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Universidade do Estado da Bahia – UNEB Departamento de Educação –Pedagogia Disciplina: Educação e Pesquisa FICHAMENTO POR CITAÇÃO LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG,1999. Capítulo 2 - A Pesquisa Científica Hoje “A perspectiva positivista supõe que os fatos humanos são, como os da natureza, fatos que começam a ser observados tais quais, sem ideias preconcebidas [...].” (p. 31). “Esse procedimento é realizado com a esperança de determinar, no campo do humano, as leis naturais que o regem.” (p. 31). “As ciências humanas [...] sentiu, desde muito cedo, os limites desse modelo, algumas de suas ambiguidades e de suas inadequações como objeto de estudo (o ser humano).” (p. 31) “Isso conduz a um esgotamento progressivo do positivismo e a uma redefinição da ciência e de seu procedimento de constituição dos saberes.” (p. 31) O Enfraquecimento do Positivismo “As ciências naturais e as ciências humanas tratam de objetos que não se parecem nem de longe. Com efeito, seus objetos são muito diferentes, por seu grau de complexidade e por sua facilidade de serem identificados e observados com precisão. Isso se percebeu com certa rapidez.” (p. 32) A Complexidade dos Fatos Humanos “Os fatos humanos são, são por outro lado, mais complexos que os fatos da natureza.” (p. 32). “Quanto a submeter tais fatos humanos a experimentação, é ainda mais complicado. A experimentação supõe que se possa identificar fatores [...] que,por sua inter-relação, permitem a explicação do fenômeno. (p. 33) “[...] o ser humano é ativo e livre, com suas próprias ideias, opiniões, preferências, valores, ambições, visão das coisas, conhecimentos..., que é capaz de agir e reagir. Dois corpos químicos submetidos a experimentação reagirão conforme sua natureza, que e previsível. Os seres humanos também reagirão conforme sua natureza, que, esta, não é previsível, pelo menos não tanto e nem da mesma maneira.” (p. 33) “É porque ao receberem a provocação, a compreenderão e a interpretarão diferentemente para, por fim, reagir a ela cada um à sua maneira. Como então se imagina poder retirar da experimentação uma lei da reação a uma provocação?” (p. 33) O Pesquisador é um Ator “Se, em ciências humanas, os fatos dificilmente podem ser considerados como coisas, uma vez que os objetos de estudo pensam, agem e reagem, que são atores podendo orientar a situação de diversas maneiras, e igualmente o caso do pesquisador: ele também é um ator agindo e exercendo sua influência.” (p. 33) “Na realidade, o pesquisador não pode, frente aos fatos sociais, ter essa objetividade, apagar-se desse modo. Frente aos fatos sociais, tem preferências, inclinações, interesses particulares; interessa-se por eles e os considera a partir de seu sistema de valores.” (p. 34) “Em ciências humanas, o pesquisador é mais que um observador objetivo: é um ator aí envolvido.” (p. 34) A Medida do Verdadeiro “O fato de o pesquisador em ciências humanas ser um ator que influencia seu objeto de pesquisa, e do objeto de pesquisa, por sua vez, ser capaz de um comportamento voluntario e consciente, conduz a uma construção de saber cuja medida do verdadeiro difere da obtida em ciências naturais.” (p. 35) “O verdadeiro, em ciências humanas, apenas pode ser um verdadeiro relativo e provisório.” (p. 35) “Alem disso, se em ciências naturais a medida das modificações pode ser facilmente definida e quantificada, em ciências humanas, não. [...] O verdadeiro, em ciências humanas, é ainda mais relativo porque, com frequência, não pode basear sua construção sobre uma medida objetiva dos fenômenos estudados, como é possível fazê-lo em ciências naturais.” (p. 35) Revisões em Ciências Naturais “No início do século, as ciências naturais também haviam começado a se sentir limitadas no quadro do positivismo. Tinham progressivamente questionado ou revisado os princípios do empirismo, a ideia de lei e, inclusive, de determinismo, as regras da objetividade e os modos de verificação..” (p. 36) O Empirismo Difícil Sem jamais ter visto um átomo [...], conhece-se, no entanto, sua natureza. Não temos sobre ele um conhecimento objetivo, mas uma interpretação construída pela mente do pesquisador. O