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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PFN 2012
Perguntas e Respostas
Sumário
1.	Jurisdição: contenciosa e voluntária. Sirlaine (sirlaine@gmail.com)	3
2.	Órgãos da jurisdição. Antônio Menezes (antonio.jlmenezes@gmail.com)	5
3.	Ação: conceito e natureza jurídica. Condições da ação. Classificação das ações. Sirlaine (sirlaine@gmail.com)	5
4.	Processo. Conceito. Natureza jurídica. Princípios fundamentais. Pressupostos processuais. Carolina (coragemrs@yahoo.com.br)	7
5.	Procedimento ordinário e sumaríssimo. Larissa Misson (lcmisson@yahoo.com.br)	8
6.	Competência: absoluta e relativa. Rodolfo Cursino (dolfobc@gmail.com)	12
7.	Competência internacional. Homologação de sentença estrangeira. Carta rogatória. Mariana (maribnobrega@hotmail.com)	13
8.	Partes. Capacidade e legitimidade. Substituição processual. Mariana (maribnobrega@hotmail.com)	15
9.	Litisconsórcio. Assistência. Intervenção de terceiros: oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo. Ação regressiva. Rodolfo Cursino (dolfobc@gmail.com)	15
10.	Formação, suspensão e extinção do processo. Débora Faustino (deborafa5@hotmail.com)	18
11.	Petição inicial. Requisitos. Inépcia da petição inicial. Igor (irferreira@gmail.com)	19
12.	Pedido. Cumulação e espécies de pedido. Igor (irferreira@gmail.com)	21
13.	Atos processuais. Tempo e lugar dos atos processuais. Filipe.Sarpa (gandilson@hotmail.com)	22
14.	Comunicação dos atos processuais. Citação e Intimação. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)	22
15.	Despesas processuais e honorários sucumbenciais. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)	23
16.	Resposta do réu: exceção, contestação e reconvenção. Revelia. Efeitos da revelia. Mariana Sena (mspgv27@gmail.com)	25
17.	Julgamento conforme o estado do processo. Vanessa (vscarpamota@yahoo.com.br)..	26
18.	Audiência de Instrução e Julgamento. Janaína (janaspinelli@gmail.com)	28
19.	Prova. Princípios gerais. Ônus da prova. Cecília (cecilianrmorais@gmail.com)	28
20.	Sentença. Coisa julgada formal e material. Preclusão. Cumprimento de Sentença. Carol (carolstff@hotmail.com)	31
21.	Duplo grau de jurisdição. Recursos. Incidente de uniformização de jurisprudência. Felipe (felipealbc@gmail.com)	33
22.	Reclamação Constitucional e Correição Parcial. Carol Dorneles (coragemrs@yahoo.com.br)	44
23.	Ação Rescisória. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)	45
24.	Ação monitória. Danielle (parquetmg@yahoo.com.br)	49
25.	Liquidação de sentença. Execução. Regras gerais. Partes. Competência. Responsabilidade patrimonial. Bernadete (bernadetercortes@gmail.com)	50
26.	Título executivo judicial e extrajudicial. Luiz Araujo (luizemmga@gmail.com)	55
27.	Execução por quantia certa contra devedor solvente e contra devedor insolvente. Bernadete (bernadetercortes@gmail.com)	57
28.	Execução para entrega de coisa. Rubens (rubensqs@gmail.com)	61
29.	Execução de obrigação de fazer e de não fazer. Danielle (parquetmg@yahoo.com.br)..	62
30.	Execução contra a Fazenda Pública. Edilvani (edilvani@gmail.com)	63
31.	Embargos à Execução. Italo (italo_marani@hotmail.com)	66
32.	Ministério Público no processo civil. Antonio Carlos (acarlosguiraud@gmail.com)	67
33.	Ação civil pública e Ação popular. Suellen (suellenvilanova@gmail.com)	67
34.	Mandado de Segurança. Thiago Vale (thiagodovale@gmail.com)	70
35.	Mandado de Injunção. Gabriela Bogoewich (gabriela.bogoewich@gmail.com)	72
36.	Habeas Data. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)	74
37.	Ação declaratória. Declaratória incidental. Raissa (raissaqrios@gmail.com)	78
38.	Ação discriminatória. Saulo Paulo de Tarso Sena Lima (sauloptsl@gmail.com)	79
39.	Ação de Usucapião. Renato Saldunbides (resaldunbides@gmail.com)	80
40.	Ação de Consignação em Pagamento. Gabriela Bogoewich (gabriela.bogoewich@gmail.com)....	81
41.	Ação de despejo e renovatória. (denisebsza@gmail.com)	84
42.	Ação de Desapropriação. Filipe Leonardo (creuzebeck@gmail.com)	85
43.	Ações possessórias. Antonio Carlos Guiraud Santos (acarlosguiraud@gmail.com)	90
44.	Embargos de Terceiro. Gabriela Bogoewich (gabriela.bogoewich@gmail.com)	90
45.	Ação cível originária nos tribunais. Raissa (raissaqrios@gmail.com)	92
46.	Tutela antecipada e tutela específica. (priscila_martinho@yahoo.com.br)	93
47.	Medidas Cautelares. Silvia Pousas Navarro (silvinhapousas@gmail.com)	95
48.	Juizados Especiais. Italo Marani (italomarani@gmail.com).	101
49.	Execução Fiscal. Luiz Araujo (luizemmga@gmail.com)	102
1. Jurisdição: contenciosa e voluntária. Sirlaine (sirlaine@gmail.com)
 
P: Como a doutrina define jurisdição?
R: Atuação estatal visando à aplicação do direito objetivo ao caso concreto.
P: Parte da doutrina analisa a jurisdição sob três aspectos distintos: poder, função e atividade. Explique.
R: Entendida como poder, a jurisdição representa o poder estatal de interferir na esfera jurídica dos jurisdicionados, aplicando o direito objetivo ao caso concreto.
Como função, a jurisdição é encargo atribuído pela Constituição, em regra, ao poder judiciário - função típica - e, excepcionalmente, a outros poderes - função atípica.
Como atividade, a jurisdição é o complexo de atos praticados pelo agente estatal investido de jurisdição no processo.
P: A substitutividade é característica imprescindível da jurisdição?
R: A substitutividade é característica da jurisdição, mas sofre temperamentos. Isso porque nem sempre o Estado substituirá a vontade das partes. É o caso, por exemplo, das ações cautelares, em que não se objetiva a substituição das partes, mas o resultado útil do processo. A substitutividade somente existirá nos processos que fazem coisa julgada material, porque o que foi decidido será imposto de maneira definitiva.
Há autores que entendem não se tratar a substitutividade de característica essencial da jurisdição, por três motivos:
1 quando o juiz decide questões processuais, não há atividade substitutiva, muito embora haja jurisdição;
2 O mesmo ocorre nas decisões mandamentais, em que o Estado não substitui a vontade dos agentes, mas aguarda o cumprimento do provimento;
3 Seria apequenar demasiadamente a atividade jurisdicional imaginar que a jurisdição se limita a utilizar-se do modelo subsuntivo,puro e simples, sabendo que hoje a moderna concepção de atividade judicial avanca sobre novas formas de decidir.
P: A jurisdição se caracteriza pela lide? Há demandas sem lide? Em caso afirmativo, trata-se de jurisdição?
R: Na concepção clássica da jurisdição, a lide sempre se apresentou como a sua principal caracteristica. Entende-se por lide a pretensão de uma parte qualificada pela sua resistência pela outra parte. Carnelutti definiu jurisdição como a justa composição da lide, a qual pressupõe lesão a direito.
Todavia, embora a lide seja característica marcante na jurisdição, a doutrina aponta exemplos de demandas em que ela não está presente, como é o caso da ameaca de lesão (quando não há pretensao a ser resistida) e aquelas relatividade a um único sujeito (exemplo ação para alteração de nome). Para alguns doutrinadores, a ausência de lide não descaracterizaria a atividade como jurisdicional.
P: Quais são as características da jurisdição?
R: Substitutividade: restando vedada a autotutela, o Estado substitui a função, inicialmente pertencente às partes, de solucionar o conflito existente pela jurisdição, dizendo o direito no caso concreto. Isso porque é dever das partes cumprir a lei.
Imperatividade: a decisão proferida pelo Estado é imperativa e de observância compulsória.
Imutabilidade: as decisões jurisdicionais tendem à imutabilidade, não podendo mais ser discutidas. Objetiva-se evitar a eternização dos conflitos, como consequência da segurança jurídica. Mas nem todas as decisões são imutáveis. Apenas as decisões de mérito. As decisões sobre cautelar, relações continuativas e jurisdição voluntária não fazem coisa julgada.
Inafastabilidade: Art.5om XXXV da CF/88 - o Estado não pode negar decisão, uma vez provocado (non líquet)
Indelegabilidade: a atividade jurisdicional não pode ser delegada. Ressalte-se que a carta precatória
ou no pedido. Ocorre quando ausente pedido ou causa de pedir; se dos fatos narrados não se puder inferir logicamente o pedido; se o pedido for juridicamente impossível; ou se houver cumulação de pedidos incompatíveis.
É importante destacar que há na doutrina relevantes críticas ao tratamento dado pelo CPC ao assunto, especialmente quanto à hipótese de impossibilidade jurídica do pedido (Calmon de Passos e Fredie Didier, por exemplo). Nesses casos, o que haveria seria efetiva improcedência, em que há apreciação de mérito, e não extinção sem julgamento do mérito.
 
P: Diferencie improcedência ‘prima facie’ de inépcia
R: Improcedência ‘prima facie’ é o indeferimento da petição inicial com resolução de mérito. Ou seja, há o reconhecimento da improcedência do pedido no que se poderia chamar de julgamento liminar de mérito. Nesse sentido, ocorrerá coisa julgada material. Ocorre nos casos de reconhecimento de prescrição e decadência (CPC, art. 295, IV c/ art. 269, IV); no julgamento imediato de causas repetitivas (art. 285-A); e na rejeição liminar de embargos à execução manifestamente protelatórios (art. 739, III).
Por outro lado, no caso de inépcia há extinção do processo sem julgamento de mérito, não gerando coisa julgada material, mas apenas formal. Ou seja, refere-se à falta de um requisito processual.
 
P: É admissível a postulação oral?
R: Em regra, a petição inicial é um documento escrito. Como é cediço, a informatização processual tem permitido sua interposição por meios digitais. Porém, há situações em que se admite a postulação oral, como nos casos de demanda no Juizado Especial (art. 14 da Lei n.º 9.099/99), em que o pedido oral é reduzido a termo pela Secretaria do Juizado.
 
P: O art. 284 do CPC prevê a possibilidade de emenda da inicial no prazo de 10 dias. Esse prazo pode ser prorrogado pelo Magistrado?
R: A despeito da ausência de previsão legal, tem-se admitido que o prazo possa ser prorrogado pelo Juiz. Em tais casos, por economia processual (para que não resulte na propositura de nova demanda) e porque não há prejuízo ao réu (que nem citado foi), não há porque proibir a concessão de prazo mais elástico, desde que haja justificativa idônea. Nesse sentido já decidiu o STJ no REsp n.º 102.398/PR.
 
P: Os documentos que fundamentam a existência do crédito tributário (tais como o auto de infração, declarações apresentadas pelo contribuinte) devem instruir a petição inicial na Execução Fiscal?
R: Não. A Lei de Execuções Fiscais (Lei n.º 6.830/80) prevê que apenas a Certidão de Dívida Ativa deverá instruir a petição inicial (art. 14). A CDA é título executivo judicial (art. 585, VII do CPC), estando plenamente apta a embasar, por si só, a Execução Fiscal, não sendo exigível que seja acompanhada por outros documentos.
Ao Executado caberá, caso seja necessário à sua defesa, apresentar os documentos referentes à formação do crédito tributário por ocasião da propositura de Embargos à Execução. Caso o Executado não consiga obter tais documentos diretamente na repartição competente, poderá requerer que o juiz determine que a Fazenda Pública os disponibilize (art. 41 da LEF). Salienta-se, a propósito, que caso a repartição extravie o processo administrativo que fundamenta a CDA, o título não será mais exigível, por retirar do contribuinte a amplitude de defesa, nos termos da jurisprudência do STJ (REsp. 686.777/MG).
 
P: É possível a emenda da Certidão de Dívida Ativa?
R: Nos termos da Lei de Execuções Fiscais (Lei n.º 6.830/80) a CDA pode ser emendada ou substituída até a decisão de 1ª instância, restituindo-se ao Executado o prazo para Embargos (art. 2º, § 8º).
Também o CTN (art. 203) prevê a possibilidade de substituição da CDA nula (por omissão de quaisquer requisitos) até a decisão de 1ª instância como forma de sanar a nulidade.
Conforme a jurisprudência do STJ, a substituição antes da sentença não dá ensejo à condenação da Fazenda Pública em honorários advocatícios (por exemplo: REsp. 1106572/MG e REsp. 960.087/RS).
 
P: Quais os limites para substituição ou emenda da CDA, conforme a jurisprudência do STJ?
R: A substituição ou emenda presta-se apenas à correção de vícios formais ou materiais da CDA. Nesse sentido, não é possível a alteração do sujeito passivo, conforme definido na Súmula n.º 392 do STJ.
Também é vedada alteração decorrente de modificação do próprio lançamento do tributo (por exemplo, REsp. n.º 815.732/BA). Assim, é possível a alteração na remissão a dispositivos legais e mesmo o aumento no valor exigido em caso de erro material na atualização, por exemplo. Mas não seria possível aumentar o valor porque se verificou que, quanto à cobrança do IPTU, a área do imóvel era maior do que constava nos registros. Também não é viável adicionar outros períodos de apuração (REsp. 667.186/RJ).
 
P: Nos casos em que tenha sido extinta a ação por inépcia da petição inicial a citação promovida na ação extinta gera a interrupção da prescrição como previsto no art. 220 do CPC?
R: A extinção do processo por inépcia da inicial é caso de extinção sem julgamento de mérito. Mesmo nesses casos a citação tem o efeito de interromper a prescrição, pois a propositura da ação evidencia que o titular do direito não ficou inerte. É esse o entendimento do STJ, inclusive para caso específico de inépcia da inicial (REsp. 238.222/SP).
 
 
 Pedido. Cumulação e espécies de pedido. Igor (irferreira@gmail.com)
P: Explique cumulação própria e imprópria de pedidos.
R: Na cumulação própria o autor pretende que todos os pedidos sejam acolhidos. Em verdade, os pedidos são autônomos, de modo que cada um poderia ser objeto de uma ação, a cumulação se dá por economia processual.
Na cumulação própria simples não precedência lógica entre os pedidos. Na sucessiva, o acolhimento de um pedido pressupõe a procedência do anterior (por exemplo: declaração de inexistência de relação jurídica tributária com repetição de indébito).
Já a cumulação imprópria, como o próprio nome sinaliza, não é uma efetiva cumulação. Na verdade, são formulados vários pedidos, mas apenas um deles será acolhido (art. 289 do CPC).
Há cumulação imprópria eventual (ou pedidos subsidiários) quando o autor apresenta uma preferência entre os pedidos. O segundo será julgado apenas se o primeiro não for acolhido.
Por outro lado, é possível também a cumulação imprópria alternativa. O autor formula dois pedidos, sem indicar preferência, sendo que apenas um pode ser acolhido. Difere-se do pedido alternativo (art. 288 do CPC), pois não decorre de obrigação alternativa. Nesse caso, julgado procedente um dos pedidos, o autor não terá interesse jurídico para recorrer.
 
P: Quais os requisitos para a cumulação de pedidos?
R: Para que seja possível a cumulação o Juízo deve ser competente para conhecer todos os pedidos; os pedidos devem ser compatíveis entre si; e os pedidos devem ser adequados ao tipo de procedimento (ou o autor pode empregar o procedimento ordinário). Porém, nos casos em que o procedimento especial é obrigatório (isto é, que não constitua uma opção mais vantajosa para o autor), não será possível a referida conversão porque o procedimento é indisponível (por exemplo, inventário e partilha, desapropriação, etc.).
É importante destacar que no caso da incompetência relativa a rejeição da inicial em relação a um dos pedidos dependerá da apresentação de exceção de incompetência pelo réu. Ademais, mesmo no caso de incompetência relativa a cumulação poderá ser admitida (ainda que se oponha o réu) no caso de conexão entre os pedidos (art. 105 do CPC).
Note-se, ainda, que na cumulação imprópria é possível a incompatibilidade entre os pedidos (isto é, o autor pretende que apenas um deles seja atendido).
 
P: Na ação de consignação em pagamento o contribuinte tem a possibilidade de pedir o reconhecimento de que não há relação jurídico-tributária ou de que o valor devido deveria ser menor?
R: Não, conforme o CTN (§1º do art. 164) a ação de consignação só pode versar sobre o crédito que o consignante se dispõe a pagar. Caso o contribuinte discorde do valor cobrado
ou da própria existência de débito, deve ajuizar ação ordinária, conforme o entendimento do STJ (REsp. 10884/SP). A propósito, também não se presta a consignação em pagamento para obter parcelamento de débito tributário (REsp. 1012300/RS).
De todo modo, é o caso de destacar que há jurisprudência minoritária do STJ em sentido contrário (REsp. 496747/SC e REsp. 26156/SP), admitindo discussão do débito.
 
P: Conforme o art. 264 do CPC, após a citação a modificação do pedido depende do consentimento do réu. Por outro lado, o prazo para contestar só tem início após a citação de todos os réus (CPC, art. 241, III). No caso de processos com mais de um réu a citação de um é suficiente para que já não seja possível ao autor modificar o pedido?
R: Conforme a jurisprudência do STJ (REsp. 1170459/PE), a citação de um réu já é suficiente para estabilizar o processo (vedando a modificação do pedido ou da causa de pedir), pois caso contrário haveria considerável insegurança jurídica, pois deixaria o réu citado à mercê do autor. É também esse o entendimento de Cândido Rangel Dinamarco e Moniz de Aragão.
 
P: Nos casos de indeferimento da petição inicial, caso o autor interponha apelação o réu (ainda não citado) deverá ser citado para apresentar contra-razões ao recurso?
R: Não é necessária a citação do réu, pois o CPC determina a imediata remessa dos autos ao tribunal caso o Juiz não reconsidere sua decisão (art. 296, § único). Não haverá qualquer prejuízo ao contraditório, eis que no caso de provimento da apelação os autos deverão retornar à 1ª instância para que o réu seja citado para contestar.
De todo modo, não há óbice a que o réu se dê por citado e apresente contra-razões à apelação.
 
P: Diferencie pedido mediato de pedido imediato.
R: Pedido imediato é a providência jurisdicional pretendida pelo autor (a condenação, a declaração, a ordem, etc.). Pedido mediato é o bem da vida, o resultado prático que o autor espera obter.
 
P: Enumere diferentes espécies de pedido.
R: Dentre as espécies de pedido, pode-se mencionar: (i) pedido implícito: embora não explicitado na propositura da ação, compõe o objeto do processo por determinação legal (é o caso da correção monetária, dos juros legais, do ressarcimento das despesas processuais e honorários advocatícios, das prestações vincendas nas obrigações periódicas, etc.); (ii) pedido genérico: é vedado em regra mas pode ser apresentado em certos casos (conforme art. 286 do CPC: ações universais, em que o autor não possa individuar os bens demandados; se não for possível determinar em definitivo as conseqüências do ato/fato ilícito; ou se a determinação depender de ato a ser praticado pelo réu); (iii) pedido alternativo: quando a obrigação for alternativa (isto é, quando possa ser satisfeita uma entre duas ou mais prestações); (iv) pedido cominatório: é o requerimento para imposição de pena pecuniária para o descumprimento de obrigação de entregar coisa, prestar ou abster-se de ato ou tolerar atividade.
 Atos processuais. Tempo e lugar dos atos processuais. Filipe.Sarpa (gandilson@hotmail.com)
P: Os serventuários podem receber delegações para atos próprios da magistratura? O que são atos de mero expediente sem conteúdo decisório?
R: O juiz pode delegar ao servidor a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório. Os atos de mero expediente sem conteúdo decisório são aqueles que impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das partes.
P: O que são atos de mera irregularidade? Esses atos maculam o andamento do processo? Dê exemplos desses atos.
R: O ato meramente irregular é aquele que possui o vício de menor gravidade entre todas as imperfeições possíveis. A mera irregularidade é gerada pela inobservância de regra não relevante para considerações acerca da validade do ato. São advindos de exigências superficialmente formais, que não guardam relação com a formalidade do ato e a produção do resultado pretendido pelo autor. Essa mera irregularidade não gera a nulidade, considerando-se o ato praticado como um ato válido e eficaz. Portanto, esses atos meramente irregulares não têm o poder de macular o andamento processual, pois não trazem quaisquer prejuízos às partes. É considerada mera irregularidade a assinatura de petição em caneta que não de cor escura. Utilização de língua estrangeira na petição inicial, desde que não torne a petição incompreensível.
Comunicação dos atos processuais. Citação e Intimação. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)
 
P: Sobre o instituto da citação aborde: a) conceito (com eventual crítica doutrinária); b) efeitos; c) breve explanação sobre as suas modalidades; d) possibilidade de citação por edital em Execução Fiscal de acordo com a orientação do STJ.
R: a) Citação, conforme o conceito legal (art. 213 do CPC), é o ato que convoca o demandado para se defender. Parcela da doutrinária rechaça tal definição, por se confundir com o instituto da intimação (ciência a alguém para que se manifeste nos autos) (art. 234 do CPC). Por isso, a referida doutrina entende por mais adequado definir citação como o ato que integra o Réu na relação jurídica processual. Sob este entendimento, a intimação para resposta do Réu e a citação, que lhe integra na demanda, ocorreriam concomitantemente. Frise-se ainda que apenas o Réu é citado e uma única vez. Passando a ser sujeito inserido no processo, será intimado dos atos e termos processuais - assim como também o Autor. 
A citação válida é pressuposto de validade do processo para o Réu, ainda que se quede inerte quanto a sua defesa, restando revel ( vale dizer, não apresentando contestação).
b) O principal efeito da citação válida é integrar o Réu na relação processual. Ademais, provoca as seguintes consequências: I) indução à litispendência; II) prevenção do juízo (art. 219 do CPC); III) estabilização subjetiva da demanda; IV) torna a coisa litigiosa; V) interrupção da prescrição; e VI) constituição do devedor em mora. 
c) A citação pode ser real ou ficta. Na Real, o Réu é efetivamente citado. Dá-se através do correio (regra no ordenamento pátrio), do oficial de justiça ou por meio eletrônico.
Já a citação ficta consiste em presunção legal de que o Réu tomou ciência do processo, considerando-o integrado ao feito. Pode ser mediante edital ou por hora certa. Em tais casos, se o Réu não apresentar sua defesa, será designado curador especial que poderá apresentar contestação por negativa geral (exceção ao princípio da impugnação específica/ princípio da eventualidade/concentração).
d) É possível a citação por edital em Execução Fiscal, conforme previsão da própria lei que rege este processo (art. 8º, III, da LEF). O STJ tem entendimento sumulado (Súmula 414) de que as demais modalidades de citação devem restar frustradas antes de ser feita a citação por edital, ou seja, veda-se que esta via seja a primeira opção para integrar o Réu ao processo, de forma a melhor oportunizar o contraditório e a ampla defesa. Tal orientação decorre do próprio caráter ficto desta espécie de citação.
Todavia, não é necessário o exaurimento de todos os meios para localização do paradeiro do executado. Com efeito, há precedentes recentes do STJ que consideram legítima a citação por edital se, após uma única tentativa de citação por mandado, o oficial de justiça certificar que o executado não está mais no seu domicílio fiscal, na medida em que é obrigação legal do sujeito passivo tributário manter a Administração Fiscal informada de eventual mudança. Ressalte-se que esta desobediência de comando legal faz presumir, no caso da sociedade empresária, a sua dissolução irregular, gerando a incidência do art. 135, III, do CTN, que imputa a responsabilidade direta do seu sócio-gerente, permitindo que lhe seja redirecionada a execução. 
 
Despesas processuais e honorários sucumbenciais. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)
No tocante ao tratamento dado à Fazenda Pública como parte no processo, responda: 
P: Qual a sua sistemática de pagamento das
despesas processuais? Difere da aplicada aos particulares?
R: A regra geral entre particulares impõe que as despesas processuais do ato devem ser adiantadas pela parte a que incumbe realizá-lo (art. 19, caput, e §1º do CPC), sendo o vencedor da demanda ressarcido, ao final, por suas despesas. Destaque-se que o Autor deve também adiantar os custos pela diligência que o juiz determinar ou o Ministério Público requerer.
As despesas processuais se dividem em: a) custas – remuneração pela prestação de atividade jurisdicional –; b) emolumentos – remuneração pelos serviços cartorários não oficializados –; c) despesas em sentido estrito – remuneração de terceiros acionados para auxiliar a atividade jurisdicional. Custas e emolumentos possuem a natureza jurídica de taxa. 
No caso do ente público, há isenção de tais recolhimentos antecipados, cabendo ao Autor antecipá-los. Todavia, restando vencida na demanda, a Fazenda Pública deverá ressarcir o vencedor. Portanto, a prática dos atos judiciais do interesse do ente público independerá de preparo ou de prévio depósito.
No que tange às despesas processuais em sentido estrito, o ente público deve antecipar seu pagamento, conforme orientação do STJ, que as classifica como custas não estatais. Grife-se que a Fazenda Pública deve arcar antecipadamente com os gastos referentes ao deslocamento do oficial de justiça. Nesse sentido, em Execução Fiscal, embora o oficial de justiça integre o corpo funcional do Poder Judiciário, a ausência de depósito prévio do valor atinente às despesas com o deslocamento necessário ao cumprimento do ato judicial implica na oneração de terceiro estranho à relação jurídica processual instaurada entre a Fazenda Pública e o devedor. Este mesmo raciocínio aplica-se aos demais auxiliares da Justiça que são estranhos ao corpo funcional do Judiciário, caso do leiloeiro, do perito e do depositário.
P: A Fazenda Nacional goza de isenção ao litigar em foro da Justiça Estadual?
R: Não. Litigando em foro da Justiça Estadual, a Fazenda Nacional deve adiantar as despesas processuais, salvo se a o Estado membro lhe conceder isenção para tal fim. Esta orientação decorre do princípio constitucional de vedação da isenção heterônoma. 
Contudo, a Fazenda Nacional goza de isenção, no caso ações promovidas perante a Justiça Estadual, no exercício de jurisdição delegada (v.g. Execuções Fiscais), quanto às custas efetivamente estatais. Assim, apenas quando vencida, o ente público deve ressarcir as despesas que tiverem sido antecipadas pelo particular. Este entendimento tem sido reiterado pelo STJ (AgRg no REsp 1223379 e AgRg no RMS 34.838 julgados em 2012).
P: A isenção da Fazenda Pública aplica-se aos Conselhos de Fiscalização Profissional?
R: Não. Os Conselhos de Fiscalização Profissional, embora ostentem natureza jurídica de entidades autárquicas, não estão isentos do recolhimento de custas e do porte de remessa e retorno, por expressa disposição legal (Lei 9289/96).
P: Qual a natureza jurídica dos honorários advocatícios sucumbenciais? 
R: Os honorários advocatícios possuem a natureza jurídica de verba condenatória de caráter alimentar de responsabilidade do vencido na demanda, a serem pagas ao advogado da parte adversa.
P: Os honorários advocatícios de sucumbência quando vencedora a Fazenda Pública são de titularidade do seu procurador judicial? 
R: Existe celeuma doutrinária sobre a matéria. Em recentes julgados, o STJ considera que os honorários advocatícios de sucumbência não constituem direito autônomo do procurador judicial quando vencedora a Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ou as autarquias, as fundações instituídas pelo Poder Público, as empresas públicas, ou as sociedades de economia mista, visto que integram o patrimônio público da entidade.
P: Qual o critério de fixação dos honorários sucumbenciais quando vencido o ente público?
R: No que se refere aos honorários advocatícios sucumbenciais, quando vencida a Fazenda Pública, aplica-se a regra especial do art. 20, §4º, do CPC, que tem o propósito de preservar o erário. Destaque-se que, na fixação dos honorários, nesta hipótese, o magistrado pode adotar, como base de cálculo, o valor da causa ou da condenação, bem como um valor fixo, conforme juízo de equidade. Portanto, a fixação dos honorários, na hipótese, não está adstrita aos limites percentuais de 10% e 20%. Dessa forma, o sentenciante possui à disposição uma maior flexibilidade no arbitrio dos honorários advocatícios a serem pagos pela Fazenda Pública, de modo a que sejam cuidadosamente estudados, tornando, quanto possível, a condenação judicial menos onerosa aos cofres públicos. 
P: A parte pode dispor, em transação, dos honorários do seu advogado, nas causas em que figure a Fazenda Pública? 
R: Existe discussão sobre este tema. A Medida Provisória nº 2.226/2001 incluiu disposição na Lei nº 9.469/97, admitindo que acordo ou transação celebrada diretamente pela parte ou por intermédio de procurador para extinguir ou encerrar processo judicial, inclusive nos casos de extensão administrativa de pagamentos postulados em juízo, implicará sempre a responsabilidade de cada uma das partes pelo pagamento dos honorários de seus respectivos advogados, mesmo que tenham sido objeto de condenação transitada em julgado. Há críticas a esse preceito legal que concedem à parte o direito de dispor sobre honorários que pertencem ao seu patrono. Esta corrente entende como mais aconselhável que, após a sentença, a parte apenas transija na presença do seu advogado, salvo se a causa não envolver tais honorários. 
Como a norma trata de potencial violação à coisa julgada, por admitir transação de valores que integram o título executivo judicial, o STF suspendeu cautelarmente esta previsão.
O STJ editou a Súmula 488 considerando que este dispositivo legal não retroage para alcançar acordos ou transações celebrados em data anterior a sua vigência. 
Resposta do réu: exceção, contestação e reconvenção. Revelia. Efeitos da revelia. Mariana Sena (mspgv27@gmail.com)
P: Que princípios regem a contestação?
R: Princípio da eventualidade ou concentração de defesa: significa que tudo aquilo que o réu quiser alegar na sua defesa deve alegar na contestação. Por isso, o réu deve cumular defesas. Essa cumulação deve obedecer ao princípio da boa-fé. Portanto, devem ser defesas que possam coexistir. Ex.: alegação de pagamento e de prescrição. Esse princípio sofre dois tipos de mitigação:
a) Existem defesas que a lei impõe que sejam formuladas fora da contestação. Ex.: incompetência relativa, impedimento e suspeição.
b) Há defesas que podem ser formuladas após a contestação. Art. 303 do CPC
Princípio da impugnação específica dos fatos: ao elaborar a contestação, o réu tem o ônus de negar cada um dos fatos alegados pelo autor especificadamente. Fato não impugnado será havido como ocorrido. Esse princípio também sofre mitigação: art. 302, I, II, III e parágrafo único, CPC.
 
P: O que são defesa direta e indireta na contestação?
R: Na defesa direta, o réu nega a existência do fato ou da consequência jurídica dos fatos. Na defesa indireta o réu alega fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor.
 
P: A Fazenda Pública pode contestar por negativa geral?
R: Não, pois não há autorização legal para isso (Resp 635996/SP). Leonardo Carneiro da Cunha defende que sim, mas é posição isolada.
 
P: Qual a natureza jurídica da reconvenção?
R: Trata-se de demanda nova, em processo pendente. Em outras palavras, é uma demanda do réu contra o autor no mesmo processo em que o réu está sendo demandado. Ela é resposta do réu, não é defesa. É ação. Agrega um pedido novo a um processo que já existe. Se o juiz indeferir a petição inicial da reconvenção, caberá agravo de instrumento.
 
P: É possível substituição processual em reconvenção?
R: Nos termos do art. 315, parágrafo único, do CPC, pode, desde que a reconvenção seja voltada contra os substituídos. Todavia, o polo passivo é do substituto.
 
P: É possível ampliação
subjetiva na reconvenção?
R: Há controvérsia doutrinária, mas o entendimento que prevalece é que não pode (Resp 274763/GO). Porém, se for caso de litisconsórcio unitário no polo passivo da reconvenção, entende-se que pode.
 
P: Réu que não apresenta contestação, mas apresenta reconvenção é revel?
R: Não, pois a causa de pedir é a mesma da contestação. A reconvenção deve ser conexa (ter algum vínculo) com a ação principal ou com os fundamentos de defesa. Resp 735001/RJ: “É certo que, teor do artigo 299 do Código de Processo Civil, a contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente, em peças autônomas, o que leva a crer que, realmente, a reconvenção não dispensa a contrariedade ao pedido. Contudo, a questão não deve ser vista com rigor processual, se a reconvenção contém matéria que contradita os termos da inicial. Leia-se, para chegar a esta conclusão, o que prescreve o artigo 302, parte final, e o seu inciso III: segundo os dispositivos, não ocorre a presunção de veracidade dos fatos não impugnados pelo réu, se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto”.
 
P: Qual o prazo para a União reconvir?
R: Nos termos do art. 299 do CPC, a contestação e a reconvenção serão oferecidas simultaneamente. Portanto, o prazo para a interposição da reconvenção é o mesmo da contestação. Como a União é ente público, devemos utilizar o prazo em quádruplo, conforme prevê o art. 188 do CPC. Se o réu quiser contestar e reconvir, deverá fazer ao mesmo tempo, sob pena de preclusão consumativa.
 
P: Qual a diferença entre reconvenção e exceção?
R: A reconvenção é um novo pedido deduzido pelo réu, já a exceção é um pedido deduzido contra o juízo.
 
P: Quais os efeitos materiais e processuais da revelia?
R: Os efeitos materiais da revelia são a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor e não impugnados pelo réu. Já os efeitos processuais da revelia são a tramitação do processo independentemente de intimação do réu e a possibilidade de julgamento antecipado da lide.
 
P: Aplicam-se os efeitos da revelia contra a Fazenda Pública?
R: Não se aplicam os efeitos da revelia contra a Fazenda Pública. No entanto, em recente julgado, o STJ decidiu que os efeitos materiais da revelia não são afastados quando, mesmo citado, o ente público deixa de contestar o pedido do autor, sempre que não estiver em litígio contrato genuinamente administrativo, mas sim obrigação de direito privado firmada pela administração pública (REsp 1084745).
 
P: O que são exceções instrumentais?
R: São defesas formuladas em peça avulsa, distinta da contestação, que será autuada e processada separadamente. Dividem-se de duas formas: exceção de incompetência relativa e exceção de impedimento/suspeição. Na incompetência relativa, o excipiente (aquele que alega uma exceção) é sempre o réu e o excepto (contra quem se alega uma exceção) é sempre o autor. É por isso que a exceção de incompetência relativa é julgada pelo próprio juiz da causa, em decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento. Na exceção de impedimento ou suspeição, o excipiente pode ser o autor ou o réu. Pode ser acusado de parcialidade o órgão jurisdicional, o membro do MP, o perito e outros auxiliares da justiça (escrivão, intérprete, depositário etc.). Todas essas exceções instrumentais suspendem o processo. Porém, a exceção de impedimento/suspeição de membro do MP ou auxiliar da justiça não suspende o processo. Ela é julgada pelo próprio juiz da causa, em decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento. Já a arguição de impedimento ou suspeição de órgão jurisdicional será sempre julgada por tribunal. 
 Julgamento conforme o estado do processo. Vanessa (vscarpamota@yahoo.com.br)
P: Em que consiste o julgamento conforme o estado do processo?
R: O julgamento conforme o estado do processo consiste numa das seguintes decisões: extinção do processo com ou sem resolução de mérito (art.267 e art.269, II a V, CPC); julgamento antecipado da lide (art.330, CPC); ou, saneamento do processo, com a designação da audiência preliminar (art.331, CPC).
P: O art.330, inciso II do CPC admite o julgamento antecipado da lide no caso de revelia. Para tanto, basta a ausência de contestação?
R: Não basta a simples não apresentação da contestação para que o caso imponha o julgamento antecipado do mérito; é necessário que da não apresentação da contestação decorra o efeito da presunção de veracidade dos fatos articulados na petição inicial (efeito material da revelia – art.319, CPC).
P: Qual a diferença entre julgamento antecipado da lide (art.330, CPC) e a antecipação de tutela (art.273, CPC)?
R: O julgamento antecipado da lide é modalidade de julgamento conforme o estado do processo, proferido em sede de cognição exauriente e definitiva acerca da pretensão deduzida pela parte em juízo, enquanto que a tutela antecipada é concedida provisoriamente (deve ser confirmada na sentença), por meio de cognição sumária baseada em juízo de verossimilhança.
Outrossim, o julgamento antecipado da lide ocorre nas hipóteses em que a questão posta em juízo for unicamente de direito, ou, sendo de direito ou de fato não houver necessidade de produção de prova em audiência (art.330, I, CPC), ou ocorrer a revelia (art.330,II, CPC) com a produção de seu efeito material (presunção relativa da veracidade dos fatos alegados pelo autor). Estando diante de uma dessas situações, o juiz proferirá sentença de mérito, acolhendo ou rejeitando o pedido do autor, decidindo definitivamente a lide.
Na tutela antecipada, por sua vez, o órgão jurisdicional antecipa ao autor o que seria a ele concedido apenas no final do processo, desde que presentes os requisitos necessários à sua concessão, satisfazendo provisoriamente a pretensão deduzida em juízo. Não se trata de decisão definitiva de mérito, sendo necessária sua confirmação quando do julgamento final da lide.
P: É possível o julgamento antecipado da lide quando presente no feito a Fazenda Pública?
R: É perfeitamente possível o julgamento antecipado da lide quando presente no feito a Fazenda Pública. Nesse caso, com fundamento no inciso I do art.330 do CPC (a questão posta em juízo for unicamente de direito, ou, sendo de direito ou de fato não houver necessidade de produção de prova em audiência), tendo em vista que, apesar da possibilidade de se reconhecer a revelia da Fazenda Pública (pela ausência de contestação), contra ela não se produzirão seus efeitos, uma vez que o interesse tutelado pelo ente público é indisponível. Inclusive, a própria Lei nº 6830/80, em seu artigo 17 e parágrafo único prevêem tal possibilidade: “recebidos os embargos, o juiz mandará intimar a Fazenda, para impugná-los no prazo de 30 dias, designando, em seguida, audiência de instrução de julgamento. Parágrafo único: não se realizará audiência, se os embargos versarem sobre matéria de direito ou, sendo de direito e de fato, a prova for exclusivamente documental, caso em que o juiz proferirá a sentença no prazo de 30 dias”.
P: Quais são as hipóteses de extinção do processo com base no art.269, incisos II a V do CPC, referidas no art.329 do CPC (“ocorrendo qualquer das hipóteses previstas no artigo 267 e 269, II a V, o juiz declarará extinto o processo”)?
R: O art.269, nos seus incisos II a V, abre oportunidade para a extinção do processo com resolução de mérito quando: o réu reconhecer a procedência do pedido; as partes transigirem; o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição; e o autor renunciar ao direito sobre que se funda a ação. Note-se que essas hipóteses não implicam no julgamento da procedência ou improcedência do pedido.
P: Qual é a diferença entre o reconhecimento da procedência do pedido do autor e a confissão ou não contestação?
R: O reconhecimento da procedência do pedido do autor implica na admissão, pelo réu, de que o autor tem razão. O reconhecimento conduz à conclusão da existência do direito do autor, impedindo que o juiz julgue o pedido, já que o processo será encerrado com resolução de
mérito em vista de o réu ter admitido que o autor tem razão. Na confissão e na não contestação admite-se apenas um fato, o que não implica, automaticamente, em sentença de procedência.
P: Explique a diferença entre renúncia ao direito sobre que se funda a ação e desistência da ação.
R: Na renúncia, o autor abre mão do próprio direito material, dando ensejo à resolução do processo no mérito (art.269, V). No caso de desistência da ação, o autor apenas desiste de ver seu pedido apreciado pelo juiz, mas não abre mão de seu direito material, o qual poderá ser novamente pleiteado em juízo (art.267, VIII, CPC).
P: É possível que a Fazenda Pública, numa demanda contra ela proposta, reconheça a procedência do pedido do autor?
R: Não se tem admitido que a Fazenda Pública reconheça a procedência do pedido. Sendo indisponível o direito por ela tutelado não parece ser possível haver o reconhecimento da procedência do pedido. Ao invés disso, tem-se celebrado transações quando haja lei autorizativa.
P: Qual a finalidade da audiência preliminar?
R: Na audiência preliminar, designada se não for o caso de extinção do processo ou de julgamento antecipado da lide, deverá ser tentada a conciliação das partes, passando-se, diante de seu insucesso, à decisão das questões pendentes, à fixação dos pontos controvertidos, à definição do ônus da prova e à decisão sobre as provas que devem ser produzidas, designando-se, se necessário, audiência de instrução.
P: Qual é a natureza da decisão proferida no saneamento do processo?
R: Natureza de decisão interlocutória.
 
