Prévia do material em texto
Ministério da Educação Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre Campus Cruzeiro do Sul FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS DOS SOLOS UNIDADE IV – PROPRIEDADES QUÍMICAS Propriedades Físico-químicas dos solos Origem das cargas elétricas do solo Capacidade de troca de íons Acidez de solos e calagem Nutrição de plantas e fertilizantes Professor: Jozângelo Fernandes da Cruz 1 PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO SOLO Fases do solo Um solo mineral, próximo à superfície, com condições físicas ótimas para o crescimento de plantas, apresenta, aproximadamente, a seguinte composição volumétrica: 50% de espaço poroso, ocupados por partes iguais de ar e água; 45-48% de sólidos minerais; e 2-5% de matéria orgânica (MO). Têm-se, então, em média, 50% constituídos pela fase sólida, 25% pela fase líquida e 25% pela fase gasosa. (COMPLETAR A FIGURA) A fração gasosa consiste no ar ou atmosfera do solo. A fração líquida consiste na água do solo e abrange tanto a água afetada por forças gravitacionais como contida por forças não- gravitacionais. A solução do solo, contida na fração não-gravitacional, é o principal meio onde os nutrientes são solubilizados e disponibilizados a todos os vegetais e organismos do solo. A proporção entre o volume ocupado pela água e pelo ar (25% cada, em média), pode variar em função do tipo de solo, da vegetação, da forma de uso do solo e das condições climáticas. O volume não-poroso, que consiste na fração sólida, é composto pela parte orgânica e mineral. Grande parte do comportamento do solo é governada pela fração orgânica e, portanto, bastante susceptível a mudanças em função do seu uso e manejo ou outras pressões, naturais ou artificiais. A fração mineral divide-se em quatro frações granolumétricas: pedras e cascalhos, areia, silte e argila. As pedras e cascalhos são partículas de tamanho superior a 2 mm e normalmente não estão presentes nos solos do estado do Acre, exceto daqueles localizados no complexo Fisiográfico da Serra do Divisor. A fração areia é composta pelos grãos de areia que apresentam pouca viscosidade e plasticidade e pouco afetada pela umidade do solo, apresentando reduzida capacidade de retenção de água, com características de solos bem drenados e aerados. Na fração silte predominam partículas de tamanho de 0,002 mm a 2 mm de diâmetro. Normalmente constituem as micropartículas de areia em que o quartzo é o mineral predominante. Possuem pouca plasticidade e viscosidade. Figura 01: composição volumétrica média de um solo com boa estrutura. 2 A fração argila é formada por partículas inferior a 0,002 mm de diâmetro, mas que apresentam grande importância para a definição das propriedades dos solos e no comportamento desses frente aos diferentes tipos de manejo. A maior parte das reações de natureza física, química e físico-química do solo, com ou sem a interação da matéria orgânica, ocorre nas superfícies dos minerais de argila. Essas reações são responsáveis pelas propriedades dos solos, o que determina, em parte, sua aptidão ao uso agrícola e florestal. Nos solos do Acre predominam, na fração argila, minerais do tipo caulinita, associados ou não a argilas dos grupos 2:1 ou 2:2, enquanto na grande maioria dos demais solos brasileiros, há a predominância de caulinita e óxidos de ferro e alumínio na fração argila. De maneira geral são reconhecidos dois grupos de argilas: as silicatadas e as de óxidos hidratados de ferro ou alumínio. Os óxidos de ferro ou alumínio são importantes constituintes da grande maioria dos solos brasileiros, porém, de menor importância nos solos do Estado do Acre, onde predomina a caulinita, uma argila silicatada. Mineralogia da fração argila As argilas silicatadas são constituídas por duas unidades estruturais básicas. Uma é o tetraedro de sílica, formado por ligações de um átomo de silício (Si) e quatro átomos de oxigênio. A outra unidade é constituída pelo octaedro de alumina, formado por um átomo de alumínio (Al) e seis átomos de oxigênio. Dentre as argilas silicatadas, destacam-se os principais grupos: 1) Caulinita: caracteriza-se por um arranjo com uma camada de tetraedros e uma de octaedros (1:1), unidas entre si, rigidamente pelos átomos de oxigênio comuns às duas camadas. Figura 02: limite dos tamanhos das partículas dos solos. Figura 03: unidades estruturais básicas das argilas silicatadas. A => tetraedro de sílica; B => octaedro de alumina . A B 3 2) Montmorilonita: caracteriza-se por unidades constituídas por um arranjo com duas camadas de tetraedros por uma de octaedros (2:1), ligadas pelos átomos de oxigênio comuns às lâminas; 3) ILITA: o grupo da ilita, ou mica hidratada, apresenta a mesma organização estrutural que a montmorilonita (argila tipo 2:1). Argilas não silicatadas: óxidos e hidróxidos de Fe e de Al Os óxidos e hidróxidos e Fe e Al também constituem a fração argila dos solos, predominando, com freqüência, em solos tropicais, misturado com argilas silicatadas, principalmente caulinita. Esses óxidos, de maneira geral, são os principais responsáveis pela adsorção iônica nos solos. O efeito desses óxidos sobre a adsorção de fosfatos em solos tem sido o foco de vários estudos (principalmente nos solos do Acre). Origem das cargas elétricas do solo (ASSOCIAÇÃO) Cargas negativas As cargas eletronegativas do solo podem ter diferentes origens: a) Substituição isomórfica Figura 04: representação esquemática das argilas do grupo da caulinita. Figura 05: representação esquemática das argilas do grupo da montmorilonita. 