Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Por Professor Luiz José Veríssimo (junho 2017) Principais bases epistemológicas da Psicoterapia Vivencial Filosofia existencial (Sartre) A fenomenologia (Husserl) A filosofia existencial de Sartre Frase-paradigma: A existência precede a essência (O existencialismo é um humanismo, 1987). A essência é o mesmo que na filosofia se chama ser. O ser na Filosofia é o fundamento, a essência de alguma coisa. No nosso caso, humano, o nosso ser é quem somos. “Quem sou eu?”. O que sou? Uma fraude, um romântico, um exagerado, um desesperado, uma pessoa de fé, um botafoguense, um homem casado, um pai, um artista, um preterido, um herói, um covarde? Quem sou eu, afinal? E o que é a nossa existência ? Quando afirmamos que a existência precede a essência queremos dizer que a nossa existência é quem constitui a nossa essência, o nosso ser. A nossa essência (existência) x essência das coisas, natureza, conceitos, Deus A nossa essência é diferente da essência das coisas materiais, da natureza, dos conceitos 2 ou de Deus. Todas elas, Sartre considera realidades acabadas, fechadas em si mesmas, fadadas a serem o que elas são. Os objetos foram fabricados para uma utilidade previamente determinada. Os entes naturais, ou pelo menos, grande parte deles, está sujeita à relações rígidas de causa e efeito. Tanto as coisas como os entes naturais. Não podem mudar, a não ser passivamente (por ação de forças causais – internas ou externas (instintos, condicionamentos), mas não a partir de si mesmas: não tem desejo ou consciência de si. São como rochas, estáticas, sendo corroídas ao longo do tempo. Deus, por sua vez, pode ser tudo que quiser, mas não precisa, ser mais nada daquilo que É, pois, é perfeito, o absoluto perfeito, nada falta a fazer em Deus. Não há falta em Deus, somente no ser humano. Heidegger: . O rochedo é, mas não existe. A árvore é, mas não existe. O anjo é, mas não existe. Deus é, mas não existe (Que é metafísica?, 1989 (Os pensadores), p. 59). 1 6 e 8 de junho 2017, às 7:15, na PUC. Prof. Rebeca, sala 206L. 2 O conceito precisa determinar que o que ele designa é. E precisa, além disso, discriminar o que o compõe do que se distingue dele. Por exemplo: casa é um abrigo para os seres humanos. Casa é diferente de cadeira = objeto para sentar (Veríssimo). 2 O ser-em-si e o ser-para-si Nossa essência, que, para o existencialismo é a nossa própria existência, Sartre chama ser Para-si. A essência das coisas materiais, dos conceitos, dos entes naturais, de Deus, Sartre chama ser em-si. Possibilidade: somos as nossas possibilidades Possibilidade é aquilo que ainda não está definido, é um destino em aberto, um caminho virgem à frente, uma página não escrita do nosso livro de nossa vida. Nosso ser é distinto do ser das coisas materiais, da natureza. Todas essas instâncias não podem ser outra coisa além daquilo que são. Como vamos agir, como vamos reagir, como vamos desejar, como vamos amar? Vamos continuar amando? Vamos continuar na fé ou na falta de fé? Quem determina isso? Resposta: como possibilidade, nada antecipadamente. Ou seja, se apresentam a nós possibilidades. Somente nas situações que envolvam fé, estaremos definindo e constituindo a nossa fé, ou a negando, ou a redefinindo. Somente no exercício da nossa afetividade estaremos definindo o nosso amar ou o nosso embotamento no amor, nossa disposição para o amor, nossa indisposição para o amor, nossas defesas nossas crenças, nossa mácula, nossa culpa no amor. Se, por um lado, somos as possibilidades, a vida também o é. Se nós não apenas estamos diante das nossas possibilidades, como as somos, por outro lado, a vida é um farto campo de possibilidades. Não podemos prever o que a vida vai nos ofertar. Podemos morrer, podemos cair, podemos encontrar alguém na próxima esquina que nos encante de uma maneira avassaladora, podemos conhecer pessoas, podemos nos deparar com um acontecimento que muda a nossa vida de ponta a cabeça, etc., etc. O sentido existencial de “nada” Por isso, o Para-si (o ser humano) é constituído como nada. Nada não é nada, caso contrário, nem estaríamos falando dele. O nada, em sentido positivo (efetivo), significa no Existencialismo: 1. Nada como sinônimo de possibilidade: o nada é como um espaço vazio a ser preenchido pelas nossas escolhas, e, por isso, o que é da ordem do nada não está definido, definitivo, acabado, resolvido, enfim, determinado. Somos uma indeterminação ambulante. Eis a nossa angústia. 