Audiência de Instrução e Julgamento. Janaína (janaspinelli@gmail.com)
P: Quais atos são praticados na audiência de instrução e julgamento?
R: Os atos de conciliação, instrução, debate e julgamento, com fases de predominância.
P: Haverá nulidade se não tentada a conciliação na audiência de instrução?
R: Não, porque a conciliação é dispensada, partindo-se para produção de prova, se improvável a composição. ( art. 331, §3º CC)
P: Para realização da conciliação é necessária a presença pessoal das partes?
R: Não, sendo possível a outorga de procuração com poderes especiais para conciliar, salvo se o procedimento for sumaríssimo ou se a parte for intimada pessoalmente para prestar depoimento.
P: A audiência de Instrução e Julgamento é obrigatória?
R: Segundo entendimento STJ,é desnecessária a audiência se inexistirem questões processuais pendentes ou pontos controvertidos a serem fixados.
P: Em qual ordem serão produzidas as provas na audiência de Instrução e Julgamento?
R: Frustada a conciliação, passa-se a instrução com produção de provas na seguinte ordem: 1. Perito e assistentes técnicos; 2. Depoimento do autor e depois do réu; 3. Testemunhas do autor e depois do réu. Tal ordem não é peremptória, podendo ser alterada desde que fundamentada.
P: Quais são as hipóteses em que a audiência pode ser adiada?
R: Por convenção das partes ( uma única vez) ou se não puder comparecer, por motivo justificado, perito, parte, testemunha e advogado, devendo o impedimento ser comprovado até a abertura da audiência sob pena de realização desta.
P: Remarcada a audiência é possível a reapresentação do rol de testemunhas?
R: STJ entende que sim, desde que respeitado o prazo mínimo de 10 dias anteriores à realização do ato processual e que a audiência não se tenha iniciado.
P: Após a instrução é obrigatória a abertura de prazo para as alegações finais?
R: STJ entende que, sob pena de nulidade da sentença, é obrigatório dar oportunidade as partes e ao Ministério Público para as alegações, no prazo de 20 minutos, sucessivamente, podendo ser prorrogado por mais 10 minutos a critério do juiz. Havendo litisconsorte ou terceiro, o prazo mais a prorrogação serão considerados como um todo e divididos em partes iguais entre eles. No caso da causa possuir questões complexas, o debate oral pode ser substituído por memoriais. Após as alegações, o juiz proferirá sentença no prazo de 10 dias.
Prova. Princípios gerais. Ônus da prova. Cecília (cecilianrmorais@gmail.com)
Fontes:
- Daniel Amorim Assumpção Neves, Manual de Direito processual civil.
- Fredie Didier, anotações de aula.
- Thatiane Piscitelli, anotações de aula.
P: Quais as espécies de prova no processo civil?
R: Quanto ao fato, a prova pode ser direta ou indireta. A prova direta é aquela destinada a comprovar justamente a alegação de fato que se procura demonstrar como verdadeira. Já a prova indireta é aquela destinada a demonstrar as alegações de fatos secundários ou circunstanciais, das quais o juiz, por um raciocínio dedutivo, presume como verdadeiro o fato principal. As provas indiretas são conhecidas como indícios. Indício é um fato que, uma vez provado, leva à presunção da ocorrência de outro fato.
Quanto ao sujeito, a prova pode ser pessoal (declaração feita por uma pessoa) ou real (constituída por meio de objetos e coisas).
Quanto ao objeto, as provas podem ser documentais, testemunhais e materiais. Prova documental é a afirmação de um fato escrita ou gravada. Prova testemunhal é toda prova produzida sob a forma oral. Prova material é qualquer outra, que não seja documental ou testemunhal.
Quanto à preparação, podem ser causais (produzidas no processo) ou pré-constituídas (formadas fora, geralmente antes mesmo da instauração da demanda).
P: O rol dos meios de provas trazido pelo CPC é restritivo?
R: Não. Os meios de prova previstos no diploma processual são meramente exemplificativos, conforme redação do art. 332: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”.
P: Quais questões ou fatos não serão objeto de prova?
R: Não serão objeto de prova questões:
(a) Referentes a fatos impertinentes ou irrelevantes à solução da demanda;
(b) Referentes a fatos notórios (art. 334, I, CPC);
(c) Referentes a alegações de fato não controvertidas (art. 334, II e III, CPC);
(d) de fatos em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade (art. 334, IV, CPC).
P: Diferencie presunção relativa de presunção absoluta.
R: Na presunção relativa é admitida a prova em sentido contrário, de forma que o fato presumido será considerado ocorrido pelo juiz desde que a parte contrária não produza prova que afaste tal presunção. Na presunção absoluta impede-se a produção da prova em sentido contrário. Trata-se de opção legislativa.
Como se pode notar, na presunção relativa a questão fática não é efetivamente excluída do objeto da prova, somente dispensando-se a parte que faz a alegação de produzir prova no sentido de convencer o juiz de sua alegação. Não há exclusão do objeto da prova, mas meramente uma inversão do ônus probatório, cabendo à parte que não alegou o fato convencer o juiz de sua não existência ou ocorrência. Exemplo: a certidão de dívida ativa goza de presunção de liquidez e certeza (art. 204, CTN).
P: O que é a prova do direito?
R: Embora a regra no tocante ao objeto da prova seja direcionada às alegações de fato, em algumas situações excepcionais pode ser exigida da parte a prova das alegações de direito. Exigir da parte a prova do direito é exigir a prova da existência e vigência da norma legal conforme invocada pela parte (art. 14, LINDB, e art. 337, CPC).
P: Qual o sistema de valoração da prova adotado pelo ordenamento processual brasileiro?
R: É o sistema da persuasão racional do juiz, também conhecido pelo princípio do livre convencimento motivado. O juiz é livre para formar seu convencimento, dando às provas produzidas o peso que entender cabível em cada processo, não havendo uma hierarquia entre os meios de prova. Contudo, o juiz deve motivar sua decisão através de argumentação racional, respeitar o contraditório, e não pode decidir contrariamente aos autos e às máximas da experiência.
Outros sistemas são citados pela doutrina.
No sistema do convencimento livre ou persuasão íntima, o órgão julgador aprecia as provas livremente, dando a elas o valor que entender de acordo
com a sua consciência, sem precisar justificar suas escolhas, podendo até decidir contra o conjunto probatório. Apesar desse sistema não encontrar espaço no mundo civilizado, ainda existe exemplo de aplicação atual: o julgamento perante o Tribunal do Júri.
No sistema da prova legal (prova tarifada), a carga probatória já vem preestabelecida em norma escrita, o juiz não tem poder de valorar as provas, sendo um simples matemático, pouco importando seu convencimento no caso concreto. Ainda sobrevivem no nosso ordenamento algumas regras de prova legal, como, por exemplo, o art. 401, CPC.
P: O que é preclusão pro uidicato?
R: Uma vez deferida a produção da prova e não havendo recurso contra tal decisão, ocorrerá a preclusão pro uidicato, exigindo-se do juiz a produção da referida prova, ainda que se convença de esta não ser mais necessária. Surge uma espécie de direito adquirido da parte à produção da prova.
P: Diferencie ônus subjetivo de ônus objetivo da prova.
R: A doutrina aponta dois sentidos para o ônus da prova. O primeiro, chamado ônus subjetivo, é uma regra de conduta dirigida às partes, que aponta qual sujeito deve demonstrar a existência ou inexistência daqueles fatos controvertidos no processo. O segundo aspecto, denominado ônus objetivo, é regra dirigida ao juiz, que indica como ele deverá julgar quando, pela análise do conjunto probatório, não formar seu convencimento. O ônus objetivo impõe-se como regra de julgamento devido à impossibilidade de declaração de non liquet, ainda que diante de dúvidas sobre as alegações de fato feitas pelas partes. Observe-se que a regra do ônus objetivo aplica-se apenas nas situações em que não se obtiver o êxito da prova. Sendo esta produzida satisfatoriamente, não importa por qual das partes ou se requerida de ofício, a regra não se aplicará e o julgador, tendo formado seu convencimento, aplicará o direito objetivo ao caso concreto. Isto decorre diretamente do princípio da comunhão da prova, segundo o qual a prova, uma vez produzida, passa a ser do processo, sendo irrelevante saber quem a trouxe.
P: O que é a teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova?
R: O Código de Processo Civil adotou uma distribuição estática do ônus da prova, isto é, definiu o encargo probatório de cada parte previamente, sem considerar as particularidades da demanda levada a juízo. Porém, essa regra geral tem-se mostrado inadequada para atender às necessidades reais do processo. Como reação à teoria da distribuição estática do ônus da prova, emergiu a teoria da distribuição dinâmica, segundo a qual a prova incumbe a quem tem condições de produzi-la, à luz das peculiaridades de cada caso.
P: Fale das espécies de inversão do ônus da prova.
R: A inversão do ônus da prova pode ser convencional, legal ou judicial.
A inversão convencional decorre de acordo de vontades e é prevista no parágrafo único do art. 333 do CPC. É nula quando recair sobre direito indisponível da parte ou tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. A inversão legal vem prevista expressamente em lei, não exigindo o preenchimento de requisitos legais no caso concreto. Na inversão judicial, cabe ao juiz analisar no caso concreto o preenchimento dos requisitos legais, como ocorre no art. 6º, VIII, do CDC.
P: Cite hipóteses em que se inverte o ônus da prova da responsabilidade do sócio, nos termos do art. 135 do CTN.
R: Em regra, o ônus da prova é da Fazenda. Mas há situações em que ele é invertido, transferido para o sócio-gerente:
1ª caso: mudança de domicílio fiscal sem comunicação aos órgãos competentes gera presunção de dissolução irregular da sociedade e inverte o ônus da prova da responsabilidade dos sócios, nos termos da súmula 435, STJ.
2º caso: sócio inscrito como responsável na certidão de dívida ativa. [Obs.: A Portaria PGFN 180/2010 disciplina as hipóteses de inclusão do nome do sócio em DA].
Em ambos os casos, temos uma consequência prática: a defesa do sócio apenas poderá ser feita em embargos à execução fiscal. Somente nos embargos há dilação probatória suficiente para produção da prova pelo sócio com a finalidade de elidir a presunção (STJ, Súmula 393).
Sentença. Coisa julgada formal e material. Preclusão. Cumprimento de Sentença. Carol (carolstff@hotmail.com)
 
P: Conceitue sentença:
R: É o ato pelo qual o juiz põe fim à fase de conhecimento ou ao processo, decidindo ou não o mérito da causa. A Lei nº 11.232/2006 alterou o CPC para definir a sentença como sendo o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269. Assim, pode não haver fim ao processo, mas apenas à fase de conhecimento, para posterior prosseguimento na fase de execução (processo sincrético).
 
P: Como se classificam as sentenças?
R: As sentenças se classificam em terminativas (que extinguem o processo sem julgamento do mérito) e de mérito. As sentenças de mérito se classificam em típicas (que resolvem e julgam o mérito) ou atípicas (artigo 269, II a V do CPC).
Com base no critério da eficácia preponderante, as sentenças de mérito de procedência se classificam ainda em:
A- DECLARATÓRIAS : Sentença que certifica a existência ou inexistência de uma relação jurídica ou a autenticidade ou falsidade de um documento (artigo 4º CPC). Outorgam ao autor a certeza jurídica e possuem eficácia ex tunc (ex: sentença declaratória de paternidade). Ressalte-se que as ações declaratórias são imprescritíveis, pois há direito à certeza jurídica sempre.
B- CONSTITUTIVAS: Sentença que cria, modifica e/ou extingue relações ou estados jurídicos. O bem jurídico concedido, tanto na declaratória quanto na constitutiva, não é um bem material. Possuem eficácia ex nunc. (ex: divórcio, interdição)
C- CONDENATÓRIAS: A condenatória propriamente dita envolve a condenação em dinheiro e é cumprida pelo artigo 475-J do Código de Processo Civil. Possuem eficácia ex tunc, mas limitadas ao fato.
D- MANDAMENTAIS: Aquela que é dirigida ao réu para que ele próprio cumpra a ordem. Possuem eficácia ex tunc, mas limitadas ao fato. Tal sentença utiliza de mecanismos de coação psíquica, pois pretende que o próprio réu cumpra a ordem (ex: pinte a sala sob pena de astreintes).
E- EXECUTIVAS: Aquelas em que o juiz emite a ordem para que o réu a cumpra. Nessa espécie de sentença, contudo, caso o réu não cumpra a ordem, o juiz determinará o cumprimento por ele (ex: desocupar o imóvel no despejo sob pena de execução forçada).
Ressalte-se, por fim, que essa classificação (quíntupla) foi trazida ao Brasil por Pontes de Miranda. Os processualistas mais tradicionais utilizam a classificação trinária (declaratórias, constitutivas e condenatórias). 
 
P: Em que consiste a preclusão e a denominada preclusão máxima?
R: A preclusão é a perda de uma faculdade processual, que se traduz na impossibilidade de praticar determinado ato processual. De acordo com a causa que gera tal impossibilidade, haverá a preclusão temporal, lógica ou consumativa: a preclusão temporal decorre da perda do prazo; a lógica ocorre pela prática de um ato incompatível com o ato processual; já a preclusão consumativa significa que, praticado um ato processual, não se pode praticá-lo novamente ou complementá-lo.
A preclusão máxima consiste na impossibilidade de alteração de uma decisão no mesmo processo (quando não for mais cabível qualquer recurso).
 
P: Existe preclusão pró judicato?
R: A preclusão pró judicato, que consiste na perda, pelo juiz, da possibilidade de praticar um ato processual, somente existe em relação à preclusão lógica e consumativa. Assim, não há preclusão pró judicato temporal.
 
P: Explique em que consiste a coisa julgada formal e material:
R: A coisa julgada formal corresponde à preclusão máxima e só é qualificada pela imutabilidade da decisão dentro do mesmo processo, não impedindo a repropositura da ação, exceto: no caso de coisa julgada anterior, litispendência e perempção, conforme artigos 267, V, e 268 do Código de Processo Civil.
O conceito de coisa julgada material está no artigo 467 do CPC (Denomina-se coisa julgada material
a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário). Contudo, embora o CPC afirme ser a coisa julgada material eficácia da sentença, Liebman e a doutrina uníssona afirmam que a coisa julgada não é um efeito, mas sim uma qualidade da sentença não mais sujeita a recurso.
Há quem diga ainda que há coisa soberanamente julgada quando ocorre o transcurso do prazo para ajuizamento de ação rescisória.
 
P: Quais são os limites da coisa julgada? Explique-os:
R: Limites Subjetivos: Dizem respeito a quais as pessoas que são atingidas pela coisa julgada (quem não pode mais discutir a questão) e estão especificados no artigo 472 do CPC (A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros).
Os limites subjetivos podem ser analisados, ainda, da seguinte forma:
· Coisa julgada inter partes: a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. O terceiro pode ser alcançado pelos efeitos naturais da sentença (ex.: nas ações de estado), mas não pela imutabilidade e indiscutibilidade que emanam da coisa julgada, visto que a autoridade da coisa julgada atua apenas para as partes da relação processual.
· Coisa julgada erga omnes: excepcionalmente, a coisa julgada pode ser aplicada erga omnes, vinculando a todos.
· Coisa julgada ultra partes: a coisa julgada extrapola quem não foi parte, mas atingindo somente algumas pessoas e não todas as pessoas. É uma eficácia menos abrangente do que a coisa julgada erga omnes .
 Limites Objetivos: Dizem respeito ao que não pode mais ser discutido no processo. O artigo 469 do CPC dispõe que não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Em síntese, tal artigo determina que o dispositivo da sentença não pode mais ser discutido. Contudo, há conteúdo no dispositivo que não constitui decisão em sentido estrito. Assim, apenas a decisão que corresponde ao pedido (princípio da congruência) e que conste do dispositivo não pode ser mais discutida.
 
P: O artigo 741, II, do CPC estabelece que, na execução contra a Fazenda Pública, os embargos poderão versar sobre inexigibilidade do título. O parágrafo único de tal dispositivo, com redação dada pela Lei n. 11.232/2005, estabeleceu que: Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. Relacione tal dispositivo com o conceito de coisa julgada a fim de determinar a abrangência do parágrafo único do artigo 741 do CPC.
R: O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial 1189619 PE, julgado em 25/08/2010, DJe 02/09/2010, pela sistemática do artigo 543-C do CPC (recurso repetitivo), decidiu que:
“ O art. 741, parágrafo único, do CPC, atribuiu aos embargos à execução eficácia rescisória de sentenças inconstitucionais. Por tratar-se de norma que excepciona o princípio da imutabilidade da coisa julgada, deve ser interpretada restritivamente, abarcando, tão somente, as sentenças fundadas em norma inconstitucional, assim consideradas as que: (a) aplicaram norma declarada inconstitucional;(b) aplicaram norma em situação tida por inconstitucional; ou c) aplicaram norma com um sentido tido por inconstitucional. 2. Em qualquer desses três casos, é necessário que a inconstitucionalidade tenha sido declarada em precedente do STF, em controle concentrado ou difuso e independentemente de resolução do Senado, mediante: (a) declaração de inconstitucionalidade com ou sem redução de texto; ou (b) interpretação conforme a Constituição. 3. Por consequência, não estão abrangidas pelo art. 741, parágrafo único, do CPC, as demais hipóteses de sentenças inconstitucionais, ainda que tenham decidido em sentido diverso da orientação firmada no STF, tais como as que: (a) deixaram de aplicar norma declarada constitucional, ainda que em controle concentrado; (b) aplicaram dispositivo da Constituição que o STF considerou sem auto-aplicabilidade; deixaram de aplicar dispositivo da Constituição que o STF considerou auto-aplicável; e (d) aplicaram preceito normativo que o STF considerou revogado ou não recepcionado. 4. Também estão fora do alcance do parágrafo único do art.741 do CPC as sentenças cujo trânsito ao em julgado tenha ocorrido em data anterior à vigência do dispositivo (...)”
 
P: O que é execução provisória de sentença? Aplica-se a multa de 10% do artigo 475-J do CPC à execução provisória?
R: Nos termos do artigo 475-I, parágrafo primeiro, do CPC, “ é definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo.
A execução provisória jamais se inicia de ofício, porque constitui um risco do credor. No primeiro grau, em regra, é requerida no juízo que proferiu a sentença e, atualmente, é feita por meio de cópias do processo (artigo 475-o, parágrafo terceiro, CPC). Em termos gerais, a execução provisória faz-se da mesma forma que a definitiva. A diferença mais expressiva entre a execução provisória e a definitiva é a exigência da caução para o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado (artigo 475-O, III, do CPC). Essa caução é relativa e é dispensada, basicamente, em dois casos:
a) crédito de até 60 salários de verba alimentar ou decorrente de ato ilícito e comprovado estado de necessidade (requisitos cumulativos);
b) se o único recurso cabível for agravo nos próprios autos do artigo 544 CPC (agravo ao STJ ou STF), salvo quando a dispensa puder causar grave dano de difícil ou incerta reparação.
De acordo com o entendimento do STJ, não se aplica a multa do artigo 475-J do CPC ao cumprimento de sentença provisório (REsp 982.173/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/09/2012, DJe 03/10/2012).
 
P: Qual o meio de defesa no cumprimento de sentença? Explique.
R: A defesa no cumprimento de sentença se faz por impugnação, a ser oposta no prazo de 15 dias da intimação do advogado da penhora. No caso de garantia do débito por depósito em dinheiro, o STJ entende que o prazo se inicia automaticamente na data do depósito. A natureza jurídica da impugnação é de incidente processual e pressupõe prévia garantia do juízo. A cognição na impugnação é parcial (há limitação da matéria que pode ser conhecida – artigo 475-L do CPC). A impugnação não tem efeito suspensivo, em regra, mas poderá ser concedido efeito suspensivo em caso de perigo de dano. Contra a decisão que resolve a impugnação cabe agravo de instrumento. Contudo, se a impugnação for acolhida para extinguir a execução, o recurso cabível será a apelação.
Duplo grau de jurisdição. Recursos. Incidente de uniformização de jurisprudência. Felipe (felipealbc@gmail.com)
P: O duplo grau de jurisdição é uma garantia constitucional?
R: Princípio do Duplo Grau de Jurisdição: o duplo grau de jurisdição consiste em estabelecer possibilidade de a decisão judicial ser reapreciada por órgão de jurisdição, normalmente de hierarquia superior à daquele que a proferiu, o que se faz de ordinário pela interposição de recurso. Todavia, não é necessário que o segundo julgamento seja conferido a órgão diverso ou de categoria hierárquica superior à daquele que realizou o primeiro exame.
Discute-se na doutrina se o duplo grau de jurisdição é ou não uma garantia constitucional: Para Fredie Didier o principio do duplo grau de jurisdição
não é uma garantia constitucional, sendo possível haver exceções ao princípio, podendo a legislação infraconstitucional restringir ou até mesmo eliminar recursos em casos específicos. Marinoni, no mesmo sentido, aduz, em conclusão, que é correto afirmar que o legislador infraconstitucional não está obrigado a estabelecer, para toda e qualquer causa, uma dupla revisão em relação ao mérito, principalmente porque a Constituição Federal garante a todos o direito à tutela jurisdicional tempestiva, direito este que não pode deixar de ser levado em consideração quando se pensa em garantir a segurança da parte através da instituição da dupla revisão.
Veja-se que o duplo grau de jurisdição impõe que qualquer decisão judicial, da qual possa resultar algum prejuízo admita a revisão judicial por outro órgão pertencente ao Judiciário. Há inúmeras exceções, como sentenças proferidas em execuções fiscais de até 50 OTN e nas ações de competência originária do STF. Por isso é majoritário que é princípio constitucional implícito não absoluto, extraído da organização do Poder Judiciário de forma hierarquizada na CF e do inciso LV do art. 5º da CF, a saber: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
 
P: O que vem a ser o Princípio da Dialeticidade dos Recursos?
R: O recurso somente será admissível se o procedimento utilizado pautar-se estritamente pelos critérios descritos em lei.
Além disso, pelo princípio da dialeticidade, exige-se que todo recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte não apenas manifeste sua inconformidade com ato judicial, mas também, e necessariamente, INDIQUE OS MOTIVOS DE FATO E DE DIREITO PELOS QUAIS REQUER O NOVO JULGAMENTO. Não basta que se interponha recurso pedindo reforma porque com a decisão não se concorda.
Deve-se dizer exatamente os motivos que embasam a discordância. Trata-se, em síntese, da fundamentação do recurso.
 
P: Qual a natureza jurídica da suspensão de segurança?
R: (Material do MPF) - A suspensão de segurança, conquanto o nome pareça indicar ser instituto próprio do Mandado de Segurança, trata-se de medida utilizável em vários tipos de ações, e é manejada para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Compete ao Presidente do Tribunal ao qual seria encaminhado eventual recurso julgar a suspensão da segurança, que se indeferido, possibilitará novo pedido de suspensão perante o Presidente do Tribunal competente para julgar eventual Recurso Especial ou Extraordinário. Esse instituto é incidental, não possui prazo para a sua utilização nem previsão de procedimento específico, podendo ser utilizada por meio de petição ou no bojo do recurso cabível. Não discute o mérito, pelo que nunca poderá ser atacada via ação rescisória. Sobre a manutenção da decisão concessiva da suspensão de segurança, ver a Súmula 626 do STF.
Cabe em todas as hipóteses em que se concede provimento de urgência contra a Fazenda Pública ou quando a sentença contém efeitos imediatos, por ser impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo.
 
P: EMAGIS – 2011/39 – QUESTÃO 01. Cabe pedido de suspensão de segurança contra acórdão de Tribunal de Justiça, publicado após a introdução da sistemática da repercussão geral (CPC, art. 543-A), que trata de questão cuja repercussão geral fora negada pelo Supremo Tribunal Federal?
R: Ante a inexistência de repercussão geral da matéria, o Plenário desproveu agravo regimental interposto de decisão do Presidente, na qual negado seguimento a pedido de suspensão de segurança.
Impugnava-se, na espécie, acórdão de tribunal de justiça estadual publicado posteriormente à exigência do requisito de repercussão geral no recurso extraordinário. Consignou-se que a repercussão geral da questão — relativa à equiparação entre procuradores autárquicos e procuradores de Estado para fins de cálculo do teto remuneratório — fora rejeitada no RE 562581/SP (DJe de 22.2.2008).􀍒SS 4394/SP, rel. Min. Presidente, 14.9.2011. (SS-4394).
Nesse caso, foi interposto MS e provido. Como a situação não tinha repercussão geral, sendo inadmissível RE, seria uma forma transversa de impedir os efeitos do writ o pedido de suspensão de segurança.
 
P: Qual recurso cabível das decisões proferidas em consequência da aplicação da Lei n.º 1.060/50 (Assistência Judiciária)?
R: O pedido de assistência judiciária pode ser formulado antes da propositura da ação, no ato da propositura ou no curso dela.
Formulado antes da propositura da ação, o juiz nomeia o advogado que patrocinará a causa do necessitado (Lei 1.060/50, art. 5º, parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º). Requerido na petição inicial, é apreciado de plano pelo juiz, se não tiver razões para indeferi-lo desde logo. (art. 5º, caput). Formulado no curso da ação, a respectiva petição é autuada em apartado, não suspendendo o processo (art. 6º).
Cabe agravo de instrumento da decisão que, de plano, concede ou nega o benefício da assistência judiciária, por se tratar de decisão interlocutória. Concedido ou negado o benefício antes da propositura da ação, ou no curso dela, em procedimento paralelo, cabe apelação, conforme dispõe o artigo 17 da Lei 1.060/60.
Também cabe apelação da decisão que julga o incidente de impugnação a que se refere o artigo 4º, § 2º, da Lei 1.060/50.
 
P: Se o juiz se reconhece suspeito ou impedido, cabe recurso da parte que não opôs exceção?
R: Segundo Calmon de Passos (que modificou sua posição anterior quanto ao tema) não, pois não há gravame para a parte perdedora (só haveria se o juiz substituto fosse suspeito ou impedido; porém, se isso ocorrer, a parte pode excepcionar o novo juiz, não havendo, pois, prejuízo).
O ilustre jurista esclareceu bem seu ponto de vista acerca da questão em parecer por ele oferecido perante o Tribunal de Justiça da Bahia, cujo excerto se transcreve a seguir: "Sem gravame não há recurso e gravame é o prejuízo (jurídico) que advirá para a parte com a decisão que lhe foi desfavorável. Se o juiz se afirma suspeito, de ofício, e remete o processo para seu substituto legal, nenhum prejuízo jurídico ocasiona à parte, porque o foro e o juízo competente não se alteram, somente ocorrendo a modificação física da pessoa do juiz. Por igual no caso do impedimento. O foro e o juízo perduram; muda-se o juiz pessoa física, no caso concreto.Único gravame possível só o de ser suspeito ou impedido o substituto legal, mas neste caso o modo correto de afastar o gravame (prejuízo em sentido lato) é o oferecimento da exceção adequada para recusa deste segundo juiz. E se o substituto nem é impedido, nem é suspeito, ele é subjetivamente capaz, nada sendo lícito à parte reclamar. Admitir-se recurso nessas hipóteses seria aceitar-se a existência de um direito da parte a ser julgada por determinado juiz (pessoa física) e não pelo juiz competente e compatível, que é a garantia assegurada em lei."
Moacyr Amaral Santos, por sua vez, é de opinião diversa, entendendo que "Do despacho do juiz que se reconhecer impedido ou suspeito, que corresponde a uma decisão, cabe o recurso de agravo!" .
 
P: É certo dizer que de toda sentença cabe apelação, explique?
R: Não, pois nos juizados especiais da sentença cabe recurso inominado; na execução fiscal da sentença cabe embargos infringentes; e nas as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País, cabe ROC para o STJ (recurso ordinário constitucional).
 
P: Explique o princípio da dialeticidade, da sigularidade, dos recursos no processo civil?
R: Dialeticidade: Todo recurso deve ser fundamentado, ele consiste no dever do recorrente de indicar todas as razões de direito e de fato que dão base ao seu recurso, visto ser impossível o tribunal avaliar os vicios existentes na decisão de primeiro grau (error in judicando e error in procedendo), sem que sejam apresentadas todas as razões.
Singularidade: O princípio da singularidade, também
conhecido como princípio da unicidade recursal, nos informa que existe apenas um recurso adequado para para cada ato judicial, não podendo ser interposto mais de um recurso para que se obtenha a reforma de uma mesma decisão.
 
P: O que é a teoria da causa madura? Ela se aplica a todo e qualquer recurso? Sua aplicação é automática ou depende de pedido? Qual o entendimento do STJ e do STF?
R: Art. 515 do CPC: A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.
Existe uma posição doutrinária que aduz que essa teoria seria uma regra de teoria geral dos recursos, não sendo apenas da apelação. Contudo, o STJ e STF vêm rotineiramente dizendo o contrário, decidindo que não cabe no ROC e nem no Resp. OBS: CABE NO RECURSO INOMINADO.
O STJ entende que sua aplicação independe de pedido.
Além disso, é inaplicável em sede de mandado de segurança:
Inaplicabilidade da Teoria no Mandado de Segurança
Informativo 610
RMS e art. 515, § 3º, do CPC
O art. 515, § 3º, do CPC não se aplica em sede de mandado de segurança [“Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. ... § 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento”]. Com base nessa orientação, a 1ª Turma proveu recurso extraordinário para reformar decisão do STJ e determinar o retorno dos autos ao TJDFT para que julgue a demanda como entender de direito. Na espécie, o STJ, ao adentrar a matéria de fundo e prover o recurso ordinário no mandado de segurança, teria afastado a decisão que, na origem, julgara extinto o processo sem julgamento de mérito. Consignou-se que em jogo o devido processo legal, cerne do Estado Democrático de Direito, a direcionar a legislação comum. Asseverou-se que não se poderia transportar para o recurso ordinário constitucional o que previsto no art. 515 do CPC — sobre o recurso de apelação, sempre direcionado contra decisão de juízo e não de Tribunal — e que, ao aplicá-lo, teria havido supressão de instância. (STF, 1T, RE 621.473/DF)
Veja bem: o STF não permitiu a aplicação da teoria da causa madura porque se tratou de recurso ordinário constitucional para o STJ, e não de apelação. Se fosse o caso de apelação em mandando de segurança, tem sim aplicabilidade a teoria da causa madura, desde que o impetrado já tenha sido notificado e prestado as informações devidas.
 
P: Discorra sobre a teoria do recurso prematuro e o posicionamento dos tribunais.
R: Recurso prematuro é o recurso interposto antes do início da fluência do prazo.
O STF já afirmou que recurso interposto antes do prazo (antes da intimação da decisão) é intempestivo (Fredie Didier entende que a posição é irrazoável: se o recurso foi interposto, o recorrente dera-se por intimado da decisão independentemente de publicação). MAS o próprio STF (e também o STJ) tem precedentes em sentido contrário, admitindo como tempestivo recurso interposto antes do início da fluência do prazo. 
O entendimento majoritário do STF (Pleno, MS 27623 MC-AgR-AgR/DF, DJ 27.02.2009; 2ª Turma, AI 730073 AgR/MG, DJ 17.092010) era no sentido de que o prazo para recorrer só começa a fluir com a publicação da decisão no órgão oficial, sendo prematuro o recurso que a antecede. O STJ (Corte Especial, Resp 776265/SC) segue linha parecida, porém tem este tribunal admitido o recurso prematuro, desde que reiterado ou ratificado no prazo recursal (AgRg no Ag 1261221/PE, DJ 04.05.2010; AgRg no Ag 1292133 / PR, DJ 17.09.2010).
Ocorre que, em recente decisão, o STF mudou de entendimento. (Informativo n. 665, que abrange o período de 07 a 11 de maio de 2012).
Trata-se de acórdão proferido no HC n. 101.132/MA, cujo redator é o Ministro Luiz Fux. Eis a ementa da decisão:
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO INTERPOSTO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO. CONHECIMENTO. INSTRUMENTALISMO PROCESSUAL. PRECLUSÃO QUE NÃO PODE PREJUDICAR A PARTE QUE CONTRIBUI PARA A CELERIDADE DO PROCESSO. BOA-FÉ EXIGIDA DO ESTADO-JUIZ. DOUTRINA. RECENTE JURISPRUDÊNCIA DO PLENÁRIO. MÉRITO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO E CONTRADIÇÃO. INEXISTÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E REJEITADO.
1. A doutrina moderna ressalta o advento da fase instrumentalista do Direito Processual, ante a necessidade de interpretar os seus institutos sempre do modo mais favorável ao acesso à justiça (art. 5º, XXXV, CRFB) e à efetividade dos direitos materiais (OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O formalismo-valorativo no confronto com o formalismo excessivo. In: Revista de Processo, São Paulo: RT, n.º 137, p. 7-31, 2006; DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009; BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Efetividade do Processo e Técnica Processual. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 2010).
2. A forma, se imposta rigidamente, sem dúvidas conduz ao perigo do arbítrio das leis, nos moldes do velho brocardo dura lex, sed lex (BODART, Bruno Vinícius Da Rós. Simplificação e adaptabilidade no anteprojeto do novo CPC brasileiro. In : O Novo Processo Civil Brasileiro Direito em Expectativa. Org. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 76).
3. As preclusões se destinam a permitir o regular e célere desenvolvimento do feito, por isso que não é possível penalizar a parte que age de boa-fé e contribui para o progresso da marcha processual com o não conhecimento do recurso, arriscando conferir o direito à parte que não faz jus em razão de um purismo formal injustificado.
4. O formalismo desmesurado ignora a boa-fé processual que se exige de todos os sujeitos do processo, inclusive, e com maior razão, do Estado-Juiz, bem como se afasta da visão neoconstitucionalista do direito, cuja teoria proscreve o legicentrismo e o formalismo interpretativo na análise do sistema jurídico, desenvolvendo mecanismos para a efetividade dos princípios constitucionais que abarcam os valores mais caros à nossa sociedade (COMANDUCCI, Paolo. Formas de (neo)constitucionalismo: un análisis metateórico. Trad. Miguel Carbonell. In: Isonomía. Revista de Teoría y Filosofía del Derecho, nº 16, 2002).
5. O Supremo Tribunal Federal, recentemente, sob o influxo do instrumentalismo, modificou a sua jurisprudência para permitir a comprovação posterior de tempestividade do Recurso Extraordinário, quando reconhecida a sua extemporaneidade em virtude de feriados locais ou de suspensão de expediente forense no Tribunal a quo (RE nº 626.358-AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, julg. 22/03/2012).
6. In casu : (i) os embargos de declaração foram opostos, mediante fac-símile, em 13/06/2011, sendo que o acórdão recorrido somente veio a ser publicado em 01/07/2011; (ii) o paciente foi denunciado pela suposta prática do crime do art. 12 da Lei nº 6.368/79, em razão do alegado comércio de 2.110 g (dois mil cento e dez gramas) de cocaína; (iii) no acórdão embargado, a Turma reconheceu a legalidade do decreto prisional expedido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão em face do paciente, para assegurar a aplicação da lei penal, em razão de se tratar de réu evadido do distrito da culpa, e para garantia da ordem pública; (iv) alega o embargante que houve omissão, porquanto não teria sido analisado o excesso de prazo para a instrução processual, assim como contradição, por não ter sido considerado que à época dos fatos não estavam em vigor a Lei nº 11.343/06 e a Lei nº 11.464/07.
7. O recurso merece conhecimento, na medida em que a parte, diligente, opôs os embargos de declaração mesmo antes da publicação do acórdão, contribuindo para a celeridade processual.
8. No mérito, os embargos devem ser rejeitados, pois o excesso de prazo não foi alegado na exordial nem apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça, além do que a Lei nº 11.343/06 e a Lei nº 11.464/07 em nada interferem
no julgamento, visto que a prisão foi decretada com base nos requisitos do art. 312 do CPP identificados concretamente, e não com base na vedação abstrata à liberdade provisória, prevista no art. 44 da Lei de Drogas de 2006.
9. Embargos de declaração conhecidos e rejeitados”.
OBS: Carga dos autos e ciência inequívoca da decisão: STJ recentemente assim manifestou-se: “A contagem do prazo recursal dá-se a partir da ciência inequívoca por meio de carga nos autos apenas quando esta for anterior à intimação por publicação oficial.” (AgRg no AREsp 62.186/PI, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 28/06/2012).
No âmbito do STJ, ainda, verificar a Súmula n. 418: “é inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação.”
 
P: Qual(is) o(s) recurso(s) cabível(is) nas decisões proferidas nas execuções fiscais de valor igual ou inferior a 50 ORTN?
R: Os embargos infringentes de alçada são recorríveis por meio de embargos de declaração e dos embargos infringente dirigidos ao mesmo juízo. Dessa decisão, cabe recurso extraordinário.
Conceito: Lei n. 6.830/80, art. 34: recurso cabível contra sentenças de primeira instância proferidas em execução fiscais de valor igual ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações do Tesouro Nacional – OTN. 
Outros aspectos:
Considerar-se-á o valor da dívida monetariamente atualizado e acrescido de multa e juros de mora e demais encargos legais, na data da distribuição.
Os embargos infringentes, instruídos, ou não, com documentos novos, serão deduzidos, no prazo de 10 (dez) dias perante o mesmo juízo, em petição fundamentada.
Ouvido o embargado, no prazo de 10 (dez) dias, serão os autos conclusos ao juiz, que, dentro de 20 (vinte) dias, os rejeitará ou reformará a sentença (possível o juízo de retratação).
Frise-se novamente: da decisão proferida cabe recurso extraordinário para o STF, desde que presente os seus pressupostos de cabimento (art. 102, III. CF), além da repercussão geral (não cabe o recurso especial, o qual exige que a decisão recorrida seja de tribunal).
21.12 A apelação não tem efeito suspensivo quando decidir o processo cautelar; e se o juiz julgar o processo cautelar e a ação principal numa mesma sentença?
Depende do capítulo impugnado. Se ambos, ela será recebida parcialmente com duplo efeito para a ação principal e só no efeito devolutivo da parte da sentença cautelar.
“Ainda que julgadas por sentença única ação principal e cautelar, o recurso de apelação interposto deve ser recebido no duplo efeito quanto ao capítulo que decide a principal e apenas no efeito devolutivo no capítulo relativo à ação cautelar”. (STJ, 5T, Informativo 390, EREsp 663.570/SP).
 
P: Qual o recurso cabível da decisão que resolver da impugnação na execução cível?
R: A decisão que resolver a impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento, salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá apelação.
 
P: Como será o recurso da sentença do juizado Especial Civil?
R: A sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio juizado e será julgado por uma turma de 3 juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do juizado. (art. 41 L. 9.099/95)
 
P: Juizado Especial Civil - No procedimento da Lei 9.099/95, os Embargos de Declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos?
R: Não. – Quando interpostos contra a sentença os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso. (art. 50 - L. 9.099/95).
 
P: É cabível Rext ou Resp para reexame de cláusula contratual?
R: Não se permite recurso excepcional que objetive o reexame de cláusula contratual, o que envolveria matéria de fato, já que averiguaria a vontade dos contratantes.
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ADIMPLEMENTO CONTRATUAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REEXAME DE FATOS. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMISSIBILIDADE. - O reexame de fatos e a interpretação de cláusulas contratuais em recurso especial são inadmissíveis. - Agravo no agravo de instrumento não provido. (STJ, AgRg no Ag 1359265/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/04/2011, DJe 13/04/2011).
Isso, porém, não se confunde com a qualificação jurídica do contrato, que é matéria de direito passível de ser analisada por recurso excepcional.
 
P: O que é pré-questionamento implícito? É admitido na jurisprudência?
R: Trata-se de exigência obrigatória pela qual se impõe que a questão federal/constitucional objeto do recurso de superposição tenha sido suscitada/analisada na instância inferior.
Não se trata, porém, de um requisito especial de admissibilidade dos recursos extraordinários.
Trata-se, pois, de etapa no exame de cabimento dos recursos excepcionais, um exame de tipicidade do texto constitucional.
Preenche-se o prequestionamento com o exame, na decisão recorrida, da questão federal ou constitucional que se quer ver analisada pelo STJ ou STF.
Há prequestionamento implícito quando o tribunal de origem, apesar de se pronunciar explicitamente sobre a questão federal controvertida, não menciona explicitamente o texto ou o número do dispositivo legal com o afrontado. Ele vem sendo admitido pelo STJ:
“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS-IMPORTAÇÃO. LEI N. 9.317/96. PESSOA JURÍDICA OPTANTE DO SIMPLES NACIONAL. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES. 1. É uníssona a jurisprudência desta Corte no sentido de que "a adesão ao SIMPLES não exclui, por si só, a incidência do PIS-Importação e COFINSImportação, pois estes tributos foram criados posteriormente à instituição do benefício. Precedentes: REsp 1.060.145/PE, 1ª T., Min. Francisco Falcão, DJ de 04.09.2008; REsp 1.039.325/PR, 2ª T., Min. Herman Benjamim, DJe de 13/03/2009. 2. Recurso especial parcialmente provido." (REsp 1.040.640/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 11.5.2009). 2. Outrossim, tendo o acórdão recorrido decidido a questão confirmando a tese de que os optantes do SIMPLES são isentos do recolhimento do PIS/PASEP e da COFINS na importação, ainda que não tenham sido apontados expressamente os dispositivos nos quais fundamentou-se o aresto, RECONHECE-SE O PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO DA MATÉRIA, conforme admitido pela jurisprudência desta Corte (AgRg no Ag 963.394/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 18.8.2009, DJe 25.8.2009). Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp 1219227/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/03/2011, DJe 23/03/2011)”
 
P: É possível que o STF ou STJ analise matérias não pré-questionadas em recursos devidamente admitidos?
R: O prequestionamento influencia nesta questão: o que deve ter sido prequestionado são os fatos e fundamentos do pedido excepcional. Isso é um juízo de admissibilidade. Admitido o recurso, nada obsta que haja análise pelos tribunais superiores de matérias que não tenham nem mesmo sido suscitadas na instância ordinária, desde que se tratem de matérias alegáveis a qualquer tempo. Trata-se de uma manifestação do efeito translativo.
“PROCESSUAL CIVIL. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE QUE DIFERE DO JUÍZO DE REJULGAMENTO. ABERTURA DE INSTÂNCIA. PROFUNDIDADE DO EFEITO DEVOLUTIVO. SÚMULA 456/STF. APLICAÇÃO DO DIREITO À ESPÉCIE. 1. O Tribunal de origem quando julgou a causa apreciou a questão da violação do princípio da razoabilidade, o que configura o prequestionamento implícito do art. 2º da Lei n. 9.784/99. 2. Conhecido o recurso especial por qualquer dos seus fundamentos, opera-se a abertura de instância, de modo que, ao julgá-lo, poderá esta Corte Superior conhecer de ofício, ou por provocação, de todas as matérias que podem ser alegadas a qualquer tempo, bem como, de todas as questões suscitadas e discutidas no processo, mesmo que não tenham sido enfrentadas no acórdão recorrido.
3. É preciso fazer uma diferenciação entre o juízo de admissibilidade e juízo de rejulgamento. Para ser admitido o recurso especial, é indispensável
não constitui delegação de competência, já que ela é expedida justamente porque o juízo deprecante não possui competência para realizar aquele ato.
Inércia: art. 2o do CPC: a jurisdição é inerte, já que não é, de regra, prestada de ofício. A inércia é garantia da imparcialidade. Há raras excepções da condução de ofício como o inventário (ar. 989 do CPC), a exibição de testamento (art.. 1129 do CPC), a arrecadação de bens de herança jacente (art. 1142 do CPC), entre outros.
Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem dela se encontre legitimamente investido. Atos processuais praticados por quem não é investido legitimamente são considerados inexistentes, caracterizando-se crime tipificado no código penal.
Aderência ao território: a jurisdição pressupõe um território, onde é exercida.
Unidade: a jurisdição é una e indivisível. Apenas por questões de ordem prática costuma-se dividir as atividades jurisdicionais segundo vários critérios.
Lide: é o conflito de interesses que embora presente na maioria das demandas propostas ao judiciário não é característica essencial da jurisdição, segundo parte da doutrina.
P: Explique as teorias unitária (constitutiva) e dualista (declaratória) acerca da natureza da jurisdição.
R: Segundo a teoria unitária (constitutiva), as leis materiais não seriam capazes, por si só, de gerar direitos subjectivos, conseguindo criar apenas expectativas de direitos. Desse modo, cabe ao juiz, por meio da função jurisdicional, criar o direito subjectivo antes inexistente. Kelsen e Carnelutti
Já para a teoria dualista (declaratória), o Estado não cria direitos quando exerce a funcao jurisdicional, apenas reconhece direitos preexistentes. Adotada no Brasil. Chiovenda.
P: Conceitue e diferencie jurisdição contenciosa e voluntária.
R: A jurisdição contenciosa é entendida como a jurisdição propriamente dita, pois se trata da actuação da vontade concreta da lei, ante a existência de uma lide, com a formação da coisa julgada material. Já a jurisdição voluntária é conceituada como a administração pública de interesses privados, que existe para integrar e fiscalizar a vontade das partes.
P: Acerca da natureza jurídica da jurisdição voluntária, explique as teorias Clássica/Administrativista e Revisionista/Jurisdicionalista,
R: A teoria clássica (Arruda Alvim e Nelson Nery Jr) não considera a jurisdição voluntária como verdadeira jurisdição, tratando-se, em verdade, de prestação administrativa.
Já para os defensores da teoria revisionista ou jurisdicionalista (Marinoni e Dinamarca) tratar-se a jurisdição voluntária de verdadeira espécie de jurisdição. 
Prevalece o entendimento de que a jurisdição voluntária não é jurisdição, mas atividade administrativa de interesses privados prestadas pelo Poder Judiciário.
Argumentos:
	Teoria Administrativista: administração pública de interesses privados
	Teoria Revisionista: é atividade jurisdicional
	Não há substituição da vontade das partes, mas tão somente uma forma de integrá-las
	A substitutividade não é elemento essencial da jurisdição.
	Não há lide, já que não há pretensão resistida
	Não há, em regra, a lide jurídica idealizada por Carnelutti, mas,sim, uma lide presumida. Na lide presumida, a resistência à pretensão não decorre de qualquer das partes, mas da própria lei. Outrossim mesmo na jurisdição voluntária é possível existir a lide jurídica, como o caso da interdição. 
	Se não há lide, não há processo, mas mero procedimento
	Não existe apenas processo jurisdicional. O processo em geral é um método utilizado para se alcançar uma dada norma jurídica, abstrata ou não. Daí se falar em processo administrativo, legislativo, negocial, etc. Ainda que a atividade seja administrativa, haverá um processo administrativo.
	Não há partes, mas interessados.
	Ausência de identificação de autor e réu como partes, mas, sim, como interessados, não descaracteriza a atividade jurisdicional. Trata-se apenas de questão de nomenclatura, 
	A sentença não faz coisa julgada, já que pode ser modificada se ocorrerem circunstancias supervenientes que o autorize.
	A sentença faz, sim, coisa julgada material. Todavia, tal pronunciamento jurisdicional encontra-se gravado com clausula repus sic standibus, tal como ocorre nas relações jurídicas continuativas que, quando submetidas à jurisdição contenciosa, recebem sentenças determinativas (art. 475, I do CPC)
 
2. Órgãos da jurisdição. Antônio Menezes (antonio.jlmenezes@gmail.com) 	
 
P: Qual a natureza jurídica da organização judiciária?
R: A organização judiciária tem natureza preponderantemente administrativa, de acordo com a doutrina de Cândido Rangel Dinamarco.
P: Todos os órgãos do Poder Judiciário listados no artigo 92 da Constituição são dotados de jurisdicidade?
R: Não. O Conselho Nacional de Justiça, inserido no texto constitucional através da EC 45 de 2004, não obstante seja órgão judiciário, não é dotado de qualquer competência jurisdicional.
P: O que são órgãos de superposição?
R: São órgãos de superposição os tribunais, que nos limites das competências constitucionalmente fixadas, têm o poder de rever decisões dos órgãos mais elevados de cada uma das Justiças. No Brasil, tem-se como exemplo de tais, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça.
P: Entrância e instância se confundem?
R: Entrância, que não deve ser confundida com instância, quer dizer a graduação do cargo que o magistrado exerce em determinado momento. Por sua vez, instância diz respeito ao grau de jurisidição, existindo aqui uma hierarquia judiciária.
 
