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EDUCAÇÃO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO Subsecretaria de Gestão Educacional Departamento de Gestão Educacional Divisão de Ensino Fundamental Manaus-2014 BLOCO PEDAGÓGIC0 Anos Iniciais Proposta Pedagógica FICHA TÉCNICA Arthur Virgílio Ribeiro do Carmo Neto Prefeito de Manaus Darcy Humberto Michiles Secretário Municipal de Educação Ana Maria da Silva Falcão Subsecretária de Gestão Educacional Franklin Jaña Pinto Subsecretário de Infraestrutura e Logística Luis Fabian Pereira Barbosa Subsecretário de Administração e Finanças Marcionília Bessa da Silva Diretora do Departamento de Gestão Educacional Ana Maria Araújo de Freitas Diretora do Departamento Geral dos Distritos Esther de Souza Albuquerque Chefe da Divisão de Ensino Fundamental Comissão de Elaboração (Portaria n.0365/2013-SEMED/GS) Lenir Cavalcante de Albuquerque Barbosa, Sueli Aparecida de Paulo Giacon, Lidinalva Fernandes Príncipe Balbi, Jorge de Menezes (Gerência de Educação Especial). Rosélio Souza Leite, Santana Elvira Amaral da Rocha (Divisão de Avaliação e Monitoramento). Jocicléia Souza Printes, Eline Alves de Lima ( Divisão de Educação Infantil) Mara Cybele dos Santos Souza Monteiro (Gerência de Tecnologia) Marcilene Honorato da Silva, Francinetti Martins de Lira (Gerência de Documentação e Auditoria Escolar). Alina Soares Leão Medeiros (Gerência de Formação Continuada) Alina Bindá do Nascimento (DDZ I) Luciana Macklouf de Oliveira (DDZ II) Josete Pacheco da Silva, Francisca Suely Neves Ferreira (DDZ III) Sheyla Cristina de Oliveira Girão, Aderlane Maciel Ramos (DDZ IV) Márcia da Silva Trindade, Luana Vieira de Souza (DDZ V) Júlio César Santos Brito, Selma Ferreira Rodrigues (DDZ VI) Emerson Batista de Araújo, Patrícia Tavares de Araújo (DDZ VII) Sonia Serrão Rodrigues – Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Rosália Gualberto dos Santos - Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Suely da Silva- Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Cláudia Barroso Belém - Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Rusinéia Pontes de Castro- Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Daryanne Araújo dos Reis - Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Marcionília Bessa da Silva - Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Mirna Denise Silva de Abreu - Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Rosicleide Romão da Cruz - Divisão de Ensino Fundamental (DEF) Marnice de Araújo Miglio, Mary Jane S. de Castro (Conselho Mun. de Educação – CME) PROFESSORES COLABORADORES COMPONENTE CURRICULAR LÍNGUA PORTUGUESA Sheyla Cristina de O. Gyrão Alina Soares Leão Medeiros Maria do Rosário Brandão Edmilza Santos Ferreira Adriana Ferreira Barbosa Santana Elvira Amaral da Rocha COMPONENTE CURRICULAR MATEMÁTICA Josete Pacheco da Silva Jorge Menezes Newton Sérgio Lima COMPONENTE CURRICULAR ARTE Ana Rita Corrêa da Costa Antônio Carlos Freitas Francinetti Lira Gláucia Antônia Esteves Oliveira Gislaine Regina Pozzetti Hadassa Damasceno Jose Iran Lamego Barbosa Maria Auxiliadora Azevedo Maria Mara Pacheco Raquel Maia Mattos Gilson Moura Victor COMPONENTE CURRICULAR CIÊNCIAS Angélica Carneiro Cordeiro Roseane Maria Sampaio Pinheiro Leuda Silva de Castro Eliane Araújo Braga Carlos Henrique Nascimento Dyanne da Conceição Aguiar Maria Francilene de Azevedo Fonseca Maria Angélica Carvalho Figueiredo COMPONENTE CURRICULAR EDUCAÇÃO FÍSICA João Carlos da Silva Filho Sylvia Abecassis Odisseia Ferreira Edilene Colares COMPONENTE CURRICULAR ENSINO RELIGIOSO Lídia Helena de Oliveira Moreira Alexander Lacerda Cesário Maria José Neves Marzílio Ruy Pinheiro Pereira Neice de Sena Pereira Mirian da Silva Braga Tarcísio Vital pereira de Souza Suelane Medeiros Roque Marlenilza Marinho Reis Francisco Palheta Rossely Mata dos Passos COMPONENTE CURRICULAR GEOGRAFIA Rosália Gualberto dos Santos Richarlison da Costa e Silva Alexandre Ricardo Von Ehnert Márcia da Silva Trindade DISCIPLINA HISTÓRIA Lídia Helena de Oliveira Moreira Marzílio Ruy Pinheiro Pereira Vera Aragão Neice de Sena Pereira Mirian da Silva Braga Maria Solange Oliveira Rosivaldo da Fonseca Moreira Aldemira Winholt do Amaral Licindio Dolzane Rossely Mata dos Passos Tarcísio Normando TEMAS TRANSVERSAIS Maiza Oliveira Diniz Richarlison da Costa e Silva Marlyomar Lídia Helena Mendes de Oliveira (Diversidade) Diagramação Assessoria de Comunicação Designer – Augusto Vieira APRESENTAÇÃO A Prefeitura Municipal de Manaus, por meio da Divisão de Ensino Fundamental, tem a honra de apresentar a Proposta Curricular dos anos iniciais do Ensino Fundamental. O documento atualizado tem a participação de vários profissionais da rede pública; fruto, portanto, de um esforço coletivo. A organização curricular dos anos iniciais do Ensino Fundamental propõe mudanças significativas, buscando investir na fase inicial do processo de aprendizagem. E se entende que está cada vez mais evidente que o domínio de habilidades de leitura e de escrita, principalmente na fase inicial da escolarização, é condição para o sucesso da aprendizagem dos alunos ao longo de todo o seu percurso escolar. Considerando as especificidades da alfabetização e do letramento presentes nos anos iniciais, em cada escola e no interior da sala de aula, optou-se por organizar os conhecimentos dos três primeiros anos do Ensino Fundamental em um bloco de alfabetização, não passível de interrupção, seguindo do 4º e 5º ano. A proposta pedagógica contempla alguns direitos de aprendizagens a serem assegurados a cada ano do Bloco Pedagógico; e os professores, juntamente com a equipe pedagógica, buscarão alternativas para que tais direitos sejam assegurados. O direito à Educação Básica é garantido a todos os brasileiros e, segundo prevê a Lei 9.394/96,que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (art. 22). Desse modo, a escola é obrigatória para as crianças e tem papel relevante em sua formação para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais e complementares do Ensino Fundamental. É necessário assegurar que, ao final do terceiro ano e ao final dos anos complementares do Ensino Fundamental, todos os alunos tenham adquirido as noções básicas pertinentes a cada disciplina contida neste documento. Sem essas capacidades introduzidas, aprofundadas e consolidadas, os alunos terão dificuldade de seguir seus estudos com competência e com capacidade. SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 08 1. ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS............................................................................ 11 1.1 Objetivos........................................................................................................................... 12 1.1.1 Geral............................................................................................................................... 12 1.1.2 Específicos..................................................................................................................... 12 2. MATRIZCURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS.......................... 13 3. ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E TEMPO ESCOLAR..................................................... 14 3.1 Planejamento..................................................................................................................... 16 3.2 Estrutura Didática para Rotina.......................................................................................... 16 3.3 Atividades Permanentes.................................................................................................... 17 3.4 Sequências Didáticas........................................................................................................ 19 3.5 Projetos de Trabalho......................................................................................................... 20 4. CONCEPÇÃO DE CRIANÇA............................................................................................ 21 5. BLOCO PEDAGÓGICO (1°, 2° e 3° ano).......................................................................... 25 5.1 Fundamentação Legal........................................................................................................ 26 5.2 Objetivos do Bloco Pedagógico...................................................................................... 27 5.3 Alfabetização, Letramento e Ludicidade: eixos indissociáveis do Bloco Pedagógico...... 29 5.4 A criança de seis anos........................................................................................................ 33 5.5 A criança de sete e oito anos.............................................................................................. 35 5.5.1 Desenvolvimento Cognitivo e Linguagem...................................................................... 35 5.5.2 Desenvolvimento Emocional......................................................................................... 