2. Nada significa negação O ser humano recusa, nega, transcende, transgride o que foi determinado para ele, ou melhor, pode recusar, negar, transgredir... 3. Nada como falta O ser humano é falta, desejo de completar-se, “desejo de ser Deus”. O para-si não é o que é, e é o que não é (Sartre, O ser e o nada, 2001). 3 Desenvolvimento da personalidade: consiste na atualização de potencialidades latentes (inato, a priori, já é uma essência prévia à existência). Possibilidade: o que está em aberto, o “nada”. Vimos que somos as nossas próprias possibilidades. Novamente, perguntamos: Quem somos nós? Nós somos o que escolhemos. Nossa vida é nada mais, nada menos do que o que escolhemos, as nossas escolhas. A percepção disso é a angústia ! Escolha segundo o senso comum: o mesmo que o arbitrário Uma opção, e (mesmo uma ação ou intenção) que está sob o controle da minha vontade. Sinto-me com autonomia para decidir e agir, depende de mim. Escolha num sentido existencial A forma com que nos lançamos na existência. A forma com que nos posicionamos nas nossas várias possibilidades e situaações (“facticidade”) da existência. Com compreensão, compaixão, medo, raiva, de má-vontade, negando as situações, submetendo-nos a elas, enfrentando-as, nos contendo, tentando esquecer, apagar... A forma com que agimos, optamos, desejamos, amamos, odiamos, nos indignamos, entendemos, pensamos, julgamos são escolhas. A escolha é também a forma como damos sentido e valor A escolha é também a forma como damos sentido e valor... a nós mesmos, ao outro, às relações, ao mundo, às atitudes, ao conhecimento, à existência, enfim. Escolher, é, portanto, valorar e significar. Nem todas as escolhas são arbitrárias. Elas são passionais, vivenciais. Liberdade existencial x liberdade pelo senso comum Liberdade é fazer o que quiser, quando quiser, da maneira que quiser, sem restrições de espécie alguma. Isso é um desejo de uma liberdade idealizada, que não existe. 4 A liberdade significa assumir a responsabilidade pelas escolhas Isso é angústia. A consciência de que “sou eu quem escolhe/escolheu/escolherá”, nos põe de cara com a angústia existencial. Liberdade não significa que eu possa escolher tudo ou qualquer coisa Nem tudo eu posso escolher, mas o que não é possível é não escolher (O existencialismo é um humanismo). Liberdade e limites A liberdade dá-se sempre num contorno de limites: sociais, históricos, físicos, biológicos, psíquicos, materiais, etc. Ser livre significa escolher em situações concretas. É na sociedade em que vivo – com seus valores, crenças, comportamentos, que escolho. É com o meu psiquismo que escolho. Não escolhi, exatamente, o meu toc (transtorno obsessivo compulsivo), ou, pelo menos, ele parece fora de controle. Não escolhi a minha compulsão a comer ou a tomar drogas ou a beber; não escolhi o pânico de ficar sozinho. Mas, minha liberdade se constituiexatamente com o meu pânico. O ser-em-situação Descobrimos que a pessoa, não só como para-si, mas, igualmente como um ser-em- situação. O que faço com o pânico que sinto? = como escolho (liberdade existencial) o pânico que sinto (condição psíquica que parece se impor a mim)? Minha situação psíquica: Meu pânico pode ser sentido como fora de controle do meu arbítrio (da minha vontade). Parece, portanto, impor-se a mim. Minha liberdade: Mas como me posiciono em relação a ele? O que faço com ele? Como o escolho? O que faço de mim mesmo, a partir do pânico que sinto? Transformo num sentido que toma toda a minha vida. Vivo em função dele? Lido com ele de tal modo a tentar gritar para que as pessoas prestem atenção a mim? Negligencio-o constantemente, apenas me rendendo a