Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso de Especialização em Gestão Educacional e Escolar GESTÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Edição Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMAnet Coordenadora do UEMAnet Profª. Ilka Márcia Ribeiro de Souza Serra Coordenadora Pedagógica de Design Educacional Profª. Maria das Graças Neri Ferreira Coordenadora Administrativa de Design Educacional Cristiane Costa Peixoto Professora Conteudista Maria Goretti Cavalcante de Carvalho Designer de Linguagem Clecia Assunção Silva Designer Pedagógico Renata Caroline Monteles Castro Revisores de Linguagem Jonas Magno Lopes Amorim e Lucirene Ferreira Lopes Editoração Digital Tonho Lemos Martins Designers Gráficos Rômulo Santos Coêlho e Yuri Almeida Governador do Estado do Maranhão Flávio Dino de Castro e Costa Reitor da UEMA Prof. Gustavo Pereira da Costa Vice-Reitor da UEMA Prof. Walter Canales Sant’ana Pró-Reitor de Administração Prof. Gilson Martins Mendonça Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantis Prof. Paulo Henrique Aragão Catunda Pró-Reitora de Graduação Profª. Andréa de Araújo Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Marcelo Cheche Galves Pró-Reitor de Planejamento Prof. Antonio Roberto Coelho Serra Universidade Estadual do Maranhão - UEMA Núcleo de Tecnologias para Educação - UEMAnet Campus Universitário Paulo VI - São Luís - MA Fone-fax: (98) 2106-8970 http://www.uema.br http://www.uemanet.uema.br Central de Atendimento http://ava.uemanet.uema.br Proibida a reprodução desta publicação, no todo ou em parte, sem a prévia autorização desta instituição. Carvalho, Maria Goretti Cavalcante de Gestão escolar e avaliação da Educação Básica [ebook]. / Maria Goretti Cavalcante de Carvalho. – São Luís: UEMA; UEMAnet, 2018.. 43 p. 1. Gestão escolar. 2. Avaliação. 3. Educação básica. 4. Experiências de Políticas. 5. Terceiro milênio. I. Título. II. Serra, Ilka Márcia Ribeiro de Souza. CDU: 37.014.5 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 1 GESTÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA..... 1.1 Gestão Democrática na escola......................................................... 1.2 Conceitos necessários...................................................................... 1.3 Gestão Democrática construída na escola....................................... Referências....................................................................................... 2 AS EXPERIÊNCIAS DE POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA................................................................................. 2.1 A avaliação nas reformas educacionais e as demandas da gestão escolar 2.2 A avaliação na educação básica, à luz dos projetos de diretrizes e bases da educação e do plano nacional de educação...................... 2.3 A concepção qualitativa da avaliação na construção da gestão escolar Referências........................................................................................ 3 A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO CONTEXTO DO TERCEIRO MILÊNIO........................................................................ 3.1 A interferência de políticas sobre práticas pedagógicas.................... 3.2 A avaliação em larga escala e a qualidade na educação básica brasileira 3.3 A gestão escolar e as demandas de avaliação qualitativa para o enfrentamento dos desafios e perspectivas das escolas.................. Referências........................................................................................ 5 7 8 12 20 21 26 27 30 32 33 34 36 38 42 U N ID A D E 1 U N ID A D E 2 U N ID A D E 3 APRESENTAÇÃO Tratar de Gestão Escolar e Avaliação da Educação Básica, exige conhecimento para poder lidar com a complementaridade destes dois momentos da dinâmica escolar, principalmente por se tratar de uma temática que envolve a logística técnico-política da escolaridade básica. Ver a Escola na sua Função Social é especialmente ter consciência dos seus apelos e compromissos, considerando sua complexidade, ampliando o conhecimento da forma e do conteúdo necessário para a amálgama de uma instituição de formação ética, estética e cidadã. Para isto, é preciso vê-la na sua verdadeira missão: formar cidadãos ativos na sociedade com a orientação de uma comunidade educacional democrática, que se avalia na relação pedagógica e administrativa. E, para que o profissional da Educação Básica tenha mais entusiasmo e autonomia para realizar um trabalho seguro, apesar dos desafios, trazemos o presente material para refletirmos sobre dúvidas, sugestões, teorias e práticas referentes à relação Gestão Escolar e Avaliação da Educação Básica. É uma oportunidade para ampliarmos o conhecimento sobre: Gestão Democrática, enquanto um processo a ser construído na escola; as experiências de políticas de avaliação da educação básica brasileira; e alguns desafios, perspectivas da avaliação em larga escala, e qualidade para as escolas brasileiras. Bons estudos! 5Especialização em Gestão Educacional e Escolar UNIDADE 1 GESTÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA OBJETIVO: Explorar o conceito de Gestão Democrática e sua interdependência com o processo de Avaliação escolar, bem como suas repercussões e efeitos sobre a realidade escolar. 6Especialização em Gestão Educacional e Escolar 1 GESTÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA Para compreender a relação de interdependência entre Gestão e Avaliação, é importante primeiro concebê-la como necessidade mútua, sua complementaridade, seu processo e seus ajustes, e por fim, suas intenções e revisões. Figura 1 – Fatores interdependentes da Gestão Escolar e da Avaliação Escolar Coelho, 2018 A figura 1 sugere uma representação do processo contínuo da Gestão Escolar, no qual deve ser permanente no sentido de promover a organização das ações imprescindíveis ao bom funcionamento da escola. Entretanto, ainda pela Figura, percebemos um movimento destas ações, indicado pelas setas, sugerindo a importância da articulação das atividades e dos compromissos dos diferentes setores da instituição escolar. Portanto, a Gestão é o fator necessário para a garantia da eficiência e eficácia da articulação das diferentes ações dos setores constituídos na escola, desde que se fundamente nos fatores determinantes da Avaliação. Nesta perspectiva, entendemos o gestor escolar como um líder! A ele cabe supervisionar e se envolver nas questões administrativas, financeiras, políticas, culturais e pedagógicas. São fatores que devem ser impulsionados por valores éticos, considerando o ambiente escolar como um espaço dinâmico construído de relações interpessoais e profissionais. Para tanto, é necessário que ele 7Especialização em Gestão Educacional e Escolar saiba qual o seu papel diante de tantos compromissos na escola, bem como o conhecimento básico de administração financeira, burocrática e pedagógica, além da consciência da função social da instituição escolar. Com este perfil a gestão concorrerá para o objetivo máximo da escola, que é formar cidadãos capazes e autônomos. 1.1 Gestão Democrática na escola Para a organização da escola, o conceito mais atual é o da Gestão Democrática, que passou a nortear o ensino público brasileiro, como um princípio normatizado, pelos sistemas de ensino à luz da Constituição Federal de 1988, no seu Art. 206, inciso VI. Entretanto, longe de haver um consenso sobre tal conceito, a Gestão Democrática recebe várias denominações, que expressam tal e qual as dificuldades de entendimento. Segundo Gracindo (2009, p.136), [...] ‘gestão participativa’, ‘gestão compartilhada’, ‘co- gestão’[sic], dentreoutras, [...], sob o aparente manto da semelhança, sob cada uma dessas denominações estão alojados comportamentos, atitudes e concepções, por vezes, muito diferenciadas. Em função destas diferentes denominações, há de se refletir sobre a abertura de outros entendimentos acerca da Gestão Democrática na escola e seus equívocos. Principalmente, no que se refere ao consenso sobre este princípio constitucional, no sentido de apurarmos mais especificamente os seus elementos constitutivos, com vista à “garantia de ações concretas em prol de uma educação de qualidade, a partir do encaminhamento de políticas universais, que se traduzam em processos e ações regulares permanentes, em detrimento de políticas meramente setoriais”. (DOCUMENTO FINAL CONAE-MEC, 2010, p.44). Conferência Nacional de Educação - CONAE, ocorrida em 2010, cujo Documento Final foi elaborado pelo consenso de ampla participação da sociedade civil, com o objetivo de ampliar a democratização da educação e discussão de seus marcos conceituais. 8Especialização em Gestão Educacional e Escolar Portanto, é necessário, apesar de seus desafios, buscar formas de emancipação para que a Gestão Democrática se consolide. Ainda segundo o Documento Final CONAE-MEC (2010, p.44), para que haja o envolvimento dos sistemas e os níveis de ensino, no sentido de uma participação coletiva, é imprescindível a “definição dos conceitos de autonomia, democratização, descentralização, qualidade e participação, conceitos esses que devem ser debatidos coletivamente, para maior legitimidade e concretude no cotidiano”. Neste passo, Araújo (2012, p.27) define que, Gestão democrática da educação é aquela que garante a efetiva participação dos sujeitos sociais no controle do espaço público, criando canais permanentes de inserção dos indivíduos na esfera pública, dando-lhes a visibilidade necessária para a promoção da cidadania comprometida com a universalização de direitos e com a transformação da ordem social existente. 