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29315808-02-HistoriaComtemporaneaI

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HISTÓRIA
COMTEMPORÂNEA I
1ª Edição - 2007
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
Gervásio Meneses de Oliveira
Presidente
William Oliveira
Vice-Presidente
Samuel Soares
Superintendente Administrativo e Financeiro
Germano Tabacof
Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Pedro Daltro Gusmão da Silva
Superintendente de Desenvolvimento e Planejamento Acadêmico
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância
Reinaldo de Oliveira Borba
Diretor Geral
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Diretor Acadêmico
Roberto Frederico Merhy
Diretor de Desenvolvimento e Inovações
Mário Fraga
Diretor Comercial
Jean Carlo Nerone
Diretor de Tecnologia
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Diretor Administrativo e Financeiro
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Gerente Acadêmico
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Gerente de Ensino
Luis Carlos Nogueira Abbehusen
Gerente de Suporte Tecnológico
Romulo Augusto Merhy
Coord. de Softwares e Sistemas
Osmane Chaves
Coord. de Telecomunicações e Hardware
João Jacomel
Coord. de Produção de Material Didático
Equipe
Angélica de Fatima Silva Jorge, Alexandre Ribeiro, Bruno Portela, Cefas Gomes, Cláuder Frederico, 
Delmara Brito, Diego Aragão, Fábio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas, Lucas do Vale, 
Marcio Serafim, Mariucha Silveira Ponte, Tatiana Coutinho e Ruberval Fonseca
Imagens
Corbis/Image100/Imagemsource
Produção Acadêmica
Jane Freire
Gerente de Ensino 
Ana Paula Amorim
Supervisão
Jorge Bispo
Coordenação de Curso
Paulo de Jesus
Autor(a)
Produção Técnica
João Jacomel
Coordenação
Carlos Magno Brito Almeida Santos
Revisão Final
Fabio José Pereira Gonçalves
Editoração
Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior, 
Cefas Gomes
Ilustrações
copyright © F T C EaD
Todos os d ireitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.
É proib ida a reprodução total ou parcial, por quaisquer m eios, sem autorização prévia, por escrito, 
da F T C EaD - F aculdade de Tecnologia e C iências - Ensino a D istância.
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MATERIAL DIDÁTICOMATERIAL DIDÁTICO
SUMÁRIO
O LIBERALISMO NA ENCRUZILHADA: DA ERA NAPOLEÔNICA 
(1799-1815) ÀS REVOLUÇÕES LIBERAIS DE 1848 ___________ 7
A ERA NAPOLEÔNICA (1799-1815): _________________________________ 8
O IMEDIATO PRÉ-ERA NAPOLEÔNICA __________________________________________ 8
O CONSULADO (1899-1904) __________________________________________________10
A POLÍTICA EXTERNA NO IMPÉRIO (1804-1815) __________________________________13
O CONGRESSO DE VIENA (1814-1815): AS FORÇAS DE RESTAURAÇÃO/CONSERVAÇÃO E A 
GESTAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL _____________________________________17
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________19
O TRIUNFO MOMENTÂNEO DAS FORÇAS DE RESTAURAÇÃO/
CONSERVAÇÃO E AS REVOLUÇÕES LIBERAIS OITOCENTISTAS (1830 E 
1848) ____________________________________________________________20
SOB A AÇÃO DA SANTA ALIANÇA (1815-1830) ___________________________________20
A “ONDA REVOLUCIONÁRIA DE 1830”: _________________________________________23
A “ONDA REVOLUCIONÁRIA” DE 1848: _________________________________________26
O OPERARIADO EUROPEU (1815-1848) _________________________________________31
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________36
TÓPICOS SOBRE POLÍTICA E ECONOMIA INTERNACIONAL NO 
SÉCULO XIX ____________________________________________________38
A ASCENSÃO DOS ESTADOS TARDIOS, A QUESTÃO DO ORIENTE E O 
SOCIALISMO _____________________________________________________39
A UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA _______________________________________________39
A UNIFICAÇÃO DA ITÁLIA ____________________________________________________44
O IMPÉRIO TURCO OTOMANO E A QUESTÃO DO ORIENTE __________________________46
SUMÁRIO
O SOCIALISMO _____________________________________________________________49
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________53
O IMPERIALISMO ___________________________________________________54
O CIRCUITO ECONÔMICO DA EUROPA NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX __________54
A PARTILHA DA ÁFRICA _____________________________________________________58
A INVESTIDA IMPERIALISTA NA ÁSIA ___________________________________________62
OS CHOQUES INTERNACIONAIS E A POLÍTICA DAS ALIANÇAS _______________________69
ATIVIDADE COMPLEMENTAR _________________________________________________71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________73
Prezado colega,
O período privilegiado por esta disciplina é o século XIX, chamado por alguns historiadores de 
“o longo século”. A importância de seu estudo para a compreensão de nosso tempo dificilmente é 
igualada pela do estudo de qualquer outro século. É este o século da difusão do liberalismo, da forma-
ção do sistema internacional contemporâneo, é o século das nações – e do nacionalismo, essa força 
avassaladora que ainda há pouco tumultuava os Bálcãs - tomem o caso da Iugoslávia, por exemplo 
- hoje provoca convulsões históricas em países como a Espanha, com o caso do país basco, e a Rús-
sia, com o caso da Chechênia. É neste século que cresce a postura crítica diante da religião, visível 
hoje no espantoso crescimento registrado pelos censos da categoria dos indivíduos que se decla-
ram “sem-religião”. É um século de impressionantes avanços científicos e técnicos que vão imprimir 
profundas mudanças na produção, inclusive de conhecimento. É este o século do racismo científico 
– cujas marcas ainda persistem na atitude policial diante dos “elementos suspeitos” (você já deve 
ter percebido isso em uma abordagem policial). Do mesmo modo, é o século do imperialismo, com a 
subseqüente partilha do continente africano – cujas funestas conseqüências ainda afligem bilhões 
de pessoas naquele continente - e o arrombamento do continente asiático. É este, também, o século 
da emergência do movimento operário e do socialismo, forças que até bem pouco tempo atrás eram, 
consideravelmente, poderosas e temidas, mas que em nossos dias passam por um recesso, do qual os 
mais pessimistas acreditam que não vão sair. Enfim, trata-se de um século formidável.
Ao final de cada tema, apresentamos algumas questões pertinentes ao que foi estudado, como os 
exercícios de fixação. Priorizamos a forma discursiva, pois entendemos que uma das habilidades que 
o professor de História deve dominar muito bem é a da escrita. Cremos que isso ajuda, inclusive, no 
que concerne ao quesito desenvoltura, que é sempre percebido e comentado – para o bem ou para o 
mal – pelos estudantes. Sempre que possível, intercalamos a exposição dos assuntos com boxes expli-
cativos, nos quais desenvolvemos um pouco algum detalhe importante que não pôde ser analisado 
no decorrer do parágrafo correspondente ou, então, apresentamos uma citação – geralmente, docu-
mental - que lança alguma luz mais direta sobre o assunto. Recomendamos a leitura cuidadosa dos 
boxes, uma vez que neles estão algumas chaves para a compreensão acurada dos conteúdos aborda-
dos; além disso, alguma erudição é exigida no trabalho com história, e um dos objetivos que visamos 
com os boxes é justamente oferecer-lhe um pouco deste item fundamental à nossa profissão.
Ao elaborarmos o material que você tem agora em mãos, levamos em consideração algumas ques-
tões que cremos ser recorrentes à experiência docente em História. Mantivemos sempre em vista o 
fato de que o objetivo deste curso é lhe oferecer subsídios para a otimização de sua atuação em sala 
de aula, e, com isso, contribuir para que seus estudantes tenham condições objetivas de obter uma 
melhor apreensão dos conteúdos aqui tratados. 
Procuramos, portanto, aproximar bastante a dinâmica desta disciplina à dinâmica do trabalho 
em sala de aula. Priorizamos o alcance de questões que devem ser abordadas no ensino médio, dado 
ser este o estágio crucial da vidade um estudante, momento em que devem se construir os conhe-
cimentos necessários para o prosseguimento de seus estudos no ensino superior. No material AVA 
exploramos assuntos que não costumam receber o devido tratamento nos livros didáticos, material 
básico para o trabalho nas escolas. 
Assim, a correspondência entre os tópicos de um e de outro material pode não ser extremamente 
exata. Entendemos que isso foi necessário e não prejudicará seu aprendizado; pelo contrário, poderá 
contribuir ainda mais para o aprimoramento de seus conhecimentos, uma vez que se trata de temas 
para os quais a bibliografia especializada disponível em língua portuguesa é ainda lacunar.
Esperamos que este material e a experiência com a disciplina, para além de consolidar alguns 
conhecimentos necessários ao bom desempenho de suas atividades, estimulem você a prosseguir, 
ampliando os conhecimentos e formulando estratégias de tratamento desses conhecimentos com 
seus estudantes. E esperamos, sobretudo, que o estudo lhe seja leve e agradável.
Um abraço fraterno,
Prof. Paulo de Jesus
Apresentação da DisciplinaApresentação da Disciplina
História Comtemporânea I 7
O LIBERALISMO NA 
ENCRUZILHADA: DA ERA 
NAPOLEÔNICA (1799-1815) ÀS 
REVOLUÇÕES LIBERAIS DE 1848
Neste bloco, abordaremos um período conturbado – e ainda mal estudado nas escolas - 
da história do Ocidente. Neste período, de menos de meio século, o avanço do liberalismo foi, 
primeiro, submetido à ambígua atuação de Napoleão Bonaparte, fi gura que nunca expressou de-
vidamente os ideais da nova ideologia política, mas sob cuja liderança a guerra iniciada em 1792 
na defesa da França Revolucionária transformou-se em 
guerra expansionista, que modifi cou o mapa da Europa 
– e infl uenciou na mudança do mapa dos domínios colo-
niais europeus nas Américas – e foi decisiva para a difusão 
das idéias e práticas políticas liberais, inclusive com efeitos 
sobre o terreno das mentalidades.
