Logo Passei Direto
Buscar

HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL

User badge image
Mario Cruz

em

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

HISTÓRIA 
ECONÔMICA 
GERAL
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; IORI, Carla Fabiana de Andrade Gonçalves. 
 
 História Econômica Geral. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves 
Iori. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 
 200 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. Economia. 3. EaD. I. Título.
CDD - 22 ed. 330.9
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Executiva de Ensino
Janes Fidélis Tomelin
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Operações
Chrystiano Minco�
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Silvio Cesar de Castro
Designer Educacional
Bárbara Neves
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Victor Augusto Thomazini
Qualidade Textual
Estela Pereira dos Santos
Ilustração
Bruno Cesar Pardinho Figueiredo
Marta Sayuri Kakitani
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
CU
RR
ÍC
U
LO
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio - Universidade 
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), especialização em Gestão Financeira 
e Contábil, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Paranavaí (FAFIPA) 
e graduação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) em Ciências 
Econômicas. Atua como professora de Economia na Unicesumar desde 
2009. Foi instrutora de matemática financeira com utilização da calculadora 
financeira hp-12c no SENAC. De 2002 a 2011 atuou na instituição financeira 
HSBC Bank Brasil S/A Banco Múltiplo como gerente de negócios. Desenvolve 
pesquisas na área de Economia Política.
Para saber mais sobre esse currículo acesse: http://lattes.cnpq.
br/9999135590410897.
SEJA BEM-VINDO(A)!
É uma imensa satisfação apresentar a você este material. Ele é fruto do encontro viven-
ciado durante minha atividade estudantil e profissional. Isso porque é uma temática 
que me encanta desde a graduação em Ciências Econômicas na Universidade Estadual 
de Maringá, passando pela minha experiência em uma instituição financeira, quando 
pude perceber que o mercado obedece à “leis econômicas universais”, simultaneamente 
à carreira acadêmica, ao observar que a história é a ferramenta explicativa de muitas 
realizações do presente. 
Ao abrir este material, é provável que você, caro(a) aluno(a), tenha alguma expectati-
va quanto ao conteúdo. Diante de projeções é sempre um desafio atender a contento. 
Devo antecipar, portanto, que é possível elaborar diferentes “histórias econômicas ge-
rais”, ainda que os processos históricos observados sejam os mesmos. Assim, é conve-
niente, nesta apresentação, demonstrar que meu compromisso é facilitar a compreen-
são da dinâmica histórica que envolve a descrição “dos esforços que o homem fez ao 
longo dos séculos para satisfazer as necessidades materiais” (IGLESIAS, 1959, p. 27 apud 
SAES, 2013, p. 1). 
 Para o desenvolvimento desse material fizemos uso de muitas obras que foram trans-
formando o modo de ver a economia da autora. Contudo, devo creditar principalmente 
dois manuais de História Econômica Geral, que em muito contribuíram para que fosse 
possível essa compilação de assuntos: História Econômica Geral, do professor Cyro Re-
zende (2010) e o trabalho dos professores Flávio Azevedo Marques de Saes, com Alexan-
dre Macchione Saes (2013).
Ao estudar física ou química há possibilidades de estudar efeitos da causa “x” sobre o 
evento “y”, isolando, cuidadosamente, a modificação de outras variáveis que poderiam, 
eventualmente, perturbá-la. Na economia não há essa possibilidade! Nas “ciências na-
turais” a descobertade “leis” não modifica a natureza. Por exemplo: Newton formulou a 
Lei da gravitação universal, e a constante gravitacional não sofreu alterações ao longo 
dos séculos. A economia é uma área do conhecimento com uma peculiaridade bastante 
diferente das referidas acima. Trata-se de uma ciência social. A “natureza”, na economia, 
é a sociedade humana. Um agrupamento de indivíduos diferentes uns dos outros, que 
reagem aos estímulos de formas diversas, raciocinam, têm diversas “identidades” e por 
assim dizer, pertencem a culturas. Formam um complexo sistema de inter-relações que 
se modificam e se dinamizam durante o tempo. E, nesse panorama, é fundamental o 
domínio da história que envolve processos, pessoas, sistemas, atividades e costumes 
das épocas passadas para avaliar e refletir o presente. 
O objeto da economia não muda. O que vai variar é o comportamento da sociedade 
diante dos fatos históricos; a sociedade muda à medida que ela se conhece. É no intuito 
de aprender que a economia não tem relações estáveis e que estamos sempre em mu-
dança que o presente material se apresenta. Temos, portanto, em mãos, um trabalho de 
cunho exploratório e bibliográfico para atender a uma demanda de caráter didático-in-
formativo. 
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL
Leis e normas humanas transformaram algumas pessoas em escravos e outras em 
senhores. Destarte, você será apresentado aos Primeiros Sistemas Econômicos de 
forma muito breve, mas saberá que eles são a gênese do sistema atual. 
Será uma viagem temporal que discorrerá sobre os marcos históricos econômicos, 
principalmente a partir da centralização da análise no espaço europeu, área privi-
legiada da assunção do sistema capitalista. Para tanto, é mister a abordagem da 
transição do feudalismo ao capitalismo. 
O processo reflexivo acerca da relevância da Revolução Industrial também será mo-
tivo de trabalho. Como um dos resultados dessa transformação, será relevante en-
tender a alta dos preços e a Grande Depressão por volta dos anos 1873. Esse cenário 
está contextualizado com a Segunda Revolução Industrial e a questão do Capital 
Monopolista e Imperialismo.
O contexto de ampliação do espaço econômico culminará na Primeira Guerra Mun-
dial, que impactará a década de 1920. O capitalismo passa por sucessivas crises e, 
possivelmente, a mais importante de sua história é a Grande Depressão de 1929, 
assunto, entre outros, da Unidade IV. Por fim, os mecanismos do capitalismo em sua 
fase “tardia”, os quais enfatizam as profundas mudanças que a Terceira Revolução 
Industrial acarretaram ao sistema.
Por fim, é um trabalho introdutório e simplificado diante da proporção que é, de 
fato, a História Econômica Geral, nas suas mais diversas vertentes, que não podemos 
abordar aqui por uma questão didática. No entanto, sem dúvida, encontraremos-
-nos nas aulas em formatos de vídeos como forma complementar a esse trabalho. 
É certamente um trabalho realizado com muita dedicação e seriedade por parte da 
Unicesumar, representada aqui pelo professor Silvio Castro, coordenador do curso 
de Ciências Econômicas, que confiou a mim este trabalho, ao qual sou grata por ter 
a possibilidade de compartilhar meu conhecimento com vocês. 
Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
15 Introdução
16 A Relação Entre Economia e História 
27 A Economia na Antiguidade 
33 O Feudalismo 
52 Considerações Finais 
57 Referências 
59 Gabarito 
UNIDADE II
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
63 Introdução
64 O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção 
74 A Revolução Industrial 
87 A Revolução Industrial e sua Amplitude 
92 Considerações Finais 
98 Referências 
99 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE III
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO 
INDUSTRIAL E O CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES CAPITALISTAS 
(1870-1913)
103 Introdução
104 A Grande Depressão do Século XIX 
107 A Segunda Revolução Industrial 
112 Uma Breve Contextualização Histórica do Capitalismo e seu Alargamento 
Geográfico
114 O Capital Monopolista 
121 Imperialismo 
126 Considerações Finais 
131 Referências 
132 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE IV
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
135 Introdução
136 A Primeira Guerra Mundial 
147 O Pós-Guerra 
153 A Economia Mundial e os Anos 20 
156 A Grande Depressão (1929-1933) 
159 Considerações Finais 
164 Referências 
165 Gabarito 
SUMÁRIO
12
UNIDADE V
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO 
CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
169 Introdução
170 O Contexto da Segunda Guerra Mundial 
172 A Dimensão da Segunda Guerra Mundial 
177 O Capitalismo Tardio e a Financeirização do Sistema: as Peças de um 
Quebra-cabeças
187 Considerações Finais 
194 Referências 
195 Gabarito 
196 CONCLUSÃO
U
N
ID
A
D
E I
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
A HISTÓRIA ECONÔMICA 
E OS ASPECTOS DO 
FEUDALISMO
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Refletir a relação entre economia e história.
 ■ Conhecer a Economia na Antiguidade.
 ■ Reconhecer o sistema feudal e apreender aspectos do mercantilismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A relação entre economia e história
 ■ A Economia na Antiguidade
 ■ O feudalismo
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), o conteúdo que você encontrará nas próximas páginas foi 
minuciosamente construído no intuito de lograr a compreensão da íntima rela-
ção da economia e da história; o nascimento da História Econômica; o processo 
gestacional do capitalismo: o feudalismo e o mercantilismo.
É por acreditar categoricamente na primordialidade da história como ferra-
menta de análise do momento presente, principalmente no que tange às questões 
materiais de vivência, que nos dedicamos, na primeira parte do material, a inves-
tir no tratamento da relação da história e da economia. Destarte, o foco de nosso 
estudo se volta à atividade humana diante da sua satisfação das necessidades 
materiais no decorrer do tempo.
Para discorrer sobre esse processo será necessário entender o nascimento 
da História Econômica Geral enquanto disciplina acadêmica, ou seja, enquanto 
área de estudo propriamente dita. Para isso, faremos uma abordagem econômica 
e historiográfica diante do amplo panorama dessa temática, em caráter descri-
tivo, de modo a situar algumas das principais correntes de estudo da História 
Econômica.
A Economia na Antiguidade é ponto chave na percepção de como nos-
sos antepassados viviam, produziam e distribuiam os frutos de suas atividades 
produtivas.
Seremos apresentados à sociedade feudal, como nos mostra Beaud (1987) que, 
por volta do século XI, concretiza-se em termos organizacionais no âmbito do 
senhorio, constituídos pela servidão, trabalho forçado, corveia e extorsão do sobre-
trabalho (sob a forma de prestação em trabalho) do qual se beneficia o senhor, 
proprietário eminente e detentor das prerrogativas políticas e jurisdicionais.
Por fim, o grande comércio que a circunavegação proporcionará: o período 
mercantilista. A riqueza de uma nação estava associada ao montante de ouro e 
prata que ela possuía. Alguns dos primeiros mercantilistas até mesmo acreditavam 
que esses metais preciosos eram o único tipo de riqueza que valia a pena alejar.
Sem dúvida uma viagem no tempo econômico. Bons estudos!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
15
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16
A RELAÇÃO ENTRE ECONOMIA E HISTÓRIA
Nessa caminhada que estamos iniciando, caro(a) aluno(a), vamos conhecer 
datas, pensadores e acontecimentos, isto é, vamos trilhar a história sob a pers-
pectiva econômica. É relevante apresentar que, conforme Harari (2015), a partir 
da dimensão temporal (há 70 mil anos) em que o Homo Sapiens começou a for-
mar estruturas elaboradas chamadas culturas é que pontuamos a história. 
Há cerca de 13,5 bilhões de anos, a matéria, a energia, o tempo e o espa-
ço surgiram naquilo que é conhecido como o Big Bang. A história des-
sas características fundamentais do nosso universo é denominada físi-
ca. Por volta de 300 mil anos após seu surgimento, a matéria e a energia 
começaram a se aglutinar em estruturas complexas, chamadas átomos, 
que então se combinaram em moléculas. A história dos átomos, das 
moléculas e de suas interações é denominada química. Há cerca de 3,8 
bilhões de anos, em um planeta chamado Terra, certas moléculas se 
combinaram para formar estruturas particularmente grandes e com-
plexas chamadas organismos. A história dos organismos é denominada 
biologia. Há cerca de 70 mil anos, os organismos pertencentes à espécie 
Homo sapiens começaram a formar estruturas ainda mais elaboradas 
chamadas culturas. O desenvolvimento subsequente dessas culturas 
humanas é denominado história (HARARI, 2015, p.11). 
Quadro 1 - Cronologia
ANOS ATRÁS
13,5 bilhões
Surgem matéria e energia. Começo da física. 
Aparecem átomos e moléculas. Começo da química.
4,5 bilhões Formação do planeta Terra.
3,8 bilhões Surgimento de organismos. Começo da biologia.
6 milhões Último ancestral em comum de humanos e chimpanzés.
A Relação Entre Economia e História
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
17
ANOS ATRÁS
2,5 milhões Evolução do gênero Homo na África. Primeiras ferramentas de pedra.
2 milhões Humanos se espalham da África para Eurásia. Evolução de dife-rentes espécies humanas.
500 mil Surgem os neandertais na Europa e no Oriente Médio.
300 mil Uso cotidiano do fogo.
200 mil Surge o Homo sapiens na África Oriental.
70 mil Revolução Cognitiva. Surge a linguagem ficcional. Começo da história. Os sapiens se espalham a partir da África.
45 mil Os sapiens povoam a Austrália. Extinção da megafauna australiana.
30 mil Extinção dos neandertais.
16 mil Os sapiens povoam a América. Extinção da megafauna americana.
13 mil Extinção do Homo floresiensis.
12 mil Revolução Agrícola. Domesticação de plantas e animais. Assentamentos permanentes.
5 mil Primeiros reinos, sistemas de escrita e dinheiro. Religiões politeístas.
4,25 mil Primeiro império – o Império Acádio de Sargão.
2,5 mil
Invenção da moeda – um dinheiro universal.
Império Persa – uma ordem política universal “em prol de todos 
os humanos“.
Budismo na Índia – uma verdade universal “para libertar todos os 
seres do sofrimento“
2 mil Império Han na China. Império romano no Mediterrâneo. Cristianismo.
1,4 mil Islamismo.
500
Revolução Científica. A humanidade admite sua ignorância e 
começa a conquistar a América e os oceanos. O planeta inteiro se 
torna um só palco histórico. Ascensão do capitalismo.
200 Revolução Industrial. Família e comunidade são substituídas por Estado e mercado. Extinção em massa de plantas e animais.
O presente
Os humanos transcendem os limites do planeta Terra. As armas 
nucleares ameaçam a sobrevivência da humanidade. Cada vez 
mais, os organismos são moldados por design inteligente e não 
por seleção natural.
O futuro O design inteligente se torna o princípio básico da vida? O homo sapiens é substituído por super-humanos?
Fonte: Harari (2015, p. 8).
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
O tratamento da palavra “história” em sua abordagem etimológica (em todas 
as línguas românicas e em inglês) vem do grego antigo historie. Encaminha-nos 
para a noção de testemunha, “daquele que vê” o sentido de procurar. Podemos 
ir além e, em Heródoto (considerado o Pai da História), perceber o significado 
dessa ciência (hoje, ciência!) como “procura das ações realizadas pelos homens”. 
Esta é a exposição das investigações de Heródoto de Halicarnasso, para 
que os feitos dos homens não se desvaneçam com o tempo, nem fiquem 
sem renome as grandes e maravilhosas empresas, realizadas quer pelos 
Helenos, quer pelos Bárbaros; e, sobretudo, a razão porque entraram 
em guerra uns com os outros (HERÓDOTO, 1994, p. 53 apud PRIORI; 
MARTIN, 2010, p. 12).
Em Le Goff (1995, p. 17):
Mas a história pode ter ainda um terceiro sentido, o de narração. Uma 
história é uma narração, verdadeira ou falsa, com base na “realidade 
histórica” ou puramente imaginária – pode ser uma narração histórica 
ou uma fábula. O inglês escapa a esta última confusão porque distingue 
entre history e story (história e conto).
A partir da etimologia, podemos entender que estamos tratando de uma busca, de 
uma forma investigativa, dentro de um recorte temporal – a história está intrin-
secamente aliada ao tempo – em que o humano, enquanto ser social, modifica, 
desenvolve-se e, por assim dizer, está inserido em uma cultura. O tempo, não o 
chronos (cronológico) estabelecido pelo desenvolvimento das culturas, mas por 
aquele que, conforme Elias (1998, p. 13):
Remete a esse relacionamento de posições ou segmentos pertencentes 
a duas ou mais sequências de acontecimentos em evolução contínua. 
Se as sequências em si são perceptíveis, relacioná-las representa a ela-
boração dessas percepções pelo saber humano. Isso encontra uma ex-
pressão num símbolo social comunicável - a ideia de “tempo”, a qual no 
interior de uma sociedade, permite transmitir de um ser humano para 
outros imagens mnêmicas que dão lugar a uma experiência, mas que 
não podem ser percebidas pelos sentidos não perceptivos. 
Contudo, o que é a história, na sua forma clássica, e como ela se relaciona com 
a História Econômica?
Marc Bloch (2001, p.51) definiu a História como a “ciência dos homens no 
tempo”. Em outras palavras, conforme Saes e Saes (2013) é o estudo da atividade 
A Relação Entre Economia e História
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
19
humana, em suas múltiplas dimensões, na perspectiva da mudança ao longo do 
tempo. Em termos do foco de nosso estudo: a atividade humana voltada à satisfa-
ção das necessidades materiais. Ainda podemos pensar que trata-se dos “esforços 
que o homem faz (fez) ao longo dos séculos para satisfazer suas necessidades 
materiais” (IGLÉSIAS, 1959, p. 27 apud SAES; SAES 2013, p. 1). Aquilo que con-
sideramos como “essencial” se modifica de acordo com cada época. 
Em determinadas épocas e locais, as necessidades materiais das pessoas 
podem ser supridas por seu próprio esforço:
numa comunidade estritamente rural, aquele que cultiva a terra e cria 
alguns animais pode produzir tudo (ou quase tudo) o que necessita 
para sobrevivência (levando em conta o que é considerado necessário 
naquele momento, como alimento, vestuário, habitação). Na socieda-
de atual, as necessidades materiais comportam muito mais do que ali-
mentos, vestuário e habitação, pois bens duráveis, como os eletrônicos, 
meios de transporte, lazer, cultura, etc. passaram a fazer parte do dia a 
dia de grande parte da população (SAES; SAES 2013, p. 2).
Redes produtivas, comerciais e financeiras compõem a interligação do com-
plexo sistemapara obtenção desses produtos, que se tornaram necessários no 
nosso cotidiano. Por exemplo, um operador financeiro no Brasil, ao almoçar 
em um restaurante, certamente está consumindo algum alimento produzido em 
outro país, talvez da América Latina, e cuja preparação exigiu o uso de uten-
sílios importados provavelmente da América do Norte, da Europa ou da Ásia. 
Assim, da origem desses produtos à mesa do restaurante, há um vasto conjunto 
de empresas e trabalhadores, na maior parte das vezes desconhecidos daquele 
que é o consumidor final desses produtos.
A teoria contemporânea tem as cicatrizes dos problemas do passado agora 
resolvidos, os erros do passado agora corrigidos e, não poderá ser comple-
tamente entendida, exceto como um legado do passado. 
(Mark Blaug)
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
Caro(a) aluno(a), diante da sua possível expectativa acerca deste conteúdo é impor-
tante que seja esclarecido que estamos diante da Economia e da História, duas 
(atuais) ciências que se relacionam para contribuir de maneira a procurar identifi-
car as formas pelas quais os homens satisfazem suas necessidades materiais, como 
também de investigar de que maneira essas formas se alteram ao longo do tempo 
por meio de diferentes relações entre os homens que participam desse processo 
(trabalhadores, empresários, consumidores) e de técnicas em constante alteração. 
SURGIMENTO DA HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL
E a História Econômica Geral? Como surgiu? Enquanto disciplina acadêmica 
ela surgiu como uma reação às tendências dominantes nessas duas disciplinas. 
Destarte, é relevante a indicação das distintas perspectivas que definem as prin-
cipais correntes da História Econômica. Isso se deve às implicações possíveis 
sobre a interpretação dos processos históricos. 
No fim do século XIX predominava na Economia a corrente marginalista (ver 
mais sobre a revolução marginalista no elemento textual #leitura complementar#). 
A figura 1 procura elucidar esse cenário. Na História prevalecia o positivismo 
e o historicismo, enquanto a economia perpassava a Revolução Marginalista.
Figura 1 - O Século XIX e as correntes predominantes na Economia e na História.
Fonte: a autora.
A Relação Entre Economia e História
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
21
Segundo Saes e Saes (2013), Adam Smith via a história da economia como uma 
sequência de formas de atividade econômica: caça, coleta, pastoreio, agricul-
tura e comércio. De modo que o pensador escocês preservava uma perspectiva 
histórica em suas reflexões. Essa seria a “ordem natural”, ou seja, como deveria 
ter acontecido ou acontecer em cada sociedade. De modo geral, os economis-
tas clássicos mantiveram a preocupação em relação às mudanças da economia 
pontuadas em sua dimensão temporal.
O surgimento e o desenvolvimento do capitalismo, para Karl Marx, é expli-
cado por meio de sua vasta construção teórica. Na Alemanha, a Economia como 
disciplina esteve associada à chamada “Escola Histórica”. Essa corrente de pen-
samento deu importância aos trabalhos históricos e, de forma geral, à descrição 
dos detalhes: para ela, este é o trabalho mais importante, ou pelo menos, o que 
em primeiro lugar se impõe às Ciências Sociais (SCHUMPETER apud SAES; 
SAES, 2013, p. 4).
Ao apresentar o termo “escola” estamos tratando da noção que remete ao 
sentido de uma “corrente de pensamento”. Pois entende-se que sempre que 
ocorre um padrão ou programa mínimo perceptível no trabalho de grupo, 
formado por um número significativo de praticantes de determinada ativi-
dade ou de produtores de certo tipo de conhecimento, sendo ainda impor-
tante que haja uma certa intercomunicação entre estes praticantes, a consti-
tuição de uma identidade em comum, frequentemente também ocorrendo 
a consolidação de meios para a difusão das idéias do grupo, como é o caso 
de revistas especializadas, controladas por seus membros ou programas vei-
culados em mídias diversas. Será importante entender, ainda, que as “esco-
las” podem apresentar uma referência sincrônica – relacionada a autores ou 
praticantes de uma mesma época – e uma referência diacrônica, no sentido 
de que a “escola” pode se estender no tempo e abarcar sucessivas gerações, 
ou ser por elas reivindicada. 
Fonte: autora
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E22
Na Economia Política (nome da disciplina antes da revolução marginalista), não 
havia nenhum historiador econômico, propriamente. Entretanto, os pensadores 
da Economia Política demonstravam, em suas obras, elementos ou preocupações 
com o que viria a ser a História Econômica como disciplina. O fato é que, com 
a ascensão dos marginalistas (corrente de pensamento), a perspectiva política 
perde espaço para os assuntos que tratam da organização dos fatores produtivos. 
Isso porque o foco do pensamento econômico, como já adiantamos, passa a ter 
uma abordagem estática. Em outras palavras, a preocupação com as transforma-
ções que ocorrem no tempo, sob um caráter de evolução das relações materiais 
de produção, assumem outra abordagem. A atenção passa a ser para o entendi-
mento do processo de formação dos preços dos bens e a alocação dos recursos, 
com base nas preferências dos indivíduos em determinado momento do tempo. 
Na perspectiva dos marginalistas, na Economia não havia espaço para a História: 
aliás, essa perspectiva foi formulada na polêmica sobre o Método entre os mar-
ginalistas, em especial pelo austríaco Karl Menger, e a Escola Histórica Alemã, 
representada por G. Schmoller (SCHUMPETER, 1968, p. 177-185)
Saes e Saes (2013) apresentam que o afastamento entre Economia e a História 
não ocorreu apenas com os marginalistas, pois esse foi um movimento mais 
geral que talvez, contraditoriamente, fortaleceu a História Econômica. Sem 
espaço para integrar seus estudos à teoria econômica, aqueles que, de algum 
modo, dedicavam-se à análise da história de economias nacionais, buscaram um 
espaço específico para sua atividade. Daí o surgimento da História Econômica 
como disciplina acadêmica nos países anglo-saxões, no final do século XIX e 
no começo do século XX.
A primeira cadeira de História Econômica foi estabelecida nos Estados Uni-
dos, em 1892, na Universidade de Harvard. Assumiu-a o inglês William Ashley, 
antigo professor de Oxford e autor de Introduction to English Economic History 
and Theory.
Fonte: Harte (2001 apud SAES; SAES, 2013, p. 5).
A Relação Entre Economia e História
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
23
A HISTÓRIA ECONÔMICA E A ESCOLA DOS ANNALES
Ainda dentro do panorama da afirmação da 
História Econômica como disciplina, temos 
que, na França, o percurso que vai pautar o 
posicionamento da disciplina é diferente do 
apresentado com relação à Grã-Bretanha (paí-
ses anglo-saxões). Na República Francesa, a 
História Econômica emergiu em oposição às 
correntes dominantes nos estudos de História 
no século XIX: a “história positivista.”
Podemos, brevemente, entrar “na histó-
ria da história” e verificar que o positivismo 
foi um movimento que passou a incorpo-
rar métodos próprios no estudo dos fatos 
históricos. Nessa transformação, alguns dos 
princípios do Iluminismo, como a elabora-
ção de regras e leis, foram fundamentais. Um 
dos grandes representantes dessa tendência de 
historiadores cientistas foi oalemão Leopold 
Von Ranke (1795-1886). 
O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo hu-
mano, visando a obtenção de resultados claros, objetivos e completa-
mente corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ide-
al de neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua 
obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu criador, 
retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus 
fatos, mas sem os analisar. Os positivistas crêem que o conhecimento 
se explica por si mesmo, necessitando apenas seu estudioso recuperá-lo 
e colocá-lo à mostra. Não foram poucos os que seguiram a corrente 
positivista: Auguste Comte, na Filosofia; Émile Durkheim, na Sociolo-
gia; Fustel de Coulanges, na História, entre outros, contribuíram para 
fazer do Positivismo e da cientifização do saber um posicionamento 
poderoso no século XIX (BIRARDI; CASTELANI; BELATTO, [2018], 
on-line).
Figura 2 - Revista Annales d´Histoire Économique 
et Sociale, dirigida por Lucien Febvre e Marc Bloch 
(professores de Estraburgo)
Fonte: Medievista (2014, on-line)¹. 
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E24
E qual de fato era a oposição ao positivismo? Veja, estamos tratando da primeira 
metade do século XX. Nesse ponto cronológico, historiadores franceses, des-
contentes com os pressupostos teóricos e metodológicos aplicados pela Escola 
Positivista, apresentam um espírito inovador, com o objetivo de transformar 
radicalmente os conceitos, as metodologias e as práticas aplicadas à produção 
histórica. A Escola dos Annales surgiu, aproximadamente, em meados da década 
de 1920. Liderada, inicialmente, por Lucien Febvre e Marc Bloch. Esse movi-
mento teve como direção principal se opor à História Positivista, pois:
havia chegado a hora de passar a história dos tronos das dominações 
para o dos povos e das sociedades. Quanto aos historiadores que ti-
vessem a fraqueza de ainda se interessar pelo político, e praticar essa 
história superada, fariam o papel de retardatários, uma espécie em via 
de desaparecimento, condenada à extinção, na medida em que as novas 
orientações prevalecessem na pesquisa e no ensino (RÉMOND, 1996, 
p. 18-19). 
O que os historiadores mais jovens desejavam era, antes de mais nada, mudar 
o foco da história: das elites para as massas, para o trabalho, para a produção 
e para as trocas. Vários historiadores romperam com o domínio acadêmico do 
positivismo e produziram obras que incorporavam as novas preocupações, con-
forme o quadro abaixo.
Quadro 2 - Historiadores franceses que se opunham ao método positivista
Jean Jaurés
Histoire socialiste de la Révolution française
(História Socialista da Revolução Francesa, 1901 – 1904)
François Simiand
La méthode positive en science économique
(Método histórico de Ciência Social, 1903)
Ernest Labrousse
Esquisse du mouvement des prix et des revenus en France au XVIIIe. 
Siècle
(Tese O movimento dos preços e das rendas na França do 
século XVIII, 1933)
Henri Berr
Revue de Synthèse 
(abrigava estudos de hitória que iam além do relato dos fatos)
Henri Pirenne Publicava estudos sobre a história econômica e social da Idade Média.
Fonte: adaptado de Saes e Saes (2013).
A Relação Entre Economia e História
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
25
Na revista Annales, a proposta era deslocar a visão histórica concentrada nos 
fatos políticos para uma História “Total”. Consolidando, dessa maneira, a insa-
tisfação latente entre historiadores e cientistas sociais das primeiras décadas do 
século XX em relação à historiografia dominante do século XIX.
Além de recusar a História ‘acontecimental’ (o mero relato de eventos), 
Febvre e Bloch propunham a aproximação com as ciências sociais (So-
ciologia, Antropologia, Geografia), o que permitia a busca de explica-
ções para os processos históricos a partir da proposição de problemas 
(SAES; SAES, 2013, p. 6).
HISTÓRIA ECONÔMICA E A PERSPECTIVA MARXISTA
A História Econômica também perpassa a perspectiva marxista à medida que 
Karl Marx não apenas admite a presença da visão social de mundo na elabora-
ção da ciência econômica como também a revela inseparável desta.
O pensador alemão pretendeu explicitar as formas existentes, em sua época, da 
expressão das relações de produção e reprodução da vida, como histórica e social-
mente determinadas, diferentemente do que fizeram os economistas políticos 
clássicos, que as naturalizaram. As proposições de Marx para a História, conforme 
Hobsbawm (1998), consideram que o fator econômico atua conjuntamente com 
Conforme Le Goff (1995), não é de se admirar que a criação da revista Annales 
d’histoire économique et sociale (Anais da história econômica e social), a qual 
deu vida ao movimento, surgiu exatamente no ano da crise de 1929. Essa 
crise que atingiu em cheio Wall Street, nos Estados Unidos, desmoronou 
as economias capitalistas da América e da Europa e levou a humanidade a 
questionar a ideia de progresso, arraigada há centenas de anos. Essas trans-
formações, segundo François Dosse (2003, p. 34), foram observadas pelos 
Annales que mesmo tendo produzido a Revista em janeiro, antes da crise 
em outubro, “responde inteiramente às questões de uma época que desloca 
o olhar dos aspectos políticos para os econômicos”.
Fonte: Rodrigues (2016, p. 119).
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E26
o fator social. A ação desses dois elementos explica as transformações em suas 
contradições. “Isso porque uma característica essencial do pensamento histórico 
de Marx é a de não ser nem ‘sociológico’ nem ‘econômico’, mas ambos simulta-
neamente’’ (HOBSBAWM, 1998, p. 166-167).
Contudo, como os fatores econômicos e sociais aparecem no paradigma 
historiográfico do Marxismo científico? O fator econômico se revela nas for-
ças materiais de produção, também denominadas de forças produtivas. Essas 
são resultantes da atividade prática do homem, a qual envolve meios materiais 
(como matérias-primas e fontes de energia) e intelectuais (saberes técnicos e 
científicos) de produção.
Marx desenvolveu um método próprio: o materialismo histórico. É a relação 
entre infra (a soma das forças produtivas e das relações de produção) e superes-
trutura (envolve aspectos institucionais – ligados ao Estado, à justiça, às formas de 
governo e às leis – bem como ideológicos, os quais se revelam mediante ideias, dou-
trinas, crenças, moralidade e produções artísticas e culturais) que permite explicar 
as ações, as realizações e os pensamentos humanos no tempo. Além desses dois 
conceitos, outros se destacam no interior da teoria marxista e exercem, na produ-
ção historiográfica, reconhecida importância. Dentre esses conceitos, destacamos o 
“modo de produção”, o de “contradição” e o de “luta de classes”. (RODRIGUES, 2016)
A HISTÓRIA ECONÔMICA, A NEW ECONOMIC HISTORY E A 
HISTÓRIA ECONÔMICA INSTITUCIONAL
Convém registrar, ainda, o surgimento, a partir de 1960, de duas correntes cujo 
berço foi o ambiente universitário norte-americano: a New Economic History (mais 
tarde chamada também de Cliometria) e a História Econômica Institucional. A 
primeira nasceu com a elaboração de estudos históricos, com forte utilização 
de noções de teoria econômica e estimações econométricas. A segunda pode 
ser relacionada ao nome de Douglas North. Trata-se da História Econômica 
Institucional, justamente por considerar que “as instituições importam”. Sua vasta 
produção tem sido dedicada ao estudoda relação entre instituições e desenvol-
vimento, em especial na perspectiva histórica.
A Economia na Antiguidade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
27
A HISTÓRIA ECONÔMICA E A HISTÓRIA QUANTITATIVA
Enfim, podemos tratar de uma História Quantitativa. Em alguma medida, sem-
pre se fez uso de dados quantitativos em estudos de História Econômica. A coleta 
e a elaboração sistemática desses dados é o elemento que poderia caracterizar a 
emergência de uma História Quantitativa. Trata-se, propriamente, de uma série 
de pesquisadores que se propuseram a tratar de temas de História Econômica 
por meio da elaboração de dados quantitativos de diversas ordens.
Realizamos, até agora, um amplo panorama de caráter descritivo, de modo a 
situar algumas das principais correntes de estudo da História Econômica. É che-
gado o momento de reconhecer o passado do homem em relação às formas de 
“satisfazer suas necessidades materiais”. Não deixe de considerar que a proposta 
do nosso trabalho é restrita do ponto de vista cronológico. Não conseguiremos 
abordar “todo o passado do homem”.
Assim sendo, nosso objetivo central é o estudo das origens e do desenvolvi-
mento do capitalismo, tendo em vista a compreensão de aspectos importantes 
da economia atual. Desse modo, o exame das formas de organização de siste-
mas anteriores ao capitalismo deve ser feito de modo a atender a esse objetivo. 
A ECONOMIA NA ANTIGUIDADE
Prezado(a) aluno(a), em nosso modo de ver, é de extrema importância estudar 
a economia na Antiguidade. Por longos milênios, a humanidade se compôs de 
grupos relativamente pequenos cuja cultura técnica apenas se igualava às cul-
turas dos mais atrasados, “selvagens” contemporâneos, ou nitidamente inferior.
As sociedades civilizadas e de complexa estrutura, por outro lado, não sur-
giram como Minerva, da cabeça de Júpiter, havendo chegado à sua organização 
atual por meio de mudanças e progressos, obviamente experimentados a par-
tir dessas atrasadas aglomerações humanas. Nesse sentido, nosso interesse se 
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E28
apresenta em como os nossos antepassados viviam, produziam e distribuiam 
os frutos de suas atividades produtivas e, ainda, como tais técnicas e relações 
foram se aperfeiçoando ou modificando, até atingirem fases econômico-sociais 
mais adiantadas. 
Figura 3 - Descrição dos impérios na antiguidade
Fonte: a autora.
Se negligenciássemos o fato de que os grupos eram pequenos e que a sociedade 
é algo complexo; possivelmente não lograríamos compreender a evolução dos 
processos de produção e distribuição das riquezas, cujo conhecimento cons-
titui, precisamente, o objeto da História Econômica. A figura 4, em destaque 
abaixo, busca reconhecer os primeiros sistemas econômicos para que, a partir 
disso, possamos partir para o nosso interesse especial: realizar a apresentação 
da sociedade feudal, a fim de discutir como se processou a transição do feuda-
lismo ao capitalismo. 
A Economia na Antiguidade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
29
PRIMEIROS SISTEMAS ECONÔMICOS
Primeiros Sistemas Econômicos
As civilizações
hidráulicas
Mesopotâmia
Egito As cidades fenícias
Civilização Minóica 
de Creta
As civilizações
comerciais
Figura 4 - Primeiros sistemas econômicos
Fonte: a autora.
Há cerca de 10 mil anos, quando os sapiens (nome científico de nossa espécie 
humana) começaram a dedicar quase todo o seu tempo e esforço para mani-
pular a vida de algumas espécies de plantas e animais, apresentando, dessa 
forma, uma mudança radical em seu relacionamento com a natureza, temos o 
que Harari (2015) chama de Revolução Agrícola. Essa transformação impactou 
totalmente a história da humanidade, pois o homem passa do caráter predató-
rio para produtor. A existência em comunidades estáveis passa a tomar forma 
em detrimento do nomadismo. Em Rezende Filho (2010), temos o nome de 
Revolução Neolítica. Para nós, o relevante é perceber que foi um ponto de infle-
xão para a humanidade, de modo que a atividade agrícola, sobretudo, permitiu 
que o homem passasse a diminuir a atividade braçal e passasse a ter a noção de 
trabalho coletivo e regular.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E30
Paralelamente ao controle das fontes de alimentação que possibilitaram o 
crescimento demográfico, deu-se a diferenciação social do trabalho que permitiu 
o desenvolvimento de novas técnicas (cerâmica, tecelagem, fabricação de ins-
trumentos de pedra polida), ligando as comunidades por um sistemas de trocas. 
Estabelece-se, aqui, nosso marco precursor da atividade comercial.
A crescente liberação de braços da atividade básica de prover o sustento 
da comunidade, aliada à progressiva diferenciação social do trabalho, 
levou à formação de diferentes ritmos de produção e acumulação de 
bens econômicos, o que acabou por produzir o conceito de proprieda-
de, e diferenciar diversos segmentos dentro da comunidade, de acordo 
com suas posses. E a difusão do conceito de propriedade levou à neces-
sidade de se demarcar com precisão os limites dos lotes de terras, de se 
registrar o tamanho dos rebanhos, e de se mensurar o volume da pro-
dução agrícola, o que induziu à invenção da escrita, com a consequente 
passagem para a história (REZENDE FILHO, 2010, p.13).
Nesse sentido, as civilizações hidráulicas representam um papel importante nos 
primórdios da História Econômica Geral por caracterizarem uma área em que 
o homem percebeu sua produtividade ou até mesmo por suas peculiaridades 
das cheias dos rios. De tal modo que comunidades se fixaram dinamizando a 
região em torno dos vales dos rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia; do Nilo, 
no Egito; do Ganges e do Indo, na Índia; e do Amarelo, na China. Veja a figura 5:
Mesopotâmia Egito
– alta produtividade agrícola;
– densamente habitada;
– região cercada população hostil;
– dependia do comércio exterior 
para matérias-primas como: madeira, 
pedras e metais;
– surgimento dos bancos.
– baseada na irrigação (economia 
agrária considerada oásis alongado);
– desertos protegiam a região 
de ameaças externas (sociedade
isolacionista e conservadora);
– pouco dependente de comércio 
exterior;
– Estado precocemente uni�cado 
(faraó).
Figura 5 - Civilizações hidráulicas
Fonte: a autora.
A Economia na Antiguidade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
31
Por conta de condições geoclimáticas desfavorecedoras ao desenvolvimento da 
agricultura, algumas civilizações se voltaram para o exterior. Diante do obje-
tivo de abastecerem-se, uma vez que não conseguiam produzir em quantidade 
suficiente. A figura 6 busca representar o caso da Civilização Minóica de Creta 
e das Cidades Fenícias. 
Civilização Minórica
de Creta
Cidades
Fenícias
– rica em madeira;
– primeira economia concentrada
na produção artesanal para 
exportação;
– produção de vinhos, azeites e
objetos de cerâmica.
– Líbano atual;
– relevo bastante acidentado, pouco
propensa para agricultura;
– cultivo de vinhas e oliveiras
(culturas nada exigentes com relação
à fertilidade do solo);
– corante de púrpura;
– intermediadores(comercializando
e transportando) mercadorias
provenientes de todo o mundo
mediterrâneo.
Figura 6 - As civilizações comerciais
Fonte: a autora.
Na intenção de maximizar as vantagens advindas da atividade comercial, as cida-
des fenícias estabeleciam pontos de armazenamento de produtos localizados no 
litoral das regiões com as quais comerciavam. Eram as feitorias. Uma dessas, 
fundada no século IX a.C., deu origem à cidade de Cartago, a qual, conforme 
Rezende Filho (2010, p. 22) “se transformou na potência econômica dominante 
do Mediterrâneo ocidental, até ser derrotada por Roma, após longas guerras, 
em finais do século III a.C”. 
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E32
Destarte, podemos apresentar as cidades-Estados gregas que: 
pela primeira vez na história, tornaram a escravidão absoluta na forma 
e dominante em extensão,transformando-a, de forma de trabalho auxi-
liar e complementar, em um sistemático modo de produção.
Alguns séculos mais tarde, o Estado Romano, dominando e unindo po-
lítica e economicamente o “mundo civilizado” da Antiguidade Clássica, 
que se estendia ao redor do mar Mediterrâneo, tendo como eixo a pe-
nínsula ltálica, desenvolveu, no limite, o modo de produção escravista, 
pioneiramente tomado preponderante pelas cidades gregas (REZEN-
DE FILHO, 2010, p. 24). 
REPÚBLICA ROMANA
No tocante à criação da República Romana (II a.C. a V D.C) é esclarecedor que a 
pequena cidade-Estado, em poucos séculos, tornou-se um Império. De tal modo 
que, conforme Rezende Filho (2010, p. 33):
Roma deu unidade político-econômica à Antiguidade Clássica. E tor-
nou predominantemente um sistema econômico que tinha por carac-
terísticas, a escravidão como forma de trabalho, a monetarização como 
padrão de troca, o comércio como atividade motora, e a cidade como 
unidade produtiva, sem, no entanto, jamais deixar de ter como base, 
um substrato econômico rural.
O que vimos até agora nos encaminha para nosso objetivo de compreender aspectos 
importantes da economia atual. De certo modo, tratamos até então dos “antepas-
sados” do sistema capitalista de produção. A partir de agora, vamos acessar àquele 
que é, propriamente, o processo gestacional da economia capitalista: o feudalismo.
As primeiras experiências da formação de Estados organizados juridicamen-
te e politicamente foram vistas na Mesopotâmia. Situada no Crescente Fér-
til, mais especificamente entre os Rios Tigre e Eufrates, essa região abrigou 
três importantes civilizações: os Assírios, os Sumérios e os Babilônios.
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010).
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
33
O FEUDALISMO
Esse sistema passa a vigorar a partir do declínio do Império Romano. Contudo, 
primeiramente, o que é feudalismo? O que vem à sua mente ao “ouvir” essa 
palavra? É possível que imagens de castelos medievais, cavaleiros, armaduras, 
cenários e objetos lhe venham ao pensamento. Isso procede. De fato essas ima-
gens pertencem à cultura da época. No entanto, ainda assim não é uma descrição 
completa do feudalismo. 
Em Ganshof (1968, p. 141) encontramos que o “feudo”, enquanto instituição 
jurídica, tem um significado geral: “uma concessão feita gratuitamente por um 
senhor ao seu vassalo para que este último pudesse dispor de sustento legítimo 
e ficasse em condições de fornecer ao seu senhor o serviço exigido”.
