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Autor correspondente: Eva Teresinha de Oliveira Boff, Ligia Beatriz Bento Franz. Rua do Comércio, nº 3000, Bairro Universitário, Ijuí/RS, Brasil, CEP 98700-000. Fone: (055) 33320461. E-mail: evaboff@unijui.edu.br, ligiafra@unijui.edu.br. Nome: Resumo Contextualização: Realiza-se um estudo com um grupo de estudantes universitários que, pela sua formação profissional, apresentam algum nível de responsabilidade quanto a promoção de bons hábitos alimentares e um estilo de vida mais saudável. Com as mudanças de hábitos de vida que facilitam uma vida sedentária e com hábitos alimentares inadequados a investigação destes fatores na vida adulta é necessária. Objetivo: verificar o consumo alimentar e nível de atividade física em estudantes universitários, de uma instituição de ensino superior, na perspectiva de compreender se estes futuros profissionais da área da saúde estão cientes de suas responsabilidades. Métodos: estudo quantitativo com delineamento descritivo e transversal, realizado com 31 estudantes formandos de uma Universidade do interior do noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2011. O consumo alimentar foi colhido por meio do registro de três dias. A análise de adequação para energia e nutrientes considerou calorias, macronutrientes, ferro, cálcio e vitamina C, utilizando-se como adequados entre 90 a 110 %; inadequado < 90 % e > que 110%. As análises dos inquéritos, assim como suas adequações foram realizadas pelo software Diet Pro. Para avaliar o nível de atividade física foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade Física–IPAQ versão curta. Resultados: Verificou-se nesse estudo que apenas dois estudantes (6,5%) encontraram-se em nível adequado para o consumo alimentar relacionado à energia; para proteínas, 12 (38,7%); carboidratos, 9 (29,0%); lipídios, 11 (35,5%); ferro, 2 (6,5%); cálcio, 2 (6,5%) e vitamina C, 3 (9,7%). Em relação à atividade física encontraram-se 16 estudantes (51,6%) ativos; um (3,2%) sedentário; dois (6,5%) irregularmente ativo A; 5 (16,1%) irregularmente ativo B e 07 (22,6%) muito ativos. Conclusão: Apesar da população de estudo ser composta por estudantes universitários de cursos que trazem em suas ementas discussões sobre essas questões, o que poderia representar mudanças para um estilo de vida mais saudável, menos de 50% dos estudantes encontram-se com o consumo alimentar adequado para todas as variáveis. Para a atividade física os dados mostram que a metade dos estudantes são ativos, acentuando-se no curso de Educação Física, cujas atividades são inerentes a essa formação profissional. Palavras chaves: consumo alimentar; atividade física; universitários. Abstract Background: A study was carried out with a college student group who, by their training, has some level of responsibility for promoting good eating habits and a healthier lifestyle. With changes of the life habits towards a sedentary lifestyle and inadequate eating habits, the investigation of these factors in adulthood is needed. Objective: To verify the level of food intake and physical activity in college students of a higher education institution, in order to understand if these future healthcare professionals are aware of their responsibilities. Methods: A quantitative study with descriptive and cross-sectional design was conducted with 31students graduated from a university in the northwest region of Rio Grande do Sul state, in 2011. Food consumption was collected through the period of three consecutive days. Calories, macronutrients, iron, calcium and vitamin C were considered for the analysis of adequacy. Adequate energy and nutrients levels was considered between 90 to 110%; inadequate <90% and >to 110%. The analysis of surveys and their adjustments were made by the software Diet Pro. To assess the level of physical activity we used the International Physical Activity Questionnaire, IPAQ short version. Results: It has been found that only 2 students (6.5%) met the appropriate level for food consumption related to energy; for proteins, 12 students (38.7%); carbohydrates, 9 (29.0%); lipids, 11 (35.5%); iron, 2 (6.5%); calcium 2 (6.5%); and vitamin C, 3 (9.7%). Regarding physical activity 16 students (51.6%) were classified as active; 1 (3.2%) sedentary; 2 (6.5%) irregularly active A; 5 (16.1%) irregularly active B; and 07 (22.6%) very active. Conclusion: even though the target population of this study is comprised of students that regularly discuss these issues in their courses, which could stimulate changes for healthier lifestyles, less than 50% of students find themselves with an adequate food intake for all variables. For the physical activity, the data show that half of the students are active, particularly in the Physical Education course, whose activities are associated with such training. Keywords: food intake, physical activity, college students. Introdução Atualmente existe um amplo debate sobre as possibilidades de melhoria da qualidade de vida, sendo que um dos desejos das pessoas é ter uma vida longa e saudável. Sabe-se que um estilo de vida sedentário pode ter influência direta no início, no desenvolvimento e na recuperação de vários problemas vasculares e metabólicos e, que a prática de atividade física regular é reconhecida como sendo uma medida capaz de diminuir os níveis de risco desses problemas. Sendo assim é importante que as pessoas conscientizem-se e promovam ações na perspectiva de obterem melhor qualidade de vida. Nesse sentido é necessária a adoção de mudanças para hábitos saudáveis, optando por uma alimentação e atividades físicas prazerosas e adequadas, para conseguir bons resultados (MARCHESONI et al., 2010). As mudanças que ocorreram nos padrões alimentares nas últimas décadas, como o aumento do consumo de açúcares simples, alimentos industrializados e ingestão insuficiente de frutas e hortaliças, contribuem diretamente para o ganho de peso da população (TORAL; SLATER; SILVA, 2007). Por outro lado, evidências confirmam que a prática de atividade física pelos jovens tem relação inversa com o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade, além de exercer um efeito positivo na qualidade de vida. A importância da manutenção de uma vida ativa também é justificada pelo fato de que os padrões de atividade na adolescência determinam parte dos níveis de atividade física na idade adulta (BARUKI et al., 2006). A relação da atividade física e da alimentação com a saúde é estudada há muitos anos, tendo como resultados a confirmação de que a prática de atividade física regular e uma alimentação equilibrada atuam diretamente na prevenção das doenças crônicas não transmissíveis (MARCONDELLI; SCHMITZ; COSTA, 2008). Os maus hábitos alimentares dos universitários podem ser influenciados pelos novos comportamentos e relações sociais, sugerindo indícios de transtornos alimentares em alguns alunos que, ansiosos, podem transformar a alimentação em “válvula de escape” para situações de estresse físico e mental (VIEIRA et al., 2002). Um estudo realizado com estudantes universitários de cursos da área de saúde de uma universidade da Espanha demonstrou, como principais achados, a inadequação dos hábitos alimentares (79,7%) e o alto nível de sedentarismo (65,5%) entre os estudantes da área de saúde, não se incluindo nesta afirmação os alunos do Curso de Educação Física, que se destacaram por serem mais ativos fisicamente, já que praticam atividade física como parte da própria grade curricular. Portanto, considera-se importante a realização de estudos que investigam o consumo alimentar, atividade física e estilo de vida em universitários,para a implementação de programas de saúde e qualidade de vida, bem como ampliar e aprofundar as discussões sobre essa temática. Assim, esta pesquisa teve como objetivo analisar o consumo alimentar e a prática de atividade física em estudantes universitários, formandos de uma Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Metodologia Apresentam-se os resultados de um estudo quantitativo com delineamento descritivo e transversal, realizado com acadêmicos de ambos os sexos, formandos de uma Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. A escolha da amostra pesquisada justifica-se por entender-se que estes estudantes já vivenciaram discussões sobre essa temática, as quais poderiam promover mudanças nos hábitos alimentares e na prática de atividade física. Também, entende-se que esses profissionais têm o compromisso