Derrotado Napoleão Bonaparte, as forças mais rea-
cionárias da Europa reuniram-se no que se costuma cha-
mar de Concerto Europeu, instaurando uma conjuntura 
política marcada pela sobreposição momentânea das for-
ças de conservação às de transformação; eram os repre-
sentantes do Antigo Regime retomando o controle do ce-
nário político, agitado pelo avanço do liberalismo iniciado 
na Revolução Francesa e acelerado com a expansão napo-
leônica. Com isso, além de provocar um refl uxo no campo das políticas nacionais, inauguraram 
uma nova e avançada concepção de política internacional baseada na idéia de equilíbrio: eram os 
primórdios do sistema internacional.
Uma preocupação dessas forças de conservação era o reajustamento das fronteiras nacio-
nais modifi cadas pela expansão napoleônica. A outra preocupação era barrar, imediatamente, as 
ações revolucionárias que ameaçavam o antigo panorama político europeu. Contra o liberalismo, 
ideologia burguesa que apregoava o primado dos direitos naturais emanados dos indivíduos – de 
onde se extrai a máxima de que todo o poder só pode emanar do povo –, recolocava-se o Legiti-
mismo que tinha por dogma político a afi rmação de que só é legítimo o poder político que emana 
de Deus, e que o Absolutismo Monárquico gozava era sancionado pela autoridade divina por isso 
mesmo legítimo. Neste contexto de Reação Legitimista destacaremos o Congresso de Viena e a 
atuação dos “Quatro Grandes” (Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia) através da Santa Aliança.
Buscaremos compreender os objetos e interesses envolvidos nesse contexto e daí o sentido 
e a importância histórica das referidas atuações, atentando especialmente para a postura ambígua 
da Inglaterra.
Entretanto, a Restauração derivada da Reação Legitimista não conseguiu ser defi nitiva. Se 
não há dúvida que as forças de transformação foram obstadas, não se pode afi rmar que deixa-
ram de existir. Pelo contrário, a própria atuação da Santa Aliança nos mostra o quão ativas elas 
foram nesse período. E essas forças de transformação aos poucos foram incorporando uma 
FTC EaD | HISTÓRIAFTC8
segunda ideologia que viria engrossar o coro do liberalismo: o Nacionalismo. Assim, os movi-
mentos liberais de 1830 e 1848 não são apenas movimentos liberais, são, também, – e, em alguns 
casos, sobretudo – movimentos nacionalistas. Isso quer dizer que para além de reivindicarem a 
aplicação dos princípios liberais ao campo político, têm também em conta o senso de pertença a 
um organismo que se torna cada vez mais importante para a estruturação do mundo tal e qual o 
conhecemos: a Nação. Além disso, em ambos os momentos se registrou a presença de um novo 
componente político: o socialismo. 
Embalada pelo clima de descontentamento geral provocado pela conjuntura econômica 
marcada pela sub-produção agrícola, pelo subconsumo industrial, as péssimas condições de em-
prego a que estava submetido o proletariado urbano – que mal pagos eram atingidos pelo subcon-
sumo –, o aumento do lumpemproletariado, essa corrente política – que preconiza a instauração 
de uma sociedade sem classes – tornava-se um espectro a assombrar a Europa conservadora.
Em linhas gerais, este bloco temático é um aprofundamento no estudo da crise do Anti-
go Regime e do triunfo da burguesia com a subseqüente formação das democracias liberais na 
Europa.
A ERA NAPOLEÔNICA (1799-1815)
O IMEDIATO PRÉ-ERA NAPOLEÔNICA
Sabemos que, para além das ameaças internas, a Revolução Francesa teve de enfrentar 
forças externas – já em 1792 os revolucionários se viram às voltas com o chamado “exército 
dos emigrados”, coligação austro-prussiana que contava com a força de foragidos franceses. Em 
seguida, morto o rei Luís XVI, a Primeira República se veria ameaçada, já no Ano I, por uma co-
ligação de países antipáticos à Revolução. Prússia, Áustria, Espanha, Rússia, Sardenha, Holanda e 
Inglaterra, uniram-se na Primeira Coalizão Européia sob o pretexto de fazer justiça à decapitação 
de Luís XVI. O que se viu depois disso foi um rápido endurecimento do regime revolucionário, 
que ameaçado interna e externamente acercou-se de uma série de instituições e medidas de ex-
ceção que instauraram o período do Terror, que responde em parte pelo posterior sucesso dos 
setores mais moderados da Revolução que com o Golpe do Nove Termidor, aplicado em julho 
de 1794, instalaram a fase conhecida como Reação Termidoriana, recolocando a Revolução Fran-
cesa sob o controle da alta burguesia, preocupada em estabilizar a situação, garantindo os direitos 
conquistados e consolidando uma República moderada (o Diretório) e de participação restrita 
– o que explica o regime censitário instituído pela Constituição do Ano III (1795) -, na qual de-
veriam predominar também as liberdades econômicas, isto é, liberdade de comércio, indústria e 
câmbio.
História Comtemporânea I 9
Programa da Conspiração dos Iguais:
A natureza deu a todo homem o direito de usufruir todos os seus bens;1. 
O propósito da sociedade é defender essa igualdade, tão costumeiramente ata-2. 
cada pelos maus e pelos mais fortes, e incrementar, por meio da cooperação universal, o 
usufruto em comum dos benefícios da natureza;
A natureza impôs a todos a obrigação de trabalhar, ninguém pode esquivar-se 3. 
dessa tarefa sem que com isso esteja cometendo um crime
Todo o trabalho e o gozo dos seus frutos devem ser em comum;4. 
A opressão existe quando uma pessoa se exaure no trabalho da terra carente de 5. 
tudo, enquanto outra nada na abundância sem que tenha feito nenhum esforço para isso;
Ninguém pode apropriar-se dos frutos da terra ou da indústria exclusivamente 6. 
para si sem com isso cometer um crime
Numa verdadeira sociedade não pode haver pobres nem ricos;7. 
Aqueles homens ricos que não desejam renunciar aos seus excessos de bens em 8. 
favor dos indigentes são inimigos do povo;
Ninguém pela acumulação de todos os recursos da educação,pode privar um 9. 
outro da instrução necessária ao seu bem-estar: a instrução deve ser comum a todos;
O objetivo da revolução é destruir a desigualdade e res-10. 
tabelecer o bem-estar coletivo;
A revolução não acabou porque os ricos absor-11. 
veram todas as riquezas, colocando-as exclusivamente 
sob o seu comando, fazendo com que os pobres fossem 
colocados em estado de virtual escravidão, defi nhando 
na miséria e não sendo nada no Estado;
A Constituição de 1793 é a verdadeira lei dos 12. 
franceses, em razão do povo tê-la solenemente aceito.
Programa da Conspiração dos Iguais
Daí as reações de jacobinos, que em abril de 1798 (22 Floreal) tentaram tomar o Conselho 
dos Anciãos, e outros grupos de oposição, como os realistas, que em setembro de 1797 (18 Fru-
tidor) tentaram tomar o controle do Diretório e do Conselho, e os socialistas, que em 1796 sob 
a liderança do feudista François- Noël Babeuf, o Gracchus Babeuf, encamparam a Conspiração 
dos Iguais (ver box abaixo).
aldade e res-
sor-
nte
m
do
s 
FTC EaD | HISTÓRIAFT10
Analise os artigos do Programa da Conspiração dos Iguais e, em se-
guida, tente pensá-los em relação aos artigos da Declaração Universal dos 
Direitos Humanos. Você percebe quais concepções políticas por detrás de 
um e de outro documento? Registre suas impressões abaixo.
 Vamos Refletir!
A
 
O CONSULADO (1899-1904)
Como se pôde perceber nas páginas anteriores, eram visíveis a falta de apoio popular e a 
fragilidade institucional do Diretório. Assim, perturbada pelas tentativas de tomada do poder 
político por parte da oposição e sentindo a ameaça externa que se tornava cada vez mais forte 
que a burguesia girondina adota uma solução de garantia de continuidade para seu predomínio, 
recorrendo a um governo rígido, que fosse capaz de sufocar as dissensões internas e fazer fren-
te à Segunda Coalizão Européia (formada por Inglaterra, Rússia, Áustria, Sardenha, Nápoles e 
Turquia). Daí a opção pelo Consulado, instaurado com o Golpe do 18 Brumário, que suprimiu o 
Diretório e conduziu ao poder um general corso que se tornara célebre por suas vitórias contra as 
forças estrangeiras, dentre cujos resultados contava-se a cessão da Bélgica à França pela poderosa 
Áustria (Tratado de Campofórmio, 1797). 
Parafraseando o historiador Eric Hobsbawm, apesar de suas origens cavalheirescas Napo-
leão foi um típico carreirista, que graças à comprovada competência galgou os mais altos postos 
do exército. “Durante a Revolução, e especialmente sob a ditadura jacobina que ele apoiou fi rme-
mente, foi reconhecido por um comissário local em um fronte de suma importância (...) como 
um soldado de dons esplêndidos e muito promissor. O Ano II fez dele um general. Sobreviveu à 
queda de Robespierre, e um dom para o cultivo de ligações úteis em Paris ajudou-o em sua esca-
lada após este momento difícil. Agarrou a sua chance na campanha italiana de 1796, que fez dele 
o inquestionado primeiro soldado da República, que agia virtualmente independente das autori-
dades civis. O poder foi meio atirado sobre seus ombros e meio agarrado por ele quando as inva-
sões estrangeiras de 1799 revelaram a fraqueza do Diretório e sua própria indispensabilidade.”
(HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: Europa, 1789-1848. 26ªedição, Rio de Janei-
ro, Ed. Paz e Terra, 2002, p. 111)
A grosso modo, o Consulado não foi mais que uma nova roupagem para a República bur-
guesa moderada dos tempos de Diretório, o que implica em considerar suas feições de classe. 
Assim, o Consulado foi um governo feito pela alta burguesia e para a alta burguesia. Um governo 
História Comtemporânea I 11
bem ao gosto da Gironda, que no âmbito interno garantia a paz suprimindo as sublevações po-
pulares (os levées en masse) e tentativas de golpe, a prosperidade com a adoção de medidas de 
fomento e a regulamentação da sociedade com a reorganização judiciária da qual deriva o famoso 
Código Napoleônico, ao passo que no âmbito externo fazia a guerra, enfrentando os exércitos 
da contra-revolução e anexando territórios estrangeiros com base na doutrina recente do direito 
às fronteiras naturais. Muito longe fi cariam os sonhos da Revolução de 1792. Na bruma fi cavam 
as esperanças de instaurar-se um regime onde a igualdade, a fraternidade e a liberdade fossem 
construídas pela maioria e para a maioria.
