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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI - CIMATEC Claudio Torres Ferreira João Marins Neto Lucas Campos Pimentel Luis Henrique Pitangueiras Moisés Luz Monteiro Ronaldo Augusto Brandão CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CORPOS DE PROVA METÁLICOS. Salvador 2012 Claudio Torres Ferreira João Marins Neto Lucas Campos Pimentel Luis Henrique Pitangueiras Moisés Luz Monteiro Ronaldo Augusto Brandão CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CORPOS DE PROVA METÁLICOS. Relatório técnico do Projeto Integrador apresentado à Faculdade de Tecnologia SENAI CIMATEC, como exigência de conclusão do Modulo Básico III do Curso Superior de Tecnologia em Inspeção de Equipamentos e de soldagem. Salvador 2012 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Composição química dos flanges .................................................................. 34 Tabela 2 – Valores encontrados nos corpos de prova na escala HRC....................... 42 Tabela 3 – Composição Química do Aço 1536. .............................................................. 44 Tabela 4 – Propriedades mecânicas do ASTM 1536. .................................................... 50 Tabela 5 – Limite de resistência à tração das peças. .................................................... 51 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Operações de vazamento e de remoção das lingoteiras do lingotamento convencional. ............................................................................................................................ 13 Figura 2 - Máquina de lingotamento contínuo e aspecto geral do corte de placas e dos produtos produzidos. ................................................................................................................ 13 Figura 3 – Diagrama de fases do Aço com 2,5% de Manganês ............................................. 19 Figura 4 – Representação esquemática dos processos de conformação mecânica ............. 20 Figura 5 – Operação de esmagamento, deslocamento do material deformado na direção de alargamento .............................................................................................................................. 23 Figura 6 – Tarugo de metal adquirindo a forma da gravura das matrizes .............................. 24 Figura 7 – Canal ou calha de rebarba...................................................................................... 24 Figura 8 – Direção de fibramento revelada pelo macroataque. .............................................. 26 Figura 9 – Macrografia da peça A ............................................................................................ 35 Figura 10 – Macrografia da peça B .......................................................................................... 36 Figura 11 – Macrografia da peça C.......................................................................................... 36 Figura 12 – Macrografia da peça D.......................................................................................... 37 Figura 13 – Macrografia da peça F .......................................................................................... 37 Figura 14 – Corpos de prova extraídos da peça ..................................................................... 38 Figura 15 – Micrografia da peça A. .......................................................................................... 39 Figura 16 – Micrografia da peça F ........................................................................................... 39 Figura 17 – Micrografia da peça B ........................................................................................... 40 Figura 18 – Micrografia da peça E ........................................................................................... 40 Figura 19 – Micrografia da peça C ........................................................................................... 41 Figura 20 – Micrografia da peça D ........................................................................................... 41 Figura 21 – Micrografia de um mesmo material provindo do (a) lingotamento contínuo, (b) lingotamento contínuo com agitação de baixa frequência e (c) de alta frequência ................ 45 Figura 22 – Micrografia de um aço doce laminado.................................................................. 46 Figura 23 – Direções de fibramento de um material laminado e posteriormente forjado ....... 46 Figura 24 – Macrografia com presença de estruturas dendriticas e pequena alteração promovida pela conformação a quente .................................................................................... 47 Figura 25 – Micrografias do corpo de prova 2 da peça C. 100X ............................................. 48 Figura 26 – Micrografias de (a) um aço carbono com 0,5% de Carbono, (b) da Peça B com aproximação de 100X e (c) de um aço com cerca de 0,3% de carbono ................................ 49 Figura 27 – Micrografia da Peça A na posição 2 com aproximação de 1000X. ..................... 49 LISTA DE ABREVIATURAS E SIMBOLOGIAS ASM - American Society of Materials ASTM - American Society for Testing and Materials SAE - Society of Automobile Engineers MEMS - Mold electromagnetic stirrer SEMS - Strand electromagnetic stirrer FEMS - Final electromagnetic stirrer ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR - Norma Brasileira HR - Hardness Rockwell HB – Hardness Brinell HV – Hardness Vickers HK – Hardness Knoop kgf - Quilograma-força Resumo: O presente trabalho tem como objetivo caracterizar a microestrutura e analisar as propriedades mecânicas de flanges forjados, os materiais destes são provindos de três vias de fabricação distintas: Lingotamento Contínuo, Lingotamento Contínuo com Agitação Eletromagnética e Laminação. Para caracterizar a microestrutura foi realizado exame Metalográfico e para analisar as propriedades mecânicas do material foi efetuado o ensaio de Dureza Rockwell. Após obtenção desse resultado foram utilizadas tabelas de conversão de valores de dureza. Esses dados foram convertidos com intuito de encontrar o limite de resistência à tração do material. Palavras-chave; Siderurgia, Forjamento, Metalografia, Dureza Rockwell. SUMÁRIO 1. Introdução .............................................................................................................................9 1.1 Justificativa .....................................................................................................................9 1.2 Problema .........................................................................................................................9 1.3 Objetivo ........................................................................................................................ 10 2. Revisão Bibliográfica........................................................................................................ 11 2.1 Processos de Fabricação .......................................................................................... 11 2.2 Fabricação do aço ......................................................................................................11 2.3 Análise Química .......................................................................................................... 16 2.4 Diagrama de fases ..................................................................................................... 18 2.5 Conformação Mecânica............................................................................................. 20 2.6 Usinagem ..................................................................................................................... 26 2.7 Exame metalográfico ................................................................................................. 28 2.8 Ensaios Mecânicos .................................................................................................... 