Ação: conceito e natureza jurídica. Condições da ação. Classificação das ações. Sirlaine (sirlaine@gmail.com)
 
P: Conceitue ação.
R: O conceito de ação é tema polemico, sem consenso doutrinário. Há inúmeras teorias que visam explicar o seu conceito.
A ação pode ser vista por dois enfoques:
1 Como um direito: direito constitucional de acesso ao judiciário, tendo em vista o principio da inafastabilidade da jurisdição;
2 Como um exercício: também denominada de “ação exercida” e, por sinonímia, demanda, causa, lide, pleito, feito. Ação exercida é o exercício de um direito preexistente, que é o acesso ao judiciário. 
Pode-se conceituar ação, de forma simples, como o direito de provocar a tutela jurisdicional do estado. E, também, como a forma pela qual o cidadão exerce o seu direito preexistente de acesso à justiça.
P: Fale sobre as teorias acerca da natureza jurídica da ação.
R: Teorias civilista (clássica ou imanentista).
Tal teoria se desenvolveu em um momento histórico em que o direito processual era estudado como parte do direito civil. Por isso o processo era entendido como apenso, imanente ao direito material.
A ação é considerada o próprio direito material depois de violado, tida como mera variante, suplemento, anexo, função ou momento do direito material.
Essa teoria não conseguiu explicar a ação declaratória de inexistência. Afinal, se apenas existe ação quando existe o direito, como demonstrar a existência da ação quando se pede em juízo para declarar, justamente, que esse mesmo direito não existe?
Teoria concretista
O direito de ação corresponderia ao direito a uma sentença favorável. A ação seria um direito público, autónomo (relativamente, ao menos), porém concreto, só existindo se existisse o direito material.
A crítica que se coloca é o fato dessa doutrina não conseguir explicar o que existe quando há sentença de improcedência.
Teoria abstrata
Ação é vista como direito público, subjectivo e abstrato a um pronunciamento do estado-juiz, por uma sentença favorável ou não.
É a teoria mais aceita atualmente, com algumas variações.
Para muitos, o direito de ação seria incondicionado, não se admitindo nenhum requisito para a sua existência.
Teoria eclética 
Trata-se de tentativa proposta por Liebman de conjugar as teorias concreta e abstrata. O art. 3o do CPC brasileiro adota essa regra.
O direito de ação seria autónomo e independente do direito material, mas não seria universal e incondicionado. Só seria considerado seu titular o autor que, em
o prequestionamento; mas, uma vez admitido, no juízo de rejulgamento não há qualquer limitação cognitiva, a não ser a limitação horizontal estabelecida pelo recorrente.
4. Trata-se do chamado efeito translativo (profundidade do efeito devolutivo), reconhecido na Sumula 456/STF, segundo a qual, "O Supremo Tribunal Federal, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o direito à espécie." Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp 1200904/ES, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2011, DJe 29/03/2011).
21.10 Para efeito de prequestionamento, basta a mera oposição de embargos declaratórios?
Para o STJ, de acordo com a súmula 211, não haverá prequestionamento, devendo o recorrente interpor REsp por violação ao art. 535, CPC, para forçar o pronunciamento do tribunal de origem.
Súmula 211, STJ: “Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”.
JÁ PARA O STF, ADMITIDO É O PREQUESTIONAMENTO FICTO, AQUELE OCORRIDO COM A SIMPLES INTERPOSIÇÃO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Porém, se não interpostos os embargos de declaração, impossível se querer ver prequestionada a questão apenas nas razões do recurso excepcional. Nesse sentido: Súmula 356, STF: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.
P: O que vem a ser a “objetivação do Recurso Extraordinário”?
R: Trata-se de fenômeno de, não obstante o RE ser recurso de controle difuso, vir sendo utilizado para o controle abstrato (exame da inconstitucionalidade em tese, não diante de um fato concreto).
Nada impede que o controle de constitucionalidade seja difuso, mas abstrato: a análise da constitucionalidade é feita em tese, embora por qualquer órgão judicial.
O STF, ao examinar a constitucionalidade de uma lei em RE, tem decidido em abstrato sobre a questão de inconstitucionalidade, passando a orientar os tribunais em situação semelhante.
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. ALTERAÇÃO. BASE DE CÁLCULO. LEI N. 9.718/98. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 239 DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. O Supremo Tribunal Federal tem entendido, a respeito da tendência de não-estrita subjetivação ou de maior objetivação do recurso extraordinário, que ele deixa de ter caráter marcadamente subjetivo ou de defesa de interesse das partes, para assumir, de forma decisiva, a função de defesa da ordem constitucional objetiva. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, RE 475812 AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 13/06/2006, DJ 04-08-2006 PP-00073 EMENT VOL-02240-08 PP-01542).
Indo mais além, o Supremo já determinou em sede de RE que os tribunais inferiores são obrigados a seguir seu entendimento jurisprudencial firmado pelo plenário quando do julgamento de extraordinário:
RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE INOBSERVÂNCIA POR MAGISTRADO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA DA DECISÃO PROFERIDA PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO JULGAMENTO DO MÉRITO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 583.955-RG/RJ. INSTITUTO DA REPERCUSSÃO GERAL. COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE ORIGEM PARA SOLUCIONAR CASOS CONCRETOS. CORREÇÃO DA EVENTUAL DESOBEDIÊNCIA À ORIENTAÇÃO ESTABELECIDA PELO STF PELA VIA RECURSAL PRÓPRIA, EM JULGADOS DE MÉRITO DE PROCESSOS COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. RECLAMAÇÃO NÃO CONHECIDA. 1. AS DECISÕES PROFERIDAS PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUANDO DO JULGAMENTO DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS COM REPERCUSSÃO GERAL VINCULAM OS DEMAIS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO NA SOLUÇÃO, POR ESTES, DE OUTROS FEITOS SOBRE IDÊNTICA CONTROVÉRSIA. 2. CABE AOS JUÍZES E DESEMBARGADORES RESPEITAR A AUTORIDADE DA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL TOMADA EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, ASSEGURANDO RACIONALIDADE E EFICIÊNCIA AO SISTEMA JUDICIÁRIO E CONCRETIZANDO A CERTEZA JURÍDICA SOBRE O TEMA. 3. O LEGISLADOR NÃO ATRIBUIU AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL O ÔNUS DE FAZER APLICAR DIRETAMENTE A CADA CASO CONCRETO SEU ENTENDIMENTO. 4. A Lei 11.418/2006 evita que o Supremo Tribunal Federal seja sobrecarregado por recursos extraordinários fundados em idêntica controvérsia, pois atribuiu aos demais Tribunais a obrigação de os sobrestarem e a possibilidade de realizarem juízo de retratação para adequarem seus acórdãos à orientação de mérito firmada por esta Corte. 5. Apenas na rara hipótese de que algum Tribunal mantenha posição contrária à do Supremo Tribunal Federal, é que caberá a este se pronunciar, em sede de recurso extraordinário, sobre o caso particular idêntico para a cassação ou reforma do acórdão, nos termos do art. 543-B, § 4º, do Código de
Processo Civil. 6. A competência é dos Tribunais de origem para a solução dos casos concretos, cabendo-lhes, no exercício deste mister, observar a orientação fixada em sede de repercussão geral. 7. A cassação ou revisão das decisões dos Juízes contrárias à orientação firmada em sede de repercussão geral há de ser feita pelo Tribunal a que estiverem vinculados,
pela via recursal ordinária. 8. A atuação do Supremo Tribunal Federal, no ponto, deve ser subsidiária, só se manifesta quando o Tribunal a quo negasse observância ao leading case da repercussão geral, ensejando, então, a interposição e a subida de recurso extraordinário para cassação ou revisão do acórdão, conforme previsão legal específica constante do art. 543-B, § 4º, do Código de Processo Civil. 9. Nada autoriza ou aconselha que se substituam as vias recursais ordinária e extraordinária pela reclamação. 10. A novidade processual que corresponde à repercussão geral e seus efeitos não deve desfavorecer as partes, nem permitir a perpetuação de decisão frontalmente contrária ao entendimento vinculante adotado pelo Supremo Tribunal Federal. Nesses casos o questionamento deve ser remetido ao Tribunal competente para a revisão das decisões do Juízo de primeiro grau a fim de que aquela Corte o aprecie como o recurso cabível, independentemente de considerações sobre sua tempestividade. 11. No caso presente tal medida não se mostra necessária. 12. Não-conhecimento da presente reclamação. (STF, Rcl 1.0793, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 13/04/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 03-06-2011 PUBLIC 06-06-2011).
 
P: A par do art. 546, I, do CPC: “É embargável a decisão da turma que: I - em recurso especial, divergir do julgamento de outra turma, da seção ou do órgão especial”, cabem embargos de divergência em face de decisão proferida em sede de agravo?
R: Em regra, os embargos de divergência da competência do STJ só seriam cabíveis quando interpostos contra decisão de Turma que julgar recurso especial, conforme o disposto no art. 546, I, do CPC e art. 266 do RISTJ.
Ocorre que, diante da competência atribuída ao relator para decidir monocraticamente o recurso especial (arts. 544, § 3º, e 557, ambos do CPC),a jurisprudência do STJ passou a admitir a interposição dos referidos embargos contra decisão de Turma proferida em sede de agravo regimental, seja nos autos de recurso especial seja nos autos de agravo de instrumento
convertido, desde que apreciado o mérito do recurso especial interposto. (STJ, Corte Especial, Informativo 452, EAg 1.132.430-SC)
 
P: O Tribunal a quo pode analisar previamente se a matéria apresenta repercussão geral?
R: Cabe ao STF, com exclusividade, examinar se um dado recurso extraordinário apresenta, ou não, repercussão geral, não cabendo ao tribunal a quo fazer esse filtro de admissibilidade.
 
P: Qual o recurso cabível contra equívoco na aplicação da repercussão geral pela Corte de Origem?
R: Sobre essa hipótese o STF já consolidou que “não é cabível a reclamação para corrigir eventual equívoco na aplicação da repercussão geral pela Corte de origem” (AgRg na RCL 9.757/MG).
Assim, não há recurso apto dirigido ao STF para guerrear a decisão do Tribunal que obsta a subida de recurso para o STF por ter entendido que o caso específico se enquadrava na hipótese de inexistência
de repercussão geral decidida no recurso selecionado por amostragem. O RECURSO CABÍVEL SERÁ O AGRAVO INTERNO, PERANTE O TRIBUNAL DE ORIGEM. Nesse sentido:
Reclamação e erronia em aplicação de precedente em RG - 1
O Plenário retomou julgamento de agravos regimentais interpostos de decisões do Min. Ricardo Lewandowski que, em reclamações das quais relator, delas não conhecera ao aplicar a orientação da Corte no sentido de ser incabível a reclamação para correção de eventual equívoco na sistemática do regime da repercussão geral. A parte agravante alega usurpação de competência do Supremo. Na sessão de 29.6.2011, o Min. Ricardo Lewandowski desproveu o agravo regimental. Consignou que a competência para adoção do entendimento firmado pelo STF, em regime de repercussão geral, seria dos tribunais de origem. Asseverou não haver previsão constitucional a permitir reclamação para corrigir suposta erronia nessas hipóteses. Afirmou que, caso haja algum equívoco nessa aplicação, as partes não ficariam desabrigadas, dispondo do recurso de agravo interno para sua correção. Nesta assentada, a Min. Ellen Gracie, em voto-vista, acompanhou o relator para negar provimento ao agravo regimental. Aduziu que a competência do STF somente se iniciaria com a manutenção, pela instância ordinária, de decisão contrária ao entendimento firmado no Supremo. REMEMOROU NÃO CABER AGRAVO DE INSTRUMENTO NEM RECLAMAÇÃO DA DECISÃO CONTRA O ATO DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE, NA APLICAÇÃO DO PRECEDENTE
FIRMADO EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, CLASSIFICASSE ERRONEAMENTE O CASO CONCRETO. Nessa circunstância, reafirmou ser cabível agravo interno. Acrescentou que, da decisão equivocada do órgão especial ou do plenário, ainda poderiam ser opostos os embargos de declaração para corrigir a ocorrência de erro material. Tudo no âmbito do tribunal a quo. Rcl 11427AgR/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4.8.2011. (Rcl-11427).
 
P: É cabível embargos infringentes no recurso ordinário constitucional em causas internacionais?
R: O recurso ordinário em causas internacionais faz às vezes da apelação, razão pela qual se admite o cabimento de embargos infringentes e de recurso adesivo.
 
P: É possível interpor embargos de declaração contra decisões interlocutórias?
R: O recurso de embargos de declaração é aquele interposto contra despacho, decisão, sentença ou acórdão, visando a seu esclarecimento ou complementação, perante o mesmo juízo prolator daqueles atos judiciais.
A doutrina e a jurisprudência divergem quanto à possibilidade de se interpor embargos de declaração contra decisões interlocutórias. Alguns magistrados interpretam com literalidade absoluta o artigo 535 do CPC que dispõe:
Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:
I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição;
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.
No entanto, não é possível admitir que um ato dentro do processo se perpetue com vícios de entendimento, pois nem só as sentenças e acórdãos, podem conter omissões, obscuridades ou contradições que exijam uma atividade saneadora. Ao contrário, as decisões interlocutórias também poderão conter vícios dessa natureza.
Nesse sentido, o Tribunal Superior do Trabalho tem entendido que é possível utilizar dos embargos de declaração contra decisões interlocutórias. (TST-A-AIRR-0681-2005-023-15-40-5).
 
P: Embargos de Declaração não conhecidos interrompem o prazo recursal?
R: A simples interposição do recurso suspende ou interrompe o prazo, ainda que posteriormente o recurso não seja recebida ou seja improvido. Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OPOSIÇÃO TEMPESTIVA. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PARA A INTERPOSIÇÃO DE OUTROS RECURSOS.
1. "A jurisprudência desta Superior Corte é no sentido de que os embargos de declaração são oponíveis em face de qualquer decisão judicial e, uma vez opostos, AINDA QUE NÃO CONHECIDOS OU NÃO ACOLHIDOS, INTERROMPEM O PRAZO DE EVENTUAIS E FUTUROS RECURSOS, COM EXCEÇÃO DO CASO EM QUE SÃO CONSIDERADOS INTEMPESTIVOS." (REsp 1.147.525/DF, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/8/2010, DJe 20/9/2010). 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, AgRg no REsp 1154775/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em 03/03/2011, DJe 21/03/2011)
P: É cabível embargos de declaração contra decisões monocráticas visando a concessão de efeitos infringentes?
R: O STF possui várias decisões no sentido de não admitir ED com efeitos infringentes contra decisões monocráticas, ao fundamento de que o recurso cabível seria o agravo regimental. Na verdade, o que o tribunal faz é converter o ED em agravo regimental, ante o princípio da fungibilidade recursal:
“Embargos de declaração em agravo de instrumento. 2. Decisão monocrática. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. 3. Esta Corte reconheceu que os servidores do Município de São Paulo fazem jus ao reajuste referente ao mês de fevereiro de 1995, nos termos das leis municipais 10.688/88 e 10.722/89. 4. Todavia, a apuração do índice demanda análise da legislação infraconstitucional. Súmula 280. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, AI 698029 ED, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 05/04/2011, DJe-073 DIVULG 15-04-2011 PUBLIC 18-04-2011 EMENT VOL-02505-01 PP-00135).
Também:
EMB. DECL. NO AI N. 488.345-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA. PRINCÍPIO DA FUN-GIBILIDADE. RECEBIMENTO DOS DECLARATÓRIOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. ICMS. NÃO CUMULATIVIDADE. BENS DESTINADOS AO USO, AO CONSUMO E AO ATIVO FIXO DO ESTABELECIMENTO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO CONSTI-TUCIONAL AO CRÉDITO DO IMPOSTO. IMPOSSIBILIDADE DE REAPRECIAÇÃO DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 279 DO STF.
Na esteira da jurisprudência desta Corte, os embargos de declaração opostos contra decisão monocrática, almejando a concessão de efeitos infringentes, devem ser recebidos como agravo regimental, por força do princípio da fungibilidade.
O princípio da não cumulatividade do ICMS, inscrito no art. 155, § 2º, I, da Carta de 1988, não fundamenta, por si só, o direito ao creditamento nas aquisições de bens destinados ao uso e consumo ou ao ativo fixo do estabelecimento. A legislação pode consagrá-lo, em conformidade com os arts. 20 e 33 da LC 87/1996, mas a Lei Maior não impõe que o faça.
É inviável reapreciar a prova pericial e as categorias de bens adquiridos pela autora, segundo a classificação acolhida pelo perito, nos termos da Súmula STF 279: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
Embargos de declaração conhecidos e recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento
No STJ:
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NÃO CONHECE DE AGRAVO DE INSTRUMENTO.
1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. Em nome dos princípios da economia processual e da fungibilidade, admite-se o recebimento, como agravo regimental, de embargos declaratórios opostos a decisão monocrática proferida pelo relator do feito, quando manifesto o caráter infringencial do reclamo.
2. O juízo prévio de admissibilidade do recurso especial proferido no Tribunal de origem, não vincula aquele exarado nesta Corte, em razão de sua duplicidade. Precedentes.
3. Ilegibilidade da cópia referente às guias de recolhimento do preparo atinente ao recurso especial. Peça essencial à interposição do agravo de instrumento. Mácula que impede a esta Corte Superior o hígido controle de admissibilidade do apelo extremo. Impossibilidade de suprimento da falha posteriormente à interposição
do recurso. Incidência da preclusão consumativa.
4. Tratando-se de agravo de instrumento interposto anteriormente à vigência da Lei n. 12.322/2010, o disposto nas alterações legislativas quanto ao agravo em recurso especial são inaplicáveis para a flexibilização pretendida pela recorrente.
5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.
(EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO
2010/0204804-8 Relator(a) Ministro MARCO BUZZI (1149) Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA Data do Julgamento 20/11/2012 Data da Publicação/Fonte DJe 28/11/2012).
 
P: A decisão de inadmissão do recurso especial (realizada perante o Tribunal a quo) pode ser impugnada por embargos declaratórios?
R: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EDCL CONTRA DECISÃO QUE NEGA SEGUIMENTO A RESP.
São manifestamente incabíveis os embargos de declaração (EDcl) opostos contra decisão de admissibilidade do recurso especial proferida pelo tribunal de origem. Com exceção feita às decisões que negam trânsito ao recurso especial com base no art. 543-C, §7º, consolidou-se a jurisprudência do STF e do STJ no sentido de que a decisão de admissibilidade do recurso especial ou extraordinário é proferida por delegação do Tribunal ad quem, sendo impugnável mediante agravo de instrumento dirigido ao STJ ou STF (ou nos próprios autos a partir da edição da Lei n. 12.322/2010, que deu nova redação ao art. 544 do CPC). Proferida a decisão de admissibilidade, exaure-se a delegação, devendo os autos ser remetidos à instância superior, aguardar eventual decisão em agravo de instrumento, ou baixar à origem para execução ou arquivamento. Embargos de declaração não teriam razão de ser, pois o STJ não está vinculado aos fundamentos do juízo de admissibilidade feito na origem. Se porventura fossem admitidos os embargos de declaração, haveria postergação injustificável do trâmite processual, mormente porque, se cabíveis os primeiros embargos de declaração de uma das partes, nada impediria sucessivos embargos de declaração das demais partes, ao invés da pronta interposição do cabível recurso de agravo para o Tribunal ad quem. AgRg no Ag 1.341.818-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/9/2012.
 
P: Qual o conceito, pressupostos e legitimidade do incidente de uniformização de jurisprudência?
R: “Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei. § 1º O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador. § 2º O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal”
Conceito: é o incidente instaurado no julgamento do recurso ou de causa originária, cujo objetivo é a uniformização da jurisprudência interna de determinado tribunal.
Pressupostos para a instauração do incidente: 1) Julgamento de recurso ou de causa originária perante turma, câmara ou grupo de câmara. 2) Divergência prévia ou ocorrida durante o julgamento sobre a tese jurídica a ser aplicada. 3) Suscitação do incidente.
Legitimidade para suscitar o incidente: 1) Qualquer juiz do órgão julgador do recurso. 2) Partes (nas razões de recurso ou em petição avulta). Também admite provocação pelo MP.
Diferem dos embargos de divergência, sendo estes recurso, de finalidade corretiva, contra acórdão proferido em REsp e Rex.
 
P: O que vem a ser “efeito suspensivo generalizante” que ocorre no âmbito do pedido de uniformização de interpretação de lei federal?
R: Trata-se do art. 14, § 5º da Lei nº 10.259/01. A leitura do artigo é essencial para entender a sistemática do instituto.
Art. 14. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei.
§ 1º O pedido fundado em divergência entre Turmas da mesma Região será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência do Juiz Coordenador.
§ 2º O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização, integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal.
§ 3º A reunião de juízes domiciliados em cidades diversas será feita pela via eletrônica.
§ 4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça - STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.
§ 5º No caso do § 4º, presente a plausibilidade do direito invocado e havendo fundado receio de dano de difícil reparação, poderá o relator conceder, de ofício ou a requerimento do interessado, medida liminar determinando a suspensão dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.
§ 6º Eventuais pedidos de uniformização idênticos, recebidos subseqüentemente em quaisquer Turmas Recursais, ficarão retidos nos autos, aguardando-se pronunciamento do Superior Tribunal de Justiça.
(...)
§ 9º Publicado o acórdão respectivo, os pedidos retidos referidos no § 6o serão apreciados pelas Turmas Recursais, que poderão exercer juízo de retratação ou declará-los prejudicados, se veicularem tese não acolhida pelo Superior Tribunal de Justiça.
Reclamação Constitucional e Correição Parcial. Carol Dorneles (coragemrs@yahoo.com.br)
P: Qual são as diferenças entre Reclamação Constitucional e Correição Parcial?
R: Primeiramente, deve-se considerar que, segundo o entendimento do STF, a reclamação constitucional possui natureza constitucional e jurisdicional, já a correção parcial possui natureza meramente administrativa de modo a apurar atividade tumultuária do Magistrado. Por outro lado, a Suprema Corte pacificou posicionamento de que a reclamação constitucional não se classifica como recurso, ação ou sucedâneo recursal, mas sim deriva do exercício do direito de petição na forma prevista pelo artigo 5º, inciso XXIV, da CF. A correção parcial, por sua vez, é considerada sucedâneo recursal.
Ainda, as Cortes Superiores (STF e STJ) posicionam-se no sentido de que cabe reclamação constitucional de decisão recorrível, pois do contrário estaria fazendo às vezes de ação rescisória. Em relação à correição parcial, somente pode ser apresentada em caso de pronunciamento irrecorrível.
 
P: Cabe Mandando de Segurança com o objetivo de afastar o juiz da condução do processo por violação aos deveres impostos ao magistrado pela LOMAN?
R: Segundo o STJ (RMS 34932/SP), não cabe mandado de segurança com o objetivo de afastar o juiz da condução do processo com fundamento em suposta ofensa aos deveres inscritos nos artigos 35 e 36 da LOMAN, isso porque segundo a Súmula n. 267 da Corte Superior "Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição".
 
P: Em que hipóteses é cabível a Reclamação Constitucional?
R: A Reclamação Constitucional, derivada do exercício do direito de petição, é cabível para preservar a competência de Tribunal Superior, encontrando-se regulamentada para o STF e o STJ nos arts. 13-8 da Lei n. 8.038/1990; nos mesmos dispositivos citados, há também a possibilidade de reclamação para garantir a autoridade da decisão das Cortes Superiores; e, por fim, permite-se reclamação em face de ato administrativo ou judicial que contrarie, negue vigência ou aplique indevidamente o disposto em Súmula Vinculante, conforme constante no art. 7° da Lei n. 11.417/2006.
 
P: É necessário o exaurimento das vias administrativas para que se possa apresentar Reclamação Constitucional decorrente de omissão ou ato da administração pública que contrarie, negue vigência ou aplica indevidamente enunciado de Súmula Vinculante?
R: Segundo reza o parágrafo 1º do artigo 7º da Lei n. 11.417/2006, que regulamente a Súmula Vinculante, “contra omissão ou ato da administração pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas”.
 
P: É possível Reclamação Constitucional
junto ao STJ diante de acórdão de Turma Recursal de Juizado Especial Estadual? O de Turma de Juizado Especial Federal?
R: O STF, no julgamento dos ED no RE 571.572/BA, consolidou entendimento acerca da possibilidade de apresentação de Reclamação Constitucional perante o STJ em face de acórdão proferido por Turma Recursal de Juizados Especial Estaduais, diante da inexistência de órgão uniformizador no âmbito dos juizados estaduais, circunstância que inviabilizaria a aplicação da jurisprudência do STJ. Assim, de modo a evitar o risco de manutenção de decisões divergentes quanto à interpretação da legislação federal, gerando insegurança jurídica e uma prestação jurisdicional incompleta, em decorrência da inexistência de outro meio eficaz para resolvê-la, o STF passou a admitir a Reclamação junto ao STJ, destacando que tal competência irá prevalecer apenas até a criação da turma de uniformização dos juizados especiais estaduais.
Diante do entendimento fixado pela Corte Suprema, o STJ regulamentou a matéria na Resolução n. 12/2009.
Em relação aos Juizados Federais, diante da existência das Turmas Nacionais de Uniformização, criadas pelo artigo 14 da Lei n. 10.259/2001, o STF e o STJ não admitem a utilização do instituto da Reclamação perante a Corte Superior contra acórdão de Turma Recursal do Juizado Federal (vide Rcl 7982/DF, STJ).
 
P: Julgada procedente a Reclamação Constitucional, qual o procedimento a ser adotado pela Corte julgadora?
R: A Corte julgadora da Reclamação Constitucional irá cassar a decisão proferida, e não anular ou reformar a decisão exorbitante. Nos casos em que a decisão impugnada estava em dissonância com decisão do Tribunal Superior ou diante de violação à Súmula Vinculante, o julgamento será no sentido de determinar o respeito à jurisprudência do STF ou STJ, bem como observância do entendimento consolidado em enunciando sumular vinculante. Em relação à reclamação para preservação a competência do Tribunal Superior, a Corte Julgadora irá impor a observância de sua competência, cassando, de igual modo, eventuais decisões proferidas por órgão jurisdicional diverso.
 
P: Há prazo para a propositura de Reclamação Constitucional?
R: Não há prazo para apresentação de Reclamação Constitucional. Todavia, tal procedimento não é mais admitido após o trânsito em julgado, já que não pode fazer às vezes de Ação Rescisória. Nestes termos, a Súmula n. 734 do STF: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal”.
 
Ação Rescisória. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)
P: Qual o conceito de Rescisória?
R: Consiste em ação autônoma de impugnação que busca desconstituir decisões judiciais que tenham gerado coisa julgada material, e, eventualmente, se for o caso, promover um novo julgamento da causa (dar ensejo ao rejulgamento da causa). É fenômeno processual que se verifica com o esgotamento dos recursos cabíveis ou com a ausência de interposição do recurso pertinente. (conceito de Daniel Assumpção, 2012). Trata-se de mecanismo de relativização da coisa julgada, a qual não é absoluta, já que o próprio sistema processual reconhece certas possibilidades de preterição desta garantia (Mauro Lopes, 2012).
Ressalte-se que a coisa julgada é a situação jurídica consistente na imutabilidade e indiscutibilidade da decisão (coisa julgada formal) e de seu conteúdo (coisa julgada material), quando tal provimento não está mais sujeito a qualquer recurso (Freitas Câmara, 2004 – citado por Claudio Carneiro, 2012). Portanto, transitada em julgado sentença de mérito prolatada em determinada ação, o ordenamento jurídico proíbe a propositura de nova ação em que se pretenda a renovação do debate anteriormente travado entre as partes, com idênticos pedido e causa de pedir (Mauro Lopes, 2012). Ademais, se surgir um processo em que haja questão prejudicial que já tenha sido objeto de resolução por sentença transitada em julgado, tal questão não poderá ser discutida no novo processo.
Com efeito, a Rescisória pauta-se no princípio de efetividade da prestação jurisdicional, excepcionando o princípio da segurança jurídica e estabilidade da coisa julgada - art. 5º, XXXVI, da CF.
É regida pelo art. 485 e seguintes do CPC. Em matéria tributária, encontra fundamento no art. 165, III, do CTN.
 
P: Qual a sua natureza jurídica?
R: Ação judicial autônoma de impugnação. Ação constitutiva negativa ou desconstitutiva, pois visa ao desfazimento de coisa julgada material anteriormente formada em outro processo.
Alguns doutrinadores também classificam Rescisória como espécie de sucedâneo recursal externo, por ser instrumento de impugnação se decisão judicial que se desenvolve em processo distinto do que a decisão impugnada (rescidenda) foi proferida. Por isso, não se confunde com recurso. (Assumpção, 2012).
 
P: Contra sentença que não resolve o mérito cabe rescisória?
R: Em regra não, por força de expressa dicção do art. 485, caput, do CPC, que menciona o cabimento da Rescisória contra sentença de mérito transitada em julgado.
Todavia, o STJ entende que existe uma decisão terminativa que pode ser objeto de Rescisória: a extinção do processual sem resolução de mérito pela decisão prevista no art. 267, V, do CPC (perempção, litispendência e coisa julgada – questões de ordem púb – por ausência de pressupostos Processuais Negativos). Em tais casos, impede-se a nova propositura da demanda, ainda que não se possa falar nesse caso de decisão de mérito ou em coisa julgada material. Essa impossibilidade de nova propositura, prevista no art. 268 do CPC, permite a conclusão pelo cabimento de Rescisória nesse caso. O que é defendido também pela doutrina de Daniel Assumpção, segundo o qual, se não se admitisse a Rescisória, na hipótese, a decisão prevista no art. 267, V, do CPC seria a mais imutável e indiscutível do sistema.
Portanto, em tais casos de sentenças terminativas por ausência de Pressupostos Processuais Negativos, é possível, em tese, desconstituir provimento judicial, ainda que tenha o feito sido extinto sem resolução de mérito.
Na dicção do STJ, o art. 485, caput, do CPC, ao mencionar "sentença de mérito" o fez com impropriedade técnica, referindo-se, na verdade, a "sentença definitiva", não excluindo os casos onde se extingue o processo sem resolução de mérito, dos casos em análise (REsp 1217321, j 2012). Isso porque em tais situações há coisa julgada formal que impede recurso e também não se mostra possível renovar a ação, por vedação legal do art. 268 do CPC.
 
P: Qual a amplitude do termo “sentença” do art. 485, caput, do CPC?
R: Da palavra “sentença”, na hipótese, deve se entender o sentido mais amplo possível, de modo a incluir todas as decisões jurisdicionais de mérito, a exemplo de decisão monocrática do Relator com fulcro no art. 557 do CPC e acórdão.
 
P: Existem decisões de mérito que não são impugnáveis por meio de Rescisória? Aborde.
R: Embora o art. 485 do CPC apresente a possibilidade de desconstituição de decisões de mérito através de Rescisória, sem pontuar exceções, leis federais específicas podem vedar o ajuizamento de Rescisória em determinadas situações. É o caso de acórdãos proferidos em sede de controle concentrado de constitucionalidade, pois a Lei de regência da Ação Direta de Inconstitucionalidade e da Ação Direta de Constitucionalidade dispõe que elas não são impugnáveis por Rescisória (art. 26 da Lei 9.868/99). É a hipótese também da ADPF (art. 12 da Lei 9.882/99).
Outrossim, as decisões exaradas em Juizados Especiais Estaduais não são desconstituídas mediante Rescisória, conforme o art. 59 da Lei 9099/95.
 
P: Cabe Rescisória contra decisão interlocutória?
R: Em regra não, pois falece de possibilidade jurídica do pedido a Rescisória que busque desconstituir decisão interlocutória que se restrinja a questões processuais, sendo hipótese de carência de ação. Contudo, como exceção, a decisão interlocutória é passível de impugnação por meio de Ação Rescisória quando houver abordado questão de mérito
da ação (STJ, AgRg no AREsp 203.279/MG, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 08/11/2012).
Exemplos de decisão interlocutória que desafiam a Ação Rescisória:
a) a decisão do cálculo da indenização em ação que visa a entrega de soma é de mérito (AR 1.649/SP, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, DJe 12/05/2010);
b) Recurso Especial que reforme decisão interlocutória que, em execução, determinara a citação da União e o cumprimento da obrigação de fazer, consistente em implantar nos proventos do autor um reajuste. Por conseguinte, além de examinar o próprio mérito, este REsp acabou por impedir a percepção do reajuste pelo autor da Ação Rescisória, já assegurado em sentença transitada em julgado (AR 2099/SE, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/08/2007, DJ 24/09/2007).
 
P: Sentença inexistente pode ser rescindida?
R: Não. A sentença inexistente não pode ser objeto de Ação Rescisória, na medida em que não produz coisa julgada. Não precisa ser desconstituída, bastando que seja o vício insanável de inexistência declarado judicialmente, a qualquer tempo, não se submetendo ao prazo decadencial da Rescisória. Não há fungibilidade entre a Querela Nullitatis e a Rescisória (STJ, AR 569-PE, j 2010).
 
P: Com base no art. 485, V, do CPC, deve haver rescisão de acordão proferido com o voto de um juiz impedido ou absolutamente incompetente?
R: Depende. Só haverá nulidade se o voto do juiz impedido ou absolutamente incompetente for decisivo para a conclusão do acórdão (EREsp 1008.792, j2011).
 
P: Exige-se prequestionamento na propositura de Ação Rescisória que indique violação de lei (485, V, CPC)?
R: Existe discussão doutrinária sobre o tema. Contudo, prevalece o entendimento de que a Rescisória não exige prequestionamento sobre a lei que tenha sido violada. A ação rescisória é ação originária (e não recurso especial), não estando sujeita a qualquer mecanismo de "prequestionamento", conforme precedentes do STF e do STJ (STJ, AR 4.202/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2010).
O prequestionamento não pode ser erigido a requisito de admissibilidade da ação Rescisória, seja em face da ausência de previsão legal, como da própria natureza jurídica do instituto (REsp 741753/RS, j 2006).
 
P: É cabível ajuizamento de Rescisória para discutir exclusivamente verba honorária?
R: Sim. A parte da sentença que fixa honorários advocatícios, a exemplo das despesas, tem cunho condenatório e decorre da sucumbência, tendo ou não enfrentado o mérito da ação. Se na fixação dos honorários ocorreu qualquer das hipóteses previstas nos incisos do art. 485, do CPC (v.g. prevaricação do juiz), não há porque impedir o ajuizamento da rescisória (REsp 1217321 -SC, j 2012).
Ressalte-se, contudo, que se a Rescisória tiver por fundamento o art. 485, V, do CPC (violação literal de disposição de lei) somente será cabível para discutir violação a direito objetivo. Assim, não pode ser manejada ação rescisória para discutir a má apreciação dos fatos ocorridos no processo pelo juiz e do juízo de equidade daí originado, no tocante à fixação dos honorários (REsp 1217321 -SC, j 2012).
Ademais, não cabe Ação Rescisória para discutir a irrisoriedade ou a exorbitância de verba honorária pois tal análise não se cinge à eventual violação a direito objetivo. Portanto, argumentos de injustiça manifesta não podem ensejar a Rescisória com base no art. 485, V, do CPC (REsp 1217321 -SC, j 2012).
 
P: Qual o prazo para o ajuizamento da Rescisória e qual a sua natureza?
R: O prazo de 2 anos previsto no art. 495 do CPC é decadencial. Inicia seu curso quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial (súmula 401 do STJ). Para o STJ, o dies a quo para o início da contagem do prazo de dois anos para propositura de Ação Rescisória, é o trânsito em julgado da decisão proferida sobre o último recurso interposto, ainda que discuta apenas a tempestividade de recurso. (EDcl no AgRg nos EAg 1218222/MA, julgado em 05/12/2011).
Não há prazo diferenciado para a Fazenda Pública.
P: É possível a concessão de tutela de urgência?
R: Admite-se excepcionalmente a concessão de tutela de urgência em Rescisória, conforme redação do art. 489 do CPC. Por apreço à preservação da segurança jurídica, a tutela antecipada em ação rescisória, para o fim de suspender a execução do acórdão rescindendo, somente é admitida em casos excepcionais, sendo justificado assim que o seu deferimento fique adstrito à verificação de ambos os requisitos previstos no art. 273 do CPC, quais sejam, prova inequívoca da verossimilhança da alegação e o fundado receio de dano. Tais requisitos devem estar presentes cumulativamente, bastando a descaracterização de um deles para o indeferimento do pleito. (STJ, AgRg no AgRg na AR 4.767/DF, 2012)
P: Qual a diferença entre juízos rescindente e rescisório? 
R: Juízo rescindente é o pedido, necessariamente presente em toda Ação Rescisória, de desconstituição da decisão exarada em processo anterior. É o pleito que caracteriza a Ação Rescisória como tal (Didier, 2011)
Outrossim, é comum que seja feito também o pedido de novo julgamento da causa. Trata-se do juízo rescisório, o qual só poderá ser deferido se o primeiro (desconstituição da decisão) já tiver sido acolhido. Logo, o juízo rescindente é preliminar do juízo rescisório. É exemplo de cumulação sucessiva de pedidos (Didier, 2011).
Ocorre que há casos em que não se admite este novo julgamento (juízo rescisório). É a hipótese do art. 485, IV, do CPC (ofensa à coisa julgada) – quando o julgamento do tribunal irá se limitar a desconstituir ou não a ação que está sendo impugnada pela via da Rescisória.
 
P: Qual o valor da causa a ser adotado na Rescisória?
R: Valor da causa é um dos requisitos da petição inicial, devendo constar da Rescisória. O valor da causa nas Ações Rescisórias é o da ação originária corrigido monetariamente até a data do seu ajuizamento ou, quando o montante da vantagem objetivada for diverso do valor da primeira ação, o do benefício econômico visado. (EDcl na AR 4.612/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2011, DJe 15/09/2011)
P: Qual a competência para conhecimento da Rescisória? 
R: (Resposta com base em Didier, 2011) - A Rescisória é ação de competência originária de tribunal. A competência exata para o ajuizamento dependerá de eventuais recursos interpostos no processo originário e da espécie de julgamento de tais recursos.
Os tribunais julgam as Rescisórias de seus próprios julgados.
As decisões de mérito proferidas por juízes de primeira instancia são desconstituídas por Rescisória que deve ser processada e julgada pelo tribunal ao qual está vinculado o juízo que proferiu a sentença. Registre-se que no caso de sentença proferida por juiz estadual investido de jurisdição federal, a competência será do TRF da respectiva região.
Não havendo apelação contra uma sentença de mérito, a competência para a Rescisória será do tribunal de 2º grau competente para o julgamento desse recurso, que não foi apresentado.
Contudo, caso tenha havido apelação, mas esta não tenha sido conhecida, não é o acórdão do tribunal que transita em julgado, pois não se opera o efeito substitutivo recursal na espécie. Com efeito, a própria sentença prolatada pelo juízo de primeira instância transita em julgado. Desse modo, a Rescisória será movida perante o tribunal ao qual está vinculado o juízo, objetivando desconstituir a sentença, e não o acórdão.
Já se a apelação tiver sido conhecida, há as seguintes conseqüências possíveis: a) não provida; b) provida para reformar a sentença; c) provida para anular a sentença. Nos 2 primeiros casos (não provida e reforma da sentença) ocorre o efeito substitutivo. Não havendo outros recursos, o acórdão da apelação transita em julgado – devendo a Rescisória ser promovida perante o tribunal que prolatou o acórdão.
Por sua vez, no caso da apelação ser provida para
a anular a sentença, não haverá o efeito substitutivo, mas apenas o efeito rescindente, de forma que os autos retornarão ao juízo de primeiro grau para que outra sentença seja proferida.
Se da apelação que não tenha sido provida ou tenha sido provida para reformar a sentença, for interposto recurso especial e este vier a ser conhecido, é esta decisão do STJ que irá transitar em julgado, devendo a Rescisória ser ajuizada contra ela e perante esta Corte Superior. Este mesmo raciocínio é aplicado no caso de recurso extraordinário conhecido pelo STF (quando a Rescisória contra tal pronunciamento deverá ser proposta no STF).
Há 2 súmulas do STF (aplicadas também pelo STJ) pertinentes à matéria: a) Súmula 249; b) Súmula 515. Didier interpreta a expressão “não tendo conhecido” da Súmula 249 do STF como “não tendo provido” (é competente o STF para a ação rescisória quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida).
A Súmula 515 do STF determina que “a competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório”. Isso porque não houve, no caso, analise do mérito, devendo a Rescisória ser ajuizada no tribunal local, requerendo a rescisão do acórdão proferido no próprio tribunal local. 
Em caso de ajuizamento de Rescisória em tribunal que não seja competente, deve ser o feito extinto (EDcl nos EDcl na AR 3418, j. 2008).
Ação monitória. Danielle (parquetmg@yahoo.com.br) 
P: Em que casos é cabível a ação monitória e qual seu objetivo?
R: Somente em 3 casos:
a) pagamento de soma em dinheiro;
b) entrega de coisa FUNGÍVEL;
c) entrega de bem MÓVEL.
Nela, o autor ingressa com prova escrita sem eficácia de título executivo, como por exemplo, cheque prescrito, contrato de abertura de crédito em conta-corrente acompanhado do demonstrativo de débito. O objetivo é abreviar o caminho para a formação de um título executivo.
 
P: Qual a natureza jurídica da ação monitória?
R: Para a lei, é procedimento especial do processo de conhecimento. Para doutrina minoritária, tem natureza de processo de execução. Para outros, faz surgir uma nova espécie de processo.
 
P: É possível a conversão da ação de execução em ação monitória após ocorrida a citação?
R: Não é possível, em razão da estabilização da relação processual a partir da citação (decisão do STJ em repetitivo: REsp 1.129.938).
 
P: Estando a petição inicial devidamente instruída, o que deve o juiz fazer?
R: Deve proferir o decreto injuntivo, pelo qual ordena a expedição do mandado monitório, que serve para citar o réu e ordenar o pagamento ou a entrega da coisa.
 
P: Cabe citação por edital em ação monitória?
R: Sim (súmula 282 do STJ). No caso de revelia, nomear-se-á curador especial para exercer a defesa do réu através de embargos.
O STJ admite o edital porque a ação monitória é uma das formas de desenvolvimento do processo de conhecimento, aplicando-se-lhe, subsidiariamente, as disposições gerais de procedimento ordinário.
 
P: Citado, o que poderá o réu fazer?
R: Há 3 condutas:
PAGAR OU ENTREGAR A COISA: será dispensado das custas e dos honorários. Processo é extinto.
EMBARGAR: estes embargos suspendem a eficácia do mandado inicial. O procedimento monitório se converterá em ordinário. Por isso, poderá também reconvir (súmula 292 do STJ: A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário). Os embargos independem de prévia segurança do juízo. Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial e prossegue conforme as regras do cumprimento de sentença.
NÃO CUMPRIR A OBRIGAÇÃO NEM EMBARGAR: constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial e o procedimento monitório se converterá em procedimento executivo (cumprimento de sentença ou art. 461-A)
OBS: para o STJ, a conversão do mandado monitório em título executivo judicial não confere executividade ao documento que acompanha a inicial, apenas reconhece que é devida a obrigação nele subscrita.
 
P: Qual a natureza jurídica destes embargos?
R: Para alguns, ação. Para outros, contestação.
Conseqüência prática: se for ação, o prazo para a FP embargar é simples (15 dias). Se for contestação, prazo é em quádruplo.
 