1.2 Conceitos necessários Para compreendermos as características da Gestão Democrática, que também é entendida como participativa, partiremos da sua concepção enquanto um processo de partilha de compromissos e atribuições. Aqui não se trata de gerenciamento, mas de engajamento, no qual todos os setores estão vinculados às necessidades pedagógicas, políticas e administrativas da escola. Nesta perspectiva, as relações interpessoais, e suas ações fundadas em pressupostos teóricos e políticos, efetivamente proporcionarão os benefícios obtidos na prática escolar. O conceito de gestão aqui mencionado certamente fortalece a democratização do processo educacional e pedagógico escolar, cuja participação responsável e comprometida de todos consolidarão as discussões. É um novo olhar sobre o envolvimento coletivo nas decisões e nos compromissos assumidos, de uma realidade escolar, com vista ao seu desempenho satisfatório. Em função disto, as relações devem confluir para os objetivos comuns, com um trabalho instrumentalizado em equipe. dessa maneira, como argumenta Dias (1993, p.82) o processo democrático, [...] vive da ação coletiva. O diretor integra e utiliza no seu trabalho as ideias e as contribuições dos professores. Esta forma de direção implica acordo, discussão e participação dos professores na seleção da política a seguir e nas decisões a tomar. 9Especialização em Gestão Educacional e Escolar Figura 2 – Aspectos da ação coletiva da Gestão Escolar Coelho, 2018 Entretanto, há de se afirmar que esta forma de gestão exige competência, disponibilidade e responsabilidade de todos os profissionais da educação. É necessário um movimento contínuo de redefinição de práticas, de condutas e de ferramentas para melhorar a qualidade da educação. São condutas que devem assumir os desafios e saber como lidar com as exigências e dificuldades, como possibilidades de fazer um trabalho bem-sucedido, encaixando-se na articulação das dimensões pedagógicas, éticas e administrativas da escola, a partir de: linhas de atuação associadas aos objetivos e do perfil de cada escola; elaboração de metas; adequação dos currículos escolares mediada por avaliações periódicas para os consequentes ajustes. Neste sentido, Lück (1996, p.72) assevera que: [...] o entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto. Isso porque o êxito de uma organização depende da ação construtiva conjunta de seus componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um ‘todo’ orientado por uma vontade coletiva. Sem dúvida, este conceito de Gestão Democrática, posto em prática na escola, revela o compromisso da comunidade escolar assumido perante os seus principais objetivos. Segundo Libâneo (2009, p.325), esta concepção “baseia- se na relação orgânica entre direção e participação dos membros da equipe. Acentua a importância da busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de tomada de decisões”. 10Especialização em Gestão Educacional e Escolar Ainda segundo Libâneo (2009, p.331), A participação, o diálogo, a discussão coletiva e a autonomia são práticas indispensáveis da gestão democrática, mas o exercício da democracia não significa ausência de responsabilidade. Uma vez tomadas as decisões coletivamente, participativamente, é preciso pô-las em práticas. Para isso, a escola deve estar bem coordenada e administrada Significa dizer que, embora sejam notáveis as mudanças no universo da administração escolar, é imprescindível romper com velhos paradigmas e enfrentar os desafios. A escola deve interagir com a sociedade para ajudá-la a resolver os seus problemas práticos. Eis a função social da escola! Neste sentido, o gestor deve articular as funções, redistribuí-las descentralizando ações, fortalecendo e compartilhando compromissos. Para tanto, a escola deve ser compreendida como espaço coletivo, no qual múltiplas funções são exercidas, com o empenho de todos envolvidos em projetos educativos, inclusive a família. Porém é necessário a autonomia, que segundo Contreras (2002, p.273), pressupõe “uma clara consciência do papel social e político que a escola desempenha e como este se concretiza em cada caso”. Portanto, a autonomia exige comprometimento da escola no enfrentamento das diferentes manifestações de injustiça e desigualdade social. Autonomia: consideram-se aqui os seus significados comuns: autogoverno, emancipação, independência, liberdade e soberania. (DICIONÁRIO HOUAISS, 2003). O envolvimento dos professores, alunos, funcionários, família e comunidade deve ser animado pela gestão. Em função disto, são necessárias disposições de princípios e características autônomas de gerenciamento. Não é fácil administrar e resolver conflitos em ambientes escolares. A busca de consenso deve ser a meta máxima para que as relações sejam mais coerentes e verdadeiras. Destes pontos mais importantes, é possível pensar experiências de Gestão Democrática da escola, considerando a relevância do trabalho conjunto e nas tomadas de decisão sobre as demandas de aprendizagens na escola. 11Especialização em Gestão Educacional e Escolar O fato de envolver tomadas de decisão, a gestão é compreendida como ato político. Isto abre para o entendimento de que não cabe mais a administração autoritária, técnica e burocrática na escola. Segundo Araújo (2012, p.31), [...] é importante, então, que a dimensão política se torne cotidiana na gestão da educação. Dessa forma, o resgate da política como prática positiva e necessária à organização escolar passa pelo reconhecimento dessa instituição como espaço de disputa de poder, como espaço em que o poder deveser dividido e controlado pelos seus sujeitos socias. Ainda segundo o autor, o caminho para o fortalecimento do sentido público da educação passa pela construção de instrumentos democráticos que viabilizem a presença efetiva do exercício da cidadania nos destinos da escola e das políticas educacionais (ARAÚJO, 2012). Há uma pesquisa do autor (ARAÚJO, 2000), na qual são apontados quatro elementos constitutivos da gestão democrática na escola: participação, autonomia, pluralismo e transparência. São elementos que dão relevância aos debates sobre o assunto “gestão democrática na escola”, e que iluminam o desempenho de todos os envolvidos no ambiente escolar. Dessa maneira, abre-se mais compreensão para a importância da Avaliação do Trabalho e da Organização Escolar. 1.2.1 Mas, onde procurar o democrático na gestão da educação do Brasil? O questionamento citado acima e elaborado por Bruno (apud OLIVEIRA, 2002, p.17), nos traz uma ideia. Segundo a referida autora, Quanto às mudanças na forma de se pensar e implementar reformas no ensino controlado pelo Estado hoje, vemos que estas implicam novas formas de administrá-lo e geri-lo. Não por acaso, são os princípios da gestão do capital que se busca imprimir na administração estatal da educação e qualquer manual de administração de empresa define muito bem o que isso seja. Sendo assim, onde procurar o democrático na gestão da educação no Brasil? Na nova Diretriz de Bases da Educação, que recorre ao termo democrático e à ideia de descentralização, destacando a unidade escolar como espaço da gestão da educação, por excelência? Bruno (apud OLIVEIRA, 2002, p.37) declara a sua descrença na busca desta garantia na lei, justificando-se na síntese de Hobbes: “É a autoridade, não a 12Especialização em Gestão Educacional e Escolar verdade que faz a lei”. Segundo a autora, na sociedade capitalista, “a autoridade é a autoridade do Capital, que já nem cabe mais nos limites cada vez mais exíguos de um Estado Nacional destituído de poder próprio”. Bruno (apud OlLIVEIRA, 2002, p.38), conclui que: É na auto-organização dos envolvidos no processo de educação das novas gerações da classe trabalhadora, pais, alunos e professores, que, criando seus próprios espaços públicos onde os interesses são debatidos naquilo que têm em comum e na diversidade em que se apresentam, que se poderá chegar à formulação de alternativas reais às hierarquias de comando do poder que nos é imposto, esteja este configurado na sua forma convencional ou em rede, como se gosta tanto hoje de apresentá-lo. É essa a única possibilidade de se fazer política, inclusive educacional. Participação e gestão democrática da educação não podem ser entendidas como elementos de mais uma técnica de gestão do trabalho alheio, tal como se pode depreender dos documentos oficiais do governo e das práticas em curso em vários estados e municípios do país. 1.2.2 Por outro lado, a gestão democrática está implicada na dimensão subjetiva das relações escolares Sobre este aspecto há de se refletir sobre um ponto importante: o compromisso com a comunidade. Entretanto, é necessária a profissionalidade de todos os agentes educacionais da escola. Todos devem ter consciência de que somente consolidarão a sua profissionalidade na relação com a comunidade social, quando todos exercerem as suas práticas profissionais. Quando todos passarem a avaliar também as suas condutas que, apesar de subjetivas, implicam objetivamente no desempenho escolar. 