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O pacifismo e a guerrilha - Conflitos ideológicos nos anos iniciais da ditadura no Brasil

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Disciplina: História do Brasil Contemporâneo 
Professor: Paulo Fontes
Alunas: Jéssica de Azevedo Gomes - DRE: 119020199 
Milena Guerrão Lourenço - DRE: 119029525
Análise da fonte histórica: Ecletismo e Marxismo. Em: Escritos de Carlos Marighella. São Paulo: Editora Livramento, 1979, 1ª edição. [s.n] pp. 115-116.
Objetivo
Pretende-se no presente trabalho analisar um trecho do livro Escritos de Carlos Marighella, referente ao texto A Crise Brasileira, sendo este publicado em 1966, escrito por Marighella, revolucionário comunista dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), localizando seu conteúdo no momento histórico em que esteve inserida sua produção. O livro foi publicado em 1979, dez anos depois do assassinato do militante, por autores desconhecidos, ainda em período de ditadura militar.
Contextualização da fonte: divergências e críticas.
As divergências com o Partido Comunista Brasileiro se iniciaram em 1962, quando Marighella expõe severas críticas à postura do PCB frente à renúncia de Jânio Quadros e a posse de João Goulart, período no qual o revolucionário se empenhou solitariamente em fomentar uma resistência armada à tentativa do golpe contra Jango, enquanto o partido adotou medidas embasadas no funcionamento da máquina governamental e na Constituição, como greves e movimentos populares exigindo a posse de João Goulart.
A Crise Brasileira, de Marighella, surge, então, a fim de construir uma análise, à luz da teoria marxista-leninista, do cenário político dos anos iniciais da ditadura militar brasileira e explicitar suas críticas à postura passiva do partido no qual ainda estava inserido.
Panorama histórico: o pacifismo do PCB e a estratégia revolucionária.
O Partido Comunista Brasileiro, sendo o principal nome da esquerda do Brasil no século XX, era marcado pelo zelo à Constituição, ao aparato governamental e à democracia. Acreditava que o Brasil não estava suficientemente desenvolvido dentro do sistema capitalista para que fosse realizada a revolução socialista, apoiando, portanto, as reformas estruturais efetivadas pelos governos burgueses, como o de JK. Tal apoio era voltado ao desenvolvimentismo nacionalista, a partir da ideia de que a revolução no Brasil poderia ser feita pelo caminho pacífico, através da pressão das massas e das reformas. Com isso, o PCB se aproxima da burguesia, considerada progressista, numa submissão à organização estatal, adotando um trabalho de cúpula que direciona as massas, em aliança com a classe burguesa.
Seguindo essa linha, o partido é, então, pego despreparado pelo golpe militar de 1964, por crer que o governo resistiria ao mesmo. Frente ao movimento da ala militar, o PCB, apegado à dinâmica governamental, prossegue com sua postura democrática e sua estratégia de pressionar o governo, conclamando a greve geral política. Além de ter confiado demasiadamente no governo burguês, o PCB se encontrava ideologicamente distante do proletariado e do campesinato, o que, dentre outros fatores agrava as discordâncias e conflitos dentro do partido, principalmente por parte de Carlos Marighella, que, como colocado anteriormente, estava em processo de ruptura com o PCB desde 1962.
A fonte aqui trabalhada, à vista disso, explicita parte da análise de Marighella e suas críticas à postura do Partido Comunista Brasileiro. Ao afirmar que o caminho pacífico não concedia a possibilidade de qualquer ação decisiva perante a ditadura, o revolucionário parte da constatação de que, ao contrário do governo burguês desenvolvimentista de antes, a ditadura militar, apoiada pelos Estados Unidos da América, era entreguista e fundamentada no uso da força, não respeitando a dinâmica democrática, o que tornava inviável a oposição por meios pacíficos. Marighella acreditava que sem o recurso da violência a ditadura não seria derrubada, ela teria apenas uma duração menor, algo, portanto, insuficiente para o revolucionário.