P: É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública?
R: Alguns doutrinadores, dizem que não, pois violaria o art. 730 do CPC, que é especial, impedindo a adoção da monitória. Além disso, viola sistema de precatórios e reexame necessário (este não seria observado se não opostos embargos, já que isso provocaria a constituição imediata do título executivo).
Mas para o STJ, cabe (súmula 338). Argumentos: a)após a formação do título, no momento executivo, será observado o art. 730 do CPC; b)ao realizar o pagamento, a Fazenda não ofende o sistema dos precatórios, pois não estará cumprindo sentença judicial. Na verdade, ela faz um pagamento voluntário, como quando paga por um serviço ou mercadoria; c)reexame necessário só é exigido no caso de sentença judicial, não no caso da monitória..
 
P: A Fazenda Pública pode ajuizar ação monitória?
R: Sim, para entrega de coisa móvel e para créditos pecuniários não fiscais. Isso porque, para crédito fiscal, a Fazenda cria um título (CDA), não havendo interesse na monitória.
 
P: Há coisa julgada material na ação monitória?
R: Para Daniel Assumpção, há sim, relacionada à pretensão do autor de ver satisfeito seu crédito ou, subsidiariamente, obter título executivo judicial.
Liquidação de sentença. Execução. Regras gerais. Partes. Competência. Responsabilidade patrimonial. Bernadete (bernadetercortes@gmail.com)
P: O que é liquidar uma sentença? Todas as sentenças podem ser liquidadas?
R: liquidar uma sentença é determinar o objeto da condenação, mas diverge-se quanto à possibilidade de toda sentença poder ser liquidada. A corrente ampliativa defende que pode. Já a restritiva diz que somente as obrigações de pagar quantia certa podem ser liquidadas, pois o CPC manda aplicar esse instituto quando “a sentença não determinar o valor devido”. Para esta, nas obrigações de fazer e não fazer a própria certeza da decisão (se faz ou não) já define o que deve ou não ser feito, não havendo que se falar em liquidação.
*registre-se que as obrigações alternativa e de entregar coisa incerta não representam propriamente títulos ilíquidos, pois a execução pode ser proposta imediatamente. A individualização do bem ocorrerá em incidente da execução. 
 
P: Por que o título executivo extrajudicial não pode ser objeto de liquidação?
R: Porque a liquidez é condição para que o próprio título extrajudicial seja formado. Assim, somente títulos executivos judiciais podem ser liquidados.
 
P: Quais os casos de vedação absoluta à sentença ilíquida?
R: nos juizados especiais e nas ações de rito sumário que versem sobre ressarcimento por danos causados em acidentes de veículos terrestres e sobre cobrança de seguros relativamente a danos causados em acidente de veículo.
Quando o pedido for incerto a sentença pode ser ilíquida, eis que surge, então, a importância de se prever o procedimento para a liquidação.
P: É possível liquidar sentença que foi impugnada por recurso com efeito suspensivo?
R: Sim, alguns doutrinadores até falam que a liquidação é efeito secundário da sentença, não dependendo de requerimento da parte. Registre-se que é entendimento contra legem, pois a lei prevê a necessidade do requerimento, determinando, inclusive, que quem o pede deve arcar com os riscos de eventual provimento do recurso.
P: Qual a natureza jurídica da liquidação? E da decisão que julga a liquidação? Qual o recurso cabível?
R: A liquidação tem natureza jurídica de fase procedimental, com exceção da sentença penal condenatória, da arbitral e da homologatória estrangeira, em que é preciso instaurar o processo de liquidação, com petição inicial e citação. Para Daniel Assumpção isso não muda
a natureza jurídica de fase procedimental, pois essa liquidação será sincrética com a execução, tendo seu normal procedimento após a citação.
A decisão que julga a liquidação tem, para a maioria, natureza de decisão interlocutória, tanto que o CPC prevê sua impugnação por agravo de instrumento. Outra corrente, minoritária, defende a natureza de sentença, afirmando que ela resolve questão de mérito apta à coisa julgada. A doutrina também diverge no tocante a ser declaratória ou constitutiva.
Cumpre destacar, por fim, que se à decisão de liquidação não se seguir o cumprimento de sentença ou execução por haver tratado de matéria diversa, a exemplo do reconhecimento de prescrição ou pagamento, aí caberá apelação.
P: O que é a liquidação de valor zero?
R: no plano prático equivale à improcedência do pedido. No plano jurídico, por sua vez, há distinção, pois não seria técnico afirmar que não ter uma obrigação é igual a ter uma obrigação de valor zero. Exemplo assaz elucidativo é o devedor de alimentos, pois ainda que ele seja obrigado a prestá-los, em determinado período é possível que ele seja dispensado por não auferir renda. Exatamente por continuar a ter a obrigação é que se ele voltar a ter condições financeiras a liquidação não será mais zero.
P: No que consiste a regra da fidelidade ao título executivo?
R: significa que a liquidação não pode discutir matérias discutidas, ou que deveriam ter sido discutidas, na fase de conhecimento. A jurisprudência excepciona esta regra, admitindo a liquidação não só do que está expresso na sentença, mas também do que se pode presumir como incluído, como os juros moratórios, correção monetária e custas processuais.
P: Quais os tipos de liquidação e em quais situações eles se aplicam?
R: a liquidação por mero cálculo aritmético, elencada no CPC como um dos tipos, não é propriamente liquidação, pois o conceito moderno de liquidez aponta não para a necessária determinação do valor, mas para sua determinabilidade por meio de meros cálculos com os elementos fornecidos na sentença. O cálculo, nesta modalidade, sequer precisa ser feito por contador judicial, a menos que o exequente seja beneficiária da assistência judiciária ou que os cálculos pareçam exceder os limites da decisão.
A liquidação por arbitramento ocorrerá quando a própria sentença determinar, houver acordo entre as partes ou o exigir a natureza do objeto da liquidação. Ela se faz necessária quando a perícia for indispensável apurar, com seus conhecimentos técnicos, o prejuízo.
Por fim, a liquidação por artigos é aplicada nos casos em que é necessária a apuração de fatos novos, isto é, aquele que não foi objeto de análise no processo. trata-se de uma verdadeira fase de conhecimento de cognição limitada.
*STJ => a liquidação por espécie distinta da prevista na sentença não viola a coisa julgada!
EXECUÇÃO
P: Conceitue execução conforme o sistema processual.
R: Execução é o conjunto de meios materiais previstos em lei que estão à disposição do juízo e que têm por fim satisfazer o direito. A crise de satisfação é a que justifica a tutela executiva.
P: Discorra sobre a evolução das ações sincréticas?
R: Há pouco tempo vigorava a regra da autonomia do processo executivo, por se entender que a diversidade das atividades jurisdicionais de conhecimento e de execução, juntamente com a diversidade dos seus objetivos, exigia processos distintos. Nessa época, porém, já existiam ações sincréticas, em que o conhecimento e a execução são feitos no mesmo processo, sendo esta uma fase posterior àquela, a exemplo das ações possessórias e da ação de despejo.
Na década de 90, com a positivação do CDC, as demandas coletivas que tratavam de obrigação de fazer e não fazer também passaram a ser sincréticas, inovação acompanhada pelo CPC em 1994, que abrangeu esta forma para qualquer obrigação desse gênero.
Em 2002, com o acréscimo do art. 461-A ao CPC, as ações sincréticas foram previstas para as obrigações de entregar coisa, e em 2005 pra as obrigações de pagar quantia certa, passando, portanto, a ser uma regra no sistema de execução dos títulos judiciais (pois os extrajudiciais sempre serão executados por ação autônoma).
Registre-se que parcela doutrinária defende que a regra das ações sincréticas não se aplica aos procedimentos especiais de execução, como aquela contra a fazenda (somente quando for obrigação de pagar quantia), contra o devedor insolvente e execução de alimentos quando se pedir a prisão civil do devedor. Neste raciocínio também seriam inseridas as execuções de certas sentenças dotadas de peculiaridades: a penal condenatória, a homologação de sentença estrangeira e a arbitral.
Critica-se este último entendimento por ele criar distinção na execução de títulos igualmente judiciais. Para evitar a existência desses títulos de segunda classe, outra corrente defende que a despeito de haver petição inicial e citação do executado, após tais atos seguir-se-ia o procedimento do cumprimento de sentença, como se a execução fosse apenas uma fase procedimental. Haveria, assim, uma execução híbrida.
P: Diferencie execução por sub-rogação e por coerção.
R: Na execução por sub-rogação, ou direta, o juiz substitui a vontade do executado, a exemplo da penhora/expropriação, do depósito com posterior entrega da coisa. Na execução por coerção, ou indireta, é o próprio executado o responsável pela satisfação voluntária do direito (não espontânea!), estimulado por uma sanção (premial ou prejudicial). Via de regra é cabível a cumulação dessas formas executivas.
Obs¹: STJ - não cabem astreintes como forma de coerção ao cumprimento de obrigação de pagar quantia certa, mas cabem para a obrigação de efetuar o crédito em conta do FGTS (o STJ entende ser esta uma obrigação de fazer).
Obs²: atentar para o princípio da utilidade, pois não se aplica a medida de execução indireta quando o cumprimento da obrigação for material ou juridicamente impossível.
P: Qual a natureza jurídica da multa de 10% sobre o valor da condenação no caso do não pagamento em 15 dias no procedimento de cumprimento da sentença nas obrigações de pagar quantia?
R: apesar de parcela doutrinária defender a natureza coercitiva indireta desta multa, o STJ, mantendo o entendimento acima citado, afirma ter esta multa natureza sancionatória.
P: Cite os principais princípios do processo de execução.
R: não há execução sem título; tipicidade dos títulos executivos; patrimonialidade (a execução é sempre real, e nunca pessoal); utilidade; desfecho único (o único objetivo é satisfazer o direito do exequente); menor onerosidade; boa-fé processual e contraditório.
P: É possível desistir da execução?
R: Sim, inclusive dispensando-se a concordância do executado, pois se presume sua aceitação, uma vez que jamais obterá tutela jurisdicional ao seu favor. Trata-se do princípio da disponibilidade. A exceção fica por conta da pendência de embargos à execução que versem sobre matéria de mérito, hipótese na qual a extinção da execução condiciona-se à concordância do embargante/devedor. Se ele discordar os embargos continuam como ação autônoma. Em se tratando de defesas incidentais feitas na própria execução, como a impugnação do cumprimento de sentença e a exceção de pré-executividade, que tratem de matéria de mérito, a solução dada aos embargos não se aplica aqui, pois não há ação autônoma. Não tem como extinguir e execução e continuar com a defesa incidental. Nesse caso, afasta-se o princípio da disponibilidade, de forma que a desistência depende da anuência do executado!
P: Existe mérito na execução?
R: Superou-se o entendimento tradicional de que não existia mérito na execução. Ele existe sim, porém, sua discussão fica condicionada à interposição de embargos à execução, os quais têm natureza de ação de conhecimento autônoma.
P: Discorra sobre a legitimidade na execução.
R: Nem sempre a legitimidade constará expressamente no título executivo, mas dele decorrerá.
De acordo com a legitimação ativa ordinária primária, pode propor a execução o credor a quem a lei confere título executivo.
Há excepcionais hipóteses legais em que sujeito diverso do credor e não constante do título pode propor originariamente a execução, a exemplo do advogado quanto a seus honorários.
No que tange à legitimação ativa extraordinária, o Ministério Público nela se enquadra quando não for credor do direito, ainda que conste seu nome no título executivo como autor da demanda. Cabe lembrar que nas ações coletivas o MP tem o dever funcional de executá-las ainda que não tenha sido o autor, no caso de omissão deste (até mesmo no caso de direitos homogêneos o MP pode executar, se não se habilitarem interessados a executar a sentença individualmente em número compatível com a gravidade do dano). Por fim, na ação popular o MP tem legitimidade subsidiária para a executar, mesmo sem poder propor.
Existe ainda a legitimidade ativa ordinária superveniente, em virtude da sucessão causa mortis e da cessão de direitos.
No polo passivo o raciocínio é semelhante, pois são legitimados o devedor que assim figurar no título, o espólio/sucessor, o novo devedor advindo da cessão de débito, o fiador, o responsável tributário (que sequer precisa constar no título) e o responsável secundário (que ganha legitimação extraordinária quando há constrição judicial de seus bens, pois os interesses jurídicos são do devedor, mas seus bens é que respondem).
P: Admite-se intervenção de terceiro na execução? Por quê?
R: Em regra não, pois na maioria das modalidades de intervenção típica o que se discute é o mérito da ação, a declaração de responsabilidades, e isto não é permitido no processo executivo, que visa apenas satisfazer direitos já reconhecidos. A discussão fica por conta da “assistência”, entendendo a maioria que ela é possível, por interpretação extensiva do parágrafo único do art. 50 do CPC (que fala que a assistência aplica-se a qualquer procedimento), corrente esta que dispõe até de exemplo legal, pois o art. 834 do CC permite a intervenção do fiador na execução promovida contra o afiançado.
Registre-se que existem outros tipos de intervenção de terceiros que se admitem no processo de execução, que não são os previstos no rol tipificado do CPC, chamados de intervenções atípicas. Ex: terceiro que ingressa na fase de expropriação para adquirir o bem, credores que ingressam na execução para discutir o direito de preferência.
P: A quem compete a execução?
R: A regra para os títulos judicias é que a execução compete ao juízo que processou a causa no 1º grau, amparada na lógica da competência funcional, presumindo-se que o formador do título judicial é o mais apto a executá-la. Não sendo esta regra absoluta, o legislador criou competências concorrentes com o fito de facilitar ainda mais: o domicílio do executado e o local dos bens sujeitos a constrições. Destaque-se que a perpetuatio jurisdicionis pode ser excepcionada pela simples vontade do autor de escolher um desses foros para a fase de cumprimento da sentença. Feita a escolhe a competência fica firmada, não sendo possível haver execução itinerante.
Nas causas julgadas originariamente pelos tribunais, a eles próprios compete a execução, com exceção da homologação de sentença estrangeira, cuja incumbência fica com o juiz federal de 1º.
Por fim, na execução da sentença arbitral, da penal condenatória, da estrangeira e do título extrajudicial, será competente o juízo cível ao qual competiria o processo de conhecimento caso não existisse o título. Registre-se que na sentença arbitral as partes podem ter disposto de forma diversa, elegendo o foro executório.
Obs: uma ação penal julgada na esfera federal não necessariamente será executada civilmente nesta esfera.
Obs²: há decisão do STJ no sentido de que o local do imóvel hipotecado NÃO será obrigatoriamente o foro competente para a execução, podendo-se optar pelo domicílio do devedor.
P: Qual a diferença existente entre obrigação e responsabilidade patrimonial?
R: A responsabilidade patrimonial é a possibilidade sujeição do patrimônio (bens presentes* e futuros) de determinada pessoa à satisfação dos interesses do credor, enquanto que a obrigação representa uma situação jurídica de desvantagem. Assim, enquanto esta é instituto de direito material estático, que gera mera expectativa de satisfação, aquela é dinâmica e efetivamente satisfativa.
Cumpre destacar que o fiador é considerado um coobrigado perante o credor, logo, sua responsabilidade patrimonial é primária. Porém, se existir o benefício de ordem, essa responsabilidade será também subsidiária, a despeito de primária.
*Alguns doutrinadores falam que bens presentes são aqueles existentes no momento da instauração do processo executivo. Antes disso, se houver fraude, os bens passados poderão ser atingidos, a contar do momento em que contraída a obrigação. O STJ, por sua vez, já decidiu que a responsabilidade patrimonial começa antes da formação da dívida. Começa na constituição da obrigação! Afinal, a dívida já é o inadimplemento.
P: Aponte algumas peculiaridades sobre os bens impenhoráveis.
R: Os móveis e utilidades domésticas são impenhoráveis na medida da dignidade humana, razão pela qual o STJ entende abrangidos aqueles voltados para o lazer, decotando-se, por óbvio, qualquer excesso. O mesmo raciocínio aplica-se aos pertences de uso pessoal.
A remuneração, em sentido amplo, só pode ser penhorada, excepcionalmente, em caso de dívida alimentícia. Até mesmo as verbas rescisórias alocadas em fundo de investimento estão livres da constrição (STJ) Por sua vez, os valores derivados da restituição do IR não são considerados impenhoráveis pelo STJ, pois não há comprometimento da manutenção digna do executado! Hipótese excepcional em que a Corte Especial admite a penhora de bem com natureza salarial.
Os bens necessários e úteis ao exercício profissional que não podem ser penhorados são aqueles das pessoas físicas, ou, no máximo, das microempresas e empresas de pequeno porte quando a atividade destas se confundirem com a dos sócios (STJ). Além disso, há quem defenda que esses bens devem ter sidos adquiridos antes da dívida, pois o devedor poderia tentar se livrar de futura constrição investindo seu patrimônio nesse tipo de bem somente com fins evasivos.
O seguro de vida é impenhorável porque sequer faz parte do patrimônio do de cujus, ele não é herança.
A impenhorabilidade da pequena propriedade rural prevista no CPC é mais abrangente que a constitucional, pois a CF permite a penhora oriunda de débitos decorrentes da atividade produtiva, o que não é admitido pelo CPC, bastando que a pequena propriedade seja trabalhada para gozar da proteção.
Os recursos públicos do fundo partidário e os ligados à aplicação compulsória em educação, saúde e assistência social não perdem essa qualidade pelo fato de ingressarem em pessoas de direito privado, razão pela qual permanece a impenhorabilidade.
Salvo a hipótese expressa na lei de locações, o STJ não admite a renúncia porque a impenhorabilidade é fundada no princípio do patrimônio mínimo (mínimo para o devedor viver com dignidade – reflexo do princípio ida dignidade da pessoa humana), que é matéria de ordem pública, logo, indisponível pelas partes.
P: Quem é o responsável patrimonial secundário?
R: É aquele que não participa da relação material (não é o devedor), mas que tem seus bens sujeitos à execução. Ex: o sucessor a título singular, quanto ao bem objeto de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; os sócios, quando a lei assim indicar; os cônjuges (que tem legitimidade para opor embargos de terceiros e embargos à execução); e o adquirente de bem em fraude à execução.
P: Fale sobre a fraude à execução, distinguindo-a dos institutos semelhantes.
R: Enquanto na fraude contra credores, instituto do direito material, é preciso o evento danoso e o intento de fraudar o credor, na fraude à execução o ato prejudica, além do credor, a própria dignidade da justiça, gravidade esta que leva a se dispensar a prova do elemento subjetivo para sua configuração, eis que ele é presumido.
O STJ excepciona a regra para os terceiros adquirentes
de boa-fé, de modo que não haverá ineficácia do negócio jurídico perante eles (STJ 375).
A fraude somente pode ser reconhecida no momento da execução, mas ela pode ocorrer na constância do processo de conhecimento, desde que o devedor tenha ciência inequívoca da ação e mesmo assim aliene seus bens causando eventum damni. Seu reconhecimento terá caráter declaratório, com eficácia ex tunc.
Cumpre registrar a existência de uma fraude ainda mais grave, a alienação de bem já constrito judicialmente, razão pela qual a doutrina dispensa qualquer requisito para o desfazimento do negócio. O STJ, por outro vértice, também salvaguarda os interesses do terceiro de boa-fé.
	Fraude contra credores
	Fraude à execução
	Direito material
	Direito processual
	CC e STJ – o ato é ANULÁVEL* (divergência doutrinária)
	Ato é INEFICAZ perante o credor
	Ação pauliana OU REVOCATÓRIA – ação exigida para o reconhecimento de fraude contra credores. Ação de conhecimento pelo rito ordinário.
É SEMPRE de natureza pessoal, mesmo que o bem objeto da fraude seja imóvel, pois o autor tem direito ao restabelecimento patrimonial do devedor, e não ao bem imóvel.
Litisconsórcio passivo necessário e unitário entre o devedor e o 3º adquirente.
	Não há ação autônoma. O reconhecimento é feito incidentalmente na execução ou na falência.
	É preciso o concilium fraudis (intenção de fraudar) E o eventos damni (insolvência)
	O STJ é pacífico (Agrg no Ag 1057724) – só precisa do eventos damni (insolvência). Dispensa o conciluem fraude, mas protege o 3º de boa-fé!
STJ 375 – não se aplica À fazenda
Se o bem volta ao patrimônio do devedor, este bem passará a responder por todas as dívidas, daí o credor que fez a ação pauliana não necessariamente receberá o pagamento, pois pode haver outros credores mais privilegiados. Uma solução para isso seria dizer que o ato era ineficaz, a despeito do CC.
STJ – Inf 467- resp 971.884/PR => o STJ, percebendo a injustiça e sem coragem de contrariar à disposição expressa da lei, disse que o ato é anulável, mas essa anulação só beneficia o autor da ação pauliana.
Título executivo judicial e extrajudicial. Luiz Araujo (luizemmga@gmail.com)
P: É possível a existência de título executivo extrajudicial oriundo de decisão judicial?
R: Sim. Em regra, o título executivo extrajudicial é formado por ato de vontade das partes envolvidas na relação jurídica de direito material. Contudo, o art. art. 585, inc. VI, do CPC, estabelece importante exceção. Trata-se do crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial. O respectivo título executivo, neste caso, forma-se com a decisão judicial que houver homologado (‘aprovado’) o cálculo por meio do qual se tenha estabelecido, no processo, o valor exato do crédito.
P: Qual a natureza do título executivo, segundo a doutrina?
R: A questão não é pacífica na doutrina. Três correntes doutrinárias debatem acerca da natureza jurídica do título executivo: (a) título como documento: segundo Carnelutti, o título seria um documento representativo da existência do crédito exequendo; (b) título como ato jurídico: segundo Liebman, o título representa tão somente a via adequada para o início do processo de execução, por meio da imposição da sanção processual consistente na responsabilidade patrimonial; e (c) teoria mista: o título pode ser visto como ato e documento, sendo a lei a responsável pela determinação de qual característica será predominante (documento: nota promissória; ato: despesas condominiais).
P: O rol legal de títulos executivos é exemplificativo ou numerus clausus?
R: No que concerne aos títulos executivos extrajudiciais, a enumeração do artigo 585 deixou de ser taxativa pelo advento da Lei 8.953/94, que, modificando a redação do inciso II do referido dispositivo do CPC, permitiu a criação negocial de títulos executivos não apenas relativos às obrigações por quantia certa, mas igualmente para cumprimento das obrigações de dar e fazer e não-fazer. Ademais, o inciso VIII do art. 585 abre a possibilidade de que outros títulos executivos extrajudiciais venham a ser criados por leis especiais (mas nunca pela vontade livre das partes). Já no que concerne aos títulos executivos judiciais, trata-se de um rol taxativo, antigamente previsto no art. 584, mas atualmente constante do art. 475-N do CPC, introduzido pela Lei 11.232/2005.
P: Há diferença ontológica entre o título executivo judicial e o extrajudicial? Como justificar a maior amplitude de defesa do devedor na execução de título extrajudicial?
R: Não existe diferença ontológica entre o título executivo judicial e o título executivo extrajudicial. Todos eles são documentos que permitem a realização de atos executórios antes da apreciação das razões do devedor. No entanto, no que concerne propriamente a títulos executivos judiciais, há uma cognição prévia que certifica a existência da relação obrigacional. Daí por que a defesa do devedor na execução de título judicial será bem mais restrita do que a defesa articulada na execução de título extrajudicial.
P: É possível que o título executivo extrajudicial submeta-se à liquidação? Há exceção?
R: Em regra, não há possibilidade de implementação judicial (liquidação, cálculo do contador) de títulos executivos extrajudiciais. A ‘liquidação’ é, apenas, de título judicial, ou seja, de sentença, nos termos expressos do art. 475-A. O título executivo extrajudicial, que seja certo, mas não líquido, somente pode ser usado como prova em processo de conhecimento. Contudo, Marinoni traz importante observação: “Porém, é preciso advertir que, excepcionalmente, os títulos extrajudiciais podem ser ilíquidos, sujeitando-se, então, à liquidação. É o que ocorre com os termos de ajustamento de conduta, da Lei da Ação Civil Pública”.
P: O que são títulos executivos documentalmente complexos? De um exemplo.
R: Títulos executivos documentalmente complexos são aqueles que se corporificam em mais de um documento. Nada obsta a que os títulos executivos sejam documentalmente complexos, desde que sejam “líquidos, certos e exigíveis” (CPC, art. 586). É o caso, p. ex., da duplicata sem aceite (art. 15 da Lei 5.474/68). Nesta hipótese, o título executivo se corporifica em um compósito documental formado por duplicata não-aceita + comprovante de entrega da mercadoria + instrumento de protesto.
P: A sentença civil meramente declaratória é título executivo judicial? Indique as correntes doutrinárias e o posicionamento da jurisprudência.
R: Após a Lei 11.232/2005, que alterou a redação do art. 475-N, I, do CPC, a expressão “sentença civil condenatória” foi substituída por “sentença civil que reconhece existência de obrigação”. Essa mudança se relaciona à discussão sobre a execução de sentença meramente declaratória. Na doutrina, há 3 correntes sobre o tema: (i) Nery e Araken de Assis: a sentença meramente declaratória não era título executivo e, após 2005, continua não sendo, em razão do princípio da congruência (CPC, art. 460); (ii) para Zavascki e Didier: a sentença meramente declaratória sempre foi título executivo, baseado no princípio da economia processual (execução da sentença declaratória dispensa o ajuizamento de nova ação), e na função do título (de demonstração de uma grande probabilidade de o direito existir); (iii) para Humberto Theodoro Júnior e Marcelo Abelha, a sentença declaratória não era título executivo e passou a ser com a lei. O STJ, recentemente, teve oportunidade de se manifestar sobre o tema (REsp 1.100.820/SC e Informativo 504; relatoria do Min. Zavascki) e adotou o entendimento da segunda corrente. Para a Primeira Turma, “se a sentença apresentou todos os elementos identificadores da obrigação (sujeitos, prestação, liquidez e exigibilidade), não há necessidade de submetê-la a um novo juízo de certificação antes da execução. Assim, é possível apurar, em sede de liquidação judicial, o quantum a ser posteriormente compensado na via administrativa, tendo em vista o reconhecimento
de indébito tributário em ação declaratória”.
P: É possível a execução de sentença homologatória quanto a “matéria não posta em juízo”? Explique o termo.
R: Sim, conforme previsão do art. 475-N, III, do CPC. A redação do item não foi feliz, visto que a matéria que não é “posta em juízo” jamais será parte de qualquer decisão judicial. A regra quer dizer ser possível que as partes transacionem sobre assuntos que não fazem parte do objeto da demanda.
P: O contrato de abertura de crédito é título executivo extrajudicial? E o contrato de renegociação de dívida? Fundamente conforme a jurisprudência do STJ.
R: O STJ pacificou o entendimento, defendido pela maioria da doutrina, de que o contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato de conta corrente, não é um título executivo, cabendo apenas a propositura de ação monitória ou de cobrança (cf. Súmula 233 do STJ). Também se encontra pacificado o entendimento de que o contrato de renegociação de dívida, ainda que oriunda de contrato de abertura de crédito, em tese é título executivo apto a aparelhar o processo de execução, haja vista tratar-se de confissão de dívida (cf. Súmula 300 do STJ).
P: A ausência de testemunhas presentes no momento da formação do documento particular retira a executoriedade do título executivo?
R: Conforme jurisprudência do STJ, o fato das testemunhas do documento particular não estarem presentes ao ato de sua formação não retira a sua executoriedade, uma vez que as assinaturas podem ser feitas em momento posterior ao ato de criação do título executivo extrajudicial, sendo as testemunhas meramente instrumentárias (cf. REsp nºs 1.127/SP e 8.849/DF).
P: Qual é a singularidade do título executivo extrajudicial previsto no inciso VII do art. 585 do CPC (certidão de dívida ativa da Fazenda Pública)?
R: A singularidade de tal título é que entre todos os títulos extrajudiciais esse é o único que pode ser formado sem nenhuma participação do devedor ou de terceiro, atuando em sua formação apenas o credor. Tal característica vem assentada na boa-fé do Estado e na presunção de legalidade do ato administrativo, permitindo ao Estado ser o único capaz de formar títulos executivos de forma unilateral.
Execução por quantia certa contra devedor solvente e contra devedor insolvente. Bernadete (bernadetercortes@gmail.com)
P: Quem deve indicar os bens a serem penhorados?
R: Na verdade a indicação de bens à penhora é um ônus do executado somente quando o juiz determinar, tendo em vista que o credor não exerceu sua faculdade de indica-los. A omissão do executado pode resultar em multa por configurar um ato atentatório à dignidade da justiça (o juiz intima o devedor, até mesmo em nome do seu advogado, para indicar no prazo de 05 dias). Esta omissão, todavia, não impede que a penhora seja feita pelo oficial de justiça, intimando-se o executado pelo seu advogado (intimação pessoal apenas se ele não tiver advogado). Caso não localizado, o juiz pode até mesmo dispensar essa intimação da penhora.
Obs: averbações excessivas só responsabilizarão o exequente se demonstrada sua culpa.
P: Explique o arresto executivo.
R: o arresto cautelar é aquele realizado de ofício pelo oficial de justiça que não consegue citar o executado, mas que encontra bens a serem penhorados. É uma pré-penhora e também um requisito para a posterior citação por edital, caso o devedor não seja encontrado.
Difere do arresto cautelar porque não precisa dos requisitos fumus bonis iuris e periculum in mora, tampouco de decisão judicial. Ademais, o arresto executivo gera o direito de preferência, o que não ocorre no cautelar.
P: Qual o limite dos honorários advocatícios no processo de execução?
R: ora o STJ sustenta a autonomia das verbas de sucumbência no processo de conhecimento e no de execução, ora afirma que essa discussão é irrelevante, pois o que importa é que o total dos honorários não ultrapassem 20% do valor executado.
Importante lembrar que o pagamento integral no prazo de 03 dias diminui à metade o valor dos honorários (medida de execução indireta).
P: O que é a moratória legal?
R: é um novo instrumento previsto no art. 745-A do CPC que permite ao executado, no prazo dos embargos, reconhecer a dívida e requerer seu parcelamento em até 6x, com juros de 1% ao mês, desde que deposite prontamente 30% do valor exequendo, incluindo as verbas sucumbenciais. Observe que a posterior interposição de embargos seria ato contraditório (preclusão lógica para uns, renúncia ao direito de interpor os embargos para outros).
Enfatize-se que preenchidos esses requisitos, o deferimento do parcelamento pelo juiz é vinculado, ainda que o exequente seja contra! Protege-se a segurança jurídica do devedor que reconheceu o direito do credor e não embargará ou criará obstáculos a sua satisfação. Porém, eventual penhora já efetivada não será desfeita.
A doutrina majoritária entende que a moratória legal só se aplica ao processo de execução, não sendo cabível no cumprimento de sentença, justamente porque não há que se falar em reconhecimento de crédito que já foi reconhecido judicialmente, tampouco seria razoável exigir que o credor aguarde mais 06 meses após todo o demorado trâmite judicial.
P: Qual a natureza jurídica da penhora? E quais os seus efeitos?
R: a penhora tem natureza de ato executivo, ainda que se vislumbre uma função cautelar de garantia do juízo!
Os efeitos materiais são:
1. Garantia do juízo
2. Individualização dos bens que suportarão a execução
3. Geração de direito de preferência ao exequente (desde que seu crédito tenha a mesma natureza dos créditos dos demais credores)
Efeitos processuais:
1. Retirada do executado da posse direta do bem
2. Ineficácia dos atos de alienação/oneração do bem penhorado
P: É possível alterar a ordem legal da dos bens a serem penhorados?
R: Sim, pois a ordem legal não é peremptória, mas tem que haver justificativa para tanto, devendo o juiz ponderar a maior efetividade da execução com a menor onerosidade do executado (sempre deve haver proporcionalidade entre esses dois valores).
O STJ entendia que a penhora em dinheiro só poderia ser feita após o esgotamento de todos os meios de localização do patrimônio do devedor. Com a alteração legislativa em 2006, ele modificou seu posicionamento, mas apenas para as constrições realizadas a partir de então.
Ordem: $$$$$, veículos terrestres, móveis, imóveis, navio e aeronaves, ações de sociedades, percentual faturamento da empresa, peras preciosas, títulos da dívida pública, títulos valores mobiliários e outros direitos.
Obs: a penhora on line não é mais medida de ultima ratio. A lei exige o requerimento do exequente, mas a doutrina critica essa formalidade. A penhora on line será no limite do valor da execução, assim como a obtenção de informações acerca dos ativos do executado. Eventuais valores impenhoráveis atingidos devem ser demonstrados pelo executado, via exceção de pré-executividade, cabendo inclusive pedido de tutela antecipada com pedido de desconstituição imediata da penhora (STJ).
STF => o cadastramento do juiz no sistema Bacen-jud é obrigatório. (2011!)
STJ => a penhora de conta corrente conjunta pode ser feita sobre todo valor, ainda que somente um dos correntistas seja o devedor.
STJ => o reforço de penhora não pode ser determinado de ofício pelo juiz.
P: Diferencia a penhora do faturamento da empresa do “usufruto da empresa”.
R: o usufruto da empresa foi um instituto extinto do CPC em que havia transmissão da administração da pessoa jurídica e retirava-se valores da empresa e entregava-os ao exequente. Já na penhora do faturamento não há aludida transmissão, tampouco há entrega direta dos valores, pois aqui se trata tão somente de forma de garantia do juízo, com depósitos periódicos em juízo de percentuais do faturamento, sendo o montante entregue ao exequente em momento posterior. Ela só é cabível se não tornar inviável o exercício da atividade empresarial.
Para não afetar o capital de giro, o STJ entende necessária a nomeação de um administrador que fará
concreto, tem direito a um julgamento de mérito, o que só ocorrerá se preenchidas as chamadas condições da ação.
A ação seria, portanto, direito a julgamento de mérito.
P: Especifique as condições da ação:
R: Legitimidade: pertinência subjectiva da lide;
Interesse de agir: necessidade e utilidade do provimento jurisdicional pleiteado. Há quem fale ser necessária a adequação do procedimento escolhido e da providencia pleiteada ao fim a que se destina.
Possibilidade jurídica do pedido: licitude aprioristica (em tese) do pedido. Possibilidade de sua apreciação por não ser ele expressamente proibido pelo ordenamento ou quando implicitamente proibido, por não constar de rol taxativo, por exemplo usucapião de bem público.
P: Explique a importância da análise das condições de ação:
R: O preenchimento das condições da ação é importante a fim de que se evite o ajuizamento de ações temerárias ou crassamente infundadas. Assim, estabelece-se um filtro a fim de que o judiciário apenas analise demandas com um mínimo de probabilidade de sucesso, evitando-se atividade jurisdicional desnecessária.
P: As condições da ação seriam requisitos para a existência ou para o exercício da ação?
R: Segundo Liebman, seriam requisitos de existência. O direito de ação só existiria se houvesse o regular preenchimento de ditos requisitos. Há doutrinadores, contudo, como Alexandre Câmara, que dizem tratar-se de requisitos para o julgamento de mérito. A “ação” existe, ainda que não haja julgamento de mérito.
P: Acerca do momento de análise das condições da açao, explique as teorias da apresentação e da asserção.
R: De acordo com a teoria da apresentação, as condições da ação constituem matéria processual. Trata-se de matéria de ordem pública, podem ser apreciadas a qualquer tempo, já que não se opera a preclusão. Ademais, sobre elas não recai a coisa julgada material, podendo ser reproposta a demanda sob os mesmos fundamentos.
Já para a teoria da asserção, a análise das condições da ação se restringiria ao exame de admissibilidade da causa. O juiz apenas analisaria as condições quando da apreciação da petição inicial. Para isso, consideraria como verdadeiro, nesse momento, tudo o que o autor alega na inicial. Não se trata de cognição sumária, mas exauriente, já que para essa corrente este seria o único momento em que seriam verificados. Caso analisadas em momento posterior, após a defesa do réu, teríamos julgamento de mérito, operando-se, assim, a coisa julgada. 
P: Como as ações podem ser classificadas?
R: O critério mais utilizado para classificar as ações relaciona-se à espécie de prestação jurisdicional pretendida. Assim, temos:
Ação de conhecimento: o objetivo é certificar o direito alegado, conferindo certeza a uma relação jurídica. Poderá ser meramente declaratória (conferir certeza a uma relação jurídica), constitutiva (com o objetivo de modificar, criar ou constituir uma relação jurídica) ou condenatória (visa impor ao réu uma obrigação de fazer, não fazer ou dar alguma coisa ao autor).
Ação de execução: o intento do jurisdicionado é a satisfação de seu interesse. Atualmente entende-se que mesmo as ações declaratórias são passíveis de execução, não somente as condenatórias.
Ação cautelar: visa resguardar a utilidade do provimento jurisdicional buscado pelo interessado.
Processo. Conceito. Natureza jurídica. Princípios fundamentais. Pressupostos processuais. Carolina (coragemrs@yahoo.com.br) 	
P: Dentre as teorias existentes a respeito da natureza jurídica do processo, qual é a mais aceita pela doutrina nacional?
R: O processo deve ser compreendido como uma relação jurídica de direito processual, exteriorizada por meio do procedimento, sendo esta natureza jurídica defendida por grande parte da doutrina nacional. Oskar Von Bullow, em sua obra Teoria dos Pressupostos Processuais e das Exceções Dilatórias, foi um dos primeiros a defender o processo como relação jurídica, desenvolvendo a distinção entre relação jurídica processual e relação jurídica material. A partir de então, passa-se a desenvolver a concepção de que o exercício do direito de ação é diverso do exercício do direito material, fundamentando a fase autônoma do desenvolvimento do processo civil.
 
P: Quais são os principais pressupostos processuais subjetivos e a conseqüência de sua inexistência/irregularidade ao processo?
R: Não há um entendimento consolidado na doutrina no que pertine à classificação dos pressupostos processuais. Entretanto, pode-se considerar como os principais pressupostos processuais subjetivos a investidura, imparcialidade, competência, capacidade de ser parte, capacidade de estar em juízo e a capacidade postulatória.
A investidura exige que o julgador possua poder jurisdicional, o qual é conferido pelo Estado. Sua ausência, acarreta a inexistência do processo. Já a imparcialidade refere-se a necessidade de que o julgador seja um terceiro neutro na relação jurídica processuais, sendo um pressuposto processual de validade.
A competência absoluta, segundo artigo 113, parágrafo 2°, do CPC, gera a nulidade de pleno direito dos atos decisórios, sendo pressuposto procesual de validade. A competência relativa, segundo parte da doutrina, não pode ser considerada como pressupostos processual subjetivo, pois passível de ser convalidada.
A capacidade de ser parte diz respeito à capacidade do sujeito de gozo e exercício de direitos e obrigações, sendo pressuposto processual de existência. A capacidade de estar em juízo, por sua vez, demanda capacidade processual, tendo os incapazes representação ou assistência no processo, sob pena de ofensa a pressuposto de validade.
Por fim, a capacidade postulatória diferencia-se das demais por exigir a presença de advogado devidamente habilitado pela OAB, sendo que, em grande parte das demandas, sua ausência pode ser entendida como pressuposto de validade do processo.
 
P: Quais são os pressupostos processuais objetivos chamados de negativos ou impedimentos processuais?
R: Os pressupostos processuais objetivos negativos são aqueles extrínsecos, referentes a fatos estranhos ao processo que não podem se perfectibilizar para que o processo seja considerado válido. Assim, não pode estar configurada hipótese de coisa julgada material, litispendência, perempção, convenção de arbitragem e transação.
 
P: Como o STF vem interpretando o Princípio do Contraditório? Quais são os direitos das partes no processo?
R: A Suprema Corte vem se afastando do conceito tradicional de contraditório que se limitava a dois elementos: a informação e a possibilidade de reação.
A jurisprudência consolidou o entendimento de que o Princípio do Contraditório deve permitir um poder de influência das partes na formação do convencimento do juiz, de modo a garantir uma reação apta e efetiva, passível de repercutir na esfera de convencimento do julgador.
Por outro lado, o Princípio do Contraditório também se revela como um importante instrumento para evitar surpresas às partes, evitando que o magistrado decida sem a prévia manifestação destas, à exceção daqueles matérias passíveis de serem conhecidas de ofício.
 
P: No que consiste o Princípio da Instrumentalidade das Formas?
R: A lei prevê que, se o ato for praticado na forma prevista em lei, o objetivo será alcançado e os efeitos produzidos. Por outro lado, praticado o ato em desconformidade com a forma prevista em lei, haverá nulidade.
Nesse contexto, o Princípio da Instrumentalidade das Formas consiste em afastar a sanção imposta ao ato viciado, desde que o ato praticado tenha o condão de atingir o resultado e que não gere prejuízo.
Assim, ainda que a formalidade para a prática do ato seja importante em termos de segurança jurídica, deve-se aproveitar o ato que atingiu sua finalidade, de modo, inclusive, a fazer valer o Princípio da Economia Processual.
 
