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ATIVIDADE AGRÁRIA COMO EIXO CENTRAL DO CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO 
 
LUCAS ABREU BARROSO 
Mestre em Direito pela UFG 
 Doutor em Direito na PUC/SP 
Professor da PUC/MG 
 
 
 
1. CONCEITO DE DIREITO AGRÁRIO 
 
De início, cumpre-nos ressaltar a advertência do professor PAULO TORMINN BORGES1: 
“só podemos definir um instituto se lhe conhecemos os elementos essenciais”. 
Acrescenta-se a esta a de FERNANDO PEREIRA SODERO que, segundo o professor 
BENEDITO FERREIRA MARQUES2, esclarece: “no Brasil, ainda sem doutrina, iniciando os 
primeiros estudos sobre a matéria, é, na realidade, um pouco cedo para conceituarmos o Direito 
Agrário. Na verdade, há que haver um grande trabalho dos nossos futuros juristas agrários, para, 
delimitando o seu conteúdo, definindo os seus institutos, firmando sua doutrina, defini-lo com 
precisão”. 
Esta é a razão das inúmeras definições que o Direito Agrário recebeu entre nós nesses 
últimos anos, pois sendo um direito novo, ainda em formação, cada autor procurou dar um conceito 
ao mesmo, o que prejudicou de forma considerável um consenso em torno deste. 
Quanto a uma definição supranacional, tem-se que esta não seja possível, haja vista que este 
ramo do direito apresenta particularidades que variam de acordo com a realidade de cada país. 
 
1. BORGES, Paulo Torminn - Institutos básicos do Direito Agrário. 10. ed. rev. e ampl. São 
Paulo: Saraiva, 1996. p. 14. 
2. MARQUES, Benedito Ferreira - Direito Agrário brasileiro. Goiânia: AB, 1996. p. 5. 
 
 
2 
O professor PAULO TORMINN BORGES3 conceitua o Direito Agrário como: “o conjunto 
sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em 
vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade”. 
Por sua vez, FERNANDO PEREIRA SODERO, apesar de sua consideração que 
inicialmente expusemos, apud NELSON DEMÉTRIO4, assim define o Direito Agrário: “conjunto 
de princípios e de normas de direito público e de direito privado, que visa a disciplinar as relações 
emergentes da atividade rural, com base na função social da terra”. 
Explica NELSON DEMÉTRIO5 que “a expressão atividade rural é aqui empregada no 
sentido de compreender o uso, posse, fruição e administração da terra, das várias modalidades, quer 
a agrícola, quer a pecuária, agro-industrial ou extrativa”. 
Nesse sentido, RAYMUNDO LARANJEIRA6 traça o conceito de Direito Agrário: 
Direito Agrário é o conjunto de princípios e normas que, 
visando a imprimir função social à terra, regulam relações 
afeitas à sua pertença e uso, e disciplinam a prática das 
explorações agrárias e da conservação dos recursos 
naturais. 
Vê-se, pois, claramente pela interpretação dos conceitos acima expostos, que estes 
“guardam, entre si, pontos de convergência, quando colocam a atividade agrária como centro de 
suas preocupações, na medida em que somente por ela se oportuniza a relação homem-terra”7. 
E é justamente este o nosso intuito: demonstrar que a atividade agrária encontra-se sempre 
presente nos conceitos de Direito Agrário, embora formulados por autores de diferentes países, em 
épocas distintas. 
 
3. BORGES, Paulo Torminn - Ob. cit. p. 17. 
4. DEMÉTRIO, Nelson - Doutrina e prática do Direito Agrário. 2. ed. Campinas: Julex, 1987. 
p. 36. 
5. idem, ibidem. 
6. LARANJEIRA, Raymundo - Propedêutica do Direito Agrário. São Paulo: Ltr, 1975. p. 58. 
7. MARQUES, Benedito Ferreira - Ob. cit. p. 6. 
 