ele quando não tem mais jeito? Escondo ele desesperadamente de todos? Dou um sentido de “vergonha”, ou seja, sinto vergonha ao ter meu medo de escuro, ainda, quando não sou mais criança? A má-fé é negar a autoria dos próprios atos, pensamentos, atitudes, numa só palavra, negar a responsabilidade pelas escolhas. A má-fé é a liberdade de negar-se enquanto liberdade. Me justifico segundo operadores causais: a sociedade me fez assim; a vida me fez assim; “sou virginiano, por isso sou tão metódico”, “sou neurótico (sou o meu diagnóstico)”. Como disse Tereza Erthal a má-fé é a escolha de não escolher, assim como optar por agir de má-fé, ou seja não assumir a autoria própria das escolhas e jogar a culpa em Deus e todo mundo, menos em mim. 5 “O inferno são os outros” (personagem Garcin da peça de Sartre Entre quatro paredes). Para Sartre, a angústia significa a percepção nítida que estou diante de minhas de possibilidades e de que deverei escolher qual possibilidade “entrar”, explorar, lançar- me. A percepção que estou condenado a escolher-me no mundo: a não escolha não passa de uma escolha. Escolha e angustiar-se Não posso “ter” todos os meus possíveis. Cada escolha implica descartar alguns possíveis e optar por outros. Nas palavras do jargão sartriano a angústia é definida como apreensão reflexiva da liberdade. Escolher é arriscar-se Isso implica em risco. Risco de perder – a segurança, a visão objetiva das coisas, pessoas amadas (afetar a relação, ofender, provocar “problemas”). Risco de “dar errado”, “de dar certo !” E, na terapia, se questiona: o que é “dar errado”? O que é “dar certo”? Risco, enfim, de sair da “zona de conforto”, do conhecido por pior que ela seja. Angústia e possibilidade Teoricamente, a angústia se constitui pelo nosso próprio ser de possibilidades. A angústia é a tônica afetiva, é um sentimento que se encontra presente o tempo todo em nosso ser. A angústia se constitui porque não somos um ser acabado, definido, nossa vida não está definida por antecipação: a cada momento a estamos desenhando, definido, ressignificando o passado (ou confirmando-o, repetindo-o). Na psicoterapia vivencial, repetir o passado tanto quanto ressignificá-lo envolve escolha. Ressignificar o passado envolve umna escolha de abrir-se para a angústia e deixa-la falar o que “somos”, o que sentimos, o que de fato desejamos. Projeto remete à ideia de futuro Somos um projeto porque estamos diante de possibilidades, diante de nosso futuro. Somos um ser que se projeta em direção ao futuro. Nisso, fazemos objetivamente, projetos, cultivamos sonhos, nutrimos esperanças. E agimos – escolhemos em função disso. Estamos sempre projetando como nos desejamos (ideais de eu), como desejamos ser – e por extensão como desejamos a nossa vida. 6 Sentido ontológico de projeto Somos um eterno projeto de ser. Somos o nosso ser e o nosso não ser ainda. Porque o nosso ser é eternamente inacabado, incompleto, falta, desejo de completar-se, ou seja, de realizar-se, de realizar possibilidades que vislumbra. O que é “ser psicólogo?” Essa pergunta não está bem formulada. Vamos refazer. “o que significa eu “ser psicólogo”? Um sonho? Uma autoafirmação? Uma identidade? Uma busca de reconhecimento? Uma busca de sentido? Uma busca de realização pessoal? Já sou, porque tenho um diploma? É o diploma que faz ser psicólogo? São as notas da universidade? São os pacientes? É o Código de Ética? É minha história? É minha compaixão pelo sofrimento humano no mundo? É um dom de Deus? O que é, afinal, ser psicólogo? Não sei de todo. Desconfio. Afirmo que ser psicólogo é “isso” ou “aquilo”, mas posso mudar minha visão, meu ser-psicólogo está em aberto todo o tempo. Ou melhor, ele tem um aberto, um indefinível, um ainda não escrito, algo que pode me surpreender e daí eu me refazer. Ele vem de uma história, mas, ao mesmo tempo, se faz como história agora, nessa aula, história escrita a cada momento; e estória a ser escrita (possibilidade enquanto futuro). Projeto no sentido de projetar-se nas possibilidades Além de um projeto, somo uma projetar-se perpétuo nas