36 5.5.3 Desenvolvimento Social................................................................................................. 38 5.6 Séries complementares do Bloco Pedagógico: 4º e 5º anos.............................................. 38 5.7 Inclusão e Diversidade....................................................................................................... 39 6. CURRÍCULO....................................................................................................................... 41 6.1 Estrutura curricular do Ensino Fundamental de nove anos............................................... 41 6.2 Interdisciplinaridade no âmbito do Bloco Pedagógico...................................................... 42 6.3 Interdisciplinaridade e Transversalidade no Bloco Pedagógico....................................... 43 7. AVALIAÇÃO....................................................................................................................... 45 7.1 Noções Conceituais........................................................................................................... 45 7.2 Aspectos Legais................................................................................................................. 47 7.3 Avaliando Discentes com Deficiências............................................................................... 48 7.3.1 Ações a serem priorizadas aos discentes com deficiência sensorial (visual e auditivo).................................................................................................................... 49 7.3.2 Discentes com deficiência intelectual ou transtorno global do desenvolvimento......... 50 7.4 Instrumentos de Avaliação................................................................................................. 50 7.4.1 Observação..................................................................................................................... 51 7.4.2 Registro/Fichas............................................................................................................... 51 7.4.3 Debate............................................................................................................................. 51 7.4.4 Autoavaliação................................................................................................................. 51 7.4.5 Trabalho em grupo.......................................................................................................... 52 7.4.6 Seminário........................................................................................................................ 52 7.4.7 Portifólio......................................................................................................................... 52 7.4.8 Prova............................................................................................................................... 52 7.5 Avaliações externas........................................................................................................... 53 7.6 Provinha Brasil................................................................................................................... 53 7.7 Prova Brasil........................................................................................................................ 53 7.8 Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA).................................................................... 54 8. COMPONENTES CURRICULARES................................................................................. 55 Língua Portuguesa................................................................................................................... 57 Matemática............................................................................................................................ 103 Ciências Naturais................................................................................................................... 125 Geografia............................................................................................................................... 152 História.................................................................................................................................. 172 Educação Física..................................................................................................................... 195 Ensino Religioso.................................................................................................................... 210 Arte........................................................................................................................................ 226 9. TEMAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS....................................................................... 241 10. REFERÊNCIAS............................................................................................................... 285 INTRODUÇÃO Manaus é um município brasileiro, capital do Estado do Amazonas e o principal centro financeiro, corporativo e econômico da Região Norte do Brasil. É uma cidade histórica e portuária, localizada no centro da maior floresta tropical do mundo, o que a torna uma das cidades brasileiras mais conhecidas mundialmente, principalmente pelo seu potencial turístico e pelo ecoturismo, o que faz do município o décimo maior destino de turistas no Brasil. Mediante as peculiaridades que apresenta, não podem ser desconsideradas na formulação da Política Educacional. É, hoje, uma cidade de quase dois milhões de habitantes, com características de Cidade – Estado, concentrando 98% de sua economia no Polo Industrial de Manaus (PIM), com demandas sociais à espera de respostas imediatas do Poder Público. Apresenta também um intenso fluxo migratório, tanto do interior do Estado quanto de outros recantosdo país, aumentando com isso a necessidade do estabelecimento de Políticas Públicas que contemplem esse mosaico de interesses das distintas zonas da cidade. Entendendo as premissas que se apresentam em nossa cidade, a Secretaria Municipal de Educação elaborou uma proposta curricular que atenderá aos objetivos do Ensino Fundamental na construção do capital intelectual, não exclusivamente voltado para a produção capitalista, mas, sobretudo, para um indivíduo que possa compreender a realidade e modificá-la, se for necessário. Com o advento da Lei 11.274/2006, o Ensino Fundamental passou a funcionar com nove anos de duração. Iniciou-se, assim, uma nova fase na educação brasileira, que tem a intencionalidade de permitir o acesso da criança à escola a partir dos seis anos de idade. Em dezembro de 2010, é publicada pelo CNE/CEB a Resolução nº 7 que fixa as Diretrizes para o funcionamento do Ensino Fundamental de 9 anos, disciplinando o seu funcionamento. Mediante o que preconiza tais documentos, a Proposta Curricular dos Anos Iniciais da Secretaria Municipal de Educação além de contemplar os componentes curriculares da Educação Básica, contém os direcionamentos teóricos do ensino organizado em Bloco Pedagógico (1º, 2º e 3º anos) e séries complementares 4º e 5º anos e valoriza os temas diversificados, denominados Temas Sociais Contemporâneos, de acordo com o que orienta o art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN Nº 9394/96). Esses Temas Sociais Contemporâneos correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira, levando-se em conta a realidade global do aluno, devendo ser ministrados de forma interdisciplinar e transversal a fim de oportunizar a formação de um cidadão que possa exercer sua cidadania de maneira responsável e participativa. O ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia (art. 26, § 4º, da Lei nº 9.394/96). A história e as culturas indígena e afro-brasileira, presentes, obrigatoriamente, nos conteúdos desenvolvidos no âmbito de todo o currículo escolar e, em especial, no ensino de Arte, Literatura e 8 História do Brasil, assim como a História da África, deverão assegurar o conhecimento e o reconhecimento desses povos para a constituição da nação (conforme art. 26-A da Lei nº 9.394/96, alterado pela Lei nº 11.645/2008). A Música constitui conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular Arte, o qual compreende também as artes visuais, o teatro e a dança, conforme o § 6º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. A Educação Física, componente obrigatório do currículo do Ensino Fundamental, integra a proposta político-pedagógica da escola e será facultativa ao aluno apenas nas circunstâncias previstas no § 3º do art. 26 da Lei nº 9.394/96. O Ensino Religioso, de matrícula facultativa ao aluno, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui componente curricular dos horários normais das escolas públicas de Ensino Fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei nº 9.394/96. Dessa forma os componentes curriculares e as áreas