Dobb (1983, p. 35) afirma que 
é necessário postular a definição de feudalismo que adotaremos daqui 
em diante. A ênfase desta definição irá repousar, não na relação jurídica 
entre vassalo e soberano, nem na relação entre a produção e o destino 
do produto, mas na relação entre o produtor direto (que pode ser um 
artesão em uma oficina ou um camponês cultivando alguma terra) e seu 
superior imediato ou senhor, e no conteúdo sócio-econômico que os co-
necta. [...] esta definição irá caracterizar o feudalismo primordialmente 
como um modo de produção, e isto formará a essência da nossa defini-
ção. Deste modo, será virtualmente idêntica ao que usualmente qualifi-
camos como servidão: uma obrigação imposta ao produtor pela força e 
independentemente de suas vontade, para preencher a demanda econô-
mica de um senhor, quer esta demanda tome a forma de serviços a pres-
tar ou taxas a serem pagas em dinheiro ou em espécie, em trabalho ou 
no que o Dr. Neilson denominou ‘presentes para a despensa do senhor’.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E34
Podemos perceber que o autor aborda o feudalismo como um modo de produção, 
cuja articulação fundamental é garantida pelas relações de servidão. Para Paul Sweezy 
et al. (2004), o conceito de feudalismo segundo Dobb é demasiadamente gené-
rico. A contribuição de Ganshof (1968, p. 10-11), nesse sentido, nos apresenta que
o feudalismo pode ser definido como um conjunto de instituições que 
criam e regulam obrigações de obediência e de serviço - sobretudo mi-
litar - da parte de um homem livre, chamado vassalo, para com outro 
homem livre, chamado senhor, e obrigações de proteção e sustento da 
parte do senhor para com o vassalo.
Em Anderson (2016, p. 20)
como modo de produção, o feudalismo se define por uma unidade orgâ-
nica entre economia e política, paradoxalmente distribuída em uma ca-
deia de soberanias parcelares por toda a formação social. A instituição da 
servidão como mecanismo de extração de excedente unia a exploração 
econômica com a coerção político-jurídica no nível molecular da aldeia.
São várias definições e todas são complementares, de modo que não podemos 
eleger um conceito preciso. O mais importante é que seja apreendida a concep-
ção de que para além da relação senhor feudal versus trabalhador que vive no 
feudo (cuja condição social o define como um servo), trata-se, ainda, de uma 
esfera política caracterizada por uma forma de governo ou de dominação frag-
mentada do ponto de vista espacial. Com a desagregação do Império Romano, 
houve a constituição de vários Estados Bárbaros de dimensões menores, cuja 
autoridade se viu progressivamente reduzida do ponto de vista geográfico. Em 
contrapartida, o feudo assumiu o papel de unidade política fundamental. 
O feudalismo apresenta um Estado descentralizado. O poder político passou 
a ser detido de forma privada; nesse sentido, a justiça é exercida pelo susera-
no sobre seus vassalos e pelo senhor sobre os camponeses.
Fonte: autora.
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
35
O feudalismo em torno do ano 1000 está estabelecido com base nos moldes 
apresentados anteriormente. Nessa dimensão temporal, a Europa Ocidental 
apresentava as características definidoras do sistema: a relação suserano-vas-
salo, a fragmentação do poder e o estabelecimento da servidão como relação 
social fundamental no campo. 
Em termos de organização econômica, podemos considerar o feudo como 
uma área de terra comumente denominada senhorio, distribuída de seguinte 
forma:
I. Reserva Senhorial.
i. Centro do domínio.
ii. Terras cultiváveis.
II. Lotes dos camponeses.
III. Terras de uso comum.
A dinâmica dessa organização se dava no centro do domínio,
as atividades eram realizadas sob o controle do senhor (diretamente ou 
representado por preposto) e com o trabalho de servos (e, em certas 
épocas, também de escravos) que viviam no próprio centro do domí-
nio.Eram os servos dedicados aos serviços domésticos e também aos 
outros ofícios (ferreiros, cervejeiros, moageiros, padeiros e outros ar-
tesãos).
Mais importante era a forma de cultivo das terras aráveis da reserva 
senhorial. Na sua forma típica, esse cultivo era realizado pelos campo-
neses, obrigados a trabalhar nas terras do senhor (em geral, de dois a 
três dias por semana). Essa obrigação, denominada na França de cor-
veia, era o elemento mais característico da servidão: se, originalmente, 
um camponês livre podia ter trocado sua independência pela proteção 
do senhor diante do perigo da guerra (daí as obrigações que ele assume 
em relação ao senhor, em suma, a servidão), essas obrigações ao longo 
do tempo, passaram a ser impostas aos camponeses pelo costume, por 
normas legais ou simplesmente pela força dos senhores (independen-
temente da necessidade de proteção ao camponês) (SAES; SAES, 2013, 
p. 50).
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E36
A lista de obrigações por parte do camponês, em relação ao seu senhor, ainda 
pode ser estendida para:
 ■ Banalidades: para moer trigo, para assar pão, para fazer cerveja ou vinho, 
o camponês tinha a obrigação de deixar metade do produto daquilo que 
havia levado para ser processado, ao usar as instalações do centro do 
domínio.
 ■ Talha: tributo imposto pelos senhores com base na obrigação de um vas-
salo sustentar seu chefe (e que se estendia aos servos).
 ■ Captação: pagamento anual justificado como doação aos senhores em 
troca de sua proteção (cobrado por pessoa).
 ■ Mão morta: quando da morte do servo, seus herdeiros deviam entregar 
ao senhor o melhor animal que tivessem.
Nesse contexto, a Igreja era muito forte e, maior proprietária de terras. O cená-
rio estava emoldurado em uma hierarquia feudal na qual o servo ou camponês 
era protegido pelos senhores feudais, os quais, por sua vez, deviam fidelidade e 
eram protegidos por senhores mais poderosos. Essa estrutura se estendia, indo 
até o rei. “Os fortes protegiam os fracos” (HUNT, 1989, p. 29), mas o faziam por 
um alto preço. Em troca de pagamento em moeda, alimentos, trabalho ou fide-
lidade militar, os senhores garantiam o feudo a seus vassalos. Como escora desse 
sistema, estava o servo que cultivava a terra.
Portanto, além das obrigações acima referidas, tinha o dízimo para a Igreja, 
pagamentos em troca de permissão para casar uma filha ou para um filho ingres-
sar em ordens religiosas. Ah! Vale muito expor aqui, caro(a) aluno(a), o crescente 
poderio da Igreja do espaço temporal da Idade Média. Esse crescimento se deve, 
especialmente, à expansão do cristianismo pela obra de evangelização dos povos, 
realizada pelos padres nos territórios pertencentes ao poder de Roma e para 
além deles. 
A partir do século XI, as cruzadas deram força a uma marcante expansão 
do comércio. Provavelmente, você já conhece esse termo, mas vale lembrar, 
em breves linhas, a relevância desse movimento na história. A expressão “cru-
zada” não era conhecida por esse nome no período em que ocorria. Os termos 
usados eram “Guerra Santa” e “Peregrinação”, os quais faziam referência ao 
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
37
movimento de tentativa de tomar a “Terra Santa” dos muçulmanos. Tratavam-se 
de tropas ocidentais enviadas à Palestina para recuperarem a liberdade de 
acesso dos cristãos à Jerusalém. Dessa maneira, as Cruzadas não podem ser 
vistas como fator externo ou acidental no desenvolvimento da Europa. Elas 
oportunizaram o renascimento do comércio na Europa. Muitos cavaleiros, 
ao retornarem do Oriente, surrupiaram cidades e organizaram pequenas fei-
ras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um significativo reaquecimento da 
economia no Ocidente. 
Anteriormente, foi abordado que, no tocante à política, houve uma frag-
mentação do poder e da autoridade em uma infinidade de domínios que deram 
aos senhores feudais, na Europa Ocidental. Também na esfera social, surgiu 
uma ordem rigidamente hierarquizada e desigual. E, por fim, no campo espiri-
tual esse panorama era reconhecido e aceito como natural e justificado por uma 
determinação divina, por meio dos ensinamentos dos Evangelhos dos primei-
ros teólogos e da filosofia clássica, que era valorizada por oferecer um modelo 
sofisticado de articulação entre moral, ética e “análise econômica”. 
De acordo com Gennari e Oliveira (2009, p. 18), sintetizamos que
[...] de camponeses ligada à terra e vinculada aos aristocratas pe-
las obrigações em espécie e em trabalho, como contrapartida pela 
proteção, produziu uma ordem social rigidamente hierarquizada e 
diferenciada. Ao mesmo tempo, as guerras, os saques frequentes e a 
violência indiscriminada aceleravam a desarticulação do poder cen-
tral que até então ordenava a vida, a justiça, a produção e a troca, 
compondo um quadro no qual o homem se via isolado, impotente e 
frágil, vítima fácil de circunstâncias sobre as quais não tinha o menor 
controle. 
Até aqui nossa atenção estava centrada nos eventos que ocupam os séculos XI, 
XII e XIII, os quais caracterizam a fase de expansão feudal (por meio do cres-
cimento da população, da colonização de novas áreas e também pelo crescente 
volume de comércio). No entanto, em meados do século XIV, a expansão foi 
interrompida e vários eventos indicam a emergência de uma crise do sistema 
feudal (a qual também ocupa a primeira metade do século XV).
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E38
Quadro 3 - Características econômicas da Antiguidade até o Período Medieval 
PERÍODO CARACTERÍSTICAS CONSEQUÊNCIAS
ALGUNS 
PENSADORES
Antiguidade 
Clássica – 1ª fase 
(4000 a 1000 a.C.)
Trabalho 
escravo;
ausência de moeda;
comércio incipiente;
regimes teocráticos.
Ausência de um 
pensamento 
econômico.
Não há
Antiguidade 
Clássica – 2ª fase 
(1000 a.C. ao ano 
500 da era cristã)
Início da preocu-
pação pelos fatos 
econômicos.
Conceitos em-
brionários sobre a 
riqueza, valor eco-
nômico e moeda.
Fase inicial da 
economia agrária, 
seguida da econo-
mia urbana.
Gradativo desenvol-
vimento do comér-
cio internacional 
e embriões da 
empresa. 
Queda do Império 
Romano do Ociden-
te, surgimento do 
feudalismo e retorno 
à economia agrária.
Xenofonte 
(440 – 355 a.C.)
Platão 
(427 – 347 a.C.)
Aristóteles 
(384 – 322 a.C.)
Catão 
(234 – 149 a.C.)
Plínio, o Antigo 
(23 – 79 d.C.)
Columela 
(fl. c. 65 A. D.) etc.
Idade Média 
(500 a 1500 d.C.)
Sistema feudal; eco-
nomia artesanal e 
regime corporativo.
Regime da servidão; 
economia fechada 
(sistema feudal).
Perdurou até o 
século X.
Ressurgimento das 
cidades; nascimen-
to do ofício (traba-
lho ambulante). A 
partir do século XIII, 
início do regime 
corporativo.
Regulamentos rigo-
rosos sobre a produ-
ção e o consumo.
Predominância da 
doutrina canônica 
(condenação ao 
empréstimo a juro 
e acumulação de 
riquezas).
Subordinação da 
economia à moral 
(justo preço, justo 
salário, justo lucro). 
Economia a serviço 
do homem; comba-
te à escravidão.
Santo Tomás de 
Aquino 
(1225 – 1274)
Oresmo 
(1328 – 1382)
Alberto Magno
Pennafort e 
outros.
Fonte: Iori (2017, p. 65).
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
39
Não há respostaconclusiva acerca de motivo especial para a crise do sistema feu-
dal. Uma evidência é o esgotamento das áreas disponíveis para colonização. Com o 
crescimento populacional, novas áreas foram sendo incorporadas ao sistema feudal, 
porém com o crescente risco de se caminhar para terras menos férteis e, possivel-
mente, aumentar excessivamente a densidade nas área mais antigas. Desse modo, 
as condições de subsistência do conjunto da população teriam se tornado precárias.
A população continuou a crescer e a produção caiu nas terras mar-
ginais ainda disponíveis para uma recuperação aos níveis da técnica 
existente, e o solo deteriorava por causa da pressa e do mau uso. [...] 
O aumento da área plantada com cereais, ainda por cima, era atingido 
muitas vezes à custa de uma redução das pastagens: em consequência, a 
criação de animais sofria, e com isto, o abastecimento de esterco para a 
própria terra arável. Assim, o progresso da agricultura medieval incor-
ria agora em suas próprias perdas. A derrubada de fl orestas e as terras 
desoladas não haviam sido acompanhadas de um cuidado comparável 
em sua conservação (ANDERSON, 1991, p. 192).
Associada a colheitas medíocres, verifi cou-se 
entre 1315 e 1317 uma grande fome na Europa 
– do Atlântico até a Rússia – sintomática da 
crise. Outro destaque aparece nas estimativas 
demográfi cas. Houve um declínio populacional, 
particularmente acentuado na Europa (1360 e 
1371). Atribui-se essa incapacidade para garan-
tir a reprodução de sua população aos efeitos 
destrutivos da peste negra e outras epidemias 
que se seguiram, apresentando seus efeitos dele-
térios ao atingirem uma população debilitada 
por condições precárias de alimentação.
Figura 7 - De triomf van de Doods, do artista 
Pieter Brueghel
Fonte: Wikimedia Commons ([2018], on-line)².
Povos medievais personifi cavam a Peste Negra como uma horrível força de-
moníaca que estava além do controle e da compreensão humanos.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E40
No tocante às epidemias não foram somente as camadas mais pobres da popu-
lação, nem só a população rural que foram vitimadas. As precárias condições de 
subsistência da época aceleram a disseminação impactando, inclusive, nos seg-
mentos mais ricos da sociedade.
A crise do século XIV marca o início de um enfraquecimento relativo da 
classe feudal. Ao perder cerca de um terço de seus habitantes, muitas áreas rurais 
européias foram despovoadas e cidades abandonadas. 
A ação conjunta das crises agrária, demográfica e monetária, exemplificada 
no quadro 4 abaixo, atuava sobre um sistema econômico que realizava contí-
nua expansão há três séculos. O efeito foi provocar uma crise geral do sistema. 
Quadro 4 - Três motivos principais para a crise feudal
CRISE AGRÁRIA
Incidência cíclica de más colheitas, surtos de fomes e epidemias, populações 
subnutridas, abate generalizado de animais domésticos, retração demográ-
fica, queda sistemática do preço dos cereais, e destruições propositais de 
áreas cultivadas, fizeram com que a economia rural européia passasse por 
uma prolongada crise, que só apresentará sinais de recuperação durante 
o século XV, graças à reconversão agrícola e uma mudança no regime de 
mão-de-obra.
CRISE DEMOGRÁFICA
A crise demográfica foi resultado de ciclos fomes/epidemias, bem como a 
ação de guerras constantes. No entanto, ao efeitos mais marcantes são os re-
lacionados à Peste Negra que só apresentou sinais de recuperação em 1470. 
Esse problema aprofundou a crise agrária e desorganizou toda a atividade 
produtiva-administrativa, levando a um completo desequilíbrio entre oferta 
e demanda, e entre preços e salários.
CRISE MONETÁRIA
O período de retração da oferta e da demanda, de elevação dos custos da 
mão-de-obra e de uma alta sem precedentes nas despesas dos Estados, as 
moedas em circulação tornaram-se de valor intrínseco baixíssimo, o que 
estimulou o entesouramento, e pressionou os preços dos produtos, agríco-
las ou manufaturados, para baixo, configurando uma época de depressão 
acentuada.
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010).
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
41
Conforme Rezende Filho (2010), o resultado foi a desagregação do sistema eco-
nômico feudal (o autor utiliza o termo “funcional” para abordar o sistema feudal), 
não em sua característica acidental, enquanto economia senhorial, mas em sua 
característica essencial, ou seja, o critério de funcionalidade. Houve sua substitui-
ção, enquanto sistema econômico, pela forma alternativa de extração do excedente 
econômico, que sua própria expansão viabilizara: D-M_D’ (dinheiro para com-
pra mercadorias que são revendidas com lucro).
A partir de 1460, observa-se a retomada do crescimento populacional. Essa 
dimensão temporal envolve uma nova dinâmica da economia europeia, que se 
projeta para fora do seu espaço geográfico. Saes e Saes (2013, p. 62) apontam 
que “a expansão comercial e marítima da Europa a partir de meados do século 
XV expressou a reação da sociedade europeia ao impacto da crise feudal do 
século XIV”.
A desorganização do feudalismo foi determinantemente marcada pela Guerra 
dos Cem Anos (1337-1453), a peste bubônica (1348), a fome e as revoltas cam-
ponesas, como consequência houve uma redução na esfera do poder privado 
da nobreza feudal, um enfraquecimento dos laços de servidão, a desurbaniza-
ção e a retração das atividades comerciais que vinham se desenvolvendo desde 
o século XI.
Esse conjunto de transformações estruturou uma nova esfera de poder, que 
possibilitou uma nova linha de reflexão sobre os fenômenos da produção, da 
distribuição e do consumo, ou seja, da atividade econômica. Huberman (2016, 
p. 14) apresenta que As Cruzadas contribuíram para o surgimento das cidades: 
[...] chegou o dia em que o comércio cresceu, e cresceu tanto que afetou 
profundamente toda a vida da Idade Média. O século XI viu o comércio 
evoluir a passos largos; o século XII viu a Europa ocidental transfor-
mar-se em consequência disso.
As Cruzadas levaram novo ímpeto ao comércio. Dezenas de milhares 
de europeus atravessaram o continente por terra e mar para arrebatar 
a Terra Prometida aos muçulmanos. Necessitavam de provisões duran-
te todo o caminho, e os mercadores os acompanhavam a fim de for-
necer-lhes o que precisassem. Os cruzados que regresssavam de suas 
jornadas ao Ocidente traziam com eles o gosto pelas comidas e roupas 
requintadas que tinham visto e experimentado. Sua procura criou um 
mercado para esse produto.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E42
Algumas antigas cidades do Império 
Romano, que não haviam desapa-
recido durante a Alta Idade Média, 
atraíram novos elementos popu-
lacionais. Maurice Dobb (1983, p. 
55-56) avalia várias hipóteses sobre o 
surgimento das cidades, entre elas a 
de que os próprios senhores feudais, 
em algumas circunstâncias, conce-
deram privilégios a comerciantes que se estabelecessem nos seus domínios para 
servir às necessidades do feudo. Para Saes e Saes (2013, p. 63) qualquer que seja 
a origem das cidades, a maior parte delas se manteve durante algum tempo, sob 
a jurisdição de um senhor, pois as cidades haviam sido formadas em terras de 
domínio feudal. Com o crescimento da população e da riqueza urbana, as cida-
des puderam conquistar autonomia em relação à autoridade feudal.
O crescimento das cidades, bem como consequência o comércio, rompe as 
amarras do feudalismo. A expansão comercial se deu deforma irregular, mas 
contínua nos territórios europeus, entre esses territórios e entre a Europa e o 
leste do Mediterrâneo. Estamos, nesse caso, no tempo dos mercadores. Podemos 
considerar que, a partir da segunda metade do século XV aos meados do século 
XVIII, estamos diante do capitalismo mercantil ou mercantilismo. “O mercanti-
lismo foi tudo menos um ‘sistema’; foi primordialmente um produto das mentes 
de estadistas, de altos funcionários públicos e líderes financeiros e comerciais da 
época” (GRAY, 1948 apud GALBRAITH, 1989, p. 29). 
No ano 900, Veneza já comercializava com Constantinopla, sede do Império 
Bizantino (o Império Romano do Oriente que subsistira à queda de Roma).
Fonte: autora.
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
43
MERCANTILISMO
Houve avanço significativo nos meios de navegação. De modo que o comércio 
intraeuropeu, antes apenas terrestre, deslocou-se para o Atlântico. Por consequên-
cia, dá-se o estímulo fundamental para o desenvolvimento de centros comerciais 
em Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França. 
Agora, na era dos mercadores, houve um prodigioso crescimento do 
comércio, tanto a nível local ou quando envolvendo grandes distâncias. 
[...] Navios traziam produtos de terras cada vez mais remotas. Surgiam 
os bancos, primeiro na Itália e depois no norte da Europa. As casas de 
câmbio, onde moedas de diferentes países podem ser pesadas e tro-
cadas, tornaram-se um traço comum da vida comercial. O mercador 
despontou das trevas feudais para tornar-se uma figura distintiva e, se 
fosse suficientemente afluente e operasse numa escala apropriada, bem 
vinda e prestigiada em sociedade. Em toda a Europa, a maior eminên-
cia social ainda pertencia às classes proprietárias, aos descendentes dos 
barões feudais, muitos dos quais ainda guardavam seu instinto peculiar 
para o conflito armado e para a autodestruição dele decorrente. [...] 
Até hoje a arquitetura urbana comercial e residencial mais admirada 
continua sendo a dos mercadores GALBRAITH, 1989, p. 30). 
Nas cidades mercantis, os grandes mercadores não eram só influentes no governo, 
eram o próprio governo. E foram paulatinamente se tornando cada vez mais 
influentes nos novos Estados nacionais. Nesse contexto, de maneira generalizada, 
com a nobreza feudal enfraquecida, organiza-se uma nova forma de governar. 
Apresenta-se a convergência de esferas de poder para a figura de um monarca, 
expressão da unidade do reino. O primeiro instrumento de afirmação da autori-
dade real caracteriza-se pela 
força militar permanente, 
com poder suficiente para 
promover a ordem interna 
e a defesa dos domínios. No 
entanto, a população estava 
desacreditada em um poder 
que pudesse trazer uma nova 
coesão social. Daí, surge a 
ideia de forças mercenárias. 
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E44
Os exércitos não mais iriam lutar por uma ideologia, e sim objetivando paga-
mento. A necessidade de metais preciosos para remunerar as tropas, que eram o 
sustentáculo do poder real, da ordem interna e da defesa do reino, é fundamental 
para compreender o conjunto das análises e práticas econômicas que surgiram 
nessa etapa inicial da organização do Estado Moderno (GENNARI; OLIVEIRA, 
2009). Algumas características são fundamentais a serem destacadas com rela-
ção ao novo formato de Estado: 
1. força militar permanente; 
2. sistemas centralizados de arrecadação; 
3. burocracia.
O suporte do Estado foi fundamental para a expansão comercial e marítima 
da Europa a partir de meados do século XV. Isso em parte pelo apoio material 
a certos empreendimentos (como o das coroas espanhola e portuguesa para as 
expedições de Colombo e de Cabral em direção ao Novo Mundo e para a expan-
são marítima em geral) e também, sobretudo, pela adoção de medidas de política 
econômica que sustentaram a expansão das economias europeias rumo à cons-
tituição de uma economia mundial.
Figura 8: Padrão dos Descobrimentos (Monument of the Discoveries) em Lisboa, Portugal
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
45
Com o Estado Nacional mais forte, uma situação conflitante se apresenta, 
conforme afirmam Gennari e Oliveira (2009), a moral cristã que é contra os 
juros, por exemplo, e o Estado tem sua demanda financeira. 
Em síntese, estamos diante de um processo no qual a influência dos va-
lores inspirados na moralidade cristã sobre a vida econômica começa-
va a ser ameaçada, de forma irreversível, pelos valores comprometidos 
com o fortalecimento de uma nova forma de poder, o Estado moderno 
(GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 33).
Em termos econômicos, propriamente, a acumulação de moedas e de metais pre-
ciosos é o que vai definir a arte de governar no mercantilismo. Em linhas gerais, a 
finalidade básica do Estado, no entender mercantilista, deveria ser a de encontrar 
os meios necessários para que o respectivo país adquirisse a maior quantidade 
possível de ouro e prata. Nesse caminho, vários regulamentos foram estabeleci-
dos com o objetivo de disciplinar a indústria e o comércio, impedindo ao máximo 
as importações e favorecendo as exportações. A proposta dos mercantilistas era 
que a balança comercial (exportações menos importações) fosse sempre a mais 
favorável possível. Isso porque, para eles, exportar mais que importar represen-
taria uma compensação em ouro e prata. 
Figura 9 - O papel do Estado
Fonte: autora.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E46
Para os mercantilistas a riqueza de uma nação estava associada ao montante de ouro 
e prata que ela possuía. Alguns dos primeiros mercantilistas até mesmo acredita-
vam que esses metais preciosos eram o único tipo de riqueza que valia a pena alejar. 
Todos eles valorizavam as barras de ouro e prata como maneira de atingir poder e 
riqueza. Um excesso de exportação de um país era, portanto, necessário para gerar 
pagamentos em moeda forte. Mesmo quando em guerra, as nações exportariam 
bens para o inimigo, desde que os produtos fossem pagos em ouro (BRUE, 2016).
Figura 10 - Período Mercantilista e Período Medieval
Fonte: Iori (2017, p. 65).
O mercantilismo prevaleceu até o início do século XVII, quando ocorreu uma reação 
contra os excessos de absolutismo e das regulamentações. Durante seu predomínio, 
apresentou-se como mercantilismo espanhol, também conhecido por bulionismo, 
mercantilismo inglês e o mercantilismo francês. Conforme quadro abaixo. 
Quadro 5 - Características do mercantilismo
FORMA CARACTERÍSTICA DESCRIÇÃO
mercantilismo espanhol 
(bulionismo) bulionista
Preconizava a proibição da expor-
tação de lingotes de ouro para 
incremento da riqueza.
mercantilismo inglês mercantilismo comercialista
Preconizava o balanço mercantil 
favorável, pelo incentivo às expor-
tações, por meio de contratos de 
importações com cláusula obrigan-
do o país vendedor a adquirir certos 
volumes de mercadorias inglesas.
mercantilismo francês mercantilismo industrialista
Preconiza estimular a indústria 
interna, por meio de monopólios 
estatais. 
Fonte: a autora.
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
47
O mercantilismo era umpreceito e, por consequência, ação intervencionista que 
se dava entre os Estados Soberanos. Além disso, estendia essas relações aos seus 
respectivos domínios coloniais. À essa relação de dominação político-econômica, 
entre as metrópoles e suas respectivas colônias, deu-se o nome de sistema colo-
nial. Essa organização das metrópoles européias tinha várias formas, afinal os 
espanhóis, portugueses, ingleses ou franceses exerciam seus domínios de maneira 
peculiar. De qualquer modo, o objetivo principal de política mercantilista era 
a promoção do poder do Estado. No sentido de que a colônia desempenhava o 
papel de complementar a economia metropolitana, oferecendo metais preciosos 
ou produtos que reduzissem as importações e incrementassem as exportações 
para outras nações. Em outras palavras, exploravam os metais preciosos da colô-
nia para enriquecer a metrópole, e a cidade central exercia monopólio sobre a 
colônia. 
O sistema era organizado visando transferir a maior parte do lucro co-
mercial e do excedente econômico produzido na colônia para a metró-
pole, potencializando a acumulação da burguesia mercantil e as receitas 
do Estado, que patrocinava a reprodução do sistema. O Estado e o in-
tervencionismo mercantilista constituíam-se, assim, em pressupostos 
de uma política colonialista eficaz. Entretanto, como parte da acumula-
ção proporcionada pela exploração colonial era apropriada pelo Estado 
e empregada na ampliação dos dispositivos naval, militar, burocrático 
e fiscal, o sistema contribuía para incrementar o poder e o intervencio-
nismo estatal, integrando-se plenamente aos objetivos estratégicos da 
política mercantilista (GENNARI; OLIVEIRA, 2009, p. 43).
As políticas portuguesas voltadas para o Brasil, nitidamente, caracterizam-se 
políticas mercantilistas. É bastante claro para nós, caro(a) leitor(a), que o Bra-
sil colônia foi influenciado pelo mercantilismo, o qual obrigava o comércio 
colonial exclusivamente por intermédio das metrópoles. Com a chegada de 
D. João VI ao Brasil foram eliminadas as restrições mercantilistas, permitindo 
a instalação de indústrias nativas e o comércio direto com as demais nações. 
Fonte: autora.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E48
Ao examinar a história do capitalismo, Dobb (1983) situa a fase inicial desse 
sistema no período da segunda metade do século XI e início do século XII, na 
Inglaterra. Apresenta-se, nesse momento, uma generalização do grande comércio. 
Sua penetração combinou com o crescimento da produção local, destinada ao mer-
cado com a progressiva substituição das oficinas confiadas aos servos na reserva 
senhorial, para a fabricação de objetos de uso corrente pelas oficinas urbanas. 
A sociedade medieval era predominantemente agrária. A hierarquia social 
era baseada nos laços do indivíduo com a terra e a ordem social que, na íntegra, 
era agrícola. No entanto, os aumentos da produtividade agrícola constituíram o 
rompante para um encadeamento de profundas mudanças ocorridas ao longo 
de vários séculos e que resultaram na decomposição do feudalismo medieval e 
no início do capitalismo. 
O mais importante avanço tecnológico da Idade Média foi a substitui-
ção do sistema de plantio de dois campos para o sistema de três cam-
pos. Embora haja evidência de que o sistema de três campos tenha sido 
introduzido na Europa já no oitavo século, seu uso não se generalizou 
antes do século XI. O plantio anual da mesma área esgotava a terra e 
acabava por torná-la inútil. Assim, no sistema de dois campos, metade 
da terra era sempre deixada ociosa, de modo que se recuperasse do 
plantio do ano anterior. Com o sistema de três campos, a terra arável 
era dividida em três partes iguais. [...] dessa mudança aparentemente 
simples na tecnologia agrícola resultou um dramático aumento do pro-
duto agrícola (HUNT, 1989, p. 32). 
O espaço temporal do qual estamos falando envolve melhoramentos na agricul-
tura e, por consequência, crescimento do comércio. O avanço das vilas e cidades 
conduziu ao desenvolvimento da especialização rural urbana. Outro impor-
tante elemento é a ampliação do comércio de longa distância. Iremos percorrer, 
agora, um cenário de estabelecimento de cidades industriais e comerciais para 
servir a essas transações. O crescimento dessas cidades, bem como seu crescente 
controle por capitalistas comerciantes, provocou importantes mudanças, tanto 
na agricultura quanto na indústria. Cada uma dessas áreas, particularmente a 
agricultura, teve enfraquecidos e, por fim, rompidos seus laços com a estrutura 
econômica e social feudal. Nessa trajetória do conhecimento histórico, estima-
do(a) leitor(a), a busca por aprender sobre a construção do homem e seu tempo 
está nos levando para um momento de expansão do comércio de longa distância. 
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
49
Em Hunt (1989), vemos que as indústrias que apareciam nas novas cidades 
eram basicamente indústrias de exportação, nas quais o produtor estava distante 
do comprador final. No sistema artesanal feudal, o produtor (o mestre artesão) era 
também o vendedor, eles vendiam seus produtos aos comerciantes que, por sua vez, 
os transportavam e revendiam. Outra diferença importante é a de que o artesão 
feudal, de modo geral, era também fazendeiro. O novo artesão das cidades desistiu 
da terra para se dedicar inteiramente ao trabalho com o qual ele poderia obter uma 
renda monetária que poderia ser usada para satisfazer suas outras necessidades. 
Conforme o comércio se desenvolvia e se expandia, aumentava a necessidade 
de manufaturados e mais confiança na oferta levava a um crescente controle do 
processo produtivo pelo capitalista comerciante. Aproximadamente no século 
XVI, o artesão, que era proprietário de sua oficina, de suas ferramentas e maté-
rias-primas e que funcionava como um pequeno produtor independente, teve 
seu papel modificado pelo sistema de trabalho doméstico. Nesse ponto, predo-
minavam as indústrias de exportação; em outras palavras, o trabalhador já não 
vendia um produto acabado ao comerciante, vendia somente seu próprio trabalho. 
O trabalhador já não vendia um produto acabado ao comerciante. Ven-
dia somente seu próprio trabalho. As indústrias têxteis estavam entre as 
primeiras em que o sistema de trabalho doméstico se desenvolveu. Te-
celões, fiandeiros, tintureiros se encontravam numa situação em que sua 
ocupação e, portanto, sua capacidade de sustentar a si mesmo e suas fa-
mílias, dependia dos capitalistas comerciantes, que tinham que vender 
o que os trabalhadores produziam a um preço suficientemente alto para 
pagar salários e outras contas e ainda obter lucro (HUNT, 1989, p. 10). 
Dessa forma, o controle capitalista se apresentava à medida que foi estendido ao 
processo de produção. Simultaneamente, foi criada uma força de trabalho que 
possuía pouco ou nenhum capital e nada tinha a vender, a não ser sua força de 
trabalho. Para Hunt (1989), essas duas características marcam o surgimento do 
sistema econômico do capitalismo. Desse modo, o Capitalismo não era apenas 
um sistema de produção de mercadorias, mas um sistema de acordo com o qual 
a força de trabalho transformou a si própria em uma mercadoria e se vendia e 
comprava no mercado, como qualquer outro objeto de troca. É importante res-
saltar a particularidade especial da força de trabalho: é a única mercadoria que 
cria outra mercadoria (IORI, 2014). 
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E50
Falar de “capitalismo”antigo ou medieval, porque haviam financistas 
em Roma e mercadores em Veneza, é um abuso de linguagem. Esses 
personagens jamais dominaram a produção social de sua época, asse-
gurada em Roma pelos escravos e na Idade Média pelos camponeses, 
sob diversos estatutos da servidão (VILAR, 1975, p. 40).
O capital começou a penetrar na produção em escala considerável, seja na forma 
de uma relação bem amadurecida entre capitalista e assalariados, em que pese 
uma forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos, que 
trabalhavam em seus próprios lares, seja um capitalista, próprio do assim cha-
mado “sistemas de encomendas domiciliar” (IORI, 2014). Com efeito, a crise 
geral do feudalismo, nos séculos XIV e XV, deixa que flutuem algumas ilustres 
prosperidades urbanas e algumas brilhantes fortunas mercantis, essa visão é mais 
uma aparência que uma realidade. 
É o tempo do luxo, das grandes construções e dos mecenas das artes. 
Entretanto, não é o auge produtivo. As grandes burguesias enriquecidas vivem, 
daí em diante, de rendas ou compram terras feudais, imitam os grandes senho-
res. Pode-se observar que são elas que sustentam sempre os senhores quando 
se produzem as guerras camponesas. No interior das comunidades, as lutas de 
classe se agravam e os sistemas representativos, que sempre foram oligárquicos, 
transformam-se. 
Por último, as cidades que haviam realizado as mais importantes “repú-
blicas mercantis”, as do Mediterrâneo, caem em decadência, pelo menos 
relativa, devido ao fato da conquista do Oriente pelos turcos e diante do pró-
ximo triunfo das rotas comerciais do Atlântico. Será agora em Flandres, na 
Inglaterra, em Portugal e Espanha onde aparecerão as novidades decisivas 
para a transformação do Ocidente europeu. De fato, a primeira etapa da for-
mação do capitalismo, depois da crise dos séculos XIV e XV, não poderia ser 
fundada senão por um avanço das forças produtivas: o que ocorreu entre mea-
dos do século XV e XVI. 
Foi precisamente ao longo da crise geral do feudalismo que numerosas 
invenções vieram modificar o nível das forças de produção. O uso da artilharia 
obrigou a impulsionar a produção de metal. A difusão do pensamento humano 
com a invenção da imprensa, os progressos da ciência e da navegação desem-
penharam um papel não menos importante. Observa-se que, pela primeira vez, 
O Feudalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
51
as técnicas industriais e as técnicas de comunicação ultrapassam a técnica agrí-
cola. É o começo de um processo que colocará a indústria no primeiro plano do 
progresso. Apresenta-se um impulso econômico para o momento que será inter-
rompido pela injeção de riqueza externa, oriunda da expansão marítima e colonial. 
A circunavegação da África, o descobrimento da rota das Índias por Vasco 
da Gama, o da América por Colombo e a volta ao mundo por Magalhães eleva-
ram o nível científico e ampliaram a concepção do mundo na Europa. O grande 
comércio de produtos exóticos, de escravos e de metais preciosos voltava a ser 
aberto e extraordinariamente ampliado. Uma nova era se abria para o capital 
mercantil, mais fecunda que a das repúblicas mediterrâneas da Idade Média, por-
que, dessa vez, constituía-se um mercado mundial e seu impulso afetava todo o 
sistema produtivo europeu e porque grandes Estados (e não mais simples cida-
des) iriam aproveitar para, a partir daí, constituírem-se (VILAR, 1975). 
Nesse sentido, na próxima unidade, vamos abordar a transformação que se 
deu no mundo econômico por meio desse processo possibilitado pela amplia-
ção de “mundo”. Trata-se do capitalismo na sua “infância”.
A HISTÓRIA ECONÔMICA E OS ASPECTOS DO FEUDALISMO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E52
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos séculos, a forma pela qual os homens satisfazem suas necessidades 
materiais se altera, assim como aquilo que é considerado “necessário” em cada 
época. Destarte, apresentamos, nesta primeira unidade, a relação da economia 
e história. Portanto, nosso intuito no primeiro tópico abordado é, justamente, 
demonstrar a estreita relação do estudo que tem como objeto o modo de pro-
duzir, à luz do conceito de História apresentado por Bloch (2001), que a definiu 
como ciência dos homens no tempo. 
Nessa dinâmica procuramos, também, expor que a História Econômica 
é uma área de pesquisa relativamente recente e que emergiu como disciplina 
acadêmica a partir do fim do século XIX. No universo da História Econômica, 
fomos apresentados aos fundamentos teóricos da Escola dos Annales, a concep-
ção de história em Marx, a New Economy History, o papel de Douglas North, a 
Economia Institucional e a História Quantitativa.
A Economia na Antiguidade foi um ponto muito relevante de conhecer e 
perceber a importância dos egípcios e hebreus para a sociedade atual. E apren-
demos como eles viviam, produziam e distribuiam os frutos de suas atividades 
produtivas. Em destaque, há a importância dos rios que eram motivo de ferti-
lidade do solo, resultando em boa produção que, por assim dizer, resultava em 
aglomerado de pessoas em busca da satisfação de suas necessidades materiais.
A sociedade feudal tem extrema importância enquanto explicativa para o 
que viria a ser o capitalismo. Conhecemos que o feudo incluía uma espécie de 
concessão, por parte do rei, aos cavaleiros, uma parte de terras para ter seu sus-
tento e assim poder se dedicar à guerra.
 A partir do século XIV, avanços nos meios de navegação permitiram ultra-
passar o estreito de Gibraltar, de modo que o comércio intraeuropeu, antes apenas 
terrestre, deslocou-se em parte para o Atlântico. Como efeito, houve estímulo para 
o desenvolvimento de centros comerciais. O mundo estava sendo descoberto!
53 
1. A economia da forma como a conhecemos carrega consigo “os problemas” e 
“erros do passado”, agora corrigidos, como afirmou Blaug (1985) no prefácio do 
seu livro Economic theory in retrospect. Nesse sentido, discorra sobre a rela-
ção da Economia com a História. 
2. “Possa ele tornar os campos produtivos como o cultivador. Possa ele multipli-
car os rebanhos como um pastor de confiança. Sob seu reinado, que haja plan-
tas e grãos. Que, no rio, haja água de sobra. Que no campo possa haver uma 
segunda colheita” (REZENDE, 2010, p. 12). Oração mesopotâmica do IIIº milênio 
a.C., para celebrar o ritual da união do rei com a deusa da Terra.
Com relação aos primeiros sistemas econômicos, avalie as afirmativas a 
seguir: 
I. A área da Mesopotâmia e do Egito é, dentro do contexto histórico, denomi-
nada de Crescente Fértil.
II. As civilizações hidráulicas representam um papel importante por caracteri-
zarem uma área produtiva por conta dos rios.
III. Os bancos fizeram parte da vida econômica da Mesopotâmia, caracterizan-
do uma economia bastante monetarizada.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas na afirmativa II.
b) Apenas na afirmativa III.
c) Apenas nas afirmativas I e II.
d) Apenas nas afirmativas I e III.
e) I, II e III.
54 
3. Sob qualquer prisma que se olhe, a história de Roma reflete um percurso único: 
“de pequena cidade-Estado de uma confederação de povos afins (latinos), em 
poucos séculos ela se toma capital de um Império que se estende por toda 
costa do mar Mediterrâneo” (REZENDE FILHO, 2010, p. 33).
Nesse sentido, o sistema econômico presente no Império Romano tinha 
por características: 
a) o modo servil como forma de trabalho;
b) o modo assalariado como forma de trabalho;
c) a monetarização como padrão de troca;
d) o escambo como padrão de troca;
e) a indústria como unidade produtiva.
4. É usual colocar como sinônimos ouso de “medieval” e de feudal”. No entanto, 
esses termos apresentam uma diferença importante. Apresente-a.
5. A crise do século XIV marca o início de um enfraquecimento relativo da classe 
feudal. Apresente os três principais motivos para a crise feudal.
55 
A História e a Ciência Econômica surgiram antes da História Econômica, considerando 
esta, propriamente, uma área de pesquisa e disciplina de cursos universitários. O Pai da 
Economia Política foi Adam Smith, que, em 1776 publicou A Riqueza das Nações. Te-
mos nessa dimensão temporal o marco da Economia com o status de ciência. No Século 
XIX, uma vasta produção de estudos da então chamada Economia Política consolidou-a 
como uma disciplina socialmente reconhecida: Thomas Malthus, David Ricardo, Jean 
Baptiste Say, John Stuart Mill são alguns dos chamados economistas clássicos aos quais 
se agrega, em vertente distinta, crítica, Karl Marx.
A revolução marginalista trouxe, a partir de 1870, uma mudança substancial no pensa-
mento econômico dominante: o foco da análise econômica (podemos destacar aqui o 
uso do método abstrato e dedutivo, de modo que rejeitavam o método histórico. Trata-
remos com mais detalhes adiante). Foi tão representativa a transformação que deu-se a 
troca do nome da disciplina de Economia Política para Economia: o austríaco Karl Men-
ger, o suíço Leon Walras e o inglês Stanley Jevons foram pioneiros dessa nova corrente, 
que se consolidou como principal paradigma da teoria econômica (e que, ao menos em 
parte, se mantém até hoje).
Já a História tem um longo passado: há, desde a Antiguidade, registros que narram 
eventos relevantes (como guerras, feitos de seus reis e sacerdotes etc). Desde então, a 
História foi objeto dos escritos de cronistas (que narravam fatos, em geral a mando de 
seus superiores), de filósofos (que buscavam algum “sentido” na História), mas também 
de escritores que se aproximavam do trabalho que seria, mais tarde, típico do historia-
dor (ou seja, com base em documentos). No século XIX, houve significativas mudanças 
que definiram de modo mais preciso o ofício de historiador. Por um lado, técnicas de 
pesquisa aprimoradas permitiram a crítica rigorosa das fontes fornecendo base empí-
rica mais sólida para os estudos históricos; por outro, o foco dos historiadores se tor-
nou, por influência do positivismo e do historicismo, o relato ou a narração cronológica 
dos fatos históricos, em que predominava a história política e diplomática centrada nos 
“grandes homens” da época. Entendida como o estudo do passado, a história não pode-
ria aspirar à condição de ciência. O objeto da História era constituído pelos fatos preté-
ritos: estes eram únicos, singulares, não passíveis de repetição e experimentação. Assim, 
os fatos históricos não atendiam às condições necessárias para que se pudesse formular 
uma explicação científica. Desse modo, ao historiador cabia apenas relatar os fatos em 
sua ordem cronológica, de modo que a “explicação” possível na História era dada pela 
simples sequência desses fatos no tempo (como se, no encadeamento deles, o anterior 
fosse suficiente para “explicar” o seguinte).