 
3 
A explicação para este fato é que a atividade agrária é elemento essencial para o Direito 
Agrário, pois uma vez que se não a exerça, este direito não tem aplicabilidade, permanecendo no 
plano abstrato, isto é, a lei antes de sua efetivação prática. 
A atividade agrária é quem realiza o Direito Agrário, quem o põe em movimento, tornando-
o concreto à consecução de seus objetivos. 
Prosseguindo entre os conceitos de autores pátrios, temos o formulado por OCTÁVIO 
MELLO ALVARENGA que, como nos informa NILSON MARQUES8, entende ser o Direito 
Agrário o “ramo da ciência jurídica, composto de normas imperativas e supletivas que regem as 
relações emergentes da atividade do homem sobre a terra, observados os princípios de 
produtividade e justiça social”. Este renomado agrarista deixa perceptível a presença do elemento 
atividade agrária, apesar de não o mencionar explicitamente. 
Ao contrário, J. MOTTA MAIA apud ALCIR GURSEN DE MIRANDA9 deixa tão visível 
em seu conceito a atividade agrária, que chega a colocar o Direito Agrário por sua conta: “...Direito 
Agrário, o conjunto de disposições reguladoras da atividade agrária...”. 
ALCIR GURSEN DE MIRANDA10 também elabora seu próprio conceito. Para ele, o 
Direito Agrário “é o ramo jurídico que regula as relações agrárias, observando-se a inter-relação 
homem/terra/produção/sociedade”. 
Fechando a análise dos conceitos de alguns jusagraristas nacionais, PINTO FERREIRA11 
igualmente destaca a atividade agrária quando afirma ser o Direito Agrário “um complexo 
normativo, com princípios gerais próprios e específicos, disciplinando relações entre os sujeitos e os 
bens agrários no exercício da atividade agrária”. 
Entre os estrangeiros, trazemos à colação o conceito de ANTONINO VIVANCO, este 
argentino que é considerado o maior teórico do Direito Agrário, para quem, de acordo com 
 
8. MARQUES, Nilson - Curso de Direito Agrário. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 17. 
9. MIRANDA, Alcir Gursen de - Teoria de Direito Agrário. Belém: Cejup, 1989. p. 55. 
10. idem, ibidem, p. 65. 
11. FERREIRA, Pinto - Curso de Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 2. 
 
 
4 
RAFAEL AUGUSTO DE MENDONÇA LIMA12, “o Direito Agrário é a ordem jurídica que rege as 
relações sociais e econômicas, que surgem entre os sujeitos intervenientes na atividade agrária”. 
ISMAEL MARINHO FALCÃO13 traz a lume o conceito de RODOLFO CARRERA, da 
mesma forma destacando, como seu compatriota ANTONINO VIVANCO, a atividade agrária 
como centro das relações de Direito Agrário, quando diz que este “es la ciencia jurídica que 
contiene los principios y normas que reglan las relaciones emergentes de la actividad agraria a fin 
de que la tierra sea objeto de una eficiente exploración que redunde en una mayor y mejor 
producción, así como en una más justa distribución de la riqueza en beneficio de quien la trabaja y 
de la comunidad nacional”. 
Do México, mencionamos MARTHA CHAVEZ P. VELAZQUEZ que conceitua o Direito 
Agrário, segundo nos informa ISMAEL MARINHO FALCÃO14, como sendo: 
...o conjunto de normas (teóricas e práticas) que se referem 
ao tipicamente jurídico, enfocando ao cultivo do campo e 
ao sistema normativo que regula o que é relativo à 
organização territorial rústica e às explorações 
caracterizadas como agrícolas, pecuárias, florestais. 
Outro mexicano que destacamos, LUCIO MENDIETA Y NUÑES apud PINTO 
FERREIRA15 apresenta o seu conceito nos seguintes termos: 
o Direito Agrário é o conjunto de normas, leis, 
regulamentos e disposições em geral, doutrina e 
jurisprudência que se referem à propriedade rústica e às 
explorações de caráter agrícola. 
Na Espanha, o professor JUAN JOSE SANZ JARQUE16 assim conceitua o Direito Agrário: 
 
12. LIMA, Rafael Augusto de Mendonça - Direito Agrário. Rio de Janeiro: Renovar, 1994. p. 13. 
13. FALCÃO, Ismael Marinho - Direito Agrário brasileiro - Bauru: Edipro, 1995. p. 46. 
14. idem, ibidem. 
15. FERREIRA, Pinto - Ob. cit. p. 2. 
 
