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DIREITO PROCESSUAL PENAL III Profª Helcínkia Albuquerque helcinkia@gmail.com TEORIA DOS RECURSOS 1. MEIOS DE IMPUGNAÇÃO • RECURSOS: impugnação dentro do mesmo processo. Prolongam a mesma relação processual (impugnação endógena). Ex: apelação, embargos infringentes e de nulidade, embargos de declaração, agravo em execução, carta testemunhável, correição parcial. • AÇÕES IMPUGNATIVAS AUTÔNOMAS: impugnações autônomas em relação à ação penal (impugnação exógena). Ex: Habeas Corpus, Mandado de Segurança e Revisão Criminal 2. NOÇÕES DE RECURSO • É o procedimento através do qual a parte, ou quem esteja legitimado a intervir na causa, provoca o reexame das decisões judiciais, a fim de que elas sejam invalidadas ou reformadas, pelo próprio magistrado que as proferiu, ou por algum órgão de jurisdição superior. 2.1 ETIMOLOGIA • De etimologia latina, o verbo recursare significa “correr para trás ou correr para o lugar de onde se veio”, e daí, está a idéia de reexame. • A palavra recursus remete à noção de “retomar o curso” 2.2 FUNDAMENTOS • Falibilidade humana • Inconformismo da parte prejudicada • Ampliação da visibilidade 2.3 CONCEITO DE RECURSO • É um instrumento processual voluntário de impugnação de decisões judiciais previsto em lei federal utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, objetivando a reforma, a invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão impugnada. (Renato Brasileiro) OBS: RECURSO ≠ REVISÃO CRIMINAL • RECURSO - deve ser interposto antes da preclusão, na mesma relação jurídica processual. • REVISÃO CRIMINAL – só pode ser ajuizada depois do trânsito em julgado e faz surgir uma nova relação jurídica processual 2.4 CLASSIFICAÇÃO/ESPÉCIES DE RECURSOS • Ordinários (via recursal ordinária) – reexame de matéria de fato e direito. Ex: apelação • Extraordinários (via recursal excepcional – abrangem recurso especial e extraordinário) – reexame de matéria de direito (questões constitucionais ou de legislação federal) realizado pelos tribunais superiores OBS: • Existem outras classificações: a) Quanto a extensão: totais e parciais b) Quanto a fundamentação: livre e vinculada c) Quanto ao grau hierárquico: horizontais e verticais 2.5 PRINCÍPIOS RECURSAIS • São certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das demais asserções que compõem dado campo do saber (Miguel Reale) • São vetores interpretativos de regras que disciplinam os recursos (Nestor Távora) A) Princípio do duplo grau de jurisdição • Consiste na possibilidade de reexame integral da matéria de fato e de direito da decisão do juízo “a quo”, a ser confiado a órgão jurisdicional diverso, em regra, de hierarquia superior • MATERIALIZAÇÃO: em regra, é materializado por apelação, mas também pode ser materializado por recurso ordinário constitucional em casos de crimes políticos (Lei 7.173 e art. 102 da CF/88) • PREVISÃO NORMATIVA: previsão implícita na CF (devido processo legal, ampla defesa) e expressa no Pacto de São José da Costa Rica (art. 8°) OBS: • A Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) tem status normativo supra legal, ou seja, está abaixo da Constituição e acima das leis ordinárias (STF, Recurso Extraordinário 466.343). Desse modo, a legislação ordinária deve ser compatível com a Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos • Com esse fundamento, a partir do julgamento histórico do HC 88.420, em 2007, o STF reconheceu que não é possível que alguém seja privado do direito ao duplo grau pelo fato de não ter se recolhido à prisão, entendendo que as idéias do art. 595 e da Súmula 9 do STJ eram incompatíveis com o Pacto de São José da Costa Rica. Depois disso, o STJ editou a Súmula 347. STJ • Súmula 347: “O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão”. STF, Súmula 453: • “NÃO SE APLICAM À SEGUNDA INSTÂNCIA O ART. 384 E PARÁGRAFO ÚNICO DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, QUE POSSIBILITAM DAR NOVA DEFINIÇÃO JURÍDICA AO FATO DELITUOSO, EM VIRTUDE DE CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR NÃO CONTIDA, EXPLÍCITA OU IMPLICITAMENTE, NA DENÚNCIA OU QUEIXA”. • A mutatio libelli (emendatio libelli) não pode ocorrer na segunda instância, porque conflitaria com o duplo grau, já que se fosse permitida, a matéria já seria examinada originariamente na segunda instância, suprimindo a primeira instância. B) Princípio da Taxatividade • O rol dos recursos é taxativo (numerus clausus), isso porque, se não o fossem, sacrificariam o