4 Esse tipo de mecanismo de geração de cargas negativas independe do pH do solo. Durante a formação das argilas do tipo 2:1, alguns átomos de Si dos tetraedros podem ter sido substituídos por Al, bem como o Al dos octaedros pode ser substituído por Mg ou por outros cátions de valência menor que a do Al3+. A substituição do Si4+, que se encontrava neutralizado, por o Al3+, irá condicionar a sobra de uma carga negativa (-). De maneira semelhante, uma carga será gerada pela substituição de um Al3+ de um octaedro por um cátion divalente como o Mg2+. A substituição isomórfica é a principal responsável pela formação de cargas negativas nas argilas silicatadas, principalmente naquelas do tipo 2:1 e 2:2. b) Dissociação de grupos OH nas arestas das argilas silicatadas O grupo hidroxila (OH) nas terminações tetraedrais ou octaedrais podem dissociar-se, gerando carga negativa. Essa reação é dependente de pH e com a alteração do pH do solo podem ser geradas cargas negativas, positivas ou até mesmo manter o equilíbrio neutro da solução do solo. c) Matéria orgânica Na matéria orgânica do solo, as cargas negativas originam-se, principalmente, da dissociação de grupos carboxílicos e fenólicos: Figura 06: representação esquemática da substituição isomórfica do silício por alumínio. Figura 07: representação esquemática da dissociação de grupos de hidroxila nas argilas silicatadas. Figura 08: representação esquemática da geração de cargas a partir da dissociação de grupos carboxílicos e fenólicos na matéria orgânica. 5 Essa reação também é dependente do pH do solo. Geração de cargas positivas As cargas positivas do solo tem sua origem nos óxidos e hidróxidos (óxidos hidratados) de Fe e de Al, preferencialmente. Essa situação émais expressiva em condições ácidas de solo. O esquema acima mostra que os óxidos hidratados de Fe e Al podem dar origem a cargas eletropositivas, eletronegativas ou permanecer com carga neutra na superfície, dependendo do pH do solo. De modo geral, o ponto em que a carga dos óxidos é nula corresponde a um valor de pH na faixa alcalina. Dessa forma, podemos dizer que os óxidos de Fe e Al apresentam cargas eletropositivas em solos ácidos. CAPACIDADE DE TROCA DE ÍONS As cargas negativas e positivas que se desenvolvem na superfície das argilas são capazes de adsorver íons de forma trocável. Por essa razão diz-se que esses materiais podem apresentar capacidade de troca de cátions (CTC), quando a superfície eletronegativa adsorve cátions, e capacidade de troca de ânions (CTA), quando a superfície eletropositiva adsorve ânions. Além das argilas minerais, as substâncias orgânicas do solo são capazes de adsorver cátions ou ânions. Figura 09: representação esquemática da geração de cargas na matéria orgânica através da dissociação de grupos carboxílicos e fenólicos. PCZ => ponto de carga zero. Figura 10: representação esquemática da absorção e troca iônica. 6 Normalmente, solos com elevada CTC são tidos como férteis, sobretudo se a maior parte da CTC desses solos estiver ocupada por cátions alcalinos (potássio, principalmente) ou alcalinos terrosos (cálcio e magnésio). Isso decorre do fato de serem cátions importantes para a nutrição das plantas e demais organismos do solo. Entretanto, se a CTC for baixa e ocupada principalmente por hidrogênio ou alumínio, os solos são tidos como inférteis, como ocorre no cerrado brasileiro. No Acre, existem solos de baixa e alta CTC, saturados com cátions alcalinos e alcalinos terrosos ou com alumínio e hidrogênio. ACIDEZ DO SOLO E CALAGEM A acidez de um solo caracteriza-se pelo seu valor de pH e seu caráter ácido aumenta na medida que o pH do solo diminui. Entre os problemas de um solo ácido, destacam-se a menor disponibilidade de alguns nutrientes (especialmente fósforo e molibdênio) e a toxidez de alumínio e manganês. Entretanto, as rochas das quais os solos se originam, quando moídas e em contato com a água, mantém o pH próximo à neutralidade (pH 7,0) e contêm substâncias muito pouco solúveis enquanto que, após milhares de anos, os solos formados a partir destas rochas apresentam reação ácida e aumento na concentração de elementos com alta valência (Fe e Al). Nos solos, parte do alumínio que estava contido nos minerais primários continua sendo estrutural, retido pelos átomos de oxigênio nas estruturas dos argilominerais e óxidos. Portanto, esse Al não é tóxico aos organismos vivos. Aqueles átomos de Al liberados quando ocorre a ruptura desses minerais secundários para a solução é que se tornam tóxicos. Isso só ocorre depois que a quantidade de H+ for alta (pH < 5,5). Em outras palavras, primeiro o solo se torna ácido para depois aparecer Al3+. O Al3+ é conseqüência da acidez e não causa. A acidez do solo é a recíproca da quantidade de bases para sua correção. Há vários tipos de acidez, dependendo do modo de medição adotado. a) Acidez ativa é a quantidade de H+ presente na solução do solo. b) Acidez trocável ou Al trocável: refere-se a quantidade de Al3+ adsorvido pelas cargas negativas do solo (CTC). Ele está bloqueando as cargas e mantém um equilíbrio com a solução do solo. Há uma quantidade muito grande de Al no solo, sendo que a grande maioria faz parte da estrutura dos colóides inorgânicos. O Al complexado pela MO do solo pode perfazer mais de 100 vezes àquele que se encontra no complexo de troca. Esse Al só será liberado para a solução se a MO for destruída pelo ataque microbiano. 