 
5 
es aquel conjunto de normaspor las que se regula la 
propiedad y tenencia de la tierra, a la vez que la 
explotación y la empresa agrarias, para el mejor 
cumplimiento de las finalidades de las mismas, y una 
continuada acción de adaptación y reforma, de ellas, 
cuando así es necesario, en armonía con la ordenación del 
territorio, al objeto inmediato de la defensa del agricultor, 
de la producción de materias primas y alimentos vegetales 
y animales suficientes en cantidad y calidad para todos los 
hombres, de la estabilidad social, del desarrollo y del 
equilibrio ecológico y de ambiente. 
O também espanhol e insigne agrarista ALBERTO BALLARIN MARCIAL, como 
demonstra o professor PAULO TORMINN BORGES17, afirma que: 
o direito agrário é o sistema de normas, tanto do direito 
privado como do direito público, especialmente destinadas 
a regular o Estatuto do empresário, sua atividade, o uso e a 
posse da terra, as unidades de exploração e a produção 
agrária em seu conjunto, segundo determinados princípios 
gerais peculiares a este ramo jurídico. 
Nítido ficou em todos os conceitos transcritos da doutrina agrária alienígena que, de maneira 
idêntica à nossa, nela a atividade agrária configura-se elemento essencial do conceito de Direito 
Agrário, sendo seu eixo central. 
 
 
 
16. JARQUE, Juan Jose Sanz - Curso de Derecho Agrario Comparado. Granada: Editorial 
Comares, 1995. p. 11-12. 
17. BORGES, Paulo Torminn - Ob. cit. p. 14. 
 
 
6 
2. ATIVIDADE AGRÁRIA 
 
A professora GISELDA M. F. NOVAES HIRONAKA18 nos traz o conceito de atividade 
agrária formulado por FERNANDO PEREIRA SODERO: 
A atividade agrária é o complexo das operações realizadas 
pelo rurícola, profissionalmente, visando à produção da 
terra, num processo agrobiológico no qual participa 
ativamente, sendo certo que seus atos não se executam 
isoladamente, mas com a colaboração ativa do processo 
evolutivo da própria natureza. 
Portanto, a atividade agrária resulta da atuação do homem sobre a terra em busca de um 
objetivo que é a produção, auxiliado pela participação efetiva da natureza. 
Neste sentido é a orientação de EMILIO ALBERTO MAYA GISCHKOW19, quando afirma 
que a atividade agrária “é o resultado da atuação humana sobre a natureza, em participação 
funcional, condicionante do processo produtivo”. Prossegue, ressalvando que: “Essa participação, o 
chamado processo agrobiológico, não se exaure com a atividade do homem sobre a terra, pois é 
condicionante de outras relações de ordem social. Em função da referida atividade, os homens 
estabelecem relações também de conteúdo econômico e jurídico”. 
Os critérios para a caracterização da atividade agrária são oferecidos por três teorias: 
1) Critério de CARRERA: Teoria Agrobiológica; 
2) Critério de CARROZZA: Teoria da Agrariedade; e 
3) Critério de VIVANCO: Teoria da Acessoriedade. 
 
18. HIRONAKA, Giselda M. F. Novaes - Atividade Extrativa (Parte Geral). Revista de Direito 
Civil, a. 9, n. 33, p. 67-83. São Paulo, Revista dos Tribunais, jul./set. 1985. p. 72-73. 
19. GISCHKOW, Emilio Alberto Maya - Princípios de Direito Agrário. São Paulo: Saraiva, l988. 
p. l. 
 