de conhecimento devem articular em seus conteúdos, com base nas possibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida humana em sua escala global, regional e local, bem como na esfera individual. Assim os conteúdos deverão ser planejados em função da criança e do seu direito de aprendizagem. Nesse sentido, a fim de garantir uma educação básica de qualidade, esta Proposta Curricular articulou sua proposta aos cadernos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC 2012) – os quais foram tomados como referência para o processo de alfabetização e letramento no Bloco Pedagógico, entendendo que o direito à educação básica é garantido a todos os brasileiros e , segundo prevê a Lei 93.94/96 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores . (art. 22) Desse modo a escola é obrigatória para a criança e tem papel relevante em sua formação para agir na sociedade e para participar ativamente das diferentes esferas sociais, tornando necessário delimitar os diferentes conhecimentos e as capacidades básicas que estão subjacentes aos direitos o que justifica a opção pelo termo capacidade pelo fato de ser amplo e aqui sendo utilizado como parâmetro dando conta de denominar: os atos motores, as operações mentais, as atitudes que favorecem a autonomia e os valores. Esta Proposta pressupõe que o desenvolvimento das capacidades deve ser previsto dentro de uma lógica, ou seja, um determinado conhecimento ou capacidade, podendo ser introduzido em um ano e aprofundado nos anos seguintes. A consolidação também poderá ocorrer em mais de um ano escolar, uma vez que há aprendizagens que exigem um tempo maior para a apropriação. 9 Para tanto, apresenta-se a definição desse tipo de abordagem: 1. Introduzir – representado pela letra I, indicará que determinado conhecimento ou capacidade deve ser introduzido na etapa escolar indicada; 2. Aprofundar – representada pela letra A, indicará que a ação educativa deve garantir o aprofundamento; 3. Consolidar – representada pela letra C, indicará que a aprendizagem deve ser consolidada no ano indicado. Este documento organiza-se em eixos, capacidades, conteúdos/conceitos, orientações didáticas, que orientarão os planejamentos pedagógicos nas unidades escolares, bem como a seleção e a estruturação dos conhecimentos, as metodologias e também a avaliação, levando em consideração as capacidades do estudante, destacando o que deve ser introduzido, aprofundado e consolidado a cada ano do Bloco Pedagógico. As disciplinas possuem eixos que ajudam a organizar as capacidades trabalhadas. Os conteúdos são ligados às capacidades de modo que o seu trabalho sistemático favorece o desenvolvimento do educando na direção apontada pela Proposta Curricular. As orientações didáticas que ajudam na aplicação do conteúdo estão no detalhamento de cada área curricular. Assim, busca-se subsidiar o trabalho docente dando uma visualização mais clara dos objetivos de seu trabalho e das metas a serem alcançadas. 10 1. ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS Pautada pela reforma curricular em curso, sob a responsabilidade do Ministério da Educação e Cultura (MEC), a Secretaria Municipal de Educação, nesta Proposta Curricular do Ensino Fundamental, redimensiona a organização do trabalho pedagógico nas escolas. A Secretaria toma como base a reestruturação dos conteúdos curriculares, da metodologia, do planejamento e do processo avaliativo, entre outros aspectos, adequados para subsidiar o trabalho educativo nos primeiros cinco anos do Ensino Fundamental. No ano de 2009, a Secretaria Municipal de Educação reorganizou a estrutura pedagógica do Ensino Fundamental, que passou a trabalhar com períodos anuais, do 1º ao 9º ano, tendo como objetivo principal assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais efetiva. No entanto, atendendo as determinações do Ministério de Educação (MEC) que, de acordo com a Resolução n° 07 de 14 dezembro de 2010, fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, em seu artigo30, § 1º, os anos iniciais do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Manaus, estarão organizados a partir de 2014, nos seus três primeiros anos, em Bloco Pedagógico. Assim respeita-se a reorganização do tempo e do espaço escolar, a fim de que se possa obter um processo de alfabetização de qualidade, bem como, reafirmar o cumprimento da Meta nº 5 do Plano Nacional de Educação (PNE) que é alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade. Dessa forma contribui-se para a redução das desigualdades sociais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública. A organização do ensino da Secretaria Municipal de Educação nos anos iniciais ficou assim definida: ANOS INICIAIS BLOCO PEDAGÓGICO 1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO 5º ANO 6 ANOS 7 ANOS 8 ANOS 9 ANOS 10 ANOS 11 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Geral Propor à comunidade escolar da rede municipal de ensino de Manaus um parâmetro curricular para os anos iniciais e complementares da alfabetização, que auxilie no planejamento, na execução e na avaliação do processo da alfabetização e letramento. 1.1.2 Específicos 1. Contribuir para a instrumentalização do trabalho docente no campo da alfabetização e letramento; 2. Propiciar aos professores um referencial de orientação didática que sirva como proposta norteadora no planejamento e na avaliação escolar; 3. Oferecer aos educandos e educadores uma proposta pedagógica adequada a sua realidade e em conformidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e com a Proposta Curricular do Município de Manaus. 12 2. MATRIZ CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS O B S E R V A Ç Õ E S : I- [. .. ] s e rá n e c e s s á ri o c o n s id e ra r o s t rê s a n o s i n ic ia is d o E n s in o F u n d a m e n ta l c o m o u m b lo c o p e d a g ó g ic o o u u m c ic lo s e q u e n c ia l n ã o p a s s ív e l d e i n te rr u p ç ã o , v o lt a d o p a ra a m p li a r a to d o s o s a lu n o s a s o p o rt u n id a d e s d e s is te m a ti z a ç ã o e a p ro fu n d a m e n to d a s a p re n d iz a g e n s b á s ic a s . ( R e s o lu ç ã o N º 0 7 /2 0 1 0 C N E /C B E ). II - O s T e m a s S o c ia is C o n te m p o râ n e o s (É ti c a , S a ú d e , M e io A m b ie n te , O ri e n ta ç ã o S e x u a l, P lu ra li d a d e C u lt u ra l, T ra b a lh o e C o n s u m o , O ri e n ta ç ã o p a ra o T râ n s it o , E d u c a ç ã o F is c a l e V a lo ri z a n d o o I d o s o ) d e v e m s e r a b o rd a d o s d e f o rm a t ra n s v e rs a l. II I- O s c o n te ú d o s d e H is tó ri a e C u lt u ra A fr o -b ra s il e ir a e In d íg e n a d e v e m s e r m in is tr a d o s n o â m b it o d o c u rr íc u lo e s c o la r, e m e s p e c ia l n o s c o m p o n e n te s c u rr ic u la re s d e H is tó ri a , A rt e e L ín g u a P o rt u g u e s a , d e a c o rd o c o m o s d is p o s it iv o s d a L e i N º 1 1 .6 4 5 /0 8 . IV - O E n s in o R e li g io s o , d e m a tr íc u la f a c u lt a ti v a a o a lu n o d e a c o rd o c o m a L e i N º 9 .4 7 5 /9 7 , fa z p a rt e d o s c o m p o n e n te s c u rr ic u la re s o b ri g a tó ri o s d o E . F u n d a m e n ta l d e a c o rd o c o m a R e s o lu ç ã o N º 0 7 /2 0 1 0 C N E /C E B . V - O c o n te ú d o d e M ú s ic a d e v e s e r a b o rd a d o n o c o m p o n e n te c u rr ic u la r A rt e s , d e a c o rd o c o m o s d is p o s it iv o s d a L e i N º 1 1 .7 6 9 /0 8 . V I- O c o m p o n e n te c u rr ic u la r E d u c a ç ã o F ís ic a d e v e s e r m in is tr a d o d e f o rm a t e ó ri c a e p rá ti c a n o m e s m o t u rn o d e a u la . V II - O c o n te ú d o d e F u n d a m e n to s d e H is tó ri a e G e o g ra fi a d o A m a z o n a s e s tá in s e ri d o n o s c o n te ú d o s d o s c o m p o n e n te s c u rr ic u la re s H is tó ri a e G e o g ra fi a r e s p e c ti v a m e n te . 13 3. ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E TEMPO ESCOLAR A organização espaço/tempo do fazer pedagógico é desafiadora e, muitas vezes, reveladora da forma como os professores concebem e realizam o trabalho docente. Pensar nesse espaço de atuação pedagógica é pensar que a primeira presença se faz pelo corpo que ocupa um espaço e estabelece sentido. Confirma-se, então, a nova significação dada à linguagem e à expressão corporal, que para Amorim (2004) são constructos integradores para a vivência da diversidade e amplitude do estudante. Dessa maneira, o cuidado, um olhar mais sensível, as estratégias pedagógicas diversas e a organização do tempo e do espaço escolar fazem a diferença na formação do homem mais feliz, consciente de si e dos outros. E essas relações, promovidas por um espaço e um tempo bem organizados e estimulantes, segundo a mesma autora, possibilitam outras formas de relacionamentos e de aprendizagens. Os tempos e os espaços da escola são colocados a serviço de novas relações de poder entre o estudante e o professor, com a tarefa de formar para a vida. Isso propicia o desenvolvimento de novas relações entre as pessoas e entre as pessoas e as coisas. (FREIRE, 2003, p. 67). O sentido que se atribui à unidade escolar e a sua função social, a concepção que se tem de infância e de adolescência, os espaços da motricidade, da afetividade e da cognição no processo de ensino e de aprendizagem influenciam, diretamente, na forma em que se organiza o trabalho pedagógico. Além desses, outros fatorescondicionam a organização do trabalho pedagógico; por exemplo, as características individuais de professores e de estudantes, a localização da unidade escolar, no bairro ou na cidade, o espaço físico da própria escola e as atividades nela desenvolvidas, bem como a concepção de educação e de sujeitos que se quer formar. Falemos então sobre o espaço. O espaço, como estrutura de oportunidades e contexto de aprendizagens e de significados, é destacado por Zabalza (1998) ao afirmar que o espaço na educação deve ser constituído como uma estrutura de oportunidades. É uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento pessoal do estudante e do professor e o desenvolvimento das atividades educativas. Esse ambiente, enquanto contexto de aprendizagens constitui espaços vivos de estruturas espaciais, de linguagens, de instrumentos, bem como, de possibilidades ou de limitações do desenvolvimento que se almeja. A organização dos anos iniciais em Bloco Pedagógico nos conduz a um repensar na organização do tempo escolar, transformando o tempo cronológico rígido em tempo pedagógico circular, dinâmico. Também buscando a retomada de aspectos importantes do processo de ensino e aprendizagem, ou seja, dos conhecimentos tratados nas diferentes situações didáticas com os estudantes. Deve-se lembrar, também, que as pessoas têm tempos diferentes de aprendizagem e, consequentemente, aprendem de formas diferentes. Nesse sentido, os professores devem criar oportunidades diferenciadas de aprendizagem para os estudantes e, para tal, é imprescindível que 14 organizem o trabalho e o tempo didático em função de cada um deles, garantindo, assim, um ganho significativo na formação plena de futuros cidadãos. A organização da prática pedagógica orienta caminhos e implementa estratégias eficazes para um bom uso dos espaços e dos tempos escolares. Assim, conhecer as etapas do desenvolvimento humano e ter uma atitude investigadora e organizadora de outros tempos e espaços escolares, pois como afirma Wallon apud Almeida (2000, p. 86): Somos componentes privilegiados do meio de nosso aluno, torná-lo mais propício ao desenvolvimento é nossa responsabilidade. A organização do trabalho pedagógico caracteriza-se como uma dimensão muito importante na ação docente como sabem os professores. No Bloco Pedagógico, deve-se atentar para não o reduzir apenas ao trabalho da sala de aula, como se o professor fosse um ser isolado. Deve estendê-lo para outros espaços/tempos, com o exercício do planejamento coletivo e a ação concretizadora da proposta pedagógica. Portanto, é imprescindível que se organize o trabalho pedagógico na sala de aula buscando sempre a articulação das diversas áreas do conhecimento. A seguir, estão relacionados alguns aspectos importantes que se deve considerar para a organização do espaço e do tempo escolar. 15 3.1 Planejamento O planejamento é um meio para se programar as ações docentes, sendo também um momento de reflexão ligado diretamente à avaliação. É uma tarefa docente que inclui a previsão das atividades didáticas em face aos objetivos propostos, assim como a revisão e a adequação do processo de ensino. Assim, para garantir a qualidade das ações pedagógicas, a aprendizagem significativa para todos os estudantes, a oferta de vários espaços de aprendizagem, as diversas possibilidades de interação e a efetivação dos princípios do trabalho pedagógico, é preciso ter o planejamento como ferramenta de fundamental importância. É necessário, portanto, que o professor compreenda o planejamento, não como uma mera exigência burocrática, mas como uma forma efetiva de acompanhar, de prever, de organizar, de interagir e de avaliar as ações e as estratégias pedagógicas adequadas a cada estudante ou grupo de estudantes. O planejamento traz qualidade ao trabalho pedagógico a partir do momento que aponta, com clareza, aonde se quer chegar, levanta questionamentos e indica caminhos. Uma das funções mais importantes do planejamento é assegurar a unidade e coerência do trabalho pedagógico da escola como um todo e o de cada turma em particular . (VILLAS BOAS, 2004 p. 95). O planejamento, como reflexão-ação-reflexão, deverá partir de uma avaliação diagnóstica, inserido numa concepção formativa. É um momento para se encontrar novas maneiras de promover a aprendizagem e uma ferramenta para o conhecimento e a reflexão da realidade da unidade escolar, de suas potencialidades, de seus acertos e erros, de suas necessidades e a partir dele buscar alternativas, tomar decisões, revisar as ações e solucionar os problemas. O ato de planejar viabiliza a organização do tempo pedagógico e assegura o alcance dos objetivos do Bloco Pedagógico, como forma de atender as necessidades de aprendizagem dos estudantes ou de um determinado grupo de estudantes. Deve, ainda, garantir a otimização do uso dos diversos espaços escolares, ousando outras formas de fazer/viver a alfabetização. 3.2 Estrutura Didática para Rotina A rotina representa, também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com os estudantes. Concordamos, portanto, com Leal (2004, p.02) quando a autora defende a importância do planejamento para a vida escolar, ao afirmar que: [...] as rotinas escolares asseguram que alguns procedimentos básicos se jam acordados entre professor e alunos e que os mesmos já se disponibilizem dentro do espaço temporal e espacial para as tarefas peda gógicas. As crianças aprendem, através dessas rotinas, a prever o que fará na escola e a organizar-se. Por outro lado, a existência dessas rotinas possibilita ao professor distribuir 16 Planejar é organizar uma rotina voltada para reflexão constante sobre a prática social, considerando uma boa formação dos conhecimentos específicos, sistematizados, selecionados das bases das ciências é o que propõem os novos estudos sobre ensinar e aprender. Sabemos, no entanto, que, no que se refere ao ensino da língua materna, alfabetizar não deve se resumir a trabalhar o sistema de escrita de forma repetida e com ênfase na memória, dentro de uma rotina desprovida dos encantamentos dos textos que estão presentes na vida cotidiana das pessoas e de atividades reflexivas e desafiadoras para os alunos. Desse modo, esta proposta defende que a organização e a sistematização do trabalho pedagógico são muito importantes para a aprendizagem dos alunos. A construção de uma rotina escolar que contemple os diferentes eixos de ensino da língua, por meio de um planejamento elaborado com base na realidade de cada aluno e escola, pode favorecer a realização de atividades diversificadas. Nesse sentido, os alunos têm a possibilidade de interagir com diferentes textos ao mesmo tempo em que são levados a refletir sobre o Sistema de Escrita Alfabética no cotidiano escolar que ajudem a escrita a promover a autonomia e a criatividade dos alunos no mundo da leitura e da escrita. Assim, faz-se necessário resgatar as estruturas didáticas que contemplam as múltiplas estratégias organizadas em função das intenções educativas expressas no projeto de trabalho de cada turma, ano e/ou unidade escolar, constituindo-se em um instrumento para o planejamento do professor. Essas estruturas didáticas podem ser agrupadas em três grandes modalidades de organização de tempo; descritas a seguir. 3.3 Atividades Permanentes São as atividades em que os conteúdos necessitam de uma constância, um tempo maior de vivência, em que o professor alfabetizador trabalha com os conteúdos numa interligação com a prática social. Para Gasparim (2002), o estudante é levadoa aprender criticamente o conhecimento científico. A escolha dos conteúdos, que definem os tipos de atividades permanentes a serem realizadas com frequência regular, diária ou semanal, em cada grupo de crianças ou turma, dependerá das prioridades elencadas com base no Currículo e nas metas e nos objetivos estabelecidos para o trabalho educativo. Consideram-se atividades permanentes brincadeiras no espaço interno e externo; a roda de história; a roda de conversas; os ateliês ou oficinas de desenho, de pintura, de modelagem e de música; com maior facilidade as atividades que ele considera importantes para a construção dos conhecimentos em determinado período, facilitando o planejamento diário das atividades didáticas. 