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2 Regime Jurídico Administrativo

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REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO
Conjunto harmônico de princípios e regras que norteiam a atuação da Administração Pública. A lista de princípios não está totalmente definida, mas todos guardam com os demais uma relação lógica de coerência (sistema unidade – harmonia).
Nenhum princípio se sobrepõe ao outro, assim como não há princípio que seja absoluto. Deve-se utilizar o critério de ponderação dos valores/interesses na situação concreta, ou seja, o intérprete deve averiguar a qual deles será atribuído grau de preponderância (não há nulidade nem exclusão na hipótese de conflito). As regras são operadas no modo disjuntivo e o conflito entre elas é resolvido no plano da validade, isto é, aplicáveis ambas a uma mesma situação, uma delas apenas a regulará, atribuindo-se à outra o caráter de nulidade.
Tridimensionalidade Funcional dos Princípios (Dirley da Cunha Júnior):
1. Consagram valores fundamentais do sistema jurídico;
2. Orientam a aplicação do ordenamento;
3. Suplementam as demais fontes do direito.
Pedras de Toque do Direito Administrativo (Celso Antônio Bandeira de Melo): alicerces/bases da disciplina administrativa. A chave para a compreensão é o interesse público (preponderância dos interesses dos indivíduos em determinada sociedade), que pode ser primário (interesse público propriamente dito) ou secundário (anseios do Estado como pessoa jurídica). Havendo divergência, deve prevalecer o interesse público primário.
As pedras de toque são a supremacia e a indisponibilidade do interesse público:
Supremacia do interesse público: pressuposto de existência de qualquer sociedade. Visa a satisfação do interesse público propriamente dito, concedendo à Administração Pública algumas prerrogativas. Não está expresso na CF. Exemplos de aplicação: atributos dos atos administrativos (presunção de legitimidade, autoexecutoriedade e imperatividade), Poderes da Administração (poder de polícia), contratos administrativos (cláusulas exorbitantes, art. 58 da Lei nº 8.666/93), intervenção na propriedade (requisição, art. 5º, XXV, CF, desapropriação, art. 5º, XXIV, CF). Alguns autores, de forma minoritária, criticam o princípio sustentando que este legitima os abusos e as arbitrariedades. Outros defendem que, na verdade, há incorreção na sua aplicação.
Indisponibilidade do interesse público: consequência da própria supremacia do interesse público. O interesse público não está à livre disposição do administrador, não há liberalidade. É um contrapeso/limitação ao princípio da supremacia do interesse público. O administrador exerce função pública, significando que a atividade é exercida em nome e no interesse do povo. Assim, o administrador é mero representante e não tem titularidade sobre o interesse público, não podendo, por esse motivo, dispô-lo. O administrador exerce um encargo, uma obrigação, um múnus público e tem o dever de bem servir, não podendo comprometer o futuro da nação e criar entraves. Exemplos de aplicação: é violação à indisponibilidade do interesse público a fraude à licitação, a fraude ao concurso público. O administrador não pode criar entraves, obstáculos ao sucessor.
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Postulados fundamentais que inspiram todo o modo de agir da Administração Pública (José dos Santos Carvalho Filho).
Segundo Cretella Júnior, não se pode encontrar qualquer instituto do Direito Administrativo que não seja informado pelos respectivos princípios.
Devem ser observados pela Administração Pública Direta e Indireta e de todos os Poderes e Estados (União, Estados, Municípios e DF).
São, no Estado Democrático de Direito, importante instrumento normativo de controle jurisdicional dos atos administrativos (MPE-PR, 2017).
Numa leitura denominada de “juridicidade administrativa”, para a validação da ação administrativa, não basta que seja esta formalmente conforme a lei, sendo necessário, também, que se apresente em conformidade com os princípios da Administração Pública (MPE-PR, 2017).
Princípios omnivalentes/universais: comuns a todos os ramos do saber, como o da identidade e o da razão suficiente. Os dois princípios fundamentais e que decorrem da bipolaridade do Direito Administrativo (liberdade do indivíduo e autoridade da Administração) são os princípios da legalidade e da supremacia do interesse público sobre o particular, que não são específicos do Direito Administrativo porque informam todos os ramos do direito público (José Cretella Júnior – TJ-PR, 2014).
Princípios expressos da Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (TJ-PR 2014/2011, MPE-SP 2006).
Princípio da legalidade: toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por lei. Em não o sendo, a atividade será ilícita. Sua origem remonta à criação do Estado de Direito, ou seja, do Estado que deve respeitar as próprias leis.
Enquanto os particulares podem fazer tudo o que a lei não proíbe, o administrador público somente pode atuar onde a lei determina (atuação vinculada) ou autoriza (atuação discricionária), devendo obedecer estritamente ao previsto em lei ou observar os termos, condições e limites nela autorizados (discricionariedade).
Administrar é função subjacente à de legislar, pois a atividade só é legítima se estiver condizente com o disposto na lei.
Inexistindo previsão legal, não há possibilidade de atuação administrativa e os atos eventualmente praticados em desobediência a tais parâmetros são inválidos, podendo ter sua invalidade decretada pela própria Administração (autotutela) ou pelo Poder Judiciário (A constatação de um ato interno viciado não torna inafastável pela Administração, do que se extrai dos princípios da legalidade e da autotutela, a sua anulação – TJ-PR, 2014).
Na anulação de ato administrativo que tenha produzido efeitos no campo dos interesses individuais, é necessário prévio contraditório que garanta o exercício da defesa da legitimidade do ato por aqueles que serão por ela atingidos (TJ-SP, 2018).
A Constituição Federal de 1988 autoriza restrições pontuais e transitórias ao princípio da legalidade (TJ-PR, 2014).
Juridicidade (legalidade em sentido amplo ou subprincípio da legalidade): atuação de acordo com a lei e com os princípios que compõem o ordenamento jurídico (força normativa dos princípios).
Mitigações da obrigatoriedade do princípio da legalidade: medida provisória, estado de defesa e estado de sítio. Nesses casos, a Administração deve atuar, mesmo que não haja lei regulamentando sua atuação.
Segundo dispõe o art. 37, da Constituição Federal, a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. São restrições excepcionais ao princípio constitucional da legalidade a edição de medidas provisórias, a decretação de estado de defesa e a decretação do estado de sítio (MPE-MG, 2014).
Princípio da impessoalidade: ausência de subjetividade e inclinações pessoais. O administrador não pode atuar com base em interesses próprios ou inclinações pessoais, devendo sempre agir no atendimento do interesse público (de forma impessoal, abstrata e genérica). O ato não é do agente e sim da pessoa jurídica (teoria da imputação). Segundo a doutrina tradicional, a impessoalidade deve ser vista sob dois prismas:
Vedação à prática de atos visando a interesses do agente ou de terceiros (administrador deve se ater à vontade da lei): objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica (isonomia), proibindo discriminações, privilégios, perseguições ou favorecimentos injustificados aos administrados (princípio da finalidade – decorrência do princípio da isonomia). Qualquer ato praticado com o objetivo diverso ao de satisfação do interesse público será nulo por desvio de finalidade (art. 2º, parágrafo único, inciso III, da Lei nº 9.784/99).