 
7 
A Teoria Agrobiológica, elaborada por RODOLFO CARRERA, tem como fulcro a terra e o 
processo agrobiológico, que, segundo a professora GISELDA M. F. NOVAES HIRONAKA20, para 
ele, “são os fatores que, primordialmente, constituem a atividade agrária e lhe dão a especificidade 
da qual se reveste para diferenciar-se das demais atividades”. 
CARRERA ensina, ainda, que, uma vez caracterizada a atividade agrária, deve ser lembrado 
o trabalho do homem na terra a fim de fazê-la produzir, pois é o labor humano, aliado à terra mais o 
processo agrobiológico, que realiza “o ciclo produtivo agrário próprio da atividade agrária”21. 
Formulada pelo italiano ANTONIO CARROZZA, a Teoria da Agrariedade parte da 
verificação de que o fundamento da teoria clássica (agrobiológica) não mais satisfaz como 
caracterizador da atividade agrária. Entende o referido autor ser necessário “estabelecer um novo 
critério capaz de traçar uma característica comum a todos os institutos que informam o ramo 
jurídico denominado Direito Agrário”22. 
Para a obtenção do novo critério que caracterizasse a atividade agrária, CARROZZA 
abandona qualquer um dentre os anteriormente utilizados, “quer fossem relacionados ao sujeito da 
relação jurídico-agrária, ou ao tipo de produto obtido, ou ao fim ao qual se destina a produção. 
Rejeitou, até mesmo, a referência a uma suposta categoria particular de atos, por entender obsoleto 
isolar um ato agrário como oposto a um ato de comércio ou outro, de natureza diversa”23. 
A teoria da agrariedade sujeita o ciclo biológico - principal elemento da teoria de 
CARRERA e que atribui especificidade à atividade agrária - aos riscos da natureza, ou seja, 
subordina aquele às intempéries, “cuja ocorrência escapa totalmente ao controle do homem”24. Vale 
ressaltar que este risco é correlato, pois há uma relação mútua entre o ciclo biológico e os riscos da 
natureza, uma vez que as intempéries inviabilizam a concretização do primeiro. 
 
20. HIRONAKA, Giselda M. F. Novaes - Ob. cit. p. 74. 
21. idem, ibidem. 
22. idem, ibidem. 
23. idem, ibidem. 
24. idem, ibidem, p. 75. 
 
 
8 
A sujeição do ciclo biológico aos riscos da natureza é que diferencia a atividade agrária das 
atividades comercial e industrial, pois enquanto na primeira o ciclo biológico está condicionado às 
forças da natureza - sobre as quais nem sempre o homem pode intervir -, nas demais ele é 
totalmente controlável pela ação do produtor, exceto em caso de catástrofe. 
Destarte, acredita CARROZZA ter encontrado o elemento caracterizador da atividade 
agrária e “denominador comum a todos os institutos que informam o Direito Agrário, de maneira a 
torná-los harmônicos e homogêneos entre si, tendo em vista a formação de um verdadeiro 
sistema”25. 
A Teoria da Acessoriedade, de autoria de ANTONINO VIVANCO, tem como ponto de 
partida dois tipos de relação que, segundo observa, advêm da atividade agrária: um entre o homem e 
a terra, e o outro entre os homens. 
Este aspecto econômico-social, além dos demais caracteres típicos da atividade agrária, é o 
que a diferencia das atividades humanas, comerciais e industriais: “Nela se reconhece, portanto, (...) 
relações de ordem econômica e relações de índole social”26. 
VIVANCO, baseando-se no caráter sócio-econômico, propõe critérios para caracterizar a 
atividade agrária. São eles: 
1) critério da necessidade; 
2) critério da prevalência; 
3) critério da autonomia; 
4) critério da normalidade; 
5) critério da ruralidade; e 
6) critério da acessoriedade. 
 
25. idem, ibidem. 
26. idem, ibidem, p. 76. 
 