princípio da segurança jurídica. Portanto, a lei estabelece qual o recurso cabível para as decisões proferidas. • O recurso deve estar expressamente previsto em lei. OBS: • O princípio da taxatividade não não é óbice à aplicação analógica, nem à interpretação extensiva das normas processuais penais. • Ex: Interposição de RESE contra decisão que rejeita aditamento de denúncia, embora não haja inclusão no art. 581, CPP C) Princípio da Fungibilidade Recursal • Teoria do Recurso Indiferente ou Princípio da Fungibilidade Recursal: a parte interpondo o recurso inadequado/errado, mas estando o próprio recurso no prazo daquele que seria o correto, não havendo a má-fé e não havendo erro grosseiro, o recurso é conhecido. • Erro grosseiro: é aquele que evidencia completa e injustificável ignorância da parte, isto é, havendo nítida indicação na lei quanto ao recurso cabível e nenhuma divergência doutrinária e jurisprudencial, torna-se absurdo o equívoco. (NUCCI) • Presunção de má-fé: I) não observância do prazo do recurso adequado e II) erro grosseiro (ex: Resp 611.877, STJ) CPP Art. 579 “Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível”. D) Princípio da Unirrecorribilidade das Decisões ou Singularidade ou Unicidade • Para cada decisão só existe um único recurso. • Evita a acumulação de impugnações sob o mesmo fundamento. • Exemplo: Art. 593, § 4°, do CPP: “quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra”. • Exceção: Luiz Flavio Gomes trata nos casos de cabimento de dois recursos simultâneos, como ocorre nos crimes conexos no Tribunal do Júri, de suplementariedade, ou seja, um recurso suplementa outro. Exceções à unirrecorribilidade: • Protesto por novo júri (dizia respeito à condenação superior a 20 anos e deixou de existir em 2008) • Recursos extraordinário e especial – pode ser que contra um único acórdão caiba tanto recurso especial quanto recurso extraordinário (mas o julgamento de um ou de outro pode ser sobrestado até que o tribunal decida algum deles – art. 27, § 5° e 6°, da Lei 8.038/90) • Embargos infringentes e de nulidade – para parte da doutrina, pode se julgar o RE ou o Resp nas decisões não unânimes e, paralelamente, julgar os embargos em decisão não unânime; fazendo interpretação analógica do NCPC, com fundamento no art. 3° do CPP, o agravo poderá ser julgado, conforme o caso, conjuntamente com o recurso especial ou extraordinário (art. 1.042, § 5º, Lei 13.105/2015). Variabilidade: • A interposição de um recurso não liga o recorrente à impugnação, permitindo-se a interposição de outros recursos, desde que no prazo. E) Princípio da voluntariedade (art. 574, CPP) • O recurso é um ato processual decorrente da manifestação de vontade da parte que queira ver reformada ou anulada uma decisão. É um ato volitivo. • Éum ônus do recorrente. A parte recorre se quiser. Ninguém é obrigado a recorrer. • Em regra, o Ministério Público e a Defensoria Pública não são obrigados a recorrer. Embora alguns doutrinadores digam que os defensores são obrigados a recorrer, o STF possui vários julgados dizendo que não há cerceamento de defesa quando o defensor não interpõe recurso. Ex: HC 105845 OBS: • O CPP enumera algumas hipóteses em que o reexame da decisão é necessário, ou seja, ocorre a remessa necessária à instância superior, como condição de eficácia objetiva da decisão. Sem esse reexame a decisão não poderia surtir seus efeitos. (Alguns autores chamam de “recurso de ofício”, mas a terminologia é criticada por falta da voluntariedade). Reexame necessário: • da sentença que conceder habeas corpus, ou seja, da decisão do juiz singular que acatar a ordem (art. 574, I, CPP) • da decisão absolutória ou de arquivamento de inquérito nos crimes contra a economia popular e saúde pública (art. 7°, Lei 1.521/51) • da decisão que conceder reabilitação criminal (art. 746,CPP), ou seja, da declaração judicial de que estão extintas ou cumpridas as penas impostas ao condenado, assegurando o sigilo dos registros sobre o processo e os efeitos da condenação, restabelecendo o prestígio social do condenado • do indeferimento liminar da ação de revisão criminal, pelo relator, no tribunal, quando o pedido não estiver suficientemente instruído (art. 625,§ 3°) • da decisão que conceder mandado de segurança (art. 14, §1°. Lei 12.016/09) OBS: • O inciso II do art. 574 inclui o reexame necessário da decisão que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, no rito do Tribunal do Júri (absolvição sumária foi alterada pela Lei 11.689). • A maioria dos