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Rituais religiosos com sacrifício de animais
Plano de Aula
Profª Erika Bechara
Novembro/2019
1. Liberdade religiosa: liberdade de crença e liberdade de culto (ritual): 
Art. 5º, Inciso VI, CF: "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias"
1.1 Liberdade religiosa e dignidade da pessoa humana
"Algumas perguntas são mais esclarecedoras sobre a ligação entre a dignidade da pessoa humana e a liberdade de religião do que eventuais considerações a fazer-se em torno ao tema: Preserva-se a dignidade da pessoa quando o Estado a proíbe de exercer a sua fé religiosa? Conserva-se-lhe no momento em que o empregador, nos domínios da empresa, “convida” o empregado para culto de determinado segmento religioso? Reveste-se de alguma dignidade o procedimento por meio do qual alguns segmentos religiosos investem contra outros, não descartado até o recurso à violência?
Sem dúvida, a opção religiosa está tão incorporada ao substrato de ser humano – até, como se verá mais adiante, para não se optar por religião alguma – que o seu desrespeito provoca idêntico desacato à dignidade da pessoa." (Manoel Jorge e Silva Neto. A proteção constitucional à liberdade religiosa. Revista de Informação Legislativa 160 out./dez. 2003, p. 116).
1.2 A laicidade do Estado
Estado laico é o Estado neutro, não confessional, secular
"Art. 19 da CF/88. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público"
Celso Lafer ensina que no Estado laico "as normas religiosas das diversas confissões são conselhos dirigidos aos seus fiéis e não comandos para toda a sociedade” (Estado Laico. In: Direitos Humanos, Democracia e República – Homenagem a Fábio Konder Comparato. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2009, p. 228)
2. Crueldade contra os animais x liberdade de culto
(i) culto com sacrifício de humanos (ex: celtas/espantalho de fogo, astecas, incas etc) - homicídio[1: Os celtas, que ocuparam parte da Europa entre os séculos 4 a.C. a 1 a.C, tinham vários tipos de sacrifícios. Com frequência, vítimas eram enforcadas para o deus Esus, queimadas para Taranis ou afogadas para Teutates. Mas o método mais famoso, ainda que não haja certeza absoluta de seu uso, era o espantalho de fogo: pessoas eram incendiadas em figuras feitas de madeira e palha, com pelo menos 4 m de altura.Moradores locais se apresentavam para ajudar na construção da estátua. Os sacerdotes celtas conhecidos como druidas conduziam o evento. Mas a honra de atear fogo no peito da imagem (usando uma forquilha com um chumaço de algodão em chamas) cabia ao próprio rei. Em volta, a comunidade entoava cânticos para o deus homenageado, possivelmente Arausio, que cuidava das águas.O ritual servia para agradecer a colheita do ano anterior e pedir sucesso na próxima. Por isso, era realizado em campos abertos, na entrada da área de plantio. Mas também servia como condenação: em geral, as vítimas eram ladrões ou outros criminosos.Eles ficavam presos em gaiolas de madeira, construídas dentro do espantalho.“ (Como eram os sacrifícios humanos realizados pelos celtas? Revista Superinteressante, 04.05.2016).]
(ii) culto com sacrifício de animais: frangos, galinhas, cabritos, carneiros e pombos (os mais utilizados)
(ogritodobicho.com)
- Há quem defenda que impedir o sacrifício ritual de animais implica, para esses cultos, a perda da própria identidade da sua expressão cultural
- A crueldade nos rituais não é reconhecida pelos seus praticantes. No entanto, a identificação da crueldade não deve se dar pelos praticantes da atividade supostamente cruel, embora devam ser ouvidos para fins de apuração da necessidade da prática
“Poder-se-ia argumentar que o termo “crueldade” é caracterizado por fortíssimo componente ambíguo, porque aquilo que seria considerado cruel por um indivíduo não o seria por outro, e, assim, os adeptos dos segmentos religiosos afro-brasileiros ou qualquer outro que se utilizasse da prática litúrgica certamente não reconheceria a “crueldade” em tais sacrifícios. Mas não seriam os integrantes da facção religiosa aqueles que estariam legitimados a concluir a respeito, mas sim a sociedade de uma forma geral, o que se consuma com o exame da situação pelo juiz.” (Manoel Jorge e Silva Neto. A proteção constitucional à liberdade religiosa. Revista de Informação Legislativa 160 out./dez. 2003, p. 116).
