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Tempo, disciplina e Capitalismo industrial - E. P. Thompson A imagem do relógio e seus mecanismos expande-se durante o século XVII; A relação com o tempo era medida, pelos povos primitivos, de acordo com as tarefas diárias. Com isso, eles mediam o tempo de determinadas situações a partir da duração de outras tarefas e a relacionavam; O autor também compara as diversas sociedades e sua relação com a disciplina. Nas sociedades primitivas, não há uma separação dentre trabalho e vida, essas estão diretamente relacionadas. Os relógios, em meados do século XVIII, pertenciam à gentry, mestres, fazendeiros e comerciantes. Ou seja, o monopólio do “tempo”, pertencia àqueles que possuíam maiores condições de pagar por estes. Possuir um relógio significava exibir seu status perante a sociedade. Na década de 1790, o relógio passou a ser um artigo de “conveniência” e não mais de “luxo”, dessa forma, houve uma enorme difusão do relógio que gora fazia parte até mesmo da vida de camponeses. Isso se deu devido à demanda de sincronização do trabalho por conta da Revolução Industrial. Pode-se perceber que o avanço da Revolução Industrial culminou uma extrema mudança no cotidiano da população que, anteriormente, media o tempo de acordo com tarefas diárias, mas agora torna-se necessário a introdução do relógio para a adaptação na diferente forma de trabalho que as fábricas exigem. O relógio, a partir desse momento, passa a regular o ritmo dessa nova sociedade industrial. A aquisição de relógio por parte das classes mais baixas era um ato comum e representado até mesmo como investimento, pois na penúria o mesmo era vendido por um preço maior do que foi comprado. A mudança na rotina de trabalho, que antes o mesmo trabalhador desenvolvia diversas funções e agora exerce apenas uma e de maneira automatizada, provocou insatisfação e exaustão. A mudança que ocorre nesse século não é somente e basicamente para a “industrialização”, mas para um contexto muito mais amplo e abrangente, o “capitalismo industrial”. O tempo, neste novo contexto, se tornou um mecanismo de exploração de mão de obra. A partir de 1700, já existe o capitalismo industrial disciplinado, com o controle do tempo dos trabalhadores, assim como os delatores e as multas. As máquinas também desempenhavam o papel de controladoras do tempo, pois davam o ritmo do trabalho e permitiam a disciplina se fazer no local de trabalho. A escola, segundo Powell afirma que seria um mecanismo de treinamento para habituar as crianças à rotina de trabalho. A rotina da escola os ensinaria a ter a disciplina, ordem e trabalho necessários para a vida no mundo do capitalismo industrial. O controle do tempo era exercido somente pelos “mestres”, os trabalhadores muitas vezes não sabiam há quantas horas estavam trabalhando e nem que horas parariam. Baxter um puritano que critica a moral da ociosidade em seu “Guia Cristão”, afirma que tempo é dinheiro e que redimir o tempo é lucrativo. Além disso, afirma que o tempo deve ser usado de maneira correta para garantir a salvação, a ociosidade o impediria de consegui-la. A noção da disciplina no trabalho é constantemente associada por estes autores puritanos à noção da salvação. “ Por meio de tudo isso- pela divisão do trabalho, supervisão do trabalho, multas, sinos e relógios, incentivos em dinheiro, pregações e ensino, supressão das feiras e dos esportes- Formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova disciplina de tempo. Kerr e Siegel afirmam que para uma “estruturação de uma força de trabalho é necessário o estabelecimento de regras sobre o tempo de trabalhar e de não trabalhar”.