de auxiliar a população de sua abrangência profissional, na promoção de um estilo de vida saudável. No início da coleta de dados foram contatados 54 alunos, mas apenas 31 concordaram em participar da pesquisa e retornaram com os dados solicitados. A coleta de dados foi realizada durante o período de 05 de julho a 30 de setembro de 2011, mediante agendamento, nas dependências da Universidade, sendo realizada avaliação nutricional individual e aplicado um questionário estruturado. O critério de inclusão na amostra foi estar matriculado no último semestre de um dos cursos de graduação da Universidade, que apresentam alguma interface entre a temática e área de atuação profissional, sem limite de idade. Foram excluídos os estudantes que estavam com os dados incompletos, aqueles que não estavam presentes em sala de aula quando realizada a pesquisa, ou que não aceitaram participar da mesma. Para início das atividades foi realizado o convite aos acadêmicos, esclarecendo os objetivos e os aspectos éticos da pesquisa. Após a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e concordância dos acadêmicos, foi solicitada a assinatura do mesmo e realizada a avaliação. As informações e dados coletados foram obtidos e registrados por meio de questionário aplicado nas turmas nos horários das aulas, com a autorização dos professores. Foram registradas as informações como, sexo, idade, massa corporal, estatura. Para avaliar o nível de atividade física foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ versão curta (CELAFISCS, 2010a) no qual os estudantes relatavam as atividades desenvolvidas diariamente. O questionário aplicado foi o instrumento validado internacionalmente e avaliado de acordo com a classificação do nível de atividade física específica (CELAFISCS, 2010b). Os dados sobre consumo alimentar foram obtidos por meio do registro de três dias alternados, incluindo um dos dias do final de semana. Os acadêmicos receberam para orientação um manual de registro dos alimentos e bebidas consumidos no período do estudo. O registro alimentar estimou a quantidade de calorias e nutrientes da dieta a partir de dados referentes ao número de refeições e horários para realizá-las, tipos de alimentos consumidos, porções e local de consumo. A análise de adequação para nutrientes e energia considerou os parâmetros propostos pelo Institute of Medicine (CUPPARI, 2005). considerando calorias, vitamina C, ferro, cálcio e macronutrientes, com auxílio do software Diet Pro. Após as avaliações e aplicação dos questionários, foram revisadas, padronizadas as questões abertas e os dados foram digitados em uma planilha do Excel para tabulação e análises estatísticas no software Epi info versão 3.3.2. Este estudo foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade, sendo aprovado com parecer consubstanciado número 085/2011, e foram adotados os procedimentos descritos na resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/1996. Alguns resultados foram informados e discutidos com os estudantes no momento da avaliação nutricional. No entanto, como os estudantes eram formandos, não foi possível discutir posteriormente as respostas dos questionários. Resultados Os 31 estudantes que constituíram a população de estudo deste trabalho estavam distribuídos entre quatro cursos da seguinte forma: quatro alunos do curso de Ciências Biológicas (12,9%), oito alunos do curso de Pedagogia (25,8%), 15 alunos do curso de Nutrição (48,49%) e quatro alunos do curso de Educação Física (12,9%) (Tabela 1). Na tabela 01 também são apresentados dados sobre sexo, e sobre os hábitos de fumar e consumir bebida alcoólica. Quanto ao hábito de fumar dois estudantes (6,5%) afirmaram que são fumantes e 29 (93,3%) dizem que não fumam. Ao serem questionados quanto à ingestão de bebida alcoólica, 12 estudantes (38,7%) relataram ingerir bebida alcoólica. As respostas sobre a frequência de ingestão variaram de raramente, a quatro vezes por semana e 19 estudantes (61,3%) responderam não ingerir bebida alcoólica. A idade média dos entrevistados foi de 23 anos (± 4,96), sendo a idade mínima de 20 e a máxima de 42 anos. A média do peso da massa corporal dos estudantes foi de 65 kg, variando de 45,3 a 89,6 kg (± 13,97). Para a estatura a