doutrinadores entende que o dispositivo está revogado tacitamente por ausência de previsão no art. 415, que estabelece as hipóteses de absolvição sumária. STF: • Súmula 160: “É NULA A DECISÃO DO TRIBUNAL QUE ACOLHE, CONTRA O RÉU, NULIDADE NÃO ARGÜIDA NO RECURSO DA ACUSAÇÃO, RESSALVADOS OS CASOS DE RECURSO DE OFÍCIO”. • Súmula 423: “NÃO TRANSITA EM JULGADO A SENTENÇA POR HAVER OMITIDO O RECURSO "EX OFFICIO", QUE SE CONSIDERA INTERPOSTO "EX LEGE“. F) Princípio da disponibilidade • Durante o andamento processual do recurso, o recorrente pode desistir do recurso interposto • Restrição: Art. 576, CPP – “O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”. Exemplo: • Um promotor pode apresentar o recurso e outro ser nomeado para arrazoar. Se o último não concordar com o recurso, não poderá desistir, mas poderá fazer as razões com posicionamento diferente do que seria compatível com o desejo de recorrer. Isso é possível por causa da independência funcional dos membros do MP G) Princípio da convolação • Consiste na possibilidade de um recurso manejado corretamente ser convolado em outro, que se revelar mais útil/benéfico/vantajoso ao recorrente, com viabilidade de maiores vantagens. Ou seja, uma impugnação adequada pode ser recebida e conhecida como outra, para melhorar a situação do réu • Ex 1: Revisão Criminal interposta corretamente contra decisão condenatória transitada em julgado é recebida como Habeas Corpus, por ser mais célere e dispensar as formalidades da primeira (Norberto Avena) • Ex 2: RHC 26070, STJ H) Princípio da vedação da reformatio in pejus • É vedada a mudança para pior da situação do recorrente, em virtude de decisão superveniente que reforme o julgado. • Em recurso exclusivo da defesa, o acusado jamais poderá ser prejudicado qualitativa e quantitativamente, mesmo em caso de correção de erro material que incremente a pena (STJ, HC 103.460) • Previsão legal: 1ª corrente – decorre da ampla defesa constitucional (art. 5°, LV, da CF) 2ª corrente – decorre da legislação ordinária (arts. 617 e 626, CPP) • Espécies: Direta- no caso de recurso exclusivo da defesa, o juízo “ad quem” não poderá proferir nova decisão prejudicial ao acusado Indireta (Efeito prodrômico) - no caso de recurso exclusivo da defesa, se a sentença impugnada for anulada, o juiz que proferir a nova decisão em substituição a anulada não poderá agravar a situação do acusado. CPP Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença. Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo. Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista. STF • Súmula 160: “É NULA A DECISÃO DO TRIBUNAL QUE ACOLHE, CONTRA O RÉU, NULIDADE NÃO ARGÜIDA NO RECURSO DA ACUSAÇÃO, RESSALVADOS OS CASOS DE RECURSO DE OFÍCIO”. OBS 1: • No caso de anulação de sentença, por qualquer vício, a nova decisão não poderá superar a condenação imposta anteriormente. Mas, no caso de incompetência absoluta, há duas correntes: –1ª corrente (PACELLI) – o juiz natural não está preso aos limites da pena imposta pelo juízo incompetente –2ª corrente (STJ) – o novo juízo é obrigado a respeitar a non reformatio in pejus (Ex: HC 105.384 e HC114.729) OBS 2: • No Tribunal do Júri, havendo recurso exclusivo da defesa que anule o primeiro julgamento, ainda que no segundo júri os jurados reconheçam qualificadora que não havia sido reconhecida, em que pese a soberania dos vereditos (art. 5◦, XXXVIII, c, CF); o STF e o STJ decidiram que a pena aplicada não poderá ser superior àquela do primeiro julgamento anulado (STF –HC 89.544 e STJ – 178.850) OBS 3: • Se o tribunal está apreciando recurso exclusivo da acusação, poderá melhorar a situação do réu, mesmo que tenha que julgar extra petita, admitindo-se a reformatio in melius, mesmo em pedido específico da acusação pedindo justamente o oposto. I) Princípio da Complementariedade dos Recursos • O recorrente poderá complementar a sua fundamentação no recurso sempre que houver integração ou complementação da decisão, ou seja, quando a decisão recorrida for modificada supervenientemente • Ex: retratação do juiz, correção de erro material, provimento de outro recurso, acolhimento dos embargos de declaração. OBS: • A matéria sobre a qual não se estender a alteração do julgado não poderá ser objeto de nova impugnação. • A nova impugnação é autorizada se a matéria recorrida tiver sido objeto de alteração do julgado. J) Princípio da suplementariedade ou da suplementação dos recursos • Existe a possibilidade de ser renovada a iniciativa recursal já manifestada, quando