30 3. Procedimentos Experimentais ........................................................................................ 34 3.1 Análise Química .......................................................................................................... 34 3.2 Macrografia .................................................................................................................. 35 3.3 Micrografia ................................................................................................................... 38 3.4 Ensaio de Dureza ....................................................................................................... 42 4. Análise dos Resultados ................................................................................................... 44 5. Conclusões ........................................................................................................................ 52 6. Referências Bibliográficas............................................................................................... 53 7. Anexos................................................................................................................................ 56 9 1. Introdução 1.1 Justificativa Na indústria metal-mecânica o desenvolvimento de métodos de fabricação para os seus produtos, tem como objetivo a obtenção de características desejadas com um menor custo de produção. Neste trabalho serão realizadas a caracterização da microestrutura e a avaliação das propriedades mecânicas de flanges forjados. Esses flanges são produzidos por três vias de fabricação distintas: Lingotamento Continuo, Lingotamento Continuo com Agitação Eletromagnética e Laminação. Essas vias de fabricação produzem características diferentes nas microestruturas que afetam as suas propriedades mecânicas, além de ter custos de produção diferentes. Para caracterização da microestrutura serão realizados exames Metalográficos (Macrografia e Micrografia). A avaliação das propriedades mecânicas será realizada com dados obtidos através do ensaio de Dureza Rockwell, esses dados serão convertidos através de tabelas normatizadas. Ao conhecer as propriedades mecânicas dos flanges provindos de diferentes processos de fabricação será possível determinar a melhor aplicação para estes, observando além das suas propriedades mecânicas o seu custo de produção. 1.2 Problema Correlacionar os resultados obtidos nas pesquisas e nos procedimentos experimentais com os diferentes processos de fabricação (Lingotamento Contínuo, Lingotamento Contínuo com Agitação Eletromagnético e Laminação) utilizados nos flanges. 10 1.3 Objetivo Geral: Caracterizar a microestrutura e as propriedades mecânicas dos materiais dos flanges. Específico: Identificar o processo de fabricação de cada flange, buscando uma compatibilidade entre as características fornecidas pelas diferentes vias de fabricação e os resultados dos procedimentos experimentais. 11 2. Revisão Bibliográfica 2.1 Processos de Fabricação Os processos de fabricação são realizados quando o material, normalmente, sem forma ou de geometria simples é transformado em um componente útil, tal produto apresenta-se na maioria das vezes, geometria complexa com: forma, tamanho, precisão, tolerâncias, aparência e propriedades bem definidas (Altan, 1999). Os processos de fabricação e montagem de componentes metálicos podem ser classificados em cinco grupos: Processos para formas primárias em metais que inclui a fundição, Lingotamento Contínuo, Coquilhamento e Metalurgia do Pó; Processos de conformação dos metais como a Laminação, Extrusão, Forjamento a Frio e a Quente, Dobramento e Repuxo; Processos de Usinagem dos metais como o corte em serra, Fresamento, Brochamento e Torneamento; Processos de tratamento dos metais como tratamento térmico, Anodização e Endurecimento superficial; Processos de união incluindo a união física, por exemplo : a Soldagem, e a união mecânica, como o Rebitamento (Altan, 1999). 2.2 Fabricação do aço A transformação do ferro gusa em aço, onde o carbono e as impurezas normais (Si, Mg, P e S, principalmente as duas primeiras) se encontram em teores elevados, ambos possuem processos de oxidação com objetivo de obter valores desejados destes elementos, utilizando “agentes oxidantes”, os quais podem ser de natureza gasosa (processo pneumático), como: ar e oxigênio, ou de natureza sólida. Processo Siemens-Martin, elétrico e duplex, como: minérios na forma de óxidos (Chiaverini, 1986). 12 O principal processo mundial de fabricação do aço é através dos fornos conversores a oxigênio LD (Linz-Donawitz), devido às suas características de alta produtividade, custos adequados, grande flexibilidade metalúrgica, podendo fabricar a maior parte dos tipos de aços, principalmente aço estrutural, caldeira, alto- carbono, arame, mola baixa-liga para revenido, alta resistência e baixa-liga (Mourão, 2007). Para se obter melhor qualidade das propriedades do aço utilizam-se os fornos elétricos a arco (FEA), que é outro processo bastante utilizado na fabricação do aço, tendo como matéria predominante a sucata. Alguns aspectos importantes deste forno são: Reciclagem de sucata; Emissão de CO2 é quatro vezes menor; Utilização de DRI (ferro diretamente reduzido) e outros substitutos de sucata; Dependendo do preço da energia elétrica, a produção do aço se torna mais barato (Mourão, 2007). De acordo com Mourão (2007), o aço é uma liga composta de geralmente de 0,002% à 2,0% do peso em carbono, além de outros elementos de liga com percentuais variados. Vale ressaltar que outros elementos químicos são encontrados na composição do aço, mas, apenas em quantidades residuais. O refino é a eliminação de impurezas, no caso dos aços, o oxigênio, o enxofre, o nitrogênio, o hidrogênio e o fósforo, podem ser na maioria das vezes prejudiciais para as propriedades mecânicas do aço, mas, em alguns casos desejados, como exemplo: Diminuição da plasticidade; Diminuição da tenacidade; Formação de trincas; Formação de defeitos superficiais; Melhor usinabilidade; Maior dureza. 13 No caso do hidrogênio, quando encontrado dentro de um metal, pode causar abertura de trinca (Mourão, 2007). 2.2.1 Lingotamento Contínuo É o último estágio em aciaria onde se trabalha com o metal ainda em estado líquido. Seu objetivo é solidificar o aço em forma desejável, para ser utilizado nas etapas seguintes da cadeia produtiva (Mourão, 2007). O lingotamento consiste na solidificação do aço com o objetivo de produzir lingotes para os processos de conformação mecânica. Existem duas variantes: Lingotamento Convencional – Processo em que o aço líquidoé solidificado em lingoteiras estáticas; Figura 1 - Operações de vazamento e de remoção das lingoteiras do lingotamento convencional (Fonte; Moreira, 2008). Lingotamento Contínuo – Processo em que o metal líquido é solidificado em lingoteiras refrigeradas de maneira a produzir placas ou tarugos contínuos (Moreira, 2008). Figura 2 - Máquina de Lingotamento Cont ínuo e aspecto geral do corte de placas e dos produtos produzidos (Fonte: Moreira, 2008). 14 Segundo Mourão (2007), alguns produtos (tarugos, blocos) ao serem cortados na máquina de corte podem ser enviados para a linha de laminação. A amostra da seção transversal do produto é colhida para que seja verificada a sua qualidade interna através de um método denominado ensaio de Baumann1. Este ensaio permite encontrar defeitos no interior dos produtos lingotados, via Lingotamento Contínuo, obtendo o resultado da classificação dos defeitos (trincas internas de canto, trincas horizontais, trincas centrais, segregação central, porosidade, poros subsuperficiais e etc.), a equipe pode manipular os parâmetros de produção a fim de corrigir o processo de fabricação. Caso os defeitos sejam graves, estes produtos serão aproveitados para aplicações de menores exigências. 