Vedação à promoção do administradorpúblico pelos serviços, obras e outras realizações efetuadas pela administração pública: proíbe a vinculação de atividades da administração à pessoa do administrador e a utilização da propaganda oficial para promoção pessoal (art. 37, § 1º, da CF). Segundo a jurisprudência do STF, a publicidade deve possuir caráter educativo, informativo ou de orientação social, sendo incompatível com a menção de nomes, símbolos, imagens ou slogans que caracterizem promoção pessoal ou de servidores públicos (MPE-PR, 2017).
Nenhuma espécie de vinculação pode ser tolerada, nem mesmo quando se trata de utilização, na publicidade do governo, de elementos que permitam relacionar a mensagem veiculada com o partido político do administrador público (STF, RE 191.668). Nestes casos, o termo “publicidade” está empregado no sentido de propaganda (e não do princípio da publicidade – divulgação de atos do governo). O serviço de publicidade (propaganda) do governo deve ser licitado (art. 1º da Lei nº 6.454/77).
Exceção ao princípio: sistema de cotas (reserva de vagas pelo critério étnico-social para ingresso em instituições de nível superior – STF considera constitucional a chamada ação afirmativa que traduz política de inclusão social com o objetivo de suplantar desigualdades oriundas do processo histórico do país, muito embora os destinatários obtenham maiores vantagens que os demais interessados). José dos Santos Carvalho Filho não concorda, pois entende que outras políticas deveriam ser executadas para a inclusão étnico-social e que, nesse caso, erige-se o critério de raça como elemento diferencial da sociedade (e não como fator de agregação).
Embora Hely Lopes Meirelles (doutrina tradicional) trate os princípios da impessoalidade e da finalidade como sinônimos, Celso Antônio (doutrina moderna) os diferencia, afirmando que aquele é a ausência de subjetividade, enquanto este significa que o administrador deve buscar o espírito da lei.
Princípio da moralidade: traduz a ideia de honestidade, obediência a princípios éticos, boa-fé, lealdade. É diferente da moralidade comum (certo e errado do convívio social) por ser mais rígida, exigindo a correção de atitudes e a boa administração.
Nepotismo: Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal”.
Cargo em comissão (antigamente denominado de cargo de confiança): serve para direção, chefia e assessoramento e pode ser exercido por qualquer pessoa, atendidas as condições mínimas. Há limite mínimo previsto em lei e depende do cumprimento de determinados requisitos (ex.: escolaridade), mas independe de qualquer vínculo anterior entre a Administração Pública e o nomeado. De acordo com o STF, a sua criação:
a) Somente se justifica para o exercício de funções de direção, chefia e assessoramento, não se prestando ao desempenho de atividades meramente burocráticas, técnicas ou operacionais; 
b) Deve pressupor a necessária relação de confiança entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado; 
c) O número de cargos comissionados deve ser proporcional à necessidade que eles visam suprir e ao número de servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo que os criar; e 
d) As atribuições dos cargos em comissão devem estar descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir.
Esses requisitos estão intrinsecamente ligados, pois somente se imagina uma exceção ao princípio do concurso público, previsto na própria Constituição Federal, em virtude da natureza da atividade a ser desempenhada, a qual, em razão de sua peculiaridade, pressupõe relação de fidúcia entre nomeante e nomeado.
Função de confiança: também serve para direção, chefia e assessoramento, mas somente pode ser atribuído a quem detém cargo efetivo (acréscimo de responsabilidade). O servidor ganha um acréscimo remuneratório chamado de gratificação por função de confiança.
A vedação do nepotismo não exige a edição de lei formal, pois decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal.
Configura ato de improbidade administrativa por ofensa aos princípios da Administração Pública (STJ, REsp 1009926).
Exceção: desde que não demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado, cargos de natureza política não se incluem na vedação prevista na SV 13 (ex.: Secretário Municipal), pois demandam elevado grau de confiança entre a autoridade nomeante e o nomeado.
Neste sentido: não caracteriza imoralidade administrativa a nomeação, pela autoridade administrativa competente, de parente próximo para ocupar cargo público de natureza política (Vunesp – TJ-SP – 2009).
Ressalvada situação de fraude à lei, a nomeação de parentes para cargos públicos de natureza política não configura nepotismo na Administração Pública (MPE-SP, 2015).
Essa exceção ao nepotismo não se aplica aos Conselheiros de Tribunais de Contas, considerados cargos administrativos.
O nepotismo também não alcança os servidores de provimento efetivo, pois isso poderia inibir o próprio provimento de cargos públicos e violaria o livre acesso aos cargos, empregos e funções públicas (inexiste proteção ou apadrinhamento quando a pessoa é aprovada em concurso público).
Para o STF, no julgamento do RE 678.574, a SV 13 não se aplica às contratações realizadas pelos serviços notariais – exercem atividade estatal, mas não ocupam cargo público. Podem, assim, contratar parentes pela CLT.
No entendimento do STF, não caracteriza nepotismo a nomeação de pessoa que possui parente no órgão, quando este não tem influência hierárquica sobre a nomeação, pois a violação ao art. 37 da CF/88 não decorre diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político ou servidor público, mas de presunção de que o cargo de direção, chefia ou assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem tenha potencial de interferir no processo de seleção (STF, 2ª Turma, Rcl 18564/SP, Rel. Orig. Min. Gilmar Mendes, Rel. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/02/2016 – Info 815).
Critérios objetivos de conformação (STF):
a) Ajuste mediante designações recíprocas, quando inexistente a relação de parentesco entre a autoridade nomeante e o ocupante do cargo de provimento em comissão ou função comissionada (nepotismo cruzado);
b) Relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a autoridade nomeante;
c) Relação de parentesco entre a pessoa nomeada e o ocupante de cargo de direção, chefia ou assessoramento a quem estiver subordinada; e
d) Relação de parentesco entre a pessoa nomeada e a autoridade que exerce ascendência hierárquica ou funcional sobre a autoridade nomeante.
É inconstitucional lei estadual que excepciona a vedação da prática do nepotismo, permitindo que sejam nomeados para cargos em comissão ou funções gratificadas de até dois parentes das autoridades estaduais, além do cônjuge do Governador (STF. Plenário. ADI 3745/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 15/5/2013 – Info 706).
Com a EC nº 45/2004 e a criação do CNJ e do CNMP, foram publicadas resoluções que vedam o nepotismo (Resoluções nºs 07/CNJ e 01/CNMP). A Resolução nº 07 foi questionada pela ADC nº 12 e o STF a declarou constitucional, afirmando que representava a aplicação de vários princípios constitucionais, como a moralidade, impessoalidade, eficiência e isonomia.