média foi de 165 cm, com o mínimo de 152 cm e o máximo de 182 cm (± 7,33). Quanto ao estado nutricional (tabela 2) 58,1% dos estudantes apresentaram eutrofia e 29%, sobrepeso. Observou-se associação estatística (p=0,003) entre IMC e cursos frequentados pelos alunos. Entre os alunos do Curso de Nutrição se observou o maior percentual de eutrofia. No Curso de Pedagogia 37,5% eram eutróficos e no curso de educação física todos os alunos apresentaram sobrepeso. No curso de Biologia dois dos alunos (50%) estavam em sobrepeso. Quanto aos dados de atividade física segundo o IPAC (tabela 2), observou-se que do total de 31 estudantes, 16 (51,6%) são ativos e sete (22,6%) muito ativos. Quando se observam estes dados por curso, entre os estudantes do Curso de Nutrição apenas um referiu ser sedentário (3,2%), sendo os demais 10 estudantes deste curso (66,7%), ativos e quatro (26,6%) muito ativos. No curso de Pedagogia quatro alunos (50%) referiram ser ativos e no curso de educação física, três (75,0%) se consideraram como muito ativos. Entre os alunos do curso de Biologia apenas um foi considerado ativo. Sobre o consumo de alimentos (tabela 2) a média estimada para o gasto energético da amostra foi de 2377 (± 841,74) kcal per capta, com um mínimo de 1828 kcal e máximo de 4057 kcal. Os valores encontrados tiveram uma média de 1728 (± 663,58) kcal, variando de 829 a 3790 kcal. A maioria dos estudados (80,6%) apresentaram um consumo energético menor do que se esperava: apenas 6,5% dentro do adequado e 6,5% a cima do adequado. A distribuição dos carboidratos (CHO) nos registros alcançou uma média de 52% (±8,42) do valor energético total (VET), apresentado o mínimo de 32% e o máximo de 66%. Quando se observa o consumo de carboidratos por curso verifica- se que o consumo foi abaixo do esperado em todos. Destaca-se uma maior adequação no consumo de proteínas para o curso de Nutrição, 53,3% e 75% acima do adequado para os demais cursos. A distribuição dos lipídios (LIP) encontrou-se a cima do adequado na maioria dos estudantes (64%), contemplando todos os cursos. A distribuição do mineral ferro e cálcio, de vitamina C na maioria dos entrevistados apresentaram um consumo abaixo do recomendado. O consumo que apresentou menor inadequação foi com os macronutrientes, sendo encontrada adequação para carboidratos em 37,5% dos universitários sedentários e em 26,1% dos ativos; para as proteínas foiencontrado adequação em 12,5% nos sedentários e em 47,8% nos ativos; e, para os lipídios a adequação foi em 37,5% nos sedentários e em 34,8% nos ativos (tabela 3). Discussão Este estudo analisou o consumo alimentar e nível de atividade física em estudantes universitários, formandos das áreas de saúde e educação. Apesar deste estudo não ter representatividade populacional, pois alcançou-se uma amostra composta por 31 estudantes e ter verificado apenas características específicas dos estudantes da universidade, os dados em relação ao consumo alimentar são semelhantes aos encontrados em outros estudos (MARCONDELLI; SCHMITZ; COSTA, 2008; GIL e RAMOS, 2009). Quanto ao estado nutricional dos estudantes, observou-se que a maioria (58,1%) apresentou eutrofia. Constatou-se que os alunos do curso de Nutrição apresentaram o maior percentual de eutrofia (93,3%), no curso de pedagogia 37,5% eram eutróficos, no curso de Biologia 50% dos alunos estavam em sobrepeso e no curso de Educação física todos apresentaram sobrepeso. Portanto, a pesquisa mostra que a formação acadêmica influencia no estilo de vida dos estudantes, por isso torna-se necessário implementar discussões sobre a temática, em cursos que não têm como foco principal ações de promoção à saúde, de prevenção de doenças resultantes e/ou influenciadas pelo estilo vida. Quanto aos dados de atividade física, observou-se que a maioria dos estudantes (74,2%) são ativos ou muito ativos. Os maiores percentuais de estudantes ativos estão distribuídos nos cursos de Nutrição e Educação Física. Um estudo (MARCONDELLI; SCHMITZ; COSTA, 2008), realizado com cursos da área de saúde de uma universidade pública em Brasília (DF) demonstrou como principais achados, a inadequação dos hábitos alimentares (79,7%) e alto nível de sedentarismo (65,5%) entre os estudantes da área de saúde, não