2.2.2 Lingotamento Contínuo com Agitação Eletromagnética A agitação eletromagnética em um metal líquido durante o processo de lingotamento contínuo aumenta à proporção de grãos equiaxiais no centro do lingote evita a formação de rechupes e segregações que se formam quando a estrutura de solidificação é colunar (Toledo, 1995). Devido à agitação eletromagnética o líquido se movimentará, quebrando as pontas das dendritas2 na frente de solidificação, interrompendo o crescimento da zona colunar (Tancredo). Araújo (2005) descreve que o objetivo da agitação eletromagnética é elevar a qualidade: melhoria da estrutura interna, da limpeza do aço, da superfície, da uniformidade da composição e das propriedades mecânicas. Sua aplicação pode ser: _____________ 1 O método de Baumann é uma imagem impressa em papel fotográfico através de uma reação química, que registra no papel as descontinuidades e defeitos (Mourão, 2007). 2 Dendritas – As baixas taxas de resfriamento produzem a formação de dendritas e altas taxas de resfriamento provocam a formação de um grande número de centro de solidificação, originando dendritas de pequenas dimensões (Colpaert, 1974). 15 No molde (MEMS), melhorando a qualidade da superfície e da parte central. A escória superficial, os “furos de alfinetes” e as bolhas que se formam, especialmente, quando se permite o contato do aço líquido com a atmosfera estes serão reduzidos com a agitação no veio. Com o uso da movimentação magnética no molde, a multiplicação dos cristais em processo de solidificação reduz a segregação e a porosidade central; A agitação no veio, durante o resfriamento secundário (SEMS) é uma boa alternativa, especialmente para blocos. A agitação magnética aumenta o número de cristais equiaxiais e propicia uma estrutura densa e com menos segregação central; Para evitar a formação “pontes” entre cristais sedimentados e dendritas alongadas que possibilitam a formação de cavidades e aumenta a segregação central, um agitador final (FEMS), deve ser usado em combinação com um dos anteriores. A agitação final impedirá a formação de pontes e melhorará a alimentação de aço líquido, compensando a contração de solidificação, sendo especialmente importante ao vazar aços de alto teor de carbono ou alta liga, para reduzir a formação de cementita e martensita. 2.2.3 Laminação Na laminação, o metal oriundo do processo de lingotamento é forçado a passar entre cilindros. Desta forma, tendo o corpo da peça inicial uma dimensão maior que à distância entre as superfícies laterais dos cilindros, ele sofre uma deformação plástica na passagem, resultando na redução de sua secção transversal e no aumento de seu comprimento e largura. O processo de laminação pode ser conduzido a frio ou a quente, dependendo das dimensões e da estrutura do material da peça especificada, para o inicio e final do processo (Mourão, 2007). 16 2.2.4 Trabalho a quente A temperatura de trabalho se situa acima da temperatura de recristalização do metal da peça, afim de reduzir a resistência à deformação plástica em cada passagem e permitir a recuperação da estrutura do metal, evitando o encruamento para os passes subsequentes. Geralmente é utilizada quando necessária grande redução de seções transversais (Mourão, 2007). 2.2.5 Trabalho a frio A peça trabalhada a frio provém da laminação a quente. Como a peça está com sua temperatura abaixo da temperatura de recristalização, o material possui maior resistência à deformação, gerando encruamento na peça, limitando assim, sucessivas reduções de seções. Um tratamento térmico de recozimento é utilizado entre uma e outra sequência de passes para aliviar as tensões e devolver as propriedades anteriores. A laminação a frio é aplicada, portanto, em trabalhos finais, quando se deseja acabamento superficial superior e de estrutura do metal encruada, com ou sem recozimento final (Mourão, 2007). 2.3 Análise Química As propriedades mecânicas dos metais dependem da composição química, variando a esta alteram-se as propriedades mecânicas, portanto a análise química tem extrema importância para os metais. Um determinado aço deve ter sua composição química compatível com sua utilização, ou seja, devemos ter posse de algumas informações antes de escolher o aço adequado para uma determinada peça, nas quais são: Qual a função deste objeto; Quais esforços mecânicos esta peça será submetida; Qual ambiente ela trabalhará. Detendo essas informações, devemos escolher o aço adequado para tal utilização, sendo o primeiro passo para obtê-lo, selecionar a composição química (Souza, 1989). 17 Tratando-se de metais, no qual é o nosso foco, a análise química é dividida em: análise qualitativa e quantitativa. A primeira trata-se de identificar os elementos de um determinado material, ou seja, a sua composição química, a segunda tem como finalidade quantificar estes elementos químicos. Em casos onde o objetivo é determinar porcentagem desses elementos, a análise qualitativa precede à quantitativa, a exemplo do nosso projeto (Vogel, 1981). Dentre as principais técnicas de análise química, as principais são: espectrometria de emissão atômica, espectrometria de emissão ótica, a espectrometria de fluorescência de raios x e a combustão, porém daremos ênfase à espectrometria de emissão ótica, a qual foi utilizada neste projeto. Segundo Soares et al (1988), “os métodos espectroscópicos de análise baseiam-se, principalmente, na absorção da energia da radiação eletromagnética”, particularmente no caso da espectrometria de emissão ótica, baseia-se no envio de radiação características destes elementos em contato com fontes termais ou elétricas. Em relação ao aço em estudo, composto basicamente por carbono e os quatro elementos residuais, manganês, silício, fósforo e enxofre. Como foi dito, estes elementos químicos influenciam nas propriedades mecânicas do aço, descrito em seguida: Carbono: ele é o elemento que mais influência nas propriedades mecânicas de aços de baixa, média e alta resistência é também o principal elemento de endurecimento. Quanto maior seu teor, mais dureza e resistência mecânica ele terá, por outro lado será menor a ductilidade e a soldabilidade (Souza, 1989). Manganês: sua principal função é combinar-se com o enxofre, formandoo sulfeto de manganês (MnS), impedindo a formação do sulfeto de ferro (FeS), o qual fragiliza o aço, teores em torno de 0,5% Mn já são suficientes para esta finalidade. Por não contribuir com a fragilização do aço, este pode ser trabalhado a quente sem problemas. Em porcentagens maiores, o manganês que não se formou com o enxofre serve para aumentar a resistência mecânica do aço e em teores entre 1% e 1,35%, o manganês confere boas propriedades ao impacto (Souza, 1989). Silício: em altos teores, provoca a grafitização do aço, o qual é prejudicial, porém em teores menores, é um excelente desoxidante (Souza, 1989). 18 Fósforo: não é considerado elemento de liga, porém é sempre encontrado nos aços como elemento residual. É um estabilizador da ferrita, endurecendo-a consideravelmente, com isso, fragiliza muito o material, porém em teores baixos, cerca de até 0,04%, pode ser admitido. A fragilização causada por ele é o motivo de deixá-lo em teores residuais nos aços, pois em teores maiores causa a fragilização devido à excessiva formação de fosfeto de ferro. Quando há a necessidade do aço com maior usinabilidade, admiti-se teor mais alto (Souza, 1989). Enxofre: é considero um elemento prejudicial para as propriedades mecânicas do aço, devido à formação de sulfeto de ferro que ele causa, dando baixa resistência ao impacto, baixa ductilidade e baixa resistência à fadiga, pode ser evitado com teores consideráveis de manganês, formando o sulfeto de manganês, como foi dito, evita a formação do sulfeto de ferro e prejudica a qualidade superficial do aço, devido a alta segregação que possui (Souza, 1989). O ligamento destes elementos químicos, nas porcentagens encontradas, confere ao aço uma boa resistência mecânica, uma considerável resistência ao impacto, porém não tão boa soldabilidade e usinabilidade. Com isso, este aço é largamente empregado na construção civil, mecânica, indústria de móveis, autopeças, tubos e outros segmentos (Apostila Belgo Grupo Arcelor). 