7 c) Acidez não trocável: refere-se a quantidade de hidrogênio ligado por ligações de coordenação aos grupos funcionais dos colóides orgânicos (MO) e inorgânicos (argilas e óxidos). Esse hidrogênio só se dissocia quando se adiciona OH no solo. d) Acidez potencial é o somatório do Al + H é a acidez potencial do solo. Os solos do Acre possuem elevada acidez (baixos valores de pH), e elevados teores de Ca e Al trocável. No entanto, os teores de alumínio trocável não possuem efeitos fitotóxicos que seriam esperados com base nos valores que o Al aparece no solo, mesmo para variedades de plantas sensíveis ao alumínio. A baixa fitotoxidade do alumínio trocável pode ser conseqüência do abaixamento da atividade de Al na solução, por causa dos altos teores de cálcio e de magnésio trocáveis, comuns mesmo nos solos do sudeste acreano, onde a CTC do solo é menor em comparação com os solos da região central e oeste do Estado. Portanto, o alumínio trocável não deve ser utilizado como um índice de acidez nos solos acreanos e, provavelmente, se outras condições não forem limitantes, é possível que a correção do solo não seja necessária. CALAGEM A correção da acidez superficial e subsuperficial do solo faz-se necessária para promover maior eficiência de absorção da água e nutrientes pelas plantas e obter melhores produtividades das culturas. Para essa correção, o insumo mais utilizado pra a camada superficial é o calcário (CaCO3) e, para a subsuperficial, em solos com argila de baixa atividade, é o gesso agrícola. A prática utilizada para correção da acidez da camada superficial do solo é a calagem. O valor de pH em água (CTC efetiva) a ser atingido, para um bom crescimento e desenvolvimento da maioria das culturas, é de 5,5 a 6,3. Nesse intervalo de pH, as plantas têm boas condições de absorção dos nutrientes. A calagem bem feita neutraliza o Al do solo e fornece Ca e Mg como nutrientes. Ela promove, também, o aumento da CTC efetiva, reduzindo a lixiviação de bases. Além disso, possibilita maior crescimento do sistema radicular das plantas, facilitando a absorção e a utilização dos nutrientes e da água. Dentre as várias finalidades da prática da calagem, destacam-se as seguintes: a) Corrigir a acidez do solo, pela neutralização do H+. Após a aplicação do calcário ao solo, o ânion CO4 2- (base forte) é o principal responsável pela hidrólise da água e formação do íon OH-, que irá neutralizar a acidez ativa (H+) do solo. É importante lembrar que o ânion SO4 2- (base fraca) não tem, praticamente, capacidade de hidrolisar a água e produzir OH -. Por essa razão, o gesso não é considerado corretivo de acidez ativa. CaCO3 + H2O → Ca 2+ + HCO3 - + OH- HCO3 - + H2O → CO2 + OH - + H2O 8 b) Corrigir a toxidez de Al e Mn por reações de precipitação desses elementos, na forma de oxihidróxidos: Al(OH)3 e Mn(OH)2. O Al é totalmente precipitado quando o pH do solo atinge valores em torno de 5,5. Esse precipitação, pode ocorrer, também, com alguns micronutrientes metálicos, como o Cu2+, Fe2+, Fe3+ e Zn2+, diminuindo a disponibilidade dos mesmos. Al3+ + OH- → Al(OH)2+ Al(OH)2+ + OH- → Al(OH)2 + Al(OH)2 + + OH- → Al(OH)3 (precipita) Mn2+ + OH- → Mn(OH)+ Mn(OH)+ + OH- → Mn(OH)2 (precipita) c) Fornecer Ca e Mg pra as plantas, visto que a maioria dos corretivos contém estes nutrientes; d) Gerar cargas negativas no solo e, consequentemente, aumentar a retenção de cátions (aumenta a CTC efetiva); e) Neutralizar os sítios de cargas positivas dos oxihidróxidos de Fe a Al, minimizando, principalmente, a adsorção de fosfato; f) Aumentar a atividade biológica do solo, principalmente quanto a fixação biológica de nitrogênio (N2) e à colonização de fungos micorrízicos, e promover maior mineralização da matéria orgânica; g) Propiciar condições para melhor crescimento do sistema radicular,aumentando, dessa forma, sua absorção de água e nutrientes pelas plantas. A reação do calcário com o solo é relativamente lenta e depende, basicamente, da disponibilidade de água. Por isso, recomenda-se que sua aplicação no solo seja feita com alguma antecedência ao plantio, de modo que, na época de estabelecimento das culturas, a acidez já tenha sido, pelos menos, parcialmente corrigida. Determinação da Necessidade de Calagem (NC) Antes de calcularmos a necessidade de calagem (NC) e quantidade de calcário (QC) é necessário que fixar alguns conceitos relativos à fertilidade do solo. Soma de base (SB): cálculo do somatório dos resultados das bases trocáveis (K+ + Na+ + Ca²+ + Mg²+. Sua unidade é cmolc/dm 3 9 CTC efetiva (t): é a quantidade de cátions trocáveis do solo, nas condições da amostra, com pH normal. Inclui a soma de bases (SB) mais alumínio trocável (Al3+). Sua unidade é cmolc/dm 3 CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA (CTCpH 7,0 ou T): equivale à quantidade de cargas negativas medidas a pH 7, incluindo-se, além das bases trocáveis (SB), a acidez potencial (H+ + Al3+). Sua unidade é cmolc/dm 3 SATURAÇÃO POR BASES (V%): é a porcentagem de bases trocáveis em relação à CTC. Sua unidade é dada em porcentagem. PRNT: Poder Relativo de Neutralização Total. É uma medida da qualidade dos calcários. Quanto maior esse valor, melhor o calcário. Determinação da necessidade de calagem Método da Saturação por Bases (V2 – V1) O método de cálculo da necessidade de calagem (NC) pela saturação por bases tem a importante característica de considerar a facilidade dos cálculos e a flexibilidade de adaptação para diferentes culturas. O cálculo consiste em Elevar a saturação por bases a valores preestabelecidos para diferentes culturas. Exemplo: se determinada cultura A exige uma saturação por base de 65% (V2) e saturação do solo (V1) é de 40%, logo, o cálculo da necessidade de calagem deve propiciar uma aumento de 20% na saturação por bases final. Dessa forma, temos que: Onde: NC → Necessidade de calagem em t/ha T → CTC a pH 7,0 V2 → Saturação por bases desejada V1 → Saturação por bases do solo ou T pH 7,0 10 Exemplo prático: A análise de uma amostra de solo retirada na profundidade de 0-20 cm revelou os seguintes resultados: MO = 25 g/kg; Argila = 320 g/kg; Ca + Mg = 1,1 cmolc/dm 3; Ca = 0,8 cmolc/dm 3; K = 0,1 cmolc/dm 3; Al + H = 4,3 cmolc/dm 3; Mg = 0,3 cmolc/dm 3 Al = 1,5 cmolc/dm 3; pH = 4,1. Determinar a necessidade de calagem (NC) para elevar a saturação de bases da condição inicial para 60%: Achar a soma de bases (SB) SB = 0,1 + 0 + 0,8 + 0,3 SB = 1,2 cmolc/dm 3 Achar a CTC pH 7,0 ou valor T T = 1,2 + (4,3) T = 5,5 cmolc/dm 3 Achar a saturação por bases do solo (V1) V1 = 1,2 x 100 5,5 V1 = 22% Agora basta reunir tudo na fórmula da necessidade de calagem (NC) pelo método de saturação por bases. V2 = 60% NC = 5,5(60 - 22) 100 NC = 5,5( 38 ) 