2.1 Os animais e as religiões 
Candomblé: Os animais no candomblé são considerados como oferendas (comida) aos orixás.
Acredita-se que...
O sangue é a fonte vital da vida e através dela o Orixá retira suas energias para poder trabalhar. Esta é a única maneira do Orixá conseguir energia? Não. Existem diversos tipos de oferendas onde o Orixá irá retirar a energia para trabalhar em benefício do seu filho, no entanto, a energia extraída através do sangue é tão grande que o Orixá poderá atender o pedido rapidamente.
“Recaem sobre os povos de terreiro acusações de maus tratos e crueldade com animais, o que é absolutamente infundado. O sacrifício de animais é uma condição para a subsistência e para a manutenção espiritual da comunidade. É uma prática que não está para ser modificada ou questionada, faz parte e pronto. Em outros termos, como ponto fundamental da fé configura-se como algo indiscutível. E não cabe ao Estado, à sociedade, muito menos a outras religiões, coloca-lo em dúvida ou determinar como deve ser conduzido. A regulamentação legal ou jurídica é para assegurar o direito à realização do ritual, não para submetê-lo à secularização.
Para se compreender o significado do sacrifício no culto aos orixás, é preciso entender o que é axé, ou seja, a força que assegura a existência dinâmica e que torna possível o processo vital. Axé é o poder de realização, o devir. No Candomblé, o sacrifício visa ampliar, acumular e distribuir o axé. O ritual não tem um sentido expiatório, pois em nossa religião não existe a noção de pecado, não havendo, portanto, o que expiar.
Por estar ligado simbolicamente à fertilidade, à concepção e ao nascimento, o sangue é detentor de axé. O sacrifício é a condição para a continuidade da vida, considerando, principalmente, que todo os seres vivos se alimentam.
Nós, humanos, estamos também inseridos no universo da cultura e por isso atribuímos significados específicos a nossas necessidades vitais. Portanto, inúmeras religiões conferem ao alimento e à alimentação um sentido sagrado. Judeus e muçulmanos, por exemplo, só consomem carnes de animais abatidos de acordo com suas liturgias e até os produtores se adaptaram a essa exigência.
Também no Candomblé, a carne que será consumida pelos iniciados deve ser sacralizada. São vetadas as carnes de animais que foram submetidos a algum tipo de sofrimento. Todas os atos públicos e festividades de um terreiro são precedidas de matança.
Nesses ritos, o sangue impregna de axé os assentamentos sagrados. Os animais são limpos e seus órgãos vitais são preparados, ofertados aos orixás e compartilhados em comunhão pelos fiéis. A carne será o alimento da comunidade na festa e no dia-a-dia. Como os terreiros de Candomblé normalmente se localizam em regiões carentes, o excedente muitas vezes é dividido com a vizinhança.
Como bem sabemos, a compreensão total desses ritos milenares só pode ser absorvida por meio da vivência e ao longo do tempo. Contudo, é fundamental que os olhares sejam expurgados do racismo e que essas pequenas informações sejam elementos que agucem a boa vontade para entender o diferente antes de julgá-lo.” (Pai Rodney. Sacrifício de animais, algumas reflexões. Carta Capital, 08.09.2017)
Umbanda: não recorre aos sacrifícios de animais para assentamentode orixás e não tem nessa prática legítima e tradicional do Candomblé um dos seus recursos ofertatórios às divindades, pois recorre às oferendas de flores, frutos, alimentos e velas quando as reverencia.
Kaparot: Ritual da religião judaica. A tradução literal é "Expiação".
É um ritual que se costuma fazer antes do Yom Kippur, que consiste no sacrifício de galináceos e recitação de versículos e passagens da Torah. A galinha é rodada três vezes sobre a cabeça da pessoa, para tirar a negatividade. Depois é morta, e a pessoa tem que assistir.
(https://askatasunaren.blogspot.com.br/2014/11/kaparot-o-galinocidio-judeu.html)
(https://askatasunaren.blogspot.com.br/2014/11/kaparot-o-galinocidio-judeu.html)
Sacrifício animal e consumo
Proibição do uso de animais nos rituais religiosos é Racismo?