contra a decisão for cabível mais de um recurso. OBS: • A aplicação do princípio da suplementaridade é uma exceção, seja diante do princípio da unirrecorribilidade, seja diante do fenômeno preclusivo que se opera. Por essa razão, alguns autores entendem que não se trata de um princípio propriamente dito, mas de uma regra do direito processual penal. L) Princípio da Dialeticidade dos Recursos • O recorrente deverá, em regra, declinar os fundamentos/motivos pelos quais pede reexame da decisão, para que a outra parte possa apresentar suas contra-razões. • OBS: A motivação nem sempre é obrigatória. Portanto, este princípio não se mostra em todos os recursos. Ex: no Protesto por Novo Júri não precisava declinar os motivos (deixou de existir). Os arts. 589 (p. único) e 601 permitem que o recurso em sentido estrito e a apelação subam sem as razões. CPP RESE: Art. 589. Com a respostado recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários. CPP Apelação: Art. 601. Findos os prazos para razões, os autos serão remetidos à instância superior, com as razões ou sem elas, no prazo de 5 (cinco) dias, salvo no caso do art. 603 (DF e Comarcas com Tribunais de Apelação), segunda parte, em que o prazo será de trinta dias. M) Princípio da conversão • Se o recurso for interposto perante órgão jurisdicional incompetente, este deverá remeter o processo ao que detenha competência recursal (Paulo Rangel) • O recorrente não será prejudicado pelo endereçamento errado, cabendo ao tribunal incompetente remeter os autos ao órgão competente para julgar (Nestor Távora) N) Princípio da intranscendência • Exclusiva aplicação ao recurso manejado pela acusação • Tratando-se de mais de um acusado, o recurso deve identificar cada um deles e em relação a quem deseja a reforma da decisão • Se o pedido se restringir a um único agente, ainda que haja coautoria, o tribunal não pode ampliar seu objeto para alcançar o réu contra quem o recurso não se insurgiu expressamente 2.4 FASES RECURSAIS I) JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE (OU DE PRELIBAÇÃO)- consiste na aferição, pelo juízo competente, das condições de admissibilidade da espécie de impugnação recursal apresentada pela parte (recorrente) contra a decisão a ela desfavorável. É a observância do preenchimento dos requisitos legais para o exame do recurso pela instância recursal. Funciona como um filtro quanto à pertinência e o cabimento do recurso. II) JUÍZO DE MÉRITO (OU DE DELIBAÇÃO) – é o fundamento que se alega para fins de reforma ou anulação da decisão e que quase sempre (embora nem sempre) coincide com o mérito da ação penal. 2.5 PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL (condições ou requisitos) • São requisitos mínimos para o conhecimento do recurso pelo tribunal com competência revisional da matéria impugnada. I) PRESSUPOSTOS OBJETIVOS: a) Previsão legal (cabimento) b) Forma prescrita em lei c) Tempestividade d) Adequação e) Inexistência de fatos impeditivos f) Motivação • PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS: a) Interesse e sucumbência b) Legitimidade 2.5.1 PRESSUPOSTOS OBJETIVOS a) Previsão legal (cabimento) – está atrelado à taxatividade. É necessária a autorização da lei para se ter algum recurso como cabível. É necessária a previsão da existência do recurso. OBS 1: Para E. PACELLI o cabimento também inclui definição das condições de exercício de determinado recurso. OBS 2: As possibilidades de interposição de recursos são informadas pelo princípio da unirrecorribilidade. b) Forma prescrita em lei (observância das formalidades legais) • Deve ser compreendida através da regularidade formal da interposição (sem rigor excessivo em consonância com a instrumentalidade das formas) e pela correta formulação do pedido recursal. • O recurso que não obedece a forma de interposição exigida legalmente está sujeito a não ser recebido (juiz), a ter seu seguimento negado (decisão monocrática de tribunal) ou não ser conhecido (órgão colegiado). OBS: • Alguns recursos devem ser interpostos exclusivamente por petição, seguida de razões. Outros podem ser apresentados não só por petição, mas também por termo nos autos (art. 578, CPP): recurso em sentido estrito (art. 587, CPP) e apelação (art. 600, CPP). Formas de interposição válida de recurso: I) Perante o juízo singular (em processo de conhecimento ou execução): petição ou termo nos autos II) Perante órgãos colegiados: petição c) Tempestividade • É estabelecida com base no prazo para apresentação do recurso a