Fonte: adaptado de Brue (2016).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Linhagens do Estado Absolutista
Perry Anderson 
Editora: Unesp
Sinopse: Essa obra traça o desenvolvimento dos Estados absolutistas no início 
do período moderno a partir de suas raízes no feudalismo europeu, avaliando 
suas diversas trajetórias. Ao abarcar uma variada gama de exemplos e cenários, 
Perry Anderson coloca o desenvolvimento dos Estados europeus no cerne 
das discussões sobre uma história universal, dando novo fôlego ao estudo 
das monarquias absolutistas e do modo de produção que gestou o sistema 
capitalista.
Cruzada
Ano: 2005
Sinopse: Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto 
pela morte de sua esposa e fi lho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam 
Neeson), seu pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém 
e dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar 
também à esta meta, mas após a morte de Godfrey ele herda terras e um 
título de nobreza em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento, Balian 
decide permanecer no local e servir a um rei amaldiçoado como cavaleiro. 
Paralelamente ele se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã do rei.
REFERÊNCIAS
57
ANDERSON, P. Linhagens do Estado Absolutista. 1. ed. São Paulo: Unesp, 2016.
______. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 
1991.
BEAUD, M. História do Capitalismo de 1500 até nossos dias. São Paulo: Brasilien-
se, 1987.
BIRARDI, A.; CASTELANI, G. R.; BELATTO, L. F. B. O Positivismo, Os Annales e a Nova 
História. Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html>. 
Acesso em: 6 mar. 2018.
BLAUG, M. Economic theory in retrospect. 4. ed. Londres: Cambridge University 
Press, 1985.
BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 
2001.
BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
DOBB, M. H. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
DOSSE, François. A História em migalhas: dos Annales à Nova História. Bauru: 
EDUSC, 2003.
ELIAS, N. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
GALBRAITH, J. A. O pensamento econômico em perspectiva. São Paulo: Universi-
dade de Brasília, 1989.
GANSHOF, F. L. Que é feudalismo? Lisboa: Publicações Europa-América, 1968.
GENNARI, A. M.; OLIVEIRA, R. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Sarai-
va, 2009. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1281153/mod_
resource/content/1/Hist%C3%B3ria%20do%20Pensamento%20Econ%C3%B4mi-
co.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2018.
HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade. 7 ed. Porto Alegre: L&PM, 
2015.
HOBSBAWM, E. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. 22. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
HUNT, E. História do Pensamento Econômico. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
IORI, C. F. A. G. História do Pensamento Econômico. Maringá-Pr.: Unicesumar, 2017.
______. O sentido oculto do valor do trabalho e sua implicação no setor bancá-
rio: um estudo de caso para a cidade de Maringá-Pr e sua região metropolitana em 
2000 a 2010. 2014. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agrone-
gócio) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná Toledo, Paraná. Disponível em: 
<http://tede.unioeste.br/handle/tede/2187>. Acesso em: 7 mar. 2018.
REFERÊNCIAS
LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.
PRIORI, A.; MARTIN, A. M. Marx e a história. In: PRIORI, A. Introdução aos estudos 
históricos. Maringá-Pr: Eduem, 2010.
RÉMOND, R. (Org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/Funda-
ção Getúlio Vargas, 1996.
REZENDE FILHO, C. B. História Econômica Geral. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
RODRIGUES, G. Teorias da História. Maringá-Pr: UniCesumar, 2016.
SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História econômica geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
SCHUMPETER, J. Fundamentos do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Zahar, 
1968.
SWEEZY, P.; DOBB, M.; TAKAHASHI, K.; HILTON, R.; HILL, C.; LEFEBVRE, G.; PROCACCI, 
G.; HOBSBAWM, E.; MERRINGTON, J. A transição do Feudalismo para o Capitalis-
mo – Um debate. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. Disponível em: <http://ed-
mundomonte.com.br/wp-content/uploads/2015/02/A-Transi%C3%A7%C3%A3o-
-do-Feudalismo-para-o-Capitalismo-Maurice-Dobby.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2018.
VILAR, P. A transição do capitalismo ao feudalismo. In: SANTIAGO, T. (Org.) Capitalis-
mo: Transição. São Paulo: Mora, 1975.
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹Em: <http://www.medievista.it/2014/06/04/les-annales/>. Acesso em: 6 mar. 2018.
²Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pieter_Bruegel_the_Elder-_The_Triumph_of_Death_-_detail_1.JPG>. Acesso em: 7 mar. 2018.
GABARITO
59
GABARITO
1. A história é, na abordagem apresentada, a “ciência dos homens no tempo”, e a 
economia tem como objeto de trabalho a satisfação das necessidades materiais 
do homem. Dessa forma, uma ciência encontra na outra a busca de apresentar, 
descrever, “os esforços que o homem faz ao longo dos séculos para satisfazer 
suas necessidades materiais”. 
2. Alternativa e.
3. Alternativa c.
4. A Idade Média foi assim denominada por ser o período intermediário entre a 
Antiguidade (associada às civilizações clássicas de Grécia e de Roma) e a Época 
Moderna (cujas origens remontam às Grandes Navegações, às Descobertas, ao 
Renascimento). O feudalismo se situa, temporalmente, dentro da Idade Média, 
mas as características que envolvem o feudal apontam na direção de fenômenos 
políticos, econômicos, sociais, jurídicos e culturais.
5. Crise Agrária, Crise demográfica e Crise monetária.
U
N
ID
A
D
E II
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
O CAPITALISMO E A 
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
(1760-1870)
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apreender aspectos gerais do processo de formação do capitalismo.
 ■ Compreender o conceito de Revolução Industrial.
 ■ Refletir os impactos da Revolução Industrial.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
 ■ A Revolução Industrial
 ■ A Revolução Industrial e sua Amplitude
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
63
INTRODUÇÃO
Definir capitalismo, caro(a) aluno(a), é uma ousadia diante de tão ampla circu-
lação na fala popular e na literatura clássica. Tanto é que, antes de apresentar, 
como caráter introdutório do nosso trabalho, devo dizer que não chegamos a 
tal definição propriamente. Contudo, buscamos demonstrar que o capitalismo 
recebeu reconhecimento autorizado como categoria histórica.
Nosso entender contempla, portanto, uma abordagem de capitalismo de 
acordo com seu desenvolvimento histórico. A busca pela essência do capitalismo, 
nessa perspectiva, é o modo de produção. Não no sentido de espírito empresa-
rial, nem no uso da moeda para financiar uma série de trocas com o objetivo de 
ganho. Por modo de produção, entendemos não apenas no sentido da técnica, 
mas podemos compreender, também, a relação entre a propriedade dos meios 
produtivos e as interações sociais entre os homens, que resultavam de suas liga-
ções com o processo de produção.
É com o autor Pierre Vilar (1975) , Maurice Dobb (1980) e, de forma modesta, 
o trabalho de Iori (2014) que vamos pautar nossa reflexão no que tange à acumu-
lação primitiva. Essa dinâmica está intrinsecamente relacionada com a própria 
capacidade de trabalho que se tornara uma mercadoria, como Marx denominou, 
em sua obra O Capital, e era comprada e vendida no mercado como qualquer 
outro objeto de troca. 
Na carreira do capitalismo, apresenta-se um segundo momento: o da 
Revolução Industrial no final do século XVIII e a primeira metade do século 
XIX, cuja importância foi essencialmente econômica, com reflexo na esfera polí-
tica. Ela se mostrou tão decisiva para todo o futuro da economia capitalista e tão 
radical como estrutura e organização da indústria que Dobb (1980, p. 28) chega a 
relacionar como “as dores de parto do capitalismo moderno” e como “momento 
mais decisivo no desenvolvimento econômico e social desde a Idade Média”.
Bons estudos!
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E64
O DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO CAPITALISTA 
DE PRODUÇÃO
Para tratar da grande revolução que modificou a história do mundo, a Revolução 
Industrial (século XIX), é preciso, antes de mais nada, apreender o modo capita-
lista de produzir como um sistema caracterizado pelo processo da concentração 
dos meios de produção. Antes de caracterizarmos o momento histórico transfor-
mador da sociedade moderna, vamos tratar de modo breve das características da 
organização econômica da sociedade dentro dessa dimensão temporal.
A FORMAÇÃO DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
Em Iori (2014) encontramos a busca pela definição do termo “capitalismo”. Vimos 
que este possui ampla circulação na linguagem (escrita e falada) popular e na obra 
histórica dos últimos tempos. Para o presente estudo, o significado, inicialmente 
conferido por Karl Marx, estrutura a essência do capitalismo em um determinado 
modo de produção. Em relação ao modo de produção, ele não se referia apenas 
ao estado da técnica – o que chamou de forças produtivas –, mas ao modo pelo 
qual os meios de produção eram possuídos e às relações sociais entre os homens 
resultantes de suas ligações com o processo de produção, conforme explicita Dobb 
(1980). Desse modo, o Capitalismo não era apenas um sistema de produção de 
mercadorias, mas um sistema de acordo com o qual a força de trabalho trans-
forma si própria em uma mercadoria e se vendia e comprava no mercado, como 
qualquer outro objeto de troca. É importante ressaltar a particularidade especial 
da força de trabalho: é a única mercadoria que cria outra mercadoria.
O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
65
Ernest Mandel (1982, p. 14) afirma que o modo de produção capitalista não 
se desenvolveu 
em meio a um vácuo, mas no âmbito de uma estrutura sócio-econômi-
ca específica, caracterizada por diferenças de grande importância,por 
exemplo, na Europa ocidental, Europa oriental, Ásia continental, Amé-
rica do Norte, América Latina e Japão. As formações sócio-econômica 
específicas - as “sociedades burguesas” e economias capitalistas - que 
surgiram nessas diferentes áreas no decorrer dos séculos XVII, XIX e 
XX [como veremos adiante] e que em sua unidade complexa (junta-
mente com as sociedades da África e da Oceania) abrangem o capi-
talismo ‘concreto’, reproduzem em formas e proporções variáveis uma 
combinação de modos de produção passados e presentes, ou, mais pre-
cisamente, de estágios variáveis, passados e sucessivos, do atual modo 
de produção. O sistema mundial capitalista é, em grau considerável, 
precisamente uma função da validade universal da lei de desenvolvi-
mento desigual e combinado.
Caro(a) aluno(a), um requisito histórico era a concentração da propriedade dos 
meios de produção em mãos de uma classe, consistindo em apenas uma parte 
pequena da sociedade e o aparecimento consequente de uma classe destituída 
de propriedade, para a qual a venda de sua força de trabalho era a única fonte 
de subsistência – conforme vimos na Unidade I. 
Mandel (1982, p. 29) descreve que “o movimento efetivo do capital 
manifestamente começa a partir de relações não capitalistas (feudalismo) e 
prossegue dentro do quadro de referência de uma troca constante, explora-
dora, metabólica, com esse meio não capitalista”. A atividade produtiva era 
por isso suprida por ela, não em virtude de compulsão ou obrigação legal, 
mas na base de um contrato salarial. Torna-se claro que tal definição exclui 
o sistema de produção artesanal independente, no qual o artesão possuía 
seus próprios e modestos implementos de produção e empreendia a venda 
de seus próprios artigos. 
O papel da propriedade é fundamental nessa relação, pois, para Dobb 
(1980), o capital, para ser configurado nos moldes capitalistas, tem de ser 
necessariamente usado na sujeiçãoda força de trabalho à criação da mais-va-
lia na produção. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E66
O sistema capitalista, não se basta a partir da questão de classes (burguesia e 
proletariado), ou seja, o que diferencia o uso dessa definição quanto às demais 
é que a existência do comércio e do empréstimo de dinheiro, bem como a pre-
sença de uma classe especializada de comerciantes ou financistas, ainda que 
fossem homens de posses, não bastava para constituir uma sociedade capitalista. 
Os homens de capital, por mais aquisitivos, não bastam. É fundamental apreen-
der que o capital tem de ser usado na sujeição da força de trabalho à criação da 
mais-valia na produção (DOBB, 1980).
Cada período histórico é modelado sob a influência preponderante de uma 
forma econômica única, mais ou menos homogênea, e deve ser caracterizado de 
acordo com a natureza desse tipo predominante de relação socioeconômica. Ao 
buscar a definição de um sistema econômico, Iori (2014) percebe, portanto, que 
cada etapa apresenta uma característica nas situações históricas que,
simultaneamente, propicia a homogeneidade de configuração a qual-
quer tempo dado, e torna os períodos de transição, quando existe um 
equilíbrio de elementos discretos, inerentemente instáveis. Isto, pois, a 
sociedade se acha constituída de maneira que o conflito e interação de 
seus elementos principais, ao invés do crescimento simples de algum 
único elemento, formam o fator principal de movimento e mudança, 
pelo menos no que diz respeito às transformações principais. Se esse 
for o caso, uma vez que o desenvolvimento tenha atingido certo nível e 
os diversos elementos que constituem aquela sociedade estejam dispos-
tos, de certo modo, os acontecimentos deverão marchar com rapidez 
incomum, não apenas no sentido de crescimento quantitativo, mas no 
de uma alteração de equilíbrio dos elementos constituintes, resultando 
no aparecimento de composições novas e alterações ou mudanças mais 
ou menos abruptas na tessitura da sociedade. É como se em certos ní-
veis de desenvolvimento, fosse acionado algo como reação em cadeia 
(IORI, 2014, p. 20).
A força de trabalho, produzindo um valor maior do que ela vale, isto é, uma 
mais-valia, gerou o capital.
Fonte: autora.
O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
67
A transformação da forma medieval de exploração do trabalho excedente para a 
moderna não foi um processo simples que pode ser apresentado como uma tabela 
genealógica de descendência direta. No entanto, ainda assim, entre os redemoi-
nhos desse movimento, podemos distinguir certas linhas de direção do fluxo. 
Tais linhas incluem não apenas modificações na técnica e o aparecimento de 
novos instrumentos de produção, que aumentaram grandemente a produtivi-
dade do trabalho (como conheceremos adiante), mas uma crescente divisão do 
trabalho e, por consequência, o desenvolvimento das trocas, bem como uma 
crescente separação do produtor quanto à terra e aos meios de produção e 
seu aparecimento como um proletário. 
Dessas tendências orientadoras na história dos cinco séculos passados, Dobb 
(1980) assevera que uma importância especial se prende à última, não só porque 
foi tradicionalmente atenuada e decentemente encoberta por fórmulas acerca da 
passagem de status para contrato, mas porque, no centro do palco histórico, trouxe 
consigo uma forma de compulsão ao trabalho para outrem, que se mostra pura-
mente econômica e “objetiva”, lançando, assim, uma base para aquela forma peculiar 
e mistificadora pela qual uma classe ociosa pode explorar o trabalho excedente 
dos outros e que é a essência do sistema moderno, o qual chamamos capitalismo. 
A acumulação primitiva
Ao examinar a história do capitalismo, encontramos que a fase inicial desse sis-
tema dá-se na Inglaterra, no período da segunda metade do século XI e início do 
século XII. Por uma série de fatores, foi nesse país que a pequena propriedade e 
o gozo dos direitos contribuíram para desenvolver, a partir do século XIV, uma 
classe rural precocemente comprometida na produção artesanal e na comercia-
lização dos produtos. Por essa mesma razão, a diferenciação entre aldeões ricos 
e pobres e o incentivo de grandes lucros conseguidos sobre os campos de pasta-
gem, devido à extensão da indústria de lã, trouxeram, como consequência, uma 
expulsão em massa dos pequenos agricultores durante os séculos XV e XVI e 
uma apropriação sistemática de suas parcelas, concomitantemente a das terras 
comunais (área do feudo de uso coletivo, como por exemplo, os bosques, flores-
tas e pastos) pelos grandes proprietários. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E68
A legislação foi impotente contra esse movimento de apropriação. Além disso, 
a lei acabou voltando suas armas contra pobres, desocupados e vagabundos – 
formas como a lei enxergava, na época, as pessoas menos favorecidas – que a lei 
acabou voltando suas armas. A primeira “lei dos pobres”, no reinado de Rainha 
Elizabeth I, preparou, sob o pretexto de ajuda obrigatória, essas futuras “casas de 
trabalho”, nas quais o pobre “que não tinha onde cair morto” seria colocado à dis-
posição do produtor industrial (VILAR, 1975). Expropriação e proletarização são 
os dois termos da “acumulação primitiva” no estado puro, a perfeita separação, 
mediante a violência legalizada, do produtor com seus meios de produção. Por 
isso, Marx (1985) elegeu o exemplo inglês dos séculos XV e XVI como símbolo. 
É no século XVIII que o processo é concluído e somente na Inglaterra se apresenta 
de uma maneira radical. Vilar (1975) descreve que a colonização europeia, em 
escala mundial, determina outro aspecto da acumulação primitiva. Ela se realiza 
por mecanismos bastante variados, a saber: os saques – delicadas joias arrebatadas 
dos índios das ilhas, imensos tesouros dos príncipes mexicanos e incas; tudo foi 
diretamente transferido para a Europa. É correto que os “conquistadores” espa-
nhóis e o imperador Carlos V dedicaram, essencialmente, esses primeiros lucros às 
suas empresas militares ou suntuárias, mas o ouro passou às mãos dos mercado-
res e dos banqueiros que se converteram nos intermediários da aventura colonial. 
É imaginável, conforme Dobb (1980), que uma economia não pode ser base-
ada, durante muito tempo, no simples e puro saque, tampouco deve-se crer 
que se tratou de um breve episódio. Os holandeses, que difundiram uma ver-
são das crueldades espanholas na América, não foram menos cruéis nas ilhas 
do Extremo Oriente, as quais ocuparam no século XVII. Os ingleses na Índia 
(século XVIII) também usaram desse esquema pérfido. Além do que, desde o 
tempo da Rainha Elizabeth I, uma das grandes fontes de enriquecimento da 
corte real inglesa foi a pirataria, a pilhagem direta dos carregamentos espanhóis. 
A essa economia de pilhagem, a colonização acrescentou uma exploração con-
tínua e sistemática. Historiadores constataram, na Europa do século XVI, uma 
chegada em massa de ouro e de prata, o que desencadeou uma “revolução nos pre-
ços”. O preço dos produtos europeus subiu, e Dobb (1980) estima que o aumento 
foi na proporção de 1 para 4. Como os salários sobem muito menos, produz-se 
uma “inflação de lucros”, isto é, o primeiro grande episódio de criação capitalista. 
O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
69
No século XVI a quantidade de ouro e prata em circulação na Europa 
aumentou por consequência do descobrimento das minas americanas, 
mas ricas e fáceis de explorar. O resultado foi que o valor do ouro e da 
prata diminui em relação ao de outros artigos de consumo. Continu-
ava-se a pagar aos trabalhadores os mesmos salários por sua força de 
trabalho. Seu salário-dinheiro manteve-se estável, mas seu salário di-
minuiu, porque em troca da mesma quantidade de dinheiro recebiam 
uma quantidade menor de bens. Este foi um dos fatores que favore-
ceu o crescimento do capital e o Ascenso da burguesia no século XVI 
(DOBB, 1980, p. 80).
Esse contexto representa apenas um dos fatores que favoreceu o avanço produ-
tivo no século XVI. Sob a perspectiva marxista, a quase totalidade da produção 
não é obtida sob o regime de assalariamento (a economia é feudal ou artesanal). 
É a alta dos preços que vai favorecer a instalação do assalariamento (fase prepa-
ratória do capitalismo, na acumulação “primitiva”).
Outra consideração é que o lucro capitalista é apenas facilitado, não 
é medido pela distância que se estabelece entre preços e salários; de-
pende, com efeito, do tempo de trabalho incorporado numa determi-
nada mercadoria, comparado com o tempo de trabalho incorporado 
no salário do trabalhador que o produziu, mas esse tempo de traba-
lho depende de condições muito complexas (intensidade, organização, 
aparelhagem técnica) e não somente de variações monetárias; por úl-
timo, os preços europeus não sobem no século XVI porque o ouro e a 
prata são “mais abundantes”, sobem porque o preço de custo do ouro e 
da prata diminuem; portanto, os lucros são extraídos mais do trabalho 
dos mineiros americanos que da exploração crescente dos trabalhado-
res europeus (IORI, 2014, p. 24).
Vilar (1975) descreve que o trabalho na América, em suas diferentes formas 
(escravismo, encomienda, metas, compromisso entre esse trabalho forçado e um 
salário), foi extenuante; os índios das ilhas (São Domingos, Cuba) pereceram 
em massa; a população do México, por sua vez, também caiu; por isso, a partir 
de 1600, o preço de custo do metal precioso aumentou e, portanto, o preço das 
demais mercadorias começou a baixar na Europa. Os lucros eram, então, obti-
dos com menor facilidade e, no século XVII, a acumulação primitiva de capital 
foi menos intensa que no século XVI e voltou a subir no século XVIII, quando o 
ascenso demográfico e a exploração colonial reorganizada permitiram novamente 
que fossem diminuídos os preços de custo da extração mineira (ouro do Brasil, 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E70
minas mexicanas). Desse modo, vemos que a intensidade da acumulação mone-
tária na Europa, condição para a instalação do capitalismo, dependeu do grau de 
exploração do trabalhador americano. Isso não vale somente para as minas. O 
ouro e a prata são mercadorias. O açúcar, o cacau, o café, as madeiras tintoriais 
podem provocar fenômenos análogos. 
A acumulação primitiva do capital europeu dependeu tanto do escravo 
cubano quanto do mineiro dos Andes. Nesse sentido, “O escravismo velado 
dos assalariados europeus, não podia instalar-se senão sobre o escravismo 
sem disfarce dos trabalhadores do Novo Mundo” (MARX, 1985, p. 91). Diante 
desse panorama, contextualiza-se o capital usurário e o capital mercantil em 
que a acumulação monetária é obtida, a princípio por meio do empréstimo 
usuário para o consumo: no nível mais baixo, em cada aldeia, o homem que 
tem disponibilidades monetárias pode emprestar, com juros muito elevados, 
ao camponês, que não tem do que viver, o necessário para comprar a semente 
ou uma ferramenta, ou para pagar o imposto; no nível mais alto, os grandes 
mercadores ou banqueiros emprestam aos grandes senhores ou aos príncipes; 
é mais perigoso, uma vez que pode haver falências, confiscos, mas, ao mesmo 
tempo, é remunerador. 
Apresenta-se um aspecto dialético da relação do capital usurário e mercan-
til: a acumulação primitiva de capital engendra sua própria destruição. Em uma 
primeira fase, a alta dos preços, o aumento dos impostos reais e os empréstimos 
grandiosos estimulam os usurários, mas, no final, em graus diferentes, segundo 
países diversos, as taxas médias de juros e dos lucros tendem a se igualar e a 
diminuir. Então, é necessário que o capital acumulado busque outro meio de se 
reproduzir. É preciso que os homens de dinheiro – que haviam se mantido relati-
vamente à margem da sociedade feudal – invadam todo o corpo social e tomem 
o controle da produção (IORI, 2014).
É no curso do século XVII, menos favorável aos lucros extraídos das colô-
nias, que os mercadores, aproveitando as dificuldades do artesanato corporativo 
e o excesso de mão de obra existente no campo, põem-se a distribuir primeiro a 
matéria-prima e, logo após, instrumentos de produção (matérias têxteis), tanto 
em domicílio entre os camponeses quanto às grandes oficinas (em geral privi-
legiadas pelo Estado). 
O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
71
Dobb (1980) considera a época da “manufatura” uma importante etapa em 
direção ao capitalismo e a classifica em três dimensões, a saber, primeiramente, 
porque realiza, na indústria, a separação entre produtor e meio de produção; 
concorre a duras penas com o artesanato corporativo; por último, organiza a 
divisão do trabalho, que aumenta de modo considerável a produtividade do tra-
balho individual. 
O domínio do capital mercantil corresponde, na Europa Ocidental, a uma 
nova estrutura do Estado. Às vezes, como na França, esse Estado favorece dire-
tamente à manufatura. Os impostos, cuja importância aumenta, são cobrados 
geralmente mediante o sistema de fermes, ou seja, por companhias de financistas 
privados, que guardam para si grande parte dessas cobranças feitas a partir do 
produto nacional, trata-se de uma importante fonte de acumulação monetária. 
A organização do crédito e o aparecimento dos primeiros bancos estatais fazem 
baixar as taxas de juros usurários e, em contrapartida, mobilizam o dinheiro dos 
“capitalistas” nas mãos de grupos restritos e poderosos. Por último, o Estado pro-
tege a produção nacional por intermédio das aduanas e da marinha nacional, 
pelos “atos de navegação” – que lhe reservam os transportes.
A finalidade de todas essas medidas, mencionadas anteriormente, é bastante 
consciente. É expressa amiúde pelos economistas “mercantilistas”, que repre-
sentavam, como mostrou perfeitamente Marx, a forma primitiva e ingênua do 
capitalismo: a finalidade de qualquer atividade é “fazer dinheiro”, a nação é rica 
se tem um saldo positivo de metais preciosos; pouco importa como é distribu-
ído esse saldo, confundem “lucro nacional” e lucro dos comerciantes – que, por 
sua vez, se confundem com os industriais. O país mais característico dessa fase 
é a Inglaterra do final do século XVII. A evolução que sofreu desde o século XV 
(concentração da propriedade agrária, proletarização da mão de obra, atividade 
marítima e colonial) permitiu-lhe superar definitivamente os países dos pri-
meiros descobrimentos (Espanha e Portugal, paralisados pelo excessivo afluxo 
de dinheiro e o parasitismo das rendas) e evoluir mais depressa que a Holanda 
(privada de recursos industriais) e a França (onde a estrutura agrária resistiu 
ao movimento de concentração das propriedades e de “cercamento” das terras 
comunais). 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E72
Foi também na Inglaterra que apareceram, no curso do século XVIII, as novi-
dades que caracterizam de forma decisiva a nova era: a era capitalista. A partir 
do aparecimento do maquinismo, por volta de 1730, e, sobretudo, a partir de 
1760, ocorre uma série de invenções que irão substituir a 
[...] “manufatura” pela “maquinofatura”, ou seja, que permitirão por sua 
vez multiplicar a produtividade do trabalho humano, reduzir este mes-
mo trabalho a um mecanismo cada vez mais abstrato, cada vez menos 
unido ao objeto produtivo (de forma contrária ao trabalho artesanal), 
e, por último, utilizar uma mão de obra de força reduzida: é a mobili-
zação maciça do trabalho de mulheres e crianças. Estas invenções são 
as que concernem à metalurgia (fundição do carvão) e, por último, à 
máquina a vapor. Este avanço das forças produtivas é necessário para 
subverter as estruturas econômicas e sociais. Daí em diante, a produ-
ção industrial em massa será a fonte essencial do capital, pela distância 
estabelecida entre o valor produzido pelo operário e o valor que lhe é 
restituído sob a forma de salário por aqueles que dispõem dos novos 
meios de produção (máquinas, fábricas). A era da “acumulação primi-
tiva” terminou. Tudo irá tornar-se “mercadoria” e as relações sociais se 
estabelecerão exclusivamente em termos de dinheiro. Já não há mais 
‘feudalismo’ (VILAR, 1975, p. 47-48).
As etapas finais da transformação desse período, portanto, abrangem o controle 
do capital mercantil sobre a produção industrial, o papel dos primeiros Estados 
nacionais e a acumulação primitiva e, por último, o novo avanço das forças de 
produção: produção industrial em massa e “nova agricultura” no século XVIII. 
A exploração cada vez mais acentuada do trabalho humano é sua consequência 
e seu preço. Por um lado, o século XVIII é um século de alta geral dos preços, e 
já falamos da fonte colonial desse fenômeno; por outro lado, é, ainda, o século 
das grandes fortunas edificadas sobre o ouro do Brasil, da prata mexicana, do 
açúcar e do rum das ilhas, do algodão da América e da Índia, tudo isso extra-
ído do trabalho dos povos colonizados. Na Europa, a alta dos preços tem como 
consequência uma diminuição do salário individual diário real, do qual o capi-
tal tira proveito.
Iori (2014) constata, contudo, que o século XVIII, especialmente nos paí-
ses mais avançados, como a Inglaterra, vê desaparecer se não a carestia e a falta 
de pão, pelo menos as fomes mortais. Como se explica isso? Deve-se em pri-
meiro lugar, ao fato de que os operários trabalharam mais (mais dias ao ano) 
O Desenvolvimento do Processo Capitalista de Produção
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
73
e as mulheres e crianças foram postas a trabalhar também. O salário familiar 
aumenta até o mínimo de subsistência, mas por uma quantidade de trabalho 
extraordinariamente maior. 
A revolução agrícola e a liberdade do comércio de grão permitiram que fosse 
alimentado um maior número de homens e com maior regularidade. Nos países 
mais adiantados, era suprimido o pousio (descanso destinado à terra cultivada, 
interrompendo uma cultura até outra) e eram plantadas mais leguminosas e tubér-
culos. Isso fez com que diminuísse os antigos lucros da especulação, quando se 
tirava proveito das crises de alimentação. O capital mercantil de tipo antigo se 
ressente, mas o capital industrial cada vez que pode diminuir o conteúdo-valor 
da alimentação mínima do operário, assegura um lucro sempre maior. 
Caro(a) aluno(a), daí em diante, o capitalismo industrial, que nesse caso 
merece simplesmente o nome de capitalismo, substitui as modalidades primitivas 
de formação do capital. Contudo, ainda nos países avançados, como a Inglaterra, 
a agricultura, nas mãos dos capitalistas, adapta-se à produção em massa para a 
venda, ou seja, ao capitalismo. 
Somente no século XIX, o capitalismo industrial se propagará tal 
como havia nascido na Inglaterra a partir de 1760. Resta considerar 
que um regime social não está constituído, exclusivamente, por seus 
fundamentos econômicos. A cada modo de produção corresponde, 
não somente um sistema de relações de produção, como também um 
sistema de direito, de instituições e de formas de pensamento. Um re-
gime social em decadência serve-se precisamente desse direito, dessas 
instituições e desses pensamentos já adquiridos, para opor-se com to-
das as suas forças às inovações que ameaçam sua existência. Isso pro-
voca a luta das novas classes, das classes ascendentes, contra as classes 
dirigentes que ainda acham-se no poder e, determina o caráter revo-
lucionário da ação e do pensamento que animam essas lutas (IORI, 
2014, p. 28).
O regime feudal, conforme Vilar (1975), não morreu sem se defender. E o ata-
que que ele sofreu não começou somente com as formas mais desenvolvidas 
dos novos modos de produção. Essas formas, com efeito, só puderam triunfar 
quando já tinham se liberado dos inconvenientes, dos entraves que as institui-
ções de tipo feudal necessariamente opunham, isto é, a história das revoluções 
burguesas. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E74
É muito importante se atentar, caro(a) aluno(a), para a relevância do século 
XVI para a História Européia. Esse espaço cronológico representa a tênue linha 
divisória entre a ordem feudal decadente e o sistema capitalista que surgia.
Já sabemos que tratar de História Econômica Geral é fazer uma releitura da 
humanidade sobre a perspectiva de como a sociedade se organizou para satisfazer 
suas necessidades materiais. Nesse sentido, é interessante pensar que a histó-
ria apresenta três importantes revoluções. Harari (2015) apresenta a Revolução 
Cognitiva como marco do processo histórico, há cerca de 70 mil anos; a Revolução 
Agrícola por volta de 12 mil anos atrás; a Revolução Científica, que começou há 
apenas 500 anos. A última, à medida em que propiciou a contestação de “ver-
dades”, abriu espaço para outra transformação econômica-social: a Revolução 
Industrial. Com o fim do feudalismo e o processo transitório do mercantilismo, o 
modo de produção capitalista em ascendência passa a revelar, claramente, carac-
terísticas sócioeconômicas intrínsecas na Revolução Industrial.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial, conforme Iori (2014), é o segundo momento da carreira 
do capitalismo no final do século XVIII e primeira metade do século XIX. Sua 
importância foi essencialmente econômica, apresentando um reflexo dramá-
tico sobre a esfera política. A Revolução Industrial é um marco histórico em que 
os limites para a produção de riquezas pelo homem foram implodidos e nunca 
mais deixaram de ser superados e expandidos. Moraes (2017, p. 46) afirma que 
o mundo como o conhecemos hoje é filho dessa transformação. 
Em 1776, como não poderia deixar de ser, a Inglaterra era o país mais efi-
ciente e poderoso do mundo. Ela se beneficiou grandemente com o livre comércio 
internacional, em face do início da Revolução Industrial. Nessa época, os empre-
sários foram se fortalecendo e não mais precisavam contar com a ajuda do 
governo, com privilégios de monopólios e com a proteção tarifária. Em conjunto 
A Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
75
ao desenvolvimento das fábricas, os artesãos perdiam sua vantagem competitiva. 
Essa situação os levou ao mercado de trabalho como trabalhadoresassalariados. 
A alta taxa de natalidade, bem como a taxa de mortalidade em queda, aumenta-
ram a população e os trabalhadores infantis, e os camponeses irlandeses falidos, 
que chegavam à Inglaterra, também aumentavam a oferta de mão de obra. Essa 
circunstância gerou empatia por parte dos empresários em relação à doutrina 
laissez-faire. Os salários estavam baixos, por conta da oferta em demasia, e o 
Governo não precisava intervir. 
O marco temporal referido acima é, ainda, importante para nosso trabalho 
porque também apresenta uma mudança sistemática na ciência econômica. Foi 
justamente em 1776 que Adam Smith publicou sua obra A riqueza das nações. 
O pai da economia e seus contemporâneos, que viveram durante os primeiros 
estágios da Revolução Industrial, não puderam identificar de forma adequada a 
representatividade desse fenômeno e a direção que esse desenvolvimento toma-
ria, ainda que em sua obra, A riqueza das nações, o pensador apresente o aumento 
da produtividade possível pela divisão do trabalho, por meio do famoso exem-
plo da fábrica de alfinetes.
Tomemos, pois, um exemplo, tirado de uma manufatura muito pequena, 
mas na qual a divisão do trabalho muitas vezes tem sido notada: a fabri-
cação de alfinetes. Um operário não treinado para essa atividade (que a 
divisão do trabalho transformou em uma indústria específica) nem fami-
liarizado com a utilização das máquinas ali empregadas (cuja invenção 
provavelmente também se deveu à mesma divisão do trabalho), dificil-
mente poderia talvez fabricar um único alfinete em um dia, empenhando 
o máximo de trabalho; de qualquer forma, certamente não conseguirá 
fabricar vinte. Entretanto, da forma como essa atividade é hoje executada, 
não somente o trabalho todo constitui uma indústria específica, mas ele 
está dividido em uma série de setores, dos quais, por sua vez, a maior 
parte também constitui provavelmente um ofício especial. Um operário 
desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto 
faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça 
do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 ope-
rações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar 
os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui 
uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar 
um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, 
as quais, em algumas manufaturas são executadas por pessoas diferentes, 
ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E76
Vi uma pequena manufatura desse tipo, com apenas 10 empregados, e na 
qual alguns desses executavam 2 ou 3 operações diferentes. Mas, embo-
ra não fossem muito hábeis, e portanto não estivessem particularmente 
treinados para o uso das máquinas, conseguiam, quando se esforçavam, 
fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, 1 libra contém 
mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por conseguinte, essas 10 
pessoas conseguiam produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por 
dia. Assim, já que cada pessoa conseguia fazer 1/10 de 48 mil alfinetes por 
dia, pode-se considerar que cada uma produzia 4 800 alfinetes diariamen-
te. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e 
sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, 
certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por 
dia, e talvez nem mesmo 1 (SMITH, 1996, p. 65-66). 
Além de ilustrar o enorme aumento de produtividade possibilitado pela divisão do 
trabalho, Smith (1996) também sugere que a invenção de máquinas se tornava viá-
vel pela própria divisão do trabalho: como os processos manuais são subdivididos 
em grande número de operações cada vez mais simples, também se torna mais fácil 
reproduzir essas operações simplificadas em um mecanismo. Nesse sentido, a divisão 
do trabalho na manufatura prepara a passagem para a grande indústria mecanizada.
No longo prazo, a economia clássica (Escola de pensamento fundada por 
Smith) atendeu à toda sociedade, porque a aplicação de suas teorias promovia 
o acúmulo de capital e o crescimento econômico. Apresenta-se um novo tempo 
para os empresários. Agora, o status para os mercadores e industriais foi promo-
vido ao que Brue (2016) chama de promotores da riqueza da nação. Eles estavam 
certos de que, ao buscar o lucro, estavam atendendo à sociedade. Ainda em Brue 
(2016), percebemos que essas doutrinas, privilegiaram materialmente os proprie-
tários e gerentes das empresas, pois as ideias clássicas ajudaram a promover o 
clima político, social e econômico que estimulou a indústria, o comércio e o lucro.
A interpretação do mundo econômico do século XIX tem de ser essencial-
mente uma interpretação de sua transformação e movimento. 
(Maurice Dobb)
A Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
77
ORIGENS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A definição de Revolução é imprecisa. Sabe-se, a princípio que não são meras 
mudanças. Encontramos em Hannah Arendt (1990) que é inegável a questão 
social que envolve as revoluções. E que a motivação econômica é a força motriz 
de toda luta política.
Figura 1 - A primeira ponte de ferro fundido em Ironbridge, local de nascimento de Shropshire da 
Revolução Industrial
Contudo, essa dinâmica transformadora não assume a mesma forma em todos 
os países em que ocorre. Deane (1975, p. 11) demonstra mudanças identificá-
veis nos métodos e características da organização econômica, as quais, tomadas 
como um todo, constituem um desenvolvimento do tipo daquele que descre-
veríamos como uma Revolução Industrial. Esta inclui as seguintes mudanças 
inter-relacionadas: 
1) aplicação sistemática e generalizada do moderno conhecimento 
científico e empírico ao processo de produção para o mercado; 
2) especialização da atividade econômica dirigida no sentido da produ-
ção para os mercados nacional e internacional, ao invés de sê-lo para 
consumo familiar ou paroquial; 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E78
3) migração da população das comunidades rurais para as urbanas; 
4) expansão e despersonalização da unidade típica de produção de 
modo que passa a ser baseada menos na família ou tribo do que na 
empresa pública ou privada; 
5) movimento da força de trabalho das atividades relacionadas com a 
produção de bens primários para a produção de bens manufaturados 
e serviços;
6) uso extensivo e intensivo de recursos financeiros como um substitu-
to do esforço humano e como complemento deste; 
7) emergência de novas classes sociais e ocupacionais determinada pela 
propriedade dos meios de produção, que não a terra, ou pela relação 
dessas classes com os referidos meios de produção, principalmente o 
capital. Esse contexto de metamorfoses inter-relacionadas, ao ocorre-
rem simultaneamente, constituem uma Revolução Industrial, em que 
pese a associação de crescimento demográfico e aumento no volume 
anual de bens e serviços produzidos (DEANE 1975, p. 11).
Percebemos, já no primeiro item, que o contexto científico tem um papel rele-
vante nessa transformação da sociedade. À medida que as pessoas passaram a 
admitir que não conheciam as respostas para algumas perguntas muito impor-
tantes, acharam necessário procurar conhecimentos completamente novos. Essa 
busca objetivava a aplicabilidade desses saberes. 
Em 1620, Francis Bacon publicou um manifestocientífico intitulado 
Novum Organum [Novo instrumento], no qual afirmou que “conhe-
cimento é poder”. A real prova de fogo do “conhecimento” não é se é 
verdadeiro, mas se nos dá poder. Os cientistas geralmente presumem 
que nenhuma teoria é 100% correta. Em consequência, a verdade não 
é um bom parâmetro de teste para o conhecimento. O parâmetro real é 
sua utilidade. Uma teoria que nos permite fazer novas coisas constitui 
conhecimento (HARARI, 2015, p. 270).
O mundo das ciências transformou a humanidade. Por meio dele, o homem 
adquiriu capacidades gigantescas, investindo recursos em pesquisas. Trata-se 
de uma dinâmica que, até o ano de 1500, os humanos do mundo inteiro duvi-
davam de sua aptidão para adquirir novas capacidades médicas, militares e 
econômicas. A descoberta da América foi o acontecimento fundacional da 
Revolução Científica.
A Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
79
A maioria dos estudos científicos são financiados porque alguém acre-
dita que eles podem ajudar a alcançar algum objetivo político, econô-
mico ou religioso. Por exemplo, no século XVI, os reis e os banqueiros 
destinaram muitíssimos recursos para financiar expedições geográficas 
pelo mundo, mas nem um centavo para estudar a psicologia infantil. 
Isso porque os reis e os banqueiros supunham que a descoberta de no-
vos conhecimentos geográficos lhes permitiria conquistar novas terras 
e construir impérios comerciais, ao passo que não conseguiam ver ne-
nhuma vantagem em entender a psicologia infantil (HARARI, 2015, 
p. 282).
Destarte, o advento do sistema capitalista fez uma aliança com a indústria e a 
tecnologia refletidos na Revolução Industrial. Depois de consolidada, essa rela-
ção mudou o mundo de forma muita intensa e rápida.
A primeira fase da revolução industrial teve lugar na Inglaterra e oferece 
especial interesse pelo fato de ter ocorrido espontaneamente sem a assistência 
governamental, a qual se tem constituído na tônica da maioria das revoluções 
industriais que se sucederam. Conforme Iori (2014), a evolução que esse país 
passou desde o século XV (concentração da propriedade agrária, proletarização 
da mão-de-obra, atividade marítima e colonial) permitiu-lhe superar definitiva-
mente os países dos primeiros descobrimentos (Espanha e Portugal, paralisados 
pelo excessivo afluxo de dinheiro e o parasitismo das rendas) e evoluir mais 
depressa que a Holanda (privada de recursos industriais) e a França (onde a 
estrutura agrária resistiu ao movimento de concentração das propriedades e de 
“cercamento” das terras comunais). Marx expressou esse avanço da Inglaterra 
com a seguinte consideração:
Os diferentes métodos de acumulação primitiva, que a era capitalista 
faz aparecer, dividem-se, primeiro, por ordem mais ou menos crono-
lógica, entre Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra, até que 
esta última combina-os todos, no último terço do século XVII, num 
conjunto sistemático que inclui por sua vez o regime colonial, o crédito 
público, as finanças modernas e o sistema protecionista (MARX, 1974, 
p. 41). 