se incluindo nesta afirmação os alunos do Curso de Educação Física, que se destacaram por serem mais ativos fisicamente, já que praticam atividade física como parte da própria grade curricular. A avaliação realizada somente levou em conta se os hábitos alimentares estavam adequados ou inadequados, Observou-se ainda que, em relação ao estado nutricional e o nível de atividade física, 77,7% dos estudantes que apresentaram sobrepeso eram ativos ou muito ativos. Destaca-se que a avaliação do estado nutricional é de grande importância na prática clínica e não dispõe de padrão-ouro para diagnóstico das desordens nutricionais, pois o melhor método depende dos objetivos da avaliação (ACUÑA e CRUZ, 2004). O IMC não é um bom indicador de estado nutricional para indivíduos muito ativos porque, no caso, o peso nominal da balança pode estar relacionado com a massa muscular e não com a gordura corporal. Sendo assim devem ser utilizados também outros marcadores, como a circunferência da cintura ou bioimpedância. Há uma relação complexa entre a obesidade e o uso de álcool (ROHRER et al., 2005; JOHN et al., 2005). Esse se apresenta como fator de risco que contribui para o sobrepeso e a obesidade, visto que a bebida alcoólica possui elevado valor energético. Há estudos evidenciando (BITSORI et al., 2009) que o consumo abusivo de álcool colabora de forma complexa para o aumento do IMC entre indivíduos do sexo masculino, por favorecer o armazenamento de lipídios e, consequentemente, o ganho de peso. Os estudos indicam associação entre o uso do álcool com a obesidade, mostrando que as pessoas com consumo moderado de bebida alcoólica têm menos de 1% de chance de ser obesas, quando comparadas aos abstêmios. Já as pessoas que ingeriam mais de quatro doses ao dia apresentaram 46% de chance de serem obesos, quando comparados com os que não bebiam (JOHN et al., 2005). Verificamos através da pesquisa que dos estudantes que relataram ingerir bebidas alcoólicas, 50 % encontravam-se em sobrepeso. A energia que uma pessoa precisa diariamente para manter um adequado estado nutricional depende de seu gasto energético, o qual é determinado pelo metabolismo basal, nivel de atividade física e termogênese causada pelos alimentos (GIL e RAMOS, 2009). Quanto ao consumo calórico a maioria dos estudados (80,6%) apresentou um consumo energético menor do que esperava. Verifica-se que nosso estudo, quanto ao consumo calórico, se assemelha a estudo realizado com estudantes universitários da Universidade Autônoma de Madrid, ou seja, inferior ao recomendado por meio dos cálculos de gasto energético (GIL e RAMOS, 2009). Os valores encontrados foram de 1.926,41 Kcal ao dia em média, indicando que 75% dos entrevistados, afirmaram ingerir menos calorias do que as recomendações para a população espanhola. Os valores encontrados por nós tiveram uma média de 1.728 kcal, sendo que a maioria dos estudados (80,6%) apresentou um consumo energético menor do que se esperava. No entanto, cabe considerar que o registro utilizado como instrumento de medida apresenta a limitação de subestimar o real consumo alimentar, visto que os estudantes não foram acompanhados durante os registros. Porém, a diferença observada entre os valores encontrados e os recomendados para ingestão de energia e nutrientes apresentam-se muito evidentes, não podendo ser atribuídas apenas à limitação do instrumento utilizado, mas também a um hábito alimentar inadequado. Neste estudo o consumo de CHO foi abaixo do recomendado nos estudantes dos diferentes cursos, diferentemente do consumo de proteínas e lipídios que se encontraram acima do adequado. Isso pode estar relacionado com o consumo de refeições pequenas, ricas em gordura e proteína, como os lanches. Estes dados também podem ter influência cultural, visto que no Rio Grande do Sul, a maioria da população tem o hábito de consumir muita carne com alto teor de gordura, em especial no churrasco, cardápio principal da maioria das famílias gaúchas, nos finais de semana. O registro alimentar inclui, necessariamente, um final de semana. Assim como no estudo realizado na Espanha (GIL e RAMOS, 2009), nossos dados mostram que a distribuição dos nutrientes se afasta das RDAs para a população brasileira, de forma que assim