 
9 
Concluindo pela inconsistência de cada um destes critérios à medida em que os estudava, 
VIVANCO aponta, finalmente, o da acessoriedade como o melhor para caracterizar a atividade 
agrária. 
O critério da acessoriedade consiste em verificar se a atividade agrária desenvolvida exerce 
a função principal na utilização da terra, deixando as atividades de transformação e venda como 
complementares. Assim, tem-se a qualificação da atividade como agrária. Caso contrário, 
tornando-se a atividade agrária meio para se atingir as atividades de transformação e venda, a 
atividade desempenhada é industrial oucomercial. 
VIVANCO desta forma expressa o seu entendimento acerca da caracterização da atividade 
agrária, demonstrando através do critério da acessoriedade que “la actividad agraria productiva 
deve ser la que desempeña el papel principal dentro del ámbito rural, mientras que las actividades 
transformadoras y comerciales constituyen el accesorio o complemento de aquella. Cuando dejan 
de serlo y pasan a desempeñar el papel fundamental, dejan de ser agrarias, para transformarse en 
industriales o comerciales”27. 
A professora GISELDA M. F. NOVAES HIRONAKA28 apresenta restrições ao critério 
estabelecido por VIVANCO e aponta o modo ideal para se caracterizar a atividade agrária: 
o critério da acessoriedade eleito por Vivanco como o 
mais razoável e prático, apresenta também alguns pontos 
falhos, pelo que seu emprego não pode ser encarado como 
ideal à caracterização de uma atividade agrária como tal. 
O melhor sistema, por vezes, será aquele que congrega os 
aspectos favoráveis de cada critério, aproveitando o que 
cada um deles oferece de mais próximo à realidade. A 
intenção há que ser sempre uma só: a tentativa de se obter 
 
27. idem, ibidem, p. 77. 
28. idem, ibidem, p. 78. 
 
 
10 
uma regulação jurídica a mais harmônica possível da 
atividade agrária. 
De acordo com sua teoria, VIVANCO apud RAFAEL AUGUSTO DE MENDONÇA 
LIMA29 assim classifica as atividades agrárias: 
As próprias: 
1) atividades produtivas; 
2) atividades de conservação; 
3) atividades de preservação. 
As acessórias: 
1) atividade extrativa; 
2) atividade de captura (caça e pesca). 
As conexas: 
1) atividade de manufatura (indústria ou beneficiamento); 
2) atividade de transportes; 
3) atividade lucrativa, sempre que se realiza pelo produtor 
como forma complementar à sua atividade produtiva 
agrária; 
4) atividade de processamento. 
 
Finalmente, devem ser consideradas as atividades 
vinculadas, que são as atividades lucrativas, quando 
exercidas sem relação com a produção. 
 
 
29. LIMA, Rafael Augusto de Mendonça – Ob. cit. p. 16. 
 
 
11 
RAYMUNDO LARANJEIRA segundo o professor BENEDITO FERREIRA MARQUES30, 
estabelece a seguinte classificação para as atividades agrárias: 
Explorações rurais típicas – que compreendem a lavoura, 
a pecuária, o extrativismo vegetal e animal e a 
hortigranjearia; 
Exploração rural atípica – que compreende a 
agroindústria; 
Atividade complementar da exploração rural – que 
compreende o transporte e a comercialização dos 
produtos. 
Por sua vez, EMILIO ALBERTO MAYA GISCHKOW31 diz que a atividade agrária pode 
ser considerada sob três aspectos: 
a) Atividade imediata, tendo por objeto a terra, 
considerada em sentido lato, abrangendo a atuação 
humana em relação a todos os recursos da natureza. 
b) Os objetivos e instrumentos dessa atividade, 
compreendendo a preservação de recursos naturais; a 
atividade extrativa de produtos inorgânicos e orgânicos; 
a captura de seres orgânicos (caça e pesca) e a 
produtiva (agricultura e pecuária). 
c) Atividades conexas, como o transporte de produtos 
agrícolas, os processos industriais e as atividades 
lucrativas, ou seja, o comércio propriamente dito. 
 