André Petry: “Nas religiões de matriz africana, sacrifica-se um animal para oferecê-lo às divindades. Impedir que tal prática seja exercida, além de constituir um agudo desrespeito à cultura do outro, é mais ou menos como dizer que os deuses dos negros não merecem tantas regalias. É como dizer que são deuses de segunda classe. É como dizer que os nossos bichos, os bichinhos dos brancos, ora essa, não podem ser mortos só para que deuses de negros, ora essa, se sintam devidamente reverenciados. Até porque deus que preste, ora essa, não exige que seus fiéis saiam por aí matando bichos...
Como racismo no Brasil é sempre coisa do vizinho (argentino ou não), os defensores dos animais que lutam contra o rito das religiões africanas vão jurar de pés juntos que não são racistas, que jamais quiseram dizer que o deus dos negros não é tão bom quanto o deus dos brancos, que existem até negros entre eles e que queriam apenas evitar atrocidades contra os animais. Pode ser verdade, mas não basta. Se for isso mesmo, se o que os move é tão-somente a defesa dos animais, onde estão então os protestos diante dos abatedouros de bois, porcos e aves? Onde estão os protestos contra a condição do Brasil de maior exportador mundial de carne bovina e de frango? Dias atrás, o governo da Rússia anunciou que vai voltar a permitir a importação de carnes bovina, suína e de frango de regiões do Brasil onde havia suspeita de alguma doença. Foi uma excelente notícia para a economia brasileira – e não se ouviu o protesto dos defensores dos bois, porcos e galinhas.” 
(http://veja.abril.com.br/270405/andre_petry.html)
3. Legislação 
(i) Rio Grande do Sul
Lei estadual/RS 12.131/2004: Acrescenta parágrafo único ao art. 2º da lei nº 11.915, de maio de 2003 (Código Estadual de Proteção aos Animais), para permitir o sacrifício de animais em rituais dos cultos africanos. 
"Art. 2º: É vedado:
I - ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência; 
II - manter animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes impeçam a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade; 
III - obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força; 
IV - não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo; 
V - exercer a venda ambulante de animais para menores desacompanhados por responsável legal; 
VI - enclausurar animais com outros que os molestem ou aterrorizem; 
VII - sacrificar animais com venenos ou outros métodos não preconizados pela Organização Mundial da Saúde - OMS -, nos programas de profilaxia da raiva. 
Parágrafo único - Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias de matriz africana".
E o Decreto estadual/RS 43.252/2004:
"Art. 3º: Para o exercício de cultos religiosos cuja liturgia provém de religiões de matriz africana, somente poderão ser utilizados animais destinados à alimentação humana, sem a utilização de recursos de crueldade para a sua morte".
Justificativa (da lei): "..., faz-se necessária a apresentação deste projeto de lei que define, em parágrafo único, a garantia constitucional que vem sendo violada por interpretações dúbias e inadequadas da Lei nº 11.915, de 21 de maio de 2003 que institui o Código Estadual de Proteção aos Animais. Face a essa dubiedade de interpretação, os Templos Religiosos de matriz africana vêm sendo interpelados e autuados sob influência e manifestação de setores da sociedade civil que usam indevidamente esta lei para denunciar ao poder público práticas que, no seu ponto de vista, maltratam os animais."
DISCUSSÃO JUDICIAL (sobre a Lei 12.131/2004):
- no TJRS:
"CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA. SACRIFÍCIO RITUAL DE ANIMAIS. CONSTITUCIONALIDADE.
1. Não é inconstitucional a Lei 12.131/04-RS, que introduziu parágrafo único ao art. 2.º da Lei 11.915/03-RS, explicitando que não infringe ao “Código Estadual de Proteção aos Animais” o sacrifício ritual em cultos e liturgias das religiões de matriz africana, desde que sem excessos ou crueldade. Na verdade, não há norma que proíba a morte de animais, e, de toda sorte, no caso a liberdade de culto permitiria a prática.
2. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. VOTOS VENCIDOS. (Ação Direta de Inconstitucionalidade Nº 70010129690, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Araken de Assis, Julgado em 18/04/2005).
- no STF:
RE 494.601: MP recorreu da decisão do TJRS, que declarou a constitucionalidade da Lei estadual 12.131/04 argumentando que a norma 12.131/04 invade a competência da União para legislar sobre matéria penal, assim como haveria privilégio concedido aos cultos das religiões de matriz africana para o sacrifício ritual de animais, ofendendo a isonomia e contrapondo-se ao caráter laico do país (artigos 22, I; 5º, caput e 19, I, todos da CF).