2.4 Diagrama de fases Diagramas de fases são mapas que permitem antecipar a microestrutura de um material em função da composição e temperatura de cada componente. Na liga mais semelhante encontrada ao nosso aço em estudo, encontramos as seguintes fases: 19 Figura 3 – Diagrama de fases do Aço com 2,5% de Manganês (Fonte: ASM Handbook - Alloy Phase Diagrams, 1992). Com aplicação da regra da alavanca inversa sabemos a quantidade de cada fase em relação à temperatura, as quais são: Ponto A; A uma temperatura de 800ºC encontramos 100% de austenita. Ponto B; 720ºC: = 1,6 – 0,321 / 1,6 – 0,008 = 80,34% = 0,321 – 0,008 / 1,6 – 0,008 = 19,66% Ponto C; Fase de transformação de Ferrita+M3C para Ferrita+Austenita, contendo Ferrita+Austenita+M3C. Ponto D; 600ºC: = 1,6 – 0,321 / 1,6 – 0,02 = 80,95% M3C = 0,321 – 0,02 / 1,6 – 0,02 = 19,05% Ponto E; 410ºC: = 1,6 – 0,321 / 1,6 – 0,0201 = 80,95% M3C = 0,321 – 0,0201 / 1,6 – 0,0201 = 19,05% Das fases encontradas, temos: Austenita ( ); Sua estabilidade se dar acima de 7270 C, onde consta de uma solução sólida de carbono no ferro gama e apresenta uma estrutura de grãos poligonais e regulares (Batista, 2001). Ferrita ( ); É ferro no estado alotrópico alfa, contendo em solução traço de carbono; Apresenta a mesma estrutura da austenita (Batista, 2001). 20 M3C; É um carboneto formado na solidificação, rico em ferro, onde parte do Fe foi substituído por manganês, cromo ou outros elementos e possui estrutura cristalina ortorrômbica como a da cementita (Fe3C) (Paula, 2006). 2.5 Conformação Mecânica O processo de conformação mecânica se caracteriza em função dos tipos de esforços aplicados, entre eles estão: Compressão direta (laminação, forjamento) Compressão indireta (trefilação de fios, extrusão e estampagem profunda) Tração (tracionamento de chapas) Dobramento (aplicação de momentos de dobramento na chapa) Cisalhamento (aplicação de esforços cisalhantes que levam a ruptura do material) (Chiaverini, 1986). Figura 4 – Representação esquemática dos processos de conformação mecânica (Fonte: Chiaverini, 1986). Esses processos classificam-se geralmente em função da temperatura conhecida por temperatura de recristalização na qual é trabalhada. Uma consequência disso pode ser percebida através da variação comportamental dos materiais nas diversas temperaturas (Altan, 1983). 21 O principal objetivo do trabalho mecânico é conformar peças, entretanto , não podemos deixar de lado a sua importante função de romper e refinar a estrutura dendrítica presente nos metais e ligas fundidas, contribuindo desta forma para uma melhora significativa das propriedades mecânicas do material (Chiaverini , 1986). A conformação torna-se uma boa opção quando se trabalha com componentes de geometria relativamente complexa e volume de produção grande, de maneira que, o custo do ferramental por unidade possa ser mantido baixo (Altan, 1983). O processo de conformação mecânica dos metais caracteriza-se pela transformação de um componente, geralmente de geometria simples em um complexo por meio da exploração da região de deformação plástica com o intuito de obter-se uma configuração final desejada. Ele se baseia no processo em que ferramentas guardam a geometria desejada e aplicam pressão ao material em deformação através da interface ferramenta-material. Em determinados pesos, os componentes produzidos por conformação exibem melhores propriedades mecânicas, metalúrgicas e confiabilidade do que aqueles produzidos por fundição ou usinagem (Altan, 1983). Segundo Altan (1983), para uma dada operação de conformação (pré- conformação ou conformação final), “O projeto essencialmente consiste em: estabelecer as relações cinemáticas (forma, velocidades, taxas de deformações, deformações) entre a parte deformada e a parte indeformada, isto é, prever o fluxo de metal; estabelecer o limite de conformabilidade, ou seja, determinar se é ou não possível a conformação sem rupturas internas ou na superfície do metal; e prever as forças e tensões necessárias para efetuar a operação de conformação a fim de que o ferramental e equipamento possam ser projetados ou selecionados” (Altan, 1983, p.5-6). 22 2.5.1 Forjamento “O forjamento é a transformação de metais em uma forma útil por prensagem ou martelamento” (Dieter, 1986). O processo consiste na deformação de um billet, moldando-o através da utilização de ferramentas ou matrizes. A concepção e o controle do processo dependem do entendimento das características dos materiais envolvidos neste, os quais vão desde as condições entre a interface (ferramenta/peça), mecanismos de deformação plástica (fluxo do material) até o equipamento utilizado e os requisitos do produto acabado. Estes fatores influenciam na seleção da geometria da peça bem como nas condições do projeto como, por exemplo: a lubrificação e a temperatura das matrizes (Semiatin, 1996). A conformação mecânica no processo de forjamento pode ser realizada pelo martelamento ou prensagem. No primeiro golpes rápidos e sucessivos são aplicados no material a ser conformado, produzindo deformações principalmente nas camadas superficiais, já no segundo o material fica sujeito à ação da força de compressão a baixa velocidade, produzindo alterações mais profundas e a deformação resultante torna-se mais regular se comparada ao martelamento (Chiaverini, 1986). 2.5.2 Forjamento em Matriz AbertaForjamento em matriz aberta ou forjamento livre, de acordo com Schaeffer (2001): “É caracterizado pelo fato de o material ser comprimido entre a matriz superior e a matriz inferior movimentando-se livremente nas direções de alargamento e alongamento. O material a ser forjado é segurado por um manipulador cujo movimento é combinado com o movimento da prensa” (Schaeffer, 2001, p.159). Freqüentemente, o forjamento livre é uma operação que visa preparar a forma da peça para um forjamento em matriz fechada ou laminação. São utilizadas matrizes planas ou de formas simples, sendo a mais aplicada em peças grandes e quando não for necessária a fabricação em larga escala (Schaeffer, 2001). 23 Figura 5 – Operação de esmagamento, deslocamento do material deformado na direção de alargamento (Fonte: Chiaverini, 1986). 2.5.3 Forjamento em Matriz Fechada No forjamento em matriz fechada ou simplesmente forjamento em matriz, duas ou mais matrizes são movimentadas para conformar um tarugo de metal a uma temperatura adequada (a quente, a morno ou a frio), com o objetivo de dar a forma da gravura na matriz à peça, ver figura 2. De acordo com Altan (1999) na matriz fechada o material a ser conformado deve atender dois requisitos básicos: “a resistência do material (ou tensão de escoamento) deve ser baixa para que a pressão na matriz possa ser mantida abaixo da resistência do material empregado na mesma”. “a capacidade de o material deformar sem romper (forjabilidade) deve ser suficiente para permitir a quantidade desejada de deformação.” (Altan, 1999). 24 Figura 6 – Tarugo de metal adquirindo a forma da gravura das matrizes (Fonte: Chiaverini, 1986). É necessária uma quantidade exata de material para preencher as gravuras das matrizes superior e inferior, porém, o cálculo da quantidade exata deste é muito complexo, então, emprega-se no processo uma quantidade um pouco maior de material para proporcionar uma boa margem de segurança no momento que este for ser confeccionado na matriz. Na periferia da gravura, um canal (calha) onde será depositado este em excesso e consequentemente deformado, receberá a denominação de rebarba (Dieter, 1986). Figura 7 – Canal ou calha de rebarba (Fonte: Dieter, 1986). 