O regime mantinha-se constitucional, regulado, agora, pela Constituição do Ano VIII 
(1799), de acordo com a qual o Poder Executivo deveria ser controlado por três cônsules – o que 
nos lembra o triunvirato romano. Entretanto, quem se destacava, e na prática comandava, era o 
Primeiro-Cônsul: Napoleão Bonaparte. Inicialmente o mandato era decenal e a reeleição indefi -
nida, posteriormente tornar-se-ia vitalício. O Legislativo, agora composto pelo Senado mais um 
Corpo Legislativo, um Tribunato e um Conselho de Estado, tornava-se fragilizado diante do Exe-
cutivo, crescentemente fortalecido graças à centralização administrativa procedida no período.
Entre 1801 e 1802, os franceses fortaleceram sua posição no cenário internacional, com a 
vitória sobre a Segunda Coalizão. Em 1801, além de assinar o armistíco de Lunéville, que garantiu 
o cessar-fogo com a Áustria, a França assinou também uma Concordata com o papa Pio VII, 
que reaproximando o Estado francês à Igreja Católica contribuiu para fortalecer a coesão inter-
na, abalada pelo rompimento (em 1792) das relações entre as instituições, que em alguns casos 
colocou em campos opostos a devoção à Igreja e a lealdade à
Revolução, alimentando uma oposição de longa duração entre o cristianismo e o liberalismo. 
Além disso a Concordata garantiu aos novos proprietários a posse das terras da Igreja confi scadas 
pelo Estado em 1789. Procedeu-se então à reestruturação administrativa, com a redefi nição da 
estrutura institucional, dando lugar a um Estado forte e centralizado, através de medidas como a 
criação de um corpo de agentes fi scais que dentre outras funções seria responsável por arrecadar 
os impostos, um cadastro unifi cado de contribuintes, o estabelecimento da censura, a introdução 
de matérias militares no ensino e a consolidação do caráter laico do Estado. O voto era universal, 
mas quem realmente formava os corpos políticos era o governo que escolhia dentre uma lista de 
eleitos pelo povo os ocupantes dos cargos públicos. O Conselho de Estado preparava as leis, que 
eram discutidas pelo Tribunato e votadas pelo Corpo Legislativo restando ao Senado velar por 
sua execução. O Primeiro- Cônsul propunha e mandava publicar as leis, nomeava ofi ciais, juízes 
e outros funcionários públicos, bem como os ministros de Estado.
Tal centralização do poder político, cara a uma burguesia que se servia do Estado para ga-
rantir a preservação de seus interesses, foi fortalecida pela reestruturação judiciária que tem por 
produto principal o Código Napoleônico ou Código Civil, através do qual se operou a incorpo-
ração defi nitiva dos ideais e demandas burguesas à legislação francesa. Mas, de acordo com o ca-
ráter girondino do Consulado, se por um lado o Código Civil garantia elementos como liberdade 
individual, liberdade de trabalho, liberdade de consciência, Estado leigo, igualdade perante a lei e 
defesa da propriedade privada, por outro garantia também a subordinação dos trabalhadores, que 
impedidos por lei de formar organismos de representação trabalhista, fi cavam sujeitos ao arbítrio 
dos empregadores – o que representa baixos salários e más condições de trabalho -, a subordina-
ção das mulheres aos homens, embora mantivesse o divórcio, e o restabelecimento da escravidão 
nas colônias (abolida no período revolucionário).
FTC EaD | HISTÓRIAFT12
... que Ludwig Von Beethoven dedicou uma de suas sinfonias, a Sinfonia 
Heróica, a Napoleão Bonaparte? Ele retirou a dedicatória depois que Napo-
leão se tornou imperador. Esses dois pequenosfatos lhe sugerem algo? Se sim, 
anote abaixo.
 Você sabia... 
Paralelamente à reestruturação da vida política deu-se a reestruturação fi nanceira de uma 
França abatida pelos eventos ocorridos nos anos da Revolução. Em 1800 deu-se a fundação 
do Banco da França, única instituição com o direito de cunhar papel-moeda no país, o que nos 
permite perceber mais uma vez o caráter centralizador das mudanças efetuadas no período. Foi 
criado também o novo padrão monetário, com a introdução dos centavos, até então inexistentes; 
em 1793 foi criada a Lira e em 1795 o Franco, moeda nacional até os dias de hoje. Essas medidas, 
ao reestruturarem as fi nanças francesas, proporcionaram boas condições para a reestruturação 
econômica do país. O Banco da França desempenhou um importante papel ao oferecer fi nancia-
mento para a industrialização, bem como à reorganização do comércio e execução de obras pú-
blicas. E a reforma monetária dinamizou o comércio e a atividade bancária, alquebradas e ainda 
submetidas aos moldes vigentes no Antigo Regime.
Em 1802, prestigiado graças ao êxi-
to de sua política, Napoleão conseguiu, na 
Constituição do Ano X, o direito de se tor-
nar cônsul único, vitalício e hereditário, com 
o direito de indicar o seu sucessor. Em 1803, 
valendo-se do recrudescimento das investi-
das estrangeiras – paralisadas desde a Paz de 
Amiens (fi rmada em tratado com os ingleses 
em 1802) –, proclamou-se Imperador, rece-
bendo a sagração episcopal no ano seguinte 
em Paris, e consolidou legalmente seu novo 
status na Constituição do Ano XII. A França voltava a se submeter a uma monarquia hereditária. 
As assembléias foram suprimidas, as liberdades individuais e políticas caíram sob o arbítrio do 
aparelho de Estado, o Tribunal e os Corpos Legislativos foram esvaziados de poder, a imprensa 
passou a ser regulada, no campo da educação a Universidade imperial deteve o monopólio do 
ensino superior e os programas passaram a ser controlados pelo Estado que restituiu o catecis-
mo como disciplina formativa e impôs alterações ao ensino de História e Filosofi a – disciplinas 
consideradas como portadoras de riscos ao regime – excluindo, inserindo e enviesando conteú-
dos. Enfi m, acrescente regulamentação levou ao descontentamento generalizado, que expresso 
ampliou ainda mais a opressão com a multiplicação das perseguições policiais.
História Comtemporânea I 13
A POLÍTICA EXTERNA NO IMPÉRIO (1804-1815) 
As violações dos acordos internacionais pela França levaram russos e ingleses a fi rmarem 
uma aliança contra os franceses que deu origem à Terceira Coalizão. Um incidente apressou a 
aliança anglo-russa: o fuzilamento, em 1804, do duque de Enghien, pertencente à família Bour-
bon – da qual também fazia parte Alexandre I, rei da Rússia – sob a acusação de atentado contra 
a vida de Napoleão Bonaparte. O rompimento se deu após a resposta ofensiva – embora cor-
tês – de Napoleão ao protesto de Alexandre I. Em agosto de 1805 russos, ingleses e austríacos 
uniam-se contra Napoleão e já em dezembro estavam derrotados. Ao fi m da guerra, a França 
tornou-se ainda mais forte com a anexação da Itália e o desmembramento do Santo Império, 
com a separação da Áustria e a criação da Confederação do Reno, um organismo germânico sob 
a tutela francesa. Em 1806, outra coligação foi derrotada; desta vez os Estados da Prússia e da 
Rússia sentiram a força do exército imperial francês. A Prússia foi desmembrada e a Rússia, velho 
e respeitado império absolutista, tornou-se uma aliada dos franceses.
Percebe-se então o poder da França napoleônica na Europa. Sua atuação reconfi gurou o 
campo de forças existente até então. A Europa Ocidental tentava, mas não conseguia se libertar 
de sua interferência. A hegemonia da Áustria na região da atual Alemanha encerrou-se com o já 
citado desmembramento do Santo Império, cuja existência lembrava de uma forma muito discre-
ta os tempos de Carlos Magno. Para o enfraquecimento da Áustria contribuiu também a criação 
do Vice-Reino da Itália. Na mesma região registra-se ainda a tomada dos Estados Papais (1809), 
após desentendimentos entre Napoleão e Pio VII que, por se recusar a apoiar a política externa 
do monarca francês foi confi nado à cidade de Savóia de 1809 a 1814. Em linhas gerais, uma gran-
de parte da Europa foi dividida em categorias criadas pela expansão e pelas vitórias napoleônicas. 
No centro a França encorpada pelos territórios anexados (Bélgica e regiões renanas), depois os 
Estados Familiares (Grão-Ducado de Varsóvia, Vice-Reino da Itália e os Reinos de Holanda, 
Nápoles e Espanha, todos agora governados por parentes de Napoleão) e os Estados Aliados 
(concentrados na recém-criada Confederação do Reno).
Mas havia a Inglaterra, principal força econômica do globo e dona da mais temida marinha 
de guerra. Incomodava, duplamente, a política externa da França. Primeiro pelo posição de desta-
que que graças ao poderio bélico e à hábil diplomacia, dentre outros fatores (ver o material AVA), 
desfrutava no cenário político internacional. Junte-se a isto o crescente poderio econômico lastre-
ado pela Revolução Industrial que ampliava a capacidade produtiva dos ingleses a um nível jamais 
visto na história, transformando-os em concorrentes implacáveis e portanto um obstáculo a ser 
retirado do caminho de qualquer nação com aspirações à potência hegemônica. Entendendo que 
militarmente seria muito difícil, senão impossível, sobrepujar a Inglaterra, e revidando à medida 
tomada pelo governo inglês em 11 de novembro de 1806, proibindo a entrada de navios france-
ses em seus portos, Napoleão decretou, em 21 de novembro, o Bloqueio Continental, obrigando 
todos os países da Europa a fecharem seus portos e seus mercados internos aos ingleses.
“Napoleão, Imperador dos Franceses e Rei da Itália, etc.
FTC EaD | HISTÓRIAFT14
1°. Que a Inglaterra não admite o direito das gentes universalmente 
seguido por todos os povos civilizados;
2°. Que ela reputa inimigo todo indivíduo pertinente a um Estado ini-
migo e faz prisioneiros de guerra, não só os navios armados, como também 
as tripulações dos navios de comércio e mesmo os negociantes que viajam 
no interesse de seus negócios.