possibilidades. Cada ação minha é minha escolha, ao mesmo tempo uma das minhas possibilidades. Estou sendo me lançando em possíveis, que sou. Heidegger diz que posso me projetar nas possibilidades impróprias (o impessoal) assim como nas possibilidades próprias (“ser” eu mesmo). Sartre dirá posso escolher justificar-me na má-fé ou lançar-me numa atitude e consciência autênticas, regadas pela angústia. O projeto original é uma escolha fundamental de mim mesmo, que fundamenta as minhas demais escolhas. Todo gesto meu, pensar, imaginação, desejo está remetido ao meu projeto original, está ligado a ele no fim das contas. Projeto original como sentido que dou para minha existência Penso (Luiz) o projeto original como o sentido que dou para mim, para a minha vida, minhas relações, para o mundo. É a meta (objetivo) que traço para a minha vida, para onde ela aponta. Esse sentido funciona como uma espécie de decreto; Dou-me uma identidade essencial, ou seja, uma identidade e uma essência: “sou assim”, desse jeito. Escolho-me a partir desse sentido originário. Como trato a mim mesmo, como vejo a mim mesmo, como estimo a mim mesmo. Escolho o meu agir no mundo, os meus projetos objetivos a partir desse sentido original. 7 uma autoimagem O projeto original implica que vamos desenvolver uma autoestima uma visão de mundo correlata autoimagem Como me vejo: esperto, burro, capacitado, incapacitado, reconhecido, esquecido, rejeitado, ressentido, abandonado, cuidador, medroso, impulsivo, repelente, sedutor, romântico, flamenguista, politizado, sonhador, etc., etc. autoestima Como me sinto comigo mesmo; não é se gosto de mim; é se aceito, não aceito, me curto, me rejeito, me detesto, me sinto bem comigo, me sinto desconfortável comigo, etc. visão de mundo Como me vejo/estimo implica, numa relação diretamente proporcional, como vejo a vida, as pessoas, as relações, o mundo. Se me sinto frágil, posso estar vendo o mundo como ameaçador. Se me valorizo e apego à minha estética, posso estar vendo o mundo como um palco de competições pelo reconhecimento. Se me tenho ambições, posso estar vendo o mundo como um cenário de competições, onde sobrevivem os mais fortes. Se me desejo amoroso, posso estar vendo o mundo como precisando de cuidados e, desta feita, o mundo é frágil. Se me vejo frágil, posso estar projetando minha própria fragilidadeno mundo, me lançando nele no modo da solidariedade e do cuidado. No ver e no ser visto (o ser-para-outro) Minha subjetividade se constitui sempre junto ao outro. Toda subjetividade é intersubjetividade. O outro é o mediador indispensável entre mim e mim mesmo (O ser e o nada). Quem é o outro? Resposta: o outro é aquele que me olha. Sinto-me visto, flagrado pelo outro, o tempo todo. Nisso, olho para mim. E me percebo gordo, magro, bonito, feio, exagerado, disforme, contente, amoroso, detestável, louco, perdido, irremediável, desatento, descuidado, incapaz. Sinto-me flagrado pelo outro, olho-me e formo a minha autoimagem/autoestima. Ao voltar os olhos para mim, vejo-me pelas lentes do julgo do outro. Não, exatamente, de suas palavras, mas de seu olhar. 8 O outro me essencializa (o mito da Medusa) Seu olhar me condena a ser o que “sou”, me petrifica numa essência. O mito da Medusa. Não se pode olhar a medusa. Quem o faz é transformado em pedra. É como se me eternizasse nela. Posso até contestar, mas no fundo de meu ser, encontra- se esse olhar que me olha o tempo todo e me espia, diante do qual, por mais que me esconde, sinto-me nu. A batalha das consciências pelo reconhecimento Diante dessa exposição, que é a verdadeira exposição e não o que eu posto na Internet, a imagem que tento passar de mim, tento refazer esse jogo, virar esse jogo, como se diz. De olhador, essencializado pelo olhar do outro, tento passar a ser aquele que olha. Do ser visto, tento passar para o ver. Agora sou eu quem tenta essencializar. Ao olhá-lo confiro-lhe uma essência. Transformo-o em pedra, e assim garanto, ou, melhor restituo a minha liberdade perdida para a liberdade dele. Reivindico a restituição de minha liberdade