25 2.5.4 Forjamento a quente Forjamento a quente é realizado com o material aquecido acima da temperatura de recristalização e abaixo da temperatura de fusão ou o excesso de oxidação. Trabalhado a quente o material sofre, facilmente, grandes deformações sem o surgimento de trincas, e são eliminadas as heterogeneidades provenientes dos lingotes fundidos, também são exterminadas bolhas de gás, porosidades e a estrutura dos grãos colunares são quebradas e recristalizadas, produzindo grãos equiaxiais. Por produzir essas modificações o trabalho a quente promove o aumento da ductilidade e da tenacidade no material se for comparado com o seu estado pós- fundido (Dieter, 1986). O material trabalhado a quente em contato com o ar sofre oxidação na sua superfície, acabando por perder uma quantidade considerável de material. Outro fator que deve ser levado em conta na fabricação das matrizes empregadas nesse processo é a dilatação que o metal aquecido sofre esses dois fatores comprometem o acabamento superficial de peças produzidas a quente (Dieter, 1986). 2.5.5 Matrizes para Forjamento A fabricação das matrizes para o forjamento é parte importante do processo, pois a sua viabilidade econômica está relacionada à vida útil da ferramenta (matriz) e do custo por peça produzida. Sendo assim, a fabricação das matrizes deve ser realizada por métodos modernos, a partir de uma seleção criteriosa dos materiais apropriados, visando fornecer uma vida útil aceitável a um custo razoável. De acordo com a aplicação da matriz, o material selecionado para sua fabricação depende de três variáveis: Variáveis relacionadas ao processo – tamanho da cavidade da matriz, tipo de máquina usada e a velocidade de deformação, tamanho inicial do tarugo e sua temperatura, temperatura da matriz, lubrificação, razão de produção e numero de peças a ser produzido. Variáveis relacionadas ao tipo de carga na matriz – martelamento ou prensagem, tempo de contato entre a matriz e o metal que está sendo 26 deformado, temperatura máxima e mínima na matriz e números de ciclos ao qual esta última é submetida. Propriedades mecânicas do material da matriz – endurecimento, resistências: ao impacto, ao amolecimento térmico, a fadiga térmica e mecânica (Altan, 1999). 2.5.6 Direção de Fibramento No forjamento o material é submetido a grande deformação plástica durante o processo, a direção do fluxo do material e a taxa de deformação são parâmetros que estão diretamente ligados. Durante o forjamento a peça é submetida a uma modificação estrutural parcial que dar origem a uma direção final da microestrutura, este fenômeno, também é conhecido como direção de fibramento (Milesi, 2010). A figura 8 apresenta uma estrutura fibrosa de uma amostra. Uma consequência importante deste fibramento está relacionada às propriedades mecânicas, estas podem variar com a orientação do corpo de prova em relação às fibras. Já a ductilidade, tenacidade e as propriedades relacionadas à fadiga são menores na direção transversal (normal à fibra) do que na direção longitudinal (Dieter, 1986). Figura 8 – direção de fibramento revelada pelo macroataque (Fonte: Chastel, 2006). 2.6 Usinagem De forma geral, existem duas classes de manufaturamento de peças. Os processos de deformação (conformação mecânica) que produzem as formas nas 27 peças através da deformação plástica, onde o material sofre alteração da sua forma sem perder o seu volume de forma significativa. Os processos de usinagem dão forma às peças através da remoção de material em áreas selecionadas utilizando processos específicos. A maioria destes processos de usinagem é realizada através da aplicação da tensão localizada em uma determinada região da peça, utilizando o movimento relativo entre a ferramenta e o material (Dieter, 1986). A usinagem é uma operação de processamento secundária, geralmente, sendo realizada após o forjamento, laminação ou fundição. E, de acordo com Dieter a usinagem “é empregada geralmente para produzir formas com baixa tolerância dimensional, bom acabamento superficial e, frequentemente, geometrias complexas.” (Dieter, 1986). 2.6.1 Torneamento Neste processo a peça fixada no torno mecânico gira sobre o eixo principal e a ferramenta, que deve ter uma dureza superior ao do material trabalhado, se movimenta, descrevendo a trajetória necessária para dar a forma desejada a peça. Para realizar o processo são necessários três tipos de movimentos relativos entre a peça e a ferramenta: Movimento de corte – movimento que permite a retirada do material e é realizado pela rotação da peça; Movimento de avanço – realizado pelo deslocamento da ferramenta sobre a superfície da peça; Movimento de penetração – a ferramenta é empurrada em direção ao centro da peça produzindo a profundidade necessária para a fabricação da peça (Chiaverini,1986)(Rosa). 28 2.6.2 Retificação De acordo com Vieira et al (2000) apud Bianchi; “o processo de retificação tem entre os seus objetivos melhorar o acabamento superficial e garantir a integridade superficial dos componentes usinados, sejam eles tratados termicamente ou não. Entretanto, excessivas temperaturas geradas durante o processo de retificação podem causar danos térmicos aoscomponentes.” (Bianchi, 2000, pag. 1) Devidamente limpa a peça é fixada na mesa, sendo assim iniciado o processo com o movimento relativo entre a mesa e a esmeratriz, o atrito gerado no contato remove material da peça, em quantidades muito pequenas, até chegar ao acabamento desejado (Freire, 1978). 2.7 Exame metalográfico O exame metalográfico encara o metal sob o ponto de vista de sua estrutura, procurando relacioná-lo às propriedades físicas, composição, processo de fabricação e outros, de modo a poder esclarecer, ou prever seu comportamento numa determinada aplicação. O exame pode ser feito à vista desarmada (macrografia) ou com o auxílio de um microscópio (micrografia) (Colpaert, 1974). Estes exames são feitos em secções do material, polidas e atacadas com reativos adequados (Colpaert, 1974). Pela macrografia obtêm-se informes de caráter geral, um aspecto de conjunto sobre homogeneidade do material da peça, a distribuição, natureza e quantidade de certas impurezas, processos de fabricação e outros (Colpaert, 1974). Pela micrografia observar-se a granulação do material, a natureza, quantidade, distribuição e forma de diversos constituintes, certas inclusões e etc., que em seu conjunto conduzem a uma série de conclusões interessantes e de utilidade prática (Colpaert, 1974). 29 2.7.1 Macrografia A macrografia consiste no exame do aspecto de uma peça ou amostra metálica, segundo uma secção plana devidamente polida e em regra atacada por um reativo apropriado. O aspecto, assim obtido, chama-se macroestrutura. O exame é feito à vista desarmada ou com auxilio de uma lupa (Colpaert, 1974). Por intermédio da macrografia tem-se uma ideia de conjunto, referente à homogeneidade do material, a distribuição, natureza de falhas e impurezas provenientes do processo de fabricação. Para a macrografia o aço é o material de maior interesse. Algumas das heterogeneidades mais comuns nos aços são as seguintes: Vazio, causado pelo resfriamento lento; Segregação, causadas pelas impurezas e outros metais; Dendritas, formação de grãos de vários tamanhos; Trincas, devido às tensões excessivas no resfriamento. (Nascimento) Conforme Colpaert (1974), a palavra macrografia é também empregada para designar os documentos que reproduzem a macroestrutura, em tamanho natural ou com ampliação máxima de dez vezes. Para ampliações maiores, emprega-se o termo micrografia, porque são, em geral, obtidas com microscópio. 2.7.2 Micrografia Segundo Colpaert (1974), a metalografia (microscópica ou micrografia dos metais) estuda os produtos metalúrgicos com o auxilio do microscópio, visando a determinação de seus constituintes e de sua textura. Este estudo é feito em superfícies previamente polidas e, em geral, atacadas por um reativo adequado. Com um auxílio de uma técnica apropriada, consegue-se tornar visível a textura microscópica do material, pondo assim em evidência os diversos grãos de que o formam. A apreciação da natureza destes, suas respectivas porcentagens, suas dimensões, arranjo, formato e a interpretação destes dados constituem o escopo do exame micrográfico dos metais (Colpaert, 1974). 