3°. Que ela aplica aos navios e às mercadorias de comércio e às pro-
priedades particulares o direito de conquista que só pode ser aplicado ao 
que pertence ao Estado inimigo.
4°. Que ela aplica às cidades e portos de comércio não fortifi cados, 
às embocaduras de rios, o direito de bloqueio, que segundo a razão e o uso 
de todos os povos civilizados só se aplica às praças fortes; que ela declara 
bloqueadas praças diante das quais nenhum vaso de guerra ela possui...
5°. Que semelhante monstruoso abuso do direito de bloqueio só tem 
por fi m impedir comunicações entre povos e elevar o comércio e a indústria 
da Inglaterra sobre a ruína da indústria e do comércio do continente.
6°. Que tal sendo o objetivo evidente da Inglaterra, qualquer poder 
que, no continente, comercie com mercadorias inglesas favorece assim seus 
objetivos e se torna seu cúmplice.
I – As Ilhas Britânicas são declaradas em estado de bloqueio.
II – Qualquer comércio e correspondência com as Ilhas Britânicas são proibidos.
III – Todo súdito inglês, qualquer que seja a sua condição, encontrado nos pontos ocu-
pados por tropas nossas ou de nossos aliados é presa de guerra.
IV – Todo depósito, toda mercadoria, toda propriedade pertencente a um súdito inglês 
é declarada de boa presa.
V – O comércio de mercadorias inglesas é proibido e toda mercadoria pertencente à 
Inglaterra ou proveniente de suas colônias é declarada de boa presa.
VII – Nenhum navio, vindo diretamente da Inglaterra ou de colônias inglesas ou lá ten-
do passado depois da publicação deste decreto, será recebido em qualquer porto.
VIII – Todo navio que, por meio de falsa declaração, infringir este dispositivo será cap-
turado;o navio e sua carga serão confi scados como se fossem propriedade inglesa.
(...)”
(Decreto de Berlim, In: CARVALHO, Delgado de. História documental: Moderna e 
contemporânea. Rio de Janeiro, Ed. Record, 1976.)
Considerando:
Em conseqüência, decretamos:
História Comtemporânea I 15
“(...) o general revolucionário ou o marechal napoleônico era bem prova-
velmente um puro primeiro-sargento ou uma espécie de ofi cial de companhia 
promovido antes por bravura do que por inteligência: o Marechal Ney, heróico, 
mas totalmente imbecil, era o tipo exato. Napoleão venceu batalhas; seus mare-
chais sozinhos tendiam a perdê-las. Seu precário sistema de suprimento bastava 
nos países ricos e saqueáveis onde tinha sido desenvolvido: Bélgica, norte da 
Itália e Alemanha. Nos espaços áridos da Polônia e da Rússia, como veremos, 
ele ruiu. A ausência total de serviços sanitários multiplicava as baixas: entre 1800 
e 1815 Napoleão perdeu 40% de suas forças (embora cerca de 1/3 pela deser-
ção), mas entre 90% e 98% destas perdas eram de homens que morreram não 
no campo de combate mas sim devido a ferimentos, doenças, exaustão e frio. 
Em resumo, foi um exército que conquistou a Europa em curtas e vigorosas 
rajadas não apenas porque podia fazê-lo, mas porque tinha que fazê-lo.”
(HOBSBAWM, Eric J. Op. cit., p. 110)
Os fatos que se desenrolariam a partir daí teriam conseqüências irreversíveis. Em 1810, os 
russos, altamente fragilizados com a queda das receitas referentes à importação, deixaram de ob-
servar as cláusulas do Decreto de Berlim, voltando a fazer negócios com os ingleses. Frustradas 
todas as tentativas diplomáticas de contornar a situação, os russos se prepararam e Napoleão 
encampou uma desastrosa invasão; a resistência dos soldados e dos camponeses russos, a impos-
sibilidade de manter o Grande Exército (como era conhecido o exército francês) em uma guerra 
que, diferentemente das outras em que se envolveu, seria prolongada e a hostilidade do rigoroso 
inverno daquelas paragens obrigaram-no a uma retirada tão vergonhosa que até hoje as pessoas, 
inclusive aquelas que têm poucos conhecimentos em história, se referem nos gracejos alusivos 
a uma certa posição corporal (“Foi assim que Napoleão perdeu a guerra”). E essa derrota, para 
além de ferir o orgulho do exército e da nação, afi gurava-se como uma amostra de fragilidade da 
até então imbatível máquina de guerra francesa.
Sobre os pontos frágeis do exército francês, vejamos o que nos diz Eric Hobsbawm:
As intervenções na Península Ibérica entre 1808 e 1814, também desastrosas, têm especial 
importância para as atuais nações latino-americanas, uma vez que ao desestabilizar os governos 
metropolitanos contribuiu para agravar a crise do sistema colonial e acelerar a eclosão das guerras 
de independência. No caso brasileiro, por exemplo, os panoramas da política e da economia mu-
dam a partir da chegada da família real portuguesa, em 1808, em fuga diante da invasão das terras 
lusitanas pelas tropas do General Junot, devido à recusa do governo português em aderir ao Blo-
queio Continental. No campo da política, muda o status do Brasil, agora Reino Unido e sede do 
império português. Junto com o status político mudam também as práticas políticas e com elas a 
consciência dos brasileiros em relação ao lugar ocupado até então nos quadros do antigo sistema 
colonial. No campo econômico, a vinda da família real teve seu preço: a Abertura dos Portos às 
Nações Amigas. Caíam os obstáculos coloniais ao livre comércio e a burguesia brasileira pôde 
sentir o que é ser uma burguesia nacional, algo bastante diferente de uma burguesia colonial. E 
como sabemos, fi cou difícil para
Portugal reverter o processo e recolonizar o país, agora cioso da possibilidade de se consti-
tuir em nação. Em setembro de 1813, Napoleão foi derrotado pela Sexta Coalizão, formada por 
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Prússia, Rússia e Áustria em Leipzig, na Confederação do Reno (atual Alemanha). No início do 
ano seguinte Paris foi invadida pelos aliados, que entronizaram a Luís XVIII, restabelecendo a 
monarquia absolutista na França, o que nos permite perceber as feições políticas das forças en-
volvidas. Napoleão foi aprisionado na ilha de Elba, na costa da Itália, de onde fugiria em março 
de 1815 para retomar o poder, estabelecendo o que fi cou conhecido como Governo dos Cem 
Dias. No mesmo ano, vencido na célebre batalha de Waterloo, Napoleão foi aprisionado na Ilha 
de Santa Helena, na costa sul da África, onde morreria em 1821.
Entretanto, sua morte não encerrou o avanço do liberalismo no continente nem o reti-
rou da mentalidade dos franceses. Principalmente entre os pobres sobreviveu a veneração à sua 
pessoa, sendo representado como o salvador da ordem. Por outro lado, sua morte ampliou o 
espectro que sua atuação lançou sobre a Europa. Em Portugal, por exemplo, houve até mesmo 
quem profetizasse o seu retorno de entre os mortos, como o Anticristo mencionado no Apoca-
lipse de S. João, a fi m de guerrear contra a Igreja e o povo de Deus. Essa crença não deixava de 
encontrar apoio na iconografi a de diversas regiões do continente. Demonstrações curiosas da 
força com que as ações e a fi gura do indivíduo Napoleão Bonaparte, representante de uma cole-
tividade específi ca, foram impressas nas mentalidades coletivas inclusive em espaços muito além 
das fronteiras francesas. O que nos leva a uma importante questão, a saber: como o avanço do 
liberalismo foi vivenciado nos mais diversos cantos da Europa. Em locais como a Península Ibé-
rica, no centro e no leste da Alemanha, na Rússia, na Áustria e nos Bálcãs, havia pouca aceitação. 
Excetuando alguns intelectuais iluministas e jovens estudantes entusiasmados, essas populações 
não viam com bons olhos o liberalismo. As elites políticas temiam-no uma vez que representava 
uma ameaça aos velhos privilégios sustentados pelo Antigo Regime, ao passo que as populações 
camponesas rejeitavam-no especialmente por enxergarem nele o instrumento da instauração de 
um regime anticristão, o governo do Anticristo, isso porque uma das características marcantes 
do liberalismo é justamente o anticlericalismo, expresso não apenas na rejeição da autoridade da 
Igreja em matérias seculares – o que implicava, dentre outras coisas, na negação da Teoria do 
Direito Divino dos Reis –, mas na expropriação de bens eclesiásticos, como aconteceu na França 
revolucionária, que transformou uma ordem cujos monarcas, remontando ao tempo dos primei-
ros reis francos, ostentavam o título de “Filho Mais Velho da Igreja”. O já citado episódio do 
aprisionamento de Pio VII por Napoleão é bastante signifi cativo em relação a isso. Entretanto, 
em outros locais, como Polônia, Hungria, Irlanda, Países Baixos, parte da Suíça, o oeste da Ale-
manha e a península itálica, as propostas de mudança social ventiladas pelo liberalismo tiveram, 
por razões várias, uma aceitação acima da média. No caso da Irlanda, por exemplo, missas eram 
rezadas em prol da vitória dos franceses. Você deve estar se perguntando: como, se a Irlanda era 
um país de maioria católica e a Igreja não simpatizava com os liberais?
Isso se explica muito menos pela questão da simpatia aos liberais do que pela importância 
de ter uma força contra os ingleses, inimigos íntimos e antigos, bem mais odiados que os recém-
nascidos defensores do liberalismo. Além do mais, o liberalismo não era contrário ao cristianismo 
(embora alguns liberais como o barão d’Holbach o fossem), era contrário à instituição religio-
sa - a Igreja Católica Romana –, identifi cada como um dos sustentáculos da ordem do Antigo 
Regime.
História Comtemporânea I 17
... que, no século XIX, a Igreja condenou ofi cialmente o liberalismo 
como um dos “erros do século”? O documento em que isso está registrado é 
o Syllabus Errorum, elaborado, em dezembro de 1864, no pontifi cado de Pio 
IX (1846-1878). Trata-sede uma espécie de catálogo eclesial dos erros contra 
Deus e contra a Igreja. Além do liberalismo, o Syllabus condenava o raciona-
lismo, o indiferentismo religioso, o naturalismo, o latitudinarismo (interpreta-
ção livre das Escrituras Sagradas), o progressismo, o primado do secular sobre 
o eclesiástico e a idéia de Igreja livre no Estado livre (que com o avanço do 
liberalismo ganhou espaço nos meios eclesiásticos “esclarecidos”).
