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UFF – Língua Portuguesa V Anotações sobre a estrutura silábica do PB 1. Os fonemas podem combinar-se em unidades maiores: sílabas, morfemas, palavras → combinações que seguem princípios da gramática e da estrutura fonológica de uma língua. 2. Sílaba: • entidade estritamente fonológica; • há vários modelos que se dedicam ao seu estudo (campo da fonologia não linear) → a característica de um elemento como silábico não depende de uma característica inerente ao segmento, mas de sua posição na estrutura da sílaba; • unidade prosódica comum às línguas naturais; • primeiro nível de organização fonológica dos fonemas de uma língua em particular (as estruturas silábicas variam de acordo com as línguas); • estrutura silábica mais comum: CV(C) 3. Estrutura silábica: • em português, as vogais sempre formam o núcleo silábico (Nuc) • as consoantes que acompanham o núcleo são conhecidas como ataque (A), quando precedem o núcleo, e coda (Co), quando sucedem o núcleo. • R representa a rima: núcleo (constituinte obrigatório) e coda (constituinte opcional) • não é linear; é hierarquicamente organizada: A e R, ramificada em Nuc e Co. σ A R Nuc Co σ – indica a sílaba A – ataque, onset ou aclive R – rima Nuc – núcleo ou pico Co - coda ou declive Exemplo: Na palavra ‘paz’ (/’paS/), o onset é constituído por /p/, o núcleo pelo fonema /a/ e a coda pelo /S/. NÚCELO SILÁBICO Há estudiosos que defendem que as semivogais ocupam a posição central da sílaba, junto à vogal (núcleo ramificado: dois elementos na posição central da sílaba, sem haver coda), enquanto outros defendem que a semivogal vem após a vogal e ocupa a coda silábica (as semivogais são assilábicas e não podem ser núcleo). Essa é a posição de Bisol (apud SEARA; NUNES; LAZZAROTTO-VOLCÃO, 2015). No padrão silábico, pois, as semivogais são tidas como glides1, indicados por V’ no molde silábico, que podem ocupar o onset ou a coda, como as consoantes. Exemplos: ‘cai’ (CVV’) [‘kaɪ] /’kai/ ‘austero’ (VV’C) [aʊS’tɛÉʊ] /auS’tɛÉo/ ‘secretário’ (CV’V) [sekÉe’taÉɪʊ] /sekÉe’taÉio/ 1 Para Seara, Nunes e Lazzarotto-Volcão (2015, p. 126), “glide é um segmento que exibe características articulatórias ATAQUE SILÁBICO (ONSET) Essa posição pode estar vazia, ser preenchida por uma ou por, no máximo, duas consoantes. Alguns padrões são mais produtivos tanto em posição inicial como em posição medial de palavra (pr, por exemplo), enquanto outros são mais comuns em posição medial (sílabas iniciadas por /ù, ʎ, É/: ninho, palha, caro) CODA SILÁBICA Também pode estar vazia ou preenchida; é bastante restrita quanto ao seu preenchimento. Os padrões VC e CVC aceitam quatro consoantes em coda: /l, R, N, S/. Exemplos: ‘sol’, ‘mar’, ‘tem’, ‘mês’. 4. Classificação tipológica da sílaba Segundo sua estrutura, as sílabas podem ser: • simples: formadas apenas pelo núcleo (fonema vocálico) ou pelo núcleo precedido por um elemento no onset. • complexas: aquelas cujo núcleo é precedido e/ou seguido por mais de uma consoante. • abertas (livres): terminam em vogal; apresentam uma rima não ramificada (apenas um elemento no núcleo). • fechadas (travadas): terminam em consoante(s) (apresentam rima ramificada). OBS.: O diacrítico (.) indica a rotura/separação silábica. 5. A combinação dos fonemas na sílaba não é aleatória: segue um padrão ligado à sonoridade ou soância, que se relaciona com o vozeamento: quanto mais propenso para o vozeamento espontâneo, maior sonoridade um segmento terá → os elementos de maior sonoridade são candidatos a ocupar o núcleo da sílaba; os de menor sonoridade são propensos a funcionar como ataque ou coda (margens da sílaba). Com base em diferentes estudiosos, há escalas de soância que indicam essa propriedade: Vogais Líquidas (laterais e róticos) Nasais Oclusivas e fricativas 3 2 1 0 5.1 As línguas do mundo tendem a se organizar de acordo com as seguintes condições: • Não é permitida a sequência, na mesma sílaba, de onset e coda silábica de mesma escala de soância. • O núcleo da sílaba é constituído pelo elemento mais sonoro da sequência de sons e deve haver uma escala crescente de soância do onset para o núcleo e decrescente do núcleo para a coda. 6. Os moldes ou padrões silábicos variam em cada língua e são, em geral, obtidos com base nos monossílabos. Não é consensual entre os estudiosos a descrição dos moldes silábicos do PB. Exemplo: há os que consideram que ‘é’ e ‘um’ correspondem a uma vogal (V); há os que descrevem o padrão V e VC, respectivamente. Em relação às semivogais, também não há consenso: ora são consideradas como V, ora são diferenciadas em vogal (V) e semivogal (V’). 7. Estudos têm mostrado que a posição pós-pico silábico é aquela mais vulnerável a alterações; na posição pré-pico os de uma vogal alta, mas que não pode ocupar a posição de núcleo silábico; por isso é considerado uma vogal assilábica. segmentos tendem a ser mais preservados (posição mais relevante em termos de percepção linguística). Em PB, por exemplo, os elementos que aparecem em coda silábica apresentam, em geral, mais de um fone e podem até ser apagados (ex.: ‘mulher’). EXERCÍCIOS 1. Formalize a estrutura silábica dos seguintes monossílabos: ‘ar’, ‘cru’, ‘só’. 2. Indique dois exemplos de palavras que apresentem as seguintes configurações silábicas: a) Sílabas que comecem com uma consoante b) Sílabas que comecem com uma vogal c) Sílabas apenas com vogal d) Sílabas que terminem por uma consoante f) Sílabas que terminem por uma semivogal 3. Identifique o padrão das sílabas das seguintes palavras: a) a. cor. do → V. CVC. CV b) pers. pec. ti. va → c) a. gru. par → 4. Com base na escala de soância, explique por que na palavra ‘pasta’: a) não se admitiria a sílaba ‘sta’; b) a divisão da sequência em ‘pas’ e ‘ta’ respeita as condições de combinação dos sons em sílabas. REFERÊNCIAS MORI, Angel Corbera. Fonologia. In: MUSSALIM, Fernanda. Introdução à linguística: domínios e fronteiras. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga; LAZZAROTTO- VOLCÃO, Cristiane. Para conhecer fonética e fonologia do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015.