No recurso, o MP sustenta que o desrespeito ao princípio isonômico e a natureza laica do Estado brasileiro fica claro ao se analisar a norma gaúcha, que instituiu como exceção apenas os sacrifícios para os cultos de matriz africana. “Inúmeras outras expressões religiosas valem-se de sacrifícios animais, como a dos judeus e dos mulçumanos, razão pela qual a discriminação em favor apenas dos afrobrasileiros atinge frontalmente o princípio da igualdade, com assento constitucional”
Voto Min. Marco Aurélio: [sobre a competência legislativa do Estado] “Tampouco é possível afirmar a ofensa à competência da União para editar normas gerais de proteção do meio ambiente, sobretudo ante o silêncio da legislação federal relativamente ao sacrifício de animais com finalidade religiosa.
[...]
Eis o teor dos artigos 29 e 37 da Lei federal nº 9.605/1998, apontados pelo recorrente como proibitivos da imolação: [...]Como se vê, os dispositivos versam apenas o abate de animais silvestres, sem abranger os domésticos, que são utilizados nos rituais. A par desse aspecto, as regras foram fixadas em contexto alheio aos cultos religiosos, voltando-se à tutela da fauna silvestre, especialmente em atividades de caça.
[...]
O quadro impõe o reconhecimento de que a União não legislou sobre a imolação de animais. A omissão no exercício da atribuição de editar normas gerais sobre meio ambiente dá ao Estado liberdade para assentar regras versando a matéria, observado o § 3º do artigo 24 da Constituição Federal.
[sobre a crueldade e o tratamento diferenciado às religiões] A laicidade do Estado não permite o menosprezo ou a supressão de rituais religiosos, especialmente no tocante a religiões minoritárias ou revestidas de profundo sentido histórico e social, como ocorre com as de matriz africana. Mas surge inviável conferir-lhes tratamento privilegiado quando ausente diferenciação fática a justificá-lo. É inadequado limitar a possibilidade do sacrifício de animais às religiões de origem africana, conforme previsto na norma questionada. A proteção ao exercício da liberdade religiosa deve ser linear, sob pena de ofensa ao princípio da isonomia. No Estado laico, não se pode ter proteção excessiva a uma religião em detrimento de outra.À autoridade estatal é vedado, sob o ângulo constitucional, distinguir o conteúdo de manifestações religiosas, procedendo à apreciação valorativa das diferentes crenças. É dizer, a igualdade conforma, no Estado de Direito, o âmbito de proteção da liberdade religiosa. Sem o tratamento estatal equidistante das diversas crenças, a própria laicidade cai por terra.
[...]
Admitir a prática da imolação em rituais religiosos de todas as crenças, ante o princípio da isonomia, não significa afastar a tutela dos animais estampada no artigo 225 da Constituição Federal. Mesmo condutas inseridas no contexto religioso devem observar o grau de protagonismo conferido, pela Constituição Federal, ao meio ambiente. No Estado Democrático de Direito, que tem como fundamento o pluralismo político, cumpre à Constituição estabelecer as balizas de convivência pacífica entre os diferentes grupos étnicos, sociais e religiosos. Esse ambiente institucional impõe, de um lado, a tolerância relativamente às crenças de cada qual e, de outro, a adequação de práticas ao referencial mínimo de dignidade veiculado na Lei Maior.
O Supremo há de atuar com prudência, evitando que a tutela de um valor constitucional relevante aniquile o exercício de direito fundamental. No caso, mostra-se impróprio reconhecer a possibilidade de atividades religiosas implicarem sofrimento e maus-tratos aos animais.
É necessário harmonizar a proteção da fauna com o fato de o homem ser carnívoro. Revela-se desproporcional impedir todo e qualquer sacrifício religioso de animais, aniquilando o exercício do direito à liberdade de crença de determinados grupos, quando diariamente a população consome carnes de várias espécies. Existem situações nas quais o abate surge constitucionalmente admissível, como no estado de necessidade – para a autodefesa – ou para fins de alimentação. O sacrifício de animais é aceitável se, afastados os maus-tratos no abate, a carne for direcionada ao consumo humano. Com isso, mantém-se o nível de proteção conferido aos animais pela Constituição Federal sem a integral supressão do exercício da liberdade religiosa. Dou parcial provimento ao recurso extraordinário, conferindo à Lei nº 11.915/2003 do Estado do Rio Grande do Sul interpretação conforme à Constituição Federal, para assentar a constitucionalidade do sacrifício de animais em ritos religiosos de qualquer natureza, vedada a prática de maus-tratos no ritual e condicionado o abate ao consumo da carne.” (proferido em 09.08.2018)
Voto Min. Edson Facchin: Na linha das razões expostas pelos amici e com base na própria regulamentação do Ministério da Agricultura, não parece plausível sustentar que a prática de rituais com animais subsuma-se ao dispositivo constitucional que proíbe as práticas cruéis com animais. Não bastassem as dúvidas sobre a equiparação do sacrifício ao tratamento cruel, é preciso reconhecer que a prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são “patrimônio cultural imaterial”, na forma do disposto no Artigo 2, item 2, alínea “c”, da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. Além disso, como dispõe o texto constitucional, elas constituem os modos de criar, fazer e viver de diversas comunidades religiosas e se confundem com a própria expressão de sua identidade. Essa diretriz interpretativa decorre, ainda, da obrigação imposta ao Estado brasileiro relativamente às manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional, nos termos do art. 215, § 1º, da CRFB.