Além disso, sedimentou que o CNJ pode fazer o controle administrativo do cumprimento das suas resoluções. A vedação do parentesco (cônjuge, companheiroe parente em linha reta ou colateral até o 3º grau) fica para os cargos em que não são previstos a realização de concurso púbico – Vedações de parentesco na mesma pessoa jurídica: entre a autoridade nomeante e o nomeado em cargo de comissão ou função gratificada/função de confiança; entre servidor que ocupa cargo de direção, chefia ou assessoramento e o servidor que ocupa cargo em comissão ou função gratificada; designações recíprocas (nepotismo cruzado). 
As leis que proíbem o nepotismo na Administração Pública não são de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo, podendo, portanto, ser propostas pelos parlamentares (STF, RE 570392/RS – Info 771). A vedação ao nepotismo tem por objetivo cumprir os princípios constitucionais da isonomia, impessoalidade e moralidade na Administração Pública. Ademais, conforme entendeu o STF na edição da Súmula Vinculante 13, a proibição do nepotismo não exige a edição de lei formal, considerando que essa vedação decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88. Portanto, se o STF já reconheceu que tal proibição sequer precisa de lei, não há vício de iniciativa em lei editada com o objetivo de dar cumprimento aos princípios constitucionais.
Nepotismo cruzado: nomeação por parte dos membros do Judiciário, Executivo e Legislativo da União, Estados, Distrito Federal e municípios, de parentes uns dos outros. É a migração de servidores não concursados “dentro de um poder” (ex.: vereador X contrata para atuar em seu gabinete filho do vereador Y que, em contrapartida, contrata a esposa de X).
Transnepotismo: troca de favores entre os poderes, com ou sem troca de parentes para cargos comissionados (ex.: a migração de indivíduos não concursados de um Poder para outro, como por ex., prefeito que nomeia filho de vereador para cargo comissionado, ou vereador que declara sua “lealdade” ao executivo após o mesmo ter contratado seu parente ou apadrinhado).
Princípio da publicidade: os atos da Administração devem ser divulgados o mais amplamente possível, a fim de propiciar aos administrados a possibilidade de controlar a legitimidade da conduta dos agentes administrativos, pois, apenas por meio da transparência é que os indivíduos poderão aquilatar a legalidade ou não dos atos e o grau de eficiência deles.
Decorre do regime democrático, pois, se todo poder emana do povo, quem o exerce deve informar/prestar contas de seu exercício, a fim de possibilitar a transparência e o controle da Administração Pública.
Publicidade oficial é condição de eficácia dos atos da Administração e difere do princípio da publicidade, que é amplo e se materializa de várias formas (publicidade oficial é uma delas).
A publicidade se distingue da publicação dos atos administrativos, sendo esta apenas um dos meios de concretização do princípio (MPE-PR, 2017).
Alguns atos só começam a produzir efeitos a partir de sua publicidade (ex.: contrato, multa de trânsito).
Art. 61. A publicação resumida do instrumento de contrato ou de seus aditamentos na imprensa oficial, que é condição indispensável para sua eficácia, será providenciada pela Administração até o quinto dia útil do mês seguinte ao de sua assinatura, para ocorrer no prazo de vinte dias daquela data, qualquer que seja o seu valor, ainda que sem ônus, ressalvado o disposto no art. 26 desta Lei.
Publicação oficial: Lei nº 9.784/99, art. 2º, parágrafo único, V: obrigatoriedade de divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvados os casos de sigilo previstos na CF – segurança da sociedade e segurança do Estado (CF, art. 5º, XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado).
Está em conformidade com o princípio da publicidade o sigilo imprescindível à segurança da sociedade e do Estado ou o indispensável à defesa da intimidade (FCC – DPE-SP – 2012).
Os atos irregulares não se convalidam com a publicação, nem os regulares a dispensam para sua exigibilidade quando a lei ou o regulamento a exigem, pois a publicidade não é elemento formativo do ato, mas requisito para sua eficácia e moralidade (MPE-RS, 2014).
Fundamentos da publicidade na CF: art. 37, caput/art. 5º, XXXIII (informação), XXXIV (certidão) e LXXII (habeas data), Lei nº 12.527/11 (Lei de Acesso à Informação) e art. 37, § 3º, II (direito de acesso à informação).
Instrumentos que asseguram a efetividade do princípio:
a) Direito de petição, pelo qual os indivíduos podem dirigir-se aos órgãos administrativos para formular qualquer tipo de postulação (CF, art. 5º, XXXIV, a);
b) Direito de obter certidões, expedidas por órgãos públicos, contendo o registro da verdade de fatos administrativos, cuja publicidade permite aos administrados a defesa de seus direitos ou o esclarecimento de certas situações (CF, art. 5º, XXXIV, b);
c) Mandado de segurança (LXIX – individual e LXX – coletivo) – Lei nº 12.016/2009);
d) Habeas data (LXXII) – Lei nº 9.507/97 (Súmula 2 STJ – Não cabe o habeas data se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa).
e) A ação administrativa ex officio de divulgação de informações de interesse público (CF, art. 37, § 3º, II e Lei nº 12.527/11 – Lei de Acesso à Informação) – forma de controle social do poder (se a CF impõe à Administração a obrigação de dar publicidade e transparência de seus atos, o cidadão tem o direito subjetivo de exigir a informação);
Também se materializa pela imprensa oficial, divulgação em páginas institucionais, campanhas em jornais e televisão, programa Voz do Brasil, outdoor, etc..
A existência de nomes, símbolos ou imagens de autoridades ou servidores públicos na divulgação dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos, desde que respeitado o caráter educativo, informativo ou de orientação social, na forma do § 1º do art. 37 da Constituição, atende ao princípio constitucional da publicidade. O que a CF veda é a utilização desses atributos para promoção pessoal de autoridades ou agentes públicos – dever de impessoalidade (MPE-SC, 2014).[2: § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.]
Exceções ao princípio da publicidade (garantia de sigilo):
a) Art. 5º, X (são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas). O administrador não pode, com fundamento na publicidade, violar tais valores, sob pena de ter que indenizar os lesados.
b) Art. 5º, XXXIII (segurança do Estado ou da sociedade). 
c) Art. 5º, LX (processos que correm em sigilo, tanto judiciais, quanto administrativos). Ex.: processo administrativo no âmbito do CRM visando apurar suposto erro médico. Só publica quando se tem o resultado.
“A licitação na modalidade convite não tem publicidade”. A assertiva está incorreta. No convite não há publicação de edital, pois há a carta convite. Quando se encaminha a carta aos convidados está-se realizando a publicidade.
É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782).