P: O Princípio da Razoável Duração do Processo é aplicado somente os processos judiciais?
R: Segundo o artigo 5°, inciso LXXVIII, da CF, acrescentado pela Emenda Constitucional n. 45, a todos são assegurados a razoável duração do processo
um plano de recebimento dos valores.
P: Discorra sobre aspectos relevantes do procedimento da penhora.
R: o oficial de justiça pode intimar em comarcas contíguas, mas não pode realizar penhoras, devendo necessariamente expedir uma carta precatória. As exceções ficam por conta da penhora on line e da penhora de imóvel, que pode ser realizada por termo nos autos.
Se o devedor se opuser é possível o arrombamento de suas portas.
O depósito do bem é ato complementa à penhora, que se considera realizada mesmo que o depositário seja nomeado posteriormente. O registro em cartório da penhora também não faz parte desta, servindo somente para gerar presunção absoluta do conhecimento de terceiros.
Quanto à substituição do bem penhorado, discute-se se a fiança bancária teria o mesmo status do dinheiro. O STJ diverge neste tema, sendo possível afirmar, todavia, que existe uma tendência em aceitar a substituição da penhora em dinheiro desde que a instituição financeira garantidora seja confiável e que sejam comprovados os pressupostos da menor onerosidade ao executado.
Eis as razões que permitem substituição do bem penhorado (por qualquer das partes):
1. Desrespeito à ordem legal
2. Penhora de bem não previsto em lei, contrato ou ato judicial
3. Havendo bens no foro da execução, outros forem penhorados
4. Havendo bens livres, a penhora ocorre sobre bens já gravados
5. Bem de baixa liquidez
6. Fracasso da tentativa de alienação judicial
7. Devedor não indicar o valor dos bens
 
P: O que é a “penhora de mão própria”?
R: “Embora a lei não trate expressamente da penhora de mão própria, consistente na possibilidade da constrição recair sobre crédito que o executado possui frente ao próprio exequente, tal modalidade de penhora encontra viabilidade na dicção do art. 671, II, do CPC, apenas com a peculiaridade de que o terceiro devedor, nesta hipótese, é o próprio exequente. A penhora de mão própria só é possível se ambos os créditos forem certos, líquidos e exigíveis, hipótese em que, mais do que a garantia do juízo, haverá a compensação “ope legis, até o limite do crédito do executado frente ao exequente.
- Considerando que o crédito objeto de penhora de mão própria terá como resultado final sua compensação automática com o débito em execução, não há como deixar de incluí-lo em primeiro lugar, juntamente com o depósito em dinheiro, visto que esta segue o critério da liquidez, isto é, da maior facilidade do bem ser utilizado para quitação da dívida”. (STJ)
(REsp 829.583/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/09/2009, DJe 30/09/2009). http://br.vlex.com/vid/-69041489
Registre-se, porém, que em caso de penhora de precatório (penhora de crédito – penhoras especiais), essa compensação não é admitida pelo STJ.
P: é possível a penhora de cotas sociais quando o contrato social veda?
R: o STJ entendeu que a penhorabilidade das cotas sociais não pode ser excepcionada por contratos sociais, pois violaria o dispositivo de lei que a permite. Destaque-se que com a transmissão das cotas não se transfere a affectio societatis, pois o exequente não terá direito a ingressar na sociedade se o contrato não permitir, ele apenas tem direito ao respectivo valor da cota.
P: Qual a importância da avaliação dos bens?
R: a avaliação, que normalmente é realizada pelo próprio oficial de justiça, somente sendo necessária a participação do avaliador perito quando precisar de conhecimento específico, tem importância na fixação do lanço mínimo na hasta pública, na possibilidade de diminuição ou aumento de penhora com base nela. Porém, nem sempre ela será feita, como nos casos em que o executado concordar com o valor indicado pelo exequente e quando houver cotação em bolsa do bem penhorado.
P: Quais as formas de expropriação? Destaque os principais aspectos de cada uma.
R: expropriar significa retirar a propriedade. Existe uma espécie atípica de expropriação, que é a alienação antecipada dos bens (no caso de deterioração/depreciação do bem e no caso de manifesta vantagem, a critério do juiz) e quatro espécies típicas:
Adjudicação: é a forma preferencial de expropriação na qual o bem é transferido para o patrimônio do legitimado a adjudicar como forma de pagamento (difere da dação em pagamento porque não há voluntariedade). Se o valor da adjudicação for igual ou menor que o valor da execução, fala-se em adjudicação satisfativa. Se o valor da adjudicação for superior, fala-se em adjudicação-venda.
A diferença para a arrematação é meramente procedimental, prestigiando determinados sujeitos que não precisariam esperar a alienação judicial. Assim, são legitimados: sócios não devedores no tocante às cotas, cônjuge, descendentes, ascendentes, credor com garantia real, credor concorrente que tenha penhorado o bem (nesta ordem de preferência). Os interessados protocolarão suas ofertas em petições, criando uma licitação incidental ao processo.
Em regra a adjudicação não pode ser feita por valor inferior ao da avaliação, já tendo o STJ, entretanto, excepcionado esta regra em caso cuja hasta havia se frustrado 08 vezes.
Registre-se a possibilidade de adjudicação provisória, enquanto pendentes embargo à execução.
Obs: a adjudicação sem prévia frustação da hasta pública é novidade no CPC, mas não no ordenamento, pois a LEF já permitia à Fazenda fazer isso!
Alienação por iniciativa particular: o próprio exequente ou um corretor credenciado perante o juiz realiza a alienação. Deve haver requerimento exclusivo do exequente. O juiz fixará um prazo fixo, ordenará a publicidade, fixará preço mínimo, determinará a forma de pagamento e eventual garantia.
Arrematação ou hasta pública: critério residual. A praça é para bens imóveis e o leilão para os demais. Será publicado edital contendo todas informações necessárias, cujo resumo será veiculado também em jornal de ampla circulação ou por meio eletrônico. Caso a avaliação dos bens não seja superior a 60 salários mínimos, a publicação é dispensada, bastando a afixação do edital no local de costume.
A intimação do executado pode ser por meio de seu advogado ou, quando revel, por edital. O STJ dispensa a intimação do cônjuge, pois caso necessário, isso já foi feito na fase de penhora.
A hasta pública eletrônica é novidade no CPC, mas trata-se de norma não autoaplicável, necessitando de regulamentação do CJF e dos Tribunais de Justiça. O projeto do novo CPC prevê dispositivo em que dá preferência ao leilão eletrônico.
A arrematação é mais ampla que a adjudicação, sendo legitimado para tanto qualquer pessoa que esteja na livre administração de seus bens, com exceção daqueles que tenham relação especial com o executado (tutor, curador), com o bem (testamenteiro, liquidante, administrador) e daqueles que tenham participado do processo (Juiz, membro do MP ou da Defensoria, escrivão e auxiliares de justiça).
A arrematação se encerra com a formalização de um auto, que exisitirá mesmo que o bem não seja vendido (auto negativo).
A arrematação é ineficaz nas seguintes hipóteses: há vício de nulidade na execução* ou na arrematação; não pagamento de preço ou não prestação de caução; existência de ônus real ou gravames não mencionados no edital; preço vil. Com exceção dos gravames, os demais vícios são matérias de ordem pública cognoscíveis de ofício pelo juiz, segundo maioria doutrinária.
*alegação via embargos de segunda fase
Usufruto de bens móveis e imóveis (usufruto executivo): os frutos e rendimentos do bem é que satisfarão o exequente, não sendo necessária sua transferência. É modalidade excepcional e que deve ser requerida pelo exequente até a realização da hasta.
 
P: Qual a função do concurso singular de credores?
R: o concurso singular de credores tem como função determinar a ordem de preferência dos credores a receber o dinheiro resultante da expropriação. Difere do concurso universal porque neste o devedor é insolvente.
Entre credores da mesma categoria, prefere o que penhorou primeiro (ou arrestou). O juiz decidirá em caso de dúvida e a maioria defende a natureza interlocutória
dessa decisão, recorrível por agravo de instrumento (há críticas por conta do novo conceito de sentença).
P: Quais as peculiaridades da execução por quantia certa do devedor insolvente?
R: A ação de execução de quantia certa contra devedor insolvente diferencia-se daquela proposta contra devedor solvente, visto que é necessário, antes da execução, que seja declarado o estado de insolvência do devedor para assim ter início à verdadeira execução. Repare-se que a insolvência é pressuposto de fato, mas a declaração desta pela via judicial é pressuposto de direito que se faz indispensável.
A insolvência civil do devedor tem por finalidade precípua garantir aos credores uma satisfação isonômica de seus créditos e sua declaração produzirá 3 efeitos, quais sejam: 1) o vencimento antecipado de suas dívidas; 2) a arrecadação de todos os seus bens suscetíveis de penhora, quer os atuais, quer os adquiridos no curso do processo; 3) a execução por concurso universal dos seus credores.
São legitimados a requerer a insolvência o credor quirografário, o devedor e o inventariante do espólio do devedor e o julgamento compete ao juízo estadual do domicílio do devedor (competência absoluta).
As declarações de crédito dos credores que visam habilitar-se poderão ser impugnadas pelos demais credores, o que retardará a formação do quadro geral de credores. Em regra, após esta formação é que serão vendidos os bens do devedor insolvente e feito o rateio.
Liquidada a massa, de acordo com o art. 774, o devedor ainda fica obrigado pelo saldo remanescente, visto que o pagamento não fora realizado integralmente. Com isso, o processo não termina, apenas paralisa até o momento em que o devedor adquira novos bens passíveis de penhora, para quitação total de seus débitos.
Desde logo seja transitada em julgado a sentença que encerrar o processo de insolvência, voltam a transcorrer os prazos de prescrição das obrigações, e, ficando extintas todas as obrigações depois de transcorrido o prazo de 05 (cinco) anos.
É lícito ao devedor requerer ao juízo da insolvência a extinção das antigas obrigações. Essa sentença produz dois efeitos: a reabilitação do devedor a praticar todos os atos da vida civil e a extinção das obrigações, e consequentemente seus títulos executivos.
Execução para entrega de coisa. Rubens (rubensqs@gmail.com)
P: Sucintamente, como se inicia e quais os possíveis desdobramentos da execução para a entrega de coisa?
R: A execução para entrega de coisa se inicia com a petição inicial, instruída com o título e pedido de citação do devedor, que será chamado para entregar o bem em 10 dias. O devedor poderá: entregar o bem devido, depositar o bem para discutir, ou permanecer inerte. Entregando o bem, será lavrado termo de entrega e a execução será extinta. Se depositar o bem, poderá apresentar embargos à execução, que deverá ser feito no prazo de 10 dias, a contar do depósito, os embargos tem efeitos suspensivo e a execução só voltará a correr da sentença dos embargos. Sendo acolhidos os embargos, o devedor receberá o bem de volta e a execução será extinta, se os embargos forem rejeitados, o bem será entregue ao credor e a execução estará, também, extinta.
P: Quais medidas podem ser tomadas se, após a citação, o devedor permanecer inerte?
R: Se o devedor permanecer inerte caberá ao juiz utilizar as medidas judiciais que buscam satisfazer o credor, expedindo mandado de busca e apreensão (no caso de bem móvel), mandado de imissão de posse (para bens imóveis), ou fixação de astreintes. Havendo a busca e apreensão ou imissão de posse, estando o bem de posse do juízo, deve ser aberto prazo de 10 dias para apresentação de embargos pelo devedor, caso seja de seu interesse, se nada fizer, extingue-se a execução.
P: A entrega do bem sempre extinguirá a execução?
R: Não, há uma única hipótese em que a entrega do bem não extingue a execução, no caso de haverem frutos produzidos pelo bem a serem pagos pelo devedor, nesta situação, após a entrega da coisa, abre-se a oportunidade para uma liquidação incidental destes frutos e o processo será convertido em execução para pagar quantia certa.
P: O que deve ser feito se a coisa não existir mais?
R: Caso se constate que o bem não existe mais, a execução será convertida em execução de quantia certa, relativamente ao valor do bem e mais as perdas e danos, além de eventuais penalidades que tenham sido estabelecidas.
P: O que deve fazer o devedor na hipótese de ter realizado benfeitorias na coisa?
R: Se o devedor realizou benfeitorias na coisa terá direito a indenização, sendo ideal que o credor proceda prévia liquidação da quantia relativa à benfeitoria, depositando-a no momento da execução. Se esta liquidação não for feita, o devedor citado da execução poderá se utilizar dos embargos de retenção, mantendo consigo a coisa até que o credor liquide o valor referente às benfeitorias.
P: O que é coisa incerta? Como se dá a execução para entrega de coisa incerta?
R: Coisa incerta é aquela identificada pelo gênero e quantidade, mas que tem variação quanto a qualidade. Na execução desse tipo de coisa aplicam-se as mesmas regras da execução de coisa certa, com algumas pequenas modificações, decorrentes da necessidade da escolha da coisa.
O título deve prever a quem compete a escolha do bem, no silêncio entende-se que a escolha compete ao devedor. Se o direito de escolha é do credor, ele deverá indicar já na petição inicial, se não o fizer a omissão será interpretada como renúncia ao direito de escolha, que será feita pelo devedor no prazo de 10 dias para entrega do bem, a partir de então, a execução correrá da mesma forma que a execução para entrega de coisa certa.
Vale rememorar que decorre do direito obrigacional que a escolha deverá se dar pela coisa média, ou seja, o devedor não é obrigado a entregar o melhor, nem o credor é obrigado a receber o pior. Feita a escolha do bem, por quem competente, a contraparte terá prazo de 48 horas para impugná-la, competindo ao juiz decidir a respeito. Impugnada a escolha, suspende-se o prazo de 10 dias para entrega da coisa, que voltará a correr após a decisão judicial.
P: E na hipótese do processo sincrético, como se dá o cumprimento de sentença de entrega de coisa?
R: Iniciada a fase de cumprimento de sentença, o juiz deverá intimar o devedor para a entrega da coisa, fixando o prazo, e desde logo instituído astreintes, mediante requerimento do credor ou ex officio. Decorrido o prazo, poderá o juiz fazer incidir a multa, ou estabelecer qualquer medida de apoio (busca e apreensão, por exemplo).
Tratando-se de coisa certa, se esta não for encontrada a execução será convertida em perdas e danos. Se a coisa for incerta, em princípio a escolha deveria ter sido feita já na inicial do processo de conhecimento, se isso não foi observado, poderá o credor escolher na petição de cumprimento de sentença, se a escolha couber a ele. Lembrando que, independente de quem faz a escolha, a outra parte terá prazo de 48 horas para impugná-la.
No caso do devedor ter realizado benfeitorias indenizáveis na coisa, o direito de retenção deve ter sido alegado na fase de conhecimento, na contestação, do contrário perderá este direito e para receber os valores referentes à benfeitoria terá que fazer o pedido em ação própria.
Não existem embargos para o cumprimento de sentença nas obrigações para a entrega de coisa. Qualquer matéria que o devedor queira arguir em seu proveito será feito por meio de impugnação por petição simples.
Execução de obrigação de fazer e de não fazer. Danielle (parquetmg@yahoo.com.br)
P: Na execução de obrigação de fazer, cabe garantia do juízo?
R: Não, pois é impossível ao executado oferecer garantia de que a obrigação de fazer será satisfeita. Por isso, devedor é citado para satisfazer a obrigação em certo prazo. OBS: É diferente da execução por quantia certa, onde o bem penhorado pode converter-se em dinheiro e na execução para entrega de coisa, onde o bem depositado ao final pode ser entregue ao exeqüente, satisfazendo seu direito.
 
P: O que ocorre se
não satisfeita a obrigação de fazer pelo executado?
R: Se obrigação fungível (a que pode ser cumprida por terceiros), exeqüente pode optar por converter em indenização (obrigação de pagar quantia certa) ou requerer que seja executada por terceiros às custas do devedor. Se obrigação infungível (personalíssima), converte-se em indenização (perdas e danos) ou, se quiser a execução específica, cabe pressão psicológica por meio da multa diária (art. 645 do CPC).
 
P: Existe mora na obrigação de não fazer?
R: Não, só existe inadimplemento (fazer ato a cuja abstenção estava obrigado).
 
P: O que se busca nesta execução?
R: Busca-se DESFAZER o ato. Mas se o objetivo for evitar que o ato proibido seja realizado, cabe processo de conhecimento (art. 461 do CPC), inclusive com pedido liminar objetivando a não realização do ato proibido de forma imediata (tutela inibitória).
 
P: E se o credor não desfizer?
R: Se obrigação permanente, juiz determina desfazer à custa do executado e este responde também por perdas e danos. Se obrigação instantânea, converte-se em perdas e danos, em razão da impossibilidade de desfazimento.
 
P: Quando são aplicados os arts. 632 a 643 e quando aplica-se o art. 461?
R: 632 a 643: é obrigação de fazer/não fazer para título extrajudicial.
461: execução de obrigação de fazer/não fazer contida em título judicial. Aplica-se subsidiariamente os arts. 632 a 643, no que não lhe for contrário. Ex: STJ já decidiu que não cabem embargos à execução na fase procedimental de execução fundada no art. 461 do CPC.
 
P: (ORAL TJSP 2007) A súmula 500 do STF estabelece que não pode utilizar ação cominatória nas hipóteses de obrigação de dar. Ainda é válida essa súmula?
R: Ação cominatória é uma ação que obriga alguém a cumprir uma obrigação de fazer ou não fazer. Era prevista no CPC de 1939. O CPC vigente aboliu esta espécie de ação. Não é mais admitida, pois o direito de exigir, em juízo, a prestação da obrigação de fazer ou de não fazer concretiza-se mediante rito ordinário, podendo o autor, na petição inicial, pedir a cominação da pena pecuniária para o caso de não cumprimento da sentença. 
 
P: Cabe multa por dia de atraso (astreinte) nas obrigações de fazer e não fazer?
R: Ao despachar a inicial, o juiz pode fixar multa por dia de atraso (art. 645 do CPC), ainda que isso não tenha sido requerido pelo exeqüente. Segundo o STJ, a eficácia de tal multa depende de intimação pessoal do executado.
Execução contra a Fazenda Pública. Edilvani (edilvani@gmail.com)
Material utilizado: A Fazenda Pública em Juízo, Leonardo Carneiro da Cunha, 2012. Poder Público em Juízo, Guilherme Freire de Melo Barros, 2011. Manual de Direito Processual Civil, Daniel Amorim Assumpção Neves, 2010.
 
P: (AGU 2009 adaptada) Existe um procedimento especial para a execução contra a Fazenda Pública? Por quê? É possível aplicar o novo regramento do cumprimento de sentença no caso de execução de título judicial contra a Fazenda Pública?
R: O CPC prevê um procedimento especial para a execução contra a Fazenda Pública (FP), nos seus arts. 730 e 731. Isso ocorre porque os bens públicos são impenhoráveis e, em regra, inalienáveis, de forma que não se coaduna com o regime de direito público a execução mediante a constrição de patrimônio. Também se costuma afirmar que a especialidade do procedimento está relacionada ao princípio da continuidade do serviço público, já que os bens não poderiam ser afastados de sua utilização pública, sob pena de prejuízo à coletividade. Além disso, o procedimento especial também se justifica no princípio da isonomia, sendo o pagamento por precatórios meio idôneo a garantir que não haja preferências na ordem de pagamento dos credores da FP. Cabe referir que essa sistemática de execução somente se aplica às obrigações de pagar quantia, pois, com relação aos processos cujo objetivo é obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diferente de dinheiro, a disciplina é a prevista ordinariamente pelo CPC.
Parcela da doutrina entende que as execuções especiais não foram objeto de alteração pela Lei nº 11.232/05, porque as novas regras procedimentais só modificaram o procedimento comum da execução de título judicial, excluindo-se os procedimentos executivos especiais, o que inclui a execução contra a FP. No que tange à liquidação de sentença, é aplicável a disciplina dada pela Lei nº 11.232/05, pois visa unicamente a apurar o quantum debeatur, sem a prática de atos de expropriação patrimonial.
 
P: Quem é abrangido no conceito de Fazenda Pública para fim de execução?
R: O conceito de FP engloba os agentes políticos (U, E, DF e M) e suas respectivas autarquias e fundações cuja personalidade jurídica é de direito público, bem como a ECT.
 
P: É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública?
R: Sim, nos termos da Súmula 279 do STJ: “É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública”. Isso porque o art. 730 do CPC não faz distinção entre título judicial e extrajudicial. Além disso, a previsão constitucional acerca da necessidade de “sentença judicial” deve ser entendida de modo a abranger tanto a manifestação do Judiciário em sentença condenatória, quanto a decisão que recebe a execução de título extrajudicial cujos elementos de certeza, exigibilidade e liquidez estejam presentes.
 
P: Qual o procedimento da execução contra a Fazenda Pública quando não há a oposição de embargos?
R: O procedimento previsto para a execução por quantia certa contra a FP é simples, pois dispensa tanto a garantia do juízo quanto os atos de expropriação. A FP é citada para embargar no prazo de 30 dias (art. 1º-B da Lei nº 9.494/97), e não para pagar, como os demais executados em geral. Caso a FP não oponha embargos, deverá ser expedido o precatório ou requisição de pequeno valor pelo juízo da execução e encaminhado ao Presidente do Tribunal; nesse caso, não serão devidos honorários advocatícios, em regra (art. 1º-D da Lei 9.494/97). A súmula 345 do STJ excetua esse entendimento, ao afirmar que “são devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas”, mas o STF aplica a regra geral, de não cabimento de embargos (art. 1º-D), mesmo nesta hipótese (ex.: Ag. Rg. no AI 643.549/RS – Info 683, out/12).
 
P: Quais as particularidades dos embargos à execução opostos pela Fazenda Pública? (AGU 2009 - “Executada a Fazenda, qual o meio de defesa cabível e qual o prazo para a defesa? Diante da alteração no CPC pela Lei 11.382/2006, é possível falar que ainda subsiste o efeito suspensivo dos embargos à execução contra a Fazenda Pública?”)
R: Na execução contra a FP, ela é citada para apresentar embargos à execução no prazo de 30 dias (art. 1º-B da Lei nº 9.494/97).
O art. 739, § 1º, do CPC, afirmava que os embargos eram sempre recebidos com efeito suspensivo, sendo que tal regra se aplicava também à FP. Com a Lei nº 11.382/06, a matéria passou a ser regulada pelo art. 739-A, § 1º, que passou a determinar que a suspensão da execução não é mais automática, elencando os seguintes requisitos para a atribuição desse efeito aos embargos: a) garantia do juízo; b) comprovação de que o prosseguimento da execução pode causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. No entanto, tal alteração legislativa não se aplica aos embargos à execução contra a FP, pois esta não precisa garantir o juízo (dada a impenhorabilidade dos bens), bem como porque o art. 100, §§ 3º e 5º, da CF exige o prévio trânsito em julgado para a expedição de precatório ou RPV, o que pressupõe a inexistência de discussão sobre o valor executado.
Assim, os embargos opostos pela FP sempre terão efeito suspensivo, a não ser que se insurjam contra parte do valor executado, situação em que, com relação ao valor incontroverso, será possível desde logo a expedição do precatório ou RPV, prosseguindo-se a discussão nos embargos somente quanto ao montante controvertido. O STJ entende que esse procedimento não fere a vedação constitucional de fracionamento
de precatório, do art. 100, § 8º (AgRg no REsp 1.045.921/AL).
Opostos os embargos pela FP, recebidos com efeito suspensivo, o embargado será intimado para apresentar impugnação em 15 dias. Julgados os embargos, a sentença não está sujeita ao reexame necessário, pois o art. 475, II, do CPC alude apenas a embargos opostos contra a execução fiscal (REsp 504.580/SC).
Os embargos opostos pela FP na execução de título judicial estão disciplinados no art. 741 do CPC, o qual prevê que somente podem ser alegadas as matérias ali referidas, quais sejam: falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; inexigibilidade do título; ilegitimidade das partes; cumulação indevida de execuções; excesso de execução; qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença; e incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou impedimento do juiz. Todavia, essa limitação não se aplica quando os embargos são opostos pela FP em execução de título extrajudicial, pois, nesse caso, não há preclusão nem coisa julgada material relativamente ao título que impeça a alegação de questões pertinentes à obrigação ou à relação jurídica que deu origem ao crédito; aplica-se, pois, o art. 745 do CPC, que permite a alegação de quaisquer matérias.
O valor da causa nos embargos será o valor do proveito econômico objetivado, o que geralmente corresponde ao valor controvertido, acaso alegado excesso de execução.
 
P: É possível o ajuizamento de exceção de pré-executividade pela Fazenda Pública? Em que hipóteses?
R: Sim. Usualmente utilizada pelos devedores que desejam se defender na execução sem apresentar garantia ao juízo, a exceção de pré-executividade (EPE), em regra, não é útil à FP, pois esta não precisa garantir o juízo, e, ademais, seus embargos possuem efeito suspensivo automático, o que não existe na EPE. No entanto, este instrumento pode ser utilizado pela FP quando já escoado o prazo para embargos, para alegação de questão de ordem pública que cause a nulidade da execução ou que enseje a sua extinção. Exemplo disso é a possibilidade de revisão do valor do precatório, a fim de evitar desembolso indevido de recursos públicos, o que pode ser feito inclusive de ofício pelo Presidente do Tribunal (art. 1º-E da Lei nº 9.494/97). Cabe referir que tal regra não ofende a coisa julgada, pois esta não alcança erros de cálculo e erros materiais, segundo jurisprudência majoritária, e porque privilegia o princípio da moralidade e da proporcionalidade, ao evitar o pagamento indevido de verba pública.
 
P: É cabível execução provisória contra a Fazenda Pública?
R: Atualmente, não.
A redação original do art. 100 da CF determinava o pagamento dos créditos devidos pela FP em razão de “sentença judiciária”, motivo pelo qual o STJ entendia possível a execução provisória contra a FP. Porém, a partir da EC 30/2000, o § 1º do art. 100 da CF passou a prever a necessidade de sentença transitada em julgado para o pagamento através de precatório. Desde então, entende-se não mais ser possível a execução provisória contra a FP (STJ AgRg no Ag 1.057.363/PR), o que se mantém mesmo após a EC 62/2009, que permaneceu exigindo o trânsito em julgado. Isso não significa que não seja possível a liquidação do julgado; o que se veda é apenas a expedição do precatório ou RPV.
Por fim, vale mencionar que essas considerações valem apenas para a execução de pagar quantia certa; nos outros tipos de execução, não há motivo para se impedir a execução provisória.
 
P: Como se procede o abatimento, a título de compensação, no valor do precatório de débitos para com a Fazenda Pública?
R: Antes de expedir o precatório ao Presidente do respectivo tribunal, o juiz da execução solicitará à Fazenda Pública devedora, que deverá responder em até 30 dias, informações sobre débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o exequente.
Recebida a informação, o exequente pode impugnar em 15 dias, sendo que a FP terá outros 30 dias para responder. Após, o juiz tem 10 dias para proferir decisão, da qual caberá agravo de instrumento com efeito suspensivo ope legis (ver arts. 30 a 44 da Lei nº 12.431/2011).
Consolidada a existência de débito, seu valor correspondente deverá ser abatido, a título de compensação, do montante do precatório, de forma que este seja inscrito pela diferença, já se satisfazendo, assim, o crédito que a FP devedora mantém frente ao exequente (CF, art. 100, §§ 9º e 10).
Somente podem ser abatidos créditos que o exequente tenha frente à FP devedora, não podendo ser abatidas dívidas relativas a outros entes públicos, dotados de personalidade jurídica diversa, ainda que integrantes da mesma Administração.
Não se realizará o abatimento: a) se o crédito estiver com exigibilidade suspensa ou impugnado na via administrativa ou judicial; b) se a FP não prestar as informações no prazo de 30 dias, restando-lhe apenas a cobrança através de execução fiscal.
Pode haver cessão total ou parcial a terceiros do crédito inscrito no precatório; nesse caso, o abatimento, a título de compensação, será feito com dívidas que o credor originário (cedente) tenha frente à FP devedora, a fim de se evitar burla ao abatimento (art. 100, §§ 13 e 14, CF).
De acordo com o art. 13 da Resolução nº 122/2010 do CJF, “o procedimento de compensação não se aplica às RPVs”, sendo que o STF reconheceu repercussão geral sobre a matéria no RE 657.686/DF, ainda não julgado no mérito.
P: O que se entende por débito de pequeno valor e como ocorre o seu pagamento pela Fazenda Pública?
R: Para a União, considera-se de pequeno valor o débito de até 60 salários mínimos (art. 3º c/c art. 17, § 1º, Lei nº 10.259/01). No âmbito dos Estados, Municípios e Distrito Federal, o valor deve ser fixado em lei própria, tendo como patamar mínimo o valor do maior benefício do Regime Geral de Previdência Social (art. 100, § 4º, CF). Não havendo essa lei, vale o art. 87 do ADCT: 40 SM para os Estados e o DF e 30 SM para os Municípios.
Seu pagamento ocorre através da requisição de pequeno valor (RPV), cujo processamento é mais simples do que o do precatório, pois não demanda inclusão orçamentária para pagamento posterior; o cumprimento da condenação é imediato. No âmbito da União, o processamento da RPV está disciplinado na Resolução nº 55/2009.
*Outras perguntas sobre a disciplina dos precatórios podem ser obtidas no Ponto 3 de Direito Financeiro e Econômico.
Embargos à Execução. Italo (italo_marani@hotmail.com)
P: Qual a natureza jurídica dos embargos à execução?
R: Os embargos à execução, não obstante constituir a defesa do executado, não assume natureza de contestação, mas sim de ação autônoma, cujo objetivo é desconstituir o título executivo, ou simplesmente minimizar o quantum debeatur constante na execução.
P: A apresentação tempestiva dos embargos, por si só, tem o condão de conferir efeito suspensivo à execução? Qual o procedimento? Como se dá na execução fiscal?
R: O art. 739-A do CPC, incluído pela Lei 11.382/06, passou a dispor que “Os embargos do executado não terão efeito suspensivo”. Assim, salvo em determinados casos o juiz poderá, a requerimento do embargante, lhes atribuir tal efeito, quando relevantes os fundamentos e haja possibilidade de dano de difícil ou incerta reparação e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
Não há regra expressa na Lei de Execuções Fiscais (Lei 6.830/80). O STJ já entendeu, com fundamento na teoria do “diálogo das fontes”, que se aplicando subsidiariamente às execuções fiscais as normas previstas no CPC, e sendo a LEF omissa a respeito dos efeitos dos embargos, como corolário teríamos que os embargos à execução fiscal não mais suspendem o processo executivo, e para tanto far-se-á necessário o requerimento do devedor e, cumulativamente, estiverem preenchidos os seguintes requisitos: a) relevância da argumentação; b) grave dano de difícil ou incerta reparação; e c) garantia integral
do juízo. (REsp 1.024.128/PR).
Por outro lado, em dezembro de 2011, o STJ decidiu que a necessidade de garantia da execução para o oferecimento dos embargos (art. 16, III, LEF), em sede de execução fiscal, ainda persiste, o que permitiria um contra senso, ou seja, exigir-se a garantia do juízo e o embargo não ter efeito suspensivo (REsp 1291923/PR).
P: Na Execução Fiscal exige-se a garantia da execução para a apresentação dos embargos (art. 16, III, LEF). Caso for realizado o depósito voluntário, para fins de garantir a execução, qual o termo inicial para apresentação dos embargos?
R: Conforme precedentes do E. STJ, o prazo para embargar conta-se da sua intimação. Portanto, o depósito deverá ser formalizado, reduzindo-se a termo, para dele tormar conhecimento o juiz e o exequente, iniciando-se a contagem do prazo para apresentação de embargos da intimação do termo (Recurso Retitivo Resp 1.112.416-MG).
P: Na qualidade de executada, em que efeitos são recebidos os embargos à execução opostos pela fazenda pública?
R: Os embargos opostos pela fazenda pública devem, forçosamente, ser recebidos no efeito suspensivo, pois, enquanto não se tornar incontroverso ou definitivo o valor cobrado, não há como se expedir o precatório ou a requisição de pequeno valor. Aplica-se, contudo, à execução contra a Fazenda Pública a regra do parágrafo 3°, do art. 739-A do CPC, de maneira que, sendo parciais os embargos, a execução deve prosseguir no tocante à parte não embargado.
P: A sentença que julga os embargos à execução opostos pela fazenda pública está sujeito ao reexame necessário?
R: Segundo Leonardo José Carneiro da Cunha julgados os embargos opostos pela Fazenda Pública, a sentença não está sujeita a reexame necessário, de vez que o reexame já foi procedido em relação à sentença do anterior processo de conhecimento, além de o art. 475, II, do CPC aludir, apenas, a embargos opostos à execução fiscal, excluindo-se aqueles opostos à execução não fiscal, ou seja, àquela fundada em sentença condenatória (in “A Fazenda Pública em Juízo”, Pag 281). O STJ já decidiu nesse sentido: REsp 504.580
P: Os embargos à execução, manejados pela Fazenda Pública, com fundamento em sentença fundada em lei ou ato normativo reputado inconstitucional pelo STF está sujeita ao prazo bienal para a propositura de ação rescisória?
R: Segundo Leonardo José Carneiro da Cunha cuida-se de nova hipótese de rescisão da sentença, que, porém, não se submete ao mesmo regramento jurídico das demais, previstas para a ação rescisória (art. 485 do CPC). É relevante a observação, pois há diferenças em relação ao prazo bienal para a propositura de ação rescisória, que não se aplica a este caso, e à competência, que, para a ação rescisória, é sempre de um tribunal.
Ministério Público no processo civil. Antonio Carlos (acarlosguiraud@gmail.com)
P: De que forma se dá a atuação do Ministério Público no processo civil?
R: No âmbito do processo civil a atuação de MP se dá basicamente de duas formas. Na qualidade de parte, nas hipóteses em que a lei lhe atribui legitimidade para requerer a tutela jurisdicional do Estado, a exemplo do pedido de inventário e ação anulatória de casamento. Importante mencionar que ao MP, enquanto parte, aplica-se o art. 188 do CPC, possuindo o prazo em quádruplo para contestar e o dobro para recorrer. Ainda, o MP atua na qualidade de custos legis, ou seja, como fiscal do cumprimento das leis, nas hipóteses previstas no art. 82 do CPC, como, por exemplo, nas causas envolvendo interesses de incapazes. Quando a intervenção do MP como custos legis for obrigatória, este deve ser intimado para se manifestar, sob pena de nulidade. 
Ação civil pública e Ação popular. Suellen (suellenvilanova@gmail.com)
P: Quais os requisitos para a propositura da ação popular?
R: Deve ocorrer lesividade:
1 Ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe;	
2 À moralidade administrativa;
3 Ao meio ambiente;	
4 Ao patrimônio histórico e cultural.
P: Quem detém a legitimidade ativa e passiva na ação popular?
R: Somente pode ser autor da ação popular o cidadão, assim considerado o brasileiro nato ou naturalizado, desde que esteja em pleno gozo de seus direitos políticos, provada tal situação por meio do título de eleitor. Assim, se excluem do polo ativo os estrangeiros, as pessoas jurídicas e os que estiverem com os seus direitos políticos suspensos. Poderá ocorrer a figura do litisconsórcio ativo. Por fim, o Ministério Público funciona como fiscal da lei, mas se o autor desistir da ação, caberá ao MP promover o prosseguimento do feito
No polo passivo figuram o agente que praticou o ato, a entidade lesada e os beneficiários do ato ou do contrato lesivo ao patrimônio. Súmula 365 do STF. Cabe ressaltar que a lei permite que a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, abstenha-se de contestar o pedido ou atue ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.
P: Qual é o juízo competente para o julgamento da ação popular?
R: As regras de competência dependerão da origem do ato ou omissão a serem impugnados. Para exemplificar, se o patrimônio lesado for da União, competente será a Justiça Federal. Cabe alertar que a competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, em regra, do juízo competente de primeiro grau.
Ademais, o juízo competente é o do local do dano (competência absoluta).
Exceções: Jurisprudência do STF - O caso consistia no impedimento de mais da metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ensejando a competência do STF em virtude do art. 102, I, segunda parte, alínea “n” (AO 859-QO, Rel. MIn. Ellen Gracie). Será competência do STF se houver a possibilidade de conflito no pacto federativo (julgamento da ação popular que buscava atacar decreto presidencial que demarcou área indígena denominada Raposa Serra do Sol - Rcl 3813/RR, Rel. Min. Carlos Britto).
P: Como se opera a coisa julgada na ação popular?
R: A coisa julgada se opera secundum eventum litis, ou seja, se a ação for julgada procedente ou improcedente por ser infundada, produzirá efeito de coisa julgada oponível era omnes. No entanto, se a improcedência se der por deficiência de provas, haverá apenas a coisa julgada formal, podendo qualquer cidadão intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de novas provas.
Julgada improcedente a ação, só produzirá efeitos depois de passar pelo duplo grau obrigatório de jurisdição (reexame necessário inverso ou invertido, eis há quando quem está no polo ativo perde). No entanto, julgada procedente, a apelação será recebida no seu duplo efeito, ou seja, devolutivo e suspensivo.
P: É possível a a determinação de antecipação dos honorários periciais em ação popular?
R: Segundo o STJ, não é possível o adiantamento dos honorários periciais diante da vedação expressa do artigo 18 da Lei n. 7.347/1985 Lei da Ação Civil Pública (aplicação analógica), que afirma não haver adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, bem como, na condenação em honorários de advogado, custas e despesas processuais, salvo quando comprovada a má-fé. Ressaltou ainda que não se pode conhecer da alegada violação do art. 5º da CF/1988 por ser inviável a análise de matéria constitucional neste Superior Tribunal, sendo aplicável, por analogia, o óbice da Súm. n. 284-STF (REsp 1.225.103-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/6/2011).
P: Há o seguinte caso concreto: Uma ação popular é ajuizada por um cidadão questionando dano ambiental, sendo que outro cidadão ajuíza outra ação popular questionando o mesmo dano, só que em localidade diferente em que o dano, eis que este também teria se propagado por lá. Tal ação seria extinta por litispendência?
R: No caso, inocorre litispendência, uma vez que as partes das ações populares ajuizadas são distintas. No entanto, verifica-se
possível identidade de objeto ou de causa de pedir entre os dois processos, nos termos do artigo 103, do Código de Processo Civil, motivo pelo qual se justificaria a reunião dos feitos, perante o juízo prevento (primeiro). Ressalta-se que o critério de prevenção é a propositura da ação.
P: Qual a relação entre a ação civil pública com ação popular, litispendência ou coisa julgada?
R: A LACP não afasta a possibilidade de ajuizar ação popular, contudo, eventualmente poderá ocorrer duplicidade de litispendência entre uma ação popular e uma ação civil pública. Isto porque, em sede de processos coletivos o nome da ação e o co-legitimado não importam para fins de averiguar a identidade de demandas (identidade dos elementos da ação:' partes, causa de pedir e pedido, cf. art. 301, V, §§ 22 e 3s do CPC). Na maior parte das vezes, contudo, ocorrerá conexão e não litispendência, pois uma das demandas terá um objeto mais amplo.
P: A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, vale para todos os casos de interesses protegidos pelo art. 1º da LACP?
R: Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que não. Assim, a Defensoria Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm pertinência com as suas finalidades institucionais, conforme o art. 134 da CF.
P: Como se dá prescrição na ação civil publica?
R: O STJ entende que se aplica analogicamente o prazo de 5 anos do art. 21 da Lei da Ação Popular. A exceção seria as ações que visem o ressarcimento de danos ao erário, que é imprescritível por expressa determinação de art. 37, § 5° da CF.
P: Pode haver conexão entre ação popular e ação civil pública? Quais os pontos semelhantes e as diferenças entre AP e ACP?
R: A jurisprudência admite a conexão entre a ação popular e a ação civil pública, inclusive recomendando a reunião de feitos, sob pena de alcance de provimentos jurisdicionais distintos. Assim, a propositura de ação popular previne a jurisdição do juízo para todas as ações que forem posteriormente ajuizadas entre as mesmas partes e sobre os mesmos fundamentos (art. 5º, Lei nº4.717/65). A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que as ações civis públicas e as ações populares exigem, no interesse da estabilidade da ordem jurídica, a concentração das causas num único juízo definido pela prevenção, a fim de evitar decisões contraditórias. Portanto, possuindo a ação civil pública e a ação popular o mesmo objeto mediato devem ser processadas perante o mesmo juízo, definido pela prevenção.
A ação popular e a ação civil pública são instrumentos relevantes para a defesa de direitos coletivos. A ação popular constitui instrumento fundamental de democracia direta e de participação política, vez que garante constitucionalmente, à disposição de qualquer cidadão, o poder de anular atos lesivos ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Por sua vez, a Ação Civil Pública possui um maior espectro de abrangência, relativamente aos interesses e direitos tutelados, vez que poderá reprimir ou impedir danos ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a qualquer outro interesse difuso ou coletivo, por infração da ordem econômica e da economia popular (art. 1o da Lei 7.347/85).
Ademais, distinguem-se pela legitimidade ativa (naquela, qualquer cidadão em gozo dos direitos políticos; nessa, legitimados constantes do artigo 5º, da Lei n. 7.347/85) e pela modalidade dos pedidos veiculáveis (naquela, pedido de nulidade de ato lesivo; nessa, pedido de obrigação de fazer ou de pagar). Nesse ponto, ressalte-se a jurisprudência recente, que vem admitindo a veiculação de pedido de condenação em obrigação de fazer e de pagar em sede de ação popular.
P: É possível ACP com fundamento na inconstitucionalidade de ato normativo? É possível em ACP a declaração de inconstitucionalidade de ato normativo?
R: Incidentalmente, em sede de controle difuso, é possível a declaração de inconstitucionalidade em sede de ACP, desde que o controle de constitucionalidade não esgote o objeto da própria ação. Afinal, a ACP não pode ser utilizada como sucedâneo de ADI, pois, em caso de produção de efeito erga omnes, estaria provocando verdadeiro controle concentrado de constitucionalidade, usurpando competência do STF.
P: Fale da coisa julgada no âmbito da ação civil pública.
R: O Código de Defesa do Consumidor, ao apresentar regras processuais das ações coletivas, distingue a extensão dos respectivos efeitos, a depender da natureza do direito coletivo tratado: (i) quanto aos direitos difusos, forma-se a coisa julgada secundum eventum probationis – efeitos erga omnes, salvo improcedência por insuficiência de provas; (ii) quanto aos direitos coletivos em sentido estrito, forma-se a coisa julgada secundum eventum probationis – efeitos ultra partes, limitadamente aos integrantes da categoria, grupo ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas; (iii) quanto aos direitos individuais homogêneos, forma-se a coisa julgada secundum eventum litis e in utilibus – efeitos erga omnes no caso de procedência, a fim de beneficiar todas as vítimas e sucessores, sem prejuízo para terceiros que não intervieram no processo.
Outrossim, doutrina e jurisprudência discutem acerca da redação controversa do artigo 16, da Lei n. 7.357/85, ―a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por falta de provas. Critica-se a limitação territorial da eficácia da coisa julgada material, de modo que o STJ tem relativizado a aplicação desse dispositivo, em alguns precedentes: “O que caracteriza os interesses coletivos não é somente o fato de serem compartilhadospor diversos titulares individuais reunidos em uma mesma relação jurídica, mas também por a ordem jurídica reconhecer a necessidade de que o seu acesso ao Judiciário seja feito de forma coletiva; o processo coletivo deve ser exercido de uma só vez, em proveito de todo grupo lesado, evitando, assim, a proliferação de ações com o mesmo objetivo e a prolação de diferentes decisões sobre o mesmo conflito, o que conduz a uma solução mais eficaz para a lide coletiva. 3. A restrição territorial prevista no art. 16 da Lei da Ação Civil Pública (7.374/85) não opera efeitos no que diz respeito às ações coletivas que visam proteger interesses difusos ou coletivos stricto sensu, como no presente caso; nessas hipóteses, a extensão dos efeitos à toda categoria decorre naturalmente do efeito da sentença prolatada, vez que, por ser a legitimação do tipo ordinária, tanto o autor quanto o réu estão sujeitos à autoridade da coisa julgada, não importando onde se encontrem”. (STJ, CC 109435/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, DJ 22.09.2010).
 