Você sabia...Você sabia...
Para saber mais sobre as relações entre a Igreja e 
o Liberalismo consulte o material AVA.
Dica da WebDica da Web
O CONGRESSO DE VIENA (1814-1815): AS 
FORÇAS DE RESTAURAÇÃO/CONSERVAÇÃO E A 
GESTAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL
Entre 1 de outubro de 1814 e junho de 1815, as nações que o derrotaram reuniram-se em 
assembléia internacional na cidade de Viena (capital da Áustria) a fi m de decidir como seriam 
restabelecidas as fronteiras alteradas pelo avanço do exército francês, bem como para repartir os 
espólios de guerra, isto é, baseando-se no velho Princípio das Compensações, impor à França 
o pagamento de indenizações – e decidir a quem cabia recebê-las e quanto ou o quê cada qual 
receberia. Em reuniões periódicas ocorridas até junho do ano seguinte, o Congresso de Viena 
foi marcado pela atuação das “Quatro Grandes Potências”: a Inglaterra, representada pelo lorde 
Castlereagh; a Rússia, pelo czar Alexandre I; a Áustria, de Francisco I, representava-se por seu 
chanceler, o príncipe Metternich, e a Prússia pelo rei Frederico Guilherme III (da dinastia Ho-
henzollern). Em suma, o que estava em pauta era o restabelecimento do equilíbrio europeu, neste 
momento pensado nos termos do Antigo Regime, perturbado pela avassaladora expansão napo-
leônica. Assim, a reconfi guração do mapa político do continente era a primeira questão. Temendo 
que a aplicação do Princípio das Compensações implicasse na extinção do Estado francês pela 
partilha de seu território entre os vencedores, o governo francês, representado pelo príncipe de 
Talleyrand, ministro de Assuntos Exteriores de Luís XVIII, e outros diplomatas franceses, recor-
reu ao Princípio da Legitimidade, segundo o qual as restituições não deveriam alterar as fronteiras 
existentes antes de 1792, ano em que em pleno processo revolucionário se deu o começo da ex-
pansão francesa. Facilitava a aprovação desse princípio o fato de que o próprio representante da 
FTC EaD | HISTÓRIAFT18
... que o Estado alemão é relativamente recente, quando comparado com 
outros Estados da Europa – a exemplo de França e Inglaterra? Sua unifi cação só 
aconteceria na segunda metade do século XIX, envolvendo uma série de guerras 
(contra a Dinamarca, em 1864, contra a Áustria, em 1866 e contra a França, em 
1870).
Além de se tornar hegemônica em relação aos Estados alemães, a Áustria se 
apoderou de uma parte da Polônia e das regiões italianas da Lombardia e Vene-
za, a Holanda recebeu a Bélgica, a Dinamarca fi cou com os Estados alemães de 
Schleswig e Holstein. A Rússia fi cou com as terras da Besarábia, da Finlândia e 
do antigo ducado de Varsóvia. A Polônia foi dividida em três partes, sendo que 
as terras do ducado de Varsóvia foram transformadas pela Rússia em um “Reino 
da Polônia”, governado por uma constituição outorgada pelo czar Alexandre I 
- exatamente como este havia ameaçado -, por outro lado as regiões de Poznan, 
Gdansk e Torun foram anexadas à Prússia ao passo que à Áustria coube o territó-
rio da Ucrânia ocidental. Dessa divisão surgiriam confl itos políticos
de cunho nacionalista, em que partes anexadas reivindicavam o direito a 
constituir Estados Nacionais autônomos. Mais tarde um desses confl itos na região 
da Polônia teria por resultado o assassinato de um príncipe austríaco – o famoso 
arquiduque Francisco Ferdinando -, ocasionando o pretexto para a detonação da 
Primeira Grande Guerra.
 Você sabia...
q
 
Áustria se interessava em não deixar que a Polônia continuasse sob o domínio da Rússia, o que 
fortalecia bastante a posição daquela nação no sistema internacional. Pela mesma razão, não dese-
java que possessões a Prússia fi casse com toda a região da Saxônia. Ciente disso o czar Alexandre 
I chegou a ameaçar, em entrevista com o lorde Castlereagh, que criaria um reino autônomo na 
Polônia, com as regiões que poderia incorporar à Rússia, ao qual daria uma constituição própria 
– que o representante da Inglaterra considerou muito liberal. E isto não deixava de representar 
perigo para as conservadoras Áustria e a Prússia, ao passo que mais uma vez fortalecia a posição 
da Rússia, que, embora conservadora como as outras duas nações, poderia contar com o grato 
respeito da Polônia, dadas as condições de seu estabelecimento. Temendo antes o aumento do 
poderio russo que a criação de um Estado liberal polonês, que de resto poderia ser facilmente 
dominado pela Rússia, a Áustria e a Inglaterra tentaram cooptar a Prússia que rejeitou e uniu-se 
à Rússia. Assim, o mal estar que se seguiu entre os “Quatro Grandes” fortaleceu a posição da 
França, que conseguiu fazer sobreviver ao Congresso suas fronteiras anteriores a 1792.
Em substituição à Confederação do Reno, criada por Napoleão, Metternich propôs a cria-
ção da Confederação Germânica, a qual seria formada por Áustria, Prússia e os outros 38 Esta-
dos alemães, e seria governada por uma junta governativa denominada Dieta Alemã. A formação 
da Confederação Germânica interessava à Áustria por pelo menos três razões políticas. Primeiro, 
punha a própria Áustria em posição hegemônica diante de um conjunto de Estados cujo poten-
cial político lhe era perigoso, principalmente se a Prússia viesse a ocupar a posição hegemônica e 
agregando-os em torno de si formasse um Estado de dimensões comparáveis à de um império. A 
lembrança do velho Império Carolíngio ainda pesava mesmo àquela altura dos acontecimentos.
História Comtemporânea I 19
Atividade Complementar
Em quais circunstâncias deu-se a instauração do Consulado?1. 
Caracterize o regime político do Consulado, destacando a importância de Napoleão Bo-2. 
naparte para sua sustentação.
Em que consistiu a reestruturação administrativa do Estado francês realizada nesse pe-3. 
ríodo? Explique sucintamente a sua importância.
Cite as realizações do Consulado no campo da economia e explique sua importância.4. 
FTC EaD | HISTÓRIAFT20
Explique, de forma sucinta, a política externa do império napoleônico.5. 
Explique as justifi cativas francesas para o Bloqueio Continental, citadas no trecho 6. 
do Decreto de Berlim citado na página 9, situando-as no contexto das disputas entre nações 
industrializadas.
Observe as imagens abaixo. Nelas, podemos perceber duas diferentes apropriações da 7. 
imagem de Napoleão Bonaparte. Qual o aspecto da cultura que norteia ambas as representações? 
Explique sua resposta.
(Andrea Appiani (1754-1817), L’Apothéose de Napoleón. Museu do Louvre)
(Autor desconhecido)
O TRIUNFO MOMENTÂNEO DAS 
FORÇAS DE RESTAURAÇÃO/
CONSERVAÇÃO E AS REVOLUÇÕES 
LIBERAIS OITOCENTISTAS (1830 E 
1848)
SOB A AÇÃO DA SANTA ALIANÇA (1815-1830)
Outro aspecto importante do esforço geral de restabelecimento do equilíbrio europeu con-
certado em Viena foi a política de auxílio à restauração do Antigo Regime onde o mesmo havia 
sido atingido pela expansão do liberalismo, essa política instaura o período marcado pelo que se 
História Comtemporânea I 21
costuma chamar de Reação Legitimista (1815-1830). O Reino das Duas Sicílias foi restituído, na 
pessoa do rei Fernando I, à dinastia Bourbon que ao lado dos Habsburgos e dos Hohenzollern 
formava um triângulo de poder dentro do qual há muito se desenrolava a política da Europa. Na 
França, Luís XVIII, outro Bourbon, tinha agora garantias de que permaneceria onde foi coloca-
do logo após a derrota de Napoleão em Leipzig. Na Espanha mais um ramo da mesma dinastia 
retornava ao podercom Fernando VII.
Em Nápoles, outro Bourbon, Fernando IV, foi reconduzido ao poder. O direito consue-
tudinário - e como ele a hierarquia social – se sobrepôs ao direito natural, base das sociedades 
liberais. Com isso ressuscitam-se os privilégios fi scais, jurídicos e militares que caracterizavam a 
nobiliarquia típica do Antigo Regime. Para salvaguardar o que por ora se restaurava, era preciso 
lutar contra as muitas cabeças da “hidra revolucionária” – como alguns conservadores denomi-
navam o conjunto de revoluções liberais iniciado na França. E assim se fez, havendo em cada 
país um crescente cerceamento das atividades políticas liberais e nacionalistas, ou que de alguma 
forma fossem suspeitas de qualquer um dos dois casos. Entretanto, os governos restaurados 
perceberam o quão difícil seria barrar, com esforços isolados, o avanço desses movimentos. As-
sim, em setembro de 1815 três dos “Quatro Grandes” se reuniram uma vez mais para selar um 
acordo que fi cou conhecido como a Santa Aliança. Por esta, Alexandre I, Francisco I e Frederico 
Guilherme III se propunham – em nome da Santíssima Trindade - a ajuda recíproca em relação 
à repressão dos movimentos liberais e de libertação nacional – o que incluía a sufocação dos 
movimentos anti-coloniais.
Instituía-se, na prática política, o Princípio da Intervenção, que, mesmo tratandose de ou-
tro contexto, ainda continua bastante atual. Ao acordo, selado sob o signo da cruz, contra o 
“ateísmo” e outros “erros do século”, se juntaram gradualmente todos os governos cristãos do 
continente, exceto o papado – responsável pelos Estados Papais –, que se recusou em virtude da 
presença do governo da protestante Prússia. O sultanato, responsável pelo Império Turco Oto-
mano, estava culturalmente excluído por ser o representante de uma religião tida até então como 
inimiga da cristandade: o Islã. 