partir da intimação da parte. • O prazo recursal é contado a partir da data em que se considera intimada a parte interessada da decisão. • O recurso deve ser interposto após a publicação da decisão. Atenção! • STJ, Súmula 418: “É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação”. *A Corte Especial, na sessão de 1º de julho de 2016, determinou o CANCELAMENTO da Súmula 418-STJ. NCPC: Art. 1.024, § 5º: Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de ratificação. Art. 218, § 4º: Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. Contagem de prazo: • É realizada com a exclusão do dia do início (dies a quo) e inclusão do dia final (dies ad quem), por se tratar de prazo de natureza processual • STF, Súmula 310: Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir. OBS: • Para o direito processual penal, diferentemente do cível, vigoram as regras do art. 798, CPP, que estatui que todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado. CPP Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado. § 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. § 2o A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém, considerado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em que começou a correr. § 3o O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato. § 4o Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária. § 5o Salvo os casos expressos, os prazos correrão: a) da intimação; b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a parte; c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despacho. d) Adequação • É aferida pelo acerto da via recursal escolhida e repercute no requisito subjetivo denominado interesse processual. • A parte deve manejar o recurso apropriado, o recurso exato previsto pela lei para o caso • OBS: A adequação não é um requisito inafastável, haja vista o princípio da fungibilidade recursal ( art. 579, CPP) e) Inexistência de fatos impeditivos • São fatos obstativos • Renúncia manifestada antes da interposição do recurso • Desistência (que tem que ser expressa) manifestada após a apresentação do recurso OBS: Art. 576, CPP – “O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto”. • Deserção: quando deixa de pagar as custas f) Motivação • No processo em geral, a regra é que os recursos delimitem a matéria impugnada e fundamentem a inconformidade, até mesmo para melhor atender ao princípio do contraditório. • OBS: Há casos em que a motivação é dispensada: interposição de recurso pelo réu pessoalmente (art. 577, CPP), interposição de recurso por termo nos autos (art. 578, CPP), apelação (art. 601, CPP) 2.5.2 PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS a) Interesse recursal – necessidade que a parte tem de querer modificar a decisão que lhe foi desfavorável (interesse/utilidade), para obter situação mais vantajosa • Em regra, falta interesse/utilidade quando o recurso é movido contra a motivação da sentença, haja vista que não se admite requerer tutela jurisdicional para obtenção de declaração doutrinária.Exceção: é aceito recurso contra motivação de sentença que absolve por insuficiência de provas (sem impedir ajuizamento de ação civil indenizatória). STF: • Súmula 283: “É INADMISSÍVEL O RECURSO EXTRAORDINÁRIO, QUANDO A DECISÃO RECORRIDA ASSENTA EM MAIS DE UM FUNDAMENTO SUFICIENTE E O RECURSO NÃO ABRANGE TODOS ELES”. OBS: • O Ministério Público pode recorrer, na condição de fiscal da lei (art. 127, CF), em favor do acusado, sem ser sucumbente. • Caso o MP recorra a favor do acusado e este também recorra contra a mesma porção da decisão (identidade de objeto recursal), deve o recurso ministerial ser julgado prejudicado. b) Legitimidade para recorrer • É a pertinência subjetiva que exige a sucumbência e a qualidade de ser parte da relação processual ou autorizado legal (para sujeito que não integre a relação jurídica recorrer) • Ex: assistente do MP OBS: Também possuem capacidade de ser parte: I. Pessoa jurídica (ex: entidades de defesa do consumidor propondo ação penal subsidiária da pública – art. 80, CDC) II. Entidades e órgãos da administração pública direta e indireta (art. 82, III, CDC) III. Massa falida IV. Herança vacante ou jacente e espólio (pessoas formais) V. Família (como assistente do MP, art. 268, CPP) AVALIAÇÃO • PROVA (7,0 pontos) Questões dissertativas: 4,0 pontos Questões objetivas: 3,0 pontos • TRABALHOS (3,0 pontos) 18/9/2018 – Entrega das atas ou certidões * Vara Criminal (audiência de instrução): 1,0 * Turma Recursal: 1,0 * Câmara Criminal: 1,0