Mandado de Segurança. Thiago Vale (thiagodovale@gmail.com)
P: O que se entende por “Direito Líquido e Certo” e por “Prova Pré-Constituída”? Há exceção?
R: Na verdade, o que se de deve ter como direito líquido e certo é o fato, ou melhor, a afirmação de fato feita pela parte autora. Quando se diz que o mandado de segurança exige a comprovação de direito líquido e certo, está-se a reclamar que os fatos alegados pelo impetrante estejam, desde já, comprovados, devendo a petição inicial vir acompanhada dos documentos indispensáveis a essa comprovação. Daí a exigência de a prova, no mandado de segurança, ser pré-constituída.
P: Cabe mandado de segurança contra lei em tese? Por quê?
R: O mandado de segurança pressupõe um ato de uma autoridade, não devendo ser impetrado contra lei em tese (Vide Súmula 266 do STF). É que o mandado de segurança não consiste num meio de controle abstrato de normas, servindo para combater atos públicos. Então, é preciso que haja um ato praticado ou que está para ser praticado.
P: Cabe Mandado de Segurança contra ato da Empresas Públicas ou das Sociedades
de Economia Mista?
R: As sociedades de economia mista e as empresas públicas ostentam a condição de pessoas jurídicas de direito privado, não integrando o conceito de Fazenda Pública. Daí se sujeitarem ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários (CF/88, art. 173, parágrafo 1º,II). Logo, em princípio, seus dirigentes e funcionários não se encartam na definição de autoridade, não devendo seus atos ser questionados pela via estreita do mandado de segurança. Acontece, porém, que tais pessoas jurídicas, não obstante revestirem-se do matiz de pessoas jurídica di direito privado, sujeitam-se à exigência de licitações e concurso público (CF/88, arts. 37, II, XXI e 173, parágrafo 1º, III). Os atos praticados em licitações e concurso público são atos de natureza pública, praticados por autoridade, passíveis de controle pelo mandado de segurança. Assim, cabe mandado de segurança contra ato de agente ou funcionário de empresa pública ou sociedade de economia mista, praticado num procedimento de licitação para contratação de obras, serviços, compras e alienações, ou na condução de um concurso público para preenchimento de vagas de empregos públicos. Não é sem razão, aliás, que a súmula 333 do STJ assim enuncia: “Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública.”
P: O que distingue o MS Individual do MS coletivo?
R: O MS coletivo nada mais é do que um MS com variação da legitimidade e do objeto. Com efeito, é preciso observar que não é através do legitimado que se define se o MS é individual ou coletivo. É necessário que haja uma combinação entre legitimado e objeto. Sendo assim, nada impede que, por exemplo, um partido político impetre MS individual.
P: Qual é o objeto do MS coletivo?
R: O MS coletivo destina-se a tutelar os direitos difusos, coletivos, individuais e homogêneos. O parágrafo único do art. 21 da Lei 12.016/2009 restringe, contudo, o uso do mandado de segurança coeltivo, estabelecendo que os direitos por ele protegidos são, apenas, os coletivos e os individuais homogêneos, não se referindo aos difusos. Tal restrição é tido como correta por Hely Lopes Meirelles, Arnoldo Wald e Gilmar Ferreira Mendes, que entendem não caber o mandado de segurança coletivo para defesa de direitos difusos, devendo estes ser tutelados pela ação civil pública.
Contudo, há divergência. Leonardo Carneiro da Cunha defende que “não deve haver limitações ou restrições ao uso de ações coletivas. Havendo um direito transindividual que mereça ser protegido, tutelado, prevenido, reparado, será cabível a ação coletiva, aí incluído mandado de segurança.” O referido autor argumenta que a corrente contrária ofende a garantia de acesso à jurisdição e que o art. 5º, LXX, da Constituição não faz qualquer restrição.
P: Qual é a natureza e o alcance da coisa julgada no mandado de segurança coletivo?
R: No mandado de segurança coletivo – dispõe o art. 22 da lei nº 12.016/2009 – a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.
É comum a afirmação, de parte significativa da doutrina brasileira, de que a coisa julgada nas ações coletivas seria formada secundum eventum litis. Rigorosamente, no sistema brasileiro, a coisa julgada nas ações coletivas não é secundum eventum litis. A coisa julgada coletiva, no regime brasileiro, forma-se pro et contra, ou seja, haverá coisa julgada coletiva independentemente do resultado da causa. Julgado procedente o pedido, haverá coisa julgada.
O que é secundum eventum litis não é a formação da coisa julgada, mas sua extensão à esfera individual dos integrantes do grupo. É a extensão erga omnes ou ultra partes da coisa julgada que depende do resultado da causa, consistindo no que se chama de extensão in utilibus da oisa julgada.
A sentença coletiva faz coisa julgada pro ET contra, atingindo os legitimados coletivos, que não poderão propor a mesma demanda coletiva, segundo dispõem os parágrafos 1º e 2º do art. 103 do CDC, a extensão da coisa julgada poderá beneficiar, jamais prejudicar os direitos individuais. Eis aí a extensão secundum eventum litis da coisa julgada coletiva. Julgado procedente o pedido, ou improcedente após instrução suficiente, haverá coisa julgada para os legitimados coletivos, podendo ser propostas as demandas individuais em defesa dos respectivos direitos individuais. Em caso de improcedência por falta de prova, não haverá coisa julgada, podendo qualquer legitimado coletivo repropor a demanda coletiva, sendo igualmente permitido a qualquer sujeito propor sua demanda individual.
Quer dizer que a coisa julgada é pro et contra e secundum eventum probationis, de sorte que há coisa julgada tanto na procedência como na improcedência, somente não se produzindo quando a improcedência for por falta de provas. Já a extensão subjetiva da coisa julgada pode ser erga omnes ou ultra partes, alcançando todos os indivíduos titulares de direitos difusos ou coletivos, secundum eventum litis, é dizer, somente quando julgado procedente o pedido.
Denegada a segurança, mesmo sendo suficientes as provas, a coisa julgada atingirá apenas os legitimados coletivos, não podendo haver repropositura do mandado de segurança coletivo. Não haverá, contudo, extensão subjetiva da decisão aos titulares de direitos individuais. Em outras palavras, a extensão subjetiva da coisa julgada é secundum eventum litis, só alcançando os indivíduos que integrem o grupo, em caso de procedência. Havendo improcedência, os titulares de direitos individuais poderão intentar suas demandas.
P: De quem é a legitimidade passiva no Mandado de Segurança?
R: Há uma discussão acerca da legitimidade passiva no mandado de segurança, havendo quem identifique a própria autoridade como parte passiva e despontando, de outro lado, o entendimento segundo o qual o polo passivo seria preenchido pela pessoa jurídica de Direito Público.
A corrente doutrinária que defende ser a própria autoridade a parte que deva ocupar o polo passivo da ação de mandado de segurança funda-se na circunstância de que a legislação a ela se refere como pessoa em face de quem se impetra o writ, cabendo-lhe prestar e subscrever pessoalmente as informações no rpazo de 10 dias, bem como atender às requisições do juízo e cumprir o determinado com caráter mandamental na liminar ou na sentença.
Por outro lado, a outra corrente doutrinária entende que a legitimidade para o mandado de segurança é da pessoa jurídica a cujos quadros pertence a autoridade de quem emanou o ato impugnado, justamente por ser quem irá suportar as consequências financeiras da demanda. Além do mais, a coisa julgada que se formará no mandado de segurança alcançará a pessoa jurídica, e não a autoridade. Logo, e considerando que a coisa julgada opera efeitos apenas entre as partes da demanda (art. 472 do CPC), resulta evidente que o polo passivo é ocupado pela pessoa jurídica de cuja estrutura faz parte a autoridade apontada como coatora.
P: Qual é a natureza do prazo para impetração do Mandado de Segurança?
R: O direito de requerer mandado de segurança extingue-se decorridos 120 dias contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado (art. 23, LMS). Entende-se que tal prazo é de decadência, não se submetendo a motivos de suspensão ou prescrição.
P: É cabível o litisconsórcio ativo ulterior no Mandado de Segurança? Justifique.
R: O §2º do art. 10 da LMS não admite o ingresso de litisconsorte ativo após o despacho da petição inicial. A contrario sensu, enquanto não despachada a petição inicial, pode haver ingresso de litisconsorte ativo.
Mandado de Injunção. Gabriela Bogoewich (gabriela.bogoewich@gmail.com)
P: Quais os 2 instrumentos trazidos pela Constituição Federal de 1988 para o combate às omissões inconstitucionais?
R: A CRFB/1988 prevê para este fim a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão e o Mandado de Injunção. Estes instrumentos servem para combater a chamada “síndrome
de inefetividade das normas constitucionais”.
 
P: O que são omissões inconstitucionais?
R: As omissões inconstitucionais configuram-se com a falta de uma norma regulamentadora de um direito subjetivo estabelecido pela Constituição em decorrência da inércia ilegítima do Poder Público.
 
P: Qual é a diferença entre a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão e o Mandado de Injunção?
R: A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão é uma ação de fiscalização abstrata da inconstitucionalidade, de competência concentrada do STF e materializada em processo objetivo. Apenas pode ser proposta pelos legitimados do rol do art. 103 da CRFB/88. A ADI por omissão tem seu procedimento previsto na Lei 9.868/99, Capítulo II-A (acrescentado pela Lei 12.063/09).
O Mandado de Injunção é um remédio constitucional que visa ao controle incidental da omissão, tutelando direitos subjetivos constitucionais, frustrados pela inércia do Poder Público. O MI possibilita um controle incidental sobre a omissão inconstitucional que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania (art. 5º, LXXI, CF). Enquanto não for editada legislação específica, aplica-se ao mandado de injunção as normas do mandado de segurança (art. 24 da Lei 8.038/90).
 
P: Qual o juízo competente para o mandado de injunção?
R: A competência para o mandado de injunção é estabelecida conforme a autoridade competente para a edição da norma regulamentadora (critério ratione personae). Desse modo, será competente:
(i) STF – norma de competência do Presidente da República, Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado Federal, Mesa de uma das Casas Legislativas Federais, Tribunal de Contas da União e Tribunais Superiores.
(ii) STJ – norma de competência de órgão, entidade ou autoridade federal, Administração Direta e Indireta, Justiça do Trabalho, Justiça Militar e Justiça Eleitoral.
(iii) Justiça Estadual – competência estabelecida pelas Constituições Estaduais.
(iv) Juízes de Direito – norma de competência da Câmara de Vereadores ou de sua Mesa Diretora, Prefeito, Autarquias e Fundações criados pelos Municípios.
 
P: Quem possui legitimidade para ajuizar o MI?
R: O legitimado para o MI é qualquer pessoa física ou jurídica, titular do direito cujo exercício está sendo obstado por ausência de norma regulamentadora.
Podem também propor o MI as entidades de classe ou associativas e sindicatos, tratando-se de mandado de injunção coletivo (substituição processual).
No caso de interesses difusos ou coletivos a serem tutelados, o MP poderá promover o MI (LC 75/93, art. 6º, VIII).
 
P: Quem é o legitimado passivo no MI?
R: Segundo entendimento majoritário do STF, o MI deve ser ajuizado contra a autoridade ou órgão omisso, que tem a incumbência de editar a norma regulamentadora, mas permanece inerte.
Há entendimento no sentido de que, no pólo passivo do MI, deve haver litisconsórcio entre a autoridade ou órgão omisso e a parte a quem cabe prestar a obrigação decorrente da norma a integrar.
Esse último posicionamento é compatível com a natureza mandamental do MI, uma vez que o objeto deste é o suprimento da norma faltante na solução do caso concreto, vinculando tão-somente as partes do processo.
 
P: Qual é o objetivo do MI?
R: O MI tem por objetivo possibilitar o gozo do direito assegurado constitucionalmente, para o qual não há norma regulamentadora.
O Judiciário deve suprir a falta de regulamentação criando norma para o caso concreto, com efeito limitado às partes do processo.
Na ADI por omissão, o Poder Judiciário apenas poderá dar ciência ao Poder competente para que tome as providências necessárias, estabelecendo o prazo de 30 dias caso se trate de órgão administrativo (art. 103, §2º, CF).
 
P: Em quais situações não é cabível o MI?
R: O MI não será cabível nas seguintes situações:
(i) Normas constitucionais autoaplicáveis – em caso de recusa da autoridade em aplicar tais normas, será cabível o MS;
(ii) Norma regulamentadora insatisfatória – não equivale à ausência de norma, por isso não é cabível o MI.
 
P: Qual é o procedimento adotado para o MI?
R: Não existe lei que regulamente o procedimento do mandado de injunção. A doutrina e o STF defendem a aplicação ao MI das normas atinentes ao processamento do MS, enquanto não editada legislação específica. Tal posicionamento foi chancelado pela Lei 8.038/90, art. 24, parágrafo único.
O posicionamento tradicional do STF era pela impossibilidade de deferimento de medida cautelar, tendo em conta que o MI apenas serve para a declaração, pelo Poder Judiciário, da ocorrência de omissão inconstitucional, a ser comunicada ao órgão legislativo inadimplente para que edite a norma regulamentadora. Luís Roberto Barroso sempre entendeu ser cabível a concessão de medida cautelar, caso presentes os pressupostos para a formulação da regra faltante para o caso concreto, nos limites da lide, de caráter provisório, por aplicação analógica do art. 7º, III, Lei 12.016/2009.
Com a adoção atual pelo STF da posição concretista, é cabível a concessão de medida cautelar, desde que presentes os requisitos do art. 7º, III, Lei 12.016/2009 (fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida).
 
P: Discorra sobre as posições concretista e não concretista e suas subdivisões.
R: A corrente não concretista defende que, no MI, é possível ao Poder Judiciário apenas a ciência ao poder omisso. Era a posição adotada tradicionalmente pelo STF, porém havia diferenças de acordo com o órgão competente para suprir a omissão. Assim, se o órgão competente era administrativo, o Poder Judiciário deveria conceder prazo razoável para o órgão suprir a omissão. Caso fosse o Poder Legislativo, a decisão apenas reconhecia a omissão e declarava a mora do poder competente.
A corrente concretista defende que a decisão do mandado de injunção deve permitir concretamente o exercício do direito. A corrente concretista pode ser dividida em individual e geral; a concretista individual, por sua vez, pode ser direta ou intermediária.
A posição concretista individual defende que a decisão terá efeitos inter partes. ,
A corrente concretista geral, por sua vez, defende que a decisão terá efeitos erga omnes. Através de normatividade geral, o STF legisla no caso concreto, produzindo a decisão efeitos erga omnes até que sobrevenha norma integrativa pelo Legislativo;
A concretista individual direta dá o direito diretamente. A decisão, implementando o direito, valerá somente para o autor do mandado de injunção, diretamente.
A concretista individual intermediária defende que julgando procedente o mandado de injunção, o Judiciário fixa ao Legislativo prazo para elaborar a norma regulamentadora. Findo o prazo e permanecendo a inércia do Legislativo, o autor passa a ter assegurado o seu direito;
 
P: Quais são os efeitos da decisão do MI? Qual a posição atual do STF sobre o MI?
R: O STF, tradicionalmente, adotava a posição não concretista. Assim, as decisões dos mandados de injunção limitavam-se a reconhecer a omissão e declarar a mora do poder competente, apenas estabelecendo prazo para a edição da norma, no caso de inércia de órgão administrativo. Caso fosse omisso o Poder Legislativo, a decisão apenas reconhecia a omissão e declarava a mora do poder competente.
Atualmente, o STF passou a adotar a corrente concretista, em suas decisões de mandados de injunção. O STF passou a estabelecer em suas decisões as soluções para os casos analisados, criando solução para as omissões inconstitucionais.
Houve casos em que o STF adotou a corrente concretista individual. Ex.: aplicação da lei de greve da iniciativa privada aos servidores públicos. Houve, ainda, casos em que o STF adotou a corrente concretista geral, como no caso em que aplicou a lei de greve da iniciativa privada a todos os servidores públicos federais, e não só àqueles que estavam sendo representados na ação.
Com a adoção de uma concepção concretista, seja com a vertente individual, seja geral, seja intermediária,
o Supremo Tribunal Federal traz eficácia não apenas as ações constitucionais, mas também e principalmente às normas constitucionais que como tal devem ter aplicabilidade.
Há ainda corrente doutrinária e jurisprudencial que defende a posição não concretista devido, principalmente, à separação dos poderes. No entanto, observa-se que o fenômeno do ativismo jurisdicional não significa usurpação de poderes, mas tão somente o fato do Poder Judiciário ocupar um lugar que o Poder Legislativo omitiu-se em ocupar.
(Trechos retirados dos sites: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-mudanca-de-posicionamento-do-supremo-tribunal-federal-nos-mandados-de-injuncao-e-nas-acoes-diretas-de-incons,35731.html e http://pedrolenza.blogspot.com.br/2011/05/o-mandado-de-injuncao-enquanto-acao.html)
Habeas Data. Ana Carolina Dantas (anacarolinadantas@gmail.com)
P: Sobre o Habeas data, trate do seu conceito, origem e fundamentos.
R: Habeas data é um instituto do direito processual – de jurisdição contenciosa – com assento constitucional, previsto no art. 5º, LXXII, do Texto Maior. 
Trata-se de remédio constitucional que tem por objeto a proteção do direito líquido e certo do impetrante de conhecer as informações relativas à sua pessoa que constem de registros ou bancos de dados de entidades públicas ou de caráter público, bem como o de retificar os dados que lhe servem de conteúdo. Portanto, tutela direitos de intimidade e de informação (Guilherme Freire, 2012).
A Lei nº 9.507/97, que disciplina o cabimento do Habeas Data também tratou da hipótese de ajuizamento “para anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável (art. 7º, III). Com efeito, admitindo como legítima e constitucional a admissibilidade do Habeas Data, em mais este caso, o STF e o STJ entendem que o Habeas Data é remédio jurídico-processual destinado a garantir, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica discernível em seu tríplice aspecto: (a) direito de acesso aos registros existentes; (b) direito de retificação dos registros errôneos e (c) direito de complementação dos registros insuficientes ou incompletos. (STJ HD 147/DF, 3ª Seção, j 2007; STF RHD 22, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j 1991)
É ação de criação brasileira decorrente de uma proposta do doutrinador José Afonso da Silva aos constituintes, com inspiração em previsões constitucionais de China, Portugal e Espanha. Decorre da intenção do Constituinte Originário de defender o cidadão contra tendências totalitárias do Estado, obrigando maior transparência da parte do poder público (notícias do STJ de 02/09/2012).
É relevante instrumento de ativação da jurisdição constitucional das liberdades, a qual representa, no plano institucional, a mais expressiva reação jurídica do Estado às situações que lesem, efetiva ou potencialmente, os direitos fundamentais da pessoa, quaisquer que sejam as dimensões em que estes se projetem (STF, RHD 22, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j 1991).
 
P: Pelo que se entende de órgão Público para fins de Habeas Data?
R: Habeas data é ação afeta ao Direito Processual Público porque promovida contra o Poder Público. Todavia, excepcionalmente pode ser ensejada contra particular detentor de informações de caráter público que possam ser acessadas por terceiros.
Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações (art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 9.507/97). Dessarte, a ação é cabível para aquelas informações que, detidas por entidade privada, podem ser acessadas por terceiros. (Guilherme Freire, 2012), isto é, entidades privadas que mantenham bancos de dados públicos (José Afonso da Silva).
Por exemplo, é possível enquadrar as empresas privadas de serviço de proteção ao crédito (SPC) no polo passivo na ação de Habeas Data. Aliás, o art. 43, §4º, do CDC estabelece que bancos de dados relativos a consumidores, serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público (Lenza, 2012).
 
P: É possível o cabimento de Habeas Data sem a anterior recusa de informações na via administrativa?
R: Não. A utilização do Habeas Data está diretamente relacionada à existência de uma pretensão resistida, consubstanciada na recusa da autoridade administrativa em responder ao pedido de informações, seja de forma explícita ou implícita (por omissão ou retardamento no fazê-lo), conforme estabelece a Súmula 2 do STJ e o art. 8º parágrafo único, I, da Lei nº 9.507/95. (STJ HD .232/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 29/02/2012, DJe 08/03/2012). Apenas se configura o interesse de agir do impetrante ante a recusa de informações na via administrativa – o que deve ser demonstrado nos autos –, de modo a revelar a necessidade do provimento jurisdicional. Sem este requisito, há carência de ação por falta de uma de suas condições (interesse de agir), devendo o Habeas Data ser extinto por sem resolução do mérito (art. 267, VI, do CPC). 
A fase administrativa é o modo de se verificar a presença da condição da ação interesse de agir. A Constituição da República permite o livre acesso ao Judiciário em caso de lesão ou ameaça de lesão a direito. Se o autor não alegar ao menos a ameaça de lesão ao direito, não há o que justifique a manifestação de mérito do judiciário. (Guilherme Freire de Melo Barros, 2012)
Ressalte-se que o STF também já se pronunciou neste sentido, entendendo que ausência da comprovação da recusa ao fornecimento das informações caracteriza falta de interesse de agir na impetração (HD 87 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, j 25/11/2009)
 
P: É cabível o manejo de Habeas Data para a obtenção de informações referentes a terceiros constantes em dados de órgão público?
R: Não. O Habeas Data não se presta para solicitar informações relativas a terceiros, pois, nos termos do inciso LXXII do art. 5º da Constituição da República, sua impetração deve ter por objetivo "assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante". (STF HD 87 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Pleno, j 25/11/2009).
Todavia, o STJ já concedeu a ordem de expedição de informações a cônjuge sobrevivente no interesse do falecido, entendendo que o direito de ação de Habeas Data se estende aos herdeiros (notícias do STJ de 02/09/2012). Portanto, o cônjuge supérstite, na defesa de interesse do falecido, é parte legítima para impetrar habeas data (HD .147/DF, Terceira Seção, j 12/12/2007).
 
P: Na mesma pretensão é possível que se assegure o conhecimento de informações e se determine a sua retificação?
R: Não, em razão da necessidade prova pré-constituída em Habeas Data. A Lei nº 9.507/97, ao regulamentar o art. 5º, LXXII, da CF, adotou procedimento semelhante ao do mandado de segurança, exigindo, para o cabimento do habeas data, prova pré-constituída do direito do impetrante. Não cabe, portanto, dilação probatória. Em razão da necessidade de comprovação de plano do direito do demandante, mostra-se inviável a pretensão de que, em um mesmo Habeas Data, se assegure o conhecimento de informações e se determine a sua retificação. É logicamente impossível que o impetrante tenha, no momento da propositura da ação, demonstrado a incorreção desses dados se nem ao menos sabia o seu teor. Por isso, não há como conhecer do Habeas Data no tocante ao pedido de retificação de eventual incorreção existente na base de dados do órgão público. (HD 160/DF, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 27/08/2008)
 
P: No caso de fornecimento administrativo das informações de forma incompleta, cabe a propositura de Habeas Data? 
R: O fornecimento de informações insuficientes ou incompletas é o mesmo que o seu não-fornecimento, legitimando a impetração da ação de Habeas Data (STJ HD 149/DF, Terceira Seção, j 2009). Cabem ser
prestadas as informações requeridas quando os documentos expedidos não respondem suficientemente as indagações do impetrante. Portanto, registros cadastrais de difícil compreensão para cidadãos que não tenham conhecimento do sistema operacional do órgão permitem o ajuizamento de Habeas Data. (STJ HD 160/DF, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, Primeira Seção, j 27/08/2008)
 
P: A via do Habeas Data é adequada para o pleito de expedição de certidão?
R: Não. O pedido de certidão é inidôneo na via do Habeas Data (HD 92 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 18/08/2010), cuja finalidade é especificamente voltada para proteger, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica discernível em seu tríplice aspecto: (a) direito de acesso aos registros existentes; (b) direito de retificação dos registros errôneos e (c) direito de complementação dos registros insuficientes ou incompletos. (STJ HD 147/DF, 3ª Seção, j 2007; STF, RHD 22 Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello, j 1991).
Tratando-se de expedição de certidão, deve ser impetrado mandado de segurança.
 
P: É cabível Habeas Data para expedição de extrato bancário pela Caixa Econômica Federal?
R: Em princípio, não. É inadmissível o cabimento do habeas data para o simples fornecimento pela CEF de extratos bancários, os quais podem se enquadrar, a título de exemplo, como obrigação derivada de relação de consumo entre a empresa e a instituição financeira, mas não como informações relativas a dados do impetrante que se encontram armazenados em banco de dados de entidade governamental.
Todavia, empresa que pretenda obter extratos de depósito de FGTS, junto à Caixa Econômica Federal pode se valer de Habeas Data, pois a conta bancária, na espécie, é titularizada pela empresa com o escopo de cumprir o mandamento legal constante no art. 2º da Lei nº 5.107/66 (que, após introduzir a opção pelo FGTS, determinou aos empregadores que fosse depositada certa quantia mensalmente em benefício de cada trabalhador, inclusive para aqueles que não houvessem optado pelo fundo). No caso, a Caixa Econômica Federal assume função estatal de gestora do fundo, conforme definido em lei, justificando a concessão do Habeas Data (REsp 1128739/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/12/2009, DJe 10/02/2010).
 
P: É cabível Habeas Data para conhecimento do teor de informações arquivadas em órgão público, para seu uso interno, mas de interesse do impetrado, a exemplo de exame psiquiátrico a que foi submetido no exercício de função?
R: Sim. A garantia constitucional do Habeas Data é mais ampla e compreende o acesso a toda e qualquer informação, inclusive, no caso, àquelas presentes em comunicações oficiais (ofícios, memorandos, relatórios, pareceres etc.) bem como àquelas contidas no respectivo prontuário médico, aí abrangida a conclusão do referido exame psiquiátrico (STJ HD 149/DF, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/06/2009, DJe 26/08/2009)
 
P: A Teoria da Encampação se aplica nos Habeas Datas? Aborde.
R: Sim. A Teoria da Encampação se aplica no Habeas Data. Na hipótese, são empregados os mesmos requisitos adotados pela jurisprudência para o caso do mandado de segurança, quais sejam: a) a autoridade apontada como coatora é hierarquicamente superior à autoridade devida – responsável pelas informações pessoais referentes ao impetrante; b) não importa em mudança de competência jurisdicional; c) ao prestar informações, a autoridade apontada não se limita a alegar sua ilegitimidade, mas defende o mérito do ato impugnado, requerendo a denegação da impetração, assumindo a legitimatio ad causam passiva. Ademais, exige-se no Habeas Data que a autoridade apontada como coatora tenha respondido ao pedido de acesso aos documentos na via administrativa, isto é, tenha recebido o pleito (ainda que, posteriormente, tenha se quedado inerte em efetivamente conceder as informações requeridas, justificando o interesse de agir do impetrante) (STJ HD 147/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2007, DJ 28/02/2008).
 
P: É cabível Habeas Data para acesso a informações constantes do SINCOR da Receita Federal do Brasil? Discorra.
R: Trata-se de questão polêmica, tendo o STF reconhecido recentemente a repercussão geral da matéria envolvida (RE 673707 RG, Relator(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 06/09/2012). Contudo, o mérito encontra-se ainda pendente de julgamento.
O SINCOR – Sistema de Conta-Corrente de Pessoa Jurídica – é uma conta corrente onde a Secretaria da Receita Federal do Brasil armazena todos os débitos e créditos existentes acerca de uma Pessoa Jurídica. Portanto, é um mecanismo de controle da situação financeira das empresas. A emissão das Certidões de Regularidade Fiscal dos contribuintes são emitidas com base nas informações constantes do SINCOR.
Os contribuintes requerem o acesso a todas as anotações incluídas nos arquivos da Receita Federal, com relação a todos os débitos (tributos) de qualquer natureza por ela declarados e controlados pelo SINCOR, ou qualquer outro, além da relação de pagamentos efetuados para a liquidação de tais débitos, através de vinculação automática ou manual, bem como a relação dos pagamentos sem co-relação a débitos existentes (não vinculados). Após a negativa administrativa, os impetrantes fazem uso do Habeas Data para fins de postulação de eventual restituição ou compensação tributária, sob o argumento que é dever da Administração Pública ser transparente em suas atividades, sobretudo, em relação aos dados dos administrados (inteiro teor do RE 673707 RG, Relator(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 06/09/2012).
A Fazenda Nacional, por sua vez, sustenta a falta de interesse de agir dos impetrantes, porquanto as informações exigidas já são ou deveriam ser de conhecimento deles, além de serem inúteis para a finalidade de repetição ou compensação de eventual indébito pretendida pelos contribuintes. Ademais, argumenta que o manejo do Habeas Data é inadequado para os contribuintes terem acesso às informações relativas aos valores devidos a título de tributos bem como aos pagamentos efetuados para a liquidação dos débitos existentes ou mesmo sem vinculação a estes, contidos no banco de dados SINCOR da Secretaria da Receita Federal, pois o cadastro em questão não é público, mas de uso privativo da Receita Federal (inteiro teor do RE 673707 RG, Relator(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 06/09/2012).
O STJ já se pronunciou pela sua não competência para conhecer da matéria, mediante Recurso Especial, por se tratar de questão constitucional (REsp 1064569/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/06/2009 e REsp 896.367/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/04/2008, DJe 06/05/2008).
Aguardemos o Supremo.
 
P: Se o pedido para exibição de informações for julgado procedente, há necessidade de propositura de nova ação de Habeas Data se tais informações estiverem incorretas?
R: Há julgado do STJ que entende pela impossibilidade de execução imediata da retificação diante da ausência de prova pré-constituída (HD 160/DF, Rel. Min. Denise Arruda, 1ª Seção, julgado em 27/08/2008). Desse modo, seria necessário o ajuizamento de nova demanda.
Tal entendimento do STJ é criticado pela doutrina majoritária que defende a desnecessidade de propositura de novo Habeas Data, cabendo, em tese, a execução do julgado para retificação ou apontamento nos assentamentos, nos próprios autos, dentro da mesma relação processual (tese da cumulação de pedidos sucessivos no tempo) (Guilherme Freire, 2012).
Ação declaratória. Declaratória incidental. Raissa (raissaqrios@gmail.com)
 
P: Qual o conceito de ação declaratória?
R: Ação declaratória é aquela em que se pede a certificação da existência ou inexistência de uma relação jurídica. A doutrina e a jurisprudência também admitem a ação meramente declaratória do modo de ser de uma relação jurídica (S. 181, STJ).
P: Admite-se ação meramente declaratória de fato?
R: Ressalvada a ação declaratória de autenticidade ou falsidade
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, não só no âmbito judicial, mas também na seara administrativa.
 
P: O Princípio do Devido Processo Legal é analisado somente sob sua ótica formal?
R: O Princípio do Devido Processo Legal deve ser analisado não apenas na sua visão tradicional, relativa à sua ótica formal, mas também considerado no seu viés substancial. O sentido formal refere-se à observância dos princípios processuais em si, obrigando ao juiz que respeite os princípios processuais na condução da demanda.
Por outro lado, sob a ótica substancial, o devido processo legal refere-se ao campo da elaboração e interpretação das normas jurídicas, evitando uma atividade legislativa abusiva e irrazoável. Consubstancia-se ainda como uma diretriz interpretativa quando da aplicação concreta das normas jurídicas, dando azo, segundo a doutrina, para aplicação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
 
Procedimento ordinário e sumaríssimo. Larissa Misson (lcmisson@yahoo.com.br)	
 
P: (26º MPF): Diferencie processo de procedimento.
R: Segundo a dogmática jurídica, processo é um método de trabalho referente ao exercício da jurisdição pelo juiz e dos poderes inerentes à ação e defesa pelos sujeitos envolvidos no conflito. Tal método é definido pelos princípios e regras do direito processual civil, dos quais resulta um modelo imposto aos litigantes. O modelo delineado pela Constituição e leis de cada país, em cada momento de sua história, é o seu processo. Oportuno realçar que o moderno constitucionalismo brasileiro é particularmente empenhado na oferta de garantias ao sistema processual, explicitando princípios integrantes da tutela jurisdicional do processo. Na lição do insigne processualista Cândido Rangel Dinamarco, processo é vocábulo que indica a ideia de caminhar, caminhada. A forma latina pro-cessus tem precisamente o significado de caminhada adiante. O processo é, sob esse aspecto, um percurso que vai do ato inicial de sua formação ao provimento final que o juiz emitirá sobre a pretensão trazida a exame. Como método de trabalho, processo tem o desenho de uma série de atos interligados e coordenados ao objetivo de produzir a tutela jurisdicional justa, a serem realizados no exercício de poderes ou faculdades ou em cumprimento a deveres ou ônus. Os atos interligados, em seu conjunto, são o procedimento. O conjunto de situações jurídicas ativas e passivas que autorizam ou exigem a realização dos atos é a relação jurídica processual (poderes, faculdades, deveres e ônus). Portanto, no modelo traçado pela Constituição e pela lei, o processo é uma entidade complexa, integrada por esses dois elementos associados - procedimento e relação jurídica processual. Cada ato do procedimento pode ser realizado porque o sujeito que quer realizá-lo tem a faculdade ou o poder de fazê-lo; ou deve ser realizado porque ele tem um dever ou um ônus. Destarte, processo é, ao mesmo tempo, uma relação entre atos e uma relação entre sujeitos (Liebman). O procedimento é, pois, o elemento visível do processo, já que nele reside a marcha, a caminhada avante que caracteriza o próprio processo (pro-cedere é caminhar adiante; pelo aspecto morfológico, o sufixo nominal "mento" participa da formação das palavras para indicar um modo, procedimento é, pois, modo de proceder - significado amplo do vocábulo - dentro e fora do campo das atividades destinadas a preparar uma decisão judiciária). A relação processual, ao revés, como ente puramente jurídico que é, não tem existência perceptível aos sentidos. As situações ativas e passivas que a compõem constituem abstrações. Elas constituem a "alma do processo", cujo "corpo físico" é o procedimento (Cândido Rangel Dinamarco). Assim sendo, procedimento pode ser conceituado como o conjunto ordenado dos atos mediante os quais, no processo, o juiz exerce a jurisdição e as partes a defesa de seus interesses. Sabido que o processo se compõe de uma relação entre pessoas e de uma relação entre atos, procedimento é um dos fatores que o integram, dando expressão sistemática a seus atos. Em suma, dos elementos que compõem o ente complexo processo - relação jurídica processual e procedimento - só este é dotado de uma expressão perceptível aos sentidos, porque se revela em atividades concretas que se realizam desde o início, com a apresentação da demanda ao Estado-juiz, até o fim, quando este emite o provimento que irá reger a vida dos litigantes.
P: Como está estruturado o processo civil brasileiro de conhecimento e quais os critérios para a sua utilização?
R: O processo civil brasileiro de conhecimento celebra-se segundo os trâmites do procedimento comum - que será ordinário ou sumário - ou dos procedimentos especiais - que serão, conforme o caso, de jurisdição contenciosa ou de jurisdição voluntária, também conhecida como jurisdição graciosa. Quanto ao procedimento sumaríssimo (procedimento dos juizados especiais cíveis estaduais e federais), há divergência doutrinária no seu enquadramento como procedimento comum ou procedimento especial, verificando-se uma leve prevalência da corrente que sustenta se tratar de procedimento especial de legislação extravagante.
Prevalece o procedimento comum nos casos para os quais a lei não determinar a observância de algum rito especial, porque cada um destes é portador de peculiaridades bem definidas, que só se amoldam às especificidades de certos conflitos - daí serem especiais. Por exemplo, a ação de consignação em pagamento só é adequada quando se pretenda remover a recusa do credor a receber (CPC, art. 890 e seguintes); a de despejo, prevista na Lei 8.245/1991, apenas quando a tutela pretendida pelo autor consistir na retomada de imóvel. Entre os procedimentos comuns, só prevalece o ordinário quando não se configurar qualquer das hipóteses de admissibilidade do sumário, o qual é reservado para casos havidos como mais singelos e para os merecedores de maior celeridade (CPC, art. 275). Oportuno registrar que a jurisprudência do STJ é pacífica em admitir que o juiz, de ofício, converta o procedimento sumário em ordinário, salvo se houver prejuízo para o réu. Em resumo, chega-se ao procedimento ordinário por exclusão, ou seja, unicamente nos casos quem que não se exija um especial nem o sumário. Por isso é que ele se diz ordinário, ou seja, é a regra, apropriado para os casos não excepcionados. Também em resumo: os procedimentos especiais são motivados pelas peculiaridades de certas situações da vida para as quais o autor pede remédio e o sumário pela celeridade de que em tese é capaz.
De outro lado, no tocante ao procedimento sumaríssimo, o principal critério que orienta a sua incidência é o valorativo, valendo lembrar que os juizados especiais cíveis estaduais têm competência para processar e julgar causas cíveis cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; os juizados especiais da Fazenda Pública possuem competência para julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, de até o valor de 60 salários mínimos, com algumas exceções trazidas pelo § 1º do art. 2º da Lei 12.153/2009; aos juizados especiais cíveis federais são reservadas as causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, ressalvadas as hipóteses elencadas no § 1º do art. 3º da Lei 10.259/2001. A aplicação do procedimento sumaríssimo também é orientada pelos critérios material (Lei 9.099/1995, art. 3º, II, III e § 1º, I - nessas hipóteses, não há limite de valor) e misto (Lei 9.099/1995, art. 3º, IV). De se acrescentar que o rol do art. 3º da Lei 9.099/1995 é taxativo. Os Enunciados 3 e 30 dos Fóruns Nacionais dos Juizados Especais (FONAJE) dizem, respectivamente o seguinte: "lei local não poderá ampliar a competência do Juizado Especial" e "é taxativo o elenco das causas previstas no art. 3º da Lei 9.099/1995”. Outrossim, importante gizar que a competência dos juizados especiais estaduais cíveis é relativa, ou seja, a parte pode optar pela propositura da causa na justiça comum.
de documento (art. 4º, II, CPC), não se admite ação meramente declaratória de fato. Em regra, não há interesse de agir em procurar o Poder Judiciário para que ele declare que um fato ocorreu, mas sim para que ele certifique a situação jurídica que tenha ou não tenha emergido de um fato. Ex: Não há interesse em pedir a certificação da demência de alguém, mas sim a situação jurídica decorrente da demência, qual seja, a interdição.
P: É possível ação declaratória proposta no Poder Judiciária quando se tratar de consulta?
R: Com exceção feita à Justiça Eleitoral, não há interesse processual na ação declaratória quando se tratar de consulta, pois o Poder Judiciário não é órgão consultivo/opinativo.
P: Admite-se a ação declaratória com o objetivo de identificar a exata interpretação de cláusula contratual?
R: Sim, pois a doutrina e a jurisprudência também admitem a ação meramente declaratória do modo de ser de uma relação jurídica, nos termos do que dispõe a Súmula 181 do STJ.
P: Como o demandante demonstrará seu interesse de agir no caso de ação meramente declaratória da existência ou inexistência de relação jurídica?
R: Cabe ao demandante demonstrar a necessidade de intervenção do Judiciário, em razão da controvérsia concreta (dúvida) que se estabelece sobre a existência dessa relação jurídica.
P: Há interesse de agir na ação meramente declaratória, mesmo se possível o ajuizamento de ação de prestação (condenatória, madamental ou executiva)?
R: Sim, nos termos do parágrafo único do art. 4º do CPC. Exemplificar com o caso de Wladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura militar. A viúva propôs ação pedindo apenas o reconhecimento do direito à indenização, sem, porém, pedir a condenação da União ao pagamento dessa verba. O TFR, à época, admitiu a ação.
P: Pode ser executada a sentença meramente declaratória quando reconhecer a existência de uma obrigação exigível?
R: Existe corrente doutrinária e jurisprudencial que defende essa possibilidade, independentemente do ajuizamento de outro processo de conhecimento, de natureza condenatória, pois não haveria razão para submetê-la a um segundo juízo de certificação, até porque a nova sentença não poderia chegar a um resultado diferente do da sentença declaratória, sob pena de ofensa à coisa julgada. Tem prevalecido no STJ e foi abarcada pela redação conferida ao art. 475-N, I, do CPC. Entretanto, existe uma segunda corrente que entende que, embora declarado existente o direito pela sentença meramente declaratória, o inadimplemento não poderá ser afastado pela tutela executiva, pois a sentença declaratória não seria título executivo. Teria, portanto, o credor de postular nova tutela cognitiva, de conteúdo condenatório, para obter acesso à via executiva.
P: Qual a diferença entre uma ação de prestação (ação condenatória) e uma ação meramente declaratória ajuizada após a lesão (art. 4º, p. un, CPC)?
R: As sentenças condenatória e declaratória, no caso de essa ser ajuizada após a lesão, tem idêntico conteúdo (certificação de um direito subjetivo e de sua exigibilidade) e efeitos (oportunizar o manejo de medidas executivas), mas o prazo prescricional para efetivação da sentença condenatória recomeça a correr a partir do trânsito em julgado, pois ela tem o condão de interromper a prescrição, enquanto na ação declaratória o prazo conta-se desde a sua violação, pois ela não é capaz de interrompê-lo.
P: Qual o conceito de ação declaratória incidental?
R: A ação declaratória incidental é aquela em que qualquer das partes pode requerer ao juiz a declaração por sentença de questão que se revele prejudicial ao julgamento do mérito da ação principal, a fim de que, com isso, esse ponto controvertido passe a gozar, também, de decisão com força de coisa julgada.
P: Qual o objeto da ação declaratória incidental?
R: O objeto da ação declaratória incidental deverá ser, necessariamente, uma relação jurídica e nunca apenas um fato.
P: Quais são os requisitos para a apresentação da ação declaratória incidental?
R: São os seguintes requisitos:
Haver ação pendente, pois essa ação, por definição, será incidental, isto é, será distribuída por dependência ao processo principal.
Haver questão prejudicial. A solução do pedido trazido na ação principal deve estar subordinado à resolução do ponto controvertido trazido na declaratória incidental.
Competência. O juízo da causa principal deve ser também competente para julgar a ação declaratória.
Mesmas partes. Em razão dos limites da coisa julgada só operar efeitos entre as partes, a ação declaratória incidental deve envolver as mesmas partes do processo principal.
Compatibilidade de procedimento. A ação declaratória incidental seguirá o mesmo procedimento da ação principal.
Matéria já constante do processo. A ação declaratória incidental não poderá inovar quanto à matéria, que deverá, necessariamente, constar do processo.
P: Há dependência procedimental da ação declaratória em relação à ação principal?
R: Sim. A declaratória incidental terá seu processar dependente da ação principal, de forma que a extinção dessa trará a mesma sorte à demanda incidental.
P: Qual o prazo para propositura da ação declaratória incidental?
R: O prazo para a interposição da ação declaratória pelo autor é de dez dias (art. 325). Para o réu, o prazo é o da resposta (contestação).
Ação discriminatória. Saulo Paulo de Tarso Sena Lima (sauloptsl@gmail.com)
Referência para todas as perguntas e respostas: ARENHART, Sérgio Cruz e MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil - Procedimentos Especiais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, pp.183-194.
P: No que consiste e qual a finalidade da ação discriminatória?
R: A ação discriminatória é ação específica designada pela Lei 6.383/1976 para separar e titular terras públicas, chamadas de terras devolutas, do patrimônio imóvel particular.
P: A discriminação de terras devolutas é um procedimento necessariamente judicial?
R: Não. A ação discriminatória é procedimento supletivo em matéria de identificação de terras devolutas, somente sendo utilizada em casos onde a via administrativa se mostre frustrada. Conforme estabelece o art. 19 da Lei 6.383/1976, a ação discriminatória somente será promovida: (I) quando o processo discriminatório administrativo for dispensado ou interrompido por presumida ineficácia; (II) contra aqueles que não atenderem ao edital de convocação ou à notificação (artigos 4º e 10 da presente Lei); e (III) quando configurada a hipótese do art. 25 da citada lei, que prevê propositura de cautelar de atentado (arts. 879 a 881 do CPC) no caso de alteração de quaisquer divisas já discriminadas, derrubada da cobertura vegetal, construção de cercas e transferências de benfeitorias a qualquer título, sem assentimento do representante da União.
P: O não atendimento aos editais publicados na fase administrativa do procedimento discriminatório implica aceitação tácita dos particulares interessados?
R: Não. Conforme estabelecido no art. 14 da Lei 6.383/1976, o não atendimento aos editais de convocação ou notificações administrativas estabelece a presunção de discordância, acarretando, assim, a imediata propositura da ação discriminatória.
P: De que é a legitimidade para a propositura da ação discriminatória?
R: Conforme o art. 18 da Lei 6.383/1976, tem o INCRA plenos poderes de representação processual da União, em relação à questão discriminatória, motivo pelo qual é o seu corpo jurídico quem atuará na defesa do interesse federal. A lei é omissa quanto à capacidade para ação proposta em face de terras devolutas estaduais.
P: Sob qual rito processual correrá a ação discriminatória?
R: Nos termos do art. 20 da Lei 6.383/1976, a ação discriminatória tramitará sob o rito sumário não se admitindo, dessa forma, nenhuma forma de intervenção de terceiros (salvo a assistência e o recurso de terceiro prejudicado), nem ação declaratória incidental, nem reconvenção.
P: Sob qual efeito é recebida a apelação interposta contra a sentença proferida na ação discriminatória?
R: Da sentença proferida,
caberá apelação, a ser recebida exclusivamente no efeito devolutivo, autorizando-se desde logo a sua execução provisória (art. 21 da Lei 6.383/1973). Além disso, se a sentença for de improcedência, estará ela sujeita ao reexame necessário (art. 475, I, CPC). Com isso, já a partir da sentença é possível iniciar-se a demarcação (ainda que provisória) da área considerada como terra devoluta, valendo a sentença (mesmo que sujeita a alteração em grau de recurso) como título provisória de propriedade, para fins de registro (art. 22).
Ação de Usucapião. Renato Saldunbides (resaldunbides@gmail.com)
P: Quais as características da Petição inicial na Ação de Usucapião?
R: Segundo o art. 942 do CPC, o autor tem que expor na petição inicial o fundamento do pedido e juntando a planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como os confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados. 
Obs: Atentar que o memorial descritivo do imóvel é documento fundamental para a petição inicial da usucapião. O valor da causa será o valor venal do bem.
P: Como ocorre a comunicação da Fazenda Pública nesta ação?
R: Nos termos do art. 943, serão citadas por carta (via postal) para manifestem interesse na causa. Neste caso a FP é apenas citada para confirmar que o bem não é público.
P: Como ocorre a citação dos réus certos e dos réus incertos?
R: Todos os réus certos são citados pessoalmente. Neste caso, se houver necessidade de citação do réu certo por edital e o réu não aparecer, haverá a necessidade de nomeação de curador.
Já os réus incertos são citados por edital. Se os réus não aparecerem, não há necessidade de indicação de curador. Neste caso, não se trata de réus não localizados, mas sim de réus que ninguém sabe quem é.
P: Tem revelia na ação de usucapião (ordinário e extraordinário)?
R: Majoritariamente, entende-se que não, pois envolve questão relacionada a registro público. Se há impacto no registro público não há revelia - o autor tem que provar os requisitos, não se presumindo verdadeiras as alegações pelo não comparecimento do réu.
P: É obrigatória a intervenção do MP em todos os atos do processo de usucapião (art. 944 CPC) ?
R: De acordo com a lei sim, mas vários orgãos do MP editaram normas entendendo que o art. 944 não é compatível com a CR/88, que não é atribuição do MP intervir em usucapião.
P: Qual a natureza jurídica da ação de usucapião?
R: A maioria da doutrina entende que a ação de usucapião é declaratória, pq o o usucapião implica no preenchimento dos requisitos legais (posse mansa, duradoura etc..). Assim, como toda sentença declaratória tem efeitos ex tunc. Há quem entenda que é constitutiva, mas tal entendimento é minoritário. Pode-se dizer que a sentença, na verdade, tem uma pequena carga de constitutividade, pois ela permite, nos termos do art. 945, o registro na cartório de registro de imóveis da transferência da propriedade do imóvel. 
Ação de Consignação em Pagamento. Gabriela Bogoewich (gabriela.bogoewich@gmail.com)
P: Qual é a natureza da ação de consignação em pagamento?
R: A natureza é de ação declaratória, porquanto a pretensão do autor é que o juiz declare que o depósito efetuado extinguiu seu débito.
 