como na Espanha, têm-se dietas hipoglicídicas, hiperprotéica e hiperlipídicas. Ao considerarmos o consumo dos minerais, ferro, cálcio e vitamina C, a maioria dos estudantes apresentou consumo abaixo do recomendado. Preocupa especialmente o fato de que 77,4% dos entrevistados apresentaram um consumo de ferro abaixo do recomendado, levando em consideração que a baixa ingestão de ferro pode causar sérios danos ao organismo humano, visto ser um nutriente essencial em inúmeras reações metabólicas, incluindo o transporte de oxigênio. Portanto, a falta de ferro leva á anemia, prejudicando também a função e a capacidade muscular. Para a vitamina C, 58,1% apresentaram consumo abaixo do esperado, lembrando que ela é um excelente antioxidante, além de atuar na absorção do ferro, transformando-o do estado férrico para o ferroso, possibilitando assim sua absorção para a corrente sanguínea. É no estado ferroso que se torna possível transportar o oxigênio, dos pulmões até o interior de todas as células. Quanto ao mineral cálcio, 87,1% dos estudantes apresentaram um consumo abaixo do recomendado, que associado ao baixo nível de atividade física, representa um fator de risco para o desenvolvimento de doenças ósseas em idades mais avançadas, como a osteoporose. O cálcio, principal mineral que atua na formação da massa óssea, é essencial para a coagulação sanguínea, agregação plaquetária, tendo ainda um papel importantíssimo na contração muscular (BIESEK;ALVES; GUERRA, 2005). Não foi encontrada associação (p ≤ 0,05) entre o consumo alimentar e a atividade física, já que a maioria da população apresentou inadequação no consumo tanto de energia quanto de macronutrientes, ferro, cálcio e vitamina C. A relação entre o consumo alimentar, prática de atividade física e estilo de vida com a saúde é estudada há muitos anos, sendo que resultados de estudos4 confirmam que a prática de atividade física regular e uma alimentação equilibrada, atuam diretamente para prevenir as doenças crônicas não transmissíveis. A qualidade de vida, por sua vez, está relacionada diretamente com a prática diária de atividade física e a alimentação equilibrada e saudável, que em associação a abstinência ao tabagismo pode eliminar até 80% das chances de desenvolvimento de doenças cardíacas, e 70% do aparecimento de alguns tipos de câncer. A escolha errada dos alimentos, o seu consumo em grandes quantidades, ou a associação ao consumo do álcool, aumentam as chances do desenvolvimento de doenças como câncer, doenças cardíacas, distúrbios digestivos, diabetes e obesidade (PERCEGO, 2002). Conclusão Ao realizar este estudo com estudantes universitários formandos da área de saúde e educação, investigaram-se o consumo alimentar e o nível de atividade física, com a expectativa de encontrar uma população condescendente com sua posição profissional futura, pois, serão eles os disseminadores dessas informações. No entanto, apesar do perfil da amostra, observou-se um alto percentual de inadequação no consumo alimentar, sendo assim, acredita-se não ser correta a associação entre o conhecimento teórico e a mudança real no estilo de vida. Isso indica a importância da realização desses estudos, com jovens estudantes, a fim de contribuir na sensibilização para adoção de hábitos saudáveis. Apesar de que na idade adulta, a mudança de hábitos torna-se difícil, ainda é possível, pois o trabalho dos profissionais da saúde também é contribuir para uma reeducação alimentar mais saudável e mudança do estilo de vida das pessoas, independente do estágio da vida em que se encontram. Referências MARCHESONI, C.; MARTINS, R.; SALES, R.; SALES, R.; BORRAGINE, S.O.F. Método Pilates e aptidão física relacionada à saúde. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010. http://www.efdeportes.com/. TORAL, N.; SLATER, B.; SILVA, M.V. Consumo alimentar e excesso de peso de adolescentes de Piracicaba, São Paulo. Rev Nutr, V.20, p. 449-459. BARUKI, S.B.S.; ROSADO, L.E.F.P.L; ROSADO, G.P.; RIBEIRO, R.C.L. Associação entre estado nutricional e atividade física em escolares da Rede Municipal de Ensino em Corumbá, MS. Rev. Bras. Med. Esporte, v.12, p.90-94, 2006. MARCONDELLI, P.; SCHMITZ, B.A.S.; COSTA, T.H.M. 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