[...]
Essa dimensão comunitária da liberdade religiosa adquire, assim, nítida feição cultural e, nessa extensão, merece proteção constitucional, porquanto ligada aos modos de ser e viver de uma comunidade. Como indicou a Defensoria Pública da União em seu memorial, “a utilização de animais é parte intrínseca à própria essência dos cultos de religiões de matriz africana, por meio do processo de sacralização”. A proteção deve ser ainda mais forte, como exige o texto constitucional, para o caso da cultura afro-brasileira, não porque seja um primus inter pares, mas porque sua estigmatização, fruto de um preconceito estrutural – como, aliás, já reconheceu esta Corte (ADC 41, Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, DJe 16.08.2017) –, está a merecer especial atenção do Estado. Ante, de um lado, as incertezas acerca do alcance do sofrimento animal, e, de outro, a dimensão plural que se deve reconhecer às manifestações culturais, é evidente que a proibição do sacrifício acabaria por negar a própria essência da pluralidade, impondo determinada visão de mundo a uma cultura que está a merecer, como já dito, especial proteção constitucional.” (proferido em 09.08.2018)
Município de São Paulo
Lei municipal (SP) 13.131/2001
Art. 30: São considerados maus-tratos contra cães e/ou gatos:
[...]
e) utilizá-los em rituais religiosos, e em lutas entre animais da mesma espécie ou de espécies diferentes;
Município de Cotia
Lei municipal 1.960/2016
Art. 1º. Fica proibida a utilização, mutilação e/ou sacrifício de animais em rituais ou cultos, realizados em estabelecimentos fechados e/ou logradouros públicos, tenham aqueles finalidade: mística, iniciática, esotérica ou religiosa, assim como em práticas de seitas, religiões ou de congregações de qualquer natureza, no Município de Cotia.
“EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Lei n. 1.960, de 21/09/2016, do Município de Cotia, a qual proíbe a utilização, mutilação e/ou sacrifício de animais em rituais ou cultos religiosos Ausência dos vícios formais alegados Matéria que não se insere dentro da competência legislativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo Competência comum da União, Estados e Municípios para proteger o meio ambiente e a fauna (art. 23, VI e VII, CF) - Atribuição do Poder Público, de modo geral (União, Estados e Municípios), de adotar diversas medidas visando a proteção do direito ao meio ambiente Colisão de normas constitucionais - Liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, em oposição ao direito de preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado - Princípio da proporcionalidade Técnica da ponderação Prevalência da proteção ao livre exercício dos cultos religiosos, uma vez que a utilização de animais nessas circunstâncias não teria proporção suficiente para colocar em risco a existência equilibrada do meio ambiente Ausência de indicação precisa ou prova de que no Município de Cotia estaria havendo a prática acentuada de cultos que impusessem a utilização com evento morte de um número significativo de animais, de forma desproporcional, que justificasse a atuação do Poder Público para inibir a conduta Inconstitucionalidade configurada por ofensa ao art. 144 da Carta Estadual em reflexo do art 5º inc VI da Constituição Federal - Ação procedente. 
[...]
Porém, a situação aqui posta diverge daquela acima mencionada [está se referindo à briga de galo, julgada inconstitucional pelo STF], possuindo outro enfoque. Lá não se estava diante de colisão de princípios fundamentais (liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, em oposição ao direito de preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado).