Durante cerca de sete anos, entre 1815 e 1822, a Santa Aliança atuou com força considerá-
vel no continente. Garantiu a ocupação do território francês – cuja monarquia constitucional era 
vista com desconfi ança pelos “Quatro Grandes” – por tropas internacionais até 1818, quando no 
Congresso de Aix-la-Chapelle (ou Aquisgran), o primeiro ministro da França, Richelieu, conse-
guiu a evacuação e a inclusão de seu país na Santa Aliança. Sufocou movimentos revolucionários 
em Nápoles, Piemonte (em 1821) e na Espanha (1822), onde pela força de armas francesas en-
terrou uma constituição liberal – imposta em 1820 a Fernando VII por grupos revolucionários. 
Exerceu uma estrita vigilância nas terras alemãs e na península itálica. Monitorou as atividades de 
exilados políticos, as Universidades, o teatro. Impediu a livre circulação da palavra escrita, sub-
metendo-a a mecanismos de censura, elaborando listas de obras proibidas. E, como que fazendo 
refl uir os dias de terror da ditadura Jacobina, julgou e executou prisioneiros políticos na França, 
na Espanha e na península itálica.
A partir de 1823, o Concerto entra em decadência. Primeiro, deve-se levar em conta as di-
ferenças existentes entre seus membros, diferenças que para além da afi nidade política poderiam 
ocasionar confl itos entre os países, como vimos no tópico anterior. Neste sentido, a atuação da 
Inglaterra – de regime misto (monarquia constitucional e parlamentarista) e economia burguesa 
- é um fator importante. Á medida que as ações intervencionistas da Santa Aliança começaram a 
representar maus efeitos para seu comércio os ingleses deixaram de oferecer apoio militar e pas-
FTC EaD | HISTÓRIAFT22
O fi lósofo Friedrich Von Hegel, insatisfeito com a fi losofi a 
do século XVIII, desenvolveu um sistema fi losófi co no qual opôs 
à Idéia à matéria, tornando aquela o princípio fundador de todas as 
coisas e única realidade absoluta, cujo movimento cria o real tal e 
qual cada um de nós o compreende. Ainda segundo ele, o Estado 
– que deveria ser sempre monárquico – é a encarnação terrestre de 
Deus e, por isso, o mecanismo através do qual a Idéia se realizava 
contemplando a sociedade composta por indivíduos. Assim, só o 
Estado tem o direito à soberania absoluta, enquanto o indivíduo 
– que em relação ao Estado é uma abstração inconsistente – tem 
Vamos refletir!Vamos refletir!
saram a se opor no campo diplomático, como no caso do Congresso de Verona (1822), no qual 
a Inglaterra se opôs à intervenção na Espanha, à invasão da Turquia pela Rússia e à intervenção 
na América Espanhola – em processo de independência.
À política britânica, bastante infl uenciada pela burguesia, não interessava se opor aos pro-
cessos de libertação nacional uma vez que os povos libertos constituiriam Estados que neces-
sitariam de fi nanças e comércio. Nada mais conveniente aos seus interesses. Se o temor da ra-
dicalização levou a burguesia inglesa a apoiar a cooperação de seu Estado à aristocrática Santa 
Aliança, um temor ainda maior – o de perder dinheiro – levou-a a utilizar aquele para minar esta. 
Por outro lado, incomodava ao governo inglês o fortalecimento da Rússia, velho império aristo-
crático que nunca deixou de aspirar à hegemonia no continente. Não se poderia prever quando o 
Estado czarista resolveria mostrar seus poderes, maiores que o da Áustria e até mesmo maiores 
que os de uma possível combinação austro-prussiana. As intervenções da Santa Aliança tendiam 
a aumentar ainda mais esse poderio. Deste modo, entende-se a oposição inglesa, dentre outras 
medidas, à intenção dos russos de atacar o Império Turco.
Além do mais, às contradições internas à Santa Aliança juntam-se a contínua movimen-
tação dos liberais e o desenvolvimento das aspirações nacionalistas, que em diversos pontos 
do continente, aberta ou secretamente, minam o imobilismo aristocrático em que se pretendeu 
restabelecer o “equilíbrio”. Mesmo atacada a “hidra revolucionária” agia. Grupos subversivos se 
organizavam na clandestinidade. No ambiente da maçonaria, surge na península itálica – mais 
precisamente no Reino de Nápoles -, e daí se espalha pela França e chega à Espanha, a mais fa-
mosa das sociedades secretas do período: a Carbonária.
Seus adeptos, os carbonários, dos quais o papa Leão XII disse que tinham por objetivo a 
destruição da Igreja e a subversão da autoridade, atuando sempre na obscuridade e atacando de 
surpresa, preconizavam a instauração de regimes republicanos, democráticos e preocupados com 
as questões sociais. Dentre os movimentos que levam sua marca estão os de Nápoles e Piemonte 
(1820-1821). Enfi m, o último triunfo efetivo da Santa Aliança foi a intervenção na Espanha em 
1823. A partir daí foi se desintegrando, e já nos anos 30 era inócuo, o poderio do que o próprio 
Metternich chamou de “monumento vazio e sonoro”, e a caminhada das forças de transformação 
despoja-se de mais um obstáculo e prossegue para o futuro.
História Comtemporânea I 23
uma soberania inferior, determinada pela soberania estatal e, por-
tanto, subordinada a esta. 
Você compreende a afi nidade destas idéias com as for-
ças de conservação? Exponha suas conclusões.
A “ONDA REVOLUCIONÁRIA DE 1830”
A chamada “onda revolucionária de 1830” iniciou-se na França. E isso não deve nos sur-
preender. Primeiro porque as cinzas dos anos revolucionários ainda estavam frescas e os elemen-
tos construídos ali ainda viviam. A queda de Napoleão não signifi cou, nem de longe, o sepulta-
mento do liberalismo – embora, entre 1815 e 1830 muito dele tenha sido suprimido, a exemplo 
de símbolos como a bandeira tricolor, instituída em 1789, que foi substituída por uma bandeira 
branca. Por outro lado, a Restauração contrastava de forma marcante com aqueles anos em que 
o lema “liberté, egalité, fraternité ou la mort” animavam o cenário político. Desde 1824 Carlos 
X comandava um regime que representava o mais profundo recrudescimento do absolutismo de 
direito divino. Assim, a França era um campo aberto para a construção da primeiragrande brecha 
no sistema de Metternich.
O regime da Restauração Bourbon jamais alcançou popularidade em território francês. Foi 
a princípio aceito por um povo politicamente cansado das lutas que o afl igiram durante o gover-
no de Napoleão, mas o cansaço logo passaria. Contudo, o clima de insatisfação manteve-se em 
suspenso durante o reinado de Luís XVIII (1814-1824), que, prudente, submeteu-se ao constitu-
cionalismo burguês “outorgado” na Carta Constitucional de 4 de junho de 1814. Esta garantia as 
liberdades individuais e as públicas, a igualdade perante a lei, a manutenção do sistema tripartite 
de poder, o regime eleitoral censitário (que restringia o eleitorado a uma cifra em torno de 90.000 
homens entre 30 e 40 anos) e a inviolabilidade do patrimônio público nacional. Mas Carlos X 
preferiu mudar o andamento que seu irmão deu à política. Desde que assumiu o poder após a 
morte de Luís XVIII, levou adiante uma política ultra-realista, que contrastava com o desenvolvi-
mento do liberalismo no país, desenvolvimento este que seria reforçado a partir de 1827, durante 
os anos de crise econômica que difi cultaram em muito a vida da maioria dos franceses.
A Carta foi sumariamente violada pelas Ordenações de Julho de 1830, um conjunto de 
medidas impositivas, com as quais Carlos X buscava fortalecer o Poder Executivo, o que punha 
a descoberto as intenções absolutistas do monarca, que não deixariam de ser combatidas pelos 
liberais/independentes (coligação que reunia liberais/republicanos e bonapartistas em torno da 
preservação do legado revolucionário), liderados por La Fayette, e os constitucionalistas (que 
defendiam a aplicação estrita da Carta Constitucional), sob a liderança de Guizot.
FTC EaD | HISTÓRIAFT24
Apoiado pelos ultra-realistas (interessados em restaurar os privilégios nobiliárquicos abo-
lidos durante o processo revolucionário – a maioria era composta de ex-refugiados) dissolveu 
a Câmara recém-eleita – cuja maioria era liberal/independente –, modifi cou os critérios para a 
fi xação do censo eleitoral (benefi ciando os aristocratas) e instalou um regime de restrição das 
liberdades individuais revivendo a censura.
Em resposta, o povo foi à luta, montando barricadas contra as tropas reais durante três dias 
– 27, 28 e 29 de julho – que fi caram conhecidos como as Jornadas de Julho, ou as Três Glorio-
sas. Derrotado Carlos X, Luís Felipe, o “Rei Burguês”, foi conduzido ao trono francês, com o 
apoio da alta burguesia e, segundo ele, dos “próprios vencidos” que o “julgaram necessário à sua 
salvação”.
Ou seja, a monarquia constitucional de Luís Felipe, duque de Orleans, foi a solução encon-
trada pelos poderosos para impedir que o poder popular, amplamente demonstrado nas Jornadas, 
se acercasse do Estado, instaurando uma ordem radicalmente distinta na França. Nas palavras de 
Luís Felipe, em carta ao rei Francisco II, da Áustria, seu reinado se fazia necessário “para que os 
vencedores não deixassem degenerar a vitória” (In CARVALHO, Delgado de. Op. cit., p. 192). 
Assim, paradoxalmente, na França a Revolução de 1830 teve por resultado imediato a ins-
tauração de um regime moderado sob a direção de uma monarquia constitucional liberal que 
garantia o primado da alta burguesia e a sobrevivência da nobreza, não importando em mudan-
ças profundas no âmbito das relações sociais. Mas, no que tange ao campo político externo suas 
infl uências foram profundas.
Na Bélgica o processo revolucionário assumiu o tom nacionalista, objetivando o fi m do 
domínio holandês instituído no Congresso de Viena. Os belgas estavam submetidos à Holanda 
como parte do Reino dos Países Baixos. 