Marighella critica diretamente a fraqueza ideológica do PCB, que, ao passo que se alia com a burguesia, se distancia do proletariado, não construindo o trabalho de massas, visto por ele como peça fundamental da revolução que se pretendia, além da despreocupação com o campesinato, este que, para Marighella, era um aliado fundamental. Tais aspectos resultariam, por fim, na submissão do proletariado, a partir do abandono da postura revolucionária. Ademais, o líder comunista percebe a ameaça de uma guerra civil, partindo da inquietação política, e a ameaça de intervenção do imperialismo agressivo estadunidense, braço direito dos ditadores brasileiros. Por consequência desses fatores, era irrefutável a necessidade de derrubar a ditadura imediatamente, partindo para o uso da violência, da insurreição popular armada, para que se colocasse novamente um governo democrático a fim de continuar as reformas de base, método este que divergia do defendido pelo PCB. O caminho pacífico dava abertura para a institucionalização do golpe e da ditadura, pela ausência de ação armada, atrasando a emancipação das nações latino-americanas.
Na dicotomia de pressionar o governo e derrubar a ditadura, Marighella enfatiza uma série de medidas para alcançar a segunda opção. A independência do proletariado em relação à hegemonia burguesa era essencial, emancipação esta que surgiria a partir do trabalho de base nas massas, tendo o Partido Comunista Brasileiro como liderança da oposição popular. A estratégia revolucionária, sendo baseada no movimento de massas, incluindo o proletariado e o campesinato, pressupõe que o povo devia estar preparado para a luta contra as ameaças constatadas e contra a ditadura em si, defendendo o armamento dos insurretos.
Conclusão do cenário histórico: decorrências e contribuições.
A divergência de opiniões sobre os métodos que deveriam ser adotados frente ao golpe de 1964 culminou na expulsão de Marighella do PCB em setembro de 1967, tendo como motivo a sua ida à 1ª Conferência da Organização Latino-americana de Solidariedade (OLAS) em Havana, capital de Cuba, a qual a direção do partido havia decidido boicotar. No entanto, suas ideias já tinham se espalhado aos integrantes do partido; prova disso é que dos 37 delegados escolhidos como representantes das bases do PCB em uma conferência em São Paulo, 34 se alinhavam ideologicamente com Marighella. Boa parte dos operários e estudantes ligados ao partido rompem com o Comitê Central e se aproximam do líder comunista.
Em fevereiro de 1968, Marighella anuncia a formação de um grupo organizado intencionado e disposto a iniciar as ações armadas, futuramente denominado Ação Libertadora Nacional (ALN); e nesse mesmo ano as guerrilhas urbanas já são iniciadas, com o apoio dos camponeses. A ALN tornou-se um dos principais grupos nacionais de guerrilha da época.
A luta armada seria o método mais eficaz de atingir a libertação latino-americana e a instalação de um Governo Popular Revolucionário, se baseando em um plano estratégico e tático global. Suas ações consistiam em assaltos a bancos, ataques a quartéis, sequestro de embaixadores, entre outras.
Diantes das ações armadas, o governo aumentou a repressão e a caça aos guerrilheiros, além de alertar a população e incentivar a denúncia desses grupos. Assim, a partir de 1969, a Ação Libertadora Nacional começou a se enfraquecer devido às várias prisões e aos assassinatos de seus integrantes, inclusive de Marighella, até seu desaparecimento por completo pouco tempo depois.
Mesmo com a derrota dos grupos guerrilheiros para os agentes militares do Estado, os ideais de seus integrantes e as suas críticas ao modelo pacífico e ilusório de revolução são lembrados até hoje, sendo fonte de inspiração para os que questionam o nosso tempo.
Referências bibliográficas:
GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Editora Ática, 1987, 3ª edição.
PRESTES, Anita Leocádia. Da Declaração de Março de 1958 à renúncia de Jânio Quadros: as vicissitudes do PCB na lutapor um governo nacionalista e democrático. Campinas: Revista Crítica Marxista, 2011.
FERREIRA, Muniz. Radicalizando a política: a crítica de Marighella às posições do PCB no imediato pós 64. Marília: Revista Novos Rumos, 2013.

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