17 as atividades diversificadas ou ambientes organizados por temas ou materiais à escolha da criança, incluindo os momentos para que os estudantes possam ficar sozinhos, se assim o desejarem, exercitando a autonomia; os cuidados com o corpo, além da necessária vivência da corporeidade, pelo estímulo à expressão humana; dentre outros. Para Bastos apud Amorim (2004), a aprendizagem também está voltada ao processo de ampliação do repertório existencial e à sensibilização para o contato de cada pessoa consigo mesma e em suas múltiplas interações com o meio natural e social. Essas interações ocorrem no contato direto entre os estudantes e os conteúdos trabalhados. Construir, diariamente, a rotina do dia é trabalho de exercício da autonomia e de corresponsabilidade entre os pares. 18 3.4 Sequências Didáticas Debater e discutir outras formas de organizar o trabalho pedagógico é ação ativa de mudanças, necessárias então quando se pensa na reorganização do desse trabalho. Villas Boas (2004) afirma que os objetivos reais da escola estão impressos na organização do seu trabalho pedagógico global e nas suas práticas avaliativas, e que o desenvolvimento da prática em sala de aula é entendido como os momentos e espaços de aprendizagem. As sequências didáticas são planejadas e orientadas com o objetivo de promover uma aprendizagem específica e definida. Permite, por exemplo, que se leiam textos relacionados a um mesmo tema, de um mesmo autor, de um mesmo gênero, ou ainda, que se escolha uma brincadeira e se aprenda a sua origem e como se brinca; ou também que organizem atividades de arte para conhecer mais as várias expressões artísticas, como o teatro, a pintura, a música, etc.; ou que se estudem conteúdos das várias áreas do conhecimento do Ensino Fundamental, de forma interdisciplinar. Uma abordagem interdisciplinar no tratamento da diversidade de temáticas relacionadas às diversas áreas do saber constitui, portanto, algo de extrema relevância e tal concepção propicia a concordância de que o tempo escolar não deve ser dividido por áreas de conhecimento. O desejo é a integração dessas diferentes áreas. A reflexão em torno dessa interdisciplinaridade aponta para a necessidade de um esforço coletivo dentro da escola para que se aprenda a organizar os tempos pedagógicos de forma a se estabelecer prioridades que atendam às crianças, seus interesses e curiosidades em torno dos diversos campos do saber. Assim, além dessa busca pela interdisciplinaridade, outro aspecto relevante se coloca ao se ter a criança como foco do trabalho pedagógico. Isso implica conhecê-la também no que se refere às etapas ou níveis de desenvolvimento relativos ao objeto ou objetos de conhecimento que estão sendo foco da atenção pedagógica em um dado momento, de forma que os objetivos e/ou finalidades pretendidos ou relacionados à mesma possam ser alcançados. É importante articular o que as crianças sabem em relação às diferentes áreas do currículo (Ciências Sociais, Ciências Naturais, Noções Lógico-Matemáticas e Linguagens) e isto leva, segundo Corsino (2007), a uma organização pedagógica que deve ser flexível, aberta ao novo e ao imprevisível. Esse enfoque, conforme sugere Benjamin, citado por Corsino: Pensar temas e conteúdos, definir metodologias relacionadas às diversas áreas do conhecimento, articulando-as e pondo em destaque o papel dos diversos eixos da língua: análise linguística, oralidade, leitura e escrita, numa perspectiva de letramento, constituem-se, então, num grande desafio ao professor. Tais mudanças devem ocorrer tanto em relação à natureza dos conteúdos e/ou conceitos trabalhados/refletidos, quanto à natureza da organização do trabalho pedagógico pensada, tendo-se em vista um maior aproveitamento e/ou aprendizagem dos alunos. O desafio do alfabetizar letrando está posto. No entanto, como operacionalizá-lo na sala de aula? Como propiciar à criança atividades que 19 favoreçam um domínio quanto à apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) e, ao mesmo tempo, ofereçam às mesmas a capacidade para responder adequadamente às demandas sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita no ambiente da sala de aula? Segundo Soares (2003), alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza essencialmente diferente, mas são interdependentes e indissociáveis: os dois processos podem e devem ocorrer simultaneamente. No entanto, os mesmos envolvem habilidades e competências específicas que precisam ser compreendidas. Assim, é importante que as crianças participem de experiências variadas envolvendo a leitura e a escrita, por meio da diversidade de gêneros textuais e que paralelamente desenvolvam as capacidades exigidas para uma compreensão e apropriação do Sistema de Escrita Alfabética (SEA). Portanto, o professor precisa organizar didaticamente os conteúdos de forma sequenciada com intenção de oferecer desafios com graus diferentes de complexidade para que os estudantes possam ir, paulatinamente, resolvendo problemas com base em diferentes atividades vivenciadas. As práticas de alfabetização, proposta metodológica do Bloco Pedagógico, promove um trabalho em sala de aula em que todo estudante deve falar, ouvir, ler e escrever, seja qual for a área do conhecimento trabalhada. 3.5 Projetos de Trabalho É uma modalidade de organização do trabalho pedagógico que prevê um produto final cujo planejamento tem objetivos claros, dimensionamento do tempo, divisão de tarefas e, por fim, a avaliação final em função do que se pretendia. Tudo isso feito de forma compartilhada, mas ao mesmo tempo permitindo que cada educando tenha autonomia pessoal e responsabilidade coletiva para o bom desenvolvimento dos projetos. Dessa forma, os projetos de trabalho corresponsáveis e que levam à construção da autonomia pedem uma pedagogia integradora e totalizadora, que rompa com aplicação dos conteúdos e de processos de uma sequência didática que não permitem a reflexão. Os projetos devem abordar conhecimentos específicos, construídos com base em um dos eixos/temas de trabalho, que se organizam ao redor de um problema para resolver ou de um produto final que se quer obter. É uma concreta possibilidade de diálogo entre as diversas áreas do conhecimento. A pedagogia de projetos se apresenta como aliada no processo de reorganização dos tempos e dos espaços nos Blocos Pedagógicos, quando possibilita a participação, a construção e o planejamento coletivo, envolvendo todos em temas de interesse comum. Assim, o conhecimento se configura numa construção coletiva e é, na troca dos sentidos construídos, no diálogo e na valorização das diferentes vozes, que circulam nos espaços de interação escolar que a aprendizagem vai se organizando. 20 4. CONCEPÇÃO DE CRIANÇA A concepção de criança é uma noção historicamente construída e, consequentemente, vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogêneanem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim, a busca pela compreensão do desenvolvimento da criança tem um caráter histórico de construção do conceito de infância e de um tempo próprio característico do ser humano. Essa avaliação se faz necessária a fim de se observar uma linha evolutiva do homem e de sua procura pelo entendimento dos muitos processos que cercam a aprendizagem da criança e de como se pode ampliar as conquistas propícias baseadas nas interações com o meio. Ao se analisar a história, percebe-se que o sentimento de infância não existiu para a sociedade por muitos séculos. Não havia distinção entre a criança e o adulto. A infância era desconhecida ou tratada como um período que logo seria esquecido. Assim que os filhos pudessem viver em sociedade sem depender de sua mãe ou ama, eram introduzidos no mundo adulto sem distinções sociais. (ÁRIES, 1981). O conceito de infância como é concebido hoje é fato recente. Para se compreender o processo pelo qual houve essa construção, é importante observar vertentes relacionadas à reorganização estrutural da família, ao desenvolvimento econômico, ao assistencialismo e à crescente preocupação com a educação que ocorreu juntamente com uma nova forma de encarar a infância. Zilberman (2003) explica que mudanças em relação ao tratamento recebido pela criança também foi fruto de reestruturação do modelo de família, centrado agora na família mononuclear, o que estimulava o afeto entre seus membros e maior dedicação às necessidades infantis. É importante ressaltar que essa atenção destinada à criança levou ao surgimento de locais destinados para a sua educação – a escola – cuja função era antes delegada às mães ou às amas. Em seu primeiro momento, eram reservadas aos religiosos. Após as mudanças ocorridas na sociedade europeia, como a descoberta de novas terras, os novos mercados, o crescimento tecnológico e a invenção da imprensa, esse espaço se tornou mais acessível aos demais grupos sociais, pois a própria reestruturação econômica e industrial necessitava de novas competências educativas. (BUJES, 2001). A ausência da mãe, então empregada fabril, favoreceu o surgimento de práticas que assegurassem o desenvolvimento dos filhos pobres e o exercício da cidadania. Instituições para educar crianças entre 0 a 6 anos de idade começaram a surgir no continente europeu por volta do século XVIII, criadas para atender mães pobres e trabalhadoras. Hoje, no Brasil, as crianças são consideradas cidadãs de direito. Mas isso foi fruto de muitas lutas para que esse pensamento se consolidasse e para que políticas públicas fossem pensadas para atendê-las em suas especificidades. 