P: Em quais hipóteses é possível o ajuizamento de ação de consignação em pagamento?
R: Havendo mora do credor, surge o interesse em ajuizar a ação de consignação em pagamento pelo devedor.
No caso dos créditos tributários, a ação consignatória é cabível nos casos em que o Fisco, por qualquer motivo, se recuse ao recebimento do crédito tributário. As hipóteses estão previstas no art. 164 CTN, são elas:
(i) recusa do Fisco em receber a prestação tributária, subordinando o seu recebimento ao pagamento de outra prestação relativa a tributo ou multa ou ao cumprimento de obrigação acessória;
(ii) Fisco subordina o recebimento do crédito ao cumprimento de exigências administrativas sem previsão legal;
(iii) casos de bitributação, em que 2 ou mais pessoas jurídicas exijam o mesmo tributo do devedor decorrente do mesmo fato gerador.
Em suma, é cabível a ação consignatória nos casos em que o Fisco subordine o recebimento do crédito tributário ao pagamento de outro tributo ou multa, ou ao cumprimento de obrigações acessórias com ou sem previsão legal. Além disso, a ação poderá ser ajuizada nos casos de bitributação.
 
P: Qual é o procedimento para a ação consignatória no caso de bitributação?
R: O devedor deverá propor a ação e depositar o tributo de maior valor, indicando o ente que entende ser competente para a cobrança do tributo. Haverá a citação desse ente, e este passará a integrar o pólo ativo da demanda, junto com o devedor.
 
P: A propositura de consignatória tributária pelo devedor provoca qual efeito relativamente à prescrição do direito de cobrança do crédito tributário?
R: O ajuizamento da consignatória importa em reconhecimento da existência do crédito tributário, logo é causa de interrupção da prescrição, conforme o art. 174, parágrafo único, IV, CTN.
 
P: É possível ao devedor requerer o parcelamento em ação de consignação tributária?
R: Não. Para que o parcelamento seja deferido, é necessário que o devedor aceite as condições impostas pela lei que regula tal benefício fiscal. A ação de consignação não é a via adequada para o pedido de parcelamento.
Ressalte-se que, caso seja por lei autorizado o pagamento do tributo em parcelas, o depósito em consignação poderá ser feito sucessivamente, sem maiores formalidades, com tolerância de 5 dias a contar do vencimento de cada prestação (art. 892 CPC).
 
P: Descreva o procedimento do depósito extrajudicial previsto no art. 890 CPC? Há possibilidade de ser adotado tal procedimento para débitos com a Fazenda Pública?
R: O art. 890 CPC adota a possibilidade do depósito extrajudicial do montante devido. Nesse caso, o devedor realiza o depósito em instituição financeira oficial (se houver no local de pagamento). Haverá a expedição de correspondência registrada notificando o credor sobre o depósito extrajudicial. Da data da assinatura do AR, o credor terá 10 dias para: a) levantar o dinheiro; b) ficar inerte (extingue-se a obrigação mesmo assim); c) manifestar discordância por escrito.
Caso o credor fique inerte, haverá extinção da obrigação. Para que a obrigação não seja extinta, o credor deverá manifestar discordância por escrito. Nessa hipótese, o depósito não será inútil, ele pode ser aproveitado para, no prazo de 30 dias, se ajuizar a ação de consignação em pagamento pelo devedor. 
Esse procedimento NÃO poderá ser utilizado contra a Fazenda Pública. A extinção do crédito tributário dependerá sempre de sentença transitada em julgado, dando procedência ao pedido (arts. 156, VIII, e 164, §2º, CTN). Além disso, para a adoção do procedimento do art. 890 CPC, (i) o credor não poderá ser incapaz, pois este não pode dar quitação; (ii) a obrigação deverá ser pecuniária; (iii) não poderá haver dúvida (em litígio) sobre quem é o credor, pois o depósito não pode ser condicional.
Em se tratando de créditos tributários, o devedor deverá realizar o depósito e ajuizar a ação consignatória, juntando à petição inicial o comprovante respectivo. A Fazenda Pública será, então, citada para oferecer resposta.
 
P: Quem são o(s) legitimado(s) para a propositura de ação consignatória?
R: No caso de ação consignatória em geral, a legitimidade ativa é do devedor ou terceiro interessado (legitimação extraordinária); a passiva é do credor.
Muitas vezes não é possível o pagamento pelo desconhecimento de quem é o credor. Nesses casos, o devedor deve narrar a situação e pedir a citação do réu por edital. Se houver vários pretensos credores, todos devem ser citados em litisconsórcio passivo necessário.
Em relação aos créditos tributários, majoritariamente, defende-se que a legitimidade ativa pertence tão somente ao sujeito passivo da relação tributária (contribuinte ou responsável tributário). A legitimidade passiva é do sujeito ativo da relação tributária.
Parte da doutrina entende
que os legitimados ativos para a ação consignatória seriam o sujeito passivo e o terceiro interessado, com base na regra de que “quem pode o mais, pode o menos”. Os defensores dessa tese argumentam que o terceiro interessado pode efetuar o pagamento do crédito tributário na via administrativa e pode afastar a presunção de certeza e liquidez da certidão de dívida ativa, logo poderia ajuizar a consignatória tributária. Essa tese é minoritária.
Os argumentos da tese minoritária não merecem prosperar pelas seguintes razões: (i) pagamento não se confunde com consignação em pagamento; (ii) o terceiro não possui legitimidade para ajuizar demanda para afastar a presunção de certeza e liquidez da CDA, apenas poderá produzir prova com este fim; (iii) o art. 890 CPC que estabelece a legitimidade do terceiro para a consignatória é norma geral e não se aplica aos casos de débitos tributários, para os quais existe o art. 164 CTN, norma específica.
 
P: Qual é o juízo competente para a análise da ação consignatória?
R: A ação deve ser ajuizada no foro do local onde a obrigação deve ser cumprida, o que deve estar estabelecido na fonte da obrigação (art. 891 CPC). Não havendo nada estipulado e a obrigação sendo pecuniária, deve ser paga no domicílio do devedor.
Obrigação portável: devedor leva o pagamento ao credor. Pode ser estipulada em contrato. Obrigação quesível: cumprida no domicílio do devedor. É a regra.
Em se tratando de créditos tributários, o juízo competente também será o do local em que deve ser efetuado o pagamento, no foro do domicílio tributário do sujeito passivo, conforme os arts. 159 e 127 CTN.
 
P: A ação consignatória tributária importa em suspensão da exigibilidade do crédito tributário?
R: A ação consignatória apenas suspenderá a exigibilidade do crédito tributário caso o depósito efetuado seja integral e em dinheiro, conforme exige o art. 151, II, CTN.
A ação consignatória não é a via adequada para a discussão acerca do valor devido, pois ela não suspende a exigibilidade do crédito, caso não ocorra o depósito do montante integral.
Assim, caso não haja o depósito do montante integral, é possível que tramitem simultaneamente a ação de consignação em pagamento e a execução fiscal.
 
P: Cabe algum pedido complementar na ação consignatória tributária?
R: Não. Pelo exposto no art. 164, §1º, CTN, a ação consignatória apenas poderá versar sobre o crédito que o consignante se propõe a pagar.
 
P: Quais são as opções para o réu da ação consignatória após a citação?
R: O réu poderá aceitar o valor depositado ou se omitir. Nesse caso, a ação é julgada procedente e todos os ônus sucumbenciais são seus.
O réu terá ainda a opção de responder através da contestação.
 
P: Quais as matérias podem ser alegadas na contestação do réu?
R: O artigo 896, CPC traz um rol exemplificativo de matérias que podem ser apresentadas na defesa.
Art. 896 – Na contestação, o réu poderá alegar que:
I – não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa devida;
II – foi justa a recusa;
III – o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento;
IV – o depósito não é integral.
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação será admissível se o réu indicar o montante que entende devido.
 
P: O réu poderá apresentar reconvenção na ação consignatória?
R: Não há necessidade de que o réu apresente reconvenção, uma vez que poderá apresentar o pedido contraposto. Assim, no bojo da própria contestação, o réu poderá requerer ao juiz a condenação do autor no pagamento do valor correto. Nesse caso, a sentença será declaratória e condenatória, pois o juiz se pronunciará sobre o valor correto que é devido pelo autor da ação consignatória.
A ação tem natureza dúplice, pois o pedido do réu pode ser feito na própria contestação.
Em se tratando de créditos tributários, Mauro Luís Rocha Lopes defende que, ainda que seja julgada improcedente a ação, o depósito reputado insuficiente deverá ser convertido em renda em favor da Fazenda e o débito residual deverá ser inscrito em dívida ativa, possibilitando o ajuizamento da execução fiscal para a cobrança deste, por aplicação subsidiária do art. 899, §§1º e 2º, CPC.
A Fazenda não poderá se utilizar da sentença da ação consignatória que condenou o autor em um valor maior para executar o autor pelo rito do CPC. A Fazenda sempre deverá se utilizar da execução fiscal, que tem como título executivo o Termo de Inscrição em Dívida Ativa.
 
P: Quais são os efeitos da sentença da ação de consignação tributária?
R: Julgada procedente a ação, o depósito será convertido em renda da Fazenda Pública, sendo extinta a obrigação tributária (art. 164, 2º, CTN).
Julgada improcedente a ação, no todo ou em parte, o crédito deverá ser cobrado com atualização monetária e juros de mora, sem prejuízo das penalidades cabíveis.
Mauro Luís Rocha Lopes defende que, ainda que seja julgada improcedente a ação, o depósito reputado insuficiente deverá ser convertido em renda em favor da Fazenda e o débito residual deverá ser inscrito em dívida ativa, possibilitando o ajuizamento da execução fiscal para a cobrança deste, por aplicação subsidiária do art. 899, §§1º e 2º, CPC.
 
P: Quem arcará com os ônus de sucumbência na ação consignatória?
R: Deve arcar com o ônus de sucumbência, a parte que deu ensejo à ação. Assim, caso a ação seja julgada procedente, o réu é quem arcará com estes.
Sendo caso de bitributação, os ônus de sucumbência serão suportados pelo ente a quem não competia a cobrança do tributo.
Ação de despejo e renovatória. (denisebsza@gmail.com)
 
P: Discorra sobre o objetivo da ação renovatória (no âmbito do direito empresarial)?
R: A ação renovatória objetiva a renovação compulsória e obrigatória do contrato de locação empresarial. Caso o juiz julgue a ação procedente, ele vai renovar aquele contrato de locação comercial, mesmo que o proprietário não concorde com a renovação. O objetivo não é proteger o proprietário e/ou o locatário, mas o ponto comercial.
 
P: Quais os requisitos da ação renovatória (também no âmbito do direito empresarial)?
R: Segundo a Lei do Inquilinato, nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente, cumpra os seguintes requisitos: a) que o contrato a ser renovado tenha sido celebrado por escrito e por prazo determinado (ou seja, se o contrato tiver prazo indeterminado não caberá a ação renovatória – caiu no TRF da 3ª Região); b) O contrato, ou a soma ininterrupta dos contratos, tem que totalizar prazo contratual mínimo de cinco anos; c) É necessário que o locatário esteja explorando o mesmo ramo de atividade econômica nos últimos três anos, de forma ininterrupta.
 
P: É possível a aplicação da Lei do Inquilinato em se tratando de imóveis alugados por empresas públicas e sociedades de economia mista (ou seja, EP e SEM atuando como locadoras)?
R: A matéria é controversa na doutrina e na jurisprudência. Os tribunais superiores ainda não se pronunciaram sobre o tema. O STJ, no AgRg no REsp 1042799/RJ, não enfrentou o tema de forma definitiva (“No que tange à alegação de que não é cabível a aplicação da Lei n.º 8.245/91, porquanto o imóvel cujo valor do aluguel se pretendia renovar é bem público, o Tribunal de origem, ao manter a sentença de primeiro grau, o fez com base em fundamentos de índole constitucional e de natureza infraconstitucional e, não havendo a interposição de recurso extraordinário, incide a Súmula 126 desta Corte.”).
Contudo, existem decisões no âmbito dos TRFs que entendem que apenas as locações de imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, bem como suas autarquias e fundações públicas, não se submeteriam aos ditames da Lei n. 8245 (com base na literalidade do art. 1º, parágrafo único, “a”, da referida Lei). No caso das EP e SEM, por terem regime próprio de empresas privadas (art. 173, § 1º, CF), ficariam submetidas à Lei do Inquilinato.
Saliente-se que a controvérsia gira apenas em torno do poder público na figura de locador, já que, em sendo o poder público
locatário, não existe controvérsia quanto a aplicação da Lei do Inquilinato (o que não exclui totalmente a aplicação do regime de direito público em tais contratos).
Vale destacar que a Advocacia-Geral da União possui a Orientação Normativa nº 06/2009, nos seguintes termos: “A vigência do contrato de locação de imóveis, no qual a administração pública é locatária, rege-se pelo art. 51 da Lei nº 8.245, de 1991, não estando sujeita ao limite máximo de sessenta meses, estipulado inc. II do art. 57, da Lei nº 8.666 de 1993.”
 
P: No âmbito da ação de despejo, defina o que é denúncia vazia e denúncia cheia.
R: A denúncia vazia (também conhecida como denúncia imotivada) é a possibilidade do locador retomar o imóvel sem quaisquer justificativas. Nessa hipótese, extingue-se o contrato de locação apenas pela vontade de quem loca, ao término do prazo da locação. Já a denúncia cheia (ou motivada) ocorre nos casos em que existe motivo para a retomada do imóvel antes do decurso do prazo acertado pelas partes como, por exemplo, o inadimplemento de pagamentos ou o descumprimento de cláusulas contratuais.
 
P: É possível o manejo de reconvenção na ação de despejo?
R: Sim. Não existe óbice para o manejo da reconvenção. Segundo o STJ (REsp 293.784/SP, DJe 06/06/2011) “a legislação de regência prevê a utilização da reconvenção sempre que houver conexão com a ação principal ou com o fundamento da defesa. [...] Presente o vínculo entre o fundamento da defesa e a pretensão reconvinte, consistente no contrato locativo, possível a propositura da reconvenção em ação de despejo”.
 
P: Suponha que o Poder Público imponha ao dono de uma casa a realização de reparações urgentes neste imóvel e que este se encontra alugado a um terceiro. Suponha, ainda, que este terceiro (locatário) se recuse a consentir com a realização das reparações. Que medidas poderá o locador adotar? Explique.
R: O dono da casa (locador) poderá se valer da ação de despejo com o intuito de desfazer o contrato locatício. Impende salientar que, nesse caso, a petição inicial deverá ser instruída com prova da propriedade do imóvel ou do compromisso registrado. Além disso, nessa hipótese a Lei prevê a possibilidade de provimento liminar, sem audiência da parte contrária que terá prazo de 15 dias para a desocupação (Art. 59. § 1º. Incisos da Lei 8.245/91). Esta hipótese foi acrescentada pela Lei 12.112/2009.
Maiores informações sobre os aspectos processuais da ação de despejo (que terá o rito ordinário): 1) os processos tramitam durante as férias forenses e não se suspendem pela superveniência delas; 2) será competente para conhecer e julgar a ação de despejo o foro do lugar da situação do imóvel, salvo se outro houver sido eleito no contrato; 3) 	o valor da causa será, via de regra, equivalente a 12 meses de aluguel; 4)	desde que autorizado no contrato, a citação, intimação ou notificação far-se-á mediante correspondência com aviso de recebimento, ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, também mediante telex ou fac-símile, ou, ainda, sendo necessário, pelas demais formas previstas no CPC; 5)	os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito somente devolutivo.
Ação de Desapropriação. Filipe Leonardo (creuzebeck@gmail.com)
P: Qual é a natureza jurídica da declaração de utilidade ou necessidade pública ou de interesse social? Quais são as espécies normativas que podem veicular a declaração?
R: Segundo Hely Lopes Meirelles, a declaração expropriatória constitui um ato tipicamente administrativo. A declaração de utilidade ou necessidade pública ou de interesse social pode ser feita por decreto, como está estabelecido no art. 6º do Decreto-Lei nº 3.365/41, ou por lei (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.)
P: O Presidente da República declara determinado imóvel como utilidade pública em decreto publicado no Diário Oficial da União em 10 de fevereiro de 2008. A União propõe a ação de desapropriação em 1º de fevereiro de 2013 e o despacho do magistrado para citação do réu se dá em 8 de fevereiro de 2013. Entretanto, em razão de erros na qualificação do réu na petição inicial, a citação válida ocorre somente em 1º de março de 2013. Nesse caso, houve a decadência do decreto expropriatório?
R: Consoante o art. 10 do Decreto-Lei nº 3.365/41, a desapropriação por meio judicial deverá ser efetivada em até cinco anos contados da expedição do decreto expropriatório, que, findo o prazo, caducará. O Superior Tribunal de Justiça compreende que a decadência estabelecida no citado dispositivo não ocorrerá se a citação válida ocorrer dentro do prazo decadencial (Resp's 72.660/SP e 89.522/AP).
Confrontando o entendimento jurisprudencial com o caso em análise, vê-se que a citação válida ocorreu após o prazo de cinco anos contados da publicação do decreto expropriatória e, por conseguinte, decaiu o direito de a União desapropriar o imóvel, devendo aguardar um ano para nova declaração de utilidade pública, conforme o art. 10, parágrafo único, do Decreto-Lei nº 3.365/41. (Situação problema elaborada a partir da explicação de Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo).
OBSERVAÇÕES: É aplicável o entendimento da súmula 106 do STJ quanto à decadência do direito de desapropriar. O prazo para efetivação da desapropriação por interesse social, incluída para fins de reforma agrária, é de 2 (dois) anos (art. 3º da Lei nº 4.132/62 e art. 3º da Lei Complementar nº 76/93).
P: É constitucional o art. 12 do Decreto-Lei nº 3.365/41, que determina que somente juízes que gozam de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos podem julgar ações de desapropriação?
R: Segundo alguns doutrinadores, como Wilson Alves de Souza e Leonardo Carneiro da Cunha, o referido artigo é inconstitucional, tendo em vista que os juízes em processo de vitaliciamento já gozam de jurisdição plena e de inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio. Além do mais, a justificativa de que a exigência se presta para evitar pressões do Poder Executivo não se sustenta, tendo em vista que o sistema constitucional garante a independência do Poder Judiciário. Em conclusão, o art. 12 do Decreto-Lei nº 3.365/41 viola a garantia fundamental do juiz natural.
P: A quem compete o julgamento de ação de desapropriação proposta por concessionária de serviço público federal?
R: Apesar de a concessionária prestar serviço público por meio de concessão da União, a ação de desapropriação deverá ser proposta na Justiça Comum Estadual, uma vez que a União não é a autora da demanda, mas sim a concessionária. Nesse sentido, precedentes do STJ: CC 4.429/SP; CC 29.244/SP) (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.)
P: No plano horizontal da cognição, qual é a sua classificação na ação de desapropriação?
R: A cognição é considerada nos planos vertical e horizontal. No plano vertical, a cognição se refere à profundidade da análise judicial, classificando-se em sumária e exauriente. Já no plano horizontal, é levada em consideração as matérias possíveis de análise, dividindo-se em limitada e ampla. Consoante o art. 20 do Decreto-Lei nº 3.365/41, o réu somente poderá alegar, na sua contestação, sobre vícios do processo de desapropriação e/ou impugnar o preço oferecido pelo ente desapropriante. Desse modo, no plano horizontal, a cognição é limitada, uma vez que somente as duas matérias referidas podem ser invocadas pelo réu e, consequentemente, ser apreciadas pelo juiz. (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.)
P: É cabível reconvenção na ação de desapropriação?
R: Como já visto na pergunta anterior, a cognição na ação de desapropriação é limitada, nos termos do art. 20 da Decreto-Lei nº 3.365/41. Por isso, não é possível reconvenção na ação de desapropriação, porquanto as matérias arguíveis pelo réu são apenas vícios no processo e impugnação ao preço ofertado. Importante ressaltar que é cabível o pedido de direito de extensão, objeto da próxima questão, na contestação. (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.)
P: O que é o pedido
de extensão?
R: “Na lição de Hely Lopes Meirelles, o direito de extensão 'é o que assiste ao proprietário de exigir que na desapropriação se inclua a parte restante do bem expropriado, que se torna inútil ou de difícil utilização'. Tal direito está expressamente previsto no art. 4º da Lei Complementar nº 76/1993, bem como no art. 12 do Decreto nº 4.956, de 9 de setembro de 1903 e, bem ainda, no parágrafo 1º do art. 19 da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964 (Estatuto da Terra), sendo certo que tal direito pode ser alegado em qualquer tipo de desapropriação.” (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.)
P: É cabível a oposição na ação de desapropriação?
R: A oposição, na dicção do art. 56 do Código de Processo Civil, corresponde à possibilidade de quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. Na desapropriação, autor e réu não controvertem sobre a titularidade da propriedade, tando que a desapropriação é forma originária de aquisição da propriedade. Desse modo, não haveria uma coisa disputada na ação de forma a possibilitar a oposição. Além disso acrescenta-se a cognição limitada da ação e que eventuais discussões acerca da titularidade do bem entre particulares deve ser resolvida por meio de ação própria, nos termos do art. 34, parágrafo único, do Decreto-Lei nº 3.365/41. (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.)
P: É possível a inclusão do locatário do bem expropriado no polo passivo da ação de desapropriação?
R: Se o imóvel a ser desapropriado é objeto de locação comercial, pode o locatário ingressar no polo passivo da desapropriação, pois ele deve ser indenizado pela perda do ponto ou do fundo do comércio, consoante o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (Resp 696.929/SP e Resp 406.502/SP). (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo)
P: Quais são os efeitos da revelia do réu na ação de desapropriação? (ou a revelia do réu na ação de desapropriação acarreta a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor?)
R: Com efeito, a revelia na ação de desapropriação somente possui o efeito processual, qual seja, os prazos correrão independente de intimação do réu, caso não possua advogado constituído nos autos, a teor do art. 322 do CPC. Não possui o efeito material, previsto no art. 319 do CPC, ou seja, a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor não ocorre na ação de desapropriação. Isso porque o art. 22 do Decreto-Lei nº 3.365/41 dispõe que não haverá perícia judicial somente se o réu concordar expressamente com o preço. Ora, no caso de revelia, não há uma concordância expressa com o preço, sendo necessária a avaliação pericial. Esse é inclusive o entendimento da Súmula 118 do TFR: “Na ação expropriatória, a revelia do expropriado não implica em aceitação do valor da oferta e, por isso, não autoriza a dispensa da avaliação”. (Leonardo Carneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo).
P: Quais são os requisitos para desistência da ação de desapropriação? Até qual momento processual é possível a desistência?
R: Para a desistência da ação de desapropriação é necessária a revogação do ato declaratório de utilidade pública, a devolução do bem ao expropriado antes do pagamento total da indenização e do registro no Cartório de Imóveis e o bem deverá estar nas mesmas condições em que o expropriante recebeu do proprietário particular. (Leonardo Caneiro da Cunha. A Fazenda Pública em Juízo.) O último momento para a desistência, de acordo com Hely Lopes Meirelles é, no caso de bem móvel, a tradição e, no caso de bem imóvel, o trânsito em julgado da sentença ou o registro do título resultante do acordo. O STJ, no entanto, admite a desistência após o trânsito em julgado da sentença, mas antes do pagamento total do preço da indenização.
OBSERVAÇÃO: Na ação de desapropriação, HÁ DUAS SENTENÇAS, uma que fixa o preço da indenização (art. 24 do Decreto-Lei nº 3.365/41) (é esta a que se refere a presente resposta) e outra que constitui título hábil para a transcrição no registro do imóvel (art. 29 do Decreto-Lei nº 3.365/41). A última somente é proferida após o pagamento total da indenização, ou seja, com o pagamento do precatório único ou de todos os parcelados.
P: Quais são os juros incidentes na ação de desapropriação?
R: Na ação de desapropriação, há a incidência de juros compensatórios e de juros moratórios.
Os juros compensatórios são devidos em razão da impossibilidade de exploração da propriedade pelo particular ante a imissão provisória na posse. Inicialmente, a sua incidência decorria de construção jurisprudencial, consolidada pela súmula 164 do STF. Com a edição da Medida Provisória 1.577/97, foi criado o art. 15-A do Decreto-Lei nº 3.365/41 que prevê a incidência dos juros compensatório.
Os juros moratórios decorrem do atraso no pagamento da indenização.
P: Quais são as taxas dos juros compensatórios e moratórios?
R: As taxas dos juros compensatórios se divide em três momentos distintos, na seguinte ordem cronológica: 1. antes da Medida Provisória 1.577/97, a taxa de juros compensatórios era 12% ao ano, conforme a súmula 618 do STF; 2. com o advento da referida medida provisória, a taxa de juros passou para 6% a.a., de acordo com o art. 15-A do Decreto-Lei nº 3.365/41; 3. o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar na ADI 2.332/DF, suspendendo a aplicação da taxa de 6% a.a., retornando a taxa de 12% a.a. A liminar foi publicada em 13.9.2001.
Toda essa evolução está sintetizada na súmula 408/STJ: “Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios incidentes após a Medida Provisória n. 1.577, de 11/06/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001 e, a partir de então, em 12% ao ano, na forma da Súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal”.
Já os juros moratórios são fixados à taxa de 6% a.a., nos termos do art. 15-B do Decreto-Lei nº 3.365/41. OBSERVAÇÃO: Não encontrei precedente aplicando o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, que estipula que os índices da caderneta de poupança devem compensar a mora, independente da natureza da condenação imposta a Fazenda Pública. Mas, como a desapropriação judicial prevista no Decreto-Lei nº 3.365/41 é paga por precatório, então prevalece a disciplina do art. 100, § 12, da CF, criado pela EC nº 62/09, de que os juros de mora são os mesmos juros incidentes na caderneta de poupança.
P: Qual é o termo inicial dos juros compensatórios e dos moratórios?
R: O termo inicial dos juros compensatório é a data da imissão provisória na posse pelo ente expropriante (Súmula 164 do STF, Súmula 69 do STJ e art. 15-A, caput, do Decreto-Lei nº 3.365/41).
Já o termo inicial dos juros moratórios possui evolução jurisprudencial. Inicialmente, o STJ entendeu que os juros moratórios incidem a partir do trânsito em julgado da sentença (Súmula 70/STJ). Entretanto, com o advento da MP 1.577/97, criando o art. 15-B do Decreto-Lei nº 3.365/41, os juros moratórios passaram a incidir após o não pagamento do precatório expedido para a satisfação da indenização. O STJ, no julgamento do EREsp nº 615018/RS alterou seu entendimento, para compreender que o termo inicial dos juros moratórios é o disposto no art. 15-B do Decreto-Lei nº 3.365/41, e não mais na Súmula 70/STJ. Igual entendimento se encontra na súmula vinculante nº 17.
P: Qual é a base de incidência dos juros compensatórios?
R: A base de incidência dos juros compensatórios variou conforme o tempo. 1º) O STJ editou a súmula nº 113, a qual dispõe que os juros compensatórios são calculados sobre o valor da indenização, monetariamente corrigido. 2º) O art. 15-A, caput, do Decreto-Lei nº 3.365/41, criado pela MP 1.577/97, preceitua que os juros compensatórios incidem sobre a diferença entre a valor fixado pelo juiz e o preço depositado pelo ente expropriante para a imissão provisória na posse. 3º) O STF, no julgamento da ADI 2.332/DF-MC, suspendeu a incidência dos juros compensatórios como estava disposto no art. 15-A do Decreto-Lei nº 3.365/41.
De acordo com a Suprema Corte, os 20% do preço depositado para imissão provisória na posse que não podem ser levantados pelo particular deve compor a base para incidência dos juros compensatórios.
Em suma, atualmente, a base de incidência dos juros compensatórios é a diferença entre o valor judicial e o preço depositado para imissão provisória na posse, mais os 20% que não foram levantados pelo particular.
P: É possível a cumulação dos juros compensatórios e moratórios na ação de desapropriação?
R: Segundo as Súmulas 12 e 102 do STJ, é possível a cumulação dos juros compensatórios e moratórios, sem que isso configure anatocismo. Entretanto, com as alterações legislativas e jurisprudenciais, as súmulas estão superadas, embora não tenham sido canceladas.
A Emenda à Constituição nº 62/09, ao acrescentar o art. 100, § 12, da Constituição, estabeleceu que os juros compensatórios somente incidem até a expedição do precatório, sendo este, portanto, seu termo final. E o termo inicial dos juros moratórios é o 1º dia do exercício financeiro subsequente àquele que deveria ter sido feito o pagamento do precatório. Então não há mais a coincidência temporal dos juros compensatórios e moratórios. Nesse sentido, o Recurso Especial Repetitivo nº 1118103/SP.
P: É possível a complementação dos juros compensatórios e moratórios?
R: Consoante a jurisprudência do STJ, não é possível a cumulação de juros compensatórios com lucros cessantes, sob pena de bis in idem, já que ambos os consectários se destinam a repor os prejuízos pela impossibilidade de exploração do bem pelo particular (Resp 866685/MG e 1094950/MG).
Já a súmula 416 do STF dispõe que a demora no pagamento do preço da desapropriação não gera indenização complementar além dos juros moratórios.
P: É possível a incidência de juros compensatórios na desapropriação de imóvel improdutivo?
R: As Medidas Provisórias nº 1.901-30/99 e 2.027-38/00 acrescentaram, respectivamente, os §§ 1º e 2º ao art. 15-A do Decreto-Lei nº 3.365/41, os quais estabeleciam que os juros compensatórios somente incidiam se houvesse perda real de renda do expropriado e se os graus de aproveitamento da terra e de eficiência na exploração não fossem zero. Entretanto, o STF suspendeu a eficácia desses dois dispositivos no julgamento da ADI 2.332/DF-MC, por entender que a simples improdutividade do imóvel não afasta a incidência dos juros compensatórios, pois o proprietário poderia explorá-lo, mas a imissão provisória tolheu-o dessa faculdade. E assim é a remansosa jurisprudência do STJ.
No julgamento Recurso Especial Repetitivo nº 1.116.364/PI definiu-se que quanto a essa matéria se aplica o princípio tempus regit actum. Em consequência, são devidos os juros compensatórios até o advento das medidas provisórios, quando cessam, e são retomados após a publicação do acórdão da ADI 2.332/DF-MC, semelhante à taxa dos juros compensatórios.
P: As limitações impostas pelos arts. 15-A, 15-B e 27 do Decreto-Lei nº 3.365/41 podem alcançar os valores fixados por sentença transitada em julgado antes do seu advento?
R: Com efeito, os arts. 15-A, 15-B e 27 do Decreto-Lei nº 3.365/41, com a redação dada por diversas medidas provisórias, restringiram os juros moratórios e compensatórios e os honorários advocatícios nas ações de desapropriação. Entretanto, como ressaltado anteriormente, a ação de desapropriação tem duas sentença, uma que fixa o valor e outra que serve como título para transcrição. Desse modo, há processos em que o valor indenizatório fora fixado em sentença transitada em julgado, mas por falta de pagamento total, a desapropriação continua e sobreveio os referidos dispositivos limitativos. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1.066.787/CE, decidiu que não é possível a aplicação das limitações, pois o valor da indenização está fixada em sentença transitada em julgado, pois, caso contrário, haveria a violação à coisa julgada.
P: Há a necessidade de avaliação judicial prévia para deferimento da imissão provisória na posse?
R: O Superior Tribunal de Justiça inicialmente compreendia que a imissão provisória dependeria do depósito de valor estabelecido em avaliação judicial prévia. Entretanto, a Corte Superior passou a entender que em virtude da urgência da medida, não seria necessária avaliação prévia para se alcançar o preço a ser depositado (REsp 1.234.606/MG e 1.139.701/SP). Tal entendimento seguia firme até o julgamento Recurso Especial Repetitivo nº 1.185.583/SP, em que o Tribunal adotou um terceiro posicionamento, que pode ser assim sumariado:
1) não é possível a imissão provisória com o depósito de preço aferido unilateralmente pelo ente expropriante;
2) os critérios para aferição do preço provisório são aqueles previstos no art. 15, § 1º, alíneas a, b e c do Decreto-Lei nº 3.365/41; (até agora nada novo, a novidade vem agora)
3) caso o preço não tenha se baseado nos critérios das alíneas a, b e c do art. 15, § 1º, do diploma legal, pode o magistrado fixar o preço provisório em avaliação judicial prévia.
O recurso representativo da controvérsia é confuso, valendo frisar que o Ministro Herman Benjamim deixou bem claro que, naquele caso, a desapropriação era de imóvel urbano, cuja imissão provisória na posse é regida pelo Decreto-Lei nº 1.075/70, e nesse diploma é possível a realização de avaliação prévia antes da imissão provisória.
O atual entendimento do STJ pode ser melhor compreendido no REsp 1.325.580/MG.
P: Qual é a base de cálculo dos honorários advocatícios na ação de desapropriação?
R: A condenação em honorários advocatícios somente são devidos na ação de desapropriação se o valor fixado judicialmente superar a oferta do ente desapropriantes, pois é sobre a diferença que deverá incidir os honorários, conforme as súmulas 617/STF e 141/STJ.
P: Qual é o percentual dos honorários advocatícios na ação de desapropriação?
R: De acordo com o § 1º do art. 27 do Decreto-Lei nº 3.365/41, na redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56/01, o percentual dos honorários do advogado será fixado entre 0,5% e 5%, observado o disposto no art. 20, § 4º, do CPC, limitado o valor em R$ 151.000,00. O STF, no julgamento da ADI 2.332/DF-MC (tem que ler pelo menos a ementa desse julgado, pois ele é essencial para aprender sobre desapropriação), suspendeu a vigência da limitação do valor em até R$ 151.000,00. No julgamento do Recurso Especial Repetitivo nº 1114407/SP, ficou estabelecido que o percentual dos honorários advocatícios é o previsto no art. 27, § 1º, do Decreto-Lei nº 3.365/41, ou seja, 0,5% a 5%.
OBSERVAÇÃO: Na desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, a Lei Complementar nº 76/93 estabelece que o percentual dos honorários advocatícios será até 20% (art. 19, § 1º). Entretanto, apesar dessa diferença, o STJ utiliza o entendimento do Resp Repetitivo nº 1.114.407/SP também para a reforma agrária (REsp 914.526/MG e 1.172.512/TO) e reduz para 5% os honorários advocatícios.
P: Quais as hipóteses de reexame necessário na ação de desapropriação?
R: O reexame necessário depende da espécia de desapropriação. Na desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, haverá reexame necessário da sentença quando o valor fixado pelo juiz superar em 50% o ofertado pelo INCRA (art. 13, § 1º, da Lei Complementar nº 76/93). Já nas demais desapropriações, a sentença estará submetida ao duplo grau obrigatório quando o ente expropriante for condenado em valor superior ao dobro do oferecido (art. 28, § 1º, do Decreto-Lei nº 3.365/41).
Ações possessórias. Antonio Carlos Guiraud Santos (acarlosguiraud@gmail.com)
P: Quais são as espécies de ações possessórias e qual a finalidade de cada uma delas?
R: Em primeiro lugar, é interessante esclarecer que as ações possessórias típicas tem por fim a proteção de uma situação fática, sendo dirigidas à proteção de bens corpóreos, ficando excluída de sua proteção os bens incorpóreos (Súmula 228 do STJ). As ações possessórias típicas são a ação de reintegração de posse, manutenção de posse e o interdito
proibitório. A ação de reintegração pode ser classificada como executiva lato sensu, e tem por fim devolver a posse ao àquele que sofreu esbulho, o que pode ser entendido como perda das faculdades inerentes à propriedade (art. 1196 do CC). A ação de manutenção de posse tem natureza eminentemente mandamental é utilizada para garantir a permanência na posse na hipótese de ameaça concreta à posse (turbação). Por sua vez, o interdito proibitório, que também possui caráter mandamental, e se presta a evitar que o possuidor, direto ou indireto, seja turbado ou esbulhado mediante a cominação de penalidade pecuniária.
P: Vigora o princípio da fungibilidade entre as ações possessórias?
R: Sim. A possibilidade da alteração da situação fática fez com que fosse agasalhado no art. 920 do CPC o princípio da fungibilidade, que permite que ainda que proposta uma determinada ação possessória em detrimento da outra, o juiz pode conhecer daquela cujos requisitos estejam comprovados.
P: Em ação possessória pode-se alegar a propriedade para justificar a posse?
R: Nosso sistema jurídico veda a alegação de domínio em demandas possessórias. Ou seja, veda-se a exceptio domini, realizando-se nítida separação entre o juízo possessório e o petitório. Interessante ressaltar que a súmula 487 do STF abre uma exceção a essa regra quando estabelece que “será deferida a posse a quem evidentemente tiver o domínio, se com base nela for disputada”, ou seja, permite-se o julgamento da ação possessória em favor daquele que tiver o domínio, quando a posse for disputada por dois contendores com base em título dominial.
P: É possível a concessão de liminar em ação possessória? E contra o poder público?
R: O CPC permite a concessão de tutela de urgência no campo possessório. Intentada a ação antes de ano e dia da turbação ou do esbulho (posse nova)será deferia a manutenção ou reintegração de posse nos termos do art. 928, com a concessão da liminar sem a oitiva da parte contrária ou após audiência de justificação. É possível a concessão de liminar possessória em face do poder público, entretanto a lei estabelece que esta não será deferida sem prévia audiência dos representantes judiciais. Interessante pontuar que, tratando-se de ação de posse velha (mais de ano e dia), o procedimento a ser seguido será o ordinário.
 
P: É possível o pedido contraposto em ação possessória?
R: Sim. O CPC estabelece que é lícito ao réu, na própria contestação, alegando que foi ofendido em sua posse, realizar pedido contraposto, pleiteando tanto a proteção possessória como a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
Embargos de Terceiro. Gabriela Bogoewich (gabriela.bogoewich@gmail.com)
P: Qual é a natureza jurídica dos embargos de terceiro?
R: Os embargos de terceiro possuem natureza jurídica de ação de conhecimento de rito sumário. Esta ação tem por finalidade desconstituir a constrição judicial realizada sobre um bem do qual o terceiro seja senhor e possuidor ou apenas possuidor.
 
P: Os embargos de terceiro podem ser utilizados preventivamente, ou seja, antes da constrição judicial sobre o bem?
R: Sim, conforme o entendimento do STJ no REsp 1.019.314/RS, é possível o ajuizamento dos embargos de terceiro para evitar a realização da constrição.
 
P: Qual a diferença entre a ação possessória e os embargos de terceiro?
R: Os embargos de terceiro são utilizados nos casos em que o esbulho é decorrente de uma ordem judicial, cumprida pelo oficial de justiça. Já a ação possessória é utilizada nos casos em que há uma agressão à posse (esbulho ou turbação), praticada por particulares ou pelo próprio Estado, sem nenhuma ordem judicial que a justifique.
 
P: Qual juízo será competente para a análise dos embargos de terceiro? E no caso de a constrição do bem ter sido realizada por carta precatória?
R: Será competente o juízo que determinou a constrição sobre o bem. No caso de delegação de competência do juízo federal para o juízo estadual (art. 109, §3º, CF), este será competente também para as ações conexas, como é o caso dos embargos de terceiro.
No caso de carta precatória, em regra, a competência será do juízo deprecado que realizou a constrição, salvo se este agiu em estrito cumprimento das determinações do juízo deprecante (Súmula 33 TFR).
 
P: Quem é o legitimado para os embargos de terceiro em demandas tributárias? O assistente simples e o substituto processual podem manejar os embargos?
R: O legitimado é o terceiro, ou seja, aquele que não possui relação jurídica com o sujeito ativo da relação tributária. O terceiro é a pessoa que não está indicada, nem sujeita ao título executivo, no caso, a CDA.
Sim, o assistente simples e o substituto processual participam do processo na defesa de direito alheio, por este motivo, não há óbice para o manejo dos embargos em questão.
Há ainda os legitimados excepcionais: cônjuge (defesa da meação), sócio cotista (quando não tiver poderes de gerência sobre a sociedade) e o credor com garantia real – hipotecário, pignoratício ou anticrético (proteger seu direito de preferência sobre o bem).
 
P: Há legitimidade do cônjuge para os embargos?
R: Depende. O cônjuge só pode manejar embargos de terceiros, caso não esteja mencionado no título executivo (Súmula 134 STJ). Além disso, deve comprovar que a dívida não foi contraída em benefício da entidade familiar, caso contrário, seus bens poderão responder pela obrigação, pois há presunção da comunicabilidade da dívida contraída por um dos cônjuges.
No caso de penhora on-line sobre os ativos financeiros do casal, a PFN e o STJ defendem que há solidariedade, passando o patrimônio a responder integralmente.
 
P: Os embargos de terceiro poderão ser ajuizados por um possuidor promitente-comprador, titular de compromisso de compra e venda sem registro? E o locatário pode ajuizar esta ação?
R: Sim, pois o promitente-comprador tem a posse do bem com animus domini, havendo, portanto, legitimidade para os embargos em questão, ainda que o compromisso de compra e venda não seja registrado (Súmula 84 STJ).
O locatário não pode se utilizar dos embargos de terceiro, pois não exerce a posse do bem com animus domini.
 
P: Quem são os legitimados passivos nos embargos de terceiro?
R: O legitimado passivo, nos embargos, normalmente, é o exequente, aquele que realiza o pedido de constrição. Entretanto, caso a constrição sobre o bem tenha sido requerida pelo executado, este será também legitimado passivo, havendo litisconsórcio passivo necessário entre exequente e executado. Nesse caso, o executado responderá pelas verbas de sucumbência.
 
P: Qual é o prazo para a interposição dos embargos de terceiro? Qual é a natureza desse prazo?
R: Quando a apreensão do bem é determinada no bojo do processo de conhecimento ou cautelar, os embargos de terceiro poderão ser ajuizados até o trânsito em julgado da decisão. Já no caso de processo de execução, o prazo será de até 5 dias, a contar da arrematação ou adjudicação, conforme o art. 1.048 CPC.
A legitimidade para os embargos surge a partir da turbação da posse.
Conforme doutrina majoritária, trata-se de prazo decadencial. Ultrapassado este prazo, o terceiro apenas poderá desconstituir a constrição sobre o bem através de ação anulatória.
 
P: É cabível o deferimento de medida liminar em embargos de terceiro? Qual é o efeito da propositura dos embargos de terceiro?
R: Sim. É possível o deferimento de liminar que terá por efeito imediato manter ou restituir o bem imediatamente ao terceiro embargante – art. 1.051 CPC. Os pressupostos para o deferimento dessa liminar são: a prova suficiente da posse e a prestação de caução pelo embargante.
Haverá a suspensão do processo principal, apenas com relação ao bem objeto dos embargos. A doutrina critica tal previsão, pois nem os embargos do devedor possuem o efeito suspensivo automático, ope legis.
 
P: Qual é o prazo para a resposta do réu? Aplica-se o art. 188 CPC para os casos em que a Fazenda Pública for ré nos embargos?
R: O prazo para a resposta do réu é de 10 dias, sendo
ré a Fazenda Pública, o prazo será de 40 dias, por aplicação do art. 188 CPC.
Caso a Fazenda queira opor os embargos de terceiro, o prazo será de até 10 dias após a adjudicação ou arrematação do bem, também por aplicação do art. 188 CPC.
P: É possível a alegação de fraude contra credores na resposta dos embargos de terceiro?
R: A fraude contra credores constitui motivo de anulação do negócio jurídico. Para sua configuração, devem ser demonstrados que a alienação ou oneração do bem foi praticado em conluio entre alienante e adquirente com o intuito de fraudar credores (concilium fraudis) e que provocou a insolvência do devedor (eventus damni). Este vício do negócio jurídico apenas pode ser declarado através da ação pauliana, não podendo, portanto, ser objeto de alegação na defesa dos embargos de terceiro.
Já a fraude à execução pode ser alegada nos embargos, uma vez que não é causa de anulação do negócio jurídico, mas apenas de ineficácia, e não necessita de ação autônoma para sua alegação. A fraude à execução configura-se quando a alienação ou oneração do bem ocorre após o início da ação executiva ou, no caso tributário, após a inscrição do crédito em dívida ativa.
 