100 NC = 2,09 ≈ 2,1 t/ha de calcário Quantidade calcário (QC) A necessidade de calagem considera a dose ou a quantidade de calcário CaCO3 com poder relativo de neutralização total (PRNT) igual a 100%, com uma profundidade de incorporação de 0-20 cm e superfície de cobertura 100%. Essa seria uma situação teórica do uso do calcário. Portanto, a quantidade real de calcário (QC) a ser aplicada, em t/ha, é calculada pela fórmula: Onde: QC = quantidade de calcário a ser aplicada expressa em t/ha. NC = necessidade de calagem (já calculada); PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário (expresso em porcentagem); p = profundidade de incorporação do calcário; SC = superfície de cobertura (é um valor em porcentagem para a área de aplicação de calcário, exemplo, para uma área de 1 ha, vamos distribuir o calcário em 50%). Exemplo prático: Considere o exemplo anterior para necessidade de calagem (NC) e que o calcário a ser utilizado tem um PRNT de 90%, que será aplicado a profundidade de 20 cm e que a aplicação abrangerá uma superfície de cobertura de 80%. Calcule a quantidade de calcário (QC). T 11 NC = 2,1 t/ha PRNT = 90% p = 20 cm SC = 80% Logo, QC = 2,1 x 100 x 20 x 80 90 20 100 QC = 2,1 x 1,11 x 1 x 0,8 QC = 1,86 t/ha de calcário Escolha do corretivo A eficiência dos corretivos depende do teor de substâncias capazes de liberar OH- ou HCO3 - (neutralizantes), tamanho das partículas (grau de moagem), estrutura cristalina do material e teor de Mg. Os corretivos mais utilizados na neutralização da acidez do solo são os calcários. A qualidade dos corretivos varia com a granulometria e com o poder de neutralização (PN) do material. Com base na granulometria, determinam-se a reatividade (RE) e a velocidade de reação do corretivo no solo. Tabela 01: Características mínimas de poder de neutralização (PN) e soma de óxidos dos principais corretivos de acidez. Tabela 02: número de mol de carga (molc) em kilogramas de diferentes corretivos e seus correspondentes valores neutralizantes (equivalente em CaCO3). 12 Quantos aos teores de Mg, os calcários podem ser classificados em: a) Calcíticos → menos de 5% MgO; b) Magnesianos → entre 5 e 12% MgO; c) Dolomíticos → maior de 12% MgO. Quanto ao PRNT, os calcários podem ser classificados nos grupos: 1) Grupo A → PRNT entre 45 e 60%; 2) Grupo B → PRNT entre 60,1 e 75%; 3) Grupo C → PRNT entre 75,1 e 90%; 4) Grupo D → PRNT superior a 90%. NUTRIÇÃO DE PLANTAS E FERTILIZANTES A prática de uma adubação racional e adequada ao desenvolvimento do potencial genético de uma cultura só será possível com a aplicação de todos os conhecimentos científicos envolvidos na relação solo-planta. Nesse contexto, a nutrição mineral de plantas é parte fundamental dos conhecimentos necessários para se fazer uma recomendação correta de adubação. Ela fornece informações sobre os elementos essenciais às plantas, a quantidade e quando são mais exigidos, como são absorvidos, transportados e redistribuídos, e as funções desempenhadas. As plantas, para viverem e produzirem necessitam de água, luz, ar, temperatura adequada e dos seguintes elementos minerais denominados nutrientes: N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn e Ni. Esses elementos, mais C, H e O, presentes no ar e na água, constituem os elementos essenciais aos vegetais. Para as leguminosas, inclui-se também o Co como nutriente benéfico. Por isso, uma planta cresce e desenvolve-se perfeitamente em solução nutritiva, isto é, em água contendo os nutrientes em concentrações suficientes e na presença de luz, ar e temperatura adequada. Portanto, o solo é essencial, mas não imprescindível à vida das plantas. Todavia, é de fundamental importância para o cultivo das plantas em escala maior, porque serve para abrigar e fixar as plantas, armazenar e suprir água e todos aqueles elementos essenciais à vida vegetal. Em relação ao suprimento de nutrientes, os solos podem ser pobres ou ricos e os solos ricos podem ser empobrecidos com o decorrer da exploração agrícola. A função dos adubos ou fertilizantes é aportar nutrientes aos solos para suprir as necessidades das plantas. Composiçãoda planta A análise química da matéria seca das plantas mostra que cerca de 90% do total de elementos corresponde aos nutrientes carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H); o restante aos minerais nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S), cálcio (Ca), magnésio (Mg), ferro (Fe), cobre (Cu), manganês (Mn), boro (B), zinco (Zn), cloro (Cl) e outros de importância variável conforme a 13 planta ou microorganismo simbiótico associado, como é o caso do molibdênio (Mo), silício (Si), e níquel (Ni). A composição química das plantas provém de elementos químicos contidos no meio gasoso, líquido e sólido: Gasoso (ar) → carbono (como CO2); Líquido (água) → hidrogênio e oxigênio; Sólido (solo) → os demais elementos minerais. Os nutrientes fornecidos pelo solo normalmente são aqueles que regulam as taxas de crescimento e desenvolvimento das plantas. Por isso, em muitos casos, técnicas de recuperação do potencial produtivo dos solos, baseados na calagem e na adubação, constituem a maneira mais rápida que se dispõe para aumentar a produção das culturas. O sistema solo-planta O solo é o ambiente que atua como reservatório de nutrientes necessários às plantas e pode ser interpretado como um sistema composto por compartimentos e vias de comunicação ou transferência de nutrientes de uma planta e outra. O sistema solo-planta consiste de três fases: sólida, líquida e gasosa. Porém, do ponto de vista do fornecimento de nutrientes minerais, apenas à fase sólida e líquida serão consideradas. Nos solos, o principal reservatório dos nutrientes encontram-se na fase sólida, precisando passar à fase líquida para ser aproveitado pelas plantas. A passagem do nutriente da fase sólida para a interface solução-raiz pode ocorrer por três