De fato, a primeira etapa da formação do capitalismo, depois da crise dos sécu-
los XIV e XV, não poderia fundar-se senão por um avanço das forças produtivas: 
o que ocorreu entre meados do século XV e XVI.
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E80
O CARÁTER DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial completou a transição do Feudalismo ao Capitalismo. 
A partir dela, finaliza-se o processo de expropriação dos produtores diretos. 
O Modo de produção capitalista é, então, caracterizado pela introdução da 
maquinofatura e pelas relações sociais de produção assalariadas. Destarte, 
a separação definitiva entre capital e trabalho: a industrialização é o reflexo 
dessa dinâmica.
De modo geral há grandes divergências em relação à representatividade dessa 
transformação social, Carlo Cipolla, historiador italiano, atribui à Revolução 
Industrial um papel fundamental na história da humanidade:
entre 1780 e 1850, em menos de três gerações, uma ampla revolução, 
sem precedente na história da Humanidade, mudou a face da Inglater-
ra. Daí em diante, o mundo não foi mais o mesmo. Os historiadores 
frequentemente usaram e abusaram da palavra Revolução para signifi-
car uma mudança radical, mas nenhuma revolução foi tão dramatica-
mente revolucionária quanto a Revolução Industrial - exceto, talvez, a 
Revolução Neolítica. Ambas mudaram o curso da história, quer dizer, 
cada uma provocou uma descontinuidade no processo histórico. A Re-
volução Neolítica transformou a Humanidade de uma coleção dispersa 
de bandos selvagens de caçadores [...] em uma coleção de sociedades 
agrícolas mais ou menos interdependentes. A Revolução Industrial 
transformou o Homem de um agricultor em um manipulador de má-
quinas movidas por energia inanimada (CIPOLLA, 1973, p. 7 apud 
SAES; SAES, 2013, p. 141).
Foi precisamente ao longo da crise geral do feudalismo, que numerosas in-
venções vieram modificar o nível das forças de produção. O uso da artilharia 
obrigou a impulsionar a produção de metal. A difusão do pensamento hu-
mano, com a invenção da imprensa, e o progresso da ciência da navegação 
desempenharam um papel não menos importante. Observa-se que, pela 
primeira vez, técnicas industriais e técnicas de comunicação ultrapassam a 
técnica agrícola. É o começo de um processo que colocará a indústria no 
primeiro plano do progresso.
Fonte: adaptado de Iori (2014).
A Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
81
É importante considerar que a transformação na estrutura da indústria a que 
se conferiu o título de Revolução Industrial não constituiu um acontecimento 
singular que se possa localizar entre as fronteiras de duas ou três décadas. Para 
Dobb (1980), apresenta-se um período de desenvolvimento desigual, em que não 
é possível localizar fronteira temporal de forma precisa. A essência da transfor-
mação estava na mudança do caráter da produção que, em geral, associava-se à 
utilização das máquinas movidas por energia não humana e não animal. Marx 
(1985, p. 302) afirmou que a transformação crucial foi na verdade a adaptação 
de uma ferramenta, antes empunhada pela mão humana, a um mecanismo:
quando o homem passa a atuar apenas como força motriz numa má-
quina – ferramenta, em vez de atuar com a ferramenta sobre o seu ob-
jeto de trabalho, podem tomar seu lugar o vento, a água, o vapor, etc., 
e torna-se acidental o emprego da força muscular humana como força 
motriz. Essas mudanças dão origem a grandes modificações técnicas 
no mecanismo primitivamente construído apenas para ser impulsiona-
do pela força humana... além disso, a força humana é um instrumento 
muito imperfeito para produzir um movimento uniforme e contínuo.
As mudanças supracitadas por Marx modificaram profundamente as relações 
de trabalho, em que pese um caráter coletivo ao processo de produção se ins-
taura, expandindo a divisão do trabalho a um grau de complexidade jamais 
testemunhado. Outra peculiaridade, conforme Iori (2014), foi a necessidade 
crescente no sentido de que as atividades do produtor humano se conformas-
sem aos ritmos e movimentos do processo mecânico: uma mudança técnica de 
equilíbrio que teve seu reflexo socioeconômico na crescente dependência do 
trabalho em relação ao capital e no papel, cada vez maior, desempenhado pelo 
capitalista como força disciplinadora e coautorado produtor humano em suas 
operações detalhadas.
E como era antes desse cenário produtivo? Dobb (1980, p. 261) nos demons-
tra que
nos velhos tempos, a produção era essencialmente uma atividade hu-
mana, em geral individual em seu caráter, no sentido de que o produtor 
trabalhava em seu próprio tempo e à sua própria maneira, indepen-
dentemente dos outros, enquanto as ferramentas ou os implementos 
simples que usava pouco mais eram do que uma extensão de seus pró-
prios dedos. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E82
A ferramenta característica desse período, diz Mantoux (1957, p. 193), era “passiva 
na mão do trabalhador; sua força muscular, sua habilidade natural ou adquirida, 
ou sua inteligência determinam a produção até o menor detalhe”. Na situação 
antiga, antes do estágio da maquinofatura, o pequeno mestre independente, incor-
porando em si a unidade de instrumentos de produção humana e não humana. 
Os elementos “não-humanos” eram elementos modestos.
No contexto da Revolução Industrial, o tamanho mínimo para um processo 
de produção unitário se tornara grande demais para o “pequeno mestre” contro-
lar. Isso porque a relação entre os instrumentos humanos e mecânicos haviam 
se transformado. Era necessário, a partir de então, capital para financiar o equi-
pamento complexo requerido pelo novo tipo de unidade de produção. 
[...] criara-se um papel para um tipo novo de capitalista, não mais ape-
nas como usurário ou comerciante em sua loja ou armazém, mas como 
capitão de indústria, organizador e planejador das operações da unida-
de de produção, corporificação de uma disciplina autoritária sobre um 
exército de trabalhadores que, destituídos de sua cidadania econômica, 
tinham de ser coagidos ao cumprimento de seus deveres onerosos a 
serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do supervisor do patrão 
(DOBB, 1980, p. 262).
Foi uma metamorfose ampla, pois foi crucial em seus diversos aspectos, que 
mereceu integralmente o nome de Revolução Econômica. Essa foi a descrição 
clássica de Toynbee referenciada por Dobb (1980). 
O capitalismo prescinde totalmente da compulsão do trabalho. Ele não ope-
ra sua extração de excedente econômico, nem se apropriando do produtor 
– como na escravidão-, nem do trabalho do produtor – como na economia 
dominial. Tampouco apropria-se dos resultados do trabalho do produtor 
- como na economia senhorial. O capitalismo extrai excedente dentro do 
próprio processo de produção, de um produtor livre, através da diferença de 
valor, que esse produtor recebe pela venda da mercadoria força de trabalho, 
em relação às mercadorias que essa força de trabalho produz.
Fonte: Rezende Filho (2010, p. 138).
A Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
83
A Figura 2, logo a seguir, apresenta as características dos “velhos tempos”. Com 
o trabalho realizado empunhando as ferramentas e dando forma à matéria-
-prima. Na figura 3, por sua vez, apresentamos o padrão de produção de forma 
em escala e padronizada.
ARTESÃO
Trabalho realizado empunhando as ferramentas e dando forma à matéria-prima: 
o resultado da produção depende de sua habilidade no manuseio dessas fer-
ramentas e também de sua energia (que define a força e a velocidade com que 
realiza as operações)
↓
O produto artesanal resultado da combinação da habilidade e da energia do 
artesão com as ferramentas específicas de seu ofício.
↓
Cada produto do artesão é uma obra única, pois depende de características 
subjetivas.
Figura 2 - O trabalho do artesão
Fonte: autora.
Arnold Joseph Toynbee, nasceu em Londres no dia 14 de abril de 1889 e fa-
leceu em 22 de outubro de 1975. Foi um historiador britânico que tem como 
magnum opus a obra Um Estudo de História (trad. de A Study of History). 
Nela examina em doze volumes, o processo de nascimento, crescimento e 
queda das civilizações sob uma perspectiva global.
Fonte: a autora. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E84
MÁQUINA
Transfere-se as ferramentas das mãos do artesão para um mecanismo que procu-
ra reproduzir os movimentos do artesão de forma automática e padronizada.
↓
Pode ser movido pela energia humana, embora, com a Revolução Industrial, seja 
mais típico o uso de energia não humana e não animal.
Figura 3 - O trabalho da máquina
Fonte: autora.
Ao abordar a dinâmica máquina/artesão, temos de, necessariamente, conside-
rar que trata-se de processo longo, cuja data inicial é difícil de estabelecer com 
precisão, mas que seguramente remodelou, primeiro o Reino Unido e, a seguir, 
grande parte do mundo. 
O CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
No século XVIII, a Inglaterra acompanhou a Holanda no comércio e ficou atrás da 
França na produção. Nessa dimensão temporal, a Inglaterra ganhou supremacia tanto 
no comércio como na indústria. Entre 1700 e 1770, os mercados externos para os 
produtos ingleses cresceram mais rapidamente do que os mercados internos ingle-
ses. Conforme Hunt (1989), entre 1700 e 1750, a produção das indústrias internas 
aumentou 7%, enquanto a produção das indústrias de exportação aumentou 76%. 
No período de 1750 a 1770, os respectivos aumentos foram de 7% e 80%. Esse cres-
cimento acelerado, sobre a demanda externa de produtos industrializados ingleses, 
propiciou a Revolução Industrial. Ela, por sua vez, determinou uma das “trans-
formações mais fundamentais da História da vida humana” (HUNT, 1989, p. 60). 
A Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
85
A sociedade inglesa, que era predominantemente agrária e rural, tornou-se 
industrial e urbana. Em 1801, por exemplo, somente um quarto da população 
inglesa era urbana, mas, na metade do século XIX, a Inglaterra liderava os paí-
ses do mundo em que a população estava concentrada nas cidades. Os tecidos 
de algodão e lã, produzidos nas fábricas construídas na cidade de Manchester, e 
em outras partes do Norte da Inglaterra, passaram a ser exportados para muitos 
países, inclusive para o Brasil, ao lado de facas, garfos e outros utensílios de metal 
feitos em Birmingham e Sheffield, duas cidades originalmente pequenas que se 
tornaram muito importantes no decorrer do século XIX. A necessidade de ener-
gia a vapor para movimentar as máquinas aumentou a demanda por carvão, o 
que, por sua vez, tornou a mineração outra indústria central. E a necessidade de 
transportar os produtos encorajou o surgimento das estradas de ferro em 1825, 
que deram início a uma nova era (BURKE, 2016, p. 35).
O crescimento substancial da indústria alterou profundamente a vida das 
pessoas. A introdução da máquina, envolve, conforme Saes e Saes (2013, p. 150), 
“a subordinação (subsunção) real do trabalho ao capital, pois agora o capital, 
materializado na máquina, impõe, pelo próprio processo de trabalho, a sub-
missão do trabalhador ao ritmo determinado pelo capital”. O crescimento do 
comércio, o aumento substancial da manufatura e das invenções, além da divi-
são do trabalho, caracterizaram, a princípio, a Inglaterra do século XVIII em 
uma economia de mercado bem desenvolvida. Nessa conjuntura, o preconceito 
tradicional contra o mercado capitalista, em termos de atitudes e ideologia, já 
estava muito enfraquecido. 
Na Inglaterra daquela época, maiores quantidades de produtos industriali-
zados a preços maisbaixos significavam lucros sempre crescentes. Deu-se um 
“surto” de atividades inventivas, pois à medida em que a procura externa crescia, 
os empresários viram as possibilidades de maiores lucros e, dessa maneira, era 
necessário inovar tecnologicamente. Nesse sentido, Saes e Saes (2013) apresen-
tam que, de modo amplo, as transformações das técnicas produtivas não foram 
exclusividade da Revolução Industrial. Em que pese estas mudanças são centrais 
para a compreensão do processo de transformação econômica e social. As ino-
vações técnicas se concentraram em duas indústrias, a de tecidos de algodão e 
a do ferro, e envolveram uma nova fonte de energia, o vapor.
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E86
Em 1769, James Watt projetou um motor com especificações tão exatas, 
que o simples movimento de um pistão podia ser transformado em 
movimento giratório. Um fabricante de Birmingham, chamado Boul-
ton, associou-se a Watt e, com os recursos financeiros de Boulton, eles 
conseguiram iniciar uma produção, em larga escala, de motores a va-
por. No fim daquele século, o vapor estava substituindo rapidamente a 
água como principal fonte de energia na indústria. O desenvolvimento 
da energia a vapor levou a profundas mudanças econômicas e sociais 
(HUNT, 1989, p. 62).
Dobb (1980, p. 263) apresenta a opinião de Toynbee sobre as inovações técnicas:
[...] foram ‘quatro grandes invenções’ o fator responsável pelo revo-
lucionamento da indústria algodoeira: ‘a máquina de fiar (spinnin-
g-jenny), patenteada por Hargreaves em 1770; o filatório tocado a 
água, inventado por Arkwright no ano anterior; o filatório Cromp-
ton, introduzido em 1779; e o filatório autônomo, inventado pri-
meiramente por Kelly em 1792’; embora ‘nenhuma dessas, por si só, 
tivesse revolucionado a indústria’, não fosse o patenteamento da má-
quina a vapor por James Watt em 1769 e sua aplicação à manufatura 
algodoeira quinze anos depois. A estas, Toynbee acrescenta como 
elos cruciais no processo o tear mecânico de Cartwright de 1785 , 
e, afetando a siderurgia, a invenção da redução do carvão na parte 
inicial do século XVIII e a ‘aplicação em 1788 da máquina a vapor 
aos altos-fornos’.
A partir dessas invenções mencionadas, iniciou-se o estágio mais decisivo da 
Revolução Industrial. Isso porque o vapor permitiu o abundante crescimento e 
desenvolvimento da indústria em larga escala, visto que o vapor não dependia, 
como o uso da água, da localização geográfica das fábricas e dos recursos locais. 
Sempre que pudesse comprar carvão a preço razoável, poderia ser construído 
um motor a vapor. Houve uma multiplicação de fábricas. Originam-se as “escu-
ras” cidades industriais (HUNT, 1989). 
Caro(a) aluno(a), você já deve ter se convencido da importância da ciên-
cia para o mundo tecnológico da época. E os ingleses se sentiam orgulhosos 
pelas realizações econômicas, tecnológicas e científicas desse período. Não 
obstante o ufanismo dos ingleses, o custo dessa revolução foi muito alto. As 
condições de trabalho eram muito ruins, para não dizer desumanas, tanto nas 
fábricas quanto nas minas, com longas horas corridas, salários baixos e o uso 
considerável de trabalho infantil, às vezes de crianças de 4 ou 5 anos de idade. 
A Revolução Industrial e sua Amplitude
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
87
Somente em 1833 o Factory Act tornou ilegal o emprego de crianças abaixo 
de 9 anos de idade, enquanto o Mines Act, de 1842, proibiu o emprego nas 
minas de carvão de meninos com menos de 10 anos e de meninas e mulhe-
res em geral.
As condições de vida nas cidades industriais eram também bastante duras 
em consequência da superlotação, da poluição industrial e da baixa qualidade 
das moradias. Essas condições foram vividamente descritas por Friedrich Engels, 
amigo de Karl Marx, em um livro de 1845, A situação da classe trabalhadora na 
Inglaterra (título original: The Condition of the Working Class in England), que se 
baseava em suas observações da favela de Manchester. O escritor Charles Dickens, 
ao lado de outros autores, também considerava seu dever denunciar as brutali-
dades e as destruições que essa era, pretensamente avançada, causava. É assim 
que, em seus “romances industriais”, as realidades sombrias do trabalho infantil, 
da superpopulação urbana, do domínio desumano das máquinas, das doenças, 
desigualdades, injustiças e misérias, que acompanhavam a Revolução Industrial, 
eram vividamente colocadas diante dos olhos do público. Pode-se dizer, pois, 
que o sacrifício de uma ou duas gerações foi o preço pago pelo rápido cresci-
mento industrial da Inglaterra.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SUA AMPLITUDE
Tratamos anteriormente sobre as mudanças e características da organização 
econômica (elencamos 7 itens) do período que apresenta o contexto da revolu-
ção industrial. Deane (1975) nos ensina que essas mudanças inter-relacionadas, 
caso ocorram simultaneamente e atinjam um nível suficiente, constituem uma 
revolução industrial. Ainda devemos nos atentar que, sempre estiveram asso-
ciadas com um crescimento demográfico e com um aumento no volume anual 
de bens e serviços produzidos. 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E88
Nesse sentido, o trabalho da autora é fundamental. Ela apresenta o ponto de 
partida desse processo revolucionário, em que a Inglaterra mantinha uma 
posição mais favorável do que outros países. Daí o fato dela ser o berço desse 
desenvolvimento. Entretanto, ainda aprendemos que no tocante à expansão 
demográfica
parece razoável supor-se que sem o aumento da produção que data a 
partir da década de 1740 o crescimento paralelo da população teria 
sido finalmente refreado por uma elevação na taxa de mortalidade 
devida aos padrões de vida em declínio. Parece igualmente provável 
que sem o crescimento demográfico, o qual ganhou impulso na se-
gunda metade do século XVIII, a revolução industrial britânica teria 
sido retardada pela falta de mão-de-obra. Parece provável que sem a 
procura e preços crescentes, os quais refletiam inter alia o crescimen-
to da população, teria havido menos incentivo para os produtores 
britânicos se expandirem e inovarem e, por conseguinte, que se per-
deria parte do dinamismo que impulsionou a revolução industrial. 
Parece igualmente provável que as oportunidades de emprego em 
expansão criadas pela revolução industrial animaram os indivíduos 
a se casarem e formar famílias numa idade mais jovem do que no 
passado, e que aumentaram a expectativa média de vida (DEANE, 
1975, p. 48).
A revolução agrícola foi também fundamental na dinâmica da revolução indus-
trial. Tanto que a última não seria possível sem a primeira, conforme Nurske 
(1953 apud Deane, 1975). Dessa forma, no que se relaciona à produção de bens 
e serviços, podemos destacar os aspectos essenciais das novas técnicas de pro-
dução que caracterizaram a revolução agrária nos solos aráveis da Inglaterra: 
plantio constante, novas rotações de culturas e uma associação mais íntima entre 
as sagras e o estoque. Outro ponto importante atribuído ao panorama agrícola 
é a mudança nas atitudes empresariais. 
A modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, 
sendo a outra metade o eterno e o imutável.
(Charles Baudelaire)
A Revolução Industrial e sua Amplitude
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
irod
e 
19
98
.
89
Temos aí um alagarmento dos horizontes econômicos tanto no tempo 
como no espaço, de modo que os agricultores em geral se tornaram mais inte-
ressados em produzir para um mercado nacional ou internacional do que em 
fazê-lo para fins de consumo regional ou doméstico, e alguns deles começaram 
a aderir à programação de drenagem de terras e criação de gado, programa-
ção essa que implicava um retorno de capital não imediato, no sentido de na 
próxima colheita, em uma época mais distante. Outra mudança de atitude é o 
aumento na especialização econômica que refletiu no aparecimento do fazen-
deiro profissional ou do trabalhador não proprietário. E, ainda, a aplicação do 
conhecimento científico e métodos experimentais a atividades que tinham sido 
anteriormente reguladas rigidamente pela tradição, pela prática comunitária ou 
por métodos empíricos.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO 
ECONÔMICA 
O ritmo da modificação econômica no século XIX, no que diz respeito à estru-
tura da indústria e das relações sociais, ao volume de produção e à extensão 
e variedade do comércio, mostrou-se inteiramente anormal, a julgar pelos 
padrões dos séculos anteriores: tão anormal a ponto de transformar radical-
mente as ideias do homem sobre a sociedade, por meio de uma concepção mais 
ou menos estática de um mundo onde, de uma geração para outra, os homens 
estavam fadados a permanecer na posição que lhes fora conferida ao nascer; 
onde o rompimento com a tradição era contrário à natureza, para uma con-
cepção do progresso como lei da vida e do aperfeiçoamento constante como 
estado normal de qualquer sociedade sadia. A interpretação do mundo eco-
nômico do século XIX tem de ser essencialmente uma interpretação de sua 
transformação e movimento.
A cena econômica no século XIX nos proporciona uma combinação de cir-
cunstâncias excepcionalmente favoráveis para o florescimento de uma sociedade 
capitalista. Uma era de transformação técnica, que aumentava com rapidez a pro-
dutividade do trabalho, testemunhou também um aumento natural anormalmente 
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E90
rápido nas fileiras do proletariado, junto com uma série de acontecimentos que 
ampliaram simultaneamente o campo do investimento e o mercado dos bens 
de consumo, em grau sem precedente. Nos séculos anteriores, o crescimento da 
indústria capitalista foi dificultado pelo estreitamento do mercado e sua expan-
são foi ameaçada pela baixa produtividade impostas pelos métodos de produção 
do período, sendo esses obstáculos reforçados de quando em vez pela escassez 
de trabalho. Na Revolução Industrial, essas barreiras foram simultaneamente 
banidas e, em vez disso, a acumulação e o investimento do capital se viram, a 
cada ponto do quadrante econômico, diante de horizontes cada vez mais amplos 
para incitá-los.
Somente por um singular desconhecimento da história buscar-se-ia na 
revolução industrial as origens do capitalismo. Estas recuam à medida 
em que mais se as estuda: elas são talvez mais antigas do que o comér-
cio e o numerário, ou do que a distinção entre ricos e pobres. O que 
pertence propriamente ao regime da grande indústria, é a aplicação do 
capital na produção de mercadorias e a própria formação do capital no 
decorrer dessa produção: é a existência de uma classe capitalista que é, 
essencialmente, uma classe industrial (MANTOUX, 1957, p. 369).
Diante dessa configuração industrializante, o capitalismo alterou as relações 
internacionais, caracterizou-se um escoamento de capital. A troca de merca-
dorias produzidas em condições de mais alta produtividade do trabalho por 
mercadorias produzidas em condições de mais baixa produtividade do traba-
lho era uma troca desigual, isto é, era uma troca de menos trabalho por mais 
trabalho. A existência de grandes reservas de trabalho barato e terra em alguns 
países, que ainda não haviam se industrializado, resultou em uma acumulação 
de capital com uma composição orgânica de capital mais baixa do que nos pri-
meiros países que se industrializaram.
A composição orgânica do capital é a relação de valor entre capital constan-
te e capital variável. 
A Revolução Industrial e sua Amplitude
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
91
Muito além da técnica per se, a Revolução Industrial em discussão apresenta 
como traço notável pertencer a um capitalismo amadurecido, visto que o 
progresso técnico é um elemento do mundo econômico. Com a chegada da 
força a vapor, foram abolidos os limites anteriores à complexidade e tama-
nho da maquinaria e magnitude das operações que esta podia executar. Em 
certa medida, essa revolução da técnica adquiriu até um ímpeto cumulativo 
próprio, em que cada avanço da máquina tendia a trazer, consequentemente, 
uma especialização maior das unidades da equipe humana que a operava. E a 
divisão do trabalho, simplificando os movimentos individuais, facilitava ainda 
outras invenções, pelas quais esses movimentos simplificados eram imitados 
por uma máquina.
A Revolução Industrial se mostrou tão decisiva para todo o futuro da 
economia capitalista, tão radical como transformação da estrutura e organi-
zação da indústria, que levou alguns autores a considerá-la como as dores do 
parto do capitalismo moderno e, portanto, o momento decisivo no desenvol-
vimento econômico e social desde a Idade Média. Não obstante, conforme 
Dobb (1980), o conhecimento e juízo mais maduros de hoje indicam clara-
mente que aquilo que a Revolução Industrial representou foi a transição de 
um estágio inicial e ainda imaturo do capitalismo, em que o modo de pro-
dução pré-capitalista fora penetrado pela influência do capital subordinado 
a este sistema, despido de sua independência como forma econômica, mas 
ainda não inteiramente transformado para um estágio no qual o capitalismo, 
com base na transformação técnica, atingira seu próprio processo específico 
de produção, apoiado na unidade de produção em grande escala e coletiva da 
fábrica, efetuando, assim, um divórcio final do produtor quanto à participa-
ção que ainda dispunha nos meios de produção e estabelecendo uma relação 
simples e direta entre capitalistas e assalariados (DOBB, 1980).
Desse modo, caro(a) aluno(a), ao analisar esse processo transformador da 
história econômica, estamos habilitados a caminhar no entendimento da dinâ-
mica capitalista que se movimentará para o que conhecemos como Segunda 
Revolução Industrial, motivo de aprendizado da nossa próxima unidade.
O CAPITALISMO E A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E92
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, refletimos acerca da essência do capitalismo 
pautada nas relações produtivas. É possível apreender o tratamento do material 
histórico do capital que se reproduz e se acumula a partir das crises, violências, 
desequilíbrios, bem como o apoderamento e usuras. Essas tendências marcaram o 
fim do regime feudal e a expansão dos europeus através do mundo. Encontramos 
em Vilar (1975) as duas principais modalidades da dinâmica para o processo de 
acumulação primitiva, a saber: a expropriação agrária e proletarização das mas-
sas rurais e o saque e exploração colonial.
O desenvolvimento do capitalismo se classifica em uma série de estágios 
caracterizados por níveis diversos de maturidade e cada qual reconhecível por 
traços bastante distintos. No entanto, buscamos apresentar que a segunda car-
reira desse sistema ocorre com a Revolução Industrial. Essa dinâmica da evoluçãodo sistema está representada por uma transição de um estágio inicial e ainda 
imaturo do capitalismo para outro, baseado na transformação técnica. Processo 
esse apoiado na unidade de produção em grande escala e coletiva da fábrica, efe-
tuando, assim, o que Dobb (1980, p. 28) chama de “divórcio final do produtor 
quanto à participação que dispunha nos meios de produção”, de forma a estabe-
lecer uma relação simples e direta entre capitalistas e assalariado.
Essa transformação foi determinante na História Econômica Geral e, por 
assim dizer, para todo o futuro da economia capitalista. Pois, diante de uma 
nova configuração, com a máquina como protagonista, o capitalismo alterou as 
relações internacionais. Modificou-se o ritmo econômico por conta do volume 
de produção, a partir de então possível, e a variedade do comércio era anormal 
quando comparada aos padrões anteriores. Destarte, a metamorfose do mundo 
econômico do século XIX tem de ser essencialmente uma interpretação de sua 
transformação e movimento.
93 
1. Os historiadores frequentemente usaram e abusaram da palavra “Revolução” 
para significar uma mudança radical, mas nenhuma revolução foi tão drama-
ticamente revolucionária quanto a Revolução Industrial – exceto, talvez, a Re-
volução Neolítica. Ambas mudaram o curso da história, ou melhor: cada uma 
provocou uma descontinuidade no processo histórico. “A Revolução Neolítica 
transformou a Humanidade de uma coleção dispersa de bandos selvagens de 
caçadores [...] em uma coleção de sociedades agrícolas mais ou menos inter-
dependentes. A Revolução Industrial transformou o Homem de um agricultor 
em um manipulador de máquinas movidas por energia inanimada” (CIPOLLA, 
1973 apud SAES; SAES, 2013).
A respeito da Revolução Industrial, avalie as afirmações a seguir.
I. Embora a Revolução Industrial, em perspectiva ampla, não se limite às 
transformações das técnicas de produção, estas mudanças são centrais para 
a compreensão desse processo.
II. A Revolução Industrial foi um acontecimento que teve a Inglaterra como 
local inicial da sua dinâmica de desenvolvimento.
III. A indústria têxtil/algodoeiro tem um importante papel no processo da re-
volução industrial.
IV. As condições de vida nas cidades industriais eram também bastantes tran-
quilas, com alta qualidade de vida, principalmente pelo conforto das mora-
dias em geral.
É correto apenas o que se afirma em:
a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.
94 
2. O artesanato urbano representava uma forma de produção mercantil simples, 
de um tipo sem classes, camponês, em que os instrumentos utilizados eram 
de propriedade dos artesãos. Com a Revolução Industrial, a máquina assume 
papel central. 
Na perspectiva da transformação da esfera de produção, avalie as afirma-
ções a seguir como V para verdadeiras e F para falsas.
I. Cada produto do artesão é uma obra única, pois depende de característi-
cas subjetivas que não se repetem em outro momento, nem pelas mãos do 
próprio artesão.
II. O produto artesanal é o resultado da combinação da habilidade e da ener-
gia do artesão com as ferramentas específicas de seu ofício.
III. O propósito da máquina consiste em um mecanismo que procura reprodu-
zir os movimentos do artesão de forma automática e padronizada.
IV. A máquina característica da Revolução Industrial é movida por energia hu-
mana ou energia animal.
a) V, F, V e F.
b) F, V, F e V.
c) V, V, V e F.
d) F, F, F e V. 
e) F, F, V e F. 
3. O termo “capitalismo” possui ampla circulação na fala popular e na obra histó-
rica dos últimos tempos. Sobre esse modo de produção, assinale a alterna-
tiva correta.
a) O requisito histórico, sob a concepção marxista, de sistema capitalista é a 
concentração da propriedade dos meios de produção nas mãos de uma 
classe.
b) Um sistema que está pautado na produção artesanal independente, em que 
o artesão possui o controle da atividade produtiva.
c) Para que se caracterize um sistema capitalista é fundamental apenas a pre-
sença de uma classe especializada de comerciantes ou financistas, ou seja, 
homens de posse.
d) A fase inicial do sistema capitalista se dá na Dinamarca, por volta dos anos 
1550.
e) O primeiro momento do capitalismo é a Revolução Industrial.
95 
4. Identificamos, no decorrer da unidade, mudanças perceptíveis nos métodos 
e características da organização econômica, as quais, tomadas como um todo 
constitui um desenvolvimento do tipo daquele que descreveríamos como uma 
revolução industrial. Apresente essas mudanças.
5. Máquinas, multidões, cidades: o persistente trinômio do progresso, do fascínio 
e do medo. O estranhamento do ser humano em meio ao mundo em que vive, 
a sensação de ter sua vida organizada em obediência a um imperativo exterior e 
transcendente a ele mesmo, embora por ele produzido (BRESCIANI, 1984 p. 24).
Discorra sobre as perdas diversas que o homem sofreu diante do contexto 
do século XIX.
96 
REVOLUÇÃO INGLESA
Qual o significado da Revolução Inglesa? Tratou-se efetivamente de uma Revolução? Es-
sas questões nortearam o estudo do historiador inglês L. Stone, um dos integrantes do 
grupo de historiadores ingleses de orientação marxista que se propôs a discutir, ques-
tionar e repensar o marxismo a partir da década de 50. O estudo em questão, publicado 
na coletânea Revoluciones y rebeliones de La Europa Moderna, analisa as causas remotas, 
próximas e os elementos que contribuíram para desencadear o processo revolucionário 
inglês do século XVII. No trecho selecionado, conclusão do estudo, o autor comenta as 
especificidades e o significado da Revolução Inglesa.
O que caracteriza a Revolução Inglesa é o conteúdo intelectual dos diversos programas 
e atuações da oposição depois de 1640. Pela primeira vez na história, um rei ungido foi 
julgado por faltar à palavra dada a seus súditos e decapitado em público, sendo seu 
cargo abolido. Aboliu-se a Igreja estabelecida, suas propriedades foram confiscadas e se 
proclamou - e inclusive se exigiu - uma tolerância religiosa bastante ampla para todas 
as formas do protestantismo. Por um breve espaço de tempo, e provavelmente pela 
primeira vez, apareceu no cenário da história um grupo de homens que falavam de li-
berdade, não de liberdades: de igualdade, não de privilégios; de fraternidade, não de 
submissão. Estas idéias haveriam de viver e reviver em outras sociedades e em outras 
épocas. Em 1647, o puritano John Davenport predisse com misteriosa exatidão que ‘a 
luz que acabava de ser descoberta na Inglaterra... jamais se extinguirá por completo, 
apesar de eu suspeitar que durante algum tempo prevalecerão idéias contrárias’.
Ainda que a revolução fracassasse aparentemente, sobreviveram ideias de tolerância 
religiosa, limitações do poder executivo central a respeito da liberdade pessoal das clas-
ses proprietárias e uma política baseada no consentimento de um setor muito amplo 
da sociedade. Essas idéias reaparecerão nos escritos de John Locke e se consolidarão no 
sistema político dos reinados de Guilherme III e Ana, com organizações partidárias bem 
desenvolvidas, com a transferência de amplos poderes ao Parlamento, com um Bill of 
Rights e um Toleration Act, e com a existência de um eleitorado assombrosamente nu-
meroso, ativo e articulado. É precisamente por estas razões que a crise inglesa do século 
XVII pode aspirar a ser a primeira “Grande Revolução” na história mundial, e portanto, 
um acontecimento de importância fundamental na evolução da civilização ocidental”.
Fonte: Stone (1981, p.120-121).
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
A revolução industrial
Phyllis Deane
Editora: Zahar
Sinopse: Sinopse: um ponto importante que se coloca, quando tratamos da 
Revolução Industrial, é desvendar as suas origens. O livro acima, publicado pela 
carioca Zahar em 1969,aborda essa e outras questões.
Comentário: para entender o processo de transformação social é importante 
se aprofundar nos estudos sobre o que vem a ser conhecido como revolução 
industrial. A autora nos proporciona uma análise detalhada sobre esse 
movimento dinâmico de metamorfose da história econômica.
Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: essa obra-prima cômica encontra o icónico vagabundo, empregado 
em uma fábrica, onde as máquinas inevitável e completamente o dominam 
e vários percalços o levam para a prisão. Entre suas passagens pela prisão, 
ele conhece e faz amizade com uma garota órfã. Ambos, juntos e separados, 
tentam lidar com as difi culdades da vida moderna, o vagabundo trabalhando 
como garçom e, eventualmente, um artista.
REFERÊNCIAS
BRESCIANI, M. S. M. Metrópoles: A face do Monstro Urbano (as cidades no século 
XIX). In: Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 5, n. 8 e 9, p. 35-68, 1985.
BRUE, S. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Cengage Learning, 2016.
BURKE, P. Os Ingleses. São Paulo: Contexto, 2016. (Coleção Povos e Civilizações.)
DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
DOBB, M. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.
ARENDT, H. Da Revolução. 2. ed. São Paulo: Ática, 1990.
HARARI, Y. N. Sapiens: Uma breve história da humanidade. 7. ed. Porto Alegre: 
L&PM, 2015.
HUNT, E. História do Pensamento Econômico. Rio de Janeiro: Campus,1989.
IORI, C. F. A. G. O sentido oculto do valor do trabalho e sua implicação no setor 
bancário: um estudo de caso para a cidade de Maringá-Pr e sua região metropolita-
na em 2000 a 2010. 2014. Dissertação, 140 f. (Mestrado em Desenvolvimento Regio-
nal e Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná Toledo, Paraná. Dis-
ponível em: <http://tede.unioeste.br/handle/tede/2187>. Acesso em: 7 mar. 2018.
MANDEL, E. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril cultural, 1982.
MANTOUX, P. A Revolução Industrial no Século XVIII: estudo sobre os primórdios 
da grande indústria moderna na Inglaterra. São Paulo: Hucitec, 1957.
MARX, K. O Capital: Crítica da economia política. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 
1985. (Livro 1, volume 2.)
MARX, K. O Capital: Crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização, 1974. 
(Livro 3, volume 6.)
MARQUES, A. M.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História contemporânea através de textos. 
12. ed. São Paulo: Contexto, 2012. (Coleção Textos e Documentos, volume 5.)
MORAES, L. E. História contemporânea: da Revolução Francesa à Primeira Guerra 
Mundial. São Paulo: Contexto, 2017.
REZENDE FILHO, C. B. História Econômica Geral. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História econômica geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. São 
Paulo: Abril Cultural, 1996.
STONE, L. La Revolución Inglesa. In: FORSTER, R.; GREENE, J. P. Revoluciones y Rebe-
liones de La Europa Moderna. Madri: Alianza, 1981.
VILAR, P. A transição do capitalismo ao feudalismo. In: SANTIAGO, T. (Org.) Capitalis-
mo: Transição. São Paulo: Mora, 1975.
GABARITO
99
1. Alternativa d.
2. Alternativa c.
3. Alternativa a.
4. 1) aplicação sistemática e generalizada do moderno conhecimento científico e 
empírico ao processo de produção para o mercado; 
2) especialização da atividade econômica dirigida no sentido da produção para 
os mercados nacional e internacional ao invés de sê-lo para consumo familiar ou 
paroquial; 
3) migração da população das comunidades rurais para as urbanas; 
4) expansão e despersonalização da unidade típica de produção de modo que 
passa a ser baseada menos na família ou tribo do que na empresa pública ou 
privada; 
5) movimento da força de trabalho das atividades relacionadas com a produção 
de bens primários para a produção de bens manufaturados e serviços; 
6) uso extensivo e intensivo de recursos financeiros como um substituto do es-
forço humano e como complemento deste; 
7) emergência de novas classes sociais e ocupacionais determinada pela pro-
priedade dos meios de produção, que não a terra, ou pela relação dessas classes 
com os referidos meios de produção, principalmente o capital. Esse contexto de 
metamorfoses inter-relacionadas, ao ocorrer simultaneamente, constituem uma 
Revolução Industrial, em que pese a associação de crescimento demográfico e 
aumento no volume anual de bens e serviços produzidos.
5. A autora apresenta que o contexto do século XIX, nos moldes da Revolução In-
dustrial, vai resultar em sentimento de perdas diversas para o homem. O merca-
do passa a ser o senhor. O homem vai se deparar com situações paradoxais. A 
começar pelo tempo que passa a ser o tempo da máquina. Perda que implica a 
imposição de uma nova concepção do tempo: abstrato, linear, uniformemente 
dividido a partir de uma convenção entre os homens, medida de valor relacio-
nada à atividade do comerciante e às longas distâncias. Tempo a ser produtiva-
mente aplicado, que se define como tempo do patrão, tempo do trabalho, cuja 
representação aparece como imposição de uma instância captada pelo intelec-
to, porém presa a uma lógica própria, exterior ao homem que o subjuga. Outra 
perda é no que tange à atividade de trabalho, pois o homem passa a ser uma 
das engrenagens do sistema. Ainda esse trabalhador vai levar uma vida agressi-
va nas cidades, que se dá de forma brusca. O lugar é o lugar do trabalho, não o 
lugar de morar.
GABARITO
U
N
ID
A
D
E III
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, 
A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
E O CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES 
CAPITALISTAS (1870-1913)
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer a Grande Depressão do Século XIX.
 ■ Refletir a importância da Segunda Revolução Industrial.
 ■ Analisar o contexto histórico do capitalismo do século XIX.
 ■ Aprender sobre o capital monopolista.
 ■ Identificar a noção de imperialismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A Grande Depressão do Século XIX
 ■ A Segunda Revolução Industrial
 ■ Uma breve contextualização histórica do capitalismo e seu 
alargamento geográfico
 ■ O capital monopolista
 ■ Imperialismo
INTRODUÇÃO
A história econômica é marcada por crises. É interessante notar que há uma clara 
distinção entre aquelas surgidas antes do crescimento capitalista e as que apon-
taram depois do referido sistema. Em um primeiro momento do nosso estudo, 
vamos aprender sobre a Grande Depressão do século XIX. Você, caro(a) aluno 
(a), poderá perceber que, antes do século XVIII, o tipo mais comum de crise 
era provocado pelo fracasso das colheitas, pelas guerras ou por algum aconte-
cimento anormal, como a escassez de alimentos e outros artigos necessários, 
cujos preços se elevavam.
A crise que vamos conhecer, que começou a existir com o advento do sis-
tema capitalista, a Grande Depressão de 1873, não é devida a fatos anormais 
– parece parte e parcela de nosso sistema econômico. É caracterizada não pela 
escassez, mas pela superabundância. Nela, os preços, em vez de subirem, caíram.
O segundo momento do nosso trabalho aponta um caráter intrinsecamente 
associado ao primeiro. As inovações tecnológicas implementadas à época intro-
duziram novos materiais (ou novas formas de preparar velhos materiais), novas 
fontes de energia e mesmo novos produtos. Trata-se da Segunda Revolução 
Industrial. A vida da população foi substancialmente modificada diante da intro-
dução de itens que passaram a fazer parte da vida cotidiana, destacamos aqui o 
papel da indústria química.
A dinâmica transformadora em termos de velocidade e ordenamento da 
produção foi também responsável por permitir o desenvolvimento da indústria 
pesada e de bens de consumo duráveis. Essas mudanças vieram acompanhadasde uma tentativa sistemática de se racionalizar a produção, adotando métodos 
científicos na organização do trabalho.
As novas técnicas somadas às fontes de energia, assim como os novos mate-
riais e novos bens de consumo, foram se consolidando à dinâmica capitalista 
paralelamente à concentração do capital. Daí o capitalismo monopolista e o 
imperialismo, temas que finalizarão esta unidade e que possibilitarão a noção 
do que Lênin chamou de estágio superior do capitalismo.
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
103
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E104
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX
Para avançarmos no nosso conhecimento sobre o aspecto econômico da his-
tória geral, optamos aqui pela abordagem cronológica. Temos, portanto, o ano 
de 1873 como marco de uma crise econômica conhecida pelos analistas como 
“Grande Depressão”. Essa dinâmica instável se estenderá em dimensão tempo-
ral até 1895, quando é inaugurada a idade do imperialismo.
A história é pontuada pela sequência de episódios que vão se “costurando” 
ao longo do tempo. Nesse sentido, a “Grande Depressão” perfaz a soma de várias 
crises representadas pelo ”Krash” (palavra alemã que representa derrocada) da 
Bolsa de Viena (1873) e Lyon (1882); o pânico das estradas de ferro nos Estados 
Unidos (1884); a falência da companhia encarregada da construção do canal do 
Panamá, na França (1889); a crise do banco Baring e a depressão do setor têxtil 
na Inglaterra (1890); a super construção de estradas de ferro e amplo financia-
mento de ferrovias levaram a uma nova crise (1893) com uma série de falências 
de bancos.
O ponto de partida, já referenciado acima, é o ano de 1873, considerado o 
marco inicial da Grande Depressão do Século XIX. Saes e Saes (2013) atribuíram 
a utilização desse termo “Grande Depressão” aos contemporâneos, para expres-
sar, de modo particular, a situação da economia britânica. Essencialmente, sua 
manifestação foi o declínio do nível de preços: a deflação. Ocorreu tanto em rela-
ção aos bens industriais quanto às matérias-primas e aos produtos alimentícios. 
Os índices de preços de atacado na Grã-Bretanha indicam claramente esse movi-
mento descendente durante cerca de duas décadas. O quadro abaixo apresenta 
os índices de preços por atacado.