30 Com a microscopia óptica, o microscópio óptico é utilizado para estudar a microestrutura através de sistemas ópticos e de iluminação, os quais são os seus elementos básicos. Para materiais opacos à luz visível (todos os metais e muitos materiais cerâmicos e poliméricos), apenas a superfície do material está sujeita a observação, e o microscópio óptico deve ser usado em uma modalidade de reflexão. Os contrastes na imagem produzida resultam das diferenças na refletividade das várias regiões da microestrutura (Callister, 1999). Quando a microestrutura de uma liga com duas fases é examinada, seleciona-se um agente de ataque químico que seja capaz de produzir uma textura diferente para cada fase, de modo que as diferentes fases possam ser distinguidas uma das outras (Callister, 1999). 2.8 Ensaios Mecânicos São exames que possuem a finalidade de identificar as propriedades mecânicas de um determinado material, utilizando um corpo de prova preparado segundo uma norma específica de padronização, aplicando neste uma carga de modo a perceber o seu comportamento desde o início até o final do ensaio, sendo o resultado obtido após o teste através da medição de tensões e/ou deformações (Garcia, 2000). 2.8.1 Ensaio de Tração É um tipo de teste cuja finalidade é aplicar uma determinada carga de tração uniaxial em um corpo de prova preparado com dimensões regulamentadas pela norma ABNT NBR 6892, de modo que, a peça se deforme até os seus limites de resistência e cause ruptura, sendo os valores obtidos no momento da aplicação da tensão medidos por uma célula de carga e os alongamentos resultantes por um extensômetro ambos registrados em um software e interpretados, com o intuito de caracterizar as propriedades mecânicas presentes na amostra. Sabendo-se que os fatores: composição química, impurezas internas e ambiente de realização do ensaio poderão influenciar no comportamento do material no momento da realização 31 do exame, tornando-se necessário adequá-los aos requisitos propostos pela normalização (Garcia, 2000). 2.8.2 Ensaios de Dureza São métodos que visam realizar impressões localizadas em um corpo de prova por meio da aplicação de carga por um penetrador com o intuito de fazer com que este realize uma marcação ou risco em uma amostra que esteja de acordo com a norma, sendo a marcação mensurada e convertida em um dado valor, o qual irá adequar-se a um determinado índice de dureza e representar o valor final de resistência à deformação permanente do material (Garcia, 2000) (Callister, 2002). 2.8.2.1 Dureza Brinell É um método de teste que tem o objetivo de aplicar uma carga utilizando uma esfera com 10 mm de diâmetro composta por carboneto de tungstênio ou aço temperado, na superfície de uma determinada amostra: polida, lisa, plana e bem apoiada por um suporte, de modo a atender, aos requisitos previstos pelas normas ABNT NBR 6506, aplicando nesta uma carga constante durante certo intervalo de tempo, a depender do tipo de material a ser ensaiado, sendo o valor da deformação localizada, obtido pelo diâmetro da marcação feita pelo penetrador, e pelos critérios de tempo e carga aplicada, ambos uti lizados no momento do teste e registrados por tabela. O valor da dureza obtido após o teste é acompanhado pela escala HB (Garcia, 2000) (Callister, 2002). Contudo, a sua limitação baseia-se no fato de que este não pode ser utilizado em peças pouco espessas, até porque, a sua deformação gerada é consideravelmente grande quando comparada aos dos outros ensaios, tornando-se indicada para materiais que possuam estruturas internas não uniformes como, por exemplo, os ferros fundidos (Garcia, 2000) (Callister, 2002). 32 2.8.2.2 Dureza Rockwell Este ensaio apresenta-se com a finalidade de realizar uma deformação permanente e localizada na superfície de uma determinada amostra preparada segundo as normas ABNT NBR 6508. Uma pré-carga é aplicada pelo penetrador com o objetivo de eliminar a ação de eventuais defeitos superficiais e ajudar na fixação do corpo de prova no suporte. A carga principal produz uma impressão na amostra, sendo esta interpretada pelo durômetro, fornecendo, assim, um valor de dureza, este valor é sempre acompanhado pela escala HR (Garcia, 2000). Neste teste é permitido ensaiar praticamente todos os tipos de materiais,pois dois métodos podem ser aplicados, no caso: Rockwell superficial e convencional, sendo o primeiro destinado a ensaiar perfis de espessura mínima, utilizando os penetradores de formatos: esferocônico composto por diamante e esféricos com aço endurecido, já o segundo destina-se a testar amostras com espessuras convencionais, fazendo o uso de esferas de aço endurecido com tamanhos variados, utilizando pré-carga e carga principal, dependendo da extrema dureza da amostra torna-se necessário o uso do penetrador de diamante (Brale) e cargas semelhantes aos do Rockwell comum. Suas escalas obtidas ficam representadas pelos índices de acordo com o tipo de penetrador uti lizado: dureza superficial (HRT ou HRW penetradores esféricos e HRN para penetrador de diamante) e convencional (HRB, HRE, HRF, HRG, HRH ou HRK esferoidais e HRA, HRC, ou HRD para penetradores do tipo Brale) (Garcia, 2000) (Callister, 2002). 2.8.2.3 Microdureza Vickers e Knoop No método Vickers um penetrador de formato piramidal é comprimido em uma amostra preparada de forma a apresentar superfície bem lixada e polida seguindo os requisitos sugeridos pela NBR-6507, recebendo uma carga constante que pode variar de um material para o outro, obtendo-se após a retirada da força de compressão uma impressão de formato semelhante a um losango, o qual será mensurado pelo microscópio com escala na lente, e o valor achado pela média do comprimento das diagonais será interpretado de acordo com a comparação do 33 resultado da tabela do ensaio, obtendo-se, assim, o índice de dureza da amostra que deverá vir acompanhada pela escala HV (Garcia, 2000). A sua aplicação na indústria ocorre no levantamento de algumas curvas de tratamento termoquímico, sendo a deformação resultante, praticamente nula. Este exame atinge uma gama grande de materiais (Garcia, 2000) (Callister, 2002). No ensaio Knoop um penetrador com geometria semelhante a uma pirâmide alongada pressiona uma superfície de uma determinada amostra preparada segundo a norma ASTM E 384 com uma determinada carga que gera uma deformação localizada de geometria microscópica, sendo sua medição feita por um equipamento de microscopia cuja lente possui marcações para atender a esta finalidade, e o resultado obtido vir acompanhado pela escala HK (Garcia, 2000) (Callister, 2002). Suas aplicações ocorrem em peças muito frágeis como vidros, materiais cerâmicos ou camadas eletrodepositadas, onde a deformação resultante é praticamente nula (Callister, 2002). 2.8.3 Tração x Dureza Torna-se necessário quando possível à conversão das diferentes escalas de dureza por meio da tabela de conversão. Esta atitude é tomada na indústria quando o ensaio de dureza não consegue fornecer as propriedades desejadas de algumas peças, por exemplo: perfis que não conseguem ser ensaiados por tração. Justamente, neste momento o uso da tabela será necessário para encontrar e transformar um determinado valor da escala Rockwell para a HB (Brinell) que possa fornecer um tipo de resultado que se aproxime ao de tração em que se deseja obter informações sobre propriedades mecânicas. O ensaio Brinell é semelhante de teste com o ensaio de tração, pois, a carga é aplicada de maneira constante em um determinado intervalo de tempo e a amostra sofre a ação da força de maneira progressiva (Callister, 2002) (Garcia, 1999). 34 3. Procedimentos Experimentais 3.1 Análise Química 3.1.1 Metodologia Após o corte dos flanges os mesmos foram lixados na lixadeira ToolMix – LC421 (anexo I), com a lixa específica para aço-carbono A80, após o preparo dos corpos de prova foi realizado a espectrometria de emissão ótica na máquina Foundry – Master Pro da empresa Oxford Instruments (Anexo II). Foram realizadas quatro aferições sendo que a primeira foi descartada conforme procedimento padrão. 