21 Assim, a construção do entendimento sobre a criança, a infância e sua escolarização culminou com a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394/96. Como apresentamos, existem ao longo da história da humanidade diferentes concepções sobre o que vem a ser infância . Por exemplo, houve um tempo em que a infância era vista como a antecipação da vida adulta; noutro, em que a infância era tida como um período de desenvolvimento natural, e que, por assim ser, dispensava as ações de mediação aos processos sociais. Mediante o exposto, a Secretaria Municipal de Educação apresenta a sua concepção de infância e de criança, com base nela, constrói a proposta pedagógica em consonância com as demandas específicas desse período da vida. Seja na etapa denominada Educação Infantil, seja na etapa do Ensino Fundamental, os docentes precisam atentar para o fato de estarem formando crianças. Isso deve ser o norte da definição das aprendizagens que se pretende garantir no universo escolar, tendo em vista o processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, uma vez que a ampliação deste, de oito para nove anos, trouxe a inserção da criança de 6 anos outrora pertencente ao quadro da Educação Infantil, para o espaço do Ensino Fundamental. (Lei 11.274/06). Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o artigo 11 o relata que: [...] no processo de transição para o Ensino Fundamental a proposta pedagógica deve prever formas para garantir a continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitando as especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental (Resolução n o 5, de 17 de Dezembro de 2009). Assim, cabe ao professor da Educação Infantil promover atividades que levem em conta as especificidades da criança e os objetivos dessa etapa de ensino, evitando assim que essa etapa se configure em um curso preparatório para o Ensino Fundamental. Quanto ao professor do Ensino Fundamental, compete conhecer a criança que lhe está confiada, sabendo que essa tem um desenvolvimento de acordo com sua faixa etária e de acordo com a interação com as pessoas e espaços com base nas experiências vividas não só na escola, mas também em outros espaços, pois como assinala Kramer (2007, p. 20): Educação Infantil e Ensino Fundamental são indissociáveis: ambos envolvem conhecimentos e afetos; saberes e valores; cuidados e atenção; seriedade e riso. [...] Defendemos aqui o ponto de vista de que os direitos sociais precisam ser assegurados e que o trabalho pedagógico precisa levar em conta a singularidade das ações infantis e o direito à brincadeira, à produção cultural tanto na educação infantil quanto no ensino fundamental. É preciso garantir que as crianças sejam atendidas nas suas necessidades ( a de aprender e de brincar), que o trabalho seja planejado e acompanhado por adultos na educação infantil e no ensino fundamental e que saibamos, em ambos, ver, entender e lidar com a crianças como crianças e não apenas como estudantes. 22 A criança possui uma natureza singular que a caracteriza como ser que sente e que pensa o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelece desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio em que vive, nas relações contraditórias que presencia e, por meio das brincadeiras, explícita as condições de vida a que está submetida, seus anseios e desejos. No processo de construção de conhecimento, as crianças se utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de ter ideias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. Nessa perspectiva, a criança constrói o conhecimento baseados nas interações que estabelece com as outras pessoas e com o meio em que vive. Por isso, a metodologia que norteará esta proposta tem como dimensão os princípios: - Proporcionar condições adequadas para promover o bem-estar da criança, seu desenvolvimento físico, motor, emocional, intelectual, moral e social, a ampliação e suas experiências, bem como estimular seu interesse pelo processo de conhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade (CF/1988 - LDB/9394/96, Art. 29); - Trabalhar complementarmente com a família, formando a trilogia criança-família-escola, para que se complete o projeto pretendido; - Buscar a interação entre as diversas áreas do conhecimento e aspectos da vida cidadã como conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores; - Proporcionar às crianças e suas famílias oportunidades de acesso a conhecimentos, valores e modo de vida verdadeiramente cidadãos. Com base nas teorias do conhecimento disponíveis sobre a educação da criança, (Rosseau, Pestalozzi, Vigotsky, Piaget, Wallon, Howard Gardner, Freinet, Emília Ferrero, Perrenoud e outros), esta proposta curricular fundamenta-se nasteorias sociointeracionista e de inteligências múltiplas, para promover a integração entre os aspectos cognitivos, físicos, emocionais e sociais da criança, estimulando o desenvolvimento pleno de suas potencialidades, permitindo que a criança construa significações e formule cada vez mais complexas ações de agir e pensar . Por isso, esta proposta foi elaborada para ser realizada de maneira reflexiva e crítica, integrando a teoria e a prática, o fazer e o pensar . Para que isso ocorra no dia a dia da escola, foi estabelecida uma metodologia de trabalho organizada e estruturada de forma dinâmica, a fim de evitar distorções entre o pensar e o fazer pedagógico. Essa metodologia envolve a AÇÃO – REFLEXÃO – AÇÃO e está baseada no movimento da CURIOSIDADE - BUSCA - DESCOBERTA, sendo o educador um mediador entre a criança e o objeto de conhecimento. Portanto, para que o educador seja um mediador é necessário que ele compreenda as etapas de desenvolvimento pelas quais passam as crianças, conheça os aspectos cognitivo, físico, social e psicomotor, bem como o objeto de conhecimento que pretende ser construído pela criança. 23 Para isso, ele planejará situações de aprendizagens que favorecerão a interação: sujeito-sujeito e sujeito-objeto de conhecimento. Para que haja coerência entre as orientações gerais (princípios, intenções, concepções) e a ação (prática pedagógica), é necessário considerar o currículo real da Instituição. O currículo concebido como instrumento que orientará as ações de cada educador está, portanto, em evidência, pois proporcionará informações concretas sobre o quê, quando e como ensinar e também o quê, quando e como avaliar . O profissional que atuar com as crianças dos anos iniciais deverá estar amplamente qualificado para trabalhar com conteúdos de naturezas diversas, com conhecimentos específicos das diversas áreas (Linguagem, Matemática, Ciências e Arte, contemplando, Música e Movimento), possuir uma formação ampla que o capacite a refletir constantemente sobre sua prática, trocar ideias, dialogar com as famílias e com a comunidade e buscar informações necessárias para atuar com crianças. No desenvolver de sua prática pedagógica, o profissional precisa de instrumentos essenciais para propiciar a sua ação pedagógica, tais como: observação, registro, planejamento e avaliação. Dentro dessa perspectiva, a criança precisa ter seu papel de destaque, na medida em que, como objetivo do ensino, sua aprendizagem deve levar em conta as diversas relações que ela estabelece em toda a dimensão cultural em que está inserida. Valorizar o conhecimento próprio de cada criança e aqueles adquiridos na convivência com os adultos e outras crianças é crucial para sua construção enquanto sujeito histórico, social e cultural. 