A divulgação de folha de pagamento de órgãos e entidades públicas não viola a intimidade ou a vida privada dos servidores, pois os dados divulgados referem-se aos agentes públicos como agentes públicos mesmos (CF – agindo “nessa qualidade”). Embora a segurança física/corporal dos servidores, pessoal e familiar, reste fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados, o risco se atenua com a ausência do endereço residencial, CPF e RG de cada um.No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública em um Estado republicano (o “como” se administra deve preponderar sobre o “quem” administra – modo público de gerir a máquina estatal é o elemento conceitual (o olho e a pálpebra) da República).
A divulgação no Diário Oficial é suficiente para se dar publicidade a um ato administrativo. Exceção: a nomeação/convocação para determinada fase de concurso público após considerável lapso temporal entre uma fase e outra, sem a notificação pessoal do interessado, viola os princípios da publicidade e da razoabilidade, não sendo suficiente a publicação no D.O. (tese consolidada pelo STJ).
O Banco do Brasil não pode negar o fornecimento, ao MP, de informações sobre nomes de beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição com recursos subsidiados pelo erário federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando de requisição de informações e documentos para instruir procedimento administrativo instaurado em defesa do patrimônio público – princípio da publicidade.
O IBGE está legalmente impedido de fornecer a quem quer que seja as informações individualizadas que coleta, no desempenho de suas atribuições, para que sirvam de prova em quaisquer outros procedimentos administrativos. STJ. 1ª Turma. REsp 1.353.602-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 30/11/2017 (Info 617).
Princípio da eficiência: pressupõe a execução dos serviços públicos com presteza, perfeição e rendimento funcional, buscando produtividade e economicidade e reduzindo o desperdício de dinheiro público.
Introduzido no caput do art. 37 da CF pela EC nº 19/98 (Reforma Administrativa), sendo uma das principais inovações trazidas por ela. Com a inclusão, o Governo pretendia conferir direitos aos usuários, em razão do descontentamento da sociedade diante de sua impotência para lutar contra a deficiente prestação dos serviços públicos.
Foi alvo de críticas em razão da imprecisão do termo e por acreditarem que de nada adiantava a sua inclusão no caput do art. 37 da CF se não houvesse, por parte da Administração, a efetiva intenção de melhorar a gestão da coisa pública e dos interesses da sociedade.
Já era exigida como princípio implícito e já existia de forma expressa no art. 6º da Lei nº 8987/95, que trata de serviço público, trazendo o conceito de serviço adequado e exigindo a eficiência (Art. 6º. Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas).
O princípio não alcança apenas os serviços públicos prestados diretamente à coletividade, devendo ser observado também em relação aos serviços administrativos internos das pessoas federativas e das pessoas a ela vinculadas.
A eficiência não se confunde com a eficácia nem com a efetividade.
Eficiência: relaciona-se ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa (diz respeito à conduta dos agentes).
Eficácia: são os meios e instrumentos empregados pelos agentes no exercício de seus misteres na Administração (sentido instrumental).
Efetividade: é voltada para os resultados obtidos com as ações administrativas (positividade dos objetivos).
Instrumentos para a concretização da eficiência:
Alteração do art. 41 que trata da estabilidade dos servidores públicos, pois muito se falava que a estabilidade acomodava o servidor. A partir da EC 19/98, os requisitos para adquirir a estabilidade no serviço público são: Nomeação para cargo efetivo + 3 anos de exercício + Avaliação especial de empenho (esse último requisito está intimamente ligado à eficiência. Tal avaliação ainda precisa de regulamentação na maioria das carreiras – Lei Complementar). Hipóteses em que o servidor pode perder o cargo:
Processo administrativo (contraditório/ampla defesa);
Processo judicial (trânsito em julgado);
Avaliação periódica de desempenho. A avaliação de desempenho já existia, mas não retirava a estabilidade do servidor.
Racionalização da máquina administrativa. Art. 169, CF. Não dá para gastar tudo que se arrecada com folha de pagamento. Isso seria ineficiente. O limite com pessoal é disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal (art. 19: 50% para a União, 60% para Estados e Municípios, sobre a receita corrente líquida). E se estiver acima do limite?
Começa-se reduzindo os cargos em comissão e funções e confiança em, no mínimo, 20%;
Na sequência, é possível a exoneração de servidores não estáveis e;
Por fim, os servidores estáveis através de exoneração, por não haver caráter de punição. Nesse caso, o cargo é extinto e só pode ser recriado com funções idênticas ou assemelhadas quatro anos depois, para que o administrador não se utilize do instituto para tirar os seus inimigos políticos da Administração. A sequência não pode ser desobedecida. Somente o servidor estável tem direito à indenização.
É preciso ter eficiência em duas esferas: meios (gastar o menos possível) e resultados (produzir os melhores resultados).
A Lei nº 13.726, de 8 de outubro de 2018, racionaliza atos e procedimentos administrativos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e institui o Selo de Desburocratização e Simplificação.
Princípio da supremacia do interesse público: as atividades administrativas são desenvolvidas pelo Estado para benefício da coletividade e, mesmo quando age em vista de algum interesse estatal imediato, o fim último da atuação estatal deve ser voltado ao interesse público, sob pena de, em não estando presente esse objetivo, ser a atuação inquinada de desvio de finalidade.
Welfare State: Estado/bem estar, dedicado a atender ao interesse público.
Em caso de eventual conflito entre o interesse público e o interesse privado, há de prevalecer aquele.
O indivíduo deve ser visto como integrante da sociedade, não podendo os seus direitos, em regra, ser equiparados aos direitos sociais (ex: desapropriação, poder de polícia, etc.).
Princípio da isonomia: significa tratar os desiguais de forma desigual, na medida de suas desigualdades. A restrição deve guardar compatibilidade com a finalidade da norma. 
Súmula 683/STF: o limite de idade para inscrição em concurso público apenas se legitima, à vista do art. 7°, XXX (proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil), da Constituição Federal, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido (MPE-PR, 2017).
Para ser exigível – art. 7º, XXX – o limite de idade deve estar previsto na lei da carreira. Esse raciocínio serve para tudo, altura, peso, atividade jurídica. Para o requisito ir para o edital tem que estar previsto na lei da carreira e ser compatível com as atribuições do cargo. O limite de idade é hoje possível e é acolhido pela Constituição, desde que obedecidos os requisitos. 
Quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público, o limite de idade há de ser comprovado no momento da inscrição no certame (STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 – Info 791)
E se a previsão está em regulamentos, regimentos e não em lei? O STF discutiu tal questão em relação às forças armadas, pois o limite de idade estava previsto em regulamento (RE 600885). O STF decidiu que não foi recepcionada pela CF/88 a expressão “nos regulamentos das Forças Armadas” do art. 10 da Lei nº 6880/80, que remetia a definição dos requisitos aos regulamentos. O princípio da segurança jurídica impõe, no entanto, a modulação dos efeitos da não recepção, para assegurar a constitucionalidade dos concursos realizados até 31 de dezembro de 2012. A primeira decisão era ate 30.11.2012, mas houve embargos e o prazo foi aumentado. Dessa forma, o STF reafirma a exigênciade que os requisitos estejam previstos em lei em sentido estrito. 