Debaixo de um regime monárquico absolutista que privilegiava os holandeses, os belgas 
tinham ainda outras razões para reivindicar o reconhecimento de sua nacionalidade e a formação 
de um Estado próprio e autônomo. Em termos culturais, diferentemente dos holandeses, os bel-
gas eram católicos em sua maioria, falavam um idioma próximo do francês (o valão), enquanto 
o holandês é um idioma mais próximo do alemão. No campo econômico, outras diferenças os 
separavam: os belgas primavam pela indústria, os holandeses pelo comércio, os belgas queriam 
medidas protecionistas, os holandeses preferiam o comércio livre.
Enfi m, contando com o apoio inglês os belgas subtraíram-se ao domínio holandês e orga-
nizaram uma monarquia constitucional e liberal. Aos 29 de novembro do mesmo ano, sob a ins-
piração do movimento francês – e contando com a simpatia e encorajamento de revolucionários 
franceses, como La Fayette, e de liberais americanos –, eclodiu, no Reino da Polônia, um movi-
mento nacionalista contra a dominação russa. O movimento começou com um levante de ofi ciais 
menores do exército polonês, que objetivavam um golpe de Estado, e ganhou corpo, exprimindo 
os anseios populares de libertação nacional.
A questão está em que, desde 1815, os poloneses tinham uma independência virtual, ba-
seada em uma carta constitucional, leis próprias, burocracia estatal, instituições educacionais e 
exército, que entretanto estava submetida ao governo do imperador russo na condição de “Im-
perador e Autocrata de todos os russos” e rei da Polônia. Fragilizado por contradições internas, 
o movimento foi suprimido em outubro de 1831 pelo exército imperial russo. Entretanto, sua ex-
periência – que contou com a solidariedade de franceses, que coletaram cerca de 36.000 francos 
em seu favor, e de americanos que coletaram donativos em Paris e nos Estados Unidos (ver box) 
História Comtemporânea I 25
“Resolvemos – Que Nós simpatizamos com a nação polonesa em seus 
sofrimentos, e que nós admiramos sua heróica coragem, e a constância com 
a qual eles mantêm seus direitos sagrados e naturais contra o vasto poder de 
seus inimigos.
Resolvemos – Que uma subscrição deverá ser feita entre os americanos 
agora em Paris, em prol deste povo valoroso. Resolvemos – Que o secretário 
[James Fenimoore Cooper] respeitosamente deverá convidar o General La 
Fayette para ser o agente de remessa do dinheiro coletado em Paris e na 
América em conseqüência de seu encontro com as próprias autoridades 
polonesas.
(...)”
(Contributions for the Poles (publicado no New York American em 6 de se-
tembro de 1832), Apud SPILLER, Robert E.. “Fenimoore Cooper and Laffayete: friends 
of polish freedom, 1830-1832”. American Literature, vol. 7, n° 1 (mar. 1935), pp. 8-9)
– fortaleceu o nacionalismo polonês, que em outros momentos voltaria a se manifestar.
Um encontro de cidadãos americanos foi realizado no dia 29 de julho de 1831, na rua 
Richelieu, em Paris. O assunto da reunião era a postura americana diante da questão polonesa. 
Vejamos algumas resoluções:
As ondas de choque emanadas do movimento francês atingiriam também a Hungria, onde 
um movimento nacionalista tentou obter a separação dos húngaros do império austríaco, ao que 
as forças austríacas impuseram uma severa repressão. As mesmas forças austríacas tiveram de 
sufocar, nos Estados itálicos, os movimentos nacionalistas ocorridos na Lombardia e em Veneto. 
Nos Estados germânicos, tiveram que abafar movimentos como o de Hanover, contando com 
a colaboração das forças da monarquia prussiana, que reprimiram os movimentos nos Estados 
da Saxônia, Schleswig-Holstein e Silésia. No Reino das Duas Sicílias outro movimento foi re-
primido, desta vez pela monarquia dos Bourbons napolitanos. Vale mencionar que na península 
itálica difundiu-se, a partir de 1831, o movimento Jovem Itália, fundado por Giuseppe Mazzini, 
em Marselha. Veja abaixo alguns trechos do Manifesto de Marselha, documento fundamental do 
movimento.
“A Jovem Itália é a confraternidade dos italianos que acreditam numa lei de 
Progresso e de Dever, convencidos de estar a Itália chamada a ser uma Nação, que se 
pode fazer com suas próprias forças. 
(...) 
A Jovem Itália é republicana e unitária. Republicanaporque teoricamen-
te todos os homens de uma Nação são chamados pela lei de Deus e da Hu-
manidade a serem livres, iguais e irmãos e que a forma republicana é a 
única que garante este destino... Republicana, porque, praticamente a 
Itália não possui os elementos de uma monarquia, nem uma aristocracia 
acatada, poderosa, em condições de se impor entre o trono e a Nação; 
nem uma dinastia de príncipes italianos que, pelos seus longos serviços, 
importantes e gloriosos em vista do desenvolvimento da Nação, mereça 
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a afeição e a simpatia de todos os Estados que a formam; porque a tradição 
italiana é toda republicana.
(...)
A Jovem Itália é unitária porque sem unidade não há realmente Nação – por-
que sem unidade não há força e a Itália rodeada de nações unitárias, poderosas e 
invejosas, necessita antes de tudo ser forte, pois o Federalismo a condenando à 
fraqueza da Suíça, a colocaria forçosamente sob a infl uência de uma ou outra das 
nações vizinhas – porque o Federalismo revivendo as rivalidades locais já extintas, 
levaria a Itália de volta à Idade Média.
(...)
Os meios de que entende se servir a Jovem Itália para alcançar seu 
objetivo são a Educação e a Insurreição. Estes dois meios devem ser empre-
gados em concordância e se harmonizar.
(...)”
(MAZZINI, Giuseppe. Manifesto de Marselha, In CARVALHO, Delgado 
de. Op. cit., pp. 194-195)
Stendhal, o vermelho e o negro.
Sugestão de LeituraSugestão de Leitura
A título de conclusão, podemos afi rmar que a importância da onda revolucionária de 1830 
está menos em seus resultados práticos que nas oportunidades de emersão de novas forças po-
líticas, dentre estas o nacionalismo, que daí em diante estaria constantemente na pauta das ques-
tões políticas em suspenso ao longo do continente. A “primavera dos povos” não tardaria a 
despontar.
A “ONDA REVOLUCIONÁRIA” DE 1848:
A Revolução Francesa de 1848 foi a última e, em termos dos números bem como de áreas 
envolvidas, a maior de todas as revoluções liberais que convulsionaram a Europa desde 1789. 
Inspirada por uma fé otimista na capacidade humana de autodeterminação, ela liberou um grande 
fl uxo de energias e paixões entre as maiorias, desafi ando – com novas forças – a ordem política 
existente. Foi neste momento que a restauração iniciada em 1815, no Congresso de Viena, en-
trou em colapso, sob o peso das barricadas erguidas nas cidades e dos motins antifeudais que 
nos campos fi zeram as fronteiras do velho sistema recuarem à altura da Rússia. E, assim, com 
o colapso da Restauração, parecia mesmo que uma era havia chegado ao fi m. A “primavera dos 
povos” estava às portas. Mas, como veremos, ainda não seria dessa vez. Por volta de 1848 havia 
uma crise geral da economia em curso na Europa, atingindo os setores produtivos da França. 
História Comtemporânea I 27
Essa crise iniciou-se em 1845 com a perda das colheitas de batatas devido à mesma praga que 
levou a Irlanda a uma crise de subsistência sem precedentes. No ano seguinte os preços subiriam 
a níveis altíssimos. Em 1847 chegaram ao dobro dos praticados no início da crise, levando muitos 
franceses à penúria e aumentando a de outros. Somente nestes anos mais de quatro mil estabe-
lecimentos foram à falência, aumentando o contingente de desempregados. Quem não fi chou as 
portas, diminuiu os salários. A boa colheita deste mesmo ano viria abrandar a fome generalizada, 
mas não resolveria a situação econômica que se agravava. As reservas em ouro do Banque de 
France caíram de 201 para 47 milhões de francos em pouco mais de seis meses, entre junho de 
1846 e janeiro de 1847.
Junte-se a isto o quadro de instabilidade política, pontuado pela atuação dos grupos que 
apoiavam o regime do “rei burguês” – concentrados no “partido do movimento” e no “partido 
da resistência” – e dos grupos de oposição – os “bonapartistas”, os “republicanos” e os “legi-
timistas”. No âmbito dos situacionistas a oposição entre o partido do movimento, favorável à 
progressão do liberalismo no regime encabeçado por Luís Felipe, e o partido da resistência, mais 
inclinado à conservação das características do regime, fragilizavam sua base de sustentação e dei-
xavam brechas para a atuação dos oposicionistas. Estes, por outro lado, não deixavam de se de-
sentender. Os bonapartistas, fi éis ao culto da imagem de Napoleão, depositavam suas esperanças 
de restauração da ordem emLuís Bonaparte, sobrinho do falecido imperador; os republicanos, 
imbuídos de um liberalismo radical, eram contrários à monarquia e adeptos de um regime repu-
blicano e social, ao passo que à extrema direita fi cavam os legitimistas, partidários do rei deposto 
pela Monarquia de julho, Carlos X, interessados na restauração da ordem nobiliárquica. Havia, 
portanto, um campo político em que o diálogo por vezes era um diálogo de surdos. O equilíbrio 
aí era precário e bastava uma pressão como a da crise econômica iniciada em 1845 para detonar 
um confl ito.
As manifestações contrárias ao regime multiplicavam-se, desde os levantes de Lyon em 
1831 e 1834. Faltava sustentação popular ao reinado do “rei burguês”. Percebendo que no con-
junto das forças a balança lhe era desfavorável, Luís Felipe tentou controlar a situação reprimin-
do as associações, submetendo os jornais à censura e sobrepondo-se ao Parlamento. A situação 
agravou-se quando, no dia 22 de fevereiro de 1848, François Guizot, líder do “partido da resis-
tência” e primeiro ministro, proibiu a realização de um banquete em Paris, sob a alegação de que 
ali se reuniriam elementos da oposição para tramar contra o governo. “E eis que a Revolução 
Francesa recomeça em 1848, pois se trata sempre da mesma” foi o que disse, a respeito da onda 
revolucionária de 1848, Aléxis de Tocqueville, um dos maiores pensadores políticos do período 
que estamos estudando. Temos de concordar com ele. Mas até certo ponto. Se é certo que os 
eventos de 1848 têm um parentesco inegável com o processo revolucionário iniciado em 1789 
– e pode ser entendido como um prolongamento deste -, não se pode exagerar na comparação. 