A motivação da utilização de animais para aqueles eventos de disputa era nitidamente pessoal, inclusive financeiro, sem qualquer amparo constitucional, daí porque totalmente repudiada aquela prática, que traduzia em risco direto ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Aqui, a entonação é outra. A utilização de animais está atrelada ao livre exercício de cultos religiosos e à proteção às mais diversas liturgias. Além de nem todos os cultos ou seitas religiosas utilizarem animais, também não se pode generalizar que aos mesmos estar-se-ia impondo sofrimento ou atos revestidos de crueldade, já que o abate de animais é permitido para outros fins, como de prover o sustento da humanidade, além do que a liberdade de culto,princípio fundamental da Constituição Federal, permite tal prática.
[...]
Some-se ainda a alegação genérica da ocorrência de maus tratos ou crueldade aos animais na prática de todos os cultos religiosos. Não há a indicação precisa ou prova de que no Município de Cotia estaria havendo a prática acentuada de cultos que impusessem a utilização com evento morte de um número significativos de animais, de forma desproporcional, que justificasse a atuação do Poder Público para inibir a conduta. Configurada essa situação, extrapolando a normalidade, teríamos a possibilidade de atuação concreta para coibir e punir os infratores, mas não da forma como prevista na lei impugnada, que proíbe de forma desarrazoada a prática genérica de cultos religiosos, mas sem uma indicação concreta dos efeitos nocivos que estariam causando ao meio ambiente. De se prevalecer, portanto, a liberdade constitucional da prática de cultos religiosos, sem que haja prova concreta de dano ao meio ambiente ou de reflexos prejudiciais à coletividade.
(TJSP - Órgão Especial, ADI 2232470-13.2016.8.26.0000, Rel. Des. Salles Rossi, j. 17.05.2017)
Voto divergente do Des. Xavier de Aquino: “O ponto nodal da questão a ser examinada nesta ação declaratória de inconstitucionalidade, em pleno terceiro milênio, é a crueldade e os maus tratos para com os animais, pouco importando a questão numérica.
[...]
O que deve ser analisado é como a morte do animal é levada a efeito, pois se equivocam aqueles que se confundem quando argumentam que são mortos milhares de frangos/bois para alimentar pessoas, daí porque, a morte de um animal per se, ainda que com crueldade, não teria o condão de caracterizar os maus tratos. LEDO ENGANO!!!! O legislador pátrio ao mencionar o princípio da crueldade e maus tratos aos animais retirou a força de qualquer outro postulado dentro da Constituição da República, de sorte que sequer se deva fazer confrontação entre o postulado da liberdade de culto religioso e da proteção e vedação de maus tratos aos animais.
[...]
Não é de hoje que se discute a “senciência”. Antes, pelo contrário, cientistas de Cambridge há muito descobriram que os mamíferos e aves tem consciência e sentem, tal qual os seres humanos.
[...]
Como sabemos, sem me referir ao caso em comento, o julgador deve estar atualizado, ser um homem do seu tempo, não um homem das cavernas, do tempo de antanho. Ademais, deve ser sensível aos anseios do mundo moderno que está à sua volta e cada vez mais se preocupa com o bem estar dos animais; além disso, tenho para mim que aqueles que profeçam as religiões afrodescendentes, judeus, muçulmanos, etc..., ao tomarem conhecimento destes antefalados estudos, repensarão sobre a questão dos sacrifícios cruéis. É uma questão de mera sensibilidade. Portanto, eu os convido a reflexão: Será que Deus deseja o sofrimento causado voluntariamente a seres indefesos, porquanto religião significa religare?
Município do Guarujá
Lei municipal 4.289/2017
“DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Lei nº 4.289, de 29 de fevereiro de 2016, do Município de Guarujá, de iniciativa parlamentar, que disciplina a criação, propriedade, posse, guarda, uso e transporte de cães e gatos naquela cidade. Processo legislativo. Invalidade de parte da norma. Competência exclusiva do Administrador-Mor local. Tino firmado pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 917). Irrefutável trespasse de fronteiras. Precedentes desta Corte. Ofensa ao princípio da separação entre os poderes. Agravo aos artigos 5º, 47, II, XIV e XIX, “a”, e 144 da Constituição Estadual. Princípio da razoabilidade. Inexistência de prévio estudo acerca da utilidade do elenco de vacinas previsto no edito. Insulto ao art. 111 da Carta Maior Bandeirante. Proibição de utilização em rituais religiosos. Irregularidade. Tema já examinado neste Colendo Órgão Especial. Remissão a artigo considerado inconstitucional. Invalidade por arrastamento. Regulamentação. Imposição de prazo. Não cabimento. Comando inaceitável. Indicação orçamentária. Omissão. Validez. Ausência da criação de ônus financeiro à Municipalidade. AÇÃO PROCEDENTE.