 
30. MARQUES, Benedito Ferreira – Ob. cit. p. 10. 
31. GISCHKOW, Emilio Alberto Maya – Ob. cit. p. 2-3. 
 
 
12 
 
Fato curioso no que diz respeito à atividade agrária é que, embora esta seja um dos 
principais elementos do Direito Agrário e centro das conceituações dadas a este ramo jurídico, ela 
não se encontra conceituada no Estatuto da Terra (Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964), mas, 
como lembra ISMAEL MARINHO FALCÃO32, está presente “de modo literal, no corpo do art. 92, 
quando esse canon se refere à ‘atividade agrícola e pecuária’”. 
Preceitua o Art. 92 do Estatuto da Terra: 
Art. 92 – A posse ou uso temporário da terra serão 
exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, 
estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem 
atividade agrícola ou pecuária [grifo nosso], sob forma 
de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária, 
agroindustrial e extrativa, nos termos desta lei. 
 
Uma vez que este diploma legal prevê como requisito à posse ou uso temporário da terra que 
nela se exerça a atividade agrária, e por ser de grande relevância jurídica, trataremos agora da 
distinção entre posse agrária e posse civil, tendo em vista que as regras do Direito Civil não 
satisfazem às exigências contidas no Direito Agrário. 
 
 
3. POSSE AGRÁRIA E POSSE CIVIL 
 
Analisando as teorias possessórias que lograram maior êxito dentro do Direito Civil, ou seja, 
a Teoria Subjetiva de Savigny, a Teoria Objetiva de Ihering e a Teoria de Saleilles, nota-se 
claramente que as mesmas não são suficientes para a caracterização da posse agrária. 
 
32. FALCÃO, Ismael Marinho – Ob. cit. p. 50. 
 
 
13 
O fundamento para esta afirmativa encontra-se na inadequação existente nas regras da 
doutrina civilista, quando observadas sob a ótica do Direito Agrário, haja vista que este exige muito 
mais que a simples apreensão da coisa, o poder de dispor do bem, a visibilidade do domínio e a 
intenção de dono. Além disso, o Código Civil admite – o que de forma alguma aceita o Direito 
Agrário – que “esta posse seja realizada em nome de outrem, por interposta pessoa, por procurador, 
com ou sem mandato, desde que ratificados os atos nesta última hipótese”33. 
O Direito Agrário apresenta regras próprias para a caracterização da posse, baseadas na 
função que o imóvel deve desempenhar em proveito da sociedade. Portanto, para que se verifique a 
posse agrária faz-se necessário que sobre o imóvel se exerça a atividade agrária, fazendo-o produzir, 
de forma a aproveitar racionalmente a área, condicionando o seu uso ao bem-estar da comunidade. 
No que concerne ao usucapião, a posse agrária, para que se converta em propriedade, requer 
mais que a posse sob o enfoque da doutrina do Direito Civil: exige o labor efetivo do homem sobre 
a terra. Tanto é assim, que o tempo de posse exercido pelo antecessor no âmbito rural não pode ser 
aproveitado pelos herdeiros, a menos que estes também exerçam a atividade agrária no imóvel. 
Mesmo considerando a evolução ocorrida no disciplinamento da posse civil, esta ainda “não 
se revela suficiente para abarcar e explicar o fenômeno possessório agrário que, entre outras 
finalidades, inegavelmente se dirige à fixação do homem às atividades agrárias e à terra onde as 
exerça (...), o que bem mostra que o Direito Agrário não pode, pura e simplesmente, apropriar-se 
dos conceitos de posse comum para definir o que seria a posse agrária” 34. 
Questão que não se pode deixar de ressaltar é a que diz respeito ao tratamento dispensado 
pela legislação no tocante à posse agrária. Esclarece o professor GETÚLIO TARGINO LIMA35: 
 
A legislação agrária brasileira, principalmente 
consubstanciada no Estatuto da Terra (Lei n. 4.504, de 30-
 
33. LIMA, Getúlio Targino – A posse agrária sobre bem imóvel: implicações no direito 
brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 47-48. 
34. idem, ibidem, p. 49. 
 