O processo iniciado em fevereiro de 1848 é também menos violento que seu precedente maior: 
não se verifi ca uma profusão de confl itos internacionais e as ditaduras populares geralmente têm 
curta duração.
Além disso, os agentes diversifi caram-se ainda mais, e dentre esses novos agentes um tem 
infl uência considerável neste momento e, sob outras roupagens, infl uenciará sobremaneira o ce-
nário de movimentos posteriores: o socialismo.
O socialismo apregoado neste momento era o que mais tarde seria chamado de socialismo 
utópico, cuja difusão pelo país já vinha sendo feita por meio de escritos, não apenas políticos 
mas acadêmicos, como a dissertação “O que é a propriedade?”, publicada por Pierre-Joseph 
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“O que a distinguiu entre todos os acontecimentos (...) foi 
que ela não teve por fi m mudar a forma de governo, mas alterar a 
ordem da sociedade. Ela não foi, na verdade, uma luta política (...) 
mas um confl ito de classes (...) Esta insurreição formidável não 
foi empreendimento de um certo número de conspiradores, mas a 
sublevação de toda uma população contra outra.”
(TOCQUEVILLE, Aléxis de. Souvenirs. 11th ed., Paris, ed. L. 
Monnier, 1942, p. 135.)
Vamos refletir!Vamos refletir!
Proudhon em 1840, ou “Acerca da organização social do trabalho”, publicada por Louis Blanc 
um ano antes.
Adiante teremos oportunidade de falar sobre essa forma de pensamento e seus desenvolvi-
mentos posteriores. O certo é que a revolução que instaurou a Segunda República contou com a 
união de republicanos liberais, chefi ados por Lamartine, e socialistas, liderados por Louis Blanc, 
Alphonse Blanqui e Ledru- Rollin – que já atuavam há algum tempo por toda a França propagan-
do as idéias socialistas. 
Contando com o apoio do povo, compuseram uma juntaprovisória de governo. O Governo 
Provisório – composto por cinco moderados, dois independentes, dois radicais e dois socialistas 
– criou as Ofi cinas Nacionais, pondo em prática uma idéia de Blanc, para quem o poder público 
tinha a obrigação de fornecer trabalho e, se necessário, uma pensão a todos os cidadãos que, 
privados das faculdades necessárias, não pudessem trabalhar. As Ofi cinas seriam organizadas a 
partir de profi ssões e os produtos seriam vendidos pelos próprios trabalhadores, o que eliminaria 
a concorrência. Instituiu-se o sufrágio universal masculino, restabeleceram-se as liberdades de 
imprensa e de associação, concedeu-se anistia a presos políticos, legitimou-se o direito de greve e, 
fi nalmente, foi abolida a escravidão nas colônias francesas. A possibilidade de admissão na Guar-
da Nacional foi aberta a todo cidadão francês adulto. Entretanto, a burguesia unida internamente 
– no âmbito da própria classe –, e externamente – a setores reacionários –, venceu as eleições de 
23 de abril, e iniciou a interrupção da trajetória à esquerda que a revolução tomara. Em resposta, 
os socialistas tentam um golpe no dia 15 de maio, em conseqüência disso seus mais líderes mais 
proeminentes foram aprisionados. Logo depois, diante do agravamento da crise econômica, as 
Ofi cinas Nacionais, que eram sustentadas pelo Estado, foram fechadas. Estavam portanto dadas 
as condições para a eclosão de uma “revolução dentro da revolução”.
Assim, veio a Revolução de Junho, que representa um momento crucial da história da luta 
de classes, o momento em que se operou a “grande virada”. Ali, naquele momento, estava uma 
classe nascida da nova ordem industrial – o proletariado –, reconhecendo-se como tal e desafi an-
do o poder da burguesia, buscando subvertê-lo, aplicá-lo de acordo com os seus interesses, tomá-
lo desta classe que até bem pouco tempo era ela mesma a classe que portava o estandarte das 
forças de mudança. Já não se tratava apenas de uma revolução política – que opunha socialistas 
a liberais, numa luta pelo controle dos rumos do processo revolucionário –, era sobretudo uma 
revolução social, como notou Tocqueville, com uma impressionante lucidez.
História Comtemporânea I 29
Entrevendo a possibilidade de uma tomada do poder pelos parta-
geux (partilhadores), como eram chamados os socialistas, que assumiam 
a frente do movimento e se embrenhavam pelas barricadas, defenden-
do, numa clara manifestação de alinhamento à causa dos trabalhadores, 
o lema “La Republique démocratique et sociale”, a Assembléia conside-
rou prudente conceder poderes excepcionais a um general, Cavagnac, 
que à testa do exército matou cerca de 16 mil revolucionários. Outros 
4 mil foram banidos da França. Outros tantos, como o escritor Victor 
Hugo, desgostosos, deixaram o país por conta própria. Transcrevemos, 
abaixo, um trecho de um poema dedicado aos revolucionários de 1848 
que foram expulsos do país. Anote suas impressões a respeito das idéias 
expressas nele:
Vós abandonais antes de nós uma terra maldita
Onde o próprio Deus está sempre do lado mais forte.
Onde o pobre é escravo, onde sua raça é proscrita.
Onde a fome nunca teve senão um remédio, a morte.
(MÉNARD, Louis. Homenagem aos insurretos. Apud CROUZET, Maurice 
(org.), SCHNERB, Robert. História geral das civilizações. Tomo VI, vol. I (O sécu-
lo XIX: apogeu da civilização européia). São Paulo, DIFEL, 1966, p. 87)
À custa do esmagamento do lema que norteou a Revolução de 1789, estava salva a república 
burguesa moderada, que a partir de então tenderia a se alinhar aos setores de direita, preferia-os 
a admitir que pressões sociais vindas de baixo ameaçassem sua posição. Com isso a burguesia 
inclinava-se ainda mais, e de uma vez por todas, para a conservação da ordem, deixando de ser 
uma classe revolucionária e assumindo um papel reacionário. No dia 12 de novembro promul-
gou-se uma nova Constituição. Em seguida, as eleições levaram Luís Bonaparte, o preferido dos 
bonapartistas, à condição de presidente. Este, que deveria fi car no poder por 4 anos, imitou o fa-
lecido tio, dando um golpe em 1851, implantando o império e, em dezembro de 1852, assumindo 
o título de Napoleão III. A França tornava-se a caricatura de uma grande nação imperial sob a 
caricatura de um grande imperador.
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Lembra do que falamos a respeito da permanência da imagem 
de Napoleão no imaginário político? Consegue perceber, a partir do 
que acabamos de expor, algum efeito dessa permanência?
Vamos refletir!Vamos refletir!
Entretanto, em nenhum lugar, talvez, a derrota da onda revolucionária de 1848 teve efeitos 
tão profundos e duradouros como na Confederação Germânica. Na França, os eventos de 1848 
desacreditaram a Segunda República, mas, a despeito disso, não destruíram a tradição republica-
na. Nas nacionalidades submetidas ao Império Austríaco o sonho de conquista da auto-determi-
nação sobreviveu e se veria vingado em 1918. Na península itálica, a idéia de uma Itália unifi cada 
sob a casa liberal de Savóia sobreviveu à derrota em Novara. Mas na Confederação Germânica o 
liberalismo tomou um golpe do qual não se recobraria tão cedo. A derrota de 1848 fez com que 
uma grande falta de fé em sua própria missão se abatesse sobre os liberais germânicos que só na 
segunda metade do século XX conseguiram conquistar as maiorias.
A Revolução ali não durou mais que nove meses. Em março de 1848, as tropas reais de 
Frederico Guilherme I, da Prússia, reprimiram uma manifestação popular em frente ao palácio, 
ao que se seguiu uma série de sublevações na Confederação, que levaram o rei a prometer uma 
Constituição, para a qual se reuniu um parlamento na cidade de Frankfurt, cujos trabalhos foram 
iniciados em maio. Entretanto, , os príncipes retomaram seus lugares de poder na Confederação, 
aproveitando-se das divisões entre os revolucinários (socialistas, liberais e nacionalistas), que di-
vergiam acerca de questões como a participação da Áustria no novo desenho da Confederação 
(que seria a “Grande Alemanha”) e a adoção da forma republicana de governo (seria federalista 
ou unitária? Democrática?). A Assembléia Constituinte foi dissolvida em novembro, sob a pres-
são do exército prussiano, o liberalismo entrou em recesso e o sonho de unifi car os Estados 
germânicos teve de ser adiado.
Nos Reinos itálicos, eclodiu, entre 1848 e 1849, uma luta contra o domínio austríaco. Aliás, 
as agitações de 1848 iniciaram-se aí. Entretanto, o movimento caiu, enfraquecido por dissensões 
internas. Opunham-se, defendendo suas respectivas propostas, os neoguelfi stas, liderados por 
Gioberti, que pretendiam uma confederação de Estados subordinada ao Papa, os monarquistas 
constitucionais, liderados por Cesare Balbo e Mássimo D’Azeglio, que queriam um Estado Na-
cional Unitário subordinado à casa real de Savóia, soberana do Piemonte, e os republicanos, que 
liderados por Giuseppe Mazzini, com destacada atuação de outro Giuseppe, o Garibaldi, empe-
nhavam-se na construção de uma República Democrática.
História Comtemporânea I 31
O OPERARIADO EUROPEU (1815-1848)
Esses são tempos infames para o operariado. A maquinaria avança, os empresários ampliam 
seus cabedais, e a mão-de-obra abundante, somada à pouca vontade dos empregadores rebaixa os 
salários. Essa disposição – ainda atual – em pagar baixos salários justifi cava-se ideologicamente 
em premissas lançadas ainda no século XVIII.
A respeito disso, veja o que em 1747, John Smith afi rmava em suas Memoirs of wool que 
“É um fato bem conhecido... que a escassez até um certo grau, estimula a diligência, e que o 
trabalhador que puder subsistir labutando apenas três dias por semana fi cará ocioso e bêbado 
nos dias restantes. (...) Os pobres, nos condados manufatureiros, nunca trabalham mais do que 
o necessário para viver e sustentar suas orgias semanais. (...) Podemos afi rmar com segurança

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