[...]
Incumbe verberar, mais, o veto de se usar animais em rituais religiosos (art. 25, inciso “e”). A par de inexistir menção expressa na inaugural a esse turno, circunstância que não impede a análise do assunto à conta de o pedido tomado o caráter da ação ser aberto, é correto assentar que a barreira levantada é insustentável. A matéria foi recentemente debatida no seio deste Altivo Órgão Especial, cuja conclusão pendeu, por larga votação majoritária, à imperiosidade de se respeitar a liberdade de culto religioso, mesmo que brandido o argumento de que tal prática poria em risco o meio ambiente.
[...]
Honrada a ocasional dissidência, é possível fincar que o senso estabelecido se constitui na pá de cal acerca da questão. A presunção aposta na lei controvertida, de que a liturgia representará, necessariamente, crueldade, é paupérrima e - à abundância - está desprovida de qualquer fundamento jurídico palatável, de forma que esta Casa não pode abonar tal disposição.
A inconstitucionalidade, portanto, é inequívoca.” (TJSP - Órgão Especial, Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2115202-98.2017.8.26.0000, Rel. Des. BERETTA DA SILVEIRA, j. 31.01.2018)
Município de Valinhos
Lei municipal 5.247/2016
Art. 1º. É proibido utilizar, mutilar ou sacrificar animais em rituais ou cultos, realizados em estabelecimentos fechados ou logradouros públicos, com finalidade mística, iniciática, esotérica ou religiosa, assim como em práticas de seitas, religiões ou congregações de qualquer natureza, no município de Valinhos.
Art. 2º. A inobservância do disposto no art. 1º sujeitará o infrator a multa de 20 UFMVs (Unidades Fiscais do Município de Valinhos).
4. Projetos de lei
Brasil 
PL 4.331/2012 (Do Pastor Marco Feliciano) - (apensação ao PL 347/2003): acrescenta o inciso IV ao § 1o do Art. 29 da Lei no 9.605/1998 (desde agosto de 2074, encontra-se na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados)
“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - ....................................................................................... 
II - ...................................................................................... 
III - ..................................................................................... 
IV – quem pratica o sacrifício de animais em rituais religiosos de qualquer espécie
Estado de São Paulo
PL 369/2015: (arquivado em 2019). 
"Art. 1º - Fica proibido a utilização e/ou sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Estado de São Paulo.
 
Art. 2º - O descumprimento do disposto na presente Lei ensejará ao infrator, a multa de 300 UFESP’s (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo) por animal, dobrando o valor para cada reincidência."
Voto favorável do deputado Fernando Capez: "Importante lembrar que em nosso ordenamento jurídico não há direito absoluto. A vedação que se pretende impor com este projeto não viola a liberdade de culto religioso, apenas impede o sacrifício de animais, pois é dever de todos proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade ( Art. 225, § 4º, CF ).
(...)
A liberdade religiosa não pode implicar no sacrifício de animais, porque ambos estão protegidos pela Lei Maior.
(...)
Assim, em face do princípio da razoabilidade, os dois bens jurídicos (liberdade religiosa e proteção à fauna ) de vem conviver harmonicamente em nosso ordenamento jurídico."
Salvador
PL 308/2013: proibia o sacrifício de animais em rituais religiosos. Rejeitado pela Câmara, sob intensa pressão de grupos religiosos de matriz africana, e por conta dosseguintes argumentos: afronta ao direito inviolável de o cidadão praticar qualquer culto religioso, atentado à questão cultural e dos costumes ancestrais dos adeptos da religião de matriz africana e atentado à cultura religiosa do povo de santo faz parte da cultura da Bahia.
Piracicaba
PL 202/2010: Art. 1º Fica proibido o sacrifício de animais em práticas de rituais religiosos no Município de Piracicaba.
“Art. 2º O descumprimento do disposto na presente Lei ensejará ao infrator, a multa de R$ 2.000,00 (dois mil reais) dobrado a cada reincidência.
Dezembro de 2010: O prefeito de Piracicaba, Barjas Negri (PSDB) vetou o Projeto de Lei 202/10, e o veto foi posteriormente mantido por decisão dos vereadores.

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