3.1.2 Resultados Nos resultados encontrados (ver Tabela 1), pode-se perceber que é um aço com um alto teor de Manganês (Mn). Tabela 1 – Composição química dos flanges Ni Co Sn Cu Nb As V N 0,088% 0,005% 0,02% 0,153% 0,003% 0,002% 0,10% 0,024% Fonte: Equipe 3.1.2 Conclusão Após a verificação do resultado e consultando o ASTM Handbook Of Comparative Weld Steel Standards, verificou-se que o material analisado é um aço carbono com alto teor de Manganês especificado como ASTM 1536. Fe C Si Mn P S Cr Mo 97,7% 0,321% 0,182% 1,21% 0,026% 0,020% 0,099% 0,013% 35 3.2 Macrografia 3.2.1 Metodologia A preparação do corpo de prova após o corte (ver Anexo III) foi realizada em duas etapas, a primeira usinagem para faceamento em seguida a retífica para planificar o corpo de prova. O ataque químico foi realizado com o reagente 50% HCl e 50% H2O aquecido a aproximadamente 70º C, o corpo de prova foi atacado no intervalo de tempo de 5 a 10 minutos. 3.2.2 Resultados A macrografia da peça A apresentou poucas estruturas dendríticas e linhas de fibramento pouco visíveis. Figura 09 – macrografia da peça A (Fonte: Equipe). Na peça B a macrografia apresentou fibras finas e recurvadas e ausência de estruturas dendríticas. 36 Figura 10 – macrografia da peça B (Fonte: Equipe). Na peça C percebe-se a existência de algumas linhas de fibramento. Figura 11 – macrografia da peça C (Fonte: Equipe). Na peça D a macrografia revelou a presença de estruturas dendríticas e linhas de fibramento pouco visíveis. . 37 Figura 12 – macrografia da peça D (Fonte: Equipe). A imagem da peça E, ficou sem foco, sendo inviável para a apresentação. Na peça F há a presença de estrutura dendrítica recurvada e linhas de fibramento não contínuas. Figura 13 – macrografia da peça F (Fonte: Equipe). 3.2.3 Conclusão A macrografia realizada em todas as peças apresentaram problemas tanto na revelação, que não atingiu as peças por completo, quanto na captura das imagens 38 que dificultou a observação e análise. Apesar das limitações, conseguimos observar a presença de linhas de fibramento continuas (Peça B), não continuas (Peça A) e linhas de fibramento pouco visíveis (Peça D). Além disso, percebemos a presença de estruturas dendriticas recurvadas bem visíveis (Peça F) e pouco visíveis (peça D). 3.3 Micrografia 3.3.1 Metodologia Os corpos de prova 1 e 2 foram extraídos das partes superior e inferior da peça, conforme figura 14. Estes foram submetidos ao lixamento com lixas: #120, #280, #360, #600 e #1200 e o polimento foi realizado na politriz POLIPAN 2 com alumina 1µm e ataque químico com reagente Nital 3%. Figura 14 – Corpos de prova extraídos da peça (Fonte: Equipe). 3.3.2 Resultados Antes da realização do ataque químico, capturamos imagens que nos possibilitaram verificar a existência de inclusões. No caso das peças A e F foram revelados um maior número de inclusões entre os materiais em estudo, sendo que na primeira peça foram encontradas inclusões alongadas. Após o ataque químico 39 nestas peças, percebemos através da revelação a existência de grãos refinados e uniformes em relação ao seu tamanho. Figura 15 – micrografia da peça A (Fonte: Equipe). Figura 16 – micrografia da peça F (Fonte: Equipe). Anteriormente ao ataque, a micrografia das peças B e E apresentaram poucas inclusões. Com a microestrutura reveada, estas exibiram grãos refinados e direcionados em um mesmo sentido. 40Figura 17 – micrografia da peça B (Fonte: Equipe). Figura 18 – micrografia da peça E (Fonte: Equipe). Nas peças C e D foram revelados grãos de tamanhos variados, mas com a predominância de grãos maiores. Nas micrografias sem o ataque químico, os níveis de inclusões foram semelhantes. 41 Figura 19 – micrografia da peça C (Fonte: Equipe). Figura 20 – micrografia da peça D (Fonte: Equipe). Como os corpos de prova foram visualizados em toda sua área, percebemos o aumento dos grãos a medida que foram visualizadas regiões próximas ao centro da peça. 3.3.3 Conclusão Pode-se perceber padrões nas texturas metalográficas das peças, pois estas puderam ser relacionadas em pares, por terem características metalográficas 42 semelhantes, além de que percebeu-se nestas a existência do crescimento progressivo dos grãos, a medida que a visualização micrográfica fosse saindo do raio periférico da peça para o centro desta. 3.4 Ensaio de Dureza 3.4.1 Metodologia Foi realizado o ensaio de dureza Rockwell no durômetro LC-200 RB – Future Tech (anexo IV), em um corpo de prova mapeado com nove pontos (anexo V), onde foi aplicada uma carga de 150 kgf. Os pontos 1 e 9 foram descartados, já que na aplicação da carga nestes pontos o corpo de prova ficou instável. 3.4.2 Resultados As peças A, C, E e F apresentaram valores de dureza próximos aos valores médios dos pontos, na peça B foram encontrados valores abaixo da média, já na peça D foram encontrados valores acima em todos os pontos. Tabela 2 – Valores encontrados nos corpos de prova na escala HRC. Pontos A B C D E F Média/Pontos 2 20,52 14,44 19,73 23,86 19,66 19,94 19,69 3 22,37 16,14 20,72 24,98 20,26 22,62 21,18 4 21,70 19,45 22,90 25,29 21,02 22,68 22,17 5 22,30 18,71 20,65 23,78 21,15 23,70 21,71 6 22,04 17,89 20,01 23,91 20,40 24,06 21,38 7 22,85 17,28 21,16 25,60 23,38 23,72 22,33 8 21,24 20,69 20,24 25,23 20,93 23,54 21,97 Média/Peça 21,86 17,80 20,77 24,66 20,97 22,89 Fonte: equipe 43 3.4.3 Conclusão Concluiu-se que os resultados obtidos apresentaram valores distintos em pontos que teoricamente deveriam apresentar resultados semelhantes, por exemplo: nos pontos 2 e 8 da peça B, devido a simetria do corpo de prova. 44 4. Análise dos Resultados Posteriormente a realização de uma extensa pesquisa sobre as diferentes vias de fabricação do aço (lingotamento contínuo, lingotamento contínuo com agitação eletromagnética e laminação), métodos de fabricação dos flanges estudados (forjamento), dos ensaios para caracterização da microestrutura (exames metalográficos) e análise das propriedades mecânicas (ensaios mecânicos) foram realizados através de procedimentos experimentais com o intuito de relacionar as características proporcionadas por tais vias de fabricação com as encontradas nos ensaios realizados nos materiais. Para determinarmos o material em estudo, foi realizada a espectrometria de emissão ótica e obtivemos o resultado encontrado na tabela 1 (pág. 33), comparando com os dados encontrados no ASTM - Handbook Of Comparative Weld Steel Standards (tabela 3) o material foi identificado como o ASTM 1536. Tabela 3 – Composição Química do Aço 1536. Norma Classe C Mn P S ASTM A29 1536 0,30 – 0,37 1,20 – 1,50 0,04 0,05 Fonte: ASTM - Handbook of Comparative Weld Steel Standards, 2002. Apesar de ter sido encontrado uma grande variedade de elementos químicos no material experimentado, os componentes de maior destaque foram o carbono (C) e o manganês (Mn) devido aos seus elevados percentuais. Comparando com diversos materiais de referência, o único material que apresentou seus elementos químicos dentro de uma faixa de tolerância adequada ao resultado foi o ASTM 1536. No entanto, os outros elementos não encontrados na tabela, mas que faziam parte do material em estudo são considerados como elementos residuais. Os resultados dos procedimentos experimentais apresentaram compatibilidade parcial entre as peças A e F. A macrografia da peça A apresentou linhas de fibramento pouco visíveis e algumas dendritas, já na peça F observamos estruturas dendríticas recurvadas e linhas de fibramento não continuas. As micrografias das peças A e F apresentaram grãos refinados e equiaxiais indicando serem provavelmente provenientes do lingotamento contínuo com 45 agitação eletromagnética, nesta via de fabricação o metal ainda líquido é agitado e solidificado mais lentamente, se comparado ao lingotamento continuo tradicional. Além dos grãos refinados e equiaxiais, a agitação eletromagnética quebra os braços das dendritas, interrompendo o crescimento destas, produzindo assim, resíduos de estruturas dendriticas. Na figura 21 pode ser visto o tamanho dos grãos de um mesmo material que (a) é provindo do Lingotamento continuo tradicional, (b) lingotamento continuo com agitação eletromagnética de baixa frequência e (c) de alta frequência. Figura 21 – micrografia de um mesmo material provindo do (a) lingotamento cont ínuo, (b) lingotamento contínuo com agitação de baixa frequência e (c) de alta frequência (Fonte: Pataric, 2008). No ensaio de dureza os valores obtidos (ver tabela 1) nas peças A e F estão diferentes apenas em 1 HRC. Nas peças B e E apresentaram compatibilidade nos resultados da micrografia, onde expuseram grãos refinados e claramente um direcionamento no mesmo sentido, estas características indicam que estes materiais são provindos da laminação. Nesta via de fabricação o material sofre esforços compressivos que resultam neste direcionamento como pode ser visto na figura 22. 