A Grande Depressão do Século XIX
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
105
Quadro 1 - Grã-Bretanha: índices de preços por atacado (1871-1875 = 100)
CARVÃO 
E METAIS
FIBRAS 
TÊXTEIS
PRODUTOS 
ANIMAIS
GRÃOS
AÇÚCAR, CHÁ, 
FUMO, CAFÉ E 
CACAU
ÍNDICE 
TOTAL
1871-1875 100 100 100 100 100 100
1876-1880 66,7 85,4 95,4 102,6 90,2 92
1881-1885 60,7 76,9 83,7 98,6 75,1 83,5
1886-1890 61,5 66,5 67,7 84,8 56,8 70,6
1891-1895 63,6 60,3 66,0 84,6 53,7 68,3
Fonte: Saul (1968, p. 14 apud SAES; SAES, 2013, p. 213).
Embora haja alguma divergência entre os movimentos dos preços por atacado 
dos grupos de produtos considerados, o sentido geral é de acentuada queda, indi-
cando, em média, uma redução de cerca de 30% nos preços entre 1873 (pico dos 
preços por atacado desde 1940) e 1896 (ano em que o índice inicia novo período 
de elevação). A adesão de vários países ao padrão-ouro, como veremos adiante, 
promoveu razoável solidariedade do movimento dos preços no plano internacio-
nal, fazendo com que a Grande Depressão, expressa pelo declínio generalizado 
dos preços, se manifestasse de modo bastante amplo.
Redução do ritmo do crescimento do produto, declínio da taxa de juros, 
aumento dos salários reais e redução dos lucros são algumas das variáveis que 
acompanharam o declínio dos preços.
Toda fase de industrialização é feita de movimentos cíclicos: prosperidades e 
quebras por crise. Tratava-se de um período de crise que, por sua vez, apresentou 
sua maior expressividade na Grã-Bretanha. A taxa de crescimento da produção 
industrial britânica declinou da média anual de 3,2% entre 1847 e 1873 e para 
1,7%, entre 1873 e 1900. Nesses mesmos períodos, o salário real teve aumento 
anual médio de 0,6% e de 1,2% (índice referente aos trabalhadores de Londres) 
ou de 1,1% para 1,3% (englobando maior número de trabalhadores britânicos) 
(ROSTOW, 1948, p. 8 apud SAES; SAES, 2013, p. 214). A conciliação do declí-
nio dos preços, o aumento do salário real e, paralelamente, a redução do ritmo 
de crescimento da produção industrial impactou nos lucros, de modo a ter uma 
participação menor na renda industrial e na renda nacional.
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E106
Quadro 2 - Lucros e renda industrial/nacional
LUCROS/RENDA 
INDUSTRIAL
LUCROS/RENDA 
NACIONAL
1870-1874 47,7% 29,4%
1875-1879 44,3% 26,1%
1880-1884 42,6% 25,7%
1885-1889 42,2% 25,2%
1890-1894 37,8% 22,7%
Fonte: Saul (1969, p. 42 apud SAES; SAES, 2013, p. 213).
Os contornos gerais da Grande Depressão podem ser delineados a partir da 
apresentação da situação da Grã-Bretanha. É relevante destacar que a produ-
ção apresentou um crescimento reduzido diante de seu comportamento prévio. 
Em busca dos motivos dessa instabilidade em fins do século XIX, verificou-se 
uma crise com prolongado declínio dos preços. Diferente do que se conhecia 
até então, em que os desequilíbrios eram caracterizados por serem explosivos 
e menos duradouros, causados, principalmente, por más colheitas e ausência 
de produtos no mercado, gerando fome e miséria e canalizando o descontenta-
mento das massas.
Não há consenso sobre o motivo principal, o que podemos concluir, desse 
ponto da linha do tempo, é que a Grande Depressão do século XIX representa 
um momento peculiar na história do capitalismo, visto que revela alguns aspec-
tos importantes da dinâmica da economia capitalista que estão interligados: 1) a 
crescente concentração das atividades produtivas em grandes unidades de pro-
dução que favoreceu a adoção de práticas monopolistas; 2) a tendência anterior 
(1) foi reforçada pelas inovações tecnológicas implementadas à época, no que se 
convencionou chamar de Segunda Revolução Industrial. Na sequência, vamos 
abordar este último aspecto como explicativa para o primeiro que merecerá uma 
abordagem mais detalhada.
A Segunda Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
107
A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A força motriz carrega consigo o caráter verdadeiramente revolucionário do pro-
cesso apreendido acerca da revolução industrial. A partir desse movimento, o 
homem se tornou independente das forças da natureza para realizar suas tare-
fas produtivas. A partir da segunda metade do século XIX, inaugurou-se uma 
dinâmica representada por um novo conjunto de inovações técnicas estendida 
a vários países. Isso ampliou muito a área central da economia-mundo e esta-
beleceu uma competição acirrada, sobretudo entre a França, Holanda, Bélgica, 
Itália e Alemanha. Esse conjunto de inovações é denominado, segundo Rezende 
Filho (2010), como Segunda Revolução Industrial.
O que foi, propriamente, a Segunda Revolução Industrial? Por se tratar da 
“segunda”, decidimos identificar (e reiterar) o que foi a primeira. Como tratamos 
anteriormente, uma nova forma deenergia, o vapor, representou, na primeira 
revolução industrial, o rompimento das limitações físicas impostas pela energia 
humana e as restrições de localização impostas pela energia hidráulica, dada a 
necessidade de a fábrica estar próxima ao curso d’água. A produção da indús-
tria têxtil foi radicalmente modificada pelo vapor, acoplado às máquinas. Na 
sequência, foi a energia utilizada para impulsionar as locomotivas das estra-
das de ferro. O carvão, como combustível para a produção de vapor, e o ferro, 
material crescentemente utilizado na fabricação de máquinas e equipamentos 
ferroviários, caracterizaram de forma extremamente simplificada, juntamente 
com a conjuntura apresentada, o quadro da Primeira Revolução Industrial. A 
Segunda Revolução Industrial apresentou novos bens de consumo que passa-
ram a fazer parte do dia a dia da sociedade.
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E108
O movimento da Segunda Revolução Industrial trouxe profundas altera-
ções ao sistema econômico capitalista. Rezende Filho (2010, p. 145) analisa essa 
metamorfose como uma mudança estrutural e organizacional que leva a ordem 
do capital da “infância” para a “adolescência”.
Dos produtos dominantes durante a Revolução Industrial Inglesa, 
apenas a estrada de ferro continuou recebendo um notável impulso, 
ampliando-se continuamente. O ferro deixou de ser um produto indus-
trializado, para se transformar em matéria-prima para o aço. O vapor 
de água foi substituído pela eletricidade e pelo petróleo, como fonte de 
energia. A indústria química permitiu a crescente independência in-
dustrial das matérias-primas naturais. A fábrica conheceu seu apogeu 
com a introdução da linha de produção. O capital concentrou-se em es-
cala jamais imaginada. A ciência tornou-se matéria auxiliar da técnica. 
E a administração dos negócios adquiriu caráter científico (REZENDE 
FILHO, 2010, p. 145).
Na Unidade II, vimos que a introdução da 
máquina a vapor, por James Watt, propôs um 
novo mecanismo de propulsão que tinha auto-
nomia com relação à força humana ou à força 
dos animais. Até aqui não há novidade! No 
entanto, muito além da técnica per se (Revolução 
Industrial, mencionada na Unidade II), estamos 
diante de um traço notável de um capitalismo 
amadurecido. Isso porque o progresso técnico 
é um elemento do mundo econômico e, com 
a chegada da força a vapor, foram abolidos os 
limites anteriores à complexidade e tamanho da 
maquinaria e magnitude das operações que esta podia executar. Ainda assim, 
se você, caro(a) aluno(a), leu a unidade anterior, deve estar se perguntando: 
cadê a novidade?! 
Diferentes processos técnicos viabilizaram a produção comercial de aço, 
material conhecido anteriormente, mas que, até então, apresentava custo ele-
vado e qualidade insatisfatória. O quadro 3, em destaque a seguir, mostra 
alguns nomes importantes no setor produtivo da chamada Segunda Revolução 
Industrial.
A Segunda Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
109
Quadro 3 - Alguns avanços da Segunda Revolução Industrial e seus responsáveis
ALGUNS AVANÇOS DA SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E SEUS RESPONSÁVEIS 
(NO CIRCUITO DA PRODUÇÃO)
1856 - Henry Bessemer
Por sua resistência e por seu baixo custo de produção, 
o aço logo suplantou o ferro, transformando-se no me-
tal básico de confecção de instrumentos e utilitários.
1864 - Siemens-Martin
O processo de Siemens-Martin, também designado 
processo de soleira aberta, consiste em um processo 
para a obtenção de aço, idealizado pelo metalurgista 
francês Pierre Martin e desenvolvido pelo engenheiro 
e físico Wilhelm Siemens (1823-1883). Resultou da 
adaptação de um tipo de forno regenerativo a gás, 
inventado pelo irmão de Wilhelm, o também enge-
nheiro Friedrich Siemens (1826-1904), e utilizado na 
fabricação do vidro.
1873 - Gottieb Daimler
Daimler se aliou a Wilhehm Maybach, na Alemanha, e 
depois de muitas pesquisas e estudos sobre o ciclo de 
motores de quatro tempos obteve, em 1876, a primei-
ra patente européia para esse tipo de motor. Já no ano 
seguinte, esse modelo revolucionário de motor estava 
pronto e em funcionamento.
1878 - Thomas Gilchrist
Em 1878, Sidney Gilchrist Thomas e Percy Gilchrist 
inventaram o “Blaenavon Bessemer Basics” ou proces-
so de Thomas, que foi de importância mundial no pro-
cesso de licenciamento de minérios de ferro fosfórico 
para ser usado na produção de aço em massa. A escala 
de produção expandida, os produtos de ferro de 
Blaenavon e as qualificações da sua força de trabalho 
continuam a ser exportados em todo o mundo. Gran-
de “Pit” foi afundado para servir os novos trabalhos, e 
o novo assentamento de “Forgeside” foi construído. A 
população da freguesia de Blaenavon, que tinha sido 
minúscula antes da siderurgia ser construída, tinha 
crescido para 11.452, em 1891. 
1880 - Gottieb Daimler 
e Karl Benz
Ambos nascidos na Alemanha, Daimler e Benz desen-
volveram o automóvel em paralelo, sem nenhuma 
influência de um invento sobre o outro.
Fonte: adaptado de Peinado e Graeml (2007).
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E110
O aço substituiu o ferro em várias utilizações, como na construção civil, em tri-
lhos, em máquinas etc. A proporção dessa mudança implicou, conforme Rezende 
Filho (2010), em um aumento da produção de aço, entre 1880 e 1913, em quinze 
vezes na Alemanha e mais de dezessete vezes nos Estados Unidos, e, nesse caso, 
a Grã-Bretanha perdeu a liderança.
A Segunda Revolução Industrial modificou o dia a dia das pessoas à medida 
que bens de consumo, como telefone, gramofone, lâmpada elétrica, bicicleta, pneus, 
máquina de escrever, radiotelegrafia, entre outros, foram se tornando importantes. 
Com o dinamismo econômico oriundo dessas invenções, o tempo foi revelando 
que esses bens passaram a ser imprescindíveis na satisfação material da sociedade. 
No que tange ao campo da energia, a substituição do vapor pela eletrici-
dade e pelo petróleo representou avanço sem precedentes. Cabe, aqui, a ênfase 
na transformação que a indústria química ocasionou na época. A partir de sua 
instalação, as matérias-primas puderam ser produzidas artificial e sinteticamente, 
tornando o homem independente da natureza. 
Países que não possuem jazidas de determinados produtos, ou cuja condi-
ção geoclimática não permite o cultivo de plantas tintoriais, podem agora, 
graças à indústria química, criar esses produtos artificialmente. Anilinas, 
ácidos, tecidos e corantes sintéticos, alcalóides, explosivos, essências, me-
dicamentos e plásticos são produzidos em grandes volumes, por essa nova 
indústria que ‘imita a natureza’ (REZENDE FILHO, 2010, p. 147).
Em certa medida, a revolução da técnica adquiriu até um ímpeto cumulativo próprio, 
em que cada avanço da máquina tendia a trazer, em consequência, uma especializa-
ção maior das unidades da equipe humana que a operava. E a divisão do trabalho, 
simplificando os movimentos individuais, facilitava ainda outras invenções, pelas 
quais esses movimentos simplificados eram imitados por uma máquina (IORI, 2014).
A modificação da vida das pessoas, a partir da Segunda Revolução Industrial, 
com a introdução de novos bens de consumo é, em parte, explicativa em relação 
às mudanças profundas na organização do sistema econômico, principalmente 
na dimensão temporal dos anos 1870-1913. Outro elemento fundamental a 
ser reconhecido é a concentração de capital. Rezende Filho (2010)atribui ao 
aparecimento da indústria química e a adoção da linha de montagem como pro-
vocadores de uma das principais características da Segunda Revolução Industrial: 
a mudança na composição do capital.
A Segunda Revolução Industrial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
111
Para que as grandes empresas se consolidassem eram necessários (e são até 
hoje) grandes aportes de capital. Nesse contexto, as novas indústrias encontra-
ram no setor bancário seu ponto de apoio. Os custos envolvidos na implantação 
das indústrias químicas e das empresas com linha de montagem envolviam um 
longo tempo necessário para retorno do investimento. De tal forma, prolifera-
ram as sociedades anônimas com a associação de capitais. 
Destarte, as duas últimas décadas do século XIX encontram nos bancos o 
exercício do controle majoritário sobre vastos complexos industriais, sem terem 
vínculos diretos com as atividades produtivas. A esse novo tipo de empresa capi-
talista, denominado holding, soma-se também outra alteração na composição 
do capital, que tende a se tornar cada vez mais monopolista.
A essa tendência cumulativa, juntaram-se duas outras: a primeira no sentido 
de uma produtividade crescente da força de trabalho e, portanto (dada a esta-
bilidade ou, pelo menos, a nenhum aumento comparável de salários reais), um 
fundo cada vez maior de mais-valia, do qual se derivava uma nova acumulação 
de capital; a segunda no sentido de uma concentração cada vez maior da pro-
dução e da propriedade do capital. Esta última tendência, filha da complexidade 
crescente do equipamento técnico, é que preparou terreno para outra transfor-
mação crucial na estrutura da indústria capitalista e gerou o “capitalismo de 
corporação” monopolista em grande escala da era atual (DOBB, 1980, p. 270).
A Segunda revolução industrial foi acompanhada por uma tentativa de racio-
nalizar a produção para aumentar a produtividade. Dessa forma, as empresas 
passaram a adotar métodos científicos na organização do trabalho dentro da 
fábrica, como o taylorismo-fordismo. De maneira muito sucinta, essa metodo-
logia visava, acima de tudo, ao maior controle sobre o operariado, pois interferia 
diretamente no tempo de trabalho e na forma de organização. Um ritmo intenso 
de trabalho que resulta na competitividade entre os trabalhadores. 
As mudanças introduzidas por Taylor e Ford, simbolizadas, respectiva-
mente, no cronômetro e na esteira rolante, não foram meras inovações 
tecnológicas, mas verdadeiras revoluções de ordem administrativa e 
gerencial, pois colocou “a ciência da administração a serviço não do 
aumento da produção e da produtividade, mas sim do poder dos capi-
talistas [...]” (SECCO, 1998, p. 55 apud CURSO NACIONAL, [2018], 
on-line).
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E112
As novas técnicas e fontes de energia, bem como os novos materiais e novos bens 
de consumo caracterizados pela Segunda revolução industrial, paralelamente à 
concentração do capital, foram a base para o surgimento e consolidação de gran-
des empresas. Precisamente dentro do período 1870-1913 ocorreram mudanças 
fundamentais no capitalismo que entendemos ser importante contextualizá-las, 
o que se dará na sequência.
UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO 
CAPITALISMO E SEU ALARGAMENTO GEOGRÁFICO
O capitalismo, ao longo de sua existência, apresentou como constitutivos ele-
mentares a mobilidade e a transformação. Em outras palavras, o sistema se 
movimentou (movimenta-se) e se transformou (transforma-se), graças ao rápido 
e intenso desenvolvimento de forças produtivas que é a sua marca. 
No curso do capitalismo, o estágio inicial é representado pelo grupo social 
dos comerciantes/mercadores. Nesse movimento, os grupos mercantis acumu-
laram grandes capitais comerciais (Unidade I). Na segunda metade do século 
XVIII, o capitalismo ingressa em um novo estágio evolutivo. Esse caminho está 
estreitamente relacionado com mudanças políticas e técnicas, organizando a 
produção por meio da grande indústria que, conforme Netto e Braz (2012), foi 
um processo que culminou na subsunção real do trabalho. Se tomarmos como 
base, a partir de 1780 temos a configuração do estágio do capitalismo conhecido 
por capitalismo concorrencial (também chamado de “liberal” ou “clássico”), que 
perdurou até o último terço do século XIX. Essa distância temporal, de cerca de 
cem anos, consolidou o capitalismo nos principais países da Europa Ocidental.
O capitalismo concorrencial, sustentado pela grande indústria, criou o mer-
cado mundial: os países mais avançados (lembre-se que a liderança estava com a 
Inglaterra nesse período) buscaram matérias-primas nos rincões mais afastados 
do globo e inundaram todas as latitudes com as suas mercadorias, produzidas em 
Uma Breve Contextualização Histórica do Capitalismo e seu Alargamento Geográfico
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
113
larga escala. Lobo (1973) considera que, nos fins do século XIX, poucas eram as 
nações ocidentais que não adotaram o regime representativo e que, talvez, não 
existia nenhuma em que a legislação não favorecesse amplamente a livre con-
corrência, base e condição do capitalismo liberal.
A produção e a distribuição de riquezas, por todo o planeta, passaram a depen-
der estreitamente do que se sabe e se providencia nas concentrações comerciais 
mais ricas e nas regiões mais aparelhadas. Com isso, firmou-se um dos aspectos 
que caracterizam a era capitalista, a saber: o mercado mundial, isto é, a interde-
pendência e o profundo entrosamento de todos os mercados, com predomínio 
de organizações bem estruturadas de âmbito internacional e das nações mais 
desenvolvidas.
O alargamento da base geográfica da economia mundial se dá na fase mono-
polista, demonstrando a expansão das relações capitalistas para novas áreas do 
globo na Europa, América do Norte e Japão. O poderio da Inglaterra se desva-
neceu como uma potência capitalista. O cenário internacional do capitalismo se 
revelou pela conquista da hegemonia dos grandes grupos econômicos em seus 
respectivos Estados. Daí um elemento contraditório que é o protecionismo, visto 
que países como Estados Unidos, Alemanha e Japão, por exemplo, passaram a 
adotar política interna, garantindo a expansão de suas relações comerciais.
Neste período, firmaram-se no cenário internacional do capitalismo, 
como novas grandes potências a ameaçar e a efetivamente provocar 
danos ao poderio imperialista inglês, os Estados Unidos, após a Guer-
ra de Secessão, a Alemanha, findas as lutas pela unificação, e o Japão, 
após a chamada Revolução Meiji, processos históricos estes responsá-
veis pela conquista da hegemonia dos grandes grupos econômicos ca-
pitalistas em seus respectivos Estados, levando tais países a adotarem 
internamente uma política econômica homogênea em todo o território 
nacional, que garantia a expansão das relações capitalistas já na fase 
monopolista da produção (CURSO NACIONAL, [2018], on-line).
Aprendemos, na unidade anterior, que os processos revolucionários da história 
do capitalismo estiveram sempre associados a um crescimento demográfico e 
um aumento no volume anual de bens e serviços produzidos. No processo das 
disputas imperialistas, contados a partir de 1870, esse elemento também esteve 
presente paralelamente à significativa transformação na forma de organização da 
empresa capitalista como consequência do processo de concentraçãode capital. 
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E114
Você aprenderá mais sobre isso no próximo tópico, mas podemos adiantar que 
o retraimento do mercado de livre concorrência deu origem a diferentes tipos 
de concentração e integração de empresas, tais como: consórcios, cartéis, trus-
tes e holdings. 
De forma ampla, a figura 1 nos apresenta o cenário da organização do capital.
Concorrência 
desenfreada entre as 
empresas, associada às 
crises sucessivas e à 
pressão por melhores 
salários e condições de 
trabalho exercida pelo 
crescente movimento 
operário
Absorção ou 
eliminação das 
indústrias pelas 
suas concorrentes 
mais fortes ou 
hábeis.
Monopolização 
e oligopolização 
do capital.
A concentração e a centralização 
do capital eram sinônimos de uma 
acumulação capitalista operada 
com um número cada vez menor 
de detentores de capital, 
resultando, ao mesmo tempo, na 
diminuição do número de 
empresas e no aumento do 
tamanho médio das suas plantas.
Figura 1 - Cenário da organização do capital
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010).
Para que possamos entender melhor esse movimento capitalista o tópico a seguir 
abordará de forma sistemática o tema do capital monopolista.
O CAPITAL MONOPOLISTA
A história dos monopólios é caracterizada principalmente por três fases temporais: 
considera os anos de 1800-1880 como ponto culminante do desenvolvimento da 
livre concorrência, em que os monopólios são “embriões” dificilmente perceptíveis; 
O Capital Monopolista
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
115
após a crise de 1873, apresenta-se o desenvolvimento dos cartéis, em que pese, 
de forma excepcional, com caráter transitório; por fim, a expansão do fim do 
século XIX e crise de 1900-1903, quando os cartéis se tornaram uma das bases 
de toda a vida econômica, “O capitalismo se transformou em imperialismo” 
(LÊNIN, 1982, p. 22).
Desde as últimas décadas do século XIX, o capitalismo vivenciou profun-
das transformações, entrando no que Lênin designou como “fase superior”, o 
imperialismo. A fase superior do capitalismo se caracteriza por uma série de 
peculiaridades que, só tomadas em conjunto, podem dar a compreensão da essên-
cia do imperialismo. O sistema capitalista potencializou sua expansão face à sua 
capacidade de aliar crescentemente a mais-valia absoluta e relativa. O acentuado 
processo de concentração e centralização do capital favoreceu o surgimento da 
grande empresa e da estrutura oligopólica que iria tornar rígidos os mecanis-
mos de funcionamento dos mercados (MATTOSO, 1993).
A propriedade capitalista sobre os meios de produção e, como consequên-
cia, a classe dos trabalhadores assalariados são elementos já reconhecidos por 
nós como constitutivos da base econômica da sociedade burguesa. No entanto, 
o imperialismo se apresenta como uma fase qualitativamente nova da forma 
socioeconômica capitalista. Para Lênin (1982), a definição de imperialismo, 
grosso modo, está associada à fase monopolista do capitalismo. Trata-se de uma 
transformação pelo capital sobre as formas da propriedade e do modo de explo-
ração do trabalho. O motivo dessa metamorfose é, principalmente, o progresso 
da ciência e da técnica.
O que mudou na transição do capitalismo de livre concorrência ao imperia-
lismo clássico foi a articulação específica das relações de produção e troca entre 
os países metropolitanos e as nações subdesenvolvidas. Iori (2014) nos apresenta 
que a dominação do capital estrangeiro sobre a acumulação local de capital, na 
maioria das vezes associada à dominação política, passou a submeter o desenvol-
vimento econômico local aos interesses da burguesia nos países metropolitanos. 
Não era mais a ‘artilharia leve’ de mercadorias baratas que agora bombardeava 
os países subdesenvolvidos, mas a ‘artilharia pesada’ do controle das reservas de 
capital (MANDEL, 1982, p. 37).
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E116
Paralelamente à industrialização nos países mais avançados economicamente, 
encontrava-se a abertura comercial das áreas subdesenvolvidas que modifica-
ram o mundo do final do século XIX em diante. A futura Alemanha, unificada 
em 1871, e os Estados Unidos logo se tornaram economias industriais compa-
ráveis à Inglaterra, 
abrindo áreas como pradarias norte-americanas, os pampas sul-ame-
ricanos e as estepes da Rússia para a agricultura, quebrando com es-
quadras de guerra a objeção da China e do Japão ao comércio exterior. 
Criavam-se, assim, as condições para a formação de economias depen-
dentes do capital monopolista, dedicadas centralmente à exportação de 
produtos minerais e agrícolas (CURSO NACIONAL, [2018], on-line). 
A partir do desenvolvimento desigual, da acumulação de capital, da composição 
orgânica do capital, da taxa de mais valia e da produtividade do trabalho, conside-
rada em escala mundial, forma-se a imagem de um sistema imperialista, conforme 
Mandel (1982). Devido à dinâmica do desenvolvimento do capitalismo de livre 
concorrência em seu auge, caracteriza-se uma fase particular do capitalismo.
A sofisticação tecnológica foi particularmente relevante, pois somente as 
fábricas de grande porte se beneficiaram dos mais novos e eficientes métodos 
de produção. Como consequência, a concorrência foi eliminando as empresas 
menores. Um caminho possível (e efetivo) pelos concorrentes mais poderosos, 
em vez de exterminar uns aos outros, era a formação de cartéis, trustes ou a fusão 
para assegurar sobrevivência. 
A era de ouro do capitalismo de livre concorrência foi caracterizada pela 
vertiginosa amplificação econômica em toda a Europa. Assim como pelo 
fortalecimento da ordem burguesa nos principais Estados europeus. A pau-
ta das exportações, significativa participação dos bens de capital ingleses, 
apresentava uma estatística de acréscimo de 11% para 22%, como os produ-
tos carvão, ferro e aço que experimentaram crescimento considerável. Entre 
1830 e 1850, a Inglaterra viveu a fase do boom ferroviário quando foram 
construídos cerca de dez mil quilômetros de estradas de ferro, provocando 
aumento vertiginoso na produção e no consumo de ferro, aço e carvão.
Fonte: adaptado de Beaud (1987).
O Capital Monopolista
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
117
Dentro dessa abordagem, é fundamental apresentar que o século XX marca o 
ponto de partida de mudança em que o antigo capitalismo deu lugar ao novo 
e que o domínio do capital financeiro substitui o domínio do capital em geral. 
O processo que direcionou a livre concorrência para a concentração e 
centralização de capitais ocorreu tanto nas empresas industriais quanto nos 
bancos. As pequenas instituições financeiras foram se integrando em fortes 
corporações financeiras. Isso gerou impacto no capital industrial, o qual pre-
cisou se associar com o capital bancário, diante da necessidade de créditos e 
também objetivando a formação de sociedades anônimas por ações. Temos, 
aqui, o formato do capital financeiro, que passava a influir diretamente na 
vida das empresas.
comprando e vendendo ações, promovendo fusões e associações entre 
os grupos empresariais e influenciando, junto aos Estados, nas diretri-
zes das políticas econômicas adotadas. A fusão do capital bancário – 
antes tipicamenteum capital usurário, voltado a conceder empréstimos 
para financiamentos – com o capital produtivo, propicia grande desen-
volvimento do sistema de crédito, o que vem também a favorecer de 
forma extraordinária a exportação do capital-dinheiro em larga escala 
(CURSO NACIONAL, [2018], on-line). 
Em outras palavras, os bancos passaram a representar não mais um mero inter-
mediário (figurante) do sistema, mas, sim, um capitalista detentor de capital 
industrial. E a sociedade anônima, por ações ou corporação, revelou-se um cami-
nho eficaz que proporcionava, a uma organização financeira, assumir controle 
sobre vultosas quantidades de capital. 
Os cartéis caracterizam acordos sobre as condições de venda, trocas, etc. 
Repartem os mercados entre si. Determinam a quantidade dos produtos a 
fabricar. Fixam os preços. Os trustes referem-se à estrutura empresarial em 
que várias empresas, que já detêm a maior parte de um mercado, se ajustam 
ou se fundem para assegurar o controle, estabelecendo preços altos para 
obter maior margem de lucro.
Fonte: adaptado de Lênin (1982).
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E118
A combinação de concentração econômica e racionalização empresa-
rial ou, na terminologia americana que agora começa a definir estilos 
globais, ‘trustes’ e ‘administração científica’. Ambos eram tentativas de 
ampliar as margens de lucro, comprimidos pela concorrência e pela 
queda de preços (MANDEL, 1982, p. 232).
Com a passagem para o capitalismo monopolista, concretiza-se a plena expan-
são da interligação capitalista no campo. A Europa continental já sentia que a 
antiga estrutura pré-capitalista, pautada no atendimento às necessidades de con-
sumo dos produtores, estava convergindo para a produção de mercadorias. O 
objetivo é o lucro. Essa é a essência do sistema. E a produção passa a ter como 
foco a realização e a multiplicação dessa vantagem comercial.
Com a acumulação do capital e o desenvolvimento das forças produtivas, esti-
mulada pela concorrência intercapitalista, ampliou-se a massa de riqueza nas mãos 
do capitalista e deu-se o processo de concentração de capital. Esse processo acu-
mulativo estimula e, ao mesmo tempo, é estimulado por inovações tecnológicas na 
medida em que estas permitem aos capitalistas a redução dos seus custos. Netto e 
Braz (2012) sugerem que a inovação é um recurso do capitalista na concorrência 
com seus pares. Propositadamente, a dinâmica da acumulação e do desenvolvi-
mento tecnológico está intimamente relacionada à elevação orgânica do capital.
Grandes massas de capital são capazes de implementar empreendimentos que 
envolvem elevada composição orgânica de capital. Destarte, a tendência do capi-
tal, em seu movimento, diga-se excludente, é de concentrar-se. A forma utilizada 
é redundante na ousadia de ser objetiva: mais capital é necessário para produzir 
mais mais-valia. Assim, os grandes capitalistas acumulam uma massa de capi-
tal cada vez maior. Isso é capitalismo, magis do latim, mais, mais e sempre mais.
A centralização do capital é outra tendência da dinâmica da acumulação 
capitalista. Trata-se do aumento do capital pela fusão de vários outros capitais. 
Realiza-se pela união de capitais já existentes. Expressa-se pelos cartéis, trustes 
e a formação de holdings. 
Costa (1986) define o agrupamento de monopólios, que produz mercadorias 
semelhantes, como cartel. Os proprietários desses monopólios estabelecem entre si 
um acordo de preços, a partir de um patamar mínimo, partilham os mercados de 
venda, determinando as condições de contratação de força de trabalho etc. O obje-
tivo é o lucro máximo para cada componente, mantida a independência de produção 
O Capital Monopolista
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
119
e comercialização das mercadorias. Para o autor, os trustes, ao contrário dos cartéis, 
perdem a independência da produção e comercialização das mercadorias, passando 
a obedecer uma direção única, uma companhia especial, a holding. Os donos das 
empresas, que aderirem ao truste, convertem-se em acionistas deste, com direitos 
proporcionais ao capital investido. As grandes possibilidades financeiras permitem 
ao truste criar empresas industriais gigantescas que asseguram o monopólio da pro-
dução em todas as fases. Um exemplo atual de holding é a Itaúsa – Investimentos 
S. A. que, até a finalização desse trabalho, controlava empresas atuantes em diver-
sas áreas como os setores financeiros, indústrias de química, eletrônica, painéis de 
madeira, louças e metais sanitários.
Concentração e centralização, operando em conjunto, promovem os mono-
pólios. Isso se dá tanto no âmbito da produção industrial quanto nos setores 
bancário e comercial. O setor bancário, de forma mais intensa do que no comércio, 
responde pela constituição de um número reduzido de poderosíssimos banqueiros. 
A relação entre os bancos e a indústria passou a apresentar um estreita-
mento, provocado pelo acirramento da concorrência intercapitalista. O crédito 
de capital passava a ser utilizado como poderosa arma na luta pela eliminação de 
concorrentes e para a centralização de capitais. O crédito que, em seus começos, 
deslizava-se e, recatadamente, insinuava-se como tímido auxiliar da acumula-
ção, atraindo e aglutinando em mãos de capitalistas individuais ou associados, 
por meio de uma rede de fios invisíveis. O dinheiro disseminado em grandes ou 
pequenas massas pela superfície da sociedade, logo se revela como uma arma 
nova e temível no campo de batalha da concorrência e termina por se converter 
em um gigantesco mecanismo social de centralização de capitais (IORI, 2014).
O resultado de foi uma alteração no impulso principal da tendência capita-
lista à expansão: a exportação de bens de consumo para regiões pré-capitalistas 
deu lugar à exportação de capitais (e de artigos comprados com esses capitais, 
especialmente vias férreas, locomotivas e instalações portuárias, isto é, aparelha-
mento infra-estrutural para simplificar e baratear a exportação de matérias-primas 
produzidas com o capital metropolitano). Pari passu, a concentração cada vez 
maior do capital e a compreensão desse processo de crise, fruto do próprio cres-
cimento estrutural do sistema, apresenta-se como o que Lênin (1982, p. 641) 
chamou de “capitalismo monopolista”.
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E120
Nessa circunstância, generaliza-se a formação da sociedade por ações que 
passariam a ser a forma dominante de organização das empresas nas áreas dos 
bancos, da indústria, da mineração, dos transportes etc. Assim, as empresas indi-
viduais ou adotavam essa forma de organização ou iam sendo eliminadas na luta 
intercapitalista. Conforme Oliveira (2003), nesse processo de centralização de 
capitais, de fusões, combinações, entre outros, os bancos passavam a assumir 
um papel central, dada a sua posição estratégica de monopolizadores de crédito. 
Essa noção é fundamental para o entendimento dos assuntos que estão por vir.
O processo de centralização de capitais permitia exigia o surgimento de plan-
tas produtivas gigantescas. A disponibilidade concentrada de crédito de capital 
era condição para que as escalas de produção pudessem crescer celeremente e, 
por sua vez, as enormes plantas produtivas que surgiam, constituíam poderosa 
arma para centralização de capitais, pois, com suas economias de escala, podiam 
liquidar as empresas menores. O progressivo aumento das escalas de produção 
exigiamgigantescos montantes de capitais centralizados para que novos inves-
timentos pudessem ser realizados e, desse modo, começava a tornar remota a 
possibilidade da formação de novos capitais individuais que concorressem com 
os capitais já em função (IORI, 2014).
Esses fenômenos, aos quais às vezes nos referimos como a Segunda Revolução 
Industrial, já detalhado anteriormente, eram parte integrante da guinada de um 
capitalismo caracterizado por pequenas unidades competitivas para outro, em 
que a cena industrial e financeira é dominada por grandes concentrações de 
poderio econômico (MAGDOFF, 1978, p. 27).
A referência à Segunda Revolução Industrial, por parte de Magdoff (1978), 
foi com base no desenvolvimento tecnológico e industrial que poucos países 
alcançaram, como os EUA, Japão e Alemanha. Desses países, o que apresentou 
a mais rápida monopolização das indústrias foi os EUA. Até 1870, a indús-
tria Norte-Americana processava produtos agrícolas por meio de pequenas 
empresas que compravam matéria-prima local e na mesma região vendiam sua 
produção. Com o desenvolvimento da tecnologia, no final do século XIX, os 
grandes negócios foram incorporados na indústria e no comércio, concentrando 
o capital nas mãos de corporações que cresceram pela junção de várias empre-
sas menores. Essas corporações passaram a utilizar redes próprias para venda 
Imperialismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
121
e marketing, elevando muito o ganho, possibilitando a aquisição das fontes de 
matérias-primas. Segundo o autor, “a economia dos negócios tornara-se indus-
trial. As indústrias mais importantes eram dominadas por algumas fi rmas que 
se haviam tornado imensas empresas centralizadas e verticalmente “integradas” 
(MAGDOFF, 1978, p. 29).
O processo de monopolização do capital não avançava na mesma velocidade 
e intensidade nos diferentes países já industrializados. Na Alemanha, os mono-
pólios, bem como as diversas formas de associação industrial, difundiram-se 
mais rapidamente do que nos outros países europeus, e os cartéis foram o prin-
cipal tipo de associação, chegando a monopolizar, no início do século XX, todos 
os setores importantes da economia. Conforme Beaud (1987, p. 72),
a indústria química foi dominada pelos sucessores do consórcio I. G. 
Farbenindustrie; na indústria de construções mecânicas, houve o do-
mínio dos consórcios Mannesmann e Klöckner; na produção de aço, 
dos trustes Flick,Th yssen e outros. Na indústria de guerra, pontifi cou 
o consórcio metalúrgico Vickers; na indústria química, o truste quími-
co Imperial Chemical Industries e,no monopólio do petróleo, a Royal 
Dutch-Shell. Os grandes monopólios detinham, igualmente, o predo-
mínio nas fi nanças e no comércio.
IMPERIALISMO
A noção de imperialismo, conforme Saes 
e Saes (2013), apareceu no século XIX 
em conexão com a expansão territorial 
das principais potências europeias e, em 
especial, com o chamado neocolonia-
lismo: o amplo movimento de conquista 
e criação de colônias em vastas áreas do 
mundo, sobretudo na África e Ásia, no 
fi nal do século. Fonte: Wikimedia Commons ([2018], on-line)¹.
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E122
O termo Imperialismo se fortaleceu no desfecho do século XIX. A constitui-
ção de impérios era a política que predominava como ação de várias potências 
europeias (e ainda dos Estados Unidos e Japão). Destarte, o modo de expressar 
essa política colonial, consoante à forma de análises dessa realidade de forma 
crítica, constitui-se em Imperialismo. Nas palavras de Saes e Saes (2013, p. 294), 
assim, as noções de império e Imperialismo ficaram associadas à do-
minação que um Estado exerce sobre outro Estado ou nação. Por isso, 
o imperialismo foi identificado, antes de mais nada, com a expansão 
colonial do final do século XIX. 
Uma síntese dos principais domínios coloniais e de sua abrangência pode ser 
visualizada no Quadro 4 a seguir.
Quadro 4 - Impérios coloniais do mundo - 1914
NÚMERO DE 
COLÔNIAS
SUPERFICÍE 
(MIL KM2)
SUPERFÍCIE 
(MIL KM2)
POPULAÇÃO 
(MILHARES)
POPULAÇÃO 
(MILHARES)
Metrópoles Colônias Metrópoles Colônias
Reino 
Unido 55 310 30.901 46.053 391.583
França 29 532 10.550 30.602 62.350
Alemanha 10 536 3.158 64.926 13.075
Bélgica 1 28 2.335 7.571 15.000
Portugal 8 90 2.063 5.960 9.680
Holanda 8 33 1.957 6.102 37.410
Itália 4 285 1.516 32.239 1.396
EUA 6 7.766 323 98.781 10.021
Fonte: Friedlander e Oser (1957 apud SAES; SAES, 2013, p. 296).
Para Lênin, revolucionário e chefe de Estado Russo, o Imperialismo não se 
caracteriza apenas como a formação de impérios (por meio de conquistas 
de colônias), e sim como um novo e peculiar estágio de desenvolvimento 
do capitalismo.
Fonte: Saes e Saes (2013, p. 84).
Imperialismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
123
Saes e Saes (2013) nos apresentam que a grande potência colonial era a Inglaterra, 
que englobava tipos variados de territórios: se a Índia era a ‘jóia da coroa’ 
(somando grande área e população), as colônias ‘brancas’, mas semi-indepen-
dentes, como Canadá, Austrália e Nova Zelândia, contavam com a enorme área 
do império colonial britânico. A França, como a Grã-Bretanha, controlava um 
território colonial muito maior do que o da metrópole, abrigando uma popula-
ção também bastante superior. Já os extensos territórios coloniais alemães não 
comportavam população tão densa. A Bélgica, cujo território metropolitano 
é muito limitado, tinha em sua única colônia, o Congo, área muito superior à 
área da metrópole e o dobro da população metropolitana. A Holanda mantivera 
colônias bastante populosas na região asiática. Já Portugal tinha na África, em 
específico Angola e Moçambique, suas principais áreas coloniais. A Itália teve 
uma aventura colonial de pouco sucesso. E para os Estados Unidos, a área colo-
nial tinha reduzida expressão. 
Cabe aqui uma reflexão: quais foram as causas que teriam estimulado as 
principais nações industrializadas a promoverem a anexação de amplos terri-
tórios ultramarinos?
Nos países colonizadores foram apresentadas, à época, algumas justifi-
cativas para o domínio de povos “atrasados”. Por exemplo, atribuía-se 
às nações desenvolvidas (e brancas) o dever de transmitir aos povos 
atrasados as conquistas da civilização europeia. Sob uma aparência hu-
manitária, estava implícito nesse “dever” a noção de que as raças bran-
cas (europeias) deveriam dominar os povos “atrasados” em razão de 
sua superioridade física, intelectual e cultural. Razões de ordem religio-
sa também foram levantadas: levar o cristianismo aos povos da África 
e da Ásia era uma missão a ser cumprida pelos europeus. Embora não 
se possa atribuir aos missionários uma pressão efetiva para a expansão 
colonial, é inegável que a possibilidade de ampliar sua área de ação de-
pendia da conquista de novos territórios (SAES; SAES, 2013, p. 296).
As transformações da produção industrial, nas últimas décadas do século XIX, 
criaram a necessidade de fontes de novas matérias-primas e insumos industriais, 
muitos deles encontrados nas áreas que foram objeto de colonização ou em áreas 
formalmente livres, porém fortemente ligadas às áreas industriais. Por exemplo: 
o petróleo, embora explorado na época, principalmente nos Estados Unidos e na 
Rússia, já tinha um atrativo importante nas reservas do Oriente Médio.
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDAREVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E124
Temos aqui um possível fator explicativo da ordem econômica para 
entender o Imperialismo. Consoante ao evidente desejo de vários países se 
afirmarem como potências mundiais, dava-se a emergência e a consolidação, 
no final do século XIX, dos novos países industriais em condições de com-
petir com a Grã-Bretanha. Este aspecto político do colonialismo, no final 
do século XIX, permite entender porque colônias, que tinham muito pouco 
a oferecer em termos econômicos às metrópoles, foram mantidas como tal 
por longos períodos.
Muito mais relevante era a conhecida prática de oferecer aos eleitores a 
glória, muito mais que reformas onerosas; e o que há de mais glorioso 
que conquistas de territórios exóticos e raças de pele escura, sobretu-
do quando normalmente era barato dominá-los. De forma mais geral, 
o imperialismo encorajou as massas, e, sobretudo, as potencialmente 
descontentes, a se identificarem ao Estado e à nação imperiais, outor-
gando assim, inconscientemente, ao sistema político e social represen-
tado por esse Estado justificação e legitimidade (HOBSBAWM, 1988, 
p.105-106).
A busca de campo de investimento em países independentes, porém não 
industrializados, sugere que o impulso para a expansão externa das principais 
potências industriais não se limitava à conquista de colônias. Por isso, a análise 
do Imperialismo, na perspectiva econômica, não deve se restringir ao colo-
nialismo: é importante uma visão ampliada da economia mundial do período. 