Sistema de cotas para negros: no mundo contemporâneo, a igualdade se expressa em três dimensões:
a) Igualdade formal: proibição de privilégios e tratamentos discriminatórios. Relaciona-se com o Estado liberal, tendo sido idealizada como uma forma de reação aos privilégios da nobreza e do clero. Pode ser subdividida em dois aspectos:
Igualdade perante a lei: comando dirigido ao aplicador da lei – judicial e administrativo –, que deverá aplicar as normas em vigor de maneira impessoal e uniforme a todos aqueles que se encontrem sob sua incidência.
Igualdade na lei: comando endereçado ao legislador, que não deve instituir discriminações ou tratamentos diferenciados baseados em fundamento que não seja razoável ou que não vise a um fim legítimo. A igualdade formal encontra-se prevista no art. 5º, caput, da CF/88: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. 
b) Igualdade material: ligada a demandas por redistribuição de riqueza e poder e, em última análise, por justiça social. O desenvolvimento da ideia de igualdade material surge a partir da constatação de que não basta proibir privilégios. É preciso atuar ativamente contra a desigualdade econômica e em favor da superação da miséria. Mais do que a igualdade perante a lei, deve-se assegurar algum grau de igualdade perante a vida. Dessa forma, deve-se garantir a proteção jurídica do polo mais fraco de certas relações econômicas, a criação de redes de proteção social e mecanismos de redistribuição de riquezas. Para isso, é necessário que o Poder Público forneça prestações positivas adequadas em matérias como educação, saúde, saneamento, trabalho, moradia, assistência social. A igualdade material encontra-se prevista no art. 3º, I e III, da CF/88, que afirma que a República Federativa do Brasil tem como objetivos “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e “erradicara pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
c) Igualdade como reconhecimento: respeito que se deve ter para com as minorias, sua identidade e suas diferenças, sejam raciais, religiosas, sexuais ou quaisquer outras. A injustiça a ser combatida nesse caso tem natureza cultural ou simbólica. Ela decorre de modelos sociais de representação que, ao imporem determinados códigos de interpretação, recusariam os “outros” e produziriam a dominação cultural, o não reconhecimento ou mesmo o desprezo. Determinados grupos são marginalizados em razão da sua identidade, suas origens, religião, aparência física ou orientação sexual como os negros, judeus, povos indígenas, ciganos, deficientes, mulheres, homossexuais e transgêneros. O instrumento para se alcançar a igualdade como reconhecimento é a transformação cultural ou simbólica. O objetivo é constituir um mundo aberto à diferença (“a difference-friendly world”). A igualdade como reconhecimento encontra-se também prevista no art. 3º, IV, da CF/88, que determina que um dos objetivos fundamentais da República é o de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Em muitos casos, alguns grupos sofrem tanto uma desigualdade material como uma desigualdade quanto ao reconhecimento. As mulheres e os negros, por exemplo, sofrem injustiças cujas raízes se encontram tanto na estrutura econômica, quanto na estrutura cultural-valorativa, exigindo ambos os tipos de remédio.
Não afronta o princípio do concurso público porque, para serem investidos nos cargos públicos, os candidatos negros têm de ser aprovados no concurso. Caso não atinjam o patamar mínimo, sequer disputarão as vagas. A única coisa que a lei fez foi criar duas formas distintas de preenchimento de vagas, em razão de reparações históricas, sem abrir mão do critério mínimo de suficiência. 
Não afronta o princípio da eficiência porque não necessariamente os candidatos aprovados em primeiro lugar, segundo o critério da nota, serão absolutamente melhores que os outros. A noção de meritocracia deve comportar nuances que permitam a competição em igualdade de condições. Pode-se até mesmo imaginar um ganho importante de eficiência. Afinal, a vida não é feita apenas de competência técnica, ou de capacidade de pontuar em concurso, mas sim de uma dimensão de compreensão do outro e de variadas realidades. A eficiência pode ser muito bem-servida pelo pluralismo e pela diversidade no serviço público.
Não afronta o princípio da proporcionalidade porque a demanda por reparação histórica e ação afirmativa não foi resolvida com a simples existência de cotas para acesso às universidades públicas. O impacto das cotas raciais não se manifesta no mercado de trabalho automaticamente, pois há um tempo de espera até que essas pessoas estudem, se formem e se tornem competitivas. Além disso, a proporção de 20% escolhida pelo legislador é extremamente razoável. Se essa escolha fosse submetida a um teste de proporcionalidade em sentido estrito, também não haveria problema, porque 20%, em rigor, representariam menos da metade do percentual de negros na sociedade brasileira. 
É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa. STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (repercussão geral) (Info 868).
Princípio da razoabilidade (ou proporcionalidade): coerência, lógica, congruência, equilíbrio, tendo sempre por base o padrão do homem médio (valoração dentro dos standards de aceitabilidade). Ela proíbe os excessos, as condutas insensatas. O administrador tem que agir com bom senso. Para os administrativistas, o princípio da proporcionalidade está embutido no princípio da razoabilidade.
A palavra-chave da proporcionalidade é o equilíbrio: entre os atos e as medidas, entre os benefícios e prejuízos causados. Eles estão implícitos na CF e expressos na norma infraconstitucional, ex:. 
Art. 2º da Lei nº 9784/99 A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
São, ainda, limites à discricionariedade do legislador. Mesmo quando for discricionário o ato, quando não obedecer a esses dois valores, o Judiciário estará autorizado a interferir, pois são princípios constitucionais. O Poder Judiciário faz aqui o controle de legalidade em sentido amplo, isto é, o controle do ato em relação a leis infraconstitucionais e à própria CF. Por isso a doutrina trata desses princípios como limitadores da liberdade e discricionariedade do administrador.
Carvalho Filho pontua, entretanto, que não pode o juiz controlar a conduta do administrador sob a mera alegação de que não a entendeu razoável, pois não lhe é lícito substituir o juízo de valor do administrador pelo seu próprio, porque a isso se coloca o óbice da separação de funções que rege as atividades estatais. Ele poderá/deverá, no entanto, controlar os aspectos relativos à legalidade da conduta, ou seja, verificar se estão presentes os requisitos que a lei exige para a validade dos atos administrativos.
Princípios do contraditório e da ampla defesa: previstos no art. 5º, LV, CF. 
Art. 5º, LV, CF. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. 
Os processos administrativos e judiciais estão sujeitos ao contraditório e à ampla defesa. Na via judicial já estão sedimentados. Na via administrativa só aparece com a CF/88. A maioria das nulidades em processo administrativo ocorre por falta de contraditório e ampla defesa, pois ainda se vive um amadurecimento dessa consolidação. 
Contraditório é ciência, conhecimento da existência do processo. Tem duas bases: 
Base lógica: é a bilateralidade da relação processual;Base política: a ideia de que ninguém pode ser processado e condenado sem ser ouvido, sem ser chamado para participar.