1.3 Gestão democrática construída na Escola Para que a educação escolar promova a apropriação dos saberes, das técnicas e valores, especialmente pelos estudantes, por meio das ações pedagógicas e profissionais dos professores, é necessário que a escola organize um trabalho dinamizado pela gestão. Em função disto, Libâneo (2008, p.137), argumenta que: 13Especialização em Gestão Educacional e Escolar A principal função social e pedagógica das escolas é a de assegurar o desenvolvimento das capacidades cognitivas, operativas, sociais e morais pelo seu empenho na dinamização do currículo, no desenvolvimento dos processos do pensar, na formação da cidadania participativa e na formação ética. Entretanto, ainda segundo o autor, [...] é necessário superar as formas conservadoras de organização e gestão, adotando formas alternativas, criativas, de modo que aos objetivos sociais e políticos da escola correspondam estratégias adequadas e eficazes de organização e gestão. (LIBÂNEO, 2008, p.137). Há princípios que norteiam e caracterizam a construção da Gestão Escolar Participativa. Porém, há muitos obstáculos. Libâneo (2008, p. 138) argumenta que estes obstáculos são oriundos das “formas convencionais de representação política (escolha de representantes pelo voto), que continuam em vigor, mas sabemos que as camadas populares levam desvantagem na efetivação da participação política”. Ainda segundo o autor, há o poder de manipulação dos meios de comunicação e financeiro das classes dominantes, além da desescolarização da população, com consequente falta de organização popular. “Esses são alguns dos obstáculos à organização dos movimentos populares e, em consequência, à participação popular nos processos decisórios, inclusive na escola”. (LIBÂNEO, 2008, p.138). Como a escola pode reverter este quadro de impotência popular frente a estes obstáculos, proporcionando à comunidade o exercício da cidadania? Libâneo (2008) assevera que “a conquista da cidadania requer um esforço dos educadores em estimular instâncias e práticas de participação popular”. E mais, que “a participação da comunidade possibilita à população o conhecimento e a avaliação dos serviços oferecidos e a intervenção organizada na vida da escola”. 1.3.1 Qual a relação entre participação e democratização da gestão na qualidade de ensino? Certamente esta relação refere-se às ações coletivas da comunidade escolar envolvidas no acompanhamento da educação que ali é oferecida. Para isto, há modalidades deste acompanhamento, a exemplo dos “Conselhos de Classe – bastante difundidos no Brasil – e os Conselhos de Escola, Colegiados ou Comissões que surgiram no início da década de 1980, em vários Estados”. (LIBÂNEO, 2008, p.139). 14Especialização em Gestão Educacional e Escolar Por que a participação é tão imprescindível no processo de construção da Gestão Democrática na Escola? E como deve ser compreendida? Libâneo (2008, p.139) explica que: Participação significa a atuação dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si. Há a participação como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo-se como prática formativa, como elemento pedagógico, metodológico e curricular. Há participação como processo organizacional em que os profissionais e usuários da escola compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão. No primeiro sentido, por meio de canais de participação da comunidade, a escola deixa de ser uma redoma, um lugar fechado e separado da realidade, para conquistar o status de uma comunidade educativa que interage com a sociedade civil. Vivendo a prática da participação nos órgãos deliberativos da escola, os pais, os professores, os alunos vão aprendendo a sentir-se responsáveis pelas decisões que os afetam num âmbito mais amplo da sociedade. No segundo sentido, a participação é ingrediente dos próprios objetivos da escola e da educação. A escola é lugar de compartilhamento de valores e de aprender conhecimentos, desenvolver capacidades intelectuais, sociais, afetivas, éticas e estéticas. Mas é também lugar de formação de competências para a participação na vida social, econômica e cultural. Nestaoportunidade, Libâneo (2008) dispõe alguns princípios da organização e Gestão Escolar Participativa: Figura 3 – Representação da organização do trabalho escolar Fonte: williansalim.wordpress.com /dia-da-escola-1503 15Especialização em Gestão Educacional e Escolar 1 Autonomia das escolas e da comunidade educativa A autonomia é o fundamento da concepção democrático-participativa de gestão escolar, razão de ser do projeto pedagógico-curricular. Ela é definida como faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino. Autonomia de uma instituição significa ter poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter- se relativamente independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros (p.141). Mas, o autor adverte que essa autonomia é relativa, pois, As escolas públicas não são organismos isolados, elas integram um sistema escolar e dependem das políticas públicas e da gestão pública. Os recursos que asseguram os salários, as condições de trabalho e a formação continuada não são originados na própria escola. Portanto, o controle local e comunitário não pode prescindir das responsabilidades e da atuação dos órgãos centrais e intermediários do sistema escolar (p.141-142). Segundo o autor, [...] a direção de uma escola deve ser exercida tendo em conta, de um lado, o planejamento, a organização, a orientação e o controle de suas atividades internas conforme suas características particulares e sua realidade; de outro, a adequação e aplicação criadora das diretrizes gerais que recebe dos níveis superiores da administração do ensino (p. 142). 2 Relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe escolar Esse princípio conjuga o exercício responsável e compartilhado da direção, a forma participativa da gestão e a responsabilidade individual de cada membro da equipe escolar. Sob supervisão e responsabilidade do diretor, a equipe escolar formula o plano ou projeto pedagógico- curricular, toma decisões por meio de discussão com a comunidade escolar mais ampla, aprova um documento orientador. A partir daí, entram em ação as funções do processo organizacional em que o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega as responsabilidades decorrentes das decisões aos membros da equipe escolar conforme suas atribuições específicas, presta contas e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente (p.143). 16Especialização em Gestão Educacional e Escolar Como ressalta o autor: “a organização escolar democrática implica não só a participação na gestão, mas a gestão da participação”. (p.143). E ainda: [...] a gestão democrática não pode ficar restrita ao discurso da participação e às suas formas externas: as eleições, as assembleias e reuniões. Ela deve estar a serviço dos objetivos do ensino, especialmente da qualidade cognitiva dos processos de ensino e aprendizagem (p.144). O autor adverte que: a adoção de práticas participativas não está livre de servir à manipulação e ao controle do comprometimento das pessoas, induzidas a pensar que estão participando, quando na verdade estão atendendo a interesses particulares de grupos, de partidos políticos ou interesses pessoais (p.144). 3 Envolvimento da comunidade no processo escolar A presença da comunidade na escola, especialmente dos pais, tem várias implicações. Além dos pais, outros representantes participam do Conselho de Escola, da Associação de Pais e Mestres para preparar o projeto pedagógico-curricular e acompanhar, avaliar a qualidade dos serviços prestados. Adicionalmente, usufruem das práticas participativas para integrarem outras instâncias decisórias no âmbito da sociedade civil (organização de bairro, movimentos de mulheres, de minorias étnicas e culturais, movimentos de educação ambiental e outros), contribuindo para o aumento da capacidade de fiscalização da sociedade civil sobre a execução da política educacional. (p. 144); 4 Planejamento das tarefas “O princípio do planejamento justifica-se porque as escolas buscam resultados e as ações pedagógicas e administrativas buscam atingir objetivos”. Neste sentido, há necessidade de racionalizar, coordenar e propor objetivos, que segundo Libâneo (2008, p. 145), devem ser contemplados nas “estratégias de ação, provimento e ordenação dos recursos disponíveis, cronogramas e formas de controle e avaliação”. Em função disto, “o plano de ação da escola ou projeto pedagógico-curricular, discutido e analisado publicamente pela equipe escolar, torna-se o instrumento unificador das atividades escolares”. Na sua execução devem convergir o interesse e o esforço coletivo de todos os agentes da escola. 17Especialização em Gestão Educacional e Escolar 5 Formação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos integrantes da comunidade escolar Este é o princípio da valorização e do desenvolvimento pessoal e profissional da concepção de gestão democrático-participativa. Libâneo (2008, p.145) assevera que “a escola é um espaço educativo, lugar de aprendizagem em que todos aprendem a participar dos processos decisórios, mas é também o local em que os profissionais desenvolvem sua profissionalidade”. Sobre profissionalidade, Contreras (2002) justifica, referindo-se aos docentes e a sua relação com as qualidades do trabalho educativo, e defende os valores considerados tipicamente profissionais, e afirma que estes devem ser analisados no contexto de dimensões próprias do trabalho do professor. OBS.: Esta defesa também pode ser estendida às outras funções de cada profissional da comunidade escolar. Libâneo (2008, p.145) sustenta que “a organização e a gestão do trabalho escolar requerem o constante aperfeiçoamento profissional – político, científico, pedagógico – de toda a equipe escolar”. E adverte sobre a responsabilidade de dirigir uma escola, que implica conhecer bem seu estado real, observar e avaliar constantemente o desenvolvimento do processo de ensino, analisar com objetividade os resultados, fazer compartilhar as experiências docentes bem- sucedidas. 