Nesse sentido, é preciso investigar as razões econômicas que, ao lado das outras 
ordens, sustentaram a expansão externa das economias industrializadas do final 
do século XIX e início do século XX.
Nesse panorama, é importante que você seja apresentado às polêmicas a res-
peito do Imperialismo entre os marxistas. Podemos citar aqui Rosa Luxemburgo e 
Lênin. Para eles, o imperialismo expressava a crescente dificuldade do capitalismo 
em manter as condições para a acumulação de capital. Para Rosa Luxemburgo, 
as contradições do desenvolvimento do capitalismo levariam, inevitavelmente, 
à sua destruição. Lênin, mais propriamente, via o Imperialismo como “capita-
lismo de transição, ou, mais propriamente, de capitalismo agonizante” (Lênin, 
1982, p. 69).
Imperialismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
125
As polêmicas em torno do Imperialismo refletem, em grande medida, em um 
momento crítico na história do capitalismo, do qual a Primeira Guerra Mundial 
é expressão notória, e no movimento socialista (veja a Leitura Complementar).
Se, de início, a noção de imperialismo se associou à criação dos Impérios 
coloniais, a seguir ganhou conotação mais ampla e polêmica, procurou rela-
cionar o impulso para a expansão das grandes potências com as características 
mais gerais de sua economia e sociedade. Nacionalismo, protecionismo, colo-
nialismo, exportação de capitais e concentração do capital são elementos que, de 
certo modo, condicionaram as relações entre as potências europeias ao fim do 
século XIX, em um ambiente de crescente conflito entre elas, o que culmina na 
deflagração da Primeira Guerra Mundial. Assunto da nossa próxima unidade. 
As duas tentativas frustradas, mas significativas de alternativa ao capitalis-
mo, foram a de Bela Kun na Hungria em 1918-19 e a revolta spartakista ale-
mã em 1919. Desde então revoluções socialistas têm ocorrido apenas em 
áreas periféricas como China em 1949, Sudeste Asiático a partir de 1954, 
Cuba em 1959, e países africanos na década de 1970.
Fonte: Rezende Filho (2010, p. 242).
A GRANDE DEPRESSÃO DO SÉCULO XIX, A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se tornou conhecido como a Grande Depressão, iniciada em 1873, caro(a) 
aluno(a), foi motivo do primeiro tópico do nosso trabalho. Trata-se de uma 
dimensão temporal que foi interrompida por surtos de recuperação e continu-
ada em meados da década de 1890. O relevante é que esse momento passou a ser 
encarado como um divisor de águas entre dois estágios do capitalismo: aquele 
inicial e vigoroso, próspero e cheio de otimismo aventureiro, e o posterior, mais 
embaraçado, hesitante e obscuro.
A possibilidade de crise no capitalismo nasce da produção desordenada e 
do fato de que a extensão do consumo, pressuposição necessária da acumulação 
capitalista, entra em contradição com outra condição, a da realização do lucro. 
Tal contradição insanável fez com que o capital buscasse compensá-la por meio 
da expansão do campo externo da produção, isto é, da ampliação constante do 
mercado.
Mesmo tendo, pois, testemunhado o efeito drástico da concorrência na redu-
ção de preços e margens de lucro, os homens de negócios mostravam simpatia 
cada maior por medidas pelas quais a concorrência pudesse ser restringida, tal 
como o mercado protegido ou privilegiado e o acordo de preços e produção. Essa 
maior preocupação com os perigos da concorrência sem barreiras veio em uma 
época na qual a crescente concentração da produção, principalmente na indús-
tria pesada, lançava os alicerces de uma centralização maior da propriedade e 
do controle da política dos negócios. Essa indústria nascente estava totalmente 
pautada nas características da chamada Segunda Revolução Industrial.
Entendemos, portanto, que os últimos 20 anos do século XIX e o começo do 
século XX foram marcados por uma preocupação que faz lembrar o mercanti-
lismo dos séculos anteriores: as esferas privilegiadas de investimento no exterior. 
Consideramos essa apreensão como uma marca distintiva de um período que 
terá como traço dominante o capitalismo maduro, impelido pela necessidade de 
encontrar novas extensões no campo de investimento.
127 
1. Os anos 1873-1896 foram caracterizados, sob o ponto de vista da história eco-
nômica, como o período da Grande Depressão. Como se manifestou esse 
processo histórico?
2. A possibilidade de transformação do capitalismo se assentou sobre uma nova 
onda de inovações tecnológicas, conhecida como Segunda Revolução Indus-
trial. Trata-se de um novo conjunto de inovações, que trouxe profundas altera-
ções ao sistema econômico _____________, mudando sua organização e es-
trutura. Uma característica muito relevante da Segunda Revolução Industrial é 
o seu caráter ____________. Visto que a _____________ tornou-se matéria au-
xiliar da técnica. E a administração dos negócios adquiriu um caráter científico. 
Ainda é necessário destacar o papel da indústria _____________ que produziu 
um forte impacto nas relações homem-natureza. Diante do texto exposto, na 
sequência preencha as lacunas com as palavras que melhor se adequam 
ao texto.
a) socialista, humanitário, intuição, petrolífera.
b) feudal, humano ciência armamentista.
c) escravista, impreciso, sabedoria, siderúrgica.
d) capitalista científico ciência química.
e) capitalista, linear, história, madeireira.
3. O capitalismo concorrencial, sustentado pela grande indústria criará o merca-
do mundial. Diante desse contexto, discorra sobre a dinâmica do alarga-
mento da base geográfica dentro do sistema capitalista.
128 
4. Concentração do capital e Segunda Revolução Industrial (novas técnicas e fon-
tes de energia, novos materiais e novos bens de consumo) foram a base para o 
surgimento e consolidação de grandes empresas, muitas delas sobrevivem até 
hoje. Sobre essa dinâmica, avalie as afirmações a seguir.
I. No período de 1870-1913 ocorreram mudanças fundamentais no capitalis-
mo, entre elas o liberalismo econômicoe a distribuição do capital no mer-
cado mundial.
II. A introdução de inovações técnicas no processo produtivo, nesse período, 
desequilibrou a relação custo de produção/preço de venda, pelo aumento 
da produtividade.
III. A concentração de capital já era visível no começo do século XIX, a Segunda 
Revolução Industrial, por sua vez, reafirma esse processo.
É correto o que se afirma em:
a) I apenas.
b) II apenas.
c) I e III apenas.
d) II e III apenas.
e) I, II e III.
5. Em um espaço de rivalidades nacionais, a ação concreta do imperialismo se 
apresenta. Discorra sobre a noção de Imperialismo.
129 
A partir de finais do século XVIII, quando a segurança da velha economia artesã teve 
seu fim por conta da Revolução Industrial, apareceram as primeiras críticas à atuação 
do então sistema capitalista. Os ataques se dirigiram principalmente à exploração que 
a ordem econômica vigente submetia as classes operárias, propondo algumas soluções 
alternativas, baseadas na “cooperação entre as classes”. 
Nesse sentido, apresentam-se aqueles que defendiam o socialismo. Vamos omitir, aqui, 
muito do que pode fazer parte dessa temática, para não corrermos o risco de adentrar na 
História do Pensamento Econômico. É necessário, contudo, apresentar os diversos tipos 
de socialismo: Socialismo utópico; Socialismo de Estado; Socialismo cristão; Anarquis-
mo; Comunismo; Revisionismo; Sindicalismo; Socialismo da guilda; Socialismo marxista.
Vamos nos deter brevemente na lógica marxista, na qual a Revolução Socialista deveria 
ocorrer onde o capitalismo fosse mais desenvolvido, onde suas contradições internas 
estivessem mais acirradas, o que na época da elaboração teórica identificava a Ingla-
terra. No entanto, a primeira revolução socialista se deu no elo mais fraco da cadeia 
capitalista, a Rússia, conforme a definição de Lênin. As implicações foram profundas em 
termos de sociedade de transição que veio a surgir.
A primeira Revolução Socialista ocorreu graças a um golpe político, em uma área 
periférica pouco industrializada - a Rússia -, houve a necessidade de se construir 
condições para o socialismo, recorrendo inclusive ao reforço de certos elemen-
tos capitalistas. Isto implicou uma readaptação teórica dos postulados marxistas, 
que passaram a ser conhecidos como marxismo - leninismo (de Lênin, nome de 
Guerra de Vladimir Ilitch Ulianov, líder do Partido Comunista Russo de 1917 a 
1924) (REZENDE FILHO, 2010, p. 243).
Tratar de História Econômica Geral é o trabalho constante de entender como os homens 
se organizaram materialmente ao longo do tempo, isso já é sabido por nós. 
Por entender que o modo capitalista de produção se dinamiza e, também, modifica-se, 
mas que prevalece no nosso recorte temporal de estudo, é que ousamos omitir muitas 
informações importantíssimas sobre a dimensão cronológica entre 1917-1949, em que 
a Rússia (União Soviética a partir de 1922) foi o único país não capitalista do mundo. 
Foi a Primeira Guerra Mundial que levou a economia russa ao colapso, impondo-lhe uma 
demanda e ritmo que ela se mostrou incapaz de atender. A tal ponto foi a situação russa 
que foi necessário fazer concessões ao sistema capitalista, como disse Lênin “dar um 
passo para trás, para poder dar dois passos para frente”.
Nesse caminhar, vamos conhecer sobre o contexto mundial e a sua Primeira Guerra na 
próxima unidade. Por razão da nossa limitação de apresentação didática, fica o conselho 
para você, caro(a) aluno(a): busque a leitura complementar ao contexto que envolve a 
Revolução Russa e a constituição da Economia Soviética. Assista às aulas ao vivo e os 
vídeos complementares. Certamente, seu entendimento acerca do sistema capitalista 
será agregado com o conhecimento acerca dessa temática que foi chamada por Rezen-
de Filho (2010) de “alternativa ao capitalismo”. Bons estudos!
MATERIAL COMPLEMENTAR
[Imperialismo Global: teorias e consensos
Flávio Bezerra de Farias
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro critica as teorias do imperialismo global, na sua confi guração 
atual. Aborda essa experiência tanto para orientar a práxis de resistência quanto 
para encontrar uma alternativa àquela confi guração socioeconômica opressora, 
como uma totalidade concreta. O fi o condutor de uma iniciativa tão ampla e 
profunda reside em desmistifi car e superar as ideologias e as estratégias consensuais 
e integracionistas, que erigiram autoritariamente um sistema positivista e 
naturalizado diante da dinâmica de autoemancipação das massas exploradas, 
dominadas e humilhadas nos contextos nacionais, continentais e globais.
O jardineiro fi el
Ano: 2005
Sinopse: O reservado diplomata britânico Justin Quayle se muda para o Quênia 
com sua adorável jovem esposa Tessa, uma ativista pela justiça social. Quando 
Tessa é encontrada morta no deserto, as circunstâncias apontam para seu amigo, 
Dr. Arnold Bluhm, mas é logo esclarecido que ele não é o assassino. De luto e 
zangado, Justin se prepara para descobrir a verdade por trás do assassinato e, 
no processo, ele desenterra algumas revelações perturbadoras.
REFERÊNCIAS
BEAUD, M. História do Capitalismo de 1500 até nossos dias. São Paulo: Brasilien-
se, 1987.
COSTA, E. Imperialismo. São Paulo: Global, 1986.
CURSO NACIONAL de Formação Política do Partido Comunista Brasileiro. Disponível 
em: <http://www.pcb.org.br/portal/docs/historia1a.pdf> Acesso em: 12 fev. 2018.
DOBB, M. H. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
IORI, C. F. A. G. O sentido oculto do valor do trabalho e sua implicação no setor 
bancário: um estudo de caso para a cidade de Maringá-Pr e sua região metropolita-
na em 2000 a 2010. 2014. 140 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regio-
nal e Agronegócio) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Toledo, 2014. Dis-
ponível em: <http://tede.unioeste.br/handle/tede/2187>. Acesso em: 12 mar. 2018.
LÊNIN, V. I. Imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global, 1982.
LOBO, R. H. História econômica geral e do Brasil. São Paulo: Atlas, 1973.
MAGDOFF, H. A Era do Imperialismo. São Paulo: HUCITEC, 1978.
MANDEL, E. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MATTOSO, J. E. Trabalho e Desigualdade Social no final do século XX. 1993. Tese 
(Doutorado em Economia) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Cam-
pinas, Campinas, 1993.
NETTO, J.P.; BRAZ, M. Economia política: uma introdução crítica. 8 ed. São Paulo, 
Cortez, 2012. (Coleção Biblioteca Básica de Serviço Social.)
OLIVEIRA, C. A. B. Processo de industrialização: do capitalismo originário ao atra-
sado. São Paulo: UNESP; UNICAMP, 2003. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.
com.br/up000037.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2018.
PEINADO, J. GRAEML, A. R. Administração da produção: operações industriais e de 
serviços. Curitiba: UnicenP, 2007.
REZENDE FILHO, C. B. História Econômica Geral. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História econômica geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
REFERÊNCIA ON-LINE
¹Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:IMGCDB82_-_Caricatura_sobre_con-
ferencia_de_Berl%C3%ADn,_1885.jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 13 mar. 2018.
131
GABARITOGABARITO
1. Essencialmente, a manifestação da Grande Depressão foi o declínio do nível de 
preços.
2. Alternativa d.
3. Os países mais avançados (lembre-se que, nesse período, a liderança estava com 
a Inglaterra) buscaram matérias-primas nos rincões mais afastados do globo e 
inundaram todas as latitudes com as suas mercadorias produzidas em larga es-
cala. Lobo (1973) considera que ,em fins do século XIX, poucas eram as nações 
ocidentais em que não se adotara o regime representativo e, talvez, não existisse 
nenhuma em que a legislação não favorecesse amplamente a livre concorrência,base e condição do capitalismo liberal. A produção e a distribuição de riquezas, 
por todo o planeta, passaram a depender estreitamente do que se sabia e provi-
denciava nas concentrações comerciais mais ricas e nas regiões mais bem apare-
lhadas. Com isso, firmou-se um dos aspectos que caracterizam a era capitalista, a 
saber: o mercado mundial, isto é, a interdependência e o profundo entrosamen-
to de todos os mercados, com predomínio de bem estruturadas organizações de 
âmbito internacional e das nações mais desenvolvidas. O alargamento da base 
geográfica da economia mundial se deu na fase monopolista, demonstrando a 
expansão das relações capitalistas para novas áreas do globo na Europa, Améri-
ca do Norte e Japão.
4. Alternativa d.
5. A noção de imperialismo, conforme Saes e Saes (2013) apareceu no século XIX, 
em conexão com a expansão territorial das principais potências europeias e, em 
especial, com o chamado neocolonialismo: o amplo movimento de conquista 
e criação de colônias em vastas áreas do mundo, sobretudo na África e Ásia, no 
final do século.
U
N
ID
A
D
E IV
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
A PRIMEIRA GUERRA 
MUNDIAL À GRANDE 
DEPRESSÃO (1914-1933)
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer os aspectos da Primeira Guerra Mundial.
 ■ Refletir sobre os impactos do pós-guerra.
 ■ Aprender sobre o desempenho da economia na década de 1920.
 ■ Aprender sobre a queda da bolsa de 1929 e a Grande Depressão.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A Primeira Guerra Mundial
 ■ O pós-guerra
 ■ A Economia mundial e os anos 20
 ■ A Grande Depressão (1929-1933)
INTRODUÇÃO
Olá, querido(a) aluno (a). Você está lendo o material de forma sequencial? Se por 
ventura você está conhecendo a História Econômica Geral de forma a contem-
plar pontos históricos diferentes, não tem problema. Saiba que, nesta Unidade 
IV, você vai conhecer as razões de ordem econômica que levaram à Primeira 
Guerra Mundial. Se me permite um conselho, eu diria para se atentar a alguns 
elementos da Unidade III. Por quê? A eclosão desse momento de lutas está intrin-
secamente relacionada com as questões do capital monopolista.
Assim, na primeira parte desta unidade, você será apresentado às questões 
que envolvem as disputas coloniais. De modo que analisaremos a divisão da 
Europa em dois blocos opostos de grandes nações: a Grã-Bretanha vai perce-
ber que o “inimigo” que apresentava tendência expansionista era, na verdade, a 
Alemanha, e não a França e a Rússia.
Os Estados Unidos entraram na guerra em 1917, a fim de fornecer apoio 
aos aliados com reforço militar, armamentista e financeiro. Em quatro anos de 
guerra, foram os norte-americanos os beneficiários em termos econômicos. 
Muito embora você possa apreender que as vidas humanas perdidas, bem como 
a incapacitação de outras tantas, impactou não somente a natureza humana da 
sociedade, mas também em termos econômicos, diante da redução da força de 
trabalho no pós-guerra.
Ainda será motivo do nosso estudo como se comportou a economia mundial 
na década seguinte a Primeira Guerra, episódio que Hobsbawm (1995) considera 
como o primeiro evento da história em que, efetivamente, houve um conflito de 
extensão mundial. Economicamente, a Alemanha conheceu, nesse tempo, a des-
valorização da sua moeda de maneira assombrosa: o período hiperinflacionário.
Por fim, a queda da bolsa em 1929 e o sequente processo de Grande Depressão 
vieram assolar o mundo. Ficará certamente evidente que, nessa dimensão tem-
poral, o mundo já está integrado, pois a crise que começou em 1929, nos Estados 
Unidos, impacta todo o globo negativamente.
Você é meu convidado(a) especial nessa caminhada! Bons estudos!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
135
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E136
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
O nosso estudo está objetivado na atividade humana, em suas múltiplas dimen-
sões, na perspectiva da mudança ao longo do tempo. Em outras palavras, você 
está trilhando o caminho, caro(a) leitor(a), que discorre sobre os fatos sociais. 
Até aqui você já deve ter percebido que estamos “costurando” os episódios e 
formando conjuntura(s) gradativamente. Isso exige muito cuidado e dedicação, 
sobretudo neste ponto que chegamos. Concordamos com Sondhaus (2013) que 
a Primeira Guerra Mundial e o acordo de paz, que pôs fim a ela, constituíram 
uma revolução global. Foram questões além das relacionadas a fronteiras e ter-
ritórios (Imperialismo, tratado na unidade anterior). A guerra também viria 
revolucionar as relações de poder dentro das sociedades europeias.
Não podemos perder de vista que o nosso trabalho envolve a descrição de 
como os homens se esforçaram (e se esforçam) ao longo dos séculos para satisfa-
zer as necessidades materiais (conforme abordado na Unidade I). Nesse sentido, 
qual a perspectiva econômica da Primeira Guerra Mundial? Para Rezende Filho 
(2010, p. 188), embora haja uma série de motivos políticos ideológicos, que 
tenham levado as nações européias à formação de dois blocos antagônicos de 
alianças militares, as razões subjacentes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) 
foram de ordem econômica. E implicaram em um impacto no sistema capita-
lista de forma brutal. Mais especificamente, a busca agressiva por mercados de 
investimentos privilegiados e o enorme crescimento econômico da Alemanha, 
que ameaçava transformá-la na potência hegemônica europeia, forneceram as 
razões primárias para o que Rezende (2010) denomina de “guerra para uma redi-
visão de mercados em nível mundial”.
A Primeira Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
137
Você poderá ver no mapa, logo a seguir, o destaque para Belgrado, capital 
da Sérvia. Trata-se do marco da Primeira Guerra Mundial, oois, na tarde de 28 
de julho de 1914, a artilharia austro-húngara começou a bombardear Belgrado. 
Estamos diante de um momento de instabilidade política que
de todas as crises internacionais da história, nenhuma foi alvo de 
escrutínio mais meticuloso ou de maior número de análises acadê-
micas do que a crise de julho de 1914, que começou com o assas-
sinato do arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo em 28 de 
junho, e culminou em um troca de declarações de guerra entre as 
grandes potências a partir de 1º de agosto. Assim que o conflito teve 
início, os governos de cada país buscaram reunir um registro das 
maquinações diplomáticas que defendiam ou justificavam suas ações 
e colocavam a culpa em outrem: o Império Austro-Húngaro contra a 
Sérvia, a Rússia contra o Império Austro-Húngaro, a Alemanha con-
tra a Rússia, a França e a Grã-Bretanha contra a Alemanha. Por sua 
vez, os historiadores começaram a analisar a Crise de Julho enquanto 
a guerra ainda estava em andamento, desencadeando um longo de-
bate ainda em vigor, mesmo no centenário do conflito. Os volumes 
de documentos diplomáticos e os milhares de estudos publicados 
em dezenas de línguas ao longo das décadas seguintes contribuíram 
para a compreensão geral da deflagração da guerra, mas, ao mesmo 
tempo, obscureceram alguns dos elementos centrais da Crise de Ju-
lho: a guerra começou, em primeiro lugar, por causa da Sérvia, um 
pequeno e ambicioso país que até certo ponto se tornara refém de 
elementos nocivos em suas forças armadas e que, na busca de seus 
próprios objetivos nacionais,inflamou todo o continente; duas das 
potências mais fracas, Áustria-Hungria e Rússia, se comportaram 
com determinação pouco característica, enraizada em suas próprias 
dúvidas acerca de seu futuro status como grandes potências; os líde-
res austro-húngaros e alemães tinham noções incompatíveis sobre 
a guerra que desejavam – os alemães fazendo e conseguindo o que 
queriam às custas de seus aliados; e, por fim, os líderes franceses, 
embora de início não desejassem a guerra, viram a Crise de Julho se 
desdobrar de tal maneira que acabou propiciando-lhes uma guerra 
sob as circunstâncias que consideravam as mais favoráveis (SON-
DHAUS, 2013, p. 55).
Essa “narração” dos fatos contribuem para nossa dimensão histórico-geográ-
fica do momento vivido pelos europeus do início da Primeira Guerra Mundial. 
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E138
IMPÉRIO
RUSSO
AUSTRIA-
HUNGRIA
ALEMANHA
FRANÇA
GRÃ-BRETANHA
BÉLGICA
Países
bálticos
BELGRADO
Figura 1 - Belgrado, marco da Primeira Guerra Mundial
Fonte: adaptado de Sondhaus (2013).
Para Hobsbawm (1995, p. 31), a Primeira Guerra Mundial envolveu a totalidade 
das grandes potências. Isso impactou na cotidianidade de milhares de vidas. O 
fato é que, por quatro anos, as principais nações europeias se enfrentaram em 
uma guerra sem tréguas, da qual participaram também o Japão e os Estados 
Unidos, a partir de 1917. Todas as dependências coloniais se envolveram nesse 
enfrentamento que terminou com a distinção entre civis e militares, além de ter 
provocado enormes perdas humanas. Em Saes e Saes (2013) obtemos alguns 
números nesse sentido e aquilo que vai além das perdas humanas ocasionadas 
nos campos de batalha. 
A Primeira Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
139
Quadro 1 - Números da Primeira Guerra Mundial
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Aproximadamente 9 milhões entre civis e militares mortos!
Aproximadamente 7 milhões se tornaram incapacitados permanentemente.
Aproximadamente 15 milhões sofreram ferimentos de maior ou menor gravidade.
?
As mortes de civis em decorrência da guerra, embo-
ra difíceis de determinar com precisão, foram eleva-
das: vítimas do conflito militar, de fome e inanição 
ou de doenças também morreram aos milhões: 
estima-se cerca de 5 milhões para a Europa (exclu-
sive a Rússia) e um total de 16 milhões para a Rús-
sia (incluindo militares e civis envolvidos na guerra, 
na revolução e na guerra civil). Adicionando a esses 
dados, ainda, a estimativa do déficit de nascimen-
tos decorrentes da guerra. Saes e Saes atribuem à 
Aldcroft os dados em termos de perda populacio-
nal entre 1914 e 1921 (incluindo mortes e redução 
da natalidade), na ordem de 50 a 60 milhões (ALD-
CROFT, 2001, p. 6-8 apud SAES; SAES, 2013, p. 323).
Fonte: autora.
Além do sofrimento humano, economicamente é fundamental apresentar a pers-
pectiva de Rezende Filho (2010, p. 188) sobre a desorganização do comércio 
internacional. Esta provocou destruição sem precedentes, “deslocou a área cen-
tral do sistema capitalista da Europa para os Estados Unidos e causou o colapso 
dos Impérios Russo (onde se procura desde 1917 uma alternativa ao capitalismo) 
e dos multirraciais, Austro-Húngaro e Otomano”.
A Primeira Guerra Mundial foi um verdadeiro divisor de águas: o mundo 
nunca mais será o mesmo depois dela, e as raízes, tanto da depressão da dé-
cada de 1930 quanto da Segunda Guerra Mundial, podem ser encontradas 
na forma como os vencedores (notadamente da Inglaterra e França) impu-
seram a paz aos vencidos, particularmente à Alemanha.
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010).
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E140
Carlo aluno(a), as questões militares fogem ao escopo do nosso material. Contudo, 
o modo como o mundo se transformará economicamente, está totalmente vin-
culado com a Primeira Guerra Mundial. Portanto, apresentaremos de forma 
esquemática uma configuração desse marco da história econômica geral. Ao 
visualizar a figura 2, podemos observar a dinâmica da Primeira Guerra Mundial.
Primeira
Guerra Mundial
1ª fase:
Guerra de
Movimentos
2ª fase:
Guerra das
Trincheiras
Vitória dos
aliados
3ª fase: regresso
à Guerra de
Movimentos
Novo
Mapa
Político
Mundial
Conferência
de paz
Tratado de
Versalhes
Sociedade
das nações
Supremacia
americana
Figura 2 - Esquema da dinâmica da Primeira Guerra Mundial.
Fonte: adaptado de Sondhaus (2013).
A primeira fase (1914-1915) é caracterizada pela movimentação das tropas e 
expansão territorial do conflito.
A Primeira Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
141
Figura 3 - Multidão de alemães animados com a declaração da Primeira Guerra Mundial, em agosto de 
1914, em Berlim
Na segunda fase da guerra (1915-1917), a Alemanha invadiu a Bélgica e ten-
tou invadir a França. No entanto, a França conteve o avanço dos alemães com 
ajuda da Grã-Bretanha. Os alemães construíram “trincheiras” para aguardar uma 
nova oportunidade de ataque, em setembro de 1915. Na terceira fase, os Estados 
Unidos entraram na guerra após ter seus navios comerciais afundados pelos ale-
mães (1917). Além do que o país americano temia que a Inglaterra e a França 
perdessem a guerra e não pudessem pagar as dívidas assumidas. 
Na figura 3, uma fotografia alemã de Berlim, podemos observar que a alegria 
e o entusiasmo foram as marcas das manifestações nas capitais das grandes 
potências europeias, após a declaração de guerra em agosto de 1914”.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E142
Se o quadro 1 apresenta um esquema do conflito sob uma perspectiva tem-
poral a figura 4 visa demonstrar a abordagem econômica.
Primeira Guerra Mundial
Origens da 1ª
Guerra Mundial
Fortes rivalidades
internacionais
Atentado de Saravejo
(28 de junho de 2914)
Novo Mapa
Político
Fim da
Supremacia
européia
Eclosão da 1ª
Guerra Mundial
(1914-1918)
Concorrência
econômica
Intensi�cação dos
nacionalismos
Política de alianças
•Tríplice Aliança (1882)
 · Alemanha;
 · Império Austro-Húngaro e a
 · Itália.
•Tríplice Entente (1904)
 · Inglaterra;
 · França e
 · Rússia.
Figura 4 - Abordagem econômica da Primeira Guerra Mundial
Fonte: autora.
O capital monopolista protagonizou em um cenário econômico anterior à Primeira 
Guerra Mundial, juntamente com os trustes e cartéis – como apresentamos na 
Unidade III – no cenário europeu dos anos 1890. Isso porque novas tecnologias 
encareceram o processo produtivo. E o Estado se tornou um aliado da inicia-
tiva privada com sua pesada intervenção na economia. Embora já saibamos 
dessa conjuntura das últimas décadas do século XIX, nessa contextualização 
podemos identificar o sentimento impregnado pelo nacionalismo e marcado 
A Primeira Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
143
pela concorrência imperialista. A figura 4 contribui para evidenciar as ori-
gens da guerra por conta da disputa de mercados, em que a Alemanhase sentiu 
ameaçada por uma coalizão de potências que teria à frente da França. O povo 
germânico, representado por Bismarck (estadista alemão, referenciado por chan-
celer de ferro) e feridos pela perda de Alsácia-Lorena, arquitetou isolar a França 
(MORAES, 2017, p. 156).
A combinação entre um vibrante nacionalismo e do darwinismo-social da época 
resultou em uma integração de ideologia de guerra em que 
a segurança da nação e sua sobrevivência não dependeriam mais de 
acordos e tratados que reintroduzissem o equilíbrio ou a estabilidade 
perdida. A segurança só seria alcançada se o outro fosse reduzido à 
impotência absoluta ou mesmo eliminado (MORAES, 2017, p. 160).
Para demonstrar a política mundial na dimensão temporal da Primeira Guerra, 
a figura 5 apresenta o mapa desse quadro institucional vigente, no qual as rela-
ções entre os países era de tensão permanente e no qual blocos de alianças vão 
se consolidando e se expandindo.
Foi no século XIX que o mundo conheceu Charles Darwin por meio da sua 
Teoria da Seleção Natural. A partir daí, temos o darwinismo (grupo social 
que dá vida ao darwinismo), Hull chama de entidade histórica, no sentido 
de ser entendida como a história de um sistema conceitual, que se desen-
volve no espaço e no tempo: os darwinistas. A complexidade e a estrutura 
do trabalho é de tamanha significância científica que propagou-se o Darwi-
nismo Social. As ideias evolucionistas aplicadas como instrumento de aná-
lise social. A partir dos princípios do social darwinismo, ganhou força uma 
teoria política fundada na ideia de que a relação entre as nações é impulsio-
nada por sua luta pela sobrevivência em um mundo de recursos limitados. 
Isso fez com que a preparação para a guerra fosse considerada o objetivo 
maior dos Estados.
Fonte: adaptado de Moraes (2013).
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E144
Figura 5 - Europa em blocos
Fonte: Moraes (2017, p. 163).
É relevante expor o crescente papel que o Estado passa a desempenhar no orde-
namento da atividade econômica nesse contexto.
Os preparativos bélicos dos diversos países envolvidos estavam prati-
camente prontos. Desde 1910 vivia-se na Europa uma situação de “paz 
armada”. Os preparativos de ordem econômica, no entanto, eram ine-
xistentes, pois pensava-se que a guerra seria de curta duração. Os alia-
dos (Inglaterra, França e Rússia) esperavam que os recursos alemães 
logo se esgotariam, enquanto estes e seus aliados (Áustria-Hungria e 
Império Otomano), apostavam em uma rápida vitória através de uma 
fulminante ofensiva contra a França. Já em fi ns de 1914, no entanto, o 
confl ito engolfara praticamente todos os continentes e transformara-se 
em uma luta econômica entre os aliados e o bloco alemão, obrigando o 
Estado a intervir na economia a fi m de assegurar alguma possibilidade 
de vitória (REZENDE FILHO, 2010, p. 189).
A paz armada pode ser entendida como o período de desenvolvimento da 
indústria bélica pelas grandes potências europeias à espera de uma guerra.
A Primeira Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
145
A maximização da produtividade por meio da mobilização de todos os fatores 
produtivos nacionais era a estratégia predominante para o que Rezende Filho 
(2010) denomina de “economia de guerra”. Sobretudo a partir de 1915, a artima-
nha utilizada pelos países aliados é sufocar o bloco alemão mediante um bloqueio 
total ao seu comércio exterior. O caminho encontrado para a retaliação alemã 
é o bloqueio da Rússia nos mares Báltico e Negro e, principalmente, impedir o 
tráfico marítimo inglês por meio da guerra submarina. Os países procuram se 
tornar autossuficientes, fazendo com que se produza uma notável aceleração na 
produção em massa, na mecanização industrial, na centralização das empresas, 
na emissão monetária e no controle do Estado sobre a economia como um todo. 
Esse impacto no comércio exterior alemão apresentou uma queda nas expor-
tações de mais de 30%, e as importações caíram além de 60% do que eram em 
1913. Apesar de seu crescente intercâmbio com os países neutros, como Holanda, 
Dinamarca, Suécia e Itália – até 1915, quando se agrupa aos aliados –, o diri-
gismo estatal é precoce. Em 1914, o país germânico efetuou uma política de 
direcionamento das matérias-primas para a indústria de armamentos, organizou 
a exploração nos territórios ocupados, incentivou a descoberta de novos méto-
dos produtivos e, principalmente, desenvolveu a utilização de substitutos para as 
matérias-primas mais raras, apoiado na enorme indústria química alemã. Harari 
(2015, p. n351) descreve com clareza esse contexto.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi submetida a um 
bloqueio e sofreu escassez severa de matérias-primas, em particular o 
salitre, um ingrediente essencial para a fabricação de pólvora e outros 
explosivos. Os depósitos mais importantes de salitre ficavam no Chile 
e na Índia; não havia nenhum na Alemanha. É verdade, o salitre podia 
ser substituído pela amônia, mas esta também era cara de se produ-
zir. Felizmente para os alemães, um de seus concidadãos, um químico 
judeu chamado Fritz Haber, havia descoberto em 1908 um processo 
para produzir amônia literalmente do ar. Quando a guerra eclodiu, os 
alemães usaram a descoberta de Haber para começar a produção in-
dustrial de explosivos usando o ar como matéria-prima. Alguns acadê-
micos acreditam que, se não fosse pela descoberta de Haber, a Alema-
nha teria sido forçada a se render muito antes de novembro de 1918. A 
descoberta rendeu a Haber (que, durante a guerra, também foi pioneiro 
no uso de gás venenoso em batalha) um prêmio Nobel em 1918. De 
química, e não da paz.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E146
O esforço de guerra, tanto alemão quanto austríaco, baseava-se totalmente em 
suas próprias indústrias e capacidade tecnológica. A Alemanha adaptou sua 
enorme indústria química e suas indústrias de engenharia para a produção de 
explosivos, propulsores, detonadores, obuses, munições e armamentos.
Os franceses e ingleses, por sua vez, viram-se obrigados a expandir suas 
indústrias bélicas, constataram que grande parte de seus recursos industriais 
estava obsoleta, além de carecer de toda uma gama de indústrias mais moder-
nas. Antes da guerra, dependiam totalmente da Alemanha quanto aos produtos 
químicos. De acordo com Rezende Filho (2010), produtos como anilinas, dro-
gas sintéticas e materiais para processamento fotográficos exemplificam essa 
relação, visto que justamente as fábricas que produziam esses produtos pode-
riam, facilmente, passar a produzir explosivos. Destarte, a Inglaterra teve de criar 
uma indústria química a partir do nada, baseada em patentes alemãs apreen-
didas. Também com relação a gêneros mais sofisticados da Segunda Revolução 
Industrial, como rolamentos, magnetos, velas de ignição, máquinas fotográfi-
cas e aparelhos ópticos, Inglaterra e França eram parcialmente dependentes de 
importações alemãs. Encontramos em Harari (2015, p. 271) sobre o “casamento” 
da ciência e da guerra para atender a ordem do sistema econômico:
Quando a Primeira Guerra Mundial se transformou em uma guerra de 
trincheiras interminável, ambos os lados convocaram cientistas para 
sair do impasse e salvar a nação. Os homens de branco atenderam o 
chamado, e dos laboratórios saiu um fluxo constante de novas superar-
mas: aeronaves de combate, gás venenoso, tanques, submarinos, me-
tralhadoras, peças de artilharia, rifles e bombascada vez mais eficazes.
Como efeito dessa necessidade material, observa-se, em relação à produção 
especializada da Suíça, Suécia e principalmente dos Estados Unidos, o elo de 
dependência cada vez maior por parte da Inglaterra e da França. Galbraith 
(1988, p.76) afirma que o próprio Ministério das Munições britânico reco-
nhece isso em duas passagens: “Durante a primeira parte de 1915, de fato, os 
fornecedores ultramarinos assumiram uma posição de maior importância, 
uma vez que o Ministério da Guerra se viu forçado a depender deles para o 
grosso dos suprimentos de obuses exigidos pela campanha de 1916”, e “A Grã-
Bretanha dependia praticamente dos Estados Unidos para obter material para 
fabricação de propulsores para uma vasta proporção de seu material explosivo. 
O Pós-Guerra
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
147
Dependia consideravelmente dos Estados Unidos para obter aço para obuses e 
outros tipos de aço para máquinas-ferramentas”. Em pouco tempo, os Estados 
Unidos assumiram um caráter de importância vital para o esforço de guerra 
dos aliados. Inverteram sua posição de tomadores de empréstimos de capital 
europeu para a posição de maiores credores da Europa e experimentaram um 
enorme impulso em sua produção industrial.
O PÓS-GUERRA
Neste ponto, caro aluno (a), você está diante de um elemento crucial na his-
tória econômica: o fato histórico, em 1917, da entrada dos Estados Unidos no 
conflito. A Europa perdera sua posição hegemônica para o país americano. Em 
novembro de 1918, marca-se a vitória da Entente, forçando os países da Aliança 
a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram de assinar o Tratado de Versalhes. 
A Alemanha sofreu grandes perdas de territórios e colônias (Alsácia-Lorena 
para a França e Prússia Ocidental e Posnânia para a Polônia), além de ter de 
ressarcir todos os danos provocados pela guerra. A contribuição de Rezende 
Filho (2010) é relevante para 
o entendimento do desen-
volvimento econômico 
mundial, pois a forma como 
esses encargos foram impos-
tos à Alemanha marcaram 
toda a trajetória econômica 
da década de 1920, sendo 
a grande responsável pelo 
mais forte abalo que o capi-
talismo sofreu: a depressão 
da década de 1930.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E148
O fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, deixou como legado uma série de 
efeitos sobre a economia mundo-capitalista, conforme a figura a seguir apresenta:
Europa perdeu sua posição hegemônica para os Estados Unidos, 
que se viam credores da incrível soma de mais de 4 bilhões de dólares.
Aldcroft, 2001, p. 6-8 apud Saes, 2013, p. 323 admite a perda total de população 
entre 1914 e 1921 (incluindo mortes e redução da natalidade) 
foi da ordem de 50 a 60 milhões.
O Japão foi um grande bene�ciário do con�ito, acumulando uma reserva em ouro 
no valor de 183 milhões de libras esterlinas. Sua produção industrial ocupou 
os mercados que os países europeus eram incapazes de suprir adequadamente.
Desorganização do comércio internacional face às enormes perdas das marinhas 
mercantes. Vários países periféricos viram-se obrigados a iniciar um processo 
incipiente de industrialização (como o Brasil, por exemplo, com ênfase nos têxteis) 
substituiva das importações.
A contribuição das colônias para o esforço de guerra aliado foi substancial, o que 
levou suas elites à convicção de que alguma forma de autogoverno seria 
nelas permitido.
A Rússia desde novembro de 1917 estava sob o governo bolchevique que 
declarou nula todas as obrigações contraídas pelos governos anteriores 
(empréstimos, �nanciamentos, etc.)
Havia uma convicção geral entre os aliados de que as 
Potências Centrais - particularmente a Alemanha -, pagariam pelos colossais danos 
que a guerra causara, a �m de restaurar a antiga prosperidade européia.
Quando o mundo procurava recobrar fôlego para se dedicar à tarefa de sua re-
construção econômica, ocorreu um surto epidêmico. Foi provocado por um ví-
rus só identificado em 1933, denominado de gripe espanhola, registrando mais 
vítimas fatais que a guerra de 1914-1918. Tendo seu auge em 1919, a epidemia 
alastrou-se pelo mundo todo, causando cerca de 27 milhões de mortes. A maio-
ria delas ocorreu na África, Índia e China, e nas regiões européias muito devas-
tadas pela guerra, que abrigavam populações carentes de alimentos e medica-
mentos, no que foi chamado com propriedade as ‘sobras da colheita da guerra’.
Fonte: Rezende Filho (2010, p. 196).
O Pós-Guerra
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
149
Europa perdeu sua posição hegemônica para os Estados Unidos, 
que se viam credores da incrível soma de mais de 4 bilhões de dólares.
Aldcroft, 2001, p. 6-8 apud Saes, 2013, p. 323 admite a perda total de população 
entre 1914 e 1921 (incluindo mortes e redução da natalidade) 
foi da ordem de 50 a 60 milhões.
O Japão foi um grande bene�ciário do con�ito, acumulando uma reserva em ouro 
no valor de 183 milhões de libras esterlinas. Sua produção industrial ocupou 
os mercados que os países europeus eram incapazes de suprir adequadamente.
Desorganização do comércio internacional face às enormes perdas das marinhas 
mercantes. Vários países periféricos viram-se obrigados a iniciar um processo 
incipiente de industrialização (como o Brasil, por exemplo, com ênfase nos têxteis) 
substituiva das importações.
A contribuição das colônias para o esforço de guerra aliado foi substancial, o que 
levou suas elites à convicção de que alguma forma de autogoverno seria 
nelas permitido.
A Rússia desde novembro de 1917 estava sob o governo bolchevique que 
declarou nula todas as obrigações contraídas pelos governos anteriores 
(empréstimos, �nanciamentos, etc.)
Havia uma convicção geral entre os aliados de que as 
Potências Centrais - particularmente a Alemanha -, pagariam pelos colossais danos 
que a guerra causara, a �m de restaurar a antiga prosperidade européia.
Figura 6 - Efeitos sobre a economia mundo-capitalista
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010). 
O limite temporal entre os anos de 1918 e 1929 são assinalados por Rezende 
Filho (2010) como o marco das mudanças estruturais pelas quais o sistema 
capitalista passava. Trata-se, para o autor, da crise sistêmica que reflete sua pas-
sagem da juventude para a idade madura. Com seu espaço geográfico reduzido, 
o capitalismo assistiu à luta de sua área central originária, a Europa, para reco-
brar sua antiga posição hegemônica sobre a economia-mundo. No entanto, o 
novo centro, os Estados Unidos, atravessava, notavelmente, um período de 
prosperidade, devido mais aos créditos acumulados no período da guerra, 
junto aos países aliados, do que a um real alargamento de seu mercado con-
sumidor interno. 
Conforme Saes e Saes (2013), o período da guerra, por concentrar a pro-
dução bélica, criou uma demanda reprimida por muitos produtos – não só os 
bens duráveis, mas também de consumo corrente, não disponíveis nos anos de 
conflito. Além disso, o financiamento da guerra se fez, ainda que em pequena 
parte, por meio de empréstimos do público aos governos – por meio dos cha-
mados bônus de guerra –, ou seja, uma parcela da população formou, durante a 
guerra, uma poupança que, ao fim, poderia ser gasta para satisfazer a demanda 
reprimida durante os anos de guerra. Assim, admite-se que uma demanda, 
represada por cerca de quatro anos, foi liberada em 1919 e gerou impulso para 
a expansãoda economia de alguns países.