Ampla defesa é a oportunidade da parte se defender. Quais são os elementos que devem ser cumpridos para que a ampla defesa seja efetiva?
A defesa tem que ser prévia, isto é, tem que anteceder o convencimento do julgador + conhecimento do procedimento + conhecimento das possíveis sanções.
Direito a conhecer as informações do processo: provas, acusações, etc. 
Direito à produção de prova e sua consequente avaliação, para que ela interfira no julgamento. Tem que ser citada, debatida.
Defesa técnica: durante muitos anos, paulatinamente, o STJ construiu uma jurisprudência no sentido de que a presença do advogado contribui para a regularidade do procedimento. Com isso, o STJ publicou a Súmula 343, afirmando que o advogado deveria estar presente em todas as fases do PAD (processo administrativo disciplinar). Gerou uma grande confusão, pois, se o advogado não estivesse presente, o processo seria anulado. Muitos servidores demitidos teriam direito à reintegração com todas as vantagens do período em que estavam afastados. O STF, então, para resolver a polêmica econômica, editou a Súmula Vinculante nº 5, cujo verbete preconiza que a falta de defesa técnica no PAD não viola a CF, revogando, assim, a Súmula 343 do STJ. 
A presença de advogado em PAD é facultativa, ou seja, o acusado pode ser acompanhado por advogado, se assim desejar, no entanto, não é obrigatório que o processado tenha assistência jurídica.
A Súmula Vinculante 5 continua válida. O STF rejeitou proposta da OAB que pretendia o cancelamento do verbete. Após a edição da SV 5, não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção da sociedade a justificar a revisão ou o cancelamento do enunciado. A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser cancelada ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes. Assim, a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a CF. STF. Plenário. PSV 58/DF, julgado em 30/11/2016 (Info 849). 
Para a súmula vinculante ser modificada devem ocorrer 03 fatores: a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria; b) alteração legislativa quanto ao tema; ou c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.
Direito de recurso. Para isso, é necessário que haja uma decisão fundamentada. A Súmula Vinculante 21 trata da inconstitucionalidade no que tange à exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para a admissibilidade do recurso administrativo. O recurso não poderia ficar vinculado à capacidade financeira da parte. A SV 21 foi elaborada no âmbito da discussão do processo tributário, mas foi ampliada para alcançar qualquer processo. 
Súmula Vinculante 3: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
O ato de aposentadoria, reforma ou pensão possui natureza jurídica de ato complexo, ou seja, para ser formado, necessita da manifestação de vontade de dois ou mais diferentes órgãos (primeiro o Departamento de Pessoal do órgão ou entidade público a que o servidor esteja vinculado analisa o preenchimento dos requisitos legais para a aposentadoria, reforma ou pensão e, em caso afirmativo, concede o benefício – concessão inicial, tendo em vista que ainda haverá um controle de legalidade a ser feito pelo TCU. Somente após passar por esse controle do TCU é que a aposentadoria ou pensão poderá ser considerada definitivamente concedida).
Portanto, em regra, quando o TCU faz o controle de legalidade da concessão inicial do benefício previdenciário, não é necessário que o servidor/pensionista seja intimado para contraditório e ampla defesa, considerando que não há litígio ou acusação, mas tão somente a realização de um ato administrativo (complexo – dois ou mais diferentes órgãos).
Exceção: será necessário garantir o contraditório e a ampla defesa se tiverem se passado mais de 5 anos desde a concessão inicial e o TC ainda não tiver examinado a legalidade do ato.
Isso porque ninguém pode ser atingido por uma decisão/ato sem ter participado. Se a empresa x vai ser atingida, tem que ser chamada a participar. Nos casos de aposentadoria, reforma e pensão não haverá contraditório e ampla defesa no TCU. Isso porque o contraditório/ampla defesa, existiu em momento anterior (“fora do TCU”). Ato inicial de concessão de aposentadoria, reforma e pensão é ato administrativo complexo, isto é, para se tornar perfeito e acabado depende de duas manifestações de vontade, que se realizam em órgãos diferentes (Administração + Tribunal de Contas). O aperfeiçoamento do ato se dá no TCU. Nesse ato complexo, o contraditório e ampla defesa ocorrem na Administração em que há vinculação. 
Na primeira parte da súmula o TC vai retirar algo que o sujeito já tem. Na segunda, o sujeito ainda não tem aposentadoria. O STF fez um temperamento, pois o servidor ia até a Administração, requeria a aposentadoria e permanecia em casa provisoriamente até decisão do TCU. Depois de 10 anos o TCU resolvia que ele não tinha direito. O STF então entendeu que se o TC demorar mais de cinco anos para confirmar o ato de aposentadoria ele terá que realizar o contraditório e ampla defesa.
Intranscendência subjetiva das sanções: é necessária a observância da garantia do devido processo legal, em especial, do contraditório e da ampla defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em cadastros federais de inadimplência. Assim, a União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá assegurar o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa. STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825). STF. Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779).
Auditoria do TCU e desnecessidade de participação de terceiros reflexamente interessados: em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa de órgão, os terceiros indiretamente afetados pelas determinações do tribunal (ex: pensionistas) não possuem direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório. Não existe, no caso, desrespeito ao devido processo legal. Nessa espécie de atuação administrativa, a relação processual envolve apenas o órgão fiscalizador e o fiscalizado, sendo dispensável a participação dos interessados. O contraditório pressupõe a existência de litigantes ou acusados, o que não ocorre quando o Tribunal de Contas atua no campo da fiscalização de órgãos e entes administrativos. O contraditório deve ser garantido pelo órgão de origem, a quem cabe o cumprimento da determinação do Tribunal de Contas. Não aplicação do art. 54 da Lei nº 9.784/99 para as fiscalizações realizadas pelo TC na forma do art. 71, IV, da CF/88. Em casos de “fiscalização linear exercida pelo Tribunal de Contas”, nos termos do art. 71, IV, da CF/88, não se aplica o prazo de decadência previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99. Isso porque em processos de “controle abstrato”, o Tribunal de Contas não faz o exame de ato específico do qual decorre efeito favorável ao administrado. A Corte está examinando a regularidade das contas do órgão e a repercussão sobre eventual direito individual é apenas indireta. STF. 1ª Turma. MS 34224/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/8/2017 (Info 873).
Controle externo linear é aquele feito, por meio de auditoria, pelo tribunal de contas e os órgãos da administração. Esse controle não se sujeita à decadência e não ofende o princípio do devido processo legal, ao não chamar todos os eventuais interessados, com reflexos, na tomada de decisão.
Princípio da continuidade do serviço público: os serviços públicos têm queser prestados de forma ininterrupta, pois buscam atender aos reclamos dos indivíduos em determinados setores sociais, os quais, muitas vezes, constituem necessidades prementes e inadiáveis da sociedade.