6 Utilização de informações concretas e análise de cada problema em seus múltiplos aspectos, com ampla democratização das informações Buscar a essência e não a aparência deve ser o real procedimento da gestão, diante os dados coletados para a resolução de problemas. Libâneo (2008, p.146) orienta que os problemas devem ser analisados nos seus múltiplos aspectos, é preciso: “verificar a qualidade das aulas, o cumprimento dos programas, a qualificação e experiência dos professores, as características socioeconômicas e culturais dos alunos, os resultados do trabalho que a equipe propôs atingir”. Além disso, o autor sugere que sejam considerados a saúde dos alunos, a adequação dos métodos e procedimentos didáticos. O autor ratifica que a democratização da informação implica o acesso de todos as informações e canais de comunicação que agilizem a tomada de conhecimento das decisões e de sua execução. 18Especialização em Gestão Educacional e Escolar 7 Avaliação compartilhada O controle é necessário porque implica uma avaliação mútua entre direção, professores e comunidade. Isto porque, nas análises de Libâneo (2008, p.146), “todas as decisões e procedimentos organizativos precisam ser acompanhados e avaliados, com base no princípio da relação orgânica entre direção e a participação dos membros da equipe escolar”. Ademais, a escola deve vivenciar a confluência das ações pedagógicas e didáticas aos objetivos propostos pela escola. 8 Relações humanas produtivas e criativas assentadas na busca de objetivos comuns Princípio que valoriza as relações interpessoais. Libâneo (2008, p.146) sustenta a ideia de que estas relações implicam diretamentena qualidade do trabalho de cada educador, na valorização da experiência individual e no clima amistoso do trabalho. ‘A equipe da escola precisa investir sistematicamente na mudança das relações autoritárias para relações baseadas no diálogo e no consenso’. Ainda segundo o autor, ‘nas relações mútuas entre professores, alunos, direção, funcionários, técnicos e administrativos deve combinar exigência e respeito, severidade e tato humano.’ Enfim, é importante pensarmos a gestão democrática enquanto um processo construído na escola, dessa forma, na articulação das formas de mediação (nas dimensões: técnica, política e ética) é preciso que se trabalhe: Estudantes (o alvo); Família (a parceria); Professores (os profissionais do ensino; os educadores); Recursos financeiros (a viabilidade material); Funcionários (o apoio logístico). 19Especialização em Gestão Educacional e Escolar Figura 4 – Diagrama dos participantes da Gestão Democrática Fonte: YouTube.com (Gestão democrática). Neste processo de construção da Gestão Democrática na escola há de ser desejado um contexto de trabalho que “requer um ambiente de exigente tranquilidade e de conscientização do lugar que cada um deve desempenhar” (ALARCÃO, 2001, p,17). Ainda segundo a autora, “a escola tem de ser a escola do sim e do não, onde a prevenção deve afastar a necessidade de repressão, onde o espírito de colaboração deve evitar guerra de poder e competitividade mal-entendida”. E conclui que pensar a escola e sua função social, “não basta que fiquemos apenas no pensar. Depois é preciso agir para transformá-la”. Neste sentido, correlacionando à sua Gestão que se pensa “Democrática”, não basta querer só no discurso, mas concretizá-la com ações firmes e conscientes. RESUMO Falar de Gestão Escolar Democrática parece ser um tanto utópico, mas não é! Não podemos negar os avanços que a Escola vivencia atualmente, promovendo a participação de todos da comunidade escolar; assumindo outras condutas na resolução de problemas; e considerando a avaliação como instrumento imprescindível da dinâmica escolar. 20Especialização em Gestão Educacional e Escolar Outro ponto importante é perceber que há possibilidade de valorização da autonomia da escola, uma vez que esta pode elaborar os seus projetos pedagógicos. Neste sentido, a Escola reflete sobre as suas demandas e se organiza para exercer o seu papel social. Vimos nesta primeira Unidade o conceito de Gestão Democrática, que ela também pode ser concebida como participativa, e deve ser construída na Escola, nas relações pedagógicas, interpessoais e administrativas. Nesta construção, o ambiente escolar deve ser dinamizado na sua identidade, nas suas relações subjetivas, apesar das interferências políticas externas, mas com o propósito de assumir os significados da avaliação de sua organização de trabalho, com vista à sua política interna de resolução das demandas. REFERÊNCIAS ALARCÃO, Isabel. Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. ARAÚJO, Adilson Cesar de. Gestão, avaliação e qualidade da educação: políticas públicas reveladas na prática escolar. Brasília: Líber Livro, 2012. BRUNO, Lúcia. Gestão da educação: onde procurar o democrático? In: OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política e gestão da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. CONTRERAS, José. Autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. DIAS, José Augusto; VALERIEN, Jean. Gestão da escola fundamental: subsídios para análise e sugestões de aperfeiçoamento. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2004. GRACINDO, Regina Vinhaes. O gestor escolar e as demandas da gestão democrática. Exigências, práticas, perfil e formação. In:_______. Retratos da escola. Financiamento e gestão. Dossiê da Educação Básica, CNTE – v. 3, n. 4. jan./jun. 2009, p. 135-146. HOUAISS, Instituto Antônio. Dicionário Houaiss sinônimos e antônimos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: MF Livros, 2008. LÜCK, Heloisa. Planejamento em orientação educacional. Petrópolis: Vozes, 1996. OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política e gestão da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 21Especialização em Gestão Educacional e Escolar OBJETIVOS: Identificar a relação entre a avaliação nas reformas educacionais e as demandas da gestão escolar; Compreender a avaliação na Educação Básica, à luz dos projetos de Diretrizes e Bases da Educação e do Plano Nacional de Educação; Associar a concepção qualitativa da avaliação na construção da Gestão Escolar. UNIDADE 2 AS EXPERIÊNCIAS DE POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA 22Especialização em Gestão Educacional e Escolar 2 AS EXPERIÊNCIAS DE POLÍTICAS DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA BRASILEIRA Para avaliar a Educação Básica, a política educacional brasileira organiza-se na unificação dos testes educacionais, cujo objetivo está definido em “aferir o desempenho estudantil, para controlar a qualidade do ensino ministrado nas escolas”. (LIBÂNEO, 2005, p.205). Segundo o autor, os exames nacionais em vigor enfatizam a medição do desempenho escolar por meio de testes padronizados, o que os vincula a uma concepção objetivista de avaliação. Mas, como saber se o objetivo maior da escola foi atingido? Ou seja, como saber se o aprendizado pretendido pelas escolas foi realizado? Será que medir é o mesmo que avaliar? Apesar dos dois verbetes sugerirem avaliação, o primeiro reduz-se a mensura, enquanto o segundo provoca atitudes de ponderação, exame, análise, consideração. Portanto, para avaliar o projeto educativo é necessário ponderar resultados com o processo; considerar a cultura escolar; valorar as estratégias pedagógicas e administrativas; contar ações, propósitos, alternativas e recursos. É preciso sobrepor “a concepção de educação, do papel do professor e do que é conhecimento”. (LIBÂNEO, 2005, p.205). Ainda segundo Libâneo (2005), na tradição e no cotidiano das escolas, a medição tem sido mais valorizada do que a avaliação – tanto que muitos alunos estudam para tirar nota, e não para aprender. Avaliar tem sua origem no latim provido da composição “a-valere”, que quer dizer “dar valor a”. Porém, o conceito de avaliação é formulado a partir das determinações da conduta de “atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação”, que, por si só, implica um posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado. (LUCKESI 1990. p.92). A tarefa de avaliar é complexa, e não se resume à realização de provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados que devem ser submetidos MEDIR: significa aferir, estimar, avaliar, calcular, fitar, mensurar, moderar, ponderar, proporcionar e revelar. AVALIAR: significa apreçar, analisar, considerar e contar. (DICIONÁRIO HOUAISS, 2003) 23Especialização em Gestão Educacional e Escolar a uma apreciação qualitativa. “A avaliação, assim, cumpre funções pedagógico- didáticas, de diagnóstico e de controle em relação às quais se recorrem a instrumentos de verificação do rendimento escolar.” (LIBÂNEO, 1994, p.195). Sobre avaliação A Avaliação do desempenho dos alunos da Educação Básica (SAEB e ENEM), que implica no principal fator de desempenho da Gestão Escolar, ainda desconsidera o modelo avaliatório que emergiu na década de 1980. Segundo Libâneo (2005, p.206), ” a medição dos rendimentos dos alunos serve para o controle dos resultados pelo Estado, pela classificação e comparação das escolas”. O SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica, foi instituído em 1990, e compõe um conjunto de avaliações externas em larga escala, cujo principal objetivo é realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de alguns fatores que possaminterferir no desempenho do estudante. Ainda segundo o INEP, o levantamento produz informações que subsidiam a formulação, reformulação e o monitoramento das políticas públicas nas esferas municipal, estadual Segundo Libâneo (2005), foram identificados dois marcos interpretativos de AVALIAÇÃO. De 1930 a 1970, a ênfase recai nos testes padronizados, para a medição das habilidades e aptidões dos alunos, tendo em vista a eficiência, a neutralidade e a objetividade nos instrumentos de avalição. A partir da década de 80, emergiu um modelo avaliatório que leva em conta as questões de poder e de conflito no currículo e questiona sobre o que e para que se avalia. Tal concepção põe em evidência as implicações sociais e educacionais do rendimento escolar. Saiba mais sobre o SAEB acessando:<http://portal.inep.gov.br/ educacao-basica/saeb>. 