Ainda para Saes e Saes (2013), o pós-guerra demarcou na Europa Ocidental 
duas fases distintas.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E150
Quadro 2 - Fases do pós-guerra
PRIMEIRA FASE
Reconstrução das sociedades em um contexto complexo de destruição física e 
humana, de desorganização do mercado mundial, de endividamento público e 
de inflação.
SEGUNDA FASE
Em meados dos anos 1920, tem-se recuperação econômica e reorganização das 
antigas estruturas econômicas. Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos 
gozavam de:
1º) grande prestígio financeiro, em função dos empréstimos para a guerra e para 
a reconstrução européia, com Nova Iorque se tornando um novo e importante 
centro financeiro;
2º) grande poder industrial, e um exemplo desse contexto foi o sensacional 
desenvolvimento da indústria automobilística, que ultrapassava de longe, em 
volume industrial, as outras potências.
Fonte: adaptado de Saes e Saes (2013).
Esse repentino crescimento da demanda teve outro forte impacto na economia: 
uma abrupta elevação dos preços, em parte potencializada por políticas monetá-
rias e fiscais expansionistas. Destarte, a tendência a elevar os preços, já presente 
durante a Primeira Guerra, acentuou-se em 1919 e 1921. Foi generalizada a infla-
ção por toda a Europa. O quadro 3, a seguir, demonstra o índice de preços para 
o consumidor entre 1914 e 1920.
Quadro 3 - Índices de preços ao consumidor (1914-1920)
1914 1918 1920
Alemanha 100 304 990
Áustria 100 1.163 5.115
Itália 100 289 467
França 100 213 371
Suécia 100 219 269
Holanda 100 162 194
Grã-Bretanha 100 200 248
Estados Unidos* 100 203 249
Fontes: Feinstein, Temin e Toniolo (1997, p. 39 apud SAES; SAES, 2013, p. 326) e Arthmar (1997, p. 94 apud 
SAES; SAES, 2013, p. 326). 
*Preços no atacado. 1913=100; 1918=jan/1919; 1920=jun/1920.
O Pós-Guerra
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
151
Se o crescimento da produção foi característico de alguns países, tais como Estados 
Unidos, Grã-Bretanha e Japão, a infl ação se generalizou por toda a Europa, ainda 
que em graus distintos.
Figura 7 - Contas da dona de casa em 1914 Figura 8 - Contas da dona de casa em 1918
Fonte: Wikimedia Commons¹ Fonte: Wikimedia Commons². 
Esse surto expansivo sofreu abrupta e profunda reversão a partir de meados de 
1920. Essa reversão foi particularmente forte nos Estados Unidos.
Recessão e defl ação intensas nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha 
atingiram outros países de forma variada. Alguns também controlaram 
a infl ação depois de 1920, promovendo mesmo alguma defl ação: foi o 
caso da Suíça, Suécia, Noruega, Dinamarca e Holanda. Outros, como 
a França e a Itália, continuaram a registrar algum grau moderado de 
infl ação. Finalmente, Alemanha, Áustria e Hungria passaram por hipe-
rinfl ações em níveis inéditos na história econômica mundial (FEINS-
TEIN; TEMIN; TONIOLO 1997, p. 39 apud SAES; SAES 2013, p. 326).
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E152
No que tange ao desempenho das economias na primeira metade dos anos 1920, 
podemos declarar que foi variado. No caso dos Estados Unidos, retomaram o 
rápido crescimento, ao passo que a Grã-Bretanha, em busca do padrão-ouro, 
manteve-se estagnada. O índice de atividade industrial, apresentado em Saes e 
Saes (2013), reflete, em grande medida, a forma pela qual os países se envolve-
ram com a Primeira Guerra: os mais afetados pela destruição e os que arcaram 
com as reparações de guerra tiveram grande dificuldade para, ainda na primeira 
metade dos anos 1920, retomarem o crescimento econômico. 
O Tratado de Versalhes, assinado em junho de 1919, definiu que as repara-
ções de guerra eram devidas pela Alemanha para os vencedores, Grã-Bretanha, 
França, Estados Unidos e Itália. 
Os objetivos dos vencedores, em síntese, eram: fortalecer os países eu-
ropeus para que não fossem levados pelo caminho da revolução russa 
(vide leitura complementar); redividir os territórios deixados em aber-
to pela queda dos grandes Impérios (Austro-Húngaro, Russo, Turco e 
Alemão); enfraquecer a Alemanha, que quase sozinha havia derrotado 
as tropas aliadas; redifinir as políticas internas dos países vitoriosos; 
e, finalmente, garantir um acordo de paz que impossibilitasse o surgi-
mento de uma nova guerra. Para tanto foi criada a “Liga das Nações”, 
que deveria agregar as principais potências mundiais a fim de solucio-
nar pacífica e democraticamente as questões diplomáticas entre os pa-
íses. Contudo, tanto o Tratado de Versalhes como a Liga das Nações 
se mostraram incapazes de instituir um equilíbrio de poder definitivo 
(SAES; SAES, 2013, p. 329).
Rompeu-se o conflito, ficaram as severas punições aos que foram vencidos. O 
Tratado entendia que a Alemanha era a culpada pela guerra e, por esse motivo, 
perdeu um total de 13,5% de seu território. Teve de entregar sua frota naval 
para a Grã-Bretanha. Foi privada de manter uma força áerea e tinha a permis-
são para um exército de apenas 100 mil homens. E, por fim, foram repassadas 
todas as dívidas de guerra. 
A Economia Mundial e os Anos 20
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
153
A ECONOMIA MUNDIAL E OS ANOS 20
Em um tratamento muito breve, vamos abordar o contexto econômico mundial 
dos anos 20. É relevante a contextualização a ser apresentada, uma vez que se 
trata do cenário da conhecida crise de 1929, a qual estudaremos adiante.
A retomada do padrão-ouro era o que Rezende Filho (2010) considera como 
primeiro problema com que a Grã-Bretanha se deparou. Na visão dos “econo-
mistas clássicos”, o retorno ao padrão-ouro era necessário para normalização 
das transações internacionais e para garantir a atuação livre dos mecanismos de 
mercado. E assim esse sistema foi restabelecido. Relacionado à moeda com las-
tro metálico estava o problema da Alemanha.
Embora em 1913 o ouro representasse apenas 10% da circulação monetária 
total, contra 83% de títulos e depósitos bancários, ele era ainda usado como 
referência básica para as taxas de câmbio. O abandono do padrão-ouro que 
as circunstâncias da guerra obrigaram, levou os preços a variarem segundo 
as condições internas de cada país e a inflação passou a depender do balan-
ço de pagamentos.
Fonte: Saes e Saes (2013, p. 328).
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E154
O país derrotado da Primeira Guerra Mundial viu sua economia arruinada por 
uma série de fatores. A enorme quantidade de títulos públicos emitidos sem las-
tro durante a guerra, aliada à perda de territórios de concentração industrial e 
de recursos naturais e a instabilidade política são fatores que representam esse 
contexto. Conforme Rezende Filho (2010), em finais de 1922, a Alemanha se 
declarou incapaz de continuar com o pagamento das reparações, o que levou a 
França, que apostava todo seu futuro econômico nos pagamentos que adviriam 
dos germânicos, a ocupar a região do Ruhr, em 1923, para que o fornecimento de 
carvão garantisse o pagamento da dívida. Os efeitos psicológicos da ocupação e 
a onda de greves dos mineiros que se seguiu, tornaram a situação insustentável. 
Em fins de 1923, entretanto, o marco é abandonadopor não valer mais nada e foi 
criado o rentenmark para substituí-lo. Em nossa sucinta análise, devemos apre-
sentar, ainda, sob a perspectiva econômica alemã, a elaboração dos Plano Dawes 
por parte de uma comissão internacional. Este estabeleceu novos valores anuais 
para o pagamento das reparações, considerando o quanto a Alemanha poderia 
pagar, e não quanto deveria pagar como culpada pela guerra. Além disso, garan-
tiu um empréstimo de 40 milhões de libras para auxiliar nesses pagamentos.
O outro pilar da economia europeia, , por seu lado, também não se com-
portava mais como no pré-guerra. A França é obrigada a manter-se pela 
força militar em suas novas áreas da Síria e Líbano, e na Indochina a 
década de 1920 pauta-se pelo renascimento do sentimento nacionalista 
vietnamita, com uma série de greves, passeatas de protestos e incipientes 
movimentos de rebeldia militar. Em 1919 o Ocidente é sacudido pelas 
manifestações chinesas contra os acordos coloniais do Tratado de Versa-
lhes e a presença do Japão em seu território. Na Índia, após o massacre de 
Amritsar em 1919, quando 379 homens, mulheres e crianças são mortos 
pelos ingleses durante manifestação pacífica, a presença inglesa não será 
mais aceita consensualmente. Surgem movimentos de aberta rebeldia 
e de resistência pacífica de Mahatma Gandhi. A Inglaterra é obrigada a 
conceder independência a seus ex-domínios do Canadá, Austrália, Nova 
Zelândia e África do Sul, graças em grande parte ao auxílio que eles lhe 
prestaram durante a guerra, reconhecendo que a ligação que mantinham 
entre si, devia-se apenas ao símbolo de uma coroa comum. E mesmo os 
países sujeitos ao imperialismo informal, vêem a presença econômica eu-
ropeia diminuir; Argentina e Brasil, por exemplo, adquirem durante os 
anos 20, 64% e 50% de suas importações na Europa, contra 80 e 60% em 
1913. Em resumo, sem o afluxo de capitais norte-americanos, a Europa é 
incapaz de aumentar tanto suas exportações como suas importações, para 
equipará-las aos níveis de pré-guerra (REZENDE FILHO, 2010, p. 201).
A Economia Mundial e os Anos 20
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
155
Os Estados Unidos, diferente da Europa, adentraram a década de 1920 como 
a maior economia industrial e financeira no mundo. Adotaram um posiciona-
mento isolacionista de um país praticamente autossuficiente. Um exemplo disso é 
a defesa por parte do partido republicano, em 1920, por uma plataforma de ações 
que dava prioridade para o mercado interno, relegando a um plano secundário 
as considerações de ordem internacional. Tanto é que o Congresso norte-ame-
ricano decidiu por não ratificar o Tratado de Versalhes. No entanto, 
[...] seu gigantismo industrial, comercial e financeiro revelou com o 
crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929, o quanto as diferentes partes 
da economia mundial estavam estreitamente conectadas com a econo-
mia norte-americana. A evolução da economia norte-americana na dé-
cada de 1920, respondeu, portanto, a esses dois determinantes: de um 
lado, o isolacionismo de sua política; de outro, o peso de sua economia 
mundial (SAES; SAES, 2013, p. 334).
Por fim, o período de 1925-1929 teve como peculiaridade sua reconstrução a partir 
do padrão-ouro, em uma fase de expansão significativa e desenvolvimento da eco-
nomia mundial e com a incorporação das transformações da Segunda Revolução 
Industrial. Aprendemos com Saes e Saes (2013) que se trata de um período de fra-
gilidade por conta da dependência mundial em relação às exportações de capital 
norte-americanas que se refletem em 1928, quando os Estados Unidos, na ten-
tativa de segurar o boom em Wall Street, elevou a taxa de juros. Para compensar 
a queda da entrada de capitais dos Estados Unidos, vários países retornaram às 
políticas protecionistas, com o objetivo de ampliar as rendas das balanças comer-
ciais. O impacto da crise de 1929 e da Grande Depressão evidenciou que as bases 
da economia mundial da década de 1920 eram frágeis e foram insuficientes para 
fazer frente aos problemas colocados pelos eventos do fim da década.
O Tratado de Paz não contém qualquer disposição orientada para a reabili-
tação econômica da Europa.
Fonte: Keynes (2002, p. 157).
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E156
A GRANDE DEPRESSÃO (1929-1933)
O período que segue à deflagração da Primeira Guerra Mundial marcou o início 
de uma série de eventos conjunturais que, somados, refletem uma fase de profun-
das rupturas na organização da economia internacional. Direta ou indiretamente, 
questionava-se, a partir da guerra, a influência política dos países imperialistas e a 
divisão geográfica do mundo entre eles e, ainda, a organização do sistema econô-
mico internacional. Para Rezende Filho (2010, p. 187), trata-se de uma dimensão 
temporal que reflete em uma crise de crescimento do sistema capitalista, no qual 
acontece sua “passagem da ‘juventude’ para a idade ‘adulta’”. 
No sistema dos Estados Unidos, otimismo e confiança eram sentimentos 
inerentes ao público em geral na época que antecedeu a queda da bolsa nova ior-
quina. Até fevereiro de 1928, aproximadamente, a alta do preço dos papéis seguiu 
assinalando o aumento dos lucros das empresas, a partir dessa dimensão tempo-
ral, conforme Rezende Filho (2010), ela foi sustentada pela onda especulativa. 
Em meados de 1928, a construção civil foi abalada por um colapso. Assim, em 4 
de dezembro de 1928, o presidente norte-americano Calvin Coolidge emitiu uma 
mensagem no intuito de restabelecer a credibilidade. Galbraith (1988, p. 3) nos 
apresenta a afirmação da autoridade americana:
nenhum Congresso deste país já se terá reunido para apreciar o estado da 
União diante de uma perspectiva mais agradável do que a que se apresen-
ta neste momento. O cenário nacional é de tranquilidade e satisfação… 
além de registrar o recorde absoluto de anos de prosperidade. O cenário 
internacional apresenta a paz e a boa vontade próprias do entendimen-
to mútuo’… Afirmava o Presidente que juntamente com o país todos os 
legisladores podiam olhar o presente com satisfação e aguardar o futuro 
com otimismo.
As frágeis bases sobre as quais se assentava a era de prosperidade norte-americana 
são ainda mais fragilizadas pela corrida especulativa, que fez, de 1923 a 1926, as 
transações na Bolsa de Nova Iorque subirem de 236 para 451 milhões de títulos, 
enquanto o preço médio de 25 títulos representativos subiu 54%. A presença dos con-
sórcios de investimentos, de grandes empresas e de bancos, atuantes no mercado de 
ações como financiadores, demonstrava a explosão de crédito que houve, no final da 
década de 1920, para ser direcionado a ganhos financeiros por meio da especulação.
A Grande Depressão (1929-1933)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
157
O dia 24 de outubro de 1929 ficou marcado na história como a “Quinta-feira 
negra”, considerado o dia decisivo para a quebra da Bolsa de Valores de Nova 
Iorque. Hobsbawm (1995, p. 91) considera que sem esse episódio
[...] com certeza não teria havido Hitler. Quase certamente não teria 
havido Roosevelt. É muito improvável que o sistema soviético tivesse 
sido encarado como um sério rival econômico e uma alternativa pos-
sível ao capitalismo mundial. As consequências da crise econômica no 
mundo não europeu ou não ocidental[...], foram patentemente impres-
sionantes. Em suma, o mundo da segunda metade do século XX é in-
compreensível se não entendermoso impacto do colapso econômico.
Esse dia marcou a história econômica. Rompeu-se as condições artificiais do 
crescimento da economia norte-americana, pois se chegou ao ponto em que os 
compradores não mais levavam em conta o valor intrínseco dos títulos, procurando 
aumentar seu patrimônio pela simples posse de ações quaisquer. Isso, naturalmente, 
supervalorizava todos os papéis. Nessas condições, mesmo as ações das empresas 
mais sólidas se encontravam megalorizadas, enquanto que as empresas de segunda 
linha haviam atingido preços injustificáveis, muito além do seu valor patrimonial 
ou de sua capacidade de remunerar, por meio de dividendos, os capitais aplicados.
A observação de Romer é extremamente pertinente nesse ponto:
pessoas que não são economistas geralmente vêem o crash da Bolsa de 
Valores de Nova York e a Grande Depressão como o mesmo evento. O 
declínio no preço das ações em outubro de 1929 e o tremendo declínio 
na produção real entre 1929 e 1933 são simplesmente vistos como parte 
do mesmo declínio cataclísmico da economia americana. Em contras-
te, muitos economistas acreditam que os dois eventos estão mais tan-
gencialmente relacionados (ROMER, 1990, p. 597 [tradução nossa]).
O impacto da depressão posterior à crise de 1929 se estendeu por longos anos, 
de maneira que o PIB norte-americano apenas recuperou o valor referente ao 
período anterior ao colapso em 1937. Os eventos identificados com a Grande 
Depressão, dessa forma, foram muito mais traumáticos e graves do que o sim-
bolismo da quebra da bolsa. 
Para aqueles que por definição, não tinham controle ou acesso aos meios 
de produção (a menos que pudessem voltar para uma família camponesa 
no interior), ou seja, os homens e mulheres contratados por salários, a con-
sequência básica da Depressão foi o desemprego em escala inimaginável e 
sem precedentes, e por mais tempo do que qualquer um já experimentara. 
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL À GRANDE DEPRESSÃO (1914-1933)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E158
No pior período da Depressão (1932-3, 22% a 23% da força de trabalho 
britânica e belga, 24% da sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31% 
da norueguesa, 32% da dinamarquesa e nada menos que 44 % da alemã não 
tinham emprego. E, o que é igualmente relevante, mesmo a recuperação 
após 1933 não reduziu o desemprego médio da década de 1930 abaixo de 
16% a 17% na Grã-Bretanha e Suécia ou 20% no resto da Escandinávia. O 
único Estado ocidental que conseguiu eliminar o desemprego foi a Alema-
nha nazista entre 1933 e 1938. Não houvera nada semelhante a essa catás-
trofe econômica na vida dos trabalhadores até onde qualquer um pudesse 
lembrar (HOBSBAWM, 1995, p. 91).
A repercussão da Grande Depressão afetou o mundo na década de 1930. Houve 
revoluções sociais, instauração de novas formas de governo e, também, criação de 
novas políticas econômicas. Tal peculiaridade transformou o crash da Bolsa de Nova 
Iorque e a depressão dele decorrente em um dos grandes temas dentre os estudos 
e os debates econômicos. 
A década de 1930 (Grande Depressão) pode ser pensada como mais um elemento 
desestabilizador no cenário de reorganização da economia mundial. Esse ínterim 
foi marcado pela permanência das incertezas herdadas da década anterior. A onda 
de falência dos bancos, nos Estados Unidos, o aumento do desemprego, a deflação 
e a crise da agricultura resultaram em um projeto global bem definido para enfren-
tar essa conjuntura: o New Deal . Outro fato que merece destaque, principalmente 
para os estudiosos da Economia, foi a publicação da obra de Keynes, Teoria geral do 
emprego do juro e da moeda, em 1936. Ousamos omitir alguns elementos importan-
tes para a História Econômica Geral, diante do convite, caro(a) aluno(a), para que 
possa conhecer obras importantes e esclarecedoras do período estudado. Galbraith, 
Keynes, Schumpeter, Berle e Means, entre outros. Por questões didáticas, encerraremos 
a Unidade IV aqui, diante da expectativa de que o cenário apresentado tenha configu-
rado a Segunda Guerra Mundial, protagonista da nossa próxima unidade. Até breve!
A partir do contexto da queda da bolsa de 1929 e a Grande Depressão, qual o 
papel do Estado na economia: um estado mais intervencionista ou mais liberal?
Considerações Finais
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
159
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hobsbawm (1995, p. 30) declarou que para os que cresceram antes de 1914, não 
havia continuidade – pós-guerra – com relação ao passado. “Paz” significava 
“antes de 1914” depois disso veio algo que não mais merecia esse ano.
É sobre esse tempo infértil que estudamos na Unidade IV. Sem fecundidade, 
pois entendemos que a vida humana tem um valor que transcende à ordem eco-
nômica. A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro evento, efetivamente, que 
envolveu todas as Grandes Potências. Milhões de mortos – a nacionalidade deles 
não tem a menor relevância –, vidas que se foram para satisfazer os anseios das 
disputas coloniais. A humanidade sobreviveu, mas nunca mais foi a mesma!
Apresentamos o cenário histórico da Primeira Guerra composto pela Tríplice 
Aliança e pela Tríplice Entente. O motivo era o de pontuar o contexto imperia-
lista vigente.
 No entanto, após a guerra, a configuração mundial mudou! Os Estados 
Unidos se beneficiam e passam a ser o novo centro da economia-mundo. Vimos 
que foi um notável período de prosperidade americana, devido aos créditos acu-
mulados no período da guerra junto aos países aliados. Contudo, revelou-se 
um crescimento artificial, uma vez que o país do Tio Sam se percebeu impossi-
bilitado de continuar a sustentar níveis de consumo interno por uma absoluta 
escassez de capitais, os quais haviam se transformado em estoques ou em inves-
timentos externos.
 Por fim, as frágeis bases sobre as quais se assentava a era de prosperidade 
norte-americana são ainda mais fragilizadas pela corrida especulativa, que fez, 
de 1923 a 1926, as transações na Bolsa de Nova Iorque subirem. A presença dos 
consórcios de investimentos, de grandes empresas e de bancos, atuando no mer-
cado de ações como financiadores, demonstrava a explosão de crédito que houve, 
no final da década de 1920, para ser direcionado a ganhos financeiros por meio 
da especulação. Em outubro de 1929, marca-se a queda da bolsa de Nova Iorque. 
E o período que sucede é de Depressão e os americanos passam a sentir sinais 
de recuperação apenas em 1937. De forma bastante generalizada, são esses os 
nossos pontos abordados nesta Unidade IV.
160 
1. Da I Guerra em diante, qualquer guerra do século XX, “envolve todos os cida-
dãos e mobiliza a maioria; é travada com armamentos que exigem um desvio 
de toda a economia para a sua produção, e são usados em quantidade inima-
gináveis; produz indizível destruição e domina e transforma absolutamente a 
vida dos países envolvidos (HOBSBAWM, 1995, p. 51).
Sobre a Primeira Guerra Mundial, avalie as afirmações a seguir.
I. Nas relações entre os Estados europeus que se envolveram na Primeira 
Guerra Mundial estão totalmente ausentes as questões relacionadas às dis-
putas por expansão colonial.
II. Em nenhum momento, as razões da Primeira Guerra Mundial estão relacio-
nadas com questões econômicas.
III. O evento que forneceu o pretexto para o início da I Guerra Mundial foi o 
assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando de Habsburgo, herdeiro 
do trono da Áustria-Hungria, em junho de 1914.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
2. Aqui temos a oportunidade de refletir sobre a Primeira Guerra Mundial. Diante 
do seu conhecimento,escreva um pequeno texto que relacione o imperia-
lismo e o contexto internacional como elementos fundamentais para o 
conflito.
3. A definição das bases para as relações entre vencedores e derrotados da Pri-
meira Guerra Mundial era um problema a ser resolvido no pós-guerra. Um dos 
Tratados de Paz foi o de Versalhes, assinado em junho de 1919. Discorra sobre 
esse importante acordo.
161 
4. Durante a guerra, ao se concentrar a produção na indústria __________, criou-
-se uma demanda reprimida por muitos produtos. Além disso, o financiamento 
da guerra se fez, ainda que em pequena parte, por meio de _____________ 
do público aos governos (por meio dos chamados bônus de guerra), ou seja, 
uma parcela da população formou, durante a guerra, uma _____________ que, 
ao fim, pode ser gasta para satisfazer a demanda reprimida durante os anos 
de guerra. Assim, admite-se que uma demanda represada por cerca de quatro 
anos foi liberada em 1919 e gerou o impulso para a ____________ da econo-
mia de alguns países. 
a) têxtil, devolução, dívida, queda.
b) têxtil, empréstimos, dívida, deflação.
c) madeireira, restituição, poupança, inflexão.
d) madeireira, empréstimos, poupança, expansão.
e) bélica, empréstimos, poupança, expansão.
5. O dia 24 de outubro de 1929 ficou marcado na história como a “Quinta-feira 
negra”, considerado o dia decisivo para a quebra da Bolsa de Valores de Nova 
Iorque. A quebra da bolsa está associada à pior crise econômica de toda a his-
tória norte-americana (SAES; SAES, 2013, p. 347).
A partir do fragmento do texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a 
relação proposta entre elas.
A crise de 1929 e a Grande Depressão dos anos 1930 não têm nenhuma cone-
xão com os eventos da década de 1920
porque
O período de 1925-1929 foi caracterizado por uma fase de expansão e desen-
volvimento da economia mundial com a incorporação das transformações da 
Segunda Revolução Industrial.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa cor-
reta da I. 
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justifica-
tiva correta da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. 
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 
e) As asserções I e II são proposições falsas.
162 
 A REVOLUÇÃO MEIJI COMO BASE PARA OCIDENTALIZAÇÃO DO JAPÃO 
O Japão desenvolveu um sistema econômico próprio, baseado na imposição de pesa-
dos encargos em espécie ao campesinato, e na existência de oficinas e manufaturas es-
tatais. Esse país viveu um rigoroso isolamento desde o século XVII tendo tido pouco rela-
cionamento com o Ocidente no período da expansão ultramarina européia. No entanto, 
em 31 de março de 1854, foi firmado o Tratado de Kanagawa. Esse acordo provocou 
uma explosão de comércio entre Japão e Estados Unidos. Diga-se de passagem, essa 
abertura, por parte da sociedade nipônica, é resultado de uma imposição representada 
pelo Comodoro Perry, um norte-americano que ancorou com sua frota na baía do Edo 
(Tóquio) com quatro grandes navios negros a vapor com os canhões em riste apontando 
para a cidade. Conforme Rezende Filho (2010), o Japão foi a única nação afro-asiática 
atingida pela nova onda colonizadora capitalista (o imperialismo) que conseguiu passar 
da área externa para a área central da economia-mundo.
Com esse impacto ocidental sobre o Japão, inaugurou-se um período marcado pela 
grande influência das pressões externas sobre o comportamento japonês. A presença 
ocidental era sentida como uma ameaça à segurança nacional e também como um estí-
mulo à transformação. Com o marco do ano de 1868, deu-se a Revolução Meiji. Esse pro-
cesso foi a base para a construção de um Estado moderno de modelo ocidental. Assim, 
encerrava-se o isolamento japonês e a existência de característica feudal em que o país 
penetrará no mundo internacional como nação moderna.
 No desejo de expandir sua esfera de influência na China e no Pacífico, o Japão declarou 
Guerra à Alemanha em agosto de 1914, aliado ao Império Britânico. Em 1918, a Alema-
nha celebrou um armistício, pondo fim a mais de quatro anos de guerra. Rezende Filho 
(2010) apresenta que os efeitos sobre a economia-mundo capitalista era patentes. Nesse 
contexto, o Japão foi um dos beneficiários. Acumulou uma reserva em ouro no valor de 
183 milhões de libras esterlinas. Apoderou-se de todas as colônias alemãs do Pacífico 
(com exceção do nordeste da Nova Guiné que foi para a Austrália). Sua produção indus-
trial ocupou os mercados que os países europeus eram incapazes de suprir adequada-
mente: os mercados da China; da Indochina Francesa; a demanda de material bélico da 
Rússia; os mercados do Chile e Peru, tradicionais clientes alemães; os mercados da costa 
oeste americana, a partir de 1917.
Já na Segunda Guerra Mundial, o Japão integrou, com a Alemanha e a Itália, o chama-
do Eixo, o que sugere alguma identidade entre seus regimes políticos. É certo que, no 
Japão, não encontramos algumas características do fascismo como se manifestou na 
Alemanha (com Hitler) e na Itália (com Mussolini). Não obstante, esses países se asse-
melham por apresentar regimes cujas políticas principais eram a repressão no país e a 
expansão no estrangeiro.
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010).
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
As consequências econômicas da paz
J. M Keynes 
Editora: Universidade de Brasília
Sinopse: Sob o impacto das pesadas reparações de guerra impostas à Alemanha, 
após a I Grande Guerra Mundial, Keynes escreveu em 1919 o livro Consequências 
Econômicas da Paz, um dos seus escritos. Se os conselhos de Keynes para 
moderação das condições impostas aos perdedores tivessem sido ouvidos no 
Tratado de Versalhes, os frutos da humilhação e dos desequilíbrios fi nanceiros 
talvez não fossem colhidos na hiperinfl ação alemã de 1923, no surgimento do 
Nazismo e na II Guerra Mundial.
Ouro
Ano: 2017
Sinopse: Kenny Wells (Matthew McConaughey) é um homem americano que 
tem como sonho mudar de vida. Filho de pai garimpeiro, ele vê na busca pelo 
ouro a chance para mudar sua situação. E é por isso que ele vai atrás de um 
geólogo picareta para, juntos, viajarem para Indonésia em busca desta pedra 
dourada. Eles queriam encontrar grandes reservas do metal precioso. O que 
não esperavam é que, ao encontrarem o que procurava, teriam de fugir de 
ferozes inimigos que querem barrar seus negócios.
REFERÊNCIAS
GALBRAITH, J. K. 1929 - O Colapso da Bolsa. São Paulo: Pioneira, 1988.
HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade. 7. ed. Porto Alegre: 
L&PM, 2015.
HOBSBAWM, E. A Era dos Extremos: O Breve Século XX: 1914-1991. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995.
KEYNES, J. M. As consequências econômicas da paz. Brasília: Universidade de Bra-
sília, 2002. Disponível em: < http://funag.gov.br/loja/download/42-As_Consequen-
cias_Economicas_da_Paz.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2018.
MORAES, L. E. História Contemporânea: da Revolução Francesa à Primeira Guerra 
Mundial. São Paulo: Contexto, 2017.
REZENDE FILHO, C. B. História Econômica Geral. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
ROMER, C. The Great Crash and the Onset of the Great Depression (1929-1933). The 
Quarterly Journal of Economics, v. 105, n. 3, p. 597-624, 1990.
SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História econômica geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
SONDHAUS, L. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Contexto, 2013.
REFERÊNCIAS ON-LINE
¹Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Comptes_de_la_m%C3%A9nag%-
C3%A8re_en_1914-_Archives_nationlaes-AB-XIX-4012-classeur3.jpg>. Acesso em: 
14 mar. 2018.
²Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Comptes_de_la_m%C3%A9nag%-
C3%A8re_en_1918-Archives_nationales-AB-XIX-4012-classeur3(2).jpg>.Acesso em: 
14 mar. 2018.
GABARITO
165
1. Alternativa b.
2. Embora o crescente nacionalismo tenha estimulado o espírito bélico, não havia, 
entre os países em guerra, divergências ideológicas significativas, seja no plano 
político ou econômico. Admite-se que a deflagração da guerra não era esperada 
nem mesmo pelos estadistas envolvidos no conflito: acreditava-se numa solu-
ção pacífica para o problema. No entanto, o desenvolvimento de diversas eco-
nomias industriais em crescente competição, com suas implicações – em outras 
palavras, o Imperialismo – levou à guerra, talvez até contra a vontade dos que a 
deflagraram: “[...] o desenvolvimento do capitalismo empurrou o mundo inevita-
velmente em direção à uma rivalidade entre os Estados, à expansão imperialista, 
ao conflito e à guerra” (HOBSBAWM, 1988, p. 437 apud SAES; SAES, 2013, p. 310).
3. Em 1919 e 1920 foram estabelecidos tratados de paz separadamente com os 
países derrotados (Alemanha, Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia). O mais im-
portante desses Tratados foi o de Versalhes (junho de 1919), que definia as repa-
rações de guerra devidas pela Alemanha aos vencedores – Grã-Bretanha, França, 
Estados Unidos e Itália. Os objetivos dos vencedores, em síntese, eram: fortalecer 
os países europeus, para que não fossem levados pelo caminho da Revolução 
Russa; redividir os territórios deixados em aberto pela queda dos grandes Impé-
rios – Austro-Húngaro, Russo, Turco e Alemão –; enfraquecer a Alemanha, que 
quase sozinha havia derrotado as tropas aliadas; redefinir as políticas internas 
dos países vitoriosos; por fim, garantir um acordo de paz que impossibilitasse o 
surgimento de uma nova guerra.
4. Alternativa e.
5. Alternativa d.
GABARITO
U
N
ID
A
D
E V
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E 
AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO 
TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Analisar o contexto da Segunda Guerra Mundial.
 ■ Reconhecer a dimensão da Segunda Guerra Mundial.
 ■ Refletir a abordagem do capitalismo tardio.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O Contexto da Segunda Guerra Mundial
 ■ A Dimensão da Segunda Guerra Mundial
 ■ O capitalismo tardio e a financeirização do sistema: as peças de um 
quebra cabeça
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, vamos refletir sobre os aspectos que envolve-
ram a Segunda Guerra Mundial, bem como a repercussão econômica em nível 
mundial. Vamos conhecer, portanto, uma série de transformações institucionais 
no capitalismo tardio, que vão desde o incentivo ao consumo ao regime de acu-
mulação predominantemente financeiro.
Reconheceremos o cenário responsável pela Segunda Guerra Mundial. Dessa 
forma, vamos identificar a tensão entre as relações internacionais que, desde a 
década de 30, permeavam o contexto mundial. Esse ínterim resultou em nações 
governadas por espécies de regimes totalitaristas, o que modifica totalmente o 
rumo da história mundial.
Será motivo de nossa análise a proporção da atrocidade da Segunda Guerra 
Mundial. O propósito dessa abordagem é despertar a reflexão para a caracterís-
tica do capital monopolista que, ao longo do tempo, demonstrou que o sistema 
mundial capitalista é, em grau considerável, precisamente uma função da validade 
universal da lei de desenvolvimento desigual e combinado (MANDEL, 1982).
Vamos analisar o sistema de relações de produção e relação de trocas cor-
respondentes em uma escala internacional. A partir disso, encontraremos o 
caminho do entendimento para a conjuntura atual do sistema, pautada em um 
regime de acumulação predominantemente financeiro. A contextualização se dá 
dentro de um ambiente econômico muito instável e imprevisível. 
Esta vulnerabilidade será reconhecida como resultado do aumento da 
aumento da concorrência intercapitalista, com o processo de globalização e os 
ajustes estruturais que privilegiam o mercado como instrumento de regulação. 
Veremos que, para sobreviver nesse ambiente inovado, as empresas passam a 
procurar maior flexibilidade e integração na sua forma de organização.
Nesse caminho de apreender sobre a configuração da economia mundial 
no século XXI, só temos uma certeza: ela reserva desafios para a humanidade. 
Vamos lá?
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
169
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E170
O CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Sob várias perspectivas, a dimensão cronológica entre as duas Guerras Mundiais 
testemunhou a continuação daquelas tendências imanentes que modelaram o 
cenário econômico na primeira década do novo século. É uma continuação em 
nível mais adiantado e em um ritmo acelerado. Esses dois episódios mundiais 
podem ser definidos como guerras de “redivisão” de mercados e colônias no 
interior do sistema capitalista.
As relações internacionais estavam tensas ao longo da década de 30. Rezende 
Filho (2010) assinala a Segunda Guerra Mundial como a última tentativa, de cer-
tos países da área central da economia-mundo, de recuperar suas economias pelo 
estabelecimento de relações imperialistas no estilo do século XIX e, estrutural-
mente, como a possibilidade de tirar o sistema capitalista da Grande Depressão.
O período entre guerras representou para o sistema capitalista
um verdadeiro teste, experimentando sua solidez e articulação interna, 
através de duas guerras mundiais, dois períodos de reconstrução eco-
nômica, uma longa década de profunda depressão econômica geral, e 
a diminuição de seu espaço geográfico pela implantação de soluções 
econômicas alternativas (REZENDE FILHO, 2010, p. 187).
Esse período marca, também, o fim da hegemonia europeia sobre a economia-
-mundo, com sua substituição pelos Estados Unidos. E, mais significativamente 
ainda, marca o fracasso das tentativas de imposição de posições dominantes pela 
via do imperialismo, encetadas pela Alemanha em 1914-1918 e em 1933-1945, pelo 
Japão em 1931-1945 e pela Inglaterra, França e Itália durante as décadas de 1920-1930.
Os movimentos autoritários e conservadores, que surgiram no período entre 
guerras, assumiram sua forma comumente conhecida como fascismo. Rezende 
Filho (2010) apresenta quatro razões principais para esse tipo de movimento, as 
quais estão apresentadas a seguir, na figura 1.
O Contexto da Segunda Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
171
A crise da reconversão do pós-guerra, que gerou uma enorme massa de 
desempregados entre os trabalhadores, fez com que ideologias políticas 
radicais tivessem enorme difusão, culpando a democracia pela existência 
das crises.
A proletarização das classes médias, as quais passam a desejar um Estado 
forte de tendências militaristas-nacionalistas.
A redução dos lucros da burguesia �nanceira-industrial, a qual quis se 
compensar aumentando a exploração dos trabalhadores.
A ascensão dos partidos de Esquerda, principalmente após a revolução 
bolchevique de 1917, na União Soviética, e a fundação do Comintern em 
1919, que colocava em risco a existência do sistema capitalista, fazia com 
que a luta de classes atingisse um ponto insuportável, segundo a ótica da 
burguesia e das camadas médias.
Regimes autoriátios
- fascismo (Itália).
- nazismo (Alemanha).
- Expansionismo militarista (Japão).
- Franquismo (Espanha).- Salazarismo (Portugal).
Figura 1 - Raízes do fascismo
Fonte: adaptado de Rezende Filho (2010).
Em mais de um sentido, a política nacionalista-expansionista dos Estados autoritá-
rios, mais o “preço da paz” de 1918 desembocaram em um curso que, fatalmente, 
desencadearia um novo conflito de grandes proporções.
As forças alemãs invadiram a Polônia no dia 1º de setembro de 1939 e ocu-
param o país em poucas semanas, no dia 03 de setembro, Inglaterra e França 
declararam guerra à Alemanha. Naquele momento foi acionada toda a máquina 
de guerra, que só seria desativada em 1945, com a derrota do Eixo. 
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E172
A DIMENSÃO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Às 5h29min45s da manhã de 16 de julho de 1945 ocorreu o momento mais notá-
vel e definidor dos últimos 500 anos. Naquele exato segundo, concretizava-se a 
Experiência Trinity, o primeiro teste nuclear da história. O teste foi conduzido 
pelos Estados Unidos da América, cientistas detonaram a bomba atômica em 
Alamogordo, Novo México. Conforme Harari (2015, p. 259), desse ponto em 
diante “a humanidade teve capacidade não só de mudar o curso da história como 
também de colocar um fim nela”. 
Figura 2 - Alamogordo, 16 de julho de 1945.
O fascismo nasce oficialmente em 1919 quando Mussolini funda, em Milão, 
na Itália, o movimento intitulado Fascio de Combatimento, cujos integrantes, 
os camisas pretas, opõem-se à classe liberal.
Fonte: adaptado de Marques, Berutti e Faria (2012).
A Dimensão da Segunda Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
173
Não podemos, no presente trabalho, desviar dos aspectos econômicos do desen-
volvimento histórico. No entanto, entendemos como fundamental a sensibilização 
para os episódios que envolvem essa dimensão temporal. Em 06 de agosto de 
1945, a cidade de Hiroshima, no Japão, foi bombardeada. Aquilo que havia 
“sucedido” por meio da Experiência Trinity foi aplicado pelo bombardeiro nor-
te-americano B-29, apelidado de Enola Gay, que, portanto, lançou a bomba 
atômica (Little Boy) sobre a cidade de Hiroshima, sede do comando militar do 
Japão Imperial. A explosão provocou a morte imediata de mais de 100 mil pes-
soas, outras 35 mil ficaram feridas e pelo menos mais 60 mil pessoas faleceram 
em decorrência da radiação até o final daquele ano. 
Em 6 de agosto de 1945, a Casa Branca comunicou o bombardeio de 
Hiroshima ao povo norte-americano: “acabamos de lançar sobre o 
Japão a força de onde o Sol tira o seu poder. Nós conseguimos do-
mesticar a energia fundamental do universo”. O presidente Harry 
Truman declarou: “O mundo constata que a primeira bomba atômica 
foi lançada sobre Hiroshima, uma base militar; nós ganhamos, contra 
a Alemanha, a corrida da sua descoberta. Nós a utilizamos com a 
finalidade de reduzir a angústia da guerra e com o fim de salvar as vi-
das de milhares e milhares de jovens americanos. Nós continuaremos 
a empregá-la até conseguirmos destruir completamente os recursos 
bélicos japoneses” (cf. Truman, 1955.). Em 9 de agosto de 1945, às 
11h2min, uma segunda bomba nuclear, a Fat man, foi lançada por 
Charles Sweeney, Frederick Ashworth e outros de um bombardeiro 
B-29 sobre a cidade de Nagasaki. O alvo foi trocado de Kokura para 
Nagasaki em virtude das más condições de visibilidade. A explosão, 
equivalente a 22 mil toneladas de TNT, foi obtida usando 8 kg de 
plutônio 239, com uma bomba de 4.5 toneladas, que provocaram a 
morte de mais de 70 mil civis. Em 15 de agosto, Hirohito, Imperador 
do Japão, anunciou a capitulação incondicional de seu país. Ele tinha 
46 anos, quando se dirigiu pela primeira vez ao seu povo para comu-
nicar chorando, em linguagem arcaica, que o Japão perdera a guerra. 
Alamogordo, 16 de julho de 1945, 5:29:53 da manhã. Oito segundos depois 
que a bomba atômica foi detonada. O físico nuclear Robert Oppenheimer, 
ao ver a explosão, citou Bhagavad Gita: “Agora eu me torno a Morte, a des-
truidora de mundos”.
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E174
O inimaginável tinha acontecido, era necessário aceitar o inaceitável: 
a rendição, a ocupação, a humilhação. Acabara o Grande Império. Em 
2 de setembro de 1945, a rendição japonesa é assinada. Assim estava 
terminada a Segunda Guerra Mundial, que não acabou em 8 de maio 
com a capitulação do Terceiro Reich, mas em 6 e 9 de agosto de 1945, 
com as duas bombas que deram início à guerra fria (MOURÃO, 2005, 
p. 698).
A partir desse cenário, fica a sugestão da tamanha atrocidade que foi a Segunda 
Guerra Mundial. Contudo, ela não se saldou apenas por pavorosas perdas huma-
nas ou por uma alteração, por vezes lamentável, dos valores morais geralmente 
admitidos e que, mal ou bem, reagiam às relações entre os indivíduos e, às vezes, 
entre as nações. Também houve um balanço econômico cuja amplitude atingiu 
dimensões desconhecidas. Foi, na verdadeira acepção da palavra, uma guerra 
total, que utilizou recursos até o seu limite e que se traduziu por consequências 
igualmente capitais e diversificadas. O quadro 1, a seguir, ajuda a explicitar sobre 
aspectos, como a dívida pública, o nível de vida das pessoas, o controle gover-
namental e a variação da produção industrial.