que escoou na direção da liberdade dele. A vergonha (e o orgulho) Sartre considera a vergonha a estrutura por excelência do meu sentir-se visto pelo outro. Faço um gesto vulgar sem me preocupar com nada. De repente, percebo que alguém me olha Sinto-me flagrado pelo outro e sinto vergonha. Na verdade, ele pega duas “reações” afetivas como fundamentais: a vergonha e o orgulho. Muito grosseiramente, diríamos: a vergonha é eu de certa forma não me aceitar como sou. E o orgulho me aceitar como “sou”. A origem do eu Quando olho para mim, flagrado pelo olhar do outro, percebo-me como um Eu. Olho para mim a partir do momento em que me sinto visto pelo outro. Eis, aqui, a origem do Projeto Original, da minha autoimagem/autoestima. Todas as minhas escolhas estão fundadas no Projeto Original (autoimagem/autoestima/imagem de mundo). O eu como objeto (papéis sociais, submeter-se à normas de conduta (morais)) O eu social da criança se forma durante o processo de interação com as pessoas. O ponto de partida é a relação com os adultos (Erthal, Trilogia da Existência, 2013, p. 70). [e com as outras crianças, com os jovens, eu acrescentaria (Veríssimo)] . Assim, o eu aparece na conduta quando o indivíduo experimenta a si mesmo como objeto social, ou seja, quando assume atitudes ou emprega gestos que outro indivíduo normalmente usaria, assim como responde ou tende a responder a eles (Erthal, 2013, p. 71). 9 Nas interações da criança com o mundo da relação haverá uma interação entre as necessidades da criança e as necessidades do outro. Por vezes, convergente, por vezes conflitante, por vezes ansiolítico, por vezes partindo, por vezes chegando..., etc. Dessa interação surgem sentimentos como amor e ódio, por exemplo (Erthal, 2013, p. 71). O ser visto pelo outro quanto à criança A criança desde cedo aprende a adotar os valores e atitudes que se espera [dos papéis sociais a ele atribuídos] para obter reforço (Erthal, 2013, p. 71). Acrescentaria: para obter valor, identidade, afeto, reconhecimento, atenção... A criança responde a como entende que os pais, os cuidadores, as fontes de afeto por ela desejada a visam. Ela dá sentido ao olhar do outro, na verdade, ao sentir-se vista pelo outro (ou não vista como desejava) (Veríssimo). [...] A criança aprende que suas ações ora produzem alegrias ora produzem desagrado aos adultos (Erthal, 2013, p. 71). Percebendo que existe para alguém, ela toma consciência de que também é real para si mesma [o ser-para-outro] (Erthal, 2013, p. 71). É preciso deixar claro que a criança é um ser mais vulnerável do meio, o que não significa que não efetue uma avaliação sobre ela. À medida que o eu passa a ter uma existência mais forte, há a reflexão e a criança passa a julgar as determinações. Pode escolher ser para-o-outro ou buscar seu próprio caminho. Tudo dependerá do seu projeto de ser, isto é, da imagem que escolheu ter através das muitas experiências valoradas (Erthal, 2013, p. 71). Todo esse processo de determinar “quem somos” prolonga-se pela infância, marca a adolescência e penetra na idade adulta. É a determinação do projeto original: a pessoa cria uma imagem de si e realiza todas as suas escolhas a partir dessa opção primária (Erthal, 2013, p. 71). O projeto original pode ser mudado A cada momento estamos nos fazendo como pessoa em nossas escolhas. E, podemos, pela autoconsciência, escolher arriscar alterar nossa imagem, nosso sentido que damos a nós e a existência. Para isso, precisamos estar disponíveis para a angústia. Referências ERTHAL, Tereza Cristina Saldanha. Trilogia da Existência. Teoria e Prática na Psicoterapia Vivencial. Curitiba: Appris, 2013. HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica? Trad. de Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural, 1989 (Os Pensadores) SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Trad. de Rita Correia Guedes. São Paulo: Nova Cultural, 1987. _____. O ser e o nada. Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Trad. de Paulo Perdigão. 9ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
Compartilhar