processos, geralmente funcionando ao mesmo tempo, embora com participação relativa diferente: a) Interceptação radicular: ao se desenvolver no solo, a raiz entre em contato com as partículas da fase sólida e, portanto, com os nutrientes presos a ela, podendo então absorve-los, assim os nutrientes passam diretamente da fase sólida para a líquida (no espaço intra e extracelular). O Ca pode ser suprido totalmente por esse mecanismo; b) Fluxo de massa: é o processo pelo qual o nutriente que está dissolvido na solução do solo é arrastado por ela na medida em que a planta absorve água. Desse modo, quando ocorre a absorção, o nutriente que está na solução do solo praticamente acompanha a água que penetra na planta através da raiz. O nutrientes N, Ca e Mg, por estarem retidos com menor energia na fase sólida, são supridos por fluxo de massa; c) Difusão: é o processo pelo qual o nutriente que está dissolvido na solução do solo movimenta-se de uma região de maior para outra de menor concentração, sempre a distâncias muito curtas. Os nutrientes P, K e Zn são supridos principalmente por esse mecanismo de suprimento. 14 A contribuição relativa de cada um desses processos no fornecimento de nutrientes depende principalmente do elemento avaliado, embora varie também em função da espécie vegetal. Dezessete elementos são considerados essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas: carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn). Alguns elementos são classificados como benéficos para algumas plantas, como o sódio (Na), silício (Si), selênio (Se) e cobalto (Co). Os nove primeiros (exceto o potássio) participam da formação dos tecidos vegetais e representam, aproximadamente 99% da sua massa. Carbono, hidrogênio e Oxigênio são estudados nas suas múltiplas funções na fisiologia vegetal. Sob o ponto de vista da nutrição mineral, os elementos essenciais são classificados em macro e micronutrientes, de acordo a quantidade exigida pelas plantas. Os macronutrientes são classificados em primários e secundário: a) Macronturientes primários: são os nutrientes exigidos em grandes quantidades pelas plantas, tornado-se deficientes no solo antes dos demais: N, K, P; b) Macronutrientes secundários: são os nutrientes exigidos em grande quantidades pelas plantas, mas menores que os primários: Ca, Mg, S. Os micronutrientes são absorvidos pelas plantas em pequenas quantidades: Bo, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni, Zn. É necessário que haja disponibilidade e absorção dos nutrientes em proporções adequadas, via solução do solo ou, como suplementação via foliar. Cada um destes nutrientes tem uma função específica no metabolismo das plantas. Desequilíbrios em suas proporções podem causar deficiência ou excesso de nutrientes, causando limitações ao crescimento das plantas ou mesmo a sua morte. Critérios de essencialidade Para um elemento ser considerado essencial, deve satisfazer alguns critérios: a) Critério 1: um elemento é essencial se sua deficiência impede que a planta complete seu ciclo vital; b) Critério 2: para ser essencial o elemento não pode ser substituído por outro elemento com propriedades similares. Por exemplo: o Na apresenta propriedades semelhantes ao K, contudo não pode substituir completamente o K; c) Critério 3: o ultimo critério que deve ser cumprido é que o elemento deve participar diretamente no metabolismo da planta e promover seu benefício não só com o objetivo de 15 melhorar as características do solo, por meio do crescimento da microflora, mas também de possibilitar outro efeito benéfico à planta. Estes três critérios podem ser assim resumidos: um elemento é considerado essencial quando ele faz parte de uma molécula essencial ao metabolismo da planta. É o caso do magnésio como constituinte da clorofila ou do nitrogênio como constituinte de proteínas. Assim, mesmo que um elemento possibilite melhorar o crescimento ou um processo fundamental de uma planta, não é considerado como essencial se não atender os três critérios da essencialidade. Todos os dezessete elementos apresentados no quadro a seguir, cumprem estas exigências e devem ser fornecidos às plantas para que estas germinem, cresçam, floresçam e produzam sementes. Elemento Concentração na matéria seca Mobilidade na planta Função na planta Sintomatologia visual de deficiência Formas de absorção Carbono (C) 450 (g.kg -1 ) --- --- --- Oxigênio (O) 450 (g.kg -1 ) --- --- --- Hidrogênio (H) 60 (g.kg -1 ) --- --- --- Macronutrientes (g.kg -1 ) Nitrogênio (N) 15 Móvel Participa de diversas moléculas, proteína, DNA, RNA e clorofila Clorose (amarelecimento) geral das folhas velhas, seguido de necrose (morte dos tecidos). NH4 + => íon amônio; NO3 - => nitrato Potássio (K) 10 Móvel Ativador de enzimas ligadas à fotossíntese, síntese de proteínas, regulador osmótico da planta Cloroses marginal das folhas seguidas de necroses; em gramíneas podem gerar caules finos e raízes susceptíveis a fungos o que pode levar ao acamamento (tombamento da planta) K + Cálcio (Ca) 5 Muito pouco móvel Confere rigidez às paredes celulares Raízes escorregadias, sem rigidez; necroses em partes novas da planta, decorrente por falta de Ca no solo ou por falta de fluxo respiratório (Tip Burn → clorose e necrose na margem das folhas) Ca 2+ Fósforo (P) 2 Móvel Participa das biomoléculas, DNA, RNA, fosfolipídios, ATP, ADP e ativador de enzimas Coloração verde escura, as vezes arroxeadas, pontuações necróticas. H2PO4 - => ânion ortofosfato biácido; HPO4 - => ortofosfato monoácido Magnésio(Mg) 2 Móvel Faz parte da molécula de clorofila. É crítico para as reações que utilizam ATP (Mg-ATP). Clorose internerval nas folhas velhas (clorofila próximo as nervuras é mais estável). Mg 2+ Enxofre (S) 1 Pouco móvel Participa dos aminoácidos (metionina, sisteína), proteínas contendo Fe e S (ferredoxina) são importantes para a transferência de elétrons na fotossíntese, fixação Clorose generalizada das folhas novas. O enxofre não participa de moléculas de clorofila, esta clorose é decorrente do fato do enxofre ser importante para a síntese das proteínas que se ligam a clorofila SO4 2- Quadro 01: relação dos nutrientes essenciais, sua concentração na matéria seca, mobilidade na planta, função na planta, sintomatologia visual e forma de absorção. 