 
14 
11-64) e Decretos regulamentadores, não tratou da posse 
com a importância que a mesma tem no complexo agrário, 
não chegando sequer a ter uma posição definida quanto ao 
termo. 
 
Por todos estes motivos, entendemos que as regras contidas no Direito Civil, em relaçãoao 
fenômeno possessório, são insuficientes e inadequadas para atender às exigências contidas no 
Direito Agrário, sendo que a principal razão para isto encontra-se na destinação social – além da 
econômica – que este apresenta. 
 
4. ATIVIDADE AGRÁRIA COMO EIXO CENTRAL DO CONCEITO DE DIREITO 
AGRÁRIO 
 
Depois de restar amplamente demonstrada a presença constante da atividade agrária nos 
conceitos formulados de Direito Agrário, quer pela doutrina agrária brasileira, quer pela estrangeira, 
e após discorrermos sobre a mesma, podemos afirmar que o fato desta se encontrar como eixo 
central das conceituações existentes acerca desse ramo jurídico não é mera coincidência, mas 
conseqüência lógica que dele advém, pois, como lembra ALCIR GURSEN DE MIRANDA36, ao se 
conceituar “o fator mais importante é contemplar o objeto com precisão”. 
É oportuno que se faça a distinção jurídica entre objeto e conteúdo, uma vez que ambos não 
se confundem, pelo contrário se mostram bastante distintos, cada qual exercendo função 
imprescindível para a caracterização de um direito: “o objeto é o que é disciplinado e o conteúdo é o 
que disciplina; o objeto é o normatizado e o conteúdo são normas jurídicas”37. 
 
35. idem, ibidem, p. 50. 
36. MIRANDA, Alcir Gursen de – Ob. cit. p. 53. 
37. idem, ibidem, p. 65. 
 
 
15 
RAFAEL AUGUSTO DE MENDONÇA LIMA38 deixa claro o objeto do Direito Agrário, 
quando prescreve: “O Direito Agrário tem como objeto o âmbito rural e este âmbito se constitui de 
diversos elementos, a saber: a estrutura agrária, a empresa agrária e a atividade agrária”. 
Acrescenta-se a estes a política agrária. 
Podem surgir críticas à afirmação que fizemos, no sentido de que, sendo quatro os elementos 
que compõem o objeto do Direito Agrário, não poderíamos assegurar ser a atividade agrária o eixo 
central do conceito deste direito, desprezando os demais. 
Na verdade, nossa intenção não é desacreditar a estrutura agrária, a empresa agrária e a 
política agrária como elementos importantes na composição do Direito Agrário, mas apenas 
demonstrar que a atividade agrária é o seu elemento principal. 
Isto porque, de nada adianta uma estrutura agrária bem definida e elaborada, se sobre ela não 
se exercitar a atividade agrária. 
Por sua vez, a empresa agrária é decorrência que surge da feita que se exerça a atividade 
agrária. 
Por fim, a política agrária, que assim como a atividade agrária é elemento dinâmico, faz com 
que esta se torne mais factível, ou seja, possibilita condições mais favoráveis à sua execução, sem, 
contudo, retirar-lhe da condição de maior relevância em que a pusemos, pois a atividade agrária 
com o esforço daqueles que a exercem, mesmo sem uma política agrária eficaz, o que é comum em 
nosso país, pode ser realizada. 
Destarte, o que queremos ressaltar é que a atividade agrária configura-se como o principal 
elemento conceitual do Direito Agrário, tendo em vista que em função dela forma-se uma estrutura 
agrária, surge a empresa agrária e é executada uma política agrária, razão de ser entendida como o 
eixo central do conceito deste que é, sem dúvida, o mais fascinante ramo do Direito. 
 
 
38. LIMA, Rafael Augusto de Mendonça – Ob. cit. p. 14. 
 
 
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