24Especialização em Gestão Educacional e Escolar e federal, visando contribuir para a melhoria da qualidade, equidade e eficiência do ensino. Além disso, procura também oferecer dados e indicadores sobre fatores de influência do desempenho dos alunos nas áreas e anos avaliados. O SAEB, em 1990, avaliava as 1ª, 3ª, 5ª e 7ª séries do Ensino Fundamental, em escolas públicas. Eram avaliados os Currículos de sistemas estaduais, especificamente Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais e Redação. Em 2005, o SAEB passou a compor duas avaliações: Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) – Prova Brasil. A partir de 2015, o SAEB passou a avaliar os anos finais do EF (do 5º ao 9º ano) e o 3º ano do Ensino Médio, em escolas públicas e particulares. Passou a avaliar conteúdos curriculares de Língua Portuguesa e Matemática. Em 2013, a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) foi incorporada ao Saeb para melhor aferir os níveis de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa (leitura e escrita) e Matemática. E o que dizer do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio? Castro (2009, p.9) explica que: O Enem é um exame de caráter voluntário, implantado pelo MEC em 1998, que avalia o desempenho individual do aluno ao término do ensino médio, visando aferir o desenvolvimento das competências e habilidades necessárias ao exercício pleno da cidadania. A prova, interdisciplinar e contextualizada, é composta por uma redação e uma parte objetiva. A parte objetiva da prova, que contém 63 questões de múltipla escolha, é avaliada numa escala de 0 a 100 pontos, gerando uma nota global que corresponde à soma dos pontos referentes às questões acertadas. Além disso, é atribuída uma pontuação, também na mesma escala de valores, a cada uma das cinco competências avaliadas. Na redação também há uma nota global de 0 a 100 e uma média para cada uma das cinco competências aferidas. A nota resulta da média aritmética das notas alcançadas em cada uma das competências avaliadas, numa escala de 0 a 100 pontos. Mas, avalia-se para quê, se o modelo avaliatório é insuficiente para o diagnóstico real das condições das escolas, da formação dos professores, do perfil da gestão escolar etc.? A constatação não manifesta o conhecimento para a intervenção nos problemas identificados, mas para uma premiação das escolas com melhor desempenho e rebaixamento das consideradas fracas. 25Especialização em Gestão Educacional e Escolar E qual seria a lógica da intervenção nas escolas com baixo desempenho na avaliação? O bom senso defende a análise do processo e do produto e o Replanejamento das ações da Gestão Escolar, com objetividade! Os objetivos devem ser simples, claros e aperfeiçoados no caminhar. Eles ajudam na elaboração de estratégias de ação e servem de critério para saber em que medida foram alcançados. E quais os objetivos mais coerentes da avaliação escolar? Primeiramente, compreendê-la como mediação na construção do processo de organização das ações dos diferentes setores da instituição escolar e sua repercussão no coletivo. Para isto, é necessário: discutir sobre a avaliação escolar nas práticas individuais e coletivas; refletir sobre a importância do ato de avaliar e ser avaliado; pontuar entraves na gestão escolar e sua avaliação em relação à educação Básica Nacional; analisar mitos sobre os instrumentos nacionais de avaliação da Educação Básica; identificar os instrumentos de avaliação utilizados para o diagnóstico do ensino básico no Brasil; refletir sobre a perspectiva de sugestões novas para o incremento de recursos para a gestão das escolas, a partir da avaliação da Educação Básica Nacional. Espera-se que efetivamente as avaliações nacionais visem melhorar a qualidade dos serviços escolares. Neste passo, alcançar maior equidade na rede de ensino e cooperar para que essas escolas avancem e melhorem de qualidade. Segundo Castro (2009, p.10) avaliar a escola, [...] constitui tarefa que não se realiza à margem de uma ‘intervenção’ dos poderes públicos, de um apoio diferenciado às suas equipes escolares, de avaliação e monitoramento constante, de apoio didático- pedagógico intensivo, além de orientações técnicas para que assimilem teórica e praticamente a filosofia do currículo recém-implantado. Em suma, se analisada a avaliação escolar é possível pensar em reforma educacional, possibilitando a implantação de mudanças, no diálogo com as secretarias de educação, cujo apoio advém do monitoramento da gestão das ações escolares. Ponderando o aspecto pedagógico e político das escolas. Neste sentido, o papel da gestão escolar é ponto central de apoio às deliberações e execuções, que também se estende à motivação da participação de toda a comunidade escolar: alunos, professores, coordenadores, funcionários etc. Tal compromisso das escolas deve ser com qualidade e com a aprendizagem de todas as crianças e jovens de determinada cidade. É essa a principal função da boa escola pública. 26Especialização em Gestão Educacional e Escolar 2.1 A Avaliação nas reformas educacionais e as demandas da gestão escolar Pelas considerações feitas, vejamos como a avaliação na Educação Básica encontra-se nos projetos de Diretrizes e Bases da Educação e do Plano Nacional de Educação. Avaliação no Processo ensino-aprendizagem Neste processo, torna-se imprescindível compreendermos que: • a avaliação determina as reformas educacionais, que nem sempre atendem às demandas da gestão escolar; • a avaliação na Educação Básica é orientada pelos projetos de Diretrizes e Bases da Educação e do Plano Nacional de Educação; • a concepção qualitativa da avaliação deve ser uma tônica na construção da Gestão Escolar. Nesta perspectiva, “faz-se necessário compreender que a avaliação pode suscitar uma ação transformadora, que só pode ser eficiente quando fundada nas relações entre a teoria e a prática, isto é, na vinculação de qualquer ideia com raízes sociais”. (GADOTTI, 2001. p.68). A avaliação educacional deve ser centrada na Escola, uma vez que esta é a expressão política da sociedade civil. Na concepção sociocrítica, a gestão escolar centrada na Escola é mais atenta à participação da comunidade educativa nas atividades educacionais. A avaliação, portanto, objetiva-se a uma prestação de serviço público com responsabilidade e eficácia. A Escola passa a ser vista “como um espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída pelos seus componentes, um lugar em que os profissionais podem decidir sobre seu trabalho e aprender sobre sua profissão”. (LIBÂNEO, 2001, p.30). É preciso avaliar para mudar a escola: • Para reconhecer aspectos críticos; • Para conhecer a importância de detectar problemas e criar soloções; • Para saber se os objetivos escolares são atingidos. 27Especialização em Gestão Educacional e Escolar Mas, as tomadas de decisão precisam de aspectos avaliativos. SegundoGil (2008, p.246-247), há três tipos de avaliação: Avaliação Diagnóstica; Avaliação Formativa e Avaliação Somativa. 2.2 A Avaliação na Educação Básica, à luz dos projetos de Diretrizes e Bases da Educação e do Plano Nacional de Educação Estes Tipos de avaliação apresentam um panorama sobre os mecanismos avaliativos no âmbito escolar e pedagógico, orientados pelos documentos que orientam as políticas educacionais. No que se refere ao ensino, a Gestão Escolar deve estar atenta aos pontos de avaliação, que expressam necessidades e apontam para as providências. Outras questões estão implicadas na AVALIAÇÃO ESCOLAR! As relações estabelecidas na escola “A Escola é um lugar, um edifício circundado, espera-se, por alguns espaços abertos. Todavia, às vezes, detenho-me a pensar se os edifícios escolares não estarão defasados em relação às concepções de formação, às formas de gestão curriculares e às exigências do relacionamento interpessoal neste início de milênio”. (ALARCÃO, 2001, p. 16). PONTOS DE AVALIAÇÃO! A Aprendizagem por meio de atividades de ensino; A relação dialética entre quem ensina e quem aprende; A discussão dos Conceitos e as relações estabelecidas entre eles; A organização do pensamento dos estudantes; Os Procedimentos Metodológcos. 