16 biológica de nitrogênio redução de íons nitrato estabilizando-a. Na falta das proteínas, a clorofila é mais susceptível a degradação. Micronutrientes (mg.kg -1 ) Cloro (Cl) 100 Móvel Fotólise da água. Mantém a neutralidade da água. Agente osmótico Redução de crescimento, clorose generalizada em toda a planta. Cl - Manganês (Mn) 50 Pouco móvel Síntese de clorofila. Ativação de enzimas, fotólise da água. Deformação de sementes de leguminosas, pontuações cinzas-esverdeadas e clorose internerval das folhas. Mn 2+ Boro (Bo) 20 Pouco móvel Componente de enzimas para processos biológicos. Atua na translocação de açúcares e metabolismo de carboidratos. Atua nos processos de florescimento, crescimento do tubo polínico, nos processos de frutificação, no metabolismo de N, na atividade de hormônios e metabolismo de ácidos nucléicos. Interage na absorção de Ca, na formação de pectina das membranas celulares e na absorção e metabolismo de glicídios. Redução do crescimento e deformação nas zonas de crescimento; diminuição da superfície foliar (folhas jovens espessas, deformadas, quebradiças e pequenas); crescimento reduzido de raízes; abortamento floral; fenda em ramos, pecíolos e frutos. (H3BO3) => ácido bórico; (B(OH)4 - ) => ânion borato Zinco (Zn) 20 Pouco móvel Constituinte da enzima desidrogenase; participa na ativação enzimática da trifosfato- desidrogenase; participa da síntese do triptofano. Crescimento em forma de roseta (em planas herbáceas) e encurtamento dos entrenós nas outras culturas; clorose de folhas novas. Zn 2+ Ferro (Fe) 10 Pouco móvel Ativação de enzimas; participa de reações de oxirredução nas proteínas citocromo, leghemoblobina, catalase, peroxidase, superóxido dismutase, ferredoxina, enzimas redutase, nitrogenase e sulfato redutase. Catalisa a biossíntese de clorofila. Clorose internerval; folhas velhas ficam verdes, enquanto as novas ficam amarelas; caules e ramos finos e curvados; redução do crescimento (plantas raquíticas). Fe 2+ , Fe 3+ e Fe-quelato Cobre (Cu) 6 Pouco móvel Constituinte das enzimas oxidasa do ácido ascórbico, citrocomo-oxidase e a plastocianina. Participa das reações de oxirredução. Influencia na fixação de N2 atmosférico pelas leguminosas. Folhas murchas enroladas; redução da lignificação; abortamento de flores (em cereais). Cu 2+ e Cu- quelato Níquel (Ni) 3 Pouco móvel Componente da enzima uréase, exercendo Necrose dos folíolos; diminuição da resistência Ni 2+ 17 papel importante no metabolismo do N. de plantas a doenças. Molibdênio (Mo) 0,1 Móvel Componente da enzimas nitrato redutase e nitrogenase (essa ultima essencial para a absorção de N2 nas leguminosas. Folhas verdes deformadas; tamanho reduzido de folhas, apresentando clorose e mosqueados de cor marrom. MoO4 2- Fonte: NOVAIS et al., 2007; TORRES, 2005; WADT, 2005. Elementos benéficos Os elementos benéficos são considerados essenciais para algumas espécies ou mesmo substituem parcialmente a função dos elementos essenciais. Outros, quando em baixas concentrações, estimulam o crescimento de plantas, porém sua essencialidade não é demonstrada. São considerados benéficos o alumínio (Al), sódio (Na), silício (Si), selênio (Se) e vanádio (V). Exemplo: o silício, embora não seja considerado um elemento essencial fisiologicamente, é essencial sob alguns aspectos agronômicos, notadamente para as gramíneas. O cobalto (Co) é considerado um elemento essencial para as leguminosas por ser indispensável ao Rhizobium, microrganismo responsável pela fixação biológica do nitrogênio. Fertilizante ou Adubo Conceito Fertilizante ou adubo é um produto mineral ou orgânico, natural ou sintético, supridor de um ou mais nutrientes às plantas. Considerando-se o efeito condicionador ou melhorador do solo, pode- se dizer que os fertilizantes produtos capazes de promover a melhoria das propriedades físicas (porosidade, aeração, capacidade de retenção de água, etc), físico-químicas (capacidade e troca de cátions – CTC, poder tampão) ou biológicos dos solos. Tipo de fertilizantes Fertilizantes nitrogenados Fertilizantes que têm N como nutriente principal: 18 Fertilizantes orgânicos que apresentam N como nutriente principal. Tabela 03: relação dos fertilizantes que tem N como elemento principal. Tabela 04: relação dos fertilizantes orgânicos que tem N como elemento principal. 19 Fertilizantes fosfatados Fertilizantes que têm P como nutriente principal Fertilizantes potássicos Fertilizantes que têm K como nutriente principal. Tabela 05: relação dos fertilizantes minerais que tem P como nutriente principal. Tabela 06: relação dos fertilizantes minerais que tem K como nutriente principal. 20 Fertilizantes cálcicos Fertilizantes que têm cálcio como nutriente principal Fertilizantes Magnesianos Fertilizantes que têm o Mg como nutriente principal Fertilizantes sulfurados Fertilizantes que têm S como nutriente principal. Tabela 07: relação dos fertilizantes minerais que tem Ca como nutriente principal. Tabela 08: relação dos fertilizantes minerais que tem Mg como nutriente principal. Tabela 09: relação dos fertilizantes minerais que tem S como nutriente principal. 