conhecimento do átomo e, na realidade, uma teoria do átomo. A Teoria “O conhecimento obtido permanece até ser contestado por outras interpretações dos fatos. Reforça-se, ao contrário, se os saberes obtidos, através de novas manipulações, o confirmam.” (p. 36) Teoria, Lei e Previsão “O saber em forma de teoria parece agora, portanto, um fato aceitável no domínio das ciências naturais. Mesmo se a prova permaneça incompleta, ou por vir. Consequentemente, o princípio positivista da validação dos saberes, que era poder reproduzir a experiência nas mesmas condições com os mesmos resultados, perde sua relevância. Aceita-se que a teoria seja uma compreensão adequada, ainda que possivelmente provisória, e se reconhece que outras verificações poderão, mais tarde, assegurar- lhe maior validade.” (p. 38) Objetividade e Subjetividade “[...] conceito de objetividade, que considera objetivo o que preserva o objeto, o que permite revelar sua natureza sem que esta tenha sua integridade afetada, transforma-se em consequência. Ela cessa de pretender de pender do objeto de estudo; define-se mais em função do pesquisador, de sua intervenção, de sua relação ativa com o objeto de estudo[...].” (p. 39) O Realinhamento Da Ciência “As ciências naturais e as ciências humanas encontram-se, na definição desses modos, e pode-se dizer hoje que, em seus procedimentos fundamentais, partilham essencialmente as mesmas preocupações: 1) centrar a pesquisa na compreensão de problemas específicos; 2) assegurar, pelo método de pesquisa, a validade da compreensão; 3) superar as barreiras que poderiam atrapalhar a compreensão.” (p. 41) Compreender “A ideia de problema está no centro do realinhamento das ciências humanas, como, aliás, das demais ciências. Trata-se de compreender problemas que surgem no campo do social, afim de eventualmente contribuir para sua solução; pouco importa se a solução do problema refere-se a uma falta de conhecimentos, como em pesquisa fundamental, ou de intervenções eventuais, como em pesquisa aplicada.” (p. 41) “[...]os fenômenos humanos repousam sobre a multicausalidade, ou seja, sobre um encadeamento de fatores, de natureza e de peso variáveis, que se conjuga me interagem. É isso que se deve compreender, estima-se, para verdadeiramente conhecer os fatos humanos.” (p.41) Objetividade e Objetivação “O pesquisador disto tem consciência: as compreensões assim produzidas são compreensões relativas. Dependem do talento do pesquisador para determinar o problema que escolhe estudar, retratar seus múltiplos fatores, escolhê-los e interpretá-los.” (p. 42) Um saber que repousa sobre a interpretação não possibilita necessariamente um procedimento experimental e quantificador nem a reprodutibilidade, ainda que isso não seja excluído. [...]. [...] são o objeto da objetivação: de uma parte, do lado do pesquisador do qual se espera que tome metodicamente consciência desses fatores e os racionalize; de outra, do lado daquele ao qual serão comunicados os resultados da pesquisa, que espera que o pesquisador lhe informe tudo para que possa julgar a validade dos saberes produzidos. E esse princípio de objetivação que fundamenta a regra da prova e define a objetividade. Poder-se-ia dizer que a objetividade repousa sobre a objetivação da subjetividade. (p. 43-44) Multidisciplinaridade “O que se desenvolve [...] é uma abordagem multidisciplinar, que consiste em abordar os problemas de pesquisa apelando as diversas disciplinas das ciências humanas que nos parecem úteis.” (p.44) “[...] os pesquisadores inclinam-se a se associarem para reunir o saber de cada um.” (p. 45) Em Resumo: OMétodo “[...]. Diversos fatores influenciam o pesquisador. [...] estes fatores fazem com que o pesquisador perceba um problema, lhe fazem igualmente supor uma solução possível, uma explicação racional da situação a ser compreendida ou aperfeiçoada: a hipótese.” (p. 45) “Muitas vezes, o pesquisador sabe que sua hipótese não e sempre a única possível, e que outras poderiam ser consideradas. Mas ele retém a que lhe parece ser a melhor, a que lhe parece suficiente para progredir em direção a compreensão do problema e a sua eventual solução.” (p. 45)
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