P: Qual é a natureza da sentença dos embargos de terceiro?
R: Há divergência quanto ao tema. Para aqueles que adotam a classificação ternária, a sentença dos embargos possui natureza constitutiva negativa. Contudo, para aqueles que adotam a classificação quinária, tal sentença tem natureza mandamental.
Ação cível originária nos tribunais. Raissa (raissaqrios@gmail.com)
P: Qual o conceito de ação cível originária?
R: É a ação usada para garantir um direito ou o cumprimento de uma obrigação cível que se inicia nos tribunais e não nos juízos de primeiro grau.
P: A competência exercida pelos Tribunais no julgamento da ação cível originária é derivada ou originária? Por quê?
R: A competência é originária, pois eles conhecem e julgam a causa antes de qualquer outro ter se pronunciado sobre ela.
P: Qual a natureza da competência que determina o processamento da ação originariamente  nos Tribunais?
R: Para a maior parte da doutrina, a natureza dessa competência é funcional. Dinamarco, entretanto, ensina que constitui equívoco enquadrar na competência funcional toda a competência originária dos tribunais. Assevera que a competência originária dos tribunais tem natureza funcional em alguns casos, mas em outros a competência é determinada em razão da pessoa ou da matéria objeto do litígio e não por qualquer laço de interligação entre os processos. Independente dessa discussão, será sempre absoluta.
P: Caso haja o indeferimento da inicial da ação cível originária, qual o recurso cabível?
R: Se for por decisão de relator, caberá agravo regimental. Se for por acórdão, poderá caber recurso ordinário, recurso especial ou recurso extraordinário.
P: As hipóteses de ação cível originária são dispostas em qual diploma normativo?
R: Na Constituição Federal e nas Constituições Estaduais.
P: Quem detém a competência para processar a execução das sentenças proferidas em sede de ação cível originária?
R: O próprio tribunal, nos termos do art. 575, inciso I, do CPC.
Tutela antecipada e tutela específica. (priscila_martinho@yahoo.com.br)
P: Existe diferença entre liminar e antecipação de tutela?
R: Sim. As liminares são assim como as antecipações de tutela espécie de tutela de urgência, entretanto, enquanto as liminares são tutelas de urgência satisfativas específica, que só podem ser aplicadas em procedimentos específicos (Ex: mandado de segurança, ações possessórias, ações coletivas,..), a tutela antecipatória é uma tutela de urgência satisfativa genérica, ou seja, pode ser aplicada em todos os procedimentos. Assim por exemplo, nas ações possessórias, onde se cabe liminar se a posse for nova, ou seja, se a agressão à posse tiver ocorrido há menos de um ano e dia, ultrapassado esse tempo, não caberá mais liminar, mas caberá a antecipação de tutela, que é genérica.
P: Quais são as diferenças entre tutela antecipada e tutela cautelar?
R: Quanto à natureza jurídica enquanto a tutela cautelar é uma tutela que garante a eficácia do resultado final, a tutela antecipatória satisfaz faticamente o direito, ou seja, enquanto a tutela cautelar garante, a tutela antecipada satisfaz. Ressalte-se que, conforme Pontes de Miranda, garantia e satisfação se encontra nas duas tutelas de urgência, visto que a tutela cautelar garante para satisfazer, enquanto a antecipação de tutela, satisfaz para garantir. Com efeito, ambas geram uma mudança fática, porém se essa alteração for igual a que seria obtida com a tutela definitiva, se tem uma tutela antecipada. É um adiantamento de efeitos práticos da sentença de mérito. Precipita no tempo os efeitos práticos da sentença de mérito. É uma tutela satisfativa – ela satisfaz o direito (é o que diferencia da tutela cautelar, que é conservativa).
As duas tutelas são fungíveis.
 
P: Existem cautelares satisfativas?
R: Sim. Por razões distintas: pela tradição, visto que até 1994 não existia tutela antecipada, então se pedia cautelar satisfativa, ex. processo de sustação de protesto tem uma nítida natureza antecipada; previsão na lei, existem cautelares satisfativas que tem previsão em lei, como a cautelar de alimentos provisionais, a busca e apreensão, …
P: Quais os requisitos para a concessão da tutela antecipada? Existe alguma diferença com os previstos para a concessão da tutela cautelar?
R: Os requisitos são prova inequívoca da verossimilhança da legação e fundado receio de dano irreparável. Sim existem diferenças com os requisitos previstos para a tutela cautelar. Enquanto na antecipação de tutela se exige a prova inequívoca da alegação, na tutela cautelar se exige o fumus boni iuris, embora ambos estejam no âmbito do juízo de probabilidade, para o STJ a prova inequívoca estaria mais perto da certeza do que no fumus boni iuris, ou seja, para o juiz conceder uma tutela antecipada ele teria que estar mais convencido da probabilidade da existência do direito, onde o verossímel diz respeito à alegação, o inequívoco é a prova, diz respeito a uma prova formalmente confiável, que corrobora a alegação verossímel. Enquanto que o fumus boni iuris é uma alegação que parece ser verdadeira, em razão das máximas da experiência, é o que costuma acontecer. O periculum in mora é sinônimo do fundado receio de lesão antecipada da tutela antecipada, é o tempo como inimigo, ou seja, o tempo necessário para a concessão de uma tutela definitiva funciona como um inimigo dessa tutela.
P: A tutela antecipada pode ser concedida de ofício? E a tutela cautelar?
R: Não. Para a doutrina majoritária, a tutela antecipada não pode ser concedida de ofício, pois conforme expressa previsão do art.273, caput, do CPC, é a requerimento da parte. Já na tutela cautelar trabalha-se com o chamado “poder geral de cautela” (art.797 do CPC). Em regra, a tutela cautelar depende de requerimento da parte, só que em casos excepcionais a tutela cautelar poderá ser concedida de ofício. Está relacionada à espécie do bem da vida tutelado. Ressalte-se que, o poder geral de cautela não excepciona o princípio da inércia da demanda. O juiz nunca vai poder começar um processo cautelar para conceder uma tutela cautela, precisa ter um processo em trâmite.
P: A tutela antecipada tem autonomia? E a cautelar?
R: A tutela antecipada nunca terá autonomia, pois é sempre uma tutela incidental, no processo em trâmite. Já a tutela cautelar tem um processo autônomo, um processo que só existe para a concessão da tutela cautelar.
P: Quais são as semelhanças entre a tutela antecipatória e a cautelar?
R: Ambas são caracterizadas pela provisoriedade, são criadas para existir durante um período de tempo, deixam de existir pois são substituídas pela tutela definitiva; ambas são concedidas com base em cognição sumária, em um juízo de probabilidade, o qual se contrapõe a cognição exauriente, que gera um juízo de certeza, nas duas há a inexistência de satisfação jurídica, pois a satisfação jurídica
é uma satisfação definitiva, para ser definitiva a decisão que a concede tem que ser imutável e indiscutível, o que só haverá com a coisa julgada material, a qual se associa, comumente à decisão de mérito transitado em julgado, que pressupõe um juízo de cognição exauriente.
P: Existe responsabilidade atribuída ao beneficiário da tutela de urgência em caso de revogação desta? Qual?
R: Sim. A tutela de urgência funciona segundo o princípio do risco-proveito. A tutela definitiva pode revogar a tutela de urgência, e nesse caso, o beneficiado por ela responde objetivamente pelo ressarcimento dos danos da parte contrária, prescinde da culpa.
P: Existe tutela antecipada que não seja tutela de urgência?
R: Sim. São as chamadas tutelas de evidência, previstas no art.273, caput, II do CPC, é uma espécie de sanção processual, concedida diante do manifesto propósito protelatório e abuso da defesa. Nesse caso o réu atua para atrasar o processo, então, como forma de punir o réu, se antecipa os efeitos da tutela. Outra hipótese é quando há parcela incontroversa do pedido (art.273, § 6 do CPC).
P: Quem é a parte legítima para requerer antecipação de tutela?
R: O autor, bem como o réu quando estiver numa posição ativa de contra-ataque, como por exemplo, na reconvenção, quando realizar pedido contraposto e nas ações dúplices.
P: O réu pode pedir antecipação de tutela na contestação?
R: Sim. O réu em qualquer fase de atuação tem legitimidade para pedir tutela antecipada.
P: Em qual hipótese a antecipação de tutela não poderá ser concedida?
R: Caso gere uma situação irreversível. Essa irreversibilidade é uma irreversibilidade fática e não jurídica. Juridicamente é sempre reversível, pois pode sempre ser revogada pela tutela definitiva. Ressalte-se que, a conversão em perdas e danos não torna a tutela antecipada reversível até porque essa conversão pode ocorrer em toda e qualquer situação.
P: O que é irreversibilidade recíproca?
R: São situações nas quais conceder uma tutela antecipada vai gerar uma irreversibilidade fática, porém, não conceder vai gerar um sacrifício irreversível ao autor. Nesse caso, o juiz vai aplicar a teoria do mal menor, juízo de proporcionalidade, qual delas gera o mal menor.
P: Em que momento pode ser concedida a tutela antecipada?
R: A qualquer momento, da propositura ao trânsito em julgado. O STJ pacificou o entendimento de que a tutela antecipada é passível de concessão na sentença.
P: O que são tutelas específicas?
R: São tutelas previstas nos artigos 461 e 461-A do CPC, concedidas quando se requer o cumprimento de uma obrigação de fazer ou não fazer, e nas obrigações de entrega de coisa.Nesse casos, o juiz vai tentar, primeiramente, obter a tutela específica. Se não for possível, o juiz converterá em resultado prático equivalente; se também não for possível, converterá em perdas e danos. Inicia-se como mandamental; não conseguindo obtê-la, converterá em condenatória. Para obter a tutela específica ou o resultado prático equivalente, o juiz pode, de ofício, tomar diversas medidas, tais como: busca e apreensão, desfazimento de obras, remoção de pessoas ou coisas, aplicação de multa periódica (astreinte), pode determinar o uso de força policial etc. Quanto à entrega de coisa, aplica-se tudo o que foi dito, porém, o juiz dá um prazo para o cumprimento da obrigação e, se isto não ocorrer, determina a expedição de mandado de busca e apreensão (para bem móvel) ou de imissão na posse (para bem imóvel).
 	
 
Medidas Cautelares. Silvia Pousas Navarro (silvinhapousas@gmail.com)
P: Quais são as características da tutela cautelar?
R: 1) Sumariedade: A sumariedade procedimental é indispensável porque o procedimento ordinário não se compatibiliza com a urgência típica da tutela cautelar. A tutela cautelar é concedida mediante cognição sumária, diante da mera probabilidade de o direito material existir. Trata-se da exigência do fumus boni iuris, que para parcela da doutrina significa que o juiz deve conceder tutela cautelar fundado em juízo simples de verossimilhança ou de probabilidade, não se exigindo um juízo de certeza, típico da tutela definitiva. A cognição sumária tanto pode ser consequência de um contraditório postergado, hipótese na qual o juiz decidirá tendo conhecimento somente da versão apresentada pelo demandante, como de um conhecimento superficial diante do contraditório tradicional.
2) Provisoriedade: As medidas cautelares podem ser, a qualquer tempo, revogadas ou modificadas (art. 807, CPC). A tutela cautelar sobrevive enquanto as condições para sua concessão não forem modificadas e a situação de perigo continuar a exigir sua existência. Ser provisória significa que a tutela cautelar tem abstratamente um tempo de duração predeterminado, não sendo projetada para durar para sempre. Apesar de ser provisória, a tutela cautelar não é temporária. Temporário também tem um tempo de duração predeterminado, não durando eternamente, mas ao contrário da tutela provisória, não é substituída pela tutela definitiva.
3) Instrumentalidade: O processo cautelar é um instrumento processual para que o resultado de um outro processo seja útil e eficaz. Por isso, a tutela cautelar merece a alcunha de “instrumento do instrumento” ou de “instrumento ao quadrado”. O processo cautelar é um instrumento para o processo principal - que também é um instrumento – no qual a parte obterá o bem da vida pretendido. Essa característica refere-se à função de proteger o resultado final do processo principal, seja esse de conhecimento, seja de execução. Essa instrumentalidade é hipotética, pois é impossível prever se uma tutela cautelar será, efetivamente, apta a garantir um resultado eficaz do processo final.
4) Revogabilidade: A revogabilidade da medida cautelar vem expressa no art. 807, CPC, que determina o caráter provisório da medida e não faz qualquer distinção quanto ao momento da concessão da proteção cautelar (liminar ou sentença).
P: Qual é o juízo competente para o processo cautelar?
R: Será competente para julgar a ação cautelar o juízo competente para julgar a ação principal, independentemente desta já existir ou estar por vir. Uma das críticas que se pode fazer a essa regra esta relacionada ao princípio da eficiência da medida cautelar, pelo qual seria mais interessante à própria efetividade buscada pelo sistema processual que a cautelar pudesse ser proposta em foro diverso do competente para conhecer do futuro e eventual processo principal sempre que isso se mostrasse mais propício para a fácil e rápida realização da tutela cautelar. Tratando-se especificamente das cautelares constritivas de coisas e pessoas, há parcela da doutrina que defende a possibilidade de ingresso da ação cautelar no foro onde se encontrem essas coisas ou pessoas. Da mesma forma, a competência da cautelar de produção antecipada de provas será a do lugar onde deverá ser a mesma efetivamente produzida, o que facilita e otimiza sua produção, evitando-se a desnecessária utilização de cartas precatórias. A cautelar antecedente previne a competência do juízo para a ação principal, assim como o processo principal previne o juízo para conhecer todas as futuras e eventuais cautelares incidentais. Trata-se de competência funcional (absoluta). Entretanto, de acordo com o STJ, não haverá essa prevenção nas cautelares de produção antecipada de provas, salvo em situações excepcionais, levadas em conta as particularidades do caso concreto. Súmula 263/TFR.
Em caso de cautelares incidentais após ter sido interposto recurso, a competência será do tribunal. Tal regra tem duas exceções, que determinam a competência do juízo de primeiro grau, independentemente do processo principal já se encontrar em fase recursal: pedido de alimentos provisionais (art. 853, CPC) e o atentado (art. 880, p.u., CPC). 
P: Quais são os requisitos para a obtenção da tutela cautelar e qual a natureza desses requisitos?
R: os requisitos são: fumus boni iuris (é o convencimento parcial do juiz – fundado em um juízo de mera probabilidade em razão da cognição sumária)
e periculum in mora (situação de urgência derivada do perigo que o tempo necessário para a concessão da tutela definitiva no caso concreto representa para a efetividade da proteção jurisdicional). A doutrina majoritária entende que tais requisitos formam o mérito cautelar. Caso estejam ausentes, geram a improcedência do pedido. Há uma doutrina minoritária que entende serem condições da ação, ligadas ao interesse processual e, caso ausentes, levaria a extinção do processo sem mérito.
P: Qual é o prazo para a citação do requerido? E se o requerido for a Fazenda Pública?
R: O requerido será citado no prazo de cinco dias para contestar o pedido, indicando as provas que pretende produzir. A esse prazo aplicam-se as regras de prazo diferenciado, sendo contado em quádruplo quando o requerido for a Fazenda Pública, o Ministério Público e em dobro quando existir litisconsórcio passivo com pluralidade de patronos.
P: São cabíveis intervenções de terceiros no processo cautelar?
R: Não. Também não cabem reconvenção nem ação declaratória incidental.
P: Qual o entendimento do STJ em relação à tutela cautelar em Ação de Improbidade Administrativa?
R: O STJ vem admitindo a concessão de tutela cautelar em sede liminar para a decretação de indisponibilidade (art.7º da lei 8.429/92) e de sequestro de bens, inclusive o bloqueio de ativos do agente público ou de terceiro beneficiado pelo ato de improbidade (art. 16 da lei 8.429/92), considerando tratar-se de medida assecuratória do resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja a reparação do dano ao erário ou a restituição de bens e valores havidos ilicitamente por ato de improbidade.
P: De acordo com o STJ, há coisa julgada material no processo cautelar?
R: Não. Registre-se, no entanto, que, na hipótese do art. 810 do CPC, ou seja, na sentença que reconhece a prescrição ou decadência na própria cautelar e julga extinto o processo com esse fundamento, a sentença será de mérito e produzirá coisa julgada material.
P: O que é poder geral de cautela?
R: Poder geral de cautela significa o generalizado poder estatal de evitar no caso concreto que o tempo necessário para a concessão da tutela definitiva gere a ineficácia dessa tutela. As cautelares nominadas/típicas não são arroladas de forma exauriente. Dessa forma, o STJ vem entendendo pela admissão das chamadas “cautelares inominadas/atípicas”, que são aquelas não previstas de forma específica no CPC, como decorrência do poder geral de cautela do juiz. O poder jurisdicional cautelar é amplo, genérico e irrestrito, não se admitindo que, diante do preenchimento do fumus boni iuris e do periculum in mora no caso concreto e ausente a situação específica em previsão legal, se deixe de prestar a tutela jurisdicional. Sob uma outra ótica, poder geral de cautela pode significar a possibilidade de o juiz, no caso concreto, conceder uma medida cautelar de ofício.
P: Qual é o prazo de eficácia da medida cautelar, quando obtida em sede de processo antecedente?
R: Prevê o art. 806 do CPC um prazo de 30 dias para o ingresso da ação principal, contados da efetivação da medida cautelar. Registre-se que, em respeito ao princípio do contraditório, o prazo só terá início após a intimação da parte de que a medida cautelar foi devidamente cumprida. Já decidiu o STJ que, sendo diversos os réus, o prazo para propositura da ação principal somente tem início para aqueles que sofreram constrição judicial em seus bens. Ver recente súmula 482 do STJ. Há controvérsia a respeito da natureza jurídica desse prazo. Há decisão do STJ no sentido de tratar-se de prazo decadencial. No caso de a medida cautelar não gerar prejuízo ao requerido em termos de constrição de bens ou de restrição de direitos, não se justifica a aplicação dessa regra geral, como ocorre nas cautelares meramente conservativas (protestos, interpelações e notificações) e nas cautelares probatórias.
P: Quais são as causas de cessação de eficácia da tutela cautelar?
R: 1) Não propositura da ação principal em 30 dias. O STJ entende ser hipótese de extinção do processo cautelar sem resolução do mérito.
2) Ausência de execução da tutela cautelar no prazo de 30 dias. A cessação, nesse caso, é da decisão que concedeu a tutela cautelar.
3) Extinção do processo principal, com ou sem resolução do mérito.
P: O art. 811 do CPC prevê qual tipo de responsabilidade?
R: Responsabilidade objetiva.
P: O que arresto?
R: O arresto é uma espécie de ação cautelar que busca garantir a efetividade da futura execução de pagar quantia certa, consistindo na apreensão de bens indeterminados do patrimônio do devedor, de forma que, no momento adequado, possa ser realizada a penhora de tais bens. Qualquer bem penhorável, móvel ou imóvel, do patrimônio do devedor pode ser objeto de arresto. Com a realização do arresto, o requerido perde o poder de livre disponibilidade sobre a coisa. Quando o bem permanece em poder do requerido, este passa a ser o depositário de tal bem. Neste caso, a eventual alienação do bem arrestado é ineficaz em relação ao credor, configurando espécie de fraude à execução.
P: Qual a crítica que se pode fazer ao art. 818 do CPC?
R: O arresto não se resolve em penhora quando julgada procedente a ação principal, como determina o referido dispositivo, mas somente no momento adequado dentro do procedimento executivo ocorre a incidência da penhora sobre o bem que estava arrestado.
P: Qual a diferença entre o arresto executivo (art.653, CPC) e o arresto cautelar?
R: 1) Requisitos à concessão são diferentes: no arresto cautelar devem-se verificar o fumus boni iuris e o periculum in mora, e no arresto executivo, a frustração na citação do executado e a localização de seu patrimônio.
2) O arresto executivo é realizado de ofício pelo oficial de justiça, enquanto o arresto cautelar depende de decisão judicial.
3) O arresto executivo outorga ao credor o direito de preferência, que não ocorre no arresto cautelar.
P: O que é sequestro?
R: Sequestro é a medida cautelar que tem como objetivo assegurar a eficácia de futura execução para entrega de coisa, consistindo na busca e apreensão de determinado bem ou bens do patrimônio do requerido. Essa apreensão patrimonial evita a ocorrência de desvios, depreciação ou deterioração do bem, de forma que este seja entregue em bom estado de conservação a quem, finalmente, demonstrar ter o direito material para recebê-lo. O direito brasileiro limita o objeto da cautelar de sequestro às coisas (móveis, imóveis e semoventes). Cabe ao requerente da medida cautelar já na petição inicial a indicação expressa e precisa sobre quais bens deve recair a constrição judicial.
P: Qual é a diferença entre arresto e sequestro?
R:
	Arresto
	Sequestro
	Garante a eficácia de futura execução de pagar quantia certa
	Garante a eficácia de futura execução de entregar coisa
	Bens indeterminados
	Bens determinados
	Não existe dúvida a respeito de quem seja o dono da coisa constrita
	A coisa objeto de constrição é litigiosa
 
	O bem arrestado passa a ser objeto de penhora
	O bem sequestrado passa a ser objeto de depósito
 
P: É possível a substituição do sequestro pela prestação de uma caução?
R: O STJ admite a substituição da cautela por caução, desde que a cautela seja fungível e não haja prejuízo ao autor.
P: O que é caução?
R: Existem diferentes espécies de caução, e, para ter natureza cautelar, a caução deve se prestar a garantir a eficácia do resultado de um processo. Sempre que a caução garantir um direito substancial, como ocorre na caução prestada como garantia do pagamento de uma dívida, não há natureza cautelar; e sempre que garantir a efetividade de um processo, adquire a natureza cautelar.
P: Como são classificadas as cauções?
R: Quanto à origem, as cauções são classificadas em legais, negociais e judiciais. As cauções legais têm sua origem na expressa previsão legal e podem ser cautelares ou não cautelares. São exemplos: caução prevista na execução provisória, nos embargos de terceiro, etc. A caução negocial é a garantia para que ocorra o fiel cumprimento de
Já os juizados especiais federais cíveis têm competência absoluta (em que pese o critério de fixação de sua competência ser o valor da causa), isto é, o procedimento do juizado especial federal cível é obrigatório quando configurada a situação do art. 3º, caput, da Lei 10.259/2001. O § 3º do referido art. 3º da Lei 10.259/2001 é incisivo o dispor: "no foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta". De se anotar, por último, que, assim como se dá no âmbito federal, a competência dos juizados especiais da Fazenda Pública é absoluta, nos exatos termos do § 4º do art. 2º da Lei 12.153/2009.
P: Discorra sobre os prazos de que dispõe a Fazenda Pública, na condição de ré, para apresentar resposta nos procedimentos ordinário, sumário e sumaríssimo.
R: Procedimento ordinário -> todos os tipos de resposta devem ser apresentados no prazo de 15 dias. A Fazenda Pública tem prazo em quádruplo para apresentar resposta (60 dias). Conforme adverte o notável Leonardo Carneiro, escorado nas lições do processualista mineiro Ernane Fidelis dos Santos, quando o art. 188 do CPC faz menção a "contestar", está referindo-se a "responder", de forma que a Fazenda Pública dispõe de prazo em quádruplo para contestar, para reconvir, para ofertar exceções de incompetência, de impedimento e de suspeição e, ainda, para ajuizar ação declaratória incidental. A exegese do art. 188 não pode ser a de sua literalidade, mas aquela que a adapte ao sistema do CPC, tendo em vista a sua finalidade, de modo que o verbo "contestar" deve ser entendido no sentido de oferecer resposta. Vale acrescentar que a Fazenda Pública desfruta da prerrogativa prevista no citado art. 188 do CPC não somente quando atua como parte, mas também quando em juízo como assistente de uma das partes ou, ainda, quando figura como terceiro. Em suma, o que importa, para a aplicação do aludido dispositivo, é que a Fazenda Pública apresente resposta ou recorra, seja na condição de parte, de interveniente, de terceiro ou de assistente.
Procedimento sumário -> nesse procedimento, o réu é citado para comparecer à audiência de conciliação, ocasião em que, frustrada a tentativa de acordo, poderá apresentar resposta (CPC, art. 277). Na verdade, não há prazo para apresentação de resposta no procedimento sumário; a apresentação da resposta se dá na própria audiência de conciliação, sendo inaplicável a regra do prazo quadruplicado do art. 188 do CPC. Importante salientar que, no art. 277 do CPC, há previsão de dois prazos: o primeiro indica o tempo recomendável em que deve ser realizada a audiência, ou seja, ao determinar a citação do réu, o juiz deverá já designar a audiência de conciliação, a se realizar no prazo de 30 dias; o segundo diz respeito ao período que deve mediar entre a citação do réu e a data da audiência, não podendo ser inferior a 10 dias. Sendo ré a Fazenda Pública, tais prazos são contados em dobro, isto é, a realização da audiência de conciliação deve se dar em, pelos menos, 60 dias do despacho que ordenou a citação e 20 dias da data da juntada aos autos do mandado de citação da Fazenda Pública, nos termos do próprio art. 277 do CPC. Portanto, no procedimento sumário, não incide o prazo em quádruplo previsto no art. 188 do CPC. Vale anotar, por derradeiro, que o art. 188 do CPC aplica-se normalmente ao procedimento sumário no que diz respeito ao prazo dobrado para recorrer.
Procedimento sumaríssimo -> a lei que regula os juizados especiais federais e a lei dos juizados especiais da Fazenda Pública contêm dispositivo idêntico no sentido de que não há prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para a audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de 30 dias (art. 9º da Lei 10.259/2001 e art. 7º da Lei 12.153/2009). O eminente processualista Leonardo Carneiro da Cunha, em sua clássica obra "A Fazenda Pública em Juízo", ensina que somente não se aplica o art. 188 do CPC quando há regra específica fixando prazo próprio, trazendo os exemplos da Lei de Ação Popular, que prevê o prazo de 20 dias para contestação (art. 7º, IV, Lei 4.717/1965) e a Lei dos Juizados Especiais Federais. Nas palavras do jurista, não se aplica o disposto no art. 188 do CPC no procedimento dos juizados especiais cíveis federais: ali os prazos para a Fazenda Publica são todos singelos, não havendo contagem em quádruplo nem em dobro. 
P: Fale sobre o cabimento das intervenções de terceiros nos procedimentos ordinário, sumário e sumaríssimo.
R: As intervenções de terceiros do CPC foram pensadas para o processo de conhecimento, mais especificamente para procedimento ordinário. Portanto, no procedimento ordinário, não há restrições, cabendo todas as intervenções de terceiros.
No procedimento sumário, só cabem a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada em contrato de seguro (CPC, art. 280). A assistência e o recurso de terceiro são espécies de intervenção de terceiros. Já a intervenção fundada em contrato de seguro não é espécie de intervenção de terceiro, mas um gênero. Destarte, a lei enumera duas espécies e um gênero da intervenção de terceiros. Oportuno destacar que 3 espécies de intervenção de terceiro cabem na intervenção fundada em contrato de seguro: a) denunciação da lide; b) chamamento ao processo nas causas de consumo (só é cabível em ações de consumo, a teor do art. 101, II, do CDC); c) art. 788, parágrafo único, do Código Civil - demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório (chamamento ao processo); em outras palavras, a vítima do dano demanda diretamente contra o segurador, que, para negar a indenização, alega, por exemplo, o inadimplemento do segurado, o segurador só poderá fazê-lo se chamar o segurado, inserindo-o no contraditório. É um exemplo de regra processual no Código Civil.
No procedimento sumaríssimo, ou seja, nos juizados especiais, não cabe nenhuma modalidade de intervenção de terceiros, por expressa vedação legal. Na dicção do art. 10 da Lei 9.099/1995, não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. Importante salientar que esse dispositivo também se aplica aos juizados especiais cíveis federais e aos juizados especiais da Fazenda Pública, porquanto as suas leis regulamentadoras determinam a aplicação subsidiária da Lei 9.099/1995.
P: Os procedimentos sumário e sumaríssimo admitem reconvenção? E pedido contraposto?
R: Não cabe reconvenção no procedimento sumário (vedação implícita - entendimento doutrinário e jurisprudencial) nem no procedimento sumaríssimo (vedação expressa da Lei 9.099/1995 - art. 31).
Já o pedido contraposto é admitido tanto no procedimento sumário quanto nos juizados especiais. Como sabido, pedido contraposto é uma demanda do réu contra o autor formulada no bojo da contestação, que se limita aos mesmos fatos da causa (não há ampliação objetiva da lide). No pedido contraposto, diferentemente da reconvenção, não podem ser deduzidos fatos novos, justamente para não comprometer a celeridade do processo, característica fundamental do procedimento sumário e dos juizados especiais.
P: Discorra sobre a indisponibilidade do procedimento.
R: Segundo ensina o processualista Cândido Rangel Dinamarco, a relação de adequação entre cada procedimento e a tutela jurisdicional que ele prepara é sobretudo um imperativo do princípio lógico do sistema processual que apregoa a seleção de meios eficazes à descoberta da verdade e das soluções corretas. É também - e por essa mesma razão - uma exigência de ordem pública, na medida em que o Estado não quer aventurar-se em procedimentos menos seguros e de duvidosos resultados práticos. Daí a construção de um sistema de procedimentos diferenciados entre si e destinado cada qual a uma situação prevista em lei. Trata-se
um contrato ou de qualquer outro negócio jurídico, sendo exemplos típicos a hipoteca, a fiança, o penhor e a anticrese. A caução judicial decorre da eficácia de alguma decisão ou sentença, como ocorre na caução prevista pelo art. 475-Q, §2º do CPC. Quanto à natureza do bem oferecido, caução pode ser real, tal como ocorre na hipoteca, no penhor e na anticrese, ou fidejussória, de natureza pessoal, como é na fiança e no seguro-garantia.
P: O que é “busca e apreensão”?
R: O termo busca e apreensão significa a procura e a apropriação judicial de uma coisa ou de uma pessoa. É um todo indivisível, resultante de dois elementos sucessivos: primeiro investiga-se com o objetivo de localizar a coisa ou pessoa e, ato contínuo, realiza-se a constrição judicial por meio do ato material de apreensão. Apesar das diferentes espécies de busca e apreensão, somente terá natureza cautelar a medida que tem como objetivo preservar a efetividade do resultado de um processo.
P: Quais são as espécies de busca e apreensão cautelar?
R: (i) Busca e apreensão incidental que tem como único objetivo realizar uma outra medida cautelar, como o arresto, o sequestro, o arrolamento e o depósito.
(ii) Busca e apreensão para restabelecer um ato de constrição judicial já realizado por meio de outra medida cautelar, como ocorre com a tentativa de desvio malicioso do bem já arrestado.
(iii) a busca e apreensão de pessoas e coisas que se desenvolve por meio de processo autônomo, seguindo o procedimento dos arts. 839 a 843 do CPC.
P: Qual são as diferenças entre a prova produzida por meio da exibição de coisa ou documento e a prova documental?
R: Exibir é colocar à vista, a fim de permitir que o documento ou a coisa seja conhecida em sua forma e em seu conteúdo. A exibição somente se justifica quando o sujeito processual que pretende fazer a prova não tem, em seu poder, o objeto da exibição, enquanto na prova documental ocorre exatamente o contrário: é imprescindível que o responsável pela produção tenha, em seu poder, o documento. Além disso, na exibição, a coisa ou o documento não permanecerá no processo até sua extinção, diferentemente do que ocorre na prova documental, que, uma vez produzida, será incorporada ao processo até seu término.
P: Em que condição a cautelar de exibição poderá ser concedida?
R: O perigo de que o documento ou a coisa não possa ser exibido futuramente, no momento adequado para tanto – fase instrutória do processo de conhecimento -, será determinante para que a exibição tenha natureza cautelar e possa ser tratada à luz dos arts. 844 e 845, CPC.
P: Cabe multa cominatória na ação de exibição de documentos?
R: Não. Súmula 372/STJ. Em caso de ausência de exibição do documento, o juiz deve conceder um prazo de cinco dias para que o demandado apresente a coisa ou o documento em juízo (art. 362, CPC). Se não o fizer, o juiz deverá determinar a busca e apreensão da coisa ou do documento. Não se aplica o art. 359, caput, do CPC.
P: Qual a crítica que se faz ao nome dado pelo legislador à cautelar de produção antecipada de provas?
R: A doutrina pátria critica tal denominação, pois considera que a prova não chega a ser produzida antecipadamente, somente assegura-se que essa produção seja realizada futuramente no momento oportuno. Entretanto, para Daniel Assumpção, não há inconsistência no nome, já que, na cautelar, a prova é efetivamente produzida, vindo a ser valorada somente em processo posterior.
P: Qual é a legitimidade ativa da cautelar de produção antecipada de provas?
R: Tanto o autor como o réu do processo principal poderá ingressar com esta cautelar. Ademais, permite-se que um terceiro também intente com esta ação, desde que demonstre seu interesse jurídico.
P: É possível a liminar na cautelar de produção antecipada de provas?
R: Sim, diante da demonstração de situação de excepcional urgência. A liminar nesta cautelar, que gerará a formação da prova sem a participação da parte contrária, é vista com bastante reserva, somente sendo concedida em última hipótese pelos juízes, até mesmo para evitar futuros questionamentos a respeito da eficácia da prova produzida.
P: É cabível reconvenção no processo cautelar?
R: Para a doutrina majoritária, não. Para Daniel Assumpção, é cabível um pedido de natureza reconvencional na própria contestação (pedido contraposto) de produção antecipada de provas.
P: Qual é a natureza da sentença proferida em um processo cautelar de produção antecipada de provas?
R: A sentença é meramente homologatória, não podendo o juiz se manifestar sobre a prova produzida ou sobre sua valoração. Esta sentença não está adstrita aos rigorismos formais do art. 458 do CPC.
P: Quais são os significados de “justificação”, no campo do direito processual?
R: a) Ato de tornar plausível um fato. Essa primeira hipótese diz respeito à justificação que se desenvolve dentro de um processo já instaurado, com o objetivo de produzir prova oral de um fato alegado pelo autor ou pelo réu. Desenvolve-se para a formação do convencimento do juiz a respeito da situação fática apta a embasar a concessão de liminar de uma tutela de urgência.
b) Processo autônomo que tenha como objeto a colheita de prova testemunhal.
P: O processo de justificação tem natureza cautelar?
R: A doutrina nacional parece ser uníssona no sentido de não atribuir ao processo de justificação qualquer natureza cautelar, apesar da opção do legislador em prevê-lo como uma das cautelares nominadas ou típicas. O requerente do processo de justificação terá direito à produção da prova testemunhal ainda que não exista, no caso concreto, periculum in mora e fumus boni iuris. Assim, não se aplica à justificação o procedimento cautelar. Aplica-se o princípio da fungibilidade entre a justificação e a demanda autônoma de prova testemunhal por meio de antecipação de prova. Ademais, o processo de justificação tem natureza de jurisdição voluntária.
P: Faça críticas ao art. 865 do CPC?
R: Dispõe o art. 865 do CPC que, no processo de justificação, não se admite defesa, o que, entretanto, não deve ser encarado como afastamento absoluto do contraditório, mas tão somente como uma flexibilização desse conceito, de modo a limitar a reação do interessado às questões que envolvam o direito à prova do autor e a regularidade formal do exercício deste. O art. 865 ainda proíbe a interposição de recursos às partes. Entretanto, novamente, a interpretação literal do dispositivo legal não é a mais adequada. Haverá certas situações em que o direito recursal das partes será inegável, basta, para tanto, que haja interesse recursal. A proibição trazida pelo dispositivo legal parece estar embasada no fato de que, no processo de justificação, não haverá valoração a respeito da prova produzida; não existindo, portanto, razões para as partes recorrerem. Entretanto, para Daniel Assumpção, a sentença da justificação é recorrível por apelação sempre que extinguir o processo sem a produção da prova, como na hipótese de indeferimento da petição inicial. Assim como, qualquer decisão interlocutória produzida durante o procedimento é recorrível por agravo de instrumento.
P: Para que servem os protestos, as notificações e as interpelações e quais são suas principais características?
R: Os protestos, as notificações e as interpelações se prestam à documentação de uma expressão de vontade. Tais processos não têm natureza cautelar. Assim, os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora não precisam estar presentes para a proteção jurisdicional pretendida pelo autor, não existindo também as indispensáveis características da instrumentalidade e acessoriedade. Nessa espécie de processo, o órgão jurisdicional atua tão somente como um intermediário entre o requerente e o requerido, prestando-se a levar a manifestação da vontade do primeiro ao conhecimento do segundo. Por isso, a doutrina aponta tais processos como pertencentes à jurisdição voluntária. Entretanto, para Daniel Assumpção, trata-se de espécie atípica de jurisdição voluntária, já que, nesses processos, nem sempre estará presente
de matéria de pura ordem pública, que não deve ficar à mercê da vontade das partes. Para resguardo da efetividade das escolhas do legislador e das razões de ordem pública que lhes dão suporte, o Código de Processo Civil dita a indisponibilidade do procedimento, determinando que o juiz retifique a escolha procedimental feita pelo autor, quando inadequada (art. 295, V). Entretanto, a própria lei adjetiva civil mitiga essa indisponibilidade e suas consequências, ao permitir a cumulação de dois ou mais pedidos que se processariam por ritos diversos (art. 292, § 2º). Vale ponderar, também com espeque na doutrina de Cândido Rangel Dinamarco, que com a escolha de procedimento não se confunde a escolha de processo. Escolher a espécie de processo mais conveniente implica sempre escolher a espécie de tutela jurisdicional que o demandante prefere - e por isso a escolha do processo é legítima projeção da liberdade de demandar e de pedir segundo a conveniência de cada um. Assim, ainda quando seja admissível uma tutela diferenciada, que a lei instituiu em prol da urgência do demandante, tem este a faculdade de optar pelas vias ordinárias (o processo comum regido pelo CPC) e com isso renunciar aos benefícios do processo especial. Por exemplo, o autor pode vir pelas vias ordinárias, quando presentes os requisitos para o mandado de segurança ou para o processo perante o juizado especial cível estadual, renunciando à tutela diferenciada, porque essa opção é, em substância, opção pela espécie de tutela que lhe parece mais conveniente (mas, quando ausentes os requisitos especiais, ele só dispõe das vias ordinárias, sem possibilidade de opção). Escolhido um processo inadequado, o autor carece de ação, por falta de legítimo interesse processual e o processo será extinto sem resolução de mérito; o juiz é proibido de fazer, ex officio, a conversão ao processo adequado, porque isso implicaria oferecer ao autor a possibilidade de uma tutela jurisdicional diferente da pedida. Mas converter o procedimento, repita-se, é um dever do juiz.
Competência: absoluta e relativa. Rodolfo Cursino (dolfobc@gmail.com)
 
P: Qual a natureza de uma sentença proferida por um juiz incompetente para aquela causa? O que acontece que os atos proferidos por um juízo que reconhece sua própria competência?
R: Entende a doutrina majoritária que todo juiz possui, ao menos, uma parcela de competência, que corresponderia àquela competência para reconhecer a sua incompetência no caso concreto. Neste sentido, esta corrente, da qual faz parte Fredie Didier Jr., entende que uma decisão proferida por juiz absolutamente incompetente é nula. Ressalta-se, no entanto, que parcela da doutrina, a exemplo de Ada Pelegrini, entende que o juiz, quando incompetente, não é um juiz, para aquela lide, não havendo que se falar em nulidade, pois não há sequer uma decisão. Esta corrente, no entanto, não é adotada pelo ordenamento brasileiro.
Em se tratando de competência absoluta, apenas os atos decisórios serão declarados nulos, podendo os demais atos ser aproveitados pelo juiz competente. No caso da incompetência relativa, por sua vez, os autos serão remetidos ao juízo competente, sem qualquer declaração de nulidade.
P: Qual o conceito de competência? O que se entende por Perpetuação da Jurisdição? É um princípio absoluto no Direito Processual Civil brasileiro?
R: Competência é uma parcela de poder atribuída a determinado ente, ou seja, é uma parcela da jurisdição investida a determinado juízo, conforme previsão legal em seu sentido amplo.
A competência para julgar determinada lide é definida quando da propositura da ação, que pode se dar na data da distribuição ou na do despacho inicial. Desta forma, uma vez proposta a ação, definido o juiz competente, cabe somente a este juízo conduzir e julgar o processo, sendo irrelevante eventuais modificação do estado de fato ou de direito ocorrido posteriormente, nos termos do artigo 87 do CPC.
No entanto, tal princípio não é absoluto, admitindo o ordenamento jurídico brasileiro a modificação da competência nos casos em que fora suprimido determinado órgão judiciário ou alterada a competência em razão da matéria ou hierarquia.
P: Quais as principais diferenças entre competência absoluta e relativa? É possível o reconhecimento de ofício de uma incompetência relativa? Pode a incompetência relativa ser arguida por outro modo que não em exceção?
R: A competência absoluta corresponde a uma regra criada para atender á finalidade pública, não podendo, assim, ser alterada pela vontade das partes. Dada sua importância, pode ser reconhecida de ofício pelo juiz ou alegada a qualquer tempo pelas partes, enquanto pendente o processo, não ocorrendo a preclusão, permitindo-se, inclusive, seu reconhecimento por meio de ação rescisória, no período de 2 anos após o trânsito em julgado. Ressalta-se, no entanto, que aquele que deixar de alega-la na primeira oportunidade, arcará com os custos do retardamento do processo. Como pode ser alegada a qualquer tempo, posse fazê-la por simples petição. No entanto, recomenda-se que o réu o faça por preliminar em sua contestação.
A competência relativa, por sua vez, é regra criada para proteger a parte, podendo, assim, ser por ela alterada. Via de regra, não pode o juiz conhecer desta incompetência de ofício, devendo ser provocado pela parte, por meio da exceção de incompetência, no prazo da resposta (15 dias), sob pena de preclusão temporal e prorrogação da competência. Ressalta-se, no entanto, que a jurisprudência vem admitindo a alegação desta incompetência nas razões da contestação, desde que não cause prejuízo ao autor. Ademais, admite-se o reconhecimento de ofício quando se tratar de cláusula de eleição de foro presente em contrato de adesão (art. 112, §único, CPC).
P: Ao reconhecer a sua incompetência, há possibilidade de o juiz decretar a extinção do processo? Qual a natureza da competência dos juizados especiais?
R: A alegação da incompetência é tida como espécie de defesa dilatória, ou seja, não possui o condão de pôr fim ao processo, devendo-se, via de regra, após o seu reconhecimento, ser remitido os autos ao juízo competente.
Ocorre que o ordenamento jurídico brasileiro prevê 2 situações em que o reconhecimento da incompetência leva á extinção do processo: a incompetência no âmbito dos juizados especiais e a incompetência internacional (não possuindo o Brasil jurisdição além de suas fronteiras para remeter os autos ao juízo competente).
Os juizados especiais, no Brasil, têm sua competência distribuída tanta por critérios de valor da causa, como também em razão da matéria ou da pessoa. Nos juizados estaduais, há a opção do autor de ingressar com a ação neste juizado ou adotar o procedimento ordinário, sendo, pois, relativa a competência. No entanto, no que tange aos juizados federais e ao juizado estadual da fazenda pública, não há tal flexibilidade, sendo considerada competência absoluta.
P: O que se entende por Prorrogação de competência e quais as hipóteses em que pode ocorrer? Podem as regras de competência serem modificadas pela vontade das partes?
R: Prorrogação de competência corresponde á possibilidade de um juiz, anteriormente incompetente, continuar na condução e julgamento do processo, em razão da lei ou da vontade das partes. Neste sentido, há a prorrogação legal, na qual a lei prevê as hipóteses em que varia tal prorrogação, como nos casos de conexão, continência e ausência de oposição de exceção de incompetência relativa. No que tange à prorrogação voluntária, é aquele que ocorre pela existência de uma cláusula de eleição de foro ou pela vontade do autor, que, segundo a doutrina, quando da existência de norma especial para proteger o autor, pode este dela abdicar, optando pela regra geral de competência. (Exemplo: possibilidade de autor propor ação de alimentos no foro do alimentando, mas opta pelo do domicílio do réu). 
 
Competência internacional. Homologação de sentença estrangeira. Carta rogatória. Mariana