28Especialização em Gestão Educacional e Escolar Estes aspectos implicam em mudanças de atitude na Escola. Celso Vasconcelos chama atenção para o aspecto político da Avaliação (2005, p. 65). “O planejamento, antes de ser uma questão meramente técnica, é uma questão política, já que envolve posicionamentos, opções, jogo de poder, compromisso com a reprodução ou com a transformação”. Esteban (2003, p. 32) recomenda que, [...] para avaliar é preciso produzir instrumentos e procedimentos que nos ajudem a dar voz e visibilidade ao que é silenciado e apagado. Com muito cuidado, porque a intenção não é melhor controlar e classificar, mas sim melhor compreender e interagir. Os Conflitos e diálogos em Avaliação: • descrédito em relação às inovações; • crença popular admite a severidade da avaliação tradicional; • desconfiança na competência dos professores; • busca por uma escola de qualidade; • competências e habilidades na aquisição do conhecimento da realidade e na internalização de valores. Questões fundamentais: • O Sistema de Avaliação Tradicional, classificatório, assegura um ensino de qualidade? • A Manutenção das provas e notas é garantia do efetivo acompanhamento dos alunos no seu processo de aprendizagem? • O sucesso de um aluno na escola tradicional representa o seu desenvolvimento máximo possível? Deixamos de fazer perguntas essenciais à escola: - Os alunos desenvolvem-se moral e intelectualmente? - Estão ativos, curiosos, felizes nesse ambiente? - Quais os seus avanços, as suas conquistas? - Que oportunidades de refletir sobre a vida a escola lhe oferece? - Que projeto de vida eles enunciam? - Em que medida a escola vem contribuindo para o seu projeto se torne possível? 29Especialização em Gestão Educacional e Escolar A avaliação escolar é amparada na Lei n.º 9.394/96, vista como aferição de rendimento do aprendizado do aluno. Portanto, à escola compete avaliar o desempenho de seus alunos, com o êxito ou com o fracasso. Na LDB nº 9.394/96, há no seu artigo 24, inciso V, orientações para a verificação da avaliação e rendimento escolar, expressas nos seguintes critérios: a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado; d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; e) obrigatoriedade de estudos e recuperação, de preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus regimentos. Mas, o que efetivamente vem ocorrendo na administração dessa Avaliação? Muitos professores ainda não conseguem ampliar o significado do termo “avaliação”. Ainda estão presos na atribuição de notas numéricas relacionando a vários aspectos a vida social e escolar do aluno. Isto implica em incoerências no acompanhamento escolar do aluno e das atribuições dos profissionais do ensino. Em função disto, é negligenciada a compreensão que o aluno deve ter do seu papel social na comunidade, a qual ele está inserido. O que diz o Plano Nacional de Educação sobre Avaliação? O principal artigo que trata da avaliação educacional no Plano Nacional de Educação (PNE) é o 11, que faz referência ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica como fonte de informação e como orientador das políticas públicas educacionais. Portanto, as informações que irão compor esse Sistema são referentes aos indicadores nacionais de rendimento escolar que medem o desempenho dos estudantes, e indicadores de avaliação institucional com informações sobre o perfil de alunos e profissionais da educação, as relações entre as equipes docente e técnica e corpo discente, aspectos estruturais, recursos pedagógicos e processos de gestão. Algo interessante a se comentar é não dar informações mais objetivas sobre como essa avaliação será realizada. A tônica dos incisos do Artigo 11 está nos exames de rendimento escolar, na divulgação de seus resultados, na abrangência e nos responsáveis pelo cálculo e aplicação dos exames. Para além do artigo 11 a discussão sobre avaliação educacional está presente em metas e estratégias específicas do PNE. As metas que tratam mais precisamente da avaliação são as 07 e 13. A meta 7, por exemplo, remete a melhoria da qualidade da educação básica às médias nacionais para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Segundo o documento, alcançar as metas do Ideb pretendidas está 30Especialização em Gestão Educacional e Escolar relacionado ao estabelecimento de diretrizes pedagógicas e à criação de uma base curricular nacional comum. Estes planejamentos curriculares são definidos por objetivos de aprendizagem para cada nível/série, mas que dependerão da medição e controle durante a vigência do PNE. 2.3 A concepção qualitativa da avaliação na construção da Gestão Escolar A Gestão Escolar não deve perder de vista o aspecto qualitativo da Avaliação. Para isto, é necessária a convicção do docente que queira mudar a realidade escolar, no sentido de sua eficiência e eficácia. Segundo PILLETI (2003, p.100), “o professor precisa ter autonomia em sua sala de aula e ter as condições necessárias para realização do seu trabalho docente”. Ainda, segundo o autor, o professor “tem o dever de avaliar o aluno para torná-lo livre e independente, conseguindo pensar e decidir por conta própria as decisões a serem tomadas no decorrer de sua vida”. Por outro lado, LIBÂNEO (1994, p.202) assevera que “a avaliação é um termômetro dos esforços do professor. Ao analisar os resultados do rendimento escolar dos alunos, obtém informações sobre o desenvolvimento do seu próprio trabalho. ” Tais informações devem ser ponderadas em atitudes reflexivas sobre as providências que devem ser tomadas em relação ao diagnóstico construído sobre o aprendizado dos alunos. Neste sentido, [...] a perspectiva do docente como profissional reflexivo nos permite construir a noção de autonomia como um exercício, como forma de intervenção nos contextos concretos da prática onde as decisões são produto de consideração da complexidade, ambiguidade e conflituosidade das situações”. (CONTRERAS, 2002, P. 197). Segundo Libâneo (1994), a avaliação precisa cumprir ao menos três funções estratégicas instrumentais para que possa propiciar uma melhoria contínua ereforçar o processo do aprendizado permitindo que o aluno cresça e realize suas atividades. As funções fundamentais são: pedagógica – didática, de diagnóstico e de controle. O autor especifica que cada uma das funções possui um papel muito importante no processo de avaliação: 31Especialização em Gestão Educacional e Escolar a) a função pedagógica – didática está ligada diretamente com o compromisso da escola em cumprir de fato, todos os conteúdos, projetos e trabalhos, com vista ao enfrentamento das transformações do mundo moderno. Esta função tem como proposta a aprendizagem significativa do aluno; b) a função diagnóstica oportuniza a observação dos progressos e dificuldades que os alunos terão em relação ao ensino – aprendizagem e também do professor, que por sua vez, poderá modificar sua prática pedagógica para atender melhor a situação de ensino em que o seu aluno se encontra; c) a função de controle mostra a interdependência das três funções, uma vez que a avaliação escolar é a parte primordial no processo de ensino, devendo então, não ser vista como uma referência isolada. A finalidade maior da função de controle da avaliação da aprendizagem é ajudar a escola a cumprir sua função social transformadora, tomando como parâmetro o diagnóstico e ponderar os seus procedimentos didático-pedagógicos. Entretanto, somente com conhecimento das Políticas Educacionais é possível pensar em transformação social, quando houver o cultivo da autonomia do profissional do ensino. É a partir da consciência sobre o avaliar o aluno, que é possível garantir o seu direito de aprender e resgatar o seu aproveitamento. Neste passo, o que está em jogo é o ato pedagógico necessário, apartado da discriminação social. As instituições de ensino devem aprimorar mais o processo avaliativo, justamente para terem possibilidades de intervenções exitosas e responsáveis pelo melhoramento da qualidade da educação do país. RESUMO Nesta Unidade, consideramos alguns pontos importantes sobre o Avaliar na Escola da Educação Básica. O objetivo a ser atingido contemplava a identificação da relação entre a avaliação nas reformas educacionais e as demandas da gestão escolar. Neste sentido, procuramos apresentar algumas ideias para que fosse possível compreender a avaliação na Educação Básica, à luz dos projetos de lei e das intenções do Plano Nacional de educação - PNE. Nesta oportunidade, associamos a concepção qualitativa da avaliação na construção da Gestão Escolar. 32Especialização em Gestão Educacional e Escolar REFERÊNCIAS BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. CASTRO, Maria Helena Guimarães de. Sistemas de avaliação da educação no Brasil: avanços e novos desafio. São Paulo: Perspectiva.São Paulo, v. 23, n. 1, p. 5-18, jan./jun. 2009. CONTRERAS, José. Autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Escola, currículo e avaliação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. GADOTTI, Moacir, 2001. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis. GIL, Antonio Carlos. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2008. LIBÂNEO, José Carlos. Educação escolar, políticas, estruturas e organização. 2 ed. SP: Cortez,2005. ________. Didática. 13. ed. São Paulo: Cortez, 1994. ________; PIMENTA, Selma G. Formação dos profissionais da educação: visão crítica e perspectivas de mudança. In: PIMENTA, Selma G. Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo: Cortez editora, 2001. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1990. 33Especialização em Gestão Educacional e Escolar OBJETIVOS: Refletir sobre a Gestão Escolar e as demandas de avaliação qualitativa para o enfrentamento dos desafios e perspectivas das escolas, no terceiro milênio; Identificar implicações da avaliação em larga escala sobre a qualidade na educação Básica brasileira. UNIDADE 3 A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO CONTEXTO DO TERCEIRO MILÊNIO 34Especialização em Gestão Educacional e Escolar 3 A AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO CONTEXTO DO TERCEIRO MILÊNIO T ais reflexões nos levam a perceber que ao entrarmos no novo milênio começamos a criar expectativas e preocupações, ainda pendentes do século passado. Há muitos avanços na ciência e na tecnologia. Muitas demandas sociais, com seus riscos e incertezas, geraram grandes acontecimentos. Entretanto, também proporcionaram a aceleração informacional, e implicaram no desenvolvimento econômico e nas perspectivas positivas de qualidade de vida. Neste sentido, há de se refletir sobre o papel da escola, como espaço profícuo de aprendizagens de crianças e jovens, para o enfrentamento das urgências deste contexto. 3.1 A interferência de Políticas sobre práticas pedagógicas Atualmente, a Gestão Educacional continua com o seu propósito de organizar a escola para atender às demandas do setor produtivo. Para tanto, as políticas educacionais buscam padronizar as práticas escolares, desde a década de 1990. Há uma padronização das práticas pedagógicas e da organização escolar. Isto é notório! A escola brasileira sofre a interferência dos princípios econômicos, da eficiência, da eficácia e da produtividade. Neste sentido, é esperado que a comunidade escolar observe estes princípios para o bom desempenho dos alunos. Para isto, é necessária a avaliação, que por sua vez é padronizada, desrespeitando, em muitos casos, o aspecto sociocultural das escolas. Este cenário ainda persiste no século XXI, apesar de outras demandas que surgem gradativamente e se expandem na medida das urgências dos novos tempos. As questões socioculturais, por exemplo, precisam de mais atenção das políticas educacionais, pois devem levar em conta “o pluralismo como elemento constitutivo da gestão democrática da educação”. (ARAUJO, 2012, p.54). Ainda segundo o autor, “a ideia central é de que deve prevalecer a capacidade de negociação e de acordos entre as esferas: central, intermediária e a local”. Significa dizer que há necessidade de outras formas de mediação das políticas, cuja construção é imposta de cima para baixo. Ainda há grandes dificuldades no estabelecimento da Gestão Democrática da escola. São necessárias iniciativas para que haja a abertura da escola e dos sistemas de ensino, no sentido de serem mais transparentes, democráticos e públicos. Araújo (2012, p.20) ressalta que: 35Especialização em Gestão Educacional e Escolar [...] na escola pública, na história brasileira, tem predominado a falta de iniciativas por parte do poder público, que não busca criar mecanismos facilitadores da participação popular no processo de definição das políticas educacionais. Para o autor, “ao fazer isso, a escola e a definição das políticas passam a ser exercidas exclusivamente pelo poder executivo” (ARAÚJO, 2012, p.20). E ainda mais, que “a opção por não facilitar e incentivar canais de participação da sociedade na esfera pública pode ser vista como uma alternativa das elites brasileiras e/ou econômicas”. Outro ponto de vista, sobre a interferência política nas práticas pedagógicas, revela que: A gestão escolar focaliza a essência do processo educativo, considerando os sujeitos sociais envolvidos em sua prática, e cuja direção para suas ações é a relevância social. Essa forma de gestão deságua, necessariamente, em uma experiência democrática na escola, envolvendo todos os segmentos escolares, tanto na concepção, como na implementação e avaliação do trabalho escolar. Assim, desvelam-se as dimensões política e pedagógica da gestão escolar, intrinsecamente ligada à prática educativa e com um forte compromisso com a transformação social. Com essas características, a gestão escolar parece fazer jus à denominação de gestão democrática do ensino. (GRACINDO, 2009, p. 136). Neste sentido, apesarda interferência política suscitar o aspecto democrático da gestão educacional, na sua dinâmica não há neutralidade e desinteresse. É um ato político, que tanto pode legitimar uma ordem vigente, como também pode sugerir transformação. Envolve também aspectos técnicos e normativos, de caráter burocrático, que ainda influenciam a cultura escolar. Fazem parte de uma história da educação de longa duração, e se constituem em fortes desafios para a consolidação do seu caráter público. Segundo Dourado (apud FERREIRA,1998, p.82) “nesse processo, faz-se necessário compreender a administração escolar como um ato político, na medida em que envolve sempre uma tomada de posição”. Apesar dos apelos do terceiro milênio para a organização escolar, ainda há limites postos para a escola quando da elaboração de seus projetos pedagógicos. As orientações continuam centralizadas nas Secretarias de Educação, das quais emana a necessidade de cumprimento das formalidades burocráticas, como cargas horárias, horários de funcionamento, currículo básico e outras exigências convencionais. Pelas pesquisas educacionais de Martins (apud,OlLIVEIRA, 2002, p.118), 36Especialização em Gestão Educacional e Escolar [...] as propostas recentes de modernização do sistema de ensino no âmbito estadual esbarram, permanentemente, na cultura político-administrativa sacralizada, ou seja, em relações institucionais cristalizadas na máquina pública que impedem até mesmo a perenidade dos programas. Pelo visto, os apelos do século XXI ainda são influenciados pelos concretos reflexos do modo de produção capitalista, que é globalizante, e de caráter neoliberal em nossa educação brasileira. Neste contexto, as políticas educacionais interferem sim nas práticas pedagógicas, cujo objetivo se define por meio da avaliação em larga escala para medir a qualidade da educação no Brasil. 3.2 A Avaliação em larga escala e a qualidade na educação básica brasileira [...] a avaliação é um processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar os obstáculos. (VASCONCELLOS, 1998, p.44). Esta concepção de Celso de Vasconcellos (1998), contempla uma visão geral de avaliação. Mas, em se tratando de políticas educacionais de avaliação, podemos compreendê-las como públicas e de caráter social, “mediatizadas pelas lutas, pressões e conflitos entre elas”. (SHIROMA, 2002, p. 44). Um dos exemplos nacionais de políticas educacionais relacionadas a avaliação escolar básica é o Programa Mais Educação. O Programa Novo Mais Educação foi criado pela Portaria MEC nº 1.144/2016 e regido pela Resolução FNDE nº 17/2017, é uma estratégia do Ministério da Educação que tem como objetivo melhorar a aprendizagem em língua portuguesa e matemática no ensino fundamental, por meio da ampliação da jornada escolar de crianças e adolescentes, otimizando o tempo de permanência dos estudantes na escola. (Brasil, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Currículos e Educação Integral, Coordenação Geral de Ensino Fundamental. Programa Novo Mais Educação, documento orientador – adesão - versão i – outubro 2016) 37Especialização em Gestão Educacional e Escolar Contudo, existem contradições relacionadas ao processo de avaliação em larga escala da qualidade da educação básica brasileira. Cabe ao profissional da educação interpretar e compreender, para ter condições de explicar o processo com propriedade analisando concepções sobre as políticas educacionais relacionadas com esta dimensão avaliativa. Nesta perspectiva, será possível os gestores escolares compreenderem e avaliarem os impactos das políticas educacionais relacionadas à avaliação, bem como identificarem os desdobramentos das práticas pedagógicas, com vista na avaliação. Cabe, nesta oportunidade, relacionar avaliação e qualidade no mundo atual, onde as relações do modo de produção capitalista encontram-se na dimensão da terceira revolução tecnológica. Neste sentido, há de se refletir sobre as agências internacionais que controlam as nossas políticas públicas brasileiras. Para a avaliação em larga escala da educação básica no Brasil, o Banco Mundial adotou critérios gerenciais de eficiência, com vista na qualidade da educação básica. Em função disto foi criada uma política educacional, denominada SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), em 1990. O principal objetivo é: Contribuir para a melhoria da qualidade da educação brasileira e para a universalização do acesso à escola, oferendo subsídios concretos para a formulação, reformulação e monitoramento das políticas públicas voltadas para a educação básica. (INEP, 2002, p. 9). Avaliação em larga escala é um processo amplo e extensivo, envolvendo várias modalidades de avaliação, realizado por agências reconhecidas pela especialização técnica em testes e medidas, abrangendo um sistema de ensino, ou seja, todas as escolas de um determinado nível ou série deste sistema, mesmo que utilizando procedimentos amostrais, na maior parte das vezes voltada predominantemente para o foco da aprendizagem dos alunos e com a finalidade de obter resultados generalizáveis ao sistema. Portanto a avaliação de larga escala é sempre uma avaliação externa às instituições escolares avaliadas. O interessante de agregar o termo avaliação externa com a informação de que é em “larga escala” é que indica o tipo de avaliação e sua abrangência. (WERLE, 2010, p. 22). 