Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Estratégia da Produção2 Uma organização pode planejar todos os aspectos de suas ações atuais ou futuras, mas as organizações necessitam de alguma direção estratégica, podendo beneficiar-se ao saber para onde es- tão se dirigindo e como podem chegar. Quando a função produção entender seu papel dentro do negócio e determinar seus objetivos de desempenho, poderá formular um conjunto de princípios gerais para que possa guiar o processo de tomada de decisões. A Figura 6 a seguir mostra a relação das ideias descritas com o modelo geral de gestão de produção. Administração da Produção I54 2 .1 - Conceito Estratégia é o padrão global de decisões e ações que influencia a direção de longo prazo de uma organização. (SLACK et al., 2009) Decisões estratégicas significam as decisões que: • Têm efeito abrangente na organização à qual a estratégia se refere. • Definem a posição da organização relati- vamente a seu ambiente. • Aproximam a organização de seus objeti- vos de longo prazo. Estratégia da produção Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), a estratégia da produção refere-se ao padrão de decisões e ações estratégicas que define o papel, os objetivos e as atividades da produção. Como pode a produção, um assunto geralmente ligado à criação e entrega diária de bens e serviços, ser es- tratégica? As atividades de rotina diárias são opos- tas à estratégia. Produção ou operação não são sinônimos de operacional. Produção ou operação são os recursos que criam produtos ou serviços. Operacional é o oposto de estratégico, significando atividades diárias e detalhadas. Portanto, podemos examinar tanto os aspectos operacionais como os estratégicos das operações. Existe distinção entre conteúdo e o processo da estratégia da produção. O papel, os objetivos e as atividades de produção estão relacionados com o conteúdo da estratégia da produção através de decisões e ações específi- cas. O método que produz as decisões específicas de conteúdo é o processo da estratégia da produ- 55Tema 2 | Estratégia da Produção ção. Segue algumas perspectivas da estratégia da produção (Slack et al., 2009): • A estratégia da produção é um reflexo de cima para baixo (top-down) do que o gru- po ou negócio todo deseja fazer; • A estratégia da produção é uma ativida- de de baixo para cima (bottom-up), em que as melhorias da produção cumulati- vamente constroem a estratégia; • A estratégia da produção envolve a tradu- ção dos requisitos do mercado em deci- sões da produção; • A estratégia da produção envolve a ex- ploração das capacidades dos recursos da produção em mercados eleitos. Nenhumas dessas perspectivas sozinhas dão uma visão geral do que seja a estratégia de pro- dução. Juntas fornecem uma ideia das pressões em jogo para formar o conteúdo da estratégia da pro- dução. (veja a Figura) Administração da Produção I56 Desenvolvendo uma estratégia de operações orientada para cliente Uma estratégia corporativa coordena os obje- tivos gerais da empresa com seus processos essen- ciais para o desenvolvimento de uma estratégia de operações orientadas para o cliente. (veja a Figura) A estratégia corporativa faz uma análise de mercado para categorizar os clientes da empresa, identificando suas necessidades e avalia as forças dos concorrentes. Para se desenvolver as priori- dades competitivas os gerentes desenvolvem ser- viços ou produtos para que as empresas possam se tornar mais competitivas no mercado. As com- petências da empresa devem priorizar e verificar qualquer falha de desempenho como sendo uma estratégia de operação. 57Tema 2 | Estratégia da Produção Estratégia Corporativa A estratégia corporativa nada mais é do que uma direção na qual serve a estrutura para que sejam realizadas todas as funções da organização. São três considerações que desenvolvem uma es- tratégia corporativa: 1. efetuar controles e ajustes em função de mudanças no ambiente empresarial; 2. identificar e desenvolver as capacitações essenciais da empresa; 3. desenvolver os processos essenciais da empresa. Investigação do ambiente É o processo pelo qual os gerentes monito- ram as tendências do ambiente, podendo ser na indústria, no mercado ou na sociedade na busca de oportunidades ou ameaças potenciais. Por exem- plo, as montadoras de automóveis reconhecem que a diminuição das reservas de petróleo exigirá o uso de combustíveis alternativos. Por consequên- cia, elas têm desenvolvido protótipos de carros que utilizam hidrogênio ou eletricidade para substituir a gasolina como combustível. Competências essenciais Segundo Krajewski et al. (2009), são os re- cursos e pontos fortes exclusivos que a gerência de uma organização considera ao formular estratégias. As competências refletem o conhecimento coletivo da organização, principalmente de como coordenar processos e integrar tecnologias. Segue algumas competências: 1. Equipe de trabalho – nada mais é do que quando uma equipe está bem preparada para atender as necessidades de sua or- ganização no que diz respeito a atender o mercado de trabalho em tempo hábil. Administração da Produção I58 2. Instalações – tem que existir uma boa lo- calização e ter vantagens em relação à construção de novas instalações. 3. Know-how mercadológico e financeiro – uma boa otimização de seu capital no mercado de ações proporcionará uma co- mercialização de seus produtos e serviços. 4. Sistemas e tecnologias – quando uma empresa possui um excelente sistema de informações terá como acompanhar a produção e se destacará no mercado mais rapidamente qualidade e rapidez na produção em massa. Como exemplo te- mos o setor bancário. O domínio de tec- nologias e aplicações de internet, como os sistemas B2C (business-to-consumer) e B2B (business-to-business) é muito vantajoso no mercado competitivo. Processos essenciais São as competências essenciais de uma em- presa que determinam os processos essenciais. Se- gue alguns processos essenciais: relacionamento com o cliente; desenvolvimento de novos serviços ou produtos; atendimento de pedido; e relaciona- mento com fornecedores. Por exemplo, normalmen- te um jornal atraía a leitores e patrocinadores (rela- cionamento com o cliente). Ele desenvolvia a maior parte de seu produto – as notícias impressas em suas páginas (desenvolvimento de novo serviço ou produto) e administrava seus próprios processos de produção, entrega e suprimentos (atendimento de pedidos e relacionamento com fornecedores). As empresas sempre precisam avaliar suas compe- tências essenciais e concentrar os processos que proporcionam maior força competitiva. 