Quadro 1 - Aspectos da Segunda Guerra Mundial
DÍVIDA PÚBLICA
Aumento geral da dívida pública, e em proporções frequentemente catastrófi-
cas. A guerra custou à França o equivalente a 35 mil milhões de dólares, à Ingla-
terra 50 mil milhões: para fazer face a este enorme déficit, a Grã-Bretanha teve 
de liquidar a terça parte dos seus bens no estrangeiro e endividar-se em relação 
aos Estados Unidos e aos seus próprios domínios; a dívida interna passou de 7 
mil milhões de libras em 1939 para 22 milhões; a libra desvalorizou-se 38% em 
relação ao dólar. A dívida pública dos Estados Unidos passou de 46 para 263 mil 
milhões de dólares.
NÍVEL DE VIDA
Abaixamento do nível de vida das populações: racionamento de bens alimenta-
res, desaparecimento, por vezes total, dos bens de consumo julgados indispen-
sáveis, manutenção das “senhas de racionamentos” até cerca de 1950.
CONTROLE GOVERNAMENTAL
Estabelecimento de um controle governamental energético: controle dos preços 
e da moeda, das matérias-primas; orientação da produção; controle das trocas 
para tentar reduzir a fuga de capitais;
A Dimensão da Segunda Guerra Mundial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
175
VARIAÇÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Variação da produção industrial. Em França, em Maio de 1944, o índice da 
produção industrial baixou para 44, contra 100 em 1938; a França perdeu mais 
de 1/5 das suas locomotivas, 2/3 de vagões, mas de 3/4 de embarcações mer-
cantes. Verifica-se a mesma baixa, e por vezes em maiores proporções, em Itália, 
Países Baixos, Alemanha, Japão. Pelo contrário, a América anglo-saxônica surge 
como beneficiária. Os Estados Unidos, que gastaram na guerra 300 mil milhões 
de dólares, aumentaram consideravelmente as suas reservas monetárias, a sua 
produção industrial aumentou 75%, a cultura do trigo aumentou 25%. O Cana-
dá, por seu turno, tornado um verdadeiro arsenal para as nações aliadas, deu um 
forte impulso à sua indústria aeronáutica e automobilística, aos seus estaleiros 
navais, à sua indústria química. E o papel destesdois países será capital para o 
fornecimento de alimentos e equipamento indispensável aos países arruinados 
e devastados.
Fonte: adaptado de Marques et al. (2012).
Terminada a Segunda Guerra Mundial, as nações não entraram, como esperavam 
alguns idealistas, em período de entendimento mútuo e de trabalho precipua-
mente pacífico. Dois Estados saíram muito fortalecidos da luta: os Estados Unidos 
e a União Soviética. Em torno deles, não demoraram a se agrupar quase todas 
as demais nações, constituindo grandes blocos econômicos, chamados, respec-
tivamente, de Ocidental e Oriental.
Muito embora o mundo estivesse dividido entre capitalismo e comunismo, estava 
acentuada, a partir da guerra, a superioridade econômica dos Estados Unidos. Por 
outro lado, a União Soviética, apesar da destruição que sofrera durante o conflito, 
ostentava o mérito de ter derrotado a Alemanha na campanha do Leste Europeu 
(fator decisivo da vitória dos Aliados sobre os exércitos de Hitler). Saes e Saes (2013) 
destacam que embora EUA e URSS estivessem do mesmo lado durante a guerra, 
Nos países europeus, nos anos imediatamente após a guerra, o capital era o 
ingrediente que faltava. Isso podia ser fornecido, e o foi pelo Plano Marshall.
Fonte: Galbraith (1979, p. 225).
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E176
compondo as forças dos Aliados junto com a Grã-Bretanha, França e outros países, 
depois da vitória seus governos se afastaram, dando início a um conflito potencial 
que, em uma ocasião, quase se tornou efetivo.
 
A concentração dos recursos na indústria pesada e nos transportes, em detri-
mento dos bens de consumo, permitiu uma rápida recuperação dos níveis de 
produção. Em 1950, o Produto Nacional Bruto da União Soviética era inferior 
apenas ao dos Estados Unidos, embora seu produto per capita ainda fosse infe-
rior ao do Reino Unido, da França e da Alemanha Ocidental, conforme podemos 
observar a seguir.
Tabela 1 - Produto Nacional Bruto e per capita em 1950 (valores em dólares de 1950)
PNB TOTAL PNB PER CAPITA
Estados Unidos 381 bilhões 2.536
URSS 126 bilhões 699
Reino Unido 71 bilhões 1.393
França 50 bilhões 1.172
Alemanha Ocidental 48 bilhões 1.001
Japão 32 bilhões 382
Itália 29 bilhões 626
Fonte: Kennedy (1989, p. 353 apud SAES; SAES, 2013, p. 503).
O Capitalismo Tardio e a Financeirização do Sistema: as Peças de um Quebra-cabeças
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
177
Depois de 1950, a diferença entre o Produto Bruto norte-americano e o soviético 
se estreitou: entre 1950 e 1973, a taxa média de crescimento do PIB dos Estados 
Unidos foi de 3,9% ao ano e o da URSS foi de 4,8% (MADDISON, 1995, p. 80-83 
apud SAES; SAES, 2013, p. 503). Esse desempenho da economia soviética pas-
sou a preocupar os norte-americanos, temerosos de perderem a liderança na 
economia e na política mundial.
Contudo, a Segunda Guerra Mundial, a reconstrução e o período de prosperi-
dade que a seguiu, a descolonização, a internacionalização do capital, bem como 
a nova industrialização do Terceiro Mundo, marcaram um novo surto do capi-
talismo em escala mundial (BEAUD, 1987, p. 301).
O CAPITALISMO TARDIO E A FINANCEIRIZAÇÃO DO 
SISTEMA: AS PEÇAS DE UM QUEBRA-CABEÇAS
A imagem que se forma é a de um sistema mundial imperialista, construído a par-
tir do desenvolvimento desigual da acumulação de capital, composição orgânica 
do capital, taxa de mais-valia e produtividade do trabalho, elementos conside-
rados em escala mundial. O que levou a Revolução Industrial a ter início no 
Ocidente foi o fato de ali ter sido acumulado, nos trezentos anos precedentes, o 
Ao fim da Segunda Guerra Mundial havia um enorme contraste entre as con-
tradições econômicas dos Estados Unidos e as dos países mais diretamente 
envolvidos na guerra, seja do lado vencedor dos Aliados (principalmente 
França e Reino Unido) ou do perdedor, o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Fonte: Saes e Saes (2013, p. 325).
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E178
capital monetário e as reservas de ouro e pratas internacionais – em resultado da 
pilhagem sistemática do resto do mundo por meio das conquistas e do comércio 
colonial. Isso resultou na concentração internacional de capital em uns poucos 
pontos do globo, nas áreas predominantemente industriais da Europa Ocidental 
– e, pouco tempo depois, da América do Norte. No entanto, o capital industrial 
que surgia nessas áreas não tinha meios de impedir o processo interno de acu-
mulação primitiva de capital pelas classes dominantes dos países mais atrasados. 
Ele podia, na melhor das hipóteses, diminuir o ritmo do processo. Com certas 
diferenças de tempo e de produtividade, ligadas ao monopólio britânico sobre 
os níveis mais altos de produtividade industrial, o processo de industrialização 
se estendeu, pouco a pouco, na era do capitalismo de livre concorrência, a um 
número cada vez maior de países. 
Com a exportação em massa de capital para os países subdesenvolvidos, para 
a organização da produção capitalista de matérias-primas nessas áreas, a dife-
rença quantitativa na acumulação de capital e no nível de produtividade entre os 
países metropolitanos e os economicamente atrasados foi, subitamente, transfor-
mada em uma diferença qualitativa. Esses países se tornaram dependentes, além 
de atrasados. A dominação do capital estrangeiro sobre a acumulação de capital 
sufocou o processo de acumulação primitiva de capital, e a defasagem industrial, 
em relação às áreas metropolitanas, alargou-se regularmente. Além disso, como 
a produção de matérias-primas ainda era pré-industrial ou apenas rudimentar-
mente industrial, visto que os baixos custos da força de trabalho desestimulavam 
a constante modernização da maquinaria, essa defasagem industrial deu origem 
a um abismo crescente nos respectivos níveis de produtividade, que tanto expres-
sava quanto perpetuava o real subdesenvolvimento. Do ponto de vista marxista, 
isto é, a partir de uma teoria consistente do valor do trabalho, subdesenvolvi-
mento é sempre, em última análise, subemprego, quantitativamente (desemprego 
em massa) e qualitativamente (baixa produtividade do trabalho).
É verdade que as mercadorias capitalistas criaram e conquistaram o mercado 
mundial capitalista, isto é, levaram aos limites extremos do mundo a domina-
ção da circulação capitalista de mercadorias e o predomínio das mercadorias 
produzidas em grande escala na moderna indústria capitalista. Entretanto, ao 
mesmo tempo, a expansão internacional não implantou, por toda a parte, o modo 
O Capitalismo Tardio e a Financeirização do Sistema: as Peças de um Quebra-cabeças
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
179
de produção capitalista. Ao contrário, nos chamados países periféricos criou e 
consolidou uma mistura específica de relações de produção pré-capitalistas e 
capitalistas, o que impediu, nessas áreas, a generalização do modo de produção 
capitalista e, especialmente, da indústria capitalista em grande escala. Aí reside 
a causa principal da permanente crise pré-revolucionária nos países dependen-
tes por cerca de meio século, a razão básica pela qual esses países provaram ser, 
até agora, os elos mais fracos no sistema mundial imperialista. 
A penetração emmassa do capital na produção de matérias-primas tornou 
possível a interrupção radical, após 1873, da prolongada tendência ao aumento 
dos preços desses materiais. O resultado não foi apenas o colapso notório no 
preço dos artigos agrícolas – e a grande crise da agricultura européia –, mas tam-
bém uma rápida queda no preço relativo dos minérios, em comparação ao preço 
dos produtos na indústria capitalista de bens acabados. Em longo prazo, entre-
tanto, essa tendência estava destinada a ser invertida devido aos baixos custos de 
reprodução da força de trabalho nos países subdesenvolvidos, em decorrência 
da escala maciça de subemprego e do baixo grau de produtividade do trabalho, 
os quais alargavam, constantemente, a diferença no nível de produtividade entre 
esses países e os da metrópole. Com a estagnação da produtividade nos países 
dependentes e, simultaneamente, com um rápido aumento na produtividade do 
trabalho nos países industrializados, era apenas uma questão de tempo antes que 
o preço das matérias-primas começasse a aumentar.
A alta começou a se manifestar durante a Primeira Guerra Mundial. Para 
certas matérias-primas, a alta continuou durante os anos 20 até a crise econô-
mica mundial de 1929-1932. As consequências dessa crise acarretaram uma 
súbita interrupção do processo que, entretanto, abriu novamente caminho com 
o surto armamentista internacional nos anos 40, atingindo seu apogeu em 1950, 
no início da Guerra da Coréia. A estrutura específica que o final do século XIX 
havia gravado sobre a economia mundial tornava-se, agora, um obstáculo adi-
cional à valorização do capital ou, mais precisamente, um fator adicional para o 
declínio da taxa média de lucro.
Assim, a lógica interna do capital ocasionou uma repartição do processo que 
já ocorrera nas décadas de 1950 e 1960 do século anterior. Naquele momento, 
quando o preço relativo das matérias-primas começou a subir rapidamente, a 
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E180
sua produção com métodos de trabalho e relações de produção pré-capitalistas 
deixaram de ser uma fonte de superlucros, por meio da exploração de força de 
trabalho barata, e se tornou, em vez disso, um obstáculo à ulterior expansão do 
capital. Nos dias atuais, análogo à produção de matérias-primas por métodos que 
datavam do período de capitalismo manufatureiro ou do início da industriali-
zação, deixa de ser uma fonte de superlucros coloniais, tornando-se um freio à 
acumulação de capital em escala mundial. Na fase de transição do capitalismo 
de livre concorrência à era do imperialismo, o capital respondera àquele desafio 
com uma penetração maciça no campo das matérias-primas. Quando o impe-
rialismo ‘clássico’ deu lugar ao capitalismo tardio, o capital respondeu com uma 
penetração em massa ainda mais profunda. A partir dos anos 30 e, particular-
mente, na década de 40 do século anterior, essa penetração maciça na esfera das 
matérias-primas conduziu – exatamente como se passara no último quarto do 
século XIX – a uma revolução fundamental na tecnologia, organização do tra-
balho e relações de produção. No final do século XIX, tinha sido uma questão 
de substituir uma organização primitiva do trabalho, pré-capitalista, por méto-
dos organizacionais adequados ao capitalismo manufatureiro ou à fase inicial 
da industrialização. 
Os resultados desse rearranjo na estrutura da economia mundial, no período 
de transição do imperialismo “clássico” ao capitalismo tardio, foram numero-
sos, mas de natureza bastante contraditória. Entre outros aspectos, esse novo 
período foi caracterizado pelo fato de que, paralelamente aos bens de consumo 
industriais feitos por máquinas, surgidos no início do século XIX, deparamo-nos 
com matérias-primas e gêneros alimentícios produzidos por máquinas. Longe 
de corresponder a uma sociedade “pós industrial”, o capitalismo tardio aparece, 
assim, como o período em que, pela primeira vez, todos os ramos da economia 
se encontram plenamente industrializados; ao que ainda seria possível acrescen-
tar, a mecanização crescente da esfera da circulação (excetuados os serviços de 
simples conserto) e a mecanização crescente da superestrutura. 
Portanto, os traços básicos do capitalismo tardio já podem ser derivados 
das leis de movimento do capital. A origem imediata da terceira revolução tec-
nológica pode ser referida a quatro objetivos principais do capital nos anos 30 
e 40 do século XX.
O Capitalismo Tardio e a Financeirização do Sistema: as Peças de um Quebra-cabeças
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
181
A aplicação produtiva dessa nova tecnologia começou nos setores da indús-
tria química para os quais a força impulsionadora decisiva é o barateamento do 
capital constante circulante. Do início dos anos 50, ela se difundiu gradativa-
mente por um número crescente de esferas, cujo objetivo principal era a redução 
radical dos custos salariais diretos, isto é, a eliminação do trabalho vivo do pro-
cesso de produção. 
Aqui, chegamos ao limite interior absoluto do modo de produção capitalista. 
Tal limite não reside na penetração capitalista completa no mercado mundial, isto 
é, na eliminação das esferas não capitalistas de produção, prende-se ao fato de que a 
própria massa de mais-valia diminui, necessariamente em resultado da eliminação 
do trabalho vivo do processo de produção, no decorrer do estágio final de meca-
nização e automação. O capitalismo é incompatível com a produção plenamente 
automatizada na totalidade da indústria e da agricultura, porque essa situação não 
mais permite a criação de mais-valia ou a valorização do capital. Consequentemente, 
é impossível que a automação conquiste a totalidade das esferas de produção, na 
época do capitalismo tardio. Por motivos de sua autopreservação, o capital jamais 
poderia transformar todos os trabalhadores em cientistas, assim como jamais 
poderia automatizar a totalidade da produção material (MANDEL, 1982, p. 146). 
A marca distintiva do imperialismo e de sua segunda fase, o capitalismo tardio, 
não é um declínio nas forças de produção, mas um acréscimo no parasitismo e 
nos desperdícios paralelos ou subjacentes a esse crescimento. A incapacidade ine-
rente ao capitalismo tardio, de generalizar as vastas potencialidades da terceira 
revolução tecnológica ou da automação, constitui uma expressão tão forte dessa 
tendência quanto à sua dilapidação de forças produtivas, transformadas em: for-
ças de destruição; desenvolvimento armamentista permanente; alastramento da 
fome nas semicolônias, cuja produtividade média do trabalho se viu restrita a um 
nível inteiramente sem relação ao que é hoje possível, em termos técnicos e cientí-
fico; contaminação da atmosfera e das águas; ruptura do equilíbrio ecológico etc. 
A pior forma de desperdício, inerente ao capitalismo tardio, jaz no mau uso das 
forças de produção humanas e materiais existentes. Em vez de serem usadas para 
o desenvolvimento de homens e mulheres livres são cada vez mais empregadas na 
produção de coisas inúteis e perniciosas. Todas as contradições históricas do capita-
lismo estão concentradas no caráter duplo da automação. Por um lado, ela representa 
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E182
o desenvolvimento aperfeiçoado das forças materiais de produção, que poderiam, 
em si mesmas, libertar a humanidade da obrigação de realizar um trabalho mecâ-
nico, repetitivo, enfadonho e alienante. Por outro,representa uma nova ameaça para 
o emprego e o rendimento, uma nova intensificação da ansiedade, a insegurança, 
o retorno crônico do desemprego em massa, as perdas periódicas no consumo 
e na renda, o empobrecimento moral e intelectual. A automação capitalista, um 
desenvolvimento maciço tanto das forças produtivas do trabalho quanto das for-
ças alienantes e destrutivas da mercadoria e do capital, tornou-se, dessa maneira, a 
quintessência objetivada das antinomias inerentes ao modo de produção capitalista. 
Alves (2007) nos alerta que, diante das condições de mundialização do capital, 
na época da produção destrutiva ou, ainda, no período de passagem para uma 
nova modalidade de acumulação capitalista – acumulação flexível –, que o insaci-
ável movimento do capital em processo assume um caráter plenamente inovador, 
dado pela constituição dos circuitos globais do dinheiro, que projeta a nível glo-
bal, “essa caça apaixonada pelo valor” (MARX, 1989, p.184). 
Nesse sentido, Alves (2007, p. 20) aponta que
O surgimento de um “único mercado mundial de dinheiro e de crédito” 
é parte intrínseca da plena posição do capital enquanto sujeito da alta 
modernidade, ou da exacerbação da modernidade, com seus impactos 
decisivos nas esferas da cultura, da economia e da política.
Além disso, a constituição do mercado mundial de dinheiro e de cré-
dito e da financeirização dominante, principalmente a partir de mea-
dos da década de 70, está ligada intrinsecamente, a nova modalidade 
de acumulação capitalista, de caráter flexível, e a própria crise do for-
dismo. A cidadania global do capital tornou-se efetiva com o notável 
desenvolvimento do capital financeiro rumo à internacionalização dos 
mercados monetários e financeiros (e da própria supremacia do capital 
financeiro internacional).
Nasce, a partir de meados dos anos 70, um sistema financeiro global 
altamente integrado, coordenado pelas telecomunicações instantâneas, 
que instaura um mercado de ações global, um mercado de futuro de 
mercadorias (e até de dívidas) globais. Mais do que nunca, propaga-se, 
de Tóquio a Londres, de Nova York a São Paulo, os denominados “em-
preendimentos com papéis”, maneiras alternativas de obter lucros que 
não se restringe à produção pura e simples de mercadorias. Ou seja, 
lucros estritamente financeiros sem dar importância à produção real.
O Capitalismo Tardio e a Financeirização do Sistema: as Peças de um Quebra-cabeças
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
183
A maior autonomia do sistema bancário e financeiro, o fortalecimento do capital 
financeiro, destruiu, em grande parte, os mecanismos de regulação do período 
fordista, tendo em vista que limitaram o poder do Estado. A Tríade (Estados 
Unidos, União Européia e Japão), na acepção de Chesnais (1996), buscava 
recuperar seus crescentes poderes de coordenação por meio do poder de orga-
nismos internacionais, tais como FMI (o Fundo Monetário Internacional) e o 
Banco Mundial, longe do controle democrático, circunscrito à nação – Estado. 
Nessa economia com grande concentração de capital fixo e dominância 
dos bancos na intermediação financeira, a dinâmica de longo prazo está fun-
dada na busca do aumento da produtividade social do trabalho, o que, por sua 
vez, impulsiona a competição pela inovação tecnológica incorporada nas mais 
diversas categorias. Essa possibilidade da acumulação decorre da capacidade 
dos bancos de emprestar e participar dos empreendimentos, diversificando o 
risco, apostando, na estabilidade dos seus passivos, os depósitos à vista escritu-
rados em seus registros (BELUZZO, 2013).
O regime do capital, em sua forma plenamente constituída, ou seja, já 
ancorada nas forças produtivas propriamente capitalistas, incorporou à sua 
dinâmica os elementos históricos que precederam e prepararam sua consti-
tuição: o comércio e o crédito. O império da acumulação capitalista impôs 
suas regras e desregramentos aos elementos da era mercantil, aqueles que se 
incumbiram da dissolução da economia feudal, cujos capítulos mais dramáti-
cos foram escritos pela chamada acumulação primitiva, pela expansão colonial 
e pela reinvenção da escravidão. Na esteira do doloroso e violento processo de 
mercantilização da força de trabalho – leia-se da expropriação dos produtores 
diretos dos meios de produção –, o regime do capital acelerou, a uma velo-
cidade impressionante, a produção e reprodução dos elementos materiais da 
riqueza (BELLUZO, 2013).
Tem-se, destarte, a “financeirização”, através do movimento contraditório 
de centralização e “abertura” do capital individual com a sociedade anônima. 
Esta supõe, necessariamente, a transferência de poder do capital industrial para 
o capital financeiro, eis que, ousadamente, atribuímos a isso o grande nascer do 
“Senhor dos Anéis”. O banco como representante do capital financeiro, a forma 
superior de controle das decisões. 
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E184
Durante a chamada “era dourada” (1947-1973), a expansão do comér-
cio envolvia, sobretudo, o intercâmbio de bens finais de consumo e de capital 
entre os parceiros do Atlântico Norte. Foi um período de expansão mundial 
sob hegemonia norte-americana. Esse panorama mudou a divisão internacio-
nal do trabalho e o esquema centro–periferia, até então hegemonia inglesa. 
O espaço econômico internacional, na posteridade da Segunda Guerra 
Mundial, foi construído a partir do projeto de integração entre as econo-
mias nacionais, proposto pelo Estado norte-americano e por sua economia. 
Faz-se necessário saber que, nesse ínterim, a economia mundial estava sob a 
égide de Bretton Woods, o poder do dólar conversível foi sustentáculo do que 
Belluzo (2013) entende como processos simultâneos: o déficit na conta de capi-
tais, produto da expansão da grande empresa norte-americana; a reconstrução 
dos sistemas industriais da Europa e do Japão; a industrialização de muitos paí-
ses da periferia, impulsionada pelo investimento produtivo direto em conjugação 
com políticas de desenvolvimento nacional.
Os desequilíbrios crescentes do balanço norte-americano de pagamentos leva-
ram à derrocada o sistema de conversibilidade e taxas fixas de Bretton Woods, 
ao impor a desvinculação do dólar em relação ao ouro em 1971 e a introdução 
das taxas de câmbio flutuantes em 1973. A continuada desvalorização do dólar, 
nos anos 60, colocou em situação complicada a economia mundial. A partir do 
início dos anos 80, intensificou-se o movimento de migração manufatureira para 
as regiões nas quais prevalecia uma relação câmbio/salários mais competitiva 
e ampliaram-se os desequilíbrios nos balanços de pagamentos entre os Estados 
Unidos, a Ásia e a Europa.
Em 1944, autoridades de 44 países se reuniram em Bretton Woods, para se 
assegurarem de que os erros em relação ao ouro e às reparações de guerra 
sobre os quais Keynes havia se tornado famoso não se repetiria.
Fonte: Galbraith (1979, p. 224).
O Capitalismo Tardio e a Financeirização do Sistema: as Peças de um Quebra-cabeças
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
185
O fortalecimento do dólar, no período seguinte, contribuiu para que os Estados 
Unidos promovessem políticas de abertura comercial e impusessem a liberaliza-
ção financeira. Dessa forma, suas empresas encontraram o caminho mais rápido 
e desimpedido para a migração produtiva, enquanto seus bancos foram investidos 
plenamente na função degestores da finança e da moeda universais. Isso signi-
fica que os bancos norte-americanos estavam habilitados a: 1) administrar em 
escala global a transformação da rede de relações débito–crédito, fazendo avançar 
o processo de securitização; 2) comandar a circulação de capitais entre as praças 
financeiras e, portanto, afetar a formação das taxas de câmbio; 3) promover as 
mudanças na estrutura da propriedade, ou seja, organizar o jogo da concentração 
patrimonial e produtiva; 4) dar fluidez ao sistema de pagamentos em escala global.
Nos últimos quarenta anos, a desregulamentação dos mercados e a crescente 
liberalização dos movimentos de capitais alteraram profundamente o jogo das 
regras. A partir de 1973, os regimes cambiais caminharam na direção de um sistema 
de taxas flutuantes. Tratava-se, diziam, de escapar das aporias da “trindade impos-
sível”, ou seja, da convivência entre taxas fixas, mobilidade de capitais e autonomia 
da política monetária doméstica. As palavras de ordem no novo consenso procla-
mavam as virtudes da abertura comercial, da liberalização das contas de capital, 
da desregulamentação e da “descompressão” dos sistemas financeiros domésticos.
Um após o outro, os países de moeda não conversível promoveram a abertura 
financeira. Nos países centrais, a desregulamentação financeira rompeu os diques 
de segurança erigidos depois da crise dos anos 1930. As restrições às finanças pro-
curavam impedir que os bancos comerciais se envolvessem no financiamento de 
posições “especulativas” nos mercados de riqueza (ações e imóveis), com consequên-
cias indesejáveis para a solidez dos sistemas bancários. O aumento da concorrência 
intercapitalista, com o processo de globalização e os ajustes estruturais que privile-
giam o mercado como instrumento de regulação, criou um ambiente econômico 
muito mais instável e imprevisível. Para sobreviver nesse ambiente, as empresas 
procuram ter maior flexibilidade e integração na sua forma de organização. 
A revolução tecnológica possibilitou maior flexibilidade e integração entre 
os diversos setores da empresa e desta com os fornecedores e consumidores. Da 
mesma forma, as novas tecnologias oportunizaram, aos grupos transnacionais, a 
organização do seu processo de internacionalização. O elemento-chave do novo 
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AS PERSPECTIVAS DO CAPITALISMO TARDIO (1933- DIAS ATUAIS)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E186
padrão tecnológico é a informática, que tornou possível armazenar e processar 
informações em uma velocidade sem precedente na história da humanidade. 
Essa revolução tecnológica é uma força inovadora que parece não ter limi-
tes. Conhecida como a terceira revolução industrial – e em contraste com as 
duas anteriores –, ela aumentou a produtividade, especialmente com a revolu-
ção da microeletrônica, mas não criou novos bens e serviços de consumo que 
revolucionassem o padrão de vida das grandes massas humanas. A maioria dos 
novos produtos é originária da segunda revolução industrial, sobretudo o que 
se refere ao campo eletrônico. 
A terceira revolução industrial tem um viés antiemprego e antissindical. 
Por um lado, não houve redução da jornada de trabalho acompanhando os 
ganhos de produtividade, como aconteceu historicamente nas duas primeiras 
revoluções industriais. Por outro lado, atingiu o movimento sindical, enfra-
quecendo-o de forma fundamental ao promover o desemprego industrial. Isso 
porque o movimento sindical tem cultura industrial (secundária), e não terciária. 
A chamada terceira revolução industrial se desenvolveu dentro do contexto de 
mundialização financeira. Nesse cenário, o movimento sindical estava enfra-
quecido e com muitas dificuldades de interferir no processo em curso. Diferente 
do que aconteceu na segunda revolução industrial, quando o sindicalismo teve 
ascensão e contribuiu para constituição do Estado de Bem-estar Social.
O cenário da mundialização financeira, juntamente com a terceira Revolução 
Industrial, desencadeou uma profunda transformação do sistema econômico, 
tanto no plano nacional quanto no internacional. A razão podemos encontrar 
em sua rápida expansão, pois os ativos financeiros “viajam” em ritmo mais veloz 
do que o produto ou o comércio. Entendemos que a esfera financeira ganhou 
“autonomia” em relação à “economia real”. Em outras palavras, a partir desse 
momento, a acumulação de capital tinha como núcleo a esfera financeira, não 
mais a produtiva. Em um trabalho dessa natureza, não há espaço para uma 
abordagem completa e uma conclusão formal. Ainda teríamos muito mais “a 
conversar”, como exemplo: tratar da abertura do mercado norte-americano e do 
comércio mundial aos produtos chineses, que potencializou o efeito das refor-
mas econômicas. Diante dessa nossa limitação fica a reflexão: teria o capitalismo 
ingressado em uma nova fase? 
Considerações Finais
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
187
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, refletimos sobre os aspectos que envolveram a 
Segunda Guerra Mundial. De modo que caminhamos no conhecimento/reconhe-
cimento das profundas transformações, a partir da concretização de um cenário 
do sistema capitalista de produção, pautado por um forte crescimento tecnoló-
gico. A luta armada entre as nações possibilitou um aumento brutal da produção 
industrial, superior à capacidade global de consumo, o que exigiu a instauração 
de sistemas de planejamento meticuloso e a longo prazo, e também às técnicas 
de marketing e publicidade, a fim de aumentar o consumo, com a predomi-
nância do setor de bens e serviços sobre a atividade econômica como um todo. 
Esse aumento brutal da capacidade produtiva e predominância do setor terciá-
rio correspondeu à instalação das denominadas sociedades de Bem-estar Social.
Diante desse panorama, entendemos que o sistema capitalista possui uma 
dinâmica peculiar de se ressignificar diante dos seus ciclos. A partir da segunda 
metade da década de 1950, compensa-se a “estabilização” europeia, por meio da 
crescente exploração das áreas periféricas, mascarada pela mudança no padrão 
das exportações dos países industrializados.
Analisamos o impacto das mudanças no sistema capitalista “maduro”, carac-
terizado pela concentração de capital em nível monopolista e sujeito aos efeitos 
de uma Terceira Revolução Industrial. Nesse panorama, está na constituição, 
a partir de 1970, o “regime de acumulação predominantemente financeiro”. 
Entenda-se que as “finanças” passam ao foco da acumulação de capital, ou seja, 
as instituições financeiras passaram a atrair os lucros não reinvestidos e as pou-
panças privadas, com a proposta de promover sua valorização em um circuito 
que, aparentemente, tornava-se autônomo da esfera produtiva.
Em concordância com Belluzzo (2013), a Segunda Guerra e o contexto 
atual da organização econômica refletem no fato de que a mediação e a garan-
tia do Estado são precárias, pois “a soberania é um frágil compromisso entre a 
natureza e a razão, o direito e a violência”. E a violência é resultado da imposi-
ção seja por força física ou coação moral, o seu próprio julgamento, impostado 
como verdade máxima.
188 
1. A Segunda Guerra Mundial, do mesmo modo que sua predecessora, levou a 
Europa e as vastas parcelas da Ásia à exaustão e à destruição. A capacidade 
de destruição se desenvolveu-se em um nível sem precedentes, sem que isso 
levasse ao encurtamento da guerra (Rezende Filho, 2010, p. 229).
Sobre a Segunda Guerra Mundial avalie as afirmações a seguir. 
I. A Inglaterra e Alemanha se uniram contra a França e Estados Unidos pela 
luta do território da Polônia.
II. ASegunda Guerra Mundial dizimou a vida de muitas pessoas, no entanto, 
no que concerne à questões econômicas, não impactou em prejuízos.
III. A política nacionalista-expansionista dos Estados autoritários, somados ao 
resultado do acordo do fim da Primeira Guerra, são, além de outros elemen-
tos, fatores explicativos da Segunda Guerra Mundial.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e I.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
189 
2. Sob muitos aspectos, mas não todos, os vinte anos que separaram a Primeira 
da Segunda Guerra Mundial testemunharam a continuação daquelas tendên-
cias imanentes que modelaram o cenário econômico na primeira década do 
novo século (DOBB, 1980, p. 321).
I. Os movimentos autoritários e conservadores surgiram no período entre 
guerras.
II. Esse período marca também o fim da hegemonia europeia sobre a econo-
mia-mundo, com sua substituição pelos Estados Unidos.
III. Não houve nenhum tipo de tensão nas relações internacionais, principal-
mente ao longo da década de 1930, em que as barreiras protecionistas 
eram nulas.
É correto o que se afirma em:
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
3. A marca distintiva do imperialismo e de sua segunda fase, o capitalismo tardio, 
não é um declínio nas forças de produção, mas um acréscimo no parasitismo e 
nos desperdícios paralelos ou subjacentes a esse crescimento.
Discorra sobre a pior forma de desperdício do capitalismo tardio.
190 
4. Alguns pilares da Era de Ouro foram colocados em xeque durante a década de 
1970: o sistema monetário internacional com taxas de câmbio fixas estrutura-
do em Bretton Woods; a política keynesiana de manutenção do pleno empre-
go; o chamado fordismo, ou seja, a capacidade de gerar, por meio de ganhos 
de produtividade, a elevação dos salários reais e taxas de lucro satisfatórias, 
simultaneamente; a relação salarial o Estado do Bem-estar.
Considerando o texto apresentado, avalie as afirmações, a seguir, acerca das 
mudanças do capitalismo a partir de 1973.
I. O elemento-chave do novo padrão tecnológico é a informática, que tornou 
possível armazenar e processar informações em uma velocidade sem prece-
dente na história da humanidade. 
II. A terceira revolução industrial se desenvolve dentro do contexto de mun-
dialização financeira.
III. Dá-se a volta do padrão-ouro, no que tange à conversibilidade do dólar.
IV. A maioria dos novos produtos é originária da segunda revolução industrial, 
sobretudo aqueles que são do campo eletrônico.
É correto apenas o que se afirma em:
a) I e IV.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II e IV.
5. Há inúmeras propostas de entender a história do capitalismo a partir de algu-
mas categorias gerais, o como capitalismo mercantil, o capitalismo industrial, o 
capitalismo financeiro ou, ainda, o capitalismo concorrencial e capitalismo mo-
nopolista/imperialismo. Nessas e em outras propostas similares, há a noção de 
que o capitalismo caminha, ao longo da história, por fases sucessivas nas quais 
algumas características prévias são superadas por novas (SAES; SAES, 2013).
A partir dessas informações, redija um texto dissertativo sobre seu entendi-
mento da história do capitalismo.
191 
PAZ-GUERRA
No atual estado da técnica militar, precisa-se de uma centena de viaturas e mais de cem 
toneladas de obuses para romper de modo certeiro a resistência oferecida em um único 
quilômetro, por um único batalhão bem entrincheirado e com cobertura de arame... 
Nas fronteiras restritas, como as da Europa, muito estreitas para os efetivos enormes 
do recrutamento geral, metralhados pela defesa das fortificações permanentes, pouca 
esperança pode haver de suplantar as posições adversárias... A decisão só poderá ser 
tomada depois do sucesso de numerosas ações ofensivas, portanto, ao preço de um es-
forço gigantesco que pressupõe uma superioridade numérica e industrial considerável. 
Se não fosse assim, o conflito só poderia ser resolvido pelo desgaste moral e material de 
um dos dois beligerantes. Nos dois casos, a luta tomaria a forma de uma luta de morte 
com tantas perdas e ruínas que as condições de paz, por mais vantajosas que fossem, 
jamais poderiam compensá-las.
O conceito clássico da guerra conduz, portanto, a uma forma de conflito que não corres-
ponde às possibilidades e às necessidades da Europa, atualmente. A Europa, na verdade, 
não se refez ainda dos inconvenientes de todo tipo provocados pela Grande Guerra. Pre-
cisa de paz para se refazer e reorganizar sua economia em função dos meios modernos 
de produção... Por outro lado, a opinião pública, na maior parte das nações europeias, 
recusa-se instintivamente a aceitar a ideia da guerra... Essa convicção é um fato capital 
peculiar da nossa época.”
Sendo assim como resolver os conflitos entre as nações?... Impõe-se novos métodos... O 
problema continua sem solução: consiste em forçar um Estado a subscrever obrigações 
que lhe são impostas, em uma palavra, a capitular. A guerra pode mudar sua forma, mas 
o objetivo essencial permanece o mesmo.
Incapaz de subjugar, de um só golpe, o adversário, a nova guerra terá como objetivo 
convencê-lo a capitular, em vez de continuar a luta. A ação radical é substituída por 
uma ação persuasiva da força. Mas...a política só dispunha antigamente de uma margem 
de pressão muito fraca... o menor erro de manobra, o menor excesso podiam provo-
car a guerra. A política era portanto exercida como um jogo variado de combinações 
e compromissos. Hoje a situação é completamente diferente: o espectro sempre pre-
sente da guerra total e o temor que ela inspira fazem com que seja vista como uma 
solução desesperada à qual se recorrerá somente em último caso. A impotência da ação 
militar torna quase insensível a epiderme das nações (Anschluss, Sudetos, intervenção 
na Espanha, combate russo-japonês de Kuang-Tcheu-Feng), poderíamos multiplicar os 
exemplos de paciência espantosa das nações, comparada ao seu nervosismo anterior.
 Assim, essa repugnância pela guerra total, por uma transformação surpreendente, auto-
riza o emprego da violência que ultrapassa nitidamente as regras da tradição diplomáti-
ca... Já não é a paz e ainda não é a guerra que conhecíamos, mas um estado intermediá-
rio que chamaremos de paz-guerra.
192 
A paz-guerra repousa na ideia de aproveitar o temor da guerra-catástrofe para exer-
cer pressões mais enérgicas do que antigamente, evitando criar uma tensão suficiente 
para levar o inimigo à guerra total. O primeiro elemento de toda combinação consistirá, 
portanto, em avaliar o ponto crítico além do qual o adversário preferirá a guerra total à 
capitulação.
Fonte: SARTRE (s.d., p. 97).
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
História Contemporânea através de textos
Adhemar Marques; Flávio Berutti; Ricardo Faria
Editora: Contexto
Sinopse: Aborda os processos históricos que ocorreram entre as revoluções 
burguesas e a Segunda Guerra Mundial por meio de textos e documentos 
cuidadosamente selecionados. Para sua escolha, levou-se em consideração um 
programa de leituras essenciais a um curso de História Contemporânea e a sua 
adequação, tanto no conteúdo quanto na forma, às reais condições de ensino e 
aprendizagem das salas de aula. São 72 textos que tratam, entre outros temas, 
da Revolução Industrial, do movimento operário do século XIX, das Revoluções 
liberais, do nacionalismo, do imperialismo, da Revolução Russa, dos fascismos e 
da Crise de 29.
Pearl Harbor
Ano: 2001
Sinopse: Pouco antes do bombardeio japonês em Pearl Harbor, dois amigos 
que são como irmãos um para o outro se envolvem de maneira distinta nos 
eventos que fazem com que os Estados Unidos entrem na 2ª Guerra Mundial. 
Enquanto que Rafe (Ben Affl eck) se apaixona pela enfermeira Evelyn (KateBeckinsale) e decide se alistar na força americana que lutará na 2ª Guerra 
Mundial, em Londres, Danny (Josh Hartnett) torna-se piloto da Força Aérea 
dos Estados Unidos e permanece no país. Após a notícia de que Rafe morrera 
em um dos combates que travava contra os alemães, Danny e Evelyn se 
aproximam e terminam se apaixonando.
REFERÊNCIAS
ALVES, G. Dimensões da Reestruturação Produtiva: ensaios de sociologia do tra-
balho. 2. ed. Londrina: Praxis, 2007.
BEAUD, M. História do Capitalismo de 1500 até nossos dias. São Paulo: Brasilien-
se, 1987.
BELLUZZO, L. G. O Capital e suas metamorfoses. São Paulo: UNESP, 2013.
CHESNAIS, F. A Mundialização do Capital. São Paulo: Editora Xamã, 1996.
DOBB, M. H. A evolução do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
GALBRAITH, J. K. A Era da incerteza. São Paulo: Pioneira, 1979.
HARARI, Y. N. Sapiens: uma breve história da humanidade. 7. ed. Porto Alegre: 
L&PM, 2015.
MANDEL, E. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. (Org.) História Contemporânea através de tex-
tos. 12 ed. São Paulo: Contexto, 2012. (Coleção Textos e Documentos, v. 5.)
MARX, K. O Capital: Crítica da economia política. 30. ed. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1989. (Livro 1, volume 1.)
MOURÃO, R. R. F. Hiroshima e Nagasaki: razões para experimentar a nova arma. Re-
vista Scientiae Studia, São Paulo, v. 3, n. 4, p. 683-710, 2005.
REZENDE FILHO, C. B. História Econômica Geral. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
SAES, F. A. M.; SAES, A. M. História Econômica Geral. São Paulo: Saraiva, 2013.
SARTRE, J. P. Diário de uma guerra estranha. São Paulo: Círculo do Livro, s.d.
REFERÊNCIAS
GABARITO
195
1. Alternativa d.
2. Alternativa c.
3. A pior forma de desperdício, inerente ao capitalismo tardio, jaz no mau uso das 
forças de produção humanas e materiais existentes. Em vez de serem usadas 
para o desenvolvimento de homens e mulheres livres são cada vez mais empre-
gadas na produção de coisas inúteis e perniciosas. 
4. Alternativa e.
5. Reflexão particular.
GABARITO
CONCLUSÃO
Ao sentir uma dor, você sente a necessidade de ir ao médico. Marca a consulta, 
possivelmente espera alguns dias, organiza seu horário e, chegando a data, enca-
minha-se para o consultório. Ao obedecer ao procedimento de consulta médica, o 
profissional faz algumas perguntas. É muito comum que ele faça questionamentos 
sobre seu “histórico” familiar (Alguém na família com diabetes? Alguém na família 
com problemas cardíacos? Alguém na família com histórico de problemas renais?) 
para entender a dor, ou seja, para analisar o seu problema, o profissional faz uso, 
entre outros elementos, da análise histórica (no caso familiar). Sem ela, tudo fica 
mais difícil.
Grosso modo, esse exemplo nos remete à relevância do conhecimento da história 
para tomar decisões diante da conjuntura econômica. É preciso conhecer os Primei-
ros Sistemas Econômicos; o processo de transição do feudalismo ao capitalismo; as 
crises; o período entre Guerras; a dinâmica do século XX aos dias atuais para enten-
der a lógica da mundialização financeira.
E este trabalho foi elaborado tendo em vista um duplo objetivo: apresentar a rele-
vância da história para a ciência econômica e servir de apoio para o entendimento 
do processo histórico ao longo do tempo, de modo a entender como os homens se 
organizaram para realizar a sua produção e, por consequência, a satisfação das suas 
necessidades materiais.
A perspectiva temporal serve como ponto de referência, mas em nenhum momento 
devemos ser rigorosos, imaginando que a história consiga ser exata nesse sentido. 
Afinal, a história da humanidade é construída a partir de um movimento desigual e 
desencontrado em muitos pontos.
Fica registrado aqui nossa gratidão à você, motivador(a) central deste trabalho. Nos-
sos sinceros votos de agradecimento. E que possamos contribuir para que a ciência 
econômica seja atuante na transformação gradual de uma sociedade que busca se 
conhecer para ser melhor. Até a próxima!
CONCLUSÃO
ANOTAÇÕES
197
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
199
ANOTAÇÕES

Mais conteúdos dessa disciplina