38Especialização em Gestão Educacional e Escolar O mais atual indicador de qualidade da educação básica é o IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (criado em 1997). Este instrumento toma como base o desempenho dos alunos na Prova Brasil, o SAEB e a avaliação das escolas, com suas taxas de aprovação. Segundo Tavares (2013, p. 44), [...] no tocante às políticas avaliativas, coube a conciliação do Estado-avaliador, interessado em impor um currículo nacional e controlar resultados acadêmicos ou produtos, com a filosofia de mercado educacional, preocupada com a diversificação da oferta e na competição entre escolas. Este modelo de avaliação possibilita a expansão de poder do Estado, uma vez que este exerce mais controle, sobre a educação básica brasileira. Tal controle impõe conteúdos, objetivos educacionais, via currículos e avaliações, permitindo ao mercado o controle dos resultados dos desempenhos escolares e dos sistemas de ensino. 3.3 A Gestão escolar e as demandas de avaliação qualitativa para o enfrentamento dos desafios e perspectivas das escolas A avaliação passa pela reflexão da qualidade em educação. Mas, também passa pela forma qualitativa de avaliar. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, voltou-se para debater com mais atenção a temática da “qualidade em educação”, fator de crise na educação. Isto tomou força com a legenda “Educação Para Todos”, entendida como um direito humano primordial. Na escola, a Gestão é uma liderança que exerce “influência positiva para que se efetive uma educação de qualidade. Portanto, ela é agente de uma práxis capaz de promover “ações conscientes”, como afirma Lück (2011, p.17). Vamos refletir sobre os seguintes aspectos da AVALIAÇÃO, que há muito são pesquisados por Jussara Hoffmann (1991): 39Especialização em Gestão Educacional e Escolar 40Especialização em Gestão Educacional e Escolar Partindo destes pontos citados, percebe-se que a Gestão Escolar, dentre outros desafios, deve resolver a questão da permanência dos alunos na escola. No entanto, alguns fatores que ainda devem ser levados a sério, ainda perturbam o bom desempenho escolar: a Evasão dos alunos;o conceito de qualidade em educação; e o conceito de aprendizagem significativa. O direito à educação de qualidade, propagado na legenda “Educação Para Todos” é uma garantia para as crianças e jovens. Está na Constituição Nacional. O ser humano tem o direito, desde a infância de vivenciar o seu processo de aprendizagens, no desenvolvimento de seu potencial. E para que seja exitosa toda esta vivência de aprendizados é necessária a avaliação, por sua fundamental importância. Pelo processo avaliativo o aluno é acompanhado na sua escolaridade e na sua capacidade de interagir, aprimorar, produzir, inventar e associar conhecimentos. Alguém que transcenda o aprendido, no enfrentamento dos obstáculos da vida prática. Mas, os profissionais da educação devem discutir sobre a relevância da questão avaliativa e o quanto as provas desequilibram alguns alunos. E sobre estas questões deve haver motivação em ampliar a discussão, com fundamento teórico, buscando formas de atuar para a elucidação da problemática, esperando que haja êxito nos resultados de seus trabalhos e que os alunos encontrem sentido em estarem na escola, em sala de aula. Nesta perspectiva, faz-se necessário entender que a avaliação classificatória não é sinônimo de ensino de qualidade. A propósito, pensar este sinônimo é permanecer na crença do sistema tradicional de avaliação como responsável por uma escola competente. Esta concepção é contraditória, uma vez que o rigor exagerado, sem levar em conta os aspectos qualitativos da avaliação, pode levar a índices elevados de evasão escolar. 41Especialização em Gestão Educacional e Escolar Efetivamente, a qualidade avaliativa deve considerar o panorama real da escola pública, por exemplo. Os aspectos mais críticos como número elevado de turmas, de muitas crianças, nos anos iniciais do Ensino Fundamental; distorções por série e idade; estruturas físicas inadequadas; livros didáticos que não condizem com a realidade das escolas. Enfim, muitas reprovações desanimam os alunos, que por sua vez abandonam a escola. RESUMO A cultura escolar é dinâmica. É um construto das relações interpessoais, movidas por reflexões, ações, compromissos e tomadas de decisão. Mas, a motivação da avaliação sobre a aprendizagem continua baseada em mecanismos de premiação e castigos. Isto pode não funcionar para todas as crianças, ou somente para as que gostam de desafios. A avaliação escolar deveria ser observada, segundo a concepção de Libâneo (1994) sobre esta prática pedagógica, definida pelo autor como um componente do processo de ensino que visa, através de verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propósitos, e, daí orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas seguintes. Verificamos que há muitos pontos importantes sobre a relação interdependente entre as Políticas Educacionais, a Avaliação Escolar e a Gestão Escolar, e que devem ser discutidos com gestores, professores, funcionários, alunos e famílias, nas suas respectivas proporções. A cultura desenvolvida na escola deve ser construída na dinâmica consciente de como os alunos estão sendo avaliados em todas as suas circunstâncias. E não somente com avaliações obtidas de provas escritas ou orais, mas em toda a vivência em sala de aula. A avaliação do aluno deve estar sob a responsabilidade de toda a instituição. Neste sentido, é oportuno observar as considerações de LIBÂNEO (1994, p.33) sobre os compromissos da comunidade escolar acerca da avaliação: A escola e os professores estão cumprindo responsabilidades sociais e políticas. Com efeito, ao possibilitar aos alunos o domínio dos conhecimentos culturais e científicos, a educação escolar socializa o saber sistematizado e desenvolve capacidades cognitivas e operativas para a atuação do trabalho e nas lutas sociais pela conquista dos direitos de cidadania. Em diversas vezes a tendência da gestão é atribuir o fracasso escolar é à responsabilidade dos professores. A questão não é mudar o regulamento da 42Especialização em Gestão Educacional e Escolar educação ou inventar outros parâmetros de alteração das avaliações. Esta problemática ainda não tem respostas plausíveis, a ponto de se abrir sem negligenciar a legislação educacional. Porém, é necessário a mudança de atitude, com a convicção de estar contribuindo com o processo de aprendizagens educativas de alguém que precisa ser útil na sociedade. Segundo a Lei nº 9.394/96, decididamente a avaliação possui um caráter de aprovação ou reprovação do aluno. O diagnóstico sobre o desempenho do aluno para a sua ascensão para a série seguinte é dado pelo professor. O fator mais importante da avaliação escolar sobre o bom rendimento no processo de ensino e aprendizagem, é a observação diária do professor sobre o seu trabalho junto aos alunos. Isto facilita a elaboração de um diagnóstico tanto do desempenho dos alunos como os impactos de suas práticas pedagógicas. Estas considerações abrem críticas, especialmente quando emergem convicções do papel da escola, da gestão e dos professores no processo de aprendizagens educativas dos alunos, apesar da legislação nacional que orienta o sistema educacional brasileiro. REFERÊNCIAS ARAUJO, Adilson Cesar de. Gestão, avaliação e qualidade da educação: políticas reveladas na prática escolar. Brasília: Líber, Faculdade de Educação/ Universidade de Brasília, 2012. BRASIL. Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Diretoria de Currículos e Educação Integral Coordenação Geral de Ensino Fundamental. Programa Novo mais Educação documento orientador – Adesão - Versão I. out. 2016. DOURADO, Luiz Fernandes. A escolha dos dirigentes escolares: políticas e gestão da educação no Brasil. In: FERREIRA, Naura (Org.). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998, p. 77-96. GRACINDO, Regina Vinhaes. O gestor escolar e as demandas da gestão democrática. Exigências, práticas, perfil e formação. In: Retratos da escola. Financiamento e gestão. Dossiê da Educação Básica. CNTE – V. 3, n. 4, jan./ jun. 2009, p. 135-146. HOFFMANN, Jussara M. L. Avaliação: Mito e Desafio. Uma perspectiva Construtivista. Porto Alegre: Educação e realidade, 1991. 43Especialização em Gestão Educacional e Escolar INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira – SAEB, 2002. LÜCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. MARTINS, Ângela Maria. Autonomia e gestão da escola pública: aportes para uma discussão. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade. Política e gestão da educação. Belo horizonte: Autêntica, 2002. SHIROMA, E. O. Política educacional. Rio de Janeiro: DP & A, 2002. TAVARES, Edson Leandro Hunoff. Avaliação em larga escala e qualidade da educação: um estudo a partir da visão dos sujeitos da rede Escolar Municipal de Cachoeirinha / RS. Dissertação de Mestrado em Educação. UNISINOS. São Leopoldo/RS, 2013. WERLE, F. O. C. Avaliação em larga escala: foco na escola. São Leopoldo/ RS: Oikos. Brasília/DF: Liber Livro, 2010. VASCONCELLOS, Celso. Avaliação: concepção dialético-libertadora do processo de avaliação escolar. São Paulo: Libertad, 1998.
Compartilhar