Ainda que fundamentalmente ligado aos serviços públicos, o princípio alcança toda e qualquer atividade administrativa, já que o interesse público não guarda adequação com descontinuidades e paralisações na Administração.
A continuidade do serviço público está, inclusive, relacionada ao princípio da eficiência, pois, logicamente, um dos aspectos da qualidade do serviço é que não sofram solução de continuidade, prejudicando os usuários.
Art. 6, § 3º, da Lei nº 8.987/95 – Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; II – por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
Dessa forma, pode haver a interrupção do serviço a) sem aviso – em casos de emergência; b) com aviso prévio – por razões de ordem técnica ou em caso de inadimplemento do usuário. 
É possível a interrupção por inadimplemento mesmo em caso de serviços essenciais: em nome da supremacia do interesse público (porque se a empresa quebrar prejudica a todos), da isonomia (tratar de forma desigual quem paga e quem não paga), da continuidade (para o pagador), deve-se interromper o serviço. Também é possível, em nome de todos esses fundamentos, interromper o serviço quando o inadimplente é o Estado.
A energia elétrica dos hospitais e dos logradouros públicos não pode ser cortada, em razão de interesses maiores de saúde e segurança, da mesma forma o usuário que padece de doença e necessita da energia em sua casa para o seu tratamento (ex: dependente de aparelhos médicos). 
	CORTE EM SERVIÇOS PÚBLICOS – JURISPRUDÊNCIA EM TESE STJ
	Legítimo
	Ilegítimo
	Inadimplência do usuário, desde que previamente notificado.
	Energia elétrica: quando puder afetar o direito à saúde e à integridade física do usuário.
	Razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, desde que precedido de notificação.
	Inadimplência de unidade de saúde (prevalecem os interesses de proteção à vida e à saúde).
	Inadimplência de pessoa jurídica de direito público, desde que precedido de notificação e que a interrupção não atinja as unidades prestadoras de serviços indispensáveis à população.
	Inadimplência do usuário decorrente de débitos pretéritos (interrupção pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo).
		
	Débitos de usuário anterior (natureza pessoal da dívida).
	
	Energia elétrica: débito irrisório (configura abuso de direito e ofensa aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sendo cabível a indenização ao consumidor por danos morais).
	
	Débito decorrente de irregularidade no hidrômetro ou no medidor de energia elétrica, apurada unilateralmente pela concessionária.
	
	O corte no fornecimento de energia elétrica somente pode recair sobre o imóvel que originou o débito, e não sobre outra unidade de consumo do usuário inadimplente.
Greve: segundo o art. 37, VII, da CF, o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica.
Até 1998, a CF exigia lei complementar. Após a EC 19/98, passou a exigir apenas lei específica (que trata de assunto específico).
Obs: enquanto a norma não é editada, pode haver o exercício de greve pelos servidores? José Afonso da Silva – norma de eficácia plena, contida, limitada, de acordo com a aplicabilidade. O artigo supracitado é de eficácia limitada, pois não pode haver o exercício do direito constitucional, enquanto não houver lei que o regulamente. Por muitos anos se considerou a greve do servidor como ilegal, onde se exigia a compensação de horas. Havia inclusive casos de demissão, o que era absurdo, pois demissão é sanção e requer PAD, no reconhecimento de falta grave, o que não é o caso do exercício de greve. Em sede de mandado de injunção, o STF certificou o Congresso acerca da omissão constitucional, realizando apenas a declaração da omissão (MI 670/708/712). O STF resolveu que o enquanto a lei de greve dos servidores não fosse editada, seria aplicável aos casos, no que couber, a Lei nº 7.789/89, passando os mandados de injunção a terem efeitos concretos. Em regra, o MI reconhecia a omissão e tinha efeitos inter partes. Esses novos MI´s, no entanto, passam a ter efeitos concretos e erga omnes.
Enfim, depois de muita discussão, em 27/10/16, o STF proferiu tese de repercussão geral sobre o desconto dos dias de greve no serviço público. O Plenário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do Recurso Extraordinário 693456, com repercussão geral reconhecida, que discute a constitucionalidade do desconto dos dias parados em razão de greve de servidor. Por 6 votos a 4, o Plenário decidiu que a Administração Pública deve fazer o corte do ponto dos grevistas, mas admitiu a possibilidade de compensação dos dias parados mediante acordo. Ao final do julgamento foi aprovada a seguinte tese de repercussão geral: “A Administração Pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre, permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público”. Então, nem sempre a Administração poderá fazer o desconto dos servidores, já que no caso de o movimento grevista ter sido motivado por conduta ilícita do próprio Poder Público, o desconto não poderá ser feito.
Outro exemplo é o dos contratos administrativos. Para evitar a paralisação das obras e serviços, é vedado ao particular contratado, dentro de certos limites, opor em face da Administração a exceção de contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus).
Princípio da autotutela: poder-dever de a Administração Pública rever seus próprios atos para restaurar a situação de regularidade. Corolário do princípio da legalidade, pois, diante de situações irregulares, não se pode admitir que a Administração permaneça inerte e desinteressada.
A Administração não precisa ser provocada para o fim de rever os seus atos, podendo fazê-lo de ofício. 
Súmula 346/STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 473/STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
A Administração pode rever os seus próprios atos:
Aspectos de legalidade: anulação – não originam direitos;
Aspectos de mérito: revogação – reexame de atos anteriores quanto à conveniência e à oportunidade de sua manutenção ou desfazimento. Deve respeitar o direito adquirido e está sujeita à apreciação judicial.
Maria Sylvia diz que o princípio da autotutela também traz ao administrador o dever de cuidado com o seu patrimônio. Tutelar é cuidar, zelar.
A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa. Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo. STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732). STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).
Em nome, porém, do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações jurídicas, decai em cinco anos o direito da Administração anular atosadministrativos que tenham irradiado efeitos favoráveis ao destinatário, salvo comprovada má-fé (art. 54 da Lei nº 9.784/99). Após o referido prazo, incabível se torna o exercício da autotutela, eis que tal hipótese acarreta a conversão do fato anterior em situação jurídica legítima.[3: Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.§ 1º No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.§ 2º Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.]
 
Princípio da indisponibilidade: os bens e interesses públicos não pertencem à Administração nem a seus agentes, cabendo-lhes apenas geri-los, conservá-los e por eles velar em prol da coletividade – verdadeira titular dos direitos e interesses públicos.
A Administração não tem a livre disposição dos bens e interesses públicos porque atua em nome de terceiros.
Princípio da especialidade: quando as pessoas da administração direta forem criar as pessoas da administração indireta, devem fazer através de lei, que tratará da sua finalidade específica e vinculará as atividades da pessoa criada. Não pode exorbitar aquilo que foi previsto na lei de sua criação. Essa finalidade, inclusive, só pode ser alterada, igualmente, através de lei. Obs: essa ideia também deve ser aplicada aos órgãos públicos.