46 Figura 22 – micrografia de um aço doce laminado. (Fonte: Colpaert, 1974) A macrografia da peça B (ver figura 10) apresentou linhas de fibramento finas e recurvadas que são características de materiais laminados, como pode ser visto na figura 23. Figura 23 – direções de fibramento de um material laminado e posteriormente forjado. (Fonte: Colpaert, 2008) Os valores obtidos no ensaio de dureza nas peças B e E (ver tabela 01) apresentaram uma grande diferença. A peça B apresentou os menores valores por pontos ensaiados. Foi realizada uma microdureza na região próxima aos pontos e os resultados foram equivalentes aos encontrados no ensaio de dureza. Isso pode ser explicado através da quantidade de inclusões encontradas na peça B, onde foram encontradas em menor quantidade dentre os materiais ensaiados, pois de acordo com Baptísta (2001), as inclusões acarretam alta concentração de tensões e são barreiras ao movimento atômico, tornando o metal mais resistente e menos dúcti l, por impedirem o descolamento das discordâncias, deixando claro que esta é uma 47 possibilidade, sendo necessário para confirmação desta hipótese, um maior número de procedimentos experimentais. Nas peças C e D, obtivemos através da macrografia, linhas de fibramento pouco visíveis e também a presença de estruturas dendríticas, semelhantes a vista na figura 24. Na micrografia encontramos grãos não uniformes e na sua maior parte grandes. Essa microestrutura é característica do processo de lingotamento contínuo, onde não há o resfriamento uniforme do material, ocasionando o crescimento exagerado dos grãos. Figura 24 – Macrografia com presença de estruturas dendriticas e pequena alteração promovida pela conformação a quente (Colpaert, 2008) Nos resultados obtidos do ensaiode dureza das peças C e D, apresentaram uma diferença considerável entre elas, sendo a peça D a de maior dureza entre as peças ensaiadas. Já em comparação as outras peças, em exceção a B, a qual já foi dita ter o menor valor, a peça D não possui essa diferença tão alta. Em todas as peças, as micrografias demonstraram um crescimento progressivo dos grãos à medida que se aproximavam do centro da peça, sendo este um indicativo que estas peças passaram por um processo de conformação mecânica, neste caso o forjamento. Observando a figura 25, percebe-se o crescimento progressivo dos grãos da peça C, em (a) os grãos mais próximos a 48 superfície da peça e menores, na (b) o tamanho intermediário e em (c) onde os grãos estão mais próximos do núcleo da peça tendo a maior dimensão. Figura 25 – micrografias do corpo de prova 2 da peça C. 100X (Fonte: Equipe). Nas micrografias das peças foram encontradas uma grande quantidade de perlita não compatíveis com a quantidade de carbono do aço em estudo, como pode ser visto na figura 26. Na comparação entre os aços (c) com 0,3% de carbono, (b) ASTM 1536 e (a) com 0,5% de carbono, pôde-se perceber que o material estudado apesar de conter 0,321% de carbono, contêm uma quantidade de perlita semelhante à encontrada no aço com 0,5% de carbono. Essa semelhança pode ser explicada pela quantidade de manganês contida no ASTM 1536, no qual este elemento, segundo o Colpaert (1974), “dificulta a difusão do carbono nos grãos de austenita. Mesmo com o esfriamento lento a quantidade de ferrita que se forma é por isso menor do que normalmente deveria ser. O aço parece, então, ter um teor de carbono mais elevado do que realmente tem”. 49 Figura 26 – micrografias de (a) um aço carbono com 0,5% de Carbono (Colpaert 2008 ), (b) da Peça B com aproximação de 100X e (c) de um aço com cerca de 0,3% de carbono (Colpaert, 1974). Nas micrografias com a maior aproximação (ver figura 27) as perlitas finas (mais claras) apresentam lamelas em alguns pontos. De acordo com Colpaert (1974), este constituinte surge quando existe um excesso de ferrita que não se separou no devido tempo. Figura 27 – micrografia da Peça A na posição 2 com aproximação de 1000X (Fonte: Equipe). 50 Conhecendo o material estudado (ASTM 1536) e consultando o ASM Metals HandBook - Properties and Selection Irons Steels and High Performance Alloys, obtivemos dados referentes as propriedades mecânicas deste material (ver tabela 4). Tabela 4 – Propriedades mecânicas do ASTM 1536. Fonte: ASM Metals HandBook - Properties and Selection Irons Steels and High Performance Alloys Para conversão dos valores encontrados no ensaio de dureza (HRC) foi consultada a norma ASTM E 140 – 07 (anexo VI). Os valores médios de dureza das peças foram transformados de Rockwell C para Brinell, seguindo a relação 3,45 x HB (Callister, 2002), foram encontrados os valores do limite de resistência à tração das peças (ver Tabela 5). 51 Tabela 5 – Limite de resistência à tração das peças. Peça Limite de Resistência a Tração (MPa) A 812,44 B 693,93 C 788,22 D 860,98 E 795,81 F 834,34 Fonte: Equipe Os valores encontrados de limite de resistência à tração das peças são superiores ao encontrado no material de referência (Ver Tabela 4). Isso é esperado, pois o processo de conformação mecânica altera algumas propriedades mecânicas, como por exemplo: os aumentos do limite de resistência à tração e dureza, reduções da tenacidade e ductilidade. 52 5. Conclusões Este trabalho nos possibilitou relacionar o aprendizado em sala de aula com os experimentos realizados no projeto, além disso, nos familiarizarmos com a abordagem técnico-científica dos conteúdos necessários para o desenvolvimento do projeto. De acordo com os resultados dos procedimentos experimentais e das características promovidas pelas diferentes vias de fabricação do aço e do processo de conformação mecânica, pôde-se constatar a compatibilidade entre alguns resultados e particularidades obtidas por estas vias e processo de conformação mecânica. Os resultados da micrografia permitiram a associação entre as peças de modo a perceber a semelhança entre elas com as características promovidas pelas diferentes vias de fabricação, contudo, outros resultados (macrografia e ensaio de dureza) não permitiram a mesma associação, sendo necessária a realização de outros experimentos que possam ser conclusivos. Visto que de acordo com a literatura e a comprovação nos procedimentos experimentais, o aço em estudo (ASTM 1536) possui boa resistência mecânica, uma considerável resistência ao impacto, porém não tão boa soldabilidade e usinabilidade, com isso, este aço poderá então, ser largamente empregado na construção civil, mecânica, indústria de móveis, autopeças, tubos e outros segmentos. 53 6. Referências Bibliográficas ARAUJO, Luiz Antonio. Manual de Siderurgia. São Paulo: Editora Arte & Ciência, 2005.v.1. Obra em 2 v. – v. 1 p. 470. CHIAVERINI, Vicente. Tecnologia Mecânica. v. 3: materiais de construção mecânica. 2.ed. São Paulo: Mcgraw-Hill, 1986. MOREIRA, Marcelo F. Siderurgia. Disponível em: <http://www.dalmolim.com.br/EDUCACAO/MATERIAIS/Biblimat/siderurgia2.pdf>. Acesso em 28 abr.2012. MOURÃO, Marcelo Breda. Introdução a Siderurgia. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, 2007. TANCREDO, Giovanni Angelo, SANTOS, Nicolau de Almeida. 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