21 Fertilizantes minerais: são os fertilizantes constituídos de compostos inorgânicos e se subdividem em três classes: Fertilizantes simples: são os fertilizantes constituídos, fundamentalmente, de um composto químico, contendo um ou mais nutrientes, quer seja macro ou micronutrientes, ou ambos; Fertilizantes mistos ou misturas de fertilizantes: são os fertilizantes resultantes da mistura de dois ou mais fertilizantes simples (ex. N-P-K). Fertilizantes complexos: são fertilizantes resultantes de processo em que se formam dois ou mais compostos químicos, fontes de nutrientes para as plantas. Fertilizantes orgânicos: são os fertilizantes constituídos de compostos orgânicos de origem natural, vegetal ou animal. Tem efeito condicionador do solo. Fertilizantes organominerais: são os fertilizantes resultantes da misturade fertilizantes orgânicos e minerais. Produção de fertilizantes minerais As figuras abaixo mostram o esboço da produção de fertilizantes a base de N e P. Figura 11: rotas básicas de produção de fertilizantes nitrogenados. Fonte: NOVAIS et al., 2007. 22 EXEMPLOS PRÁTICOS DE ADUBAÇÃO Para efeito de cálculo de adubo com base em valores de análise de solo, utilizaremos uma tabela de nível de nutrientes no solo. No entanto, a recomendação de adubação deve ser feita com base em trabalhos consolidados, considerando o tipo de solo e cultura. Uma das recomendações mais indicadas está no livro Manejo do solo e recomendação de adubação para o Estado do Acre. Autor: Paulo Guilherme Salvador Wadt, publicado em 2005. Figura 12: rotas básicas de produção de fertilizantes fosfatados. Fonte: NOVAIS et al., 2007. Figura 12: níveis de nutrientes no solo. Fonte: TORRES, 2005. 23 Em análise de solo, os valores são expressos de diferentes formas, em função do elemento ou da forma química que é determinado na análise, da metodologia da análise e do material analisado. Para cálculo da adubação é importante conhecer as formas de conversões da unidades mais comuns nas análises de solo. De forma geral, as formas disponíveis para as plantas são expressas em ppm (partes por milhão, exemplo, o fósforo); as formas trocáveis são expressas em cmolc/kg ou cmolc/dm 3 (exemplo: K, Ca, Mg, Na, Al). O quadro abaixo mostra as formas de absorção, a relação massa molar por valência e o peso equivalente. Com base nos valores do equivalente de cada composto, seguimos no esquema abaixo para encontrarmos os valores em mg/kg para podermos calcular as quantidades de adubo por unidade de área. Quadro 02: relação das formas dos compostos químicos, sua relação entre massa e valência e peso equivalente grama. Figura 13: resumo para conversão entre de diferentes unidades usuais em solos. 24 EXEMPLO: Uma análise de solo mostrou níveis de K+ = 0,1 cmolc/dm 3, com base do quadro 2, calcular a quantidade do adubo cloreto de potássio KCl (60% de K2O) para elevar o teor para 60 mg/dm 3. 1º PASSO: Converter 0,1 cmolc/dm 3 para mg/dm3 De acordo com a tabela o equivalente grama do K é 39 (mg/100g), então basta multiplicar a massa equivalente pelo valor fornecido na análise de solo, então temos 0,1x39=3,9 mg/100g de K, que multiplicado por 10, temos: K= 3,9x10 = 39 mg/dm3 O teor de K no solo 39 ppm. 2º PASSO: com o teor do elemento no solo, agora vamos calcular a quantidade de K por hectare. Para isso, basta multiplicar o valor encontrado por 2. Então, temos: 39x2= 78 kg/ha de K. Isso significa dizer que temos 78 kg de K por ha. 3º PASSO: agora vamos verificar qual o teor de potássio estabelecido para a adubação (60 mg/dm3). Vamos subtrair o valor da análise (39 mg/dm3) pelo valor requerido. Logo, temos: Kadubação= 60-39 = 21 mg/dm 3 que multiplicado por 2, temos: 21mg/dm3 x 2 = 42 kg/ha de K. Portanto, precisamos adicionar 42 kg de K por hectare via adubação. 4º PASSO: ATENÇÃO!!!! O valor expresso é em potássio. No entanto, o adubo cloreto de potássio tem como constituinte o K2O, que não tem só potássio, tem também oxigênio. Então precisamos encontrar através de regra de três a quantidade de K2O que precisamos: 2K ---------------- K2O 78 mol ---------- 94 mol 42 kg ------------ X X = 42 kg/ha x 94 mol (corta mol com mol) 78 mol X = 50,62 kg/ha de K2O 5º PASSO: agora basta fazer mais uma regra de três para encontrar a quantidade de adubo KCl, considerando que o mesmo tem 60% de K2O. K2O -------------- KCl 60% ------------- 100% 50,62 kg ------- X X = 50,62 kg/ha x 100% (corta % com %) 60% X = 84,37 kg/ha de KCl Logo, para elevar os níveis de 39 mg/dm3 para 60 mg/dm3 de K precisamos adicionar 84,37 kg/ha do adubo KCl. 25 Mistura de Fertilizantes 1. Legislação sobre o assunto A legislação que regulamenta a fabricação, uso e comercialização de fertilizantes no Brasil é composta pela Lei 6.894/80, alterada pela Lei 6.934/81 e regulamentada pelo decreto n° 4.954 de 14 de janeiro de 2004. De acordo com a legislação vigente, os fertilizantes mistos ou complexos são produtos que contém NPK, NP, NK ou PK. A soma dos teores percentuais de N total, P2O5 solúvel em citrato neutro de amônio (CNA) mais água, ou ácido cítrico a 2% (20 g.L-1), na relação 1:100, e K2O solúvel em água deverá ser igual ou superior a 24%. Os teores de N, P2O5 e K2O das misturas NPK são expressas em números inteiros. Para as misturas que contiverem fosfato natural ou fosfato natural reativo, termofosfato, escória de desfosforação em farinha de ossos, os teores de P2O5 são expressos nas formas: Teor total (somente para os produtos de natura física pó ou farelo); Teor solúvel em ácido cítrico a 2%, relação 1:100; Teor solúvel em água, somente para os produtos que contiverem como fonte fornecedora de P fosfatos acidulados. Para esses casos, fará parte do índice NPK, NP, ou PK dessas misturas apenas as percentagens de P2O5 soluvel em ácido cítrico a 2%, relação 1:100. Cálculo de misturas O cálculo de misturas de fertilizantes é de suma importância para os profissionais de ciências agrárias. Os cálculos são relativamente simples e consistem de regra de três e sistemas. Vejamos alguns exemplos: 1) Preparar uma tonelada da mistura NPK 4-12-8, a partir de sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio. Na mistura 4-12-8 nós temos 4% de N, 12% de P2O5 e 8% de K2O. Logo, para 1.000 kg da mistura, temos: 40 kg de N; 120 kg de P2O5; 80 kg de K2O. Então partimos para as regras