Princípio da intranscendência subjetiva das sanções: proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores, ou seja, impede que a administração atual seja punida com a restrição de recebimento de repasses de outras esferas, por exemplo. O STF tem posição majoritária no sentido da aceitação deste princípio (STF 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux – 23/06/15). Entretanto, em 10/05/16, quando do julgamento da ACO 732/AP, o relator, Min. Marco Aurélio, não reconheceu a aplicação deste princípio sob o fundamento que vigora, no âmbito da Administração Pública, o princípio da impessoalidade, donde as relações jurídicas são estabelecidas entre entes federados (União-Estado/Estado-Município, p.ex.) e não entre pessoas físicas, no caso, os administradores de épocas (Estado-Prefeito “X”, p. ex.).
Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União. Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a inscrição combatida”. Penso que seja a posição que prevalece no STF. A própria AGU admite esta tese: Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o ressarcimento ao erário. Vale ressaltar, no entanto, que o Min. Marco Aurélio recentemente manifestou-se contrariamente à tese afirmando que: A inscrição do nome do Estado-Membro em cadastro federal de inadimplentes em face de ações e/ou omissões de gestões anteriores não configura ofensa ao princípio da intranscendência. Vigora, no âmbito da Administração Pública, o princípio da impessoalidade, previsto no artigo 37 da CF/88. A relação jurídica envolve a União e o ente federal, e não a União e certo Governador ou outro agente. O governo se alterna periodicamente nos termos da soberania popular, mas o Estado é permanente. A mudança de comando político não exonera o Estado das obrigações assumidas. No caso concreto (ACO 732/AP), o STF julgou o pedido de forma favorável ao Estado porque a União não havia respeitado o devido processo legal. Dessa forma, esta argumentação do Min. Marco Aurélio não foi adotada pela Turma como razão de decidir. Por isso, penso que a posição do referido Ministro é minoritária e, em concursos públicos, acredito que ainda se deve adotar o entendimento no sentido de que é possível aplicar o princípio da intranscendência para esta situação. STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825). STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).
Súmula 615/STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. (Súmula 615, Primeira Seção, julgado em 09/05/2018, DJe 14/05/2018). 
Princípio da segurança jurídica: fundamenta-se na previsibilidade dos atos administrativos e estabilização das relações jurídicas. [4: CAIU NA DPEMT/2016: por força deste princípio, as orientações firmadas pela Administração Pública não podem, sem prévia publicidade, ser modificadas em casos concretos para agravar a situação dos administrados ou negar-lhes direitos.]
Limita a prática de atos pela Administração, tais como: vedação à aplicação retroativa de nova interpretação e sujeição do poder de autotutela a prazo razoável.
O princípio da segurança jurídica pode ser estudado sob dois prismas:
Objetivo: refere-se à irretroatividade das normas e à proteção dos atos perfeitamente realizados, em relação a modificações legislativas posteriores. 
Subjetivo: trata justamente da preservação das expectativas legítimas da sociedade com a produção de harmonia das relações jurídicas (princípio da proteção da confiança).
Proteção da confiança: segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio da proteção da confiança dos administrados constitui a face subjetiva do princípio da segurança jurídica. Essa face subjetiva relaciona-se com o caráter psicológico daquele que acreditou estar atuando conforme o direito. Assim, a caracterização da confiança legítima do administrado para com a administração depende, necessariamente, da boa-fé do administrado, que acreditou nas expectativas geradas pela atuação estatal. Logo, não se admite a invocação do princípio da proteção da confiança quando o administrado atua de má-fé perante a administração. Tampouco se admite a invocação do princípio em comento nos casos em que o particular sabe que está albergado por medida judicial precária, como nos casos de posse precária em cargo público via decisão liminar.
Ainda nesse cenário de confiança e expectativa entre administração e administrado, os tribunais superiores vem admitindo a aplicação do venire contra factum proprium (proibição do comportamento contraditório) no âmbito do direito administrativo. Ora, se existe todo um aparato principiológico regulando essa relação entre particular e Estado, não haveria motivo para se negar a aplicação deste consectário do princípio da boa-fé e do respeito aos deveres anexos de lealdade, cooperação e informação da Administração Pública perante os seus administrados, atuando de modo a não os surpreender.
A jurisprudência dos Tribunais Superiores não admite a aplicação deste princípio no caso de situações flagrantemente inconstitucionais.
Princípio da reserva da Administração: a “reserva de administração” é um instituto do direito constitucional e administrativo, que envolve temas ligados à reserva de lei, à organização da Administração, à separação depoderes, ao princípio da legalidade, às funções típicas e atípicas dos poderes, ao poder regulamentar, etc. Canotilho conceitua “reserva de administração” como “um núcleo funcional de administração ‘resistente’ à lei, ou seja, um domínio reservado à administração contra as ingerências do parlamento”. A “reserva de administração” possui duas espécies: a reserva de administração em sentido estrito e a reserva de regulamento.
Reserva de administração em sentido estrito está associada à ideia de separação de poderes, baseia-se na proibição de ingerência de um Poder nas funções típicas de outro. Objetivamente, a reserva em sentido estrito se revela na proibição voltada ao Legislativo e ao Judiciário para que esses Poderes não adentrem no campo da função administrativa, especificamente no mérito administrativo.
Já a reserva de regulamento verifica-se quando o ordenamento jurídico, especialmente a Constituição, tira determinada matéria do âmbito do Poder Legislativo, atribuindo exclusivamente ao Poder Executivo a competência para normatizá-la, que a exerce por meio dos regulamentos autônomos. Neste caso, há uma vedação à edição de leis formais nesses campos, sob pena de inconstitucionalidade formal. No Brasil é admitido a edição de regulamentos de execução independentes. Entretanto, devem ser atendidos alguns requisitos como: não incidir em um campo de reserva legal; buscar atender aos objetivos do Estado, ao interesse público ou tutelar direitos; ser editado de acordo com os princípios de direito administrativo, etc.
O STF já reconheceu a reserva de administração em várias hipóteses, como no RE 427.574-ED, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 13-12-2011, Segunda Turma; ADI 3.343, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 01/09/2011.
A reserva de regulamento divide-se em: a) geral, que se fundamenta no princípio da separação dos poderes e significa que a atuação de cada órgão estatal não pode invadir ou cercear o núcleo essencial da competência dos outros órgãos; b) específica, que surge quando a CF destaca determinadas matérias, submetendo-as à competência exclusiva do Executivo.
No Brasil, o STF já reconheceu a existência de um verdadeiro princípio constitucional da reserva de administração, com fulcro no princípio da separação dos poderes, cujo conteúdo impediria a ingerência normativa do Legislativo em matérias sujeitas à exclusiva competência administrativa do Executivo (ex: é inconstitucional declaração pelo Legislativo da nulidade de concurso público realizado pelo Executivo por suposta violação às normas legais, pois uma declaração dessa natureza revelaria o exercício de autotutela que só poderia ser exercida com exclusividade por quem realizou o certame – ADInMC 2.364/AL).
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