24 5. BLOCO PEDAGÓGICO (1º, 2º e 3º ANO) Desde a implantação do Ensino Fundamental com nove anos de duração e início aos 6 anos de idade, Lei nº 11.274/2006, o Governo Federal juntamente com as secretarias de educação, vêm implementando ações, políticas e programas, diretrizes curriculares que assegurem a melhoria da qualidade do ensino e que resultem na aprendizagem eficaz e eficiente de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Assim, ao estabelecer a entrada das crianças de 6 anos de idade no ensino obrigatório, o Estado reafirma o Ensino Fundamental como direito público subjetivo, garantido-lhes condições de acesso, permanência e um maior tempo para consolidação das aprendizagens de Alfabetização e Letramento, com o domínio das habilidades e de conhecimentos necessário para o prosseguimento do percurso escolar com sucesso. Atenta ao cenário nacional, à Legislação emanada do Conselho Nacional de Educação e às políticas e diretrizes do Ministério da Educação, em 2006, em cumprimento à Lei 11.274/2006, a Secretaria Municipal de Educação por meio da Resolução nº 07/2006/CME/Manaus, estabeleceu normas e orientações para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração no Sistema Municipal de Ensino de Manaus. Em 2009, com a Resolução nº 09/2009/CME/Manaus, foi aprovada a Estrutura Curricular do Ensino Fundamental de nove anos no Sistema Municipal de Ensino de Manaus. Em 2010, o Conselho Nacional de Educação, fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos por meio da Resolução nº 07/2010/CNE/CEB e estabeleceu que se considerassem os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um Bloco Pedagógico ou um ciclo sequencial ininterrupto. (Art. 30, §1º). Desse modo, o Bloco Pedagógico configura-se como uma diretriz necessária para garantir o direito à Alfabetização e Letramento das crianças de 6, 7 e 8 anos de idade nesta nova reorganização curricular do Ensino Fundamental, proporcionando um ciclo de aprendizagem de três anos sem retenção, a fim de que se garanta um tempo maior para consolidar as aprendizagens, habilidades e competências desenvolvidas. Assim, efetivamente oportuniza-se a qualidade social da educação básica, igualmente entendida como direito humano. Além disso, o Bloco Pedagógico constitui-se ainda como uma estratégia pedagógica de reestruturação do tempo-espaço escolar, bem como de uma mudança paradigmática na concepção de ensinar-aprender e avaliar. Partindo-se desses pressupostos, a SEMED reorganiza o currículo do Sistema Municipal de Ensino e de suas Unidades Escolares considerando os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um Bloco Pedagógico (1º, 2º e 3º ano), não passível de interrupção. Tal modelo se volta para a ampliação das oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas dos 25 alunos, imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos. Tudo isso em consonância com o art. 30, inciso III e § 1º da Resolução nº 07/2010/CNE/CEB: III – a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo e, particularmente na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro. § 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será necessário, considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos. Para que isso se efetive, o Governo Federal convocou o Distrito Federal, os estados e os municípios a aderirem ao Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), que é um compromisso formal assumido pelos governos federal e entes federativos, para assegurarem que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental. Ao aderirem ao PNAIC, os entes governamentais comprometem-se a: I. alfabetizar todas as crianças em Língua Portuguesa e em Matemática; II. realizar avaliações anuais universais, aplicadas pelo INEP, junto aos concluintes do 3º ano do Ensino Fundamental. III. no caso dos estados, apoiar os municípios que tenham aderido às ações do PNAIC, para sua efetiva implementação. Diante disso, buscando garantir o direito à aprendizagem, a Secretaria Municipal de Educação de Manaus, a partir do ano de 2014, implementa sua nova Proposta Curricular para o Ensino Fundamental de nove anos com a estrutura do Bloco Pedagógico, nos três primeiros anosdo Ensino Fundamental. A seguir apresenta-se o amparo legal para a legitimação desse processo de reestruturação. 5.1 Fundamentação Legal O amparo legal para a instituição do Bloco Pedagógico constitui-se dos seguintes dispositivos: LEGISLAÇÃO FEDERAL - Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996 – admitiu a matrícula no Ensino Fundamental de 9 anos, a iniciar-se aos 6 anos de idade; - Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001 (PNE), estabeleceu o Ensino Fundamental de 9 anos como meta da Educação Nacional; - Lei nº 11.114, de 16 de maio de 2005, alterou a LDB e torna obrigatória a matrícula das crianças de 6 anos de idade no Ensino Fundamental; 26 - Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, alterou a LDB e ampliou o Ensino Fundamental para 9 anos de duração e estabeleceu prazo para a implantação, pelos Sistemas, até 2010. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (CNE) - Parecer nº 04/2008 / CNE/CEB – deu orientações sobre os três anos iniciais do Ensino Fundamental de nove anos; - Resolução nº 07/2010/CNE/CEB, de 14 de dezembro de 2010, que fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE MANAUS (CME) - Resolução nº 04/2004/CME/Manaus e Parecer nº 005/2004/CME/Manaus – que instituiu as Diretrizes para a Proposta de Ciclos de Formação Humana nas escolas municipais de Manaus; - Resolução nº 07/2006/CME/Manaus – que estabeleceu normas e orientações para a ampliação do Ensino Fundamental para 9 (nove) anos de duração no Sistema Municipal de Ensino de Manaus; - Resolução nº 09/2009/CME/Manaus – que aprovou a Estrutura Curricular do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos no Sistema Municipal de Ensino de Manaus; - Resolução nº 06/2010/CME/Manaus – que deu nova redação à Resolução nº 05/CME/1998 que regulamentou a implantação da Lei nº 9.394/96 no Sistema Municipal de Educação a partir de 1998. Após a apresentação dos dispositivos legais e contextualização desse processo, indicamos os objetivos do Bloco Pedagógico, conforme preconizado na Resolução nº 7/2010/CNE/CEB. 5.2 Objetivos do Bloco Pedagógico Os três primeiros anos do Ensino Fundamental devem: - Assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade, ao final do 3º ano, possibilitando a continuidade da aprendizagem e prosseguimento de estudos, flexibilizando a organização dos tempos e espaço escolar, a fim de favorecer a aprendizagem contínua dos educandos; - Desenvolver uma nova cultura de ensinar-aprender, com metodologias facilitadoras e promotoras da Alfabetização e Letramento, bem como, o desenvolvimento das diversas expressões e o aprendizado integrado das áreas de conhecimento: Língua Portuguesa, Literatura, Música e demais Artes, Educação Física; assim como o aprendizado da Matemática, da Ciência, da História e da Geografia; 27 - Romper com a cultura da avaliação classificatória e quantitativa, ressignificando a concepção de avaliação como um processo contínuo, diagnóstico, cumulativo, qualitativo e redimensionador da ação pedagógica como norteadora das intervenções necessárias para a superação das dificuldades e consolidação das aprendizagens dos alunos no decorrer dos três primeiros anos; - Reorganizar o trabalho pedagógico no espaço escolar, garantindo aos professores mais tempo para adotar estratégias para superação das dificuldades de aprendizagem dos alunos e condições de trabalho adequadas para planejamento, formação continuada, materiais didático- pedagógicos etc. - Garantir o assessoramento e o acompanhamento sistemático ao processo ensino- aprendizagem, a fim de que o professor se sinta apoiado nos momentos de tomadas de decisão e intervenção pedagógicas que se fizerem necessárias. 28 5.3 Alfabetização, Letramento e Ludicidade: eixos indissociáveis do Bloco Pedagógico A Secretaria Municipal de Educação de Manaus, ao organizar os anos iniciais do Ensino Fundamental (especificamente o 1º, 2º e 3º ano), sobre os eixos da Alfabetização, do Letramento e da Ludicidade, cumpre o que estabelecem os documentos oficiais do Governo Federal a respeito da educação no nosso País, estando, portanto, em firme consonância com eles. Por entender a Alfabetização como um processo contínuo, a SEMED propõe a criação do Bloco Pedagógico, constituído pelos três primeiros anos do Ensino Fundamental, por ser considerado um período chave para a aquisição da língua escrita pela criança. Durante esses três anos, os educandos deverão passar pelo processo de apropriação da escrita de forma continuada e progressiva, sem que sofram retenção nos dois primeiros anos. O trabalho pedagógico, no Bloco, é organizado em torno dos três eixos acima citados (Alfabetização, Letramento e Ludicidade), considerados indissociáveis e intercomplementares. A fim de subsidiar os professores em sua prática pedagógica, voltada para a formação do aluno leitor, apresentam-se a seguir, algumas considerações básicas sobre Alfabetização, Letramento e Ludicidade. O conceito de Letramento foi elaborado para designar um fato novo: grande parcela da população apresenta baixo desempenho nas práticas de leitura e de escrita, mesmo que tenha frequentado a escola por vários anos e seja, portanto, alfabetizada. Percebe-se, desde já, que Letramento e Alfabetização são termos que designam fatos distintos. No século XX, o grande desafio educacional brasileiro era universalizar o acesso à educação formal, de modo que todos os cidadãos fossem alfabetizados. No Brasil, políticas públicas foram criadas para garantir o acesso à escola, e muitas campanhas de alfabetização em massa foram realizadas. O resultado é que muitas pessoas foram consideradas alfabetizadas, e parecia que os problemas anteriores haviam se resolvido. No entanto, países que conseguiram alfabetizar todos os seus cidadãos identificaram um novo problema: as pessoas não incorporaram os usos da escrita, não se apropriaram plenamente das práticas sociais