de três: - sulfato de amônio - SA (20% de N) → precisamos de 40 kg de N (para 1.000 kg de mistura) 100 kg de SA ----------------- 20 kg de N X --------------------------------- 40 kg de N X = 200 kg de sulfato de amônio - Superfosfato simples – SFS (20% de P2O5) → precisamos de 120 kg de P2O5 (para 1.000 kg de mistura 100 kg de SFS --------------- 20 kg de P2O5 Y --------------------------------- 120 kg de P2O5 Y = 600 kg de superfosfato simples. - Cloreto de potássio – KCl (60% de K2O) → precisamos de 80 kg de K2O (para 1.000 kg de mistura) 100 kg de KCl --------------- 60 kg de K2O Z --------------------------------- 80 kg de K2O Z = 133 kg de cloreto de potássio De acordo com os cálculos teremos 933 kg de mistura (200 + 600 + 133) – 1.000 kg = 67 kg, logo faltará 67 kg para completar a mistura que poderá ser feita com “enchimento” a base de esterco seco, turfa, gesso, etc). b) preparar uma tonelada da mistura NPK 12-10-10, usando sulfato de amônio, uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio, devendo os dois nitrogenados ser utilizados em uma proporção tal que não haja necessidade de enchimento. 26 Na mistura 12-10-10 nós temos 12% de N, 10% de P2O5 e 10% de K2O. Logo, para 1.000 kg da mistura, temos: 120 kg de N; 100 kg de P2O5; 100 kg de K2O. Então partimos para as regras de três: - Superfosfato simples – SFS (20% de P2O5) → precisamos de 100 kg de P2O5 (para 1.000 kg de mistura 100 kg de SFS --------------- 20 kg de P2O5 X --------------------------------- 100 kg de P2O5 X = 500 kg de superfosfato simples. - Cloreto de potássio – KCl (60% de K2O) → precisamos de 100 kg de K2O (para 1.000 kg de mistura) 100 kg de KCl --------------- 60 kg de K2O Y --------------------------------- 100 kg de K2O Y = 166,7kg de cloreto de potássio Logo, considerando apenas a mistura de SFS e KCl já temos 666,7 kg de mistura (500 + 166,7) – 1.000 kg = 333,3 kg, faltando para completar a mistura com fertilizante nitrogenado, sem haver a necessidade de enchimento. Como temos dois fertilizantes nitrogenados, precisaremos recorrer a um sistema simples pra resolver a equação. A + B = 333,33 Sendo A = sulfato de amônio e B = uréia. Considerando que o sulfato de amônio tem 20% de N e a uréia 45% de N e que precisamos de 120 kg de N, temos: A + B = 333,3 (20/100)A + (45/100)B = 120 kg de N Resolvendo o Sistema: A + B = 333,3 → equação 1 0,2A + 0,45B = 120 → equação 2 Isolando a equação 1: A = 333,3 – B Substituindo na equação 2: 0,2(333,3 – B) + 0,45B = 120 66,7 – 0,2B + 0,45B = 120 0,25B = 120 – 66,7 B = 53,3/0,25 B = 213,3 kg de uréia Resolvendo a equação 1: A = 333,3 – 213,3 A = 120 kg de sulfato de amônio Então para preparar 1.000 kg de fertilizante composto com formulação 12-10-10, usando os fertilizantes simples mencionados, precisaremos adicionar à mistura 500 kg de superfosfato simples, 166,7 kg de cloreto de potássio, 213,3 kg de uréia e 120 kg de sulfato de amônio. 3) Preparar uma tonelada da fórmula 10-10-10 a partir de 500 kg de 4-14-8, uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio. Na mistura 10-10-10 nós temos 10% de N, 10% de P2O5 e 10% de K2O. Logo, para 1.000 kg da mistura, temos: 100 kg de N; 100 kg de P2O5; 100 kg de K2O. 27 Como já temos 500 kg da formulação 4-14-8, devemos calcular as quantidades de N, P2O5 e K2O que já temos nos 500 kg do fertilizante composto. Então: - N: 4% de N em 500 kg → (4/100) x 500 = 20 kg de N; - P2O5: 14% de P2O5 → (14/100) x 500 = 70 kg de P2O5; - K2O: 8% de K2O → (8/100) x 500 = 40 kg de K2O - Agora basta subtrair o que precisamos do que já temos: - N: 100 - 20 = 80 kg de N; - P2O5: 100 - 70 = 30 kg de P2O5; - K2O: 100 - 40 = 60 kg de K2O - Logo faremos os nossos cálculos com base nas seguintes quantidades dos elementos: 80 kg de N; 30 kg de P2O5; 60 kg de K2O. Então partimos para as regras de três: - uréia (45% de N) → precisamos de 80 kg de N (para 500 kg de mistura) 100 kg de uréia ----------------- 45 kg de N X --------------------------------- 80 kg de N X = 177,8 kg de uréia - Superfosfato simples – SFS (20% de P2O5) → precisamos de 30 kg de P2O5 (para 500 kg de mistura) 100 kg de SFS --------------- 20 kg de P2O5 Y --------------------------------- 30 kg de P2O5 Y = 150 kg de superfosfato simples. - Cloreto de potássio – KCl (60% de K2O) → precisamos de 60 kg de K2O (para 500 kg de mistura) 100 kg de KCl --------------- 60 kg de K2O Z --------------------------------- 60 kg de K2O Z = 100 kg de cloreto de potássio Portanto, a mistura para formulação 10-10-10, teremos a adição de 500 kg da formulação 4- 14-8, 177,8 kg de uréia, 150 kg de superfosfato simples e 100 kg de cloreto de potássio, havendo a necessidade de adição de 72,2 kg de enchimento (1.000-500-177,8-150-100 = 72,2). A indústria de fertilizantes dispõe de programas de computação que permitem o estabelecimento de diferentes pré-condições como: combinação de formas e fontes de nutrientes, presença de nutrientes secundários e, ou, de micronutrientes (que tem suas garantias expressas em teores totais, como manda a lei), combinação de fontes que otimize os custos das misturas, compatibilidade entre as fontes, etc. 28 REFERÊNCIAS BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989. NOVAIS, R. F.ALVAREZ, V. H.; BARROS, N. F. de; FONTES, L. R. F.; CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. (Ed.). Fertilidade do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do solo, 2007. TOMÉ JUNIOR, J. B. Manual para interpretação de análise de solo. Guaíba: Agropecuária, 1997. 247 p. WADT, P. G. S. (Org.). Manejo do solo e recomendação de adubação para o Estado do Acre. Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2005. WADT, P. G. S. Manejo de solos ácidos do Estado do Acre. Rio Branco: Embrapa Acre. 2002. 28 p. (Documentos, 79). Figura 1 – Chave simples para diagnose visual de desordem nutricional em planta. Fonte: Römheld (2001) citado por Novais (2007).