica passa diretamente pela filosofia, que se caracteriza por desenvolver nas pessoas um pensamento próprio e crítico sobre a realidade do cotidiano, de questionar os dogmas ou as doutrinas religiosas que se impõem, de superar a explicação mitológica da realidade, de discutir a validade dos métodos e critérios adotados pelas ciências. LEITURA COMPLEMENTAR__________________________________________________ Até agora você viu o que é consciência e como ela é compreendida pelo pensamento filosófico. O texto que segue é escrito pelo professor de Ética e Filosofia Política da USP, Renato Janine Ribeiro (2000, p. 9), no qual apresenta a ideia de Nietzsche sobre a questão da consciência e faz uma relação com a realidade atual. COM NIETZSCHE, A CONSCIÊNCIA DA FRAGILIDADE Para ele, o essencial é assumir por completo a insegurança de nossa condição Renato Janine Ribeiro Que papel teve Nietzsche na cultura, estas décadas? [...] Nosso tempo é de crítica sistemática a tudo o que passava por aceito. As verdades antes acolhidas são postas em xeque e não porque sejam substituídas por novas verdades. É contestada a própria ideia de verdade, de valor. Durante séculos, deu-se o valor à consistência do ser. Isto é: valores como o bem, o belo, a verdade, que justamente por se chamarem “valores” só funcionam enquanto valem para alguém (enquanto são afirmados por seres humanos), foram apresentados como se fossem seres, independentes de nós, ancorados em Deus ou na natureza. Ora, o que Nietzsche e Freud mostram – e em certa medida Marx – é que por trás dos valores há uma vontade humana, um projeto, muitas vezes inconfesso. Por exemplo, para falar em linguagem freudiana, a disposição a dizer a verdade pode mascarar o propósito – inconsciente – de magoar. Em língua nietzschiana, a bondade dos padres pode servir ao desejo de enfraquecer os fortes e de converter os fracos em massa de manobra. É o que ele desenvolve num de seus livros mais brilhantes, A Genealogia da Moral. Nesse sentido, seria difícil exagerar o impacto de Nietzsche em nossos dias. Verdade, bem e belo perderam muito da força que já tiveram. Faz tempo que os artistas deixaram de procurar o belo. No tocante à verdade, um dos maiores dramaturgos do século 20 pôs em xeque não só a interpretação dos fatos, mas os próprios fatos: em suas peças a mesma história é relatada em versões opostas. Enfim, quanto ao bem, sabemos que o mal muitas vezes resulta em bem e o bem em mal. Tudo isso, hoje, remete a Nietzsche e a um continente complexo, do qual o mínimo a dizer é que procede a uma severa crítica ao caráter absoluto dos valores. Mesmo quem nunca leu Nietzsche, mas está atento a nosso tempo, sente esses sinais que o filósofo detectou – ou inventou? – há mais de um século. Tudo isso está presente não só na vida culta, mas em nossa cultura, no sentido antropológico, que designa o modo como damos ou apreendemos os significados da convivência social. Não é preciso estudar filosofia para saber da crise dos valores: basta viver. Uma briga de casal ilustra-a. Nietzsche soube captar uma mudança que em seu tempo se iniciava e desde então só cresceu. Mas o meteoro Nietzsche também teve impacto sobre a vida intelectual – sobre a cultura no sentido mais alto, nas ciências humanas e nas humanidades. Basta uma palavra, sobre o que hoje é chamado de pós-moderno. A modernidade foi o tempo em que o Ocidente triunfou do resto do mundo, fazendo prevalecer um modelo de razão que amava o fim da História: foi a vitória dos valores absolutos. Mas o pós-modernismo, pelo menos em sua versão mais refinada, a de Foucault, mostrou que tudo isso eram apenas construtos. O Ocidente não teria efetuado uma fiel descrição do que são as coisas, mas simplesmente montou uma estratégia, para dominar tudo o que dele divergia. Não existe, pois, uma natureza a descrever ou a imitar, mas uma série de estratégias de conquista. Ora, essa leitura da aventura humana é nietzschiana. Rompe com o que nos resta de crença em verdade revelada e exige que assumamos por completo a insegurança de nossa condição. [...] Assumir a filosofia nietzschiana, hoje, não é só uma escolha intelectual. Significa uma opção de vida. Mas o que pode aprender quem lê Nietzsche com atenção é a consciência de sua, de nossa fragilidade. E é mais difícil, embora mais rico, viver sabendo-se frágil do que quando se acredita na própria superioridade. Fonte: Ribeiro (2000, p. 9) Para melhor realçar aquilo que aprendemos, compreendemos e tomamos como conhecimento, faça as seguintes análises: 1. Para a Filosofia, quais são os aspectos que caracterizam uma consciência crítica? 2. Que tipo de consciência predomina na filosofia nietzscheana? Explique-a. 3. A consciência não pode ser compreendida unicamente como uma dimensão puramente psicológica e nem como uma dimensão puramente sociológica. Como a Filosofia explica esta situação? 4. O que caracteriza a consciência mítica, religiosa e racional? _______________________________________________________________________________________________
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