de leitura e de escrita . (SOARES, 2003, p. 23). Esse problema também foi identificado no Brasil por meio de pesquisas diversas. Conclui-se que a alfabetização não havia garantido aos sujeitos a inserção efetiva nas práticas sociais atravessadas pela escrita, tampouco um bom desempenho da leitura, incluída aí a compreensão e a interpretação de textos os mais diversos nas mais diversas situações (no ambiente familiar, nas associações comunitárias, nos grupos religiosos, nos ambientes corporativos, na empresa, na fábrica). A simples alfabetização podia ter garantido a codificação e a decodificação em língua de mensagens escritas, mas não garantira a interação entre autor e leitor por meio do texto; interação essa que é aferida pela capacidade do leitor de responder ao autor na forma de outro texto, de uma ação imediata e mesmo de uma ação muito posterior ao momento da leitura do texto. O termo Letramento foi, então, cunhado, de modo a designar o nível de inserção das pessoas alfabetizadas nas práticas sociais de leitura e de escrita. Letramento se refere a um processo muito 29 mais amplo e complexo que a alfabetização. Alfabetização passou a ser um termo de significado muito mais estrito – passou a designar o processo pelo qual os sujeitos adquirem a tecnologia da escrita (aprender a ler e escrever, codificar e decodificar). O alfabetizado sabe escrever o próprio nome; sabe escrever uma lista de palavras que ouve; domina a habilidade de codificar em língua escrita. O letramento, por sua vez, passou a designar o processo pelo qual o sujeito apropria-se da escrita/leitura como instrumento de interação social e de atuação efetiva no meio onde vive. O letradoé alguém que sabe usar a leitura e a escrita para uma prática social, como por exemplo, escrever um bilhete para alguém a fim de atingir um dado objetivo. Ser letrado implica, portanto, possuir a habilidade de ler e de compreender textos de natureza variada e de localizar e usar, para determinados fins, as informações presentes em mapas, tabelas, instruções, bulas de remédio etc. Vale ressaltar que, apesar de diferentes, alfabetização e letramento devem andar juntos, são complementares. Conforme Soares (2003, p. 47), o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado . Os desafios da educação na atualidade, especialmente nos anos iniciais da escolarização, passam exatamente pelo imperativo da alfabetização na perspectiva do letramento. É necessário, hoje, alfabetizar letrando, uma vez que se vive em uma sociedade grafocêntrica, isto é, uma sociedade centrada na escrita. A ausência da capacidade de ler e de escrever e a falta de letramento são empecilhos fortíssimos ao exercício da cidadania numa sociedade assim caracterizada. A pessoa letrada pensa e fala de forma diferente de uma pessoa analfabeta ou iletrada – seu raciocínio é mais organizado e lógico, seu vocabulário é mais rico; ela sabe adequar a linguagem à situação e ao interlocutor. Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural – não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente. (SOARES, 2003, p. 37). Por quais motivos as pessoas alfabetizadas não se tornaram letradas ou não atingiram um nível bom de letramento? Para entender essa questão, necessário se faz relembrar como a escola ensinou, por longo tempo, a leitura e a escrita; em outras palavras, como a escola direcionou o processo de alfabetização. Durante a maior parte do século XX, a escola alfabetizou pelo método conhecido como tradicional , o do bá-bé-bi-bó-bu, o das cartilhas. Esse método foi considerado por muitos estudiosos como mecânico e pouco eficaz no ensino da leitura e da escrita, por prezar por atividades como copiar e decorar, além de pautar-se na lógica do conteúdo a ser ensinado aos alunos (o alfabeto, a ordem alfabética, as sílabas simples, as sílabas complexas ) e não propriamente na lógica 30 subjacente ao processo de aprendizagem desses alunos – lógica essa explicitada por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. É por isso que hoje se defende o alfabetizar letrando. Conforme Santos e Albuquerque (2007, p. 98), isso significa criar situações de aprendizagem da língua escrita nas quais o aprendiz tenha acesso aos textos e a situações sociais de uso deles, mas que seja levado a construir a compreensão acerca do funcionamento do sistema de escrita alfabético . O aspecto do letramento deve ser favorecido com a proposição de situações de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita por meio de textos que têm vida exterior à escola (os poemas, as parlendas, as músicas, os trava-línguas, os contos infantis, as lendas, os verbetes de dicionário, as notícias de jornal, as receitas culinárias, etc. etc.), bem como de materiais escritos diversos (os rótulos, as embalagens, os panfletos etc.). Quer dizer, diferentemente da cartilha tradicional, colocar, desde o início, os alunos em contato com textos de circulação social. Mas apenas isso ainda não é suficiente. É necessário que essas situações aproximem-se o máximo possível do modo como essas práticas são na vida em sociedade – a leitura e a escrita de textos respondem sempre a objetivos determinados (informar, convencer, ordenar, distrair etc.) e os alunos precisam saber qual o objetivo a ser alcançado. Sendo assim, as atividades de leitura e de produção escrita requerem um planejamento e uma reflexão minuciosos. Diante das situações com crianças que ainda não sabem ler nem escrever ou que não dominam essas habilidades, o professor está como intermediário, isto é, como leitor e escriba da classe. Apresenta-se aí uma oportunidade valiosa de incentivar os alunos a gostarem de ler e escrever, se o professor fizer essas atividades com entusiasmo. E, além disso, uma oportunidade para mostrar às crianças os usos e as especificidades da língua escrita, em suas diferentes formas de apresentação. A alfabetização na perspectiva do letramento não pode, entretanto, menosprezar o outro aspecto, o da apropriação do sistema alfabético de escrita. Segundo Albuquerque (2007, p. 18), [...] apenas o convívio intenso com textos que circulam na sociedade não garante que os alunos se apropriem da escrita alfabética, uma vez que essa aprendizagem não é espontânea e requer que o aluno reflita sobre as características do nosso sistema de escrita. Dessa forma, é imprescindível que se desenvolva um trabalho sistemático de reflexão sobre o sistema de escrita alfabético, que é o que caracteriza a língua portuguesa. Mas esse trabalho, que deve ser de reflexão e sistematização, não pode ser aquele antigo trabalho de decorar, mecânico, sem significado. Deve ser um trabalho em que o espírito reflexivo do aluno se desenvolva, culminando na compreensão da lógica do sistema de escrita. Essa nova forma de ensinar, segundo Cagliari (2010) deve permitir aos aprendizes, em primeiro lugar, refletir sobre a fala, a escrita, a leitura; em segundo, criar hipóteses sobre esses 31 processos; e, por fim, alcançar a compreensão efetiva de como funciona a língua escrita, bem como adquirir autonomia no seu uso. Assim, conforme Albuquerque (2007, p. 20), o professor alfabetizador deve realizar atividades com palavras que envolvam: [...] uma reflexão sobre suas propriedades: quantidade de letras e sílabas, ordem e posição das letras, etc.; comparação entre palavras quanto à quantidade de letras e sílabas e à presença de letras e sílabas iguais; a exploração de rimas e aliteração (palavras que possuem o mesmo som em distintas posições – inicial e final, por exemplo). Outras estratégias a serem empregadas no processo de alfabetização são os jogos de linguagem. Como lembram Leal et al (2006), as brincadeiras com a língua são atividades muito comuns entre as pessoas fora da escola (em ambiente doméstico, principalmente). Além disso, genuinamente lúdicas, podem proporcionar um aprendizado mais significativo. Alguns jogos de linguagem muito comuns são: as adivinhações, as parlendas, a recitação de versos, a brincadeira da forca e do stop (ou abecedário), as palavras cruzadas. Não se deve negligenciar jamais o contato com textos e a contextualização primeira da palavra no texto lido, de modo que a palavra, objeto de reflexão e de análise, seja encarada como um signo e, portanto, dotado de um significado que pode inclusive variar conforme o contexto. As atividades com palavras isoladas devem partir, segundo Cagliari (2010), de palavras significativas dos alunos, como os nomes deles e os nomes de produtos e marcas, por exemplo, bastante conhecidos. O letramento é muito mais efetivo para crianças que vivem num ambiente de pessoas letradas. Pesquisas afirmam que as crianças quando presenciam adultos lendo e escrevendo, quando escutam histórias lidas por adultos, quando brincam de ler e de escrever adquirem um conhecimento sobre a linguagem escrita e sobre os gêneros textuais muito antes de chegarem à escola. A falta de vivência no
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