59Tema 2 | Estratégia da Produção Demonstraremos um exemplo de estratégia de operações na prática. Ryanair Ryanair é a maior empresa aérea de baixo cus- to (LCA-low-cost airline) da Europa. Ao operar com tarifas baixas, usando uma fórmula sem luxo, com mais de 1.700 funcionários e uma frota crescente de aeronaves Boeing 737 (cerca de 50), oferece serviços entre mais de 70 rotas em 13 países pela Europa. Opera de sua sede em Dublin e transporta cerca de 12 milhões de passageiros por ano. A empresa cresceu oferecendo serviços básicos de custo baixo e criou uma estratégia de operações alinhada com sua posição de mercado. A eficiência das operações da empresa aérea apoia sua posição no mercado de baixo custo. Mantém-se o mínimo de tempo de espera da aeronave nos aeroportos. Além disso, a empresa, geralmente, usa aeroportos se- cundários que cobram taxas de pouso e decolagem menores. Finalmente, o custo de venda do serviço é reduzido onde possível. A Ryanair desenvolveu seu próprio serviço de reservas via internet a baixo custo. Adicionalmente, as experiências diárias dosgerentes de operações da empresa podem modifi- car ou refinar essas decisões estratégias. A política da empresa em serviço ao consumidor também é clara “Nosso serviço ao consumidor”, afirma Michael O’Leary, “é um dos mais bem definidos do mundo. Garantimos o menor preço em passagens aéreas. For- necemos um voo seguro. Fornecemos, geralmente, um voo pontual. Esse é o pacote. Não vamos dar e não damos nada mais. Vamos desculpar-nos pela fal- ta de serviço ao consumidor? Absolutamente não. Se um voo é cancelado, ofereceremos estada em hotel para o passageiro? Absolutamente não. Se um voo é cancelado, oferecemos um vale para refeições? Abso- lutamente não”. Administração da Produção I60 Estratégias Globais Para uma perspectiva global devemos iden- tificar as oportunidades e ameaças de mercado. A estratégia global pode ser desde a compra de servi- ços ou peças no exterior, como combater ameaças dos concorrentes estrangeiros. Podemos demons- trar duas estratégias globais eficazes a seguir: • Alianças estratégicas • Localização no exterior Alianças estratégicas A aliança estratégica é criada através do in- gresso em mercado estrangeiro. Podemos dizer que aliança estratégica nada mais é do que um acordo realizado com outra empresa que poderá assumir essa empresa no mercado global. Existem algumas formas de aliança estratégi- ca que são: esforço colaborativo, joint venture e o licenciamento da tecnologia. O esforço colaborativo nada mais é do que as competências essenciais necessárias para desenvolver a empresa no merca- do global. A joint venture é a produção do mesmo produto ou serviço em conjunto. Já o licenciamento da tecnologia é quando uma empresa licencia os métodos de produção ou de serviços da outra. Localização no exterior Sediar as operações num país estrangeiro ao ingressar nos mercados globais. Por exemplo, o McDonald’s é conhecido pela consistência de seus produtos – um Big Mac possui praticamente as mesmas características e sabor em qualquer lugar do mundo. A experiência do McDonald’s demonstra as estratégias corporativas em que se levam em conta costumes, preferências e condições econômi- cas em outros países. 61Tema 2 | Estratégia da Produção INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR Abordamos sobre a estratégia da produção, con- ceitos, estratégias. Com isso você poderá se apro- fundar um pouco mais sobre esses assuntos nos seguintes livros: SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Rob- ert. Administração da Produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 59-61. Conheça um pouco mais sobre a estratégia da pro- dução e aperfeiçoando como a empresa possa me- lhorar cada vez mais sua estratégia. RITZMAN, Larry P.; KRAJEWSKI, Lee J.; MALHOTRA, Manoj. Administração de Produção e Operações. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. p. 36-56. Esse livro traz muitas informações e exemplos de organizações que tendem a melhorar cada vez mais sobre a estratégia da produção. PARA REFLETIR Até agora conhecemos um pouco da Administração da Produção, o que se entende por estratégia, es- tratégia da produção, perspectivas de estratégias e estratégia corporativa. A tarefa do administrador da produção na área es- tratégia não é nem um pouco fácil e exige vários desafios a vencer. Qual(is) seria(m) a(s) grande(s) preocupação(ões) dos administradores da produ- ção no que diz respeito à estratégia? Como fazer Administração da Produção I62 para enfrentá-las e obtermos êxito? Sugiro que suas opiniões sejam compar- tilhadas junto ao AVA para um melhor aprendizado sobre a estratégia com seus colegas. Há, também, a possibilidade de um de- bate, junto ao tutor, sobre esse questionamento. 2 .2 Conteúdo da Estratégia de Produção – Perspectiva top-down e bottom-up A seguir estaremos fazendo uma abordagem sobre a perspectiva top-down e bottom-up com re- lação à estratégia de produção. A perspectiva “de cima para baixo” (top-do- wn) nos leva a verificar que toda empresa tem a necessidade de possuir uma estratégia para colo- car-se no ambiente global, econômico, político e social. As decisões consistem nos tipos de negó- cios em que o grupo deve investir, deve operar e empregar o capital de giro da empresa e assim por diante. As decisões formam a estratégia corporativa da empresa. Cada departamento da empresa tem a necessidade de desenvolver sua própria estratégia de negócios e de estabelecer sua missão e objeti- vos individuais. A estratégia de negócios nada mais é do que um guia para a empresa com relação a seus consumidores, mercados e concorrentes. Já as estratégias funcionais são consideradas como parte de cada função, devendo desempenhar para que os objetivos estratégicos da empresa sejam alcança- dos. Dentre as funções de produção, o marketing, o desenvolvimento de produto/serviço e outras fun- ções precisaram organizar e definir a melhor forma de apoiar os objetivos da empresa. 63Tema 2 | Estratégia da Produção Portanto, um ponto importante é que a es- tratégia da produção tome seu lugar na hierarquia de estratégias. Sua influência será tudo aquilo que a empresa entender como direção estratégica. Por exemplo, um grupo de serviços de impressão pos- sui uma empresa que imprime embalagens para produtos de consumo. Os dados da administração do grupo indicam que, a longo prazo, somente em- presas com uma significativa parcela do mercado obterá lucratividade substancial. Seus objetivos corporativos, dessa forma, enfatizam o domínio do mercado. A empresa de embalagens para produtos de consumo decide obter crescimento de volume, acima da lucratividade de curto prazo ou do retor- no sobre o investimento. A implicação para a estra- tégia da produção é que ela necessita expandir-se rapidamente, investindo em capacidade extra (fá- bricas, equipamentos e mão de obra), mesmo que isso signifique alguma capacidade excedente. Tam- bém necessita estabelecer novas fábricas em todas as partes de seu mercado para oferecer entrega relativamente rápida. O ponto importante aqui é que objetivos de negócios diferentes provavelmen- te resultariam em uma estratégia da produção mui- to diferente. O papel da produção é, dessa forma, largamente o de implementar ou “operacionalizar” a estratégia da empresa. A Figura a seguir ilustra essa hierarquia es- tratégica, com algumas das decisões em cada nível e as principais influências sobre as decisões estra- tégicas. Administração da Produção I64 A perspectiva de “baixo para cima” (bottom-up) A perspectiva “de cima para baixo” demons- tra uma visão ortodoxa onde as estratégias funcio- nais definem como devem ser montadas. Os níveis de hierarquia da estratégia são mais complexos que os relacionamentos entre os níveis. O mode- lo hierárquico não representa a maneira como as estratégias são formuladas. Sempre os grupos revi- sam as estratégias corporativas devido às circuns- tâncias, experiências e capacidades das várias em- presas que a compõem. As empresas consultam as funções individuais dentro da empresa sobre suas restrições e capacidades de forma similar às revi- sões estratégicas. As empresas também incorporam as ideias das experiências diárias de cada função. As ideias estratégicas surgem da experiência opera- cional de uma visão de cima para baixo de acordo com as alternativas decorrentes nas empresas. 65Tema 2 | Estratégia da Produção Algumas vezes as empresas se preocupam com o fornecimento de produtos e serviços aos consu- midores no nível operacional em fazer a coisa certa numa direção estratégica particular. Nas opções es- tratégicas não devemos decidir, mas a melhor esco- lha deve ser feita pelo escalão mais alto ao exami- nar e escolher a melhor saída. Normalmente o nível operacional da organização elege numconsenso. O consenso do processo decisório estratégico vem do “alto nível” que fornece recursos para fazer acontecer efetivamente. A empresa de embalagens demonstrada ante- riormente foi bem-sucedida no plano de expansão. Para possuir capacidade excedente deverá espalhar a rede através de fábricas que permitam um serviço excepcional para os consumidores. A empresa deverá ter experiência para estabelecer uma divisão sepa- rada com o fornecimento de serviços de impressão de margens altas para os que estiverem dispostos a pagar. A alta lucratividade irá depender dos objetivos estratégicos dessa nova divisão que não diz respeito ao crescimento de alto volume. Segundo Slack (2009), estratégias emergentes são as experiências do nível operacional ao longo do tempo que demonstram ideias de estratégia (veja a Figura 10). A estratégia se molda com o tempo e com experiências de vida real ao invés de posicio- namento teórico. As estratégias são relacionamentos fragmentados e não estruturados no qual refletem o futuro imparcial, desconhecido e imprevisível. A visão estratégia de produção demonstra as coisas realmen- te como acontecem, mas parece ser menos útil em fornecer um guia para o processo decisório específico. Mesmo assim, as estratégias emergentes são menos fáceis de serem classificadas, pois o princípio que go- verna a perspectiva de baixo para cima é claro em moldar os objetivos e as ações da produção pelo co- nhecimento adquirido das atividades diárias. Administração da Produção I66 Abordagens Top-Down e Bottom-Up Segundo Lapide (1998), a abordagem top- down a previsão de vendas é feita com a soma de todos os itens, ou seja, item-a-item com base no percentual histórico do item no total. Na abordagem bottom-up temos uma previ- são inicial do agregado e posteriormente fazemos o rateio dos itens conforme proporção histórica. Já na abordagem top-down podemos cancelar a agregação dos itens caso ocorra picos e vales característicos. Também na abordagem bottom-up é feita uma previsão direta de cada item e depois é feita a junção por família/grupos de produtos ou por regiões. Segundo Gelly (1999), a abordagem top- down mostrou-se mais adequada para itens que possuem um padrão de vendas previsível ao lon- go do tempo. 67Tema 2 | Estratégia da Produção Na abordagem bottom-up a previsão de venda é feita por cada item e os centros de distri- buição são responsáveis pela montagem desses itens, ou seja, a fábrica envia os itens produzidos e os centros de distribuição montam as peças. Na figura apresentamos um modelo de uma abordagem bottom-up. Os centros de distribui- ção têm total autonomia para realizarem a previ- são de vendas de um determinado produto, ou seja, a fábrica recebe as ordens de produção e as remete para os centros de distribuição. Na abordagem top-down conhecida como abordagem analítica, a previsão de venda é feita para o grupo ou família de produtos e depois de- sagregada para cada item, ou seja, a venda é feita em série consolidada e a separação dos itens é feita pelas distribuidoras dos produtos. Na figura a seguir apresentamos um mode- lo de uma abordagem top-down. Os centros de distribuição não têm autonomia para realizarem a previsão de vendas de um determinado produto, ou seja, a fábrica encaminha os itens de produção e a separação dos itens são feitas pelos centros de distribuição. Administração da Produção I68 A seguir as vantagens e desvantagens das abordagens Top-Down e Bottom-Up: Vantagens da Abordagem Top-Down • Controle de distribuição dos produtos para os respectivos centros de distribui- ção são feitos pela fábrica. • Previsão da linha de produção depende da fábrica, ou seja, caso queira aumen- tar a produção para atender a demanda, será feita uma programação para atender a demanda. Desvantagens da Abordagem Top-Down • Demora na entrega dos produtos para os centros de distribuição por parte da fá- brica. • Dependerá da linha de produção para atender à demanda dos clientes. Vantagens da Abordagem Bottom-Up • Os centros de distribuição têm total auto- nomia para fazerem os pedidos. • Os centros de distribuição planejam as vendas de acordo com a demanda. 69Tema 2 | Estratégia da Produção Desvantagens da Abordagem Bottom-Up • Sobrecarregar a fábrica com esses pedi- dos em excesso para atender os clientes. • Demora na entrega dos pedidos feitos pelos centros de distribuição. A seguir um exemplo de uma abordagem Top-Down: Uma empresa A produz uma quantidade de 50.000 produtos por mês para atender a de- manda dos centros de distribuição de acordo com o planejamento estratégico da empresa. A empre- sa possui três centros de distribuição que recebem mensalmente certa quantidade de produtos feitos por essa fábrica. O centro de distribuição X recebe mensalmente 15.000 produtos por mês, o centro de distribuição Y recebe mensalmente 25.000 pro- dutos por mês e o centro de distribuição Z recebe 10.000 produtos por mês. Desta forma é feita a distribuição dos produtos de acordo com o plane- jamento feito pela fábrica para atender a demanda dos centros de distribuição. Caso ocorra que um centro de distribuição necessite de um aumento em seu pedido mensal a fábrica terá que rever como poderá atender a respectiva demanda. Já na abordagem Bottom-Up: Uma empresa B produz uma quantidade de 100.000 produtos por mês para atender a demanda dos centros de distri- buição e sempre verifica os novos pedidos para de- tectar se sofreu alguma alteração para que a mesma faça uma programação para atender a demanda. A empresa possui quatro centros de distribuição que recebem mensalmente certa quantidade de produ- tos feitos por essa fábrica. O cento de distribuição W recebe mensalmente 25.000 produtos por mês. O centro de distribuição T recebe mensalmente 15.000 produtos por mês. O centro de distribuição U recebe mensalmente 20.000 produtos por mês Administração da Produção I70 e o centro de distribuição S recebe mensalmente 50.000 por mês. Desta forma é feita a distribuição dos produtos de acordo com os pedidos feitos pe- los centros de distribuição. Caso ocorra que um centro de distribuição faça um pedido maior que o planejamento mensalmente a fábrica terá que rees- truturar a linha de produção para atender a deman- da, podendo verificar junto aos outros centros de distribuição se tiveram uma sobra do produto para atender ao pedido desse centro. A fábrica deverá ficar sempre de prontidão em atender a demanda dos centros de acordo com os pedidos feitos men- salmente que poderão sofrer alterações de acordo com a demanda de cada centro de distribuição. INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR Esta leitura lhe possibilitará complementar o assun- to abordado neste capítulo. Abordamos sobre a perspectiva Top-Down e Bottom up. Com isso você poderá se aprofundar um pouco mais sobre esse assunto nos seguintes livros: SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Rob- ert. Administração da produção. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 61-64. Esse livro demonstra alguns exemplos sobre a perspectiva Top-Down e Bottom up para um melhor entendimento sobre esse assunto. Uma outra referência seria o artigo sobre: WANKE, Peter. Previsão top-down ou bottom-up? Impacto nos níveis de erro e de estoques de segu- rança. Gest. Prod., São Carlos, v. 15, n. 2, p. 231- 71Tema 2 | Estratégia da Produção 245, maio-ago. 2008. Disponível em: < http://www. scielo.br/pdf/gp/v15n2/a03v15n2.pdf>.Acessado em: 17 de outubro de 2011. Esse artigo demonstra uma abordagem de vendas numa previsão top-down ou botton-up e demons- tra os níveis de erro e de estoque de segurança. PARA REFLETIR Discuta com seus colegas no ambiente AVA so- bre essas duas perspectivase faça uma reflexão para saber qual seria a melhor empregada dentro de uma organização. As perspectivas Top-Down e Bottom-up são muito importantes para uma orga- nização. Então, formule sua opinião e debata com seus colegas. Administração da Produção I72 2 .3 Conteúdo da Estratégia de Produção – Perspectiva dos Requisitos do Mercado e dos Recursos da Produção A perspectiva dos requisitos do mercado O principal objetivo de uma empresa é sa- tisfazer o mercado que está tentando servir a seus clientes. Caso a empresa apresente falhas continu- amente ao servir o mercado de forma adequada, tem chance de sobreviver em longo prazo. A função de marketing é muito importante para a administra- ção da produção, pois é o departamento que mais compreende o mercado. A prioridade entre os ob- jetivos de desempenho devem ser compreendidos de acordo com as operações de mercado, pois o mercado requer qualidade, rapidez, confiabilidade, flexibilidade e custo. Por exemplo, o caso breve sobre a Giordano descreve uma empresa que dese- nhou suas operações para servir a um mercado que estava começando a valorizar qualidade de serviço. Caso breve Giordano Com uma visão que explicitamente estabele- ce sua ambição de ser “a melhor e maior marca do mundo no varejo de roupas”, Giordano estabelece seus horizontes em um patamar elevado. Dado que essa é a empresa que mudou as regras no vare- jo de roupas em mercados crescentes como Hong Kong, China, Malásia e Cingapura, os especialistas da indústria levam tais ambições a sério. Antes da Giordano, lojas sofisticadas ven- diam produtos de qualidade e ofereciam um bom serviço. Roupas mais baratas eram empilhadas e vendidas por assistentes de vendas mais preocu- 73Tema 2 | Estratégia da Produção pados em ganhar algum dinheiro do que sorrir para os clientes. Jimmy Lai, fundador e presidente execu- tivo da Giordano Holdings, mudou tudo isto. Ele per- cebeu que qualidade imprevisível e níveis de serviço baixos ofereciam uma oportunidade no mercado de roupas despojadas. Por que não poderiam valor e serviço, juntamente com preço baixo, gerar maiores lucros? Seus métodos eram radicais. De um dia para o outro ele aumentou o salário de seus funcionários de vendas entre 30% e 40%; todos foram informa- dos que receberiam pelo menos 60 horas de treina- mento por ano e que um novo cargo seria alocado entre os funcionários mais experientes, o de “irmão mais velho” ou “irmã mais velha”, para ajudar os funcionários mais novos a desenvolver habilidades referentes à qualidade de serviço. Ainda mais chocante, considerando o padrão dos concorrentes, foi a introdução de uma política de troca de mercadorias baseadas em “nada de pergun- tas”, em que se efetuam trocas independentemente da data de compra da mercadoria. Os vendedores foram treinados para conversar com os clientes e ouvir suas opiniões sobre os produtos e tipos de serviços desejados. Essa informação seria imediata- mente repassada para os estilistas da empresa para que fosse incorporada em novos produtos. Atualmente, Giordano alcança a maior taxa de vendas por metro quadrado no mercado varejis- ta de roupas na região e seus princípios básicos em operações são resumidos na lista abaixo: • Qualidade – fazer as coisas certas. • Conhecimento – atualizar a experiência e compartilhar o conhecimento. • Inovação – pensar “fora da caixa”. • Simplicidade – menos é mais. • Serviço – exceder as expectativas do con- sumidor. Administração da Produção I74 Influência do consumidor nos objetivos de desempenho A produção se preocupa em satisfazer seus clientes e desenvolver os objetivos de desempenho. Por exemplo, se a produção dá ênfase no seu de- sempenho com relação ao custo, provavelmente os consumidores irão valorizar os produtos ou serviços de baixo preço. De forma alternativa, se a ênfase dos consumidores concentrar-se em entrega rápida, o critério velocidade tornar-se-á importante para a produção, e assim por diante. Fatores competitivos nada mais são do que as exigências dos clientes. A Figura 13 mostra a relação entre alguns fa- tores competitivos mais comuns e os objetivos de desempenho da produção. O ponto importante é que os fatores competitivos valorizados por consu- midores irão influenciar a prioridade de cada obje- tivo de desempenho. 75Tema 2 | Estratégia da Produção Objetivos qualificadores e ganhadores de pedidos Para que se possamos determinar a importân- cia dos fatores competitivos primeiro precisamos sa- ber distinguir entre os fatores “ganhadores de pedi- dos” e os “qualificadores”. Para uma boa contribuição com relação a um negócio devemos seguir alguns cri- térios no que diz respeito a pedido. As razões chaves para comprar o produto ou serviço são considera- ções feitas pelos consumidores. O desempenho é um dos critérios ganhadores de pedidos por resultar um aumento de pedidos ou a melhora da probabilidade de ganhar mais pedidos. Ao comentarmos sobre os critérios qualificadores podemos verificar que são im- portantes de uma forma por não serem determinados como sucesso competitivo. O nível que determina o aspecto de competição deve estar acima de um ní- vel determinado pelo desempenho da produção e ser bem considerado pelo cliente. Porém, um benefício competitivo é bem relevante em relação aos fatores qualificadores. A Figura 14 mostra a diferença entre os critérios ganhadores de pedidos, os qualificadores e os menos importantes em termos de sua utilidade ou valor para a competitividade da organização. O grau relativo de competitividade poderá ser apresentado através de curvas à medida que o desempenho da produção varia no critério. Quando houver um aumento cons- tante nos critérios ganhadores de pedidos significará que a competição está sendo aperfeiçoada cada vez mais em relação à operação. Já os fatores qualifica- dores são nada mais que dados que são esperados pelos clientes e são representados através de uma desvantagem com relação à competição da operação quando o desempenho não estiver acima do nível qualificador. Com isso seus objetivos têm menos im- pacto em relação aos consumidores e não importa o desempenho da produção. Administração da Produção I76 Influência do ciclo de vida do produto/serviço nos objetivos de desempenho Através do ciclo de vida dos produtos ou serviços podemos observar o comportamento de clientes e concorrentes. Nas curvas de ciclo de vida do produto/serviço será demonstrada a variação do volume de venda ao longo dos quatro estágios: in- trodução, crescimento, maturidade e declínio.(Veja a Figura 15) 77Tema 2 | Estratégia da Produção Etapa de introdução – é a apresentação de um produto ou serviço como algo novo em termos de seu projeto ou desempenho que os concorrentes estão oferecendo. Estágio de crescimento – Os concorrentes come- çam a entrar no mercado crescente à medida que o volume cresce. A produção se preocupa em acompa- nhar a demanda. A empresa mantém sua participação no mercado à medida que a concorrência começa a aumentar desde que se tenha uma resposta rápida e confiável para manter os níveis de demanda atendidos. Estágio de maturidade – Com a demanda esta- bilizada, alguns concorrentes terão deixado o merca- do e abrirão o domínio para poucas empresas maio- res. Com isso a produção reduz seus custos com o intuito de manter os lucros ou permitir a redução de preços ou ambos. Já as principais preocupações da operação são as questões de custo e produtividade junto ao fornecimento confiável. Estágio de declínio – Com o tempo as vendas diminuirão e os concorrentes provavelmente começa- rão a sair do mercado. Pode haver um mercado resi- dual, mas, a menos que haja escassez de capacidade, o mercadocontinuará a ser dominado por concorrên- cia em preços. Os objetivos da produção ainda serão dominados pelo custo. A perspectiva dos recursos da produção Essa perspectiva é baseada em uma teoria par- ticularmente influente em estratégia de empresas – a visão baseada em recursos (RBV – resource-based view) da empresa. A visão está baseada em recursos sustentáveis que as empresas usam como desempe- nho estratégico “acima da média”. A grande vantagem é a competição sustentável devido às competências ou capacitações centrais de seus recursos. Desta for- ma, as empresas herdam, adquirem ou desenvolvem Administração da Produção I78 seus recursos de produção em longo prazo e com impacto significativo em seu sucesso estratégico. Por- tanto, compreender e desenvolver seus recursos de produção nada mais é do que uma perspectiva parti- cularmente importante para a estratégia de produção. Por exemplo, a Flextronics (veja o caso breve) desen- volveu sua prática de localizar “parques industriais” em áreas de custo relativamente baixo como uma for- ma de fornecer um recurso de produção baseado em vantagem competitiva. Caso breve Flextronics (Slack, 2009) Por trás de toda marca famosa no mercado de eletrônicos para consumo, muito da fabricação de alta tecnologia que forma o coração dos produtos é provavelmente desenvolvida por empresas que pou- cos de nós sequer ouvimos falar. Empresas como a Ericsson e a IBM cada vez mais utilizam empresas de serviços terceirizados de fabricação de eletrôni- cos (Electronic Manufacturing Services – SEM), que são especializadas em fornecer projeto terceirizado e operações de engenharia, manufatura e logística para grandes marcas. Flextronics é um dos fornecedores líderes de “serviços operacionais” para empresas de tecnologia. Com mais de 70.000 funcionários espalha- dos por suas instalações em 28 países, possui pre- sença global que permite ter flexibilidade para servir aos consumidores em todos os mercados-chave ao redor do mundo. Da perspectiva de requisitos do mercado, as instalações de manufatura da Flextronics necessitam equilibrar as necessidades de seus consumidores por baixo custo (bens eletrônicos são geralmente comer- cializados em um mercado altamente competitivo) com sua necessidade de serviço flexível e de rápida resposta (o mercado de eletrônicos pode também ser volátil). De uma perspectiva de recursos de opera- 79Tema 2 | Estratégia da Produção ções, a Flextronics poderia ter implantado suas fábri- cas perto de seus principais consumidores na América do Norte e Europa Ocidental. Isso com certeza facili- taria a resposta rápida e a prestação de um ótimo serviço aos consumidores; infelizmente, no entanto, esses mercados tendem a possuir um alto custo de manufatura. A estratégia de operações da Flextronics necessita, portanto, alcançar um equilíbrio entre cus- tos baixos e altos níveis de serviço em suas localiza- ções estratégicas e decisões de rede de suprimentos. Uma forma de a Flextronics conseguir isso por meio de sua estratégia de operações é adotar o que é denominado de “estratégia de parque industrial”. Isso envolve descobrir localizações que são relativamente baratas do ponto de vista manufatureiro, mas ainda perto de seus principais mercados. A Flextronics mon- tou seu parque industrial em países como Hungria, Polônia, Brasil e México. Os próprios fornecedores da Flextronics são também encorajados a localizarem-se dentro do parque para garantir estabilidade e redução do tempo de resposta. Decisões estruturais e infraestruturais Segundo Slack et al. (2009), a estratégia de produção divide-se em decisões estratégicas que de- terminam a estrutura da produção e decisões estraté- gicas que determinam sua infraestrutura. As decisões estruturais de uma operação produtiva são as que influenciam principalmente as atividades de projeto, enquanto as decisões de infraestrutura são as que influenciam a força de trabalho de uma organização, as atividades de planejamento, controle e melhoria. A tabela 4 ilustra tanto áreas de decisões estru- turais como infraestruturais, arranjadas para corres- ponder a alguns títulos utilizados neste livro. A tabela também ilustra algumas questões típicas a que cada área de decisão estratégica deve se dedicar. Administração da Produção I80 INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR Abordamos sobre perspectivas dos requisitos do mercado e dos recursos da produção, com isso você poderá se aprofundar um pouco mais sobre esse assunto nos seguintes livros: 81Tema 2 | Estratégia da Produção MOREIRA, Daniel Augusto. Administração da Produ- ção e Operações. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1998, p. 225-251. Quando se trata de perspectivas dos requisitos do mercado podemos aperfeiçoar um pouco mais so- bre esse assunto através desse livro. KRAJEWSKI, Lee J. Administração de Produção e Operações. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. p. 99-121 Para um melhor entendimento sobre as perspectivas dos recursos da produção podemos adquirir uma complementação do assunto através desse livro. PARA REFLETIR Iniciamos nossa aula falando de várias perspecti- vas dos requisitos do mercado e dos recursos da produção. Agora, sua tarefa é pensar um pouco a respeito dos requisitos de mercados como tam- bém em relação aos recursos de produção. Será que uma empresa não deve se preocupar com os requisitos de mercado? Qual seria a melhor forma? Será que também não deverá se preocupar com os recursos da produção? Qual seria a melhor forma? Compartilhe com seus colegas o aprendizado so- bre os questionamentos abordados acima. Depois debata com eles e o tutor no ambiente virtual de aprendizagem. Administração da Produção I82 2 .4 Processo da Estratégia de Produção Segundo Slack et al. (2009), o processo da estratégia da produção refere-se aos procedimentos que são usados para formular aquelas estratégias de produção que a empresa deve adotar. Muitas empresas de consultoria desenvolveram seus pró- prios quadros de referência. Muitos desses proces- sos de formulação incluem os seguintes elementos: • um processo que liga formalmente os ob- jetivos estratégicos da operação com os objetivos de nível de recursos; • o uso de fatores competitivos como dis- positivo de tradução entre a estratégia da empresa e a estratégia da operação; • um passo que envolve o julgamento da importância relativa dos vários fatores competitivos em termos da preferência dos consumidores; • ênfase na formulação da estratégia de operações como um processo iterativo; • o conceito de uma operação “ideal” ou com base numa “página em branco” com a qual comparar operações em curso; • uma abordagem “baseada em lacunas”. É uma abordagem muito utilizada em toda a formulação de estratégia, que en- volve a comparação do que é exigido da operação pelo mercado com os níveis de desempenho da operação pelo mercado com os níveis de desempenho da opera- ção em curso. 83Tema 2 | Estratégia da Produção Implementação A importância de uma implementação eficaz é um grande debate pelos autores que escrevem sobre as diferentes formas de estratégia. Na aceitação deve- mos refletir sobre os suportes intelectuais e analíticos de uma estratégia, bem como implementar um do- cumento. Ken Platts tem escrito sobre a natureza do processo de formulação da estratégia de operações. Os cinco Ps a seguir: 1. Propósito. Como em qualquer forma de ges- tão de projeto, quanto mais clareza houver a respeito da meta final, mais chances ha- verá de ela se alcançada. Nesse contexto, é crucial possuir uma compreensão comparti- lhada sobre a motivação, limites e contexto do desenvolvimento de estratégia. 2. Ponto de entrada. Ligado ao item anterior, qualquerprocesso de análise, formulação e implementação é, potencialmente, politica- mente sensível e o apoio que o processo possui dentro da hierarquia da organização é central para o sucesso da implementação. 3. Processo. Qualquer processo de formulação necessita ser explícito. É importante que os gerentes engajados em formar estratégias de operações reflitam sobre o processo de que estão participando. Os três níveis de análise que propomos (adequação, susten- tabilidade e risco) foram pensados para for- necer uma cobertura relativamente ampla das questões críticas. Administração da Produção I84 4. Gestão de Projeto. Existe um custo associado a qualquer processo de estratégia. Na verda- de, uma das razões pelas quais as operações não possuíam tradicionalmente estratégias explícitas refere-se à dificuldade de liberar tempo suficiente do nível de gerenciamento. As disciplinas básicas de gestão de projeto, como planejamento de tempo e de recursos, controles, mecanismos de comunicação, re- visões e assim por diante, devem estar em funcionamento. 5. Participação. Intimamente ligada aos itens anteriores, a seleção de pessoal para par- ticipar do processo de implementação é também crucial. Assim, por exemplo, o uso de consultores externos pode fornecer expertise adicional, o uso de gerentes de linha (e funcionários) pode fornecer uma experiência de “mundo real” e a inclusão de gerentes de diferentes funções (e forne- cedores etc.) pode ajudar a integrar a estra- tégia finalizada. O processo da estratégia de operações guia os compromissos (trade-offs) entre os objetivos de de- sempenho. Uma parte importante da implementação da estratégia de operações é identificar como a estra- tégia deve endereçar a prioridade relativa dos obje- tivos de desempenho da operação. Para isso, é ne- cessário considerar a possibilidade de melhoria de desempenho de um objetivo em detrimento de outro. Por exemplo, uma operação pode desejar aprimorar sua eficiência de custo ao reduzir a variedade de pro- dutos ou serviços que oferece a seus consumidores. 85Tema 2 | Estratégia da Produção Essa abordagem poderia ser resumida pela expressão “Não existe almoço de graça”. Existem duas visões a respeito de trade-offs. A primeira enfatiza o “reposicionamento” dos objetivos de desempenho ao comprometer a redução de desempe- nho de algum objetivo para favorecer melhoramentos em outros objetivos. A segunda visão enfatiza o aumen- to de “eficácia” da operação ao ultrapassar os trade-offs, de modo que melhoramentos em um ou mais aspectos de desempenho possam ser alcançados sem nenhuma redução no desempenho de outros aspectos. Muitos negócios vão adotar ambas as abordagens em um mo- mento ou outro. Isso é mais bem ilustrado por meio do conceito de “fronteira eficiente” do desempenho de operações. Trade-offs e a fronteira eficiente A Figura 16 (a) ilustra o desempenho relativo de várias empresas no mesmo setor em termos de sua eficiência de custo e a variedade de produtos ou serviços que oferecem a seus consumidores. Presu- mivelmente, todas as operações gostariam, de forma ideal, de oferecer alta variedade e, ao mesmo tempo, garantir altos níveis de eficiência de custo. Entretanto, a maior complexidade que a oferta de uma alta va- riedade de produtos ou serviços traz vai, geralmente, reduzir a habilidade da operação de operar eficiente- mente. De forma inversa, uma maneira de melhorar a eficiência de custo é limitar severamente a variedade de oferta ao consumidor. A distribuição de resultados na Figura 16 (a) é típica de um exercício como esse. As operações A, B, C e D escolheram, todas, um equilíbro diferente entre variedade e eficiência de custo, mas nenhuma é dominada por outra no sentido de ter desempenho necessariamente “superior”. A operação Administração da Produção I86 X, entretanto, possui um desempenho inferior porque a operação A é capaz de oferecer maior variedade pelo mesmo nível de eficiência de custo e a operação C oferece a mesma variedade com melhor eficiência de custo. A linha convexa que engloba as operações A, B, C e D é conhecida como a “fronteira eficiente”. As empresas nessa linha podem escolher posiciona- mentos a diferentes (provavelmente para atender a diferentes estratégias de mercado), mas não podem ser criticadas por serem ineficazes. É evidente que qualquer uma dessas operações na fronteira eficien- te pode chegar à conclusão de que o equilíbrio que escolheram entre variedade e eficiência de custo é inapropriado. Nessas circunstâncias, poderão escolher reposicionarem-se em algum outro ponto ao longo da fronteira eficiente. Em contraste, a operação X tam- bém escolhe balancear variedade e eficiência de custo de uma maneira particular, porém não tão eficazmen- te. A operação B conseguiu a mesma taxa entre os dois objetivos de desempenho de forma mais eficaz. (SLACK, 2009) 87Tema 2 | Estratégia da Produção Uma estratégia, entretanto, que enfatize o aumento da eficácia não estará confinada àquelas operações que são superadas por outras, como a operação X. As empresas posicionadas na fronteira eficiente vão também, em geral, querer melhorar sua eficácia de operações ao ultrapassar o trade- off implícito na curva a “fronteira eficiente”. Por exemplo, suponha que a operação B da Figura 16 (b) deseja aprimorar, ao mesmo tempo, tanto sua variedade como sua eficiência de custo e passe a ocupar a posição B1. Só poderá conseguir isso se adotar melhorias em operações que estendam a fronteira eficiente. Por exemplo, uma das deci- sões que qualquer gerente de supermercado pre- cisa tomar é quantas caixas registradoras abrir em um determinado momento. Se muitas caixas forem abertas, haverá momentos em que os funcionários ficarão ociosos, sem nenhum cliente para atender. Os clientes, no entanto, vão ter acesso a um exce- lente serviço em termos de pouco ou nenhum tem- po de espera. De forma inversa, se poucas caixas registradoras forem abertas, os funcionários esta- rão trabalhando o tempo todo mas os consumido- res terão que esperar em longas filas. Parece existir um trade-off direto entre a utilização dos funcio- nários (e, portanto, o custo) e o tempo de espera do consumidor (rapidez de serviço). Ainda assim, o gerente do supermercado poderá, por exemplo, alocar um número de funcionários “titulares” para operar as caixas registradoras e também destinar funcionários adicionais, que desempenhem outras funções dentro do supermercado, para ficarem “de plantão” e assumirem a posição de caixa caso a demanda aumente repentinamente. Se o gerente observar um aumento de consumidores nas filas, esses outros funcionários poderão rapidamente ser alocados pra trabalhar nas caixas registrado- Administração da Produção I88 ras. Ao planejar um sistema flexível de alocação de funcionários, o gerente poderá ao mesmo tempo melhorar o serviço ao consumidor e manter alta a utilização de funcionários. É importante salientar a distinção entre es- tar posicionado na fronteira eficiente e aumentar a eficácia da operação por meio do alargamento da fronteira. Qualquer estratégia de operações ne- cessita deixar claro em que medida espera que a operação posicione-se em termos de seus objetivos de desempenho e em que medida espera que a operação aumente sua eficácia. Foco e trade-offs Uma forma de algumas operações é empurrar seu reposicionamento na curva de trade-off de for- ma externa de modo a “focalizar” suas operações. O foco em operações nada mais é do que dedicar a cada operação um conjunto limitado, conciso e administrável de objetivos, produtos, tecnologias ou mercados e estruturar políticas e apoiar serviços de modo que focalizem em uma tarefa explícita em vez de em uma variedade de tarefas conflitantese inconsistentes. Concentrar-se em objetivos especí- ficos e focalizar no equipamento, sistemas e pro- cedimentos das operações para realizar uma gama mais limitada de tarefas resulta em um desempe- nho substancialmente superior desses objetivos. O conceito de foco é poderoso e comprovado porque apoia-se em uma noção bastante simples de que muitas operações estão realizando tarefas demais. O resultado evidente é que são incapazes de de- sempenhá-las com algum nível real de sucesso. A ideia de “foco” é muito parecida com a de processo de segmentação de mercado, usada pelos gerentes 89Tema 2 | Estratégia da Produção de marketing para entender seus mercados, quan- do quebram mercados heterogêneos em mercados menores, mais homogêneos. De fato, foco pode ser visto como uma “segmentação de operações”. O conceito de “operação dentro da operação” É uma resposta prática que permite que uma empresa obtenha os benefícios do foco sem a des- pesa considerável de estabelecer operações inde- pendentes. Por exemplo, um negócio que fabrica tinta pode servir a dois mercados distintos. Alguns de seus produtos são destinados a consumidores domésticos, sensíveis a preço, mas que demandam somente uma variedade limitada de cores e tama- nhos. O outro mercado é composto de decoradores profissionais, que demandam uma ampla variedade de cores e tamanhos mas são menos sensíveis a preço. O negócio pode escolher sair de uma posi- ção em que todos os tipos de tintas são fabricados por meio do mesmo processo para uma posição em que possui dois conjuntos separados de pro- cessos: um que fabrica tinta somente para o mer- cado doméstico e outro que fabrica tinta somente para o mercado profissional. Na verdade, o negócio terá segmentado seus processos de operações para atender à segmentação do mercado. Administração da Produção I90 INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR Esta leitura lhe possibilitará complementar o assun- to abordado neste capítulo. Abordamos sobre o processo da estratégia da pro- dução. Com isso você poderá se aprofundar um pou- co mais sobre esse assunto nos seguintes livros: SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Rob- ert. Administração da produção. 3. ed., São Paulo: Atlas, 2009. p. 72-76. O autor demonstra todo um processo de estratégia da produção que serve como complemento sobre o assunto abordado neste capítulo. KRAJEWSKI, Lee J. Administração de Produção e Operações. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. p. 99-121 Nesse livro você verá uma melhor abordagem so- bre um processo de estratégia da produção atra- vés de exemplos. Com isso você poderá compre- ender um pouco mais sobre o assunto abordado. 91Tema 2 | Estratégia da Produção PARA REFLETIR Toda organização necessita, desenvolver o proces- so da estratégia da produção e desempenhar um bom desenvolvimento com qualidade. Nesta aula abordamos sobre o processo da estratégia da pro- dução. Quais procedimentos deveriam ser adotados num processo da estratégia da produção? Como es- ses procedimentos devem ser implementados na empresa? Após responder os questionamentos você deverá compartilhar suas opiniões e discutir as reflexões com os colegas e com o tutor no ambiente virtual. RESUMO No conteúdo 2.1 estudamos sobre conceitos de es- tratégia, estratégia da produção, estratégia corpo- rativa, dentre outros tipos de estratégia, ou seja, uma boa estratégia depende da maneira pela qual deverá ser abordada dentro da própria empresa, pois se um administrador não escolher uma boa estratégia provavelmente a empresa estará fora do mercado de trabalho dentro de alguns anos. No item 2.2 vimos sobre as perspectivas top-down e bottom-up, ou seja, trata-se de perspectivas da estratégia de operações. A depender da escolha o administrador da produção deverá escolher a me- lhor perspectiva para se obter um bom resultado dentro da empresa. A perspectiva top-down é uma Administração da Produção I92 visão estratégica de cima para baixo enquanto que a bottom-up é uma visão estratégica de baixo para cima. No conteúdo 2.3 conhecemos sobre as perspectivas das exigências do mercado e as perspectivas dos recursos de operações. Uma trata dos recursos de operações (o que os recursos de operações podem fazer), enquanto que a outra trata das exigências do mercado (o que o posicionamento de mercado requer que as operações façam). E por último, no conteúdo 2.4, vimos sobre o pro- cesso da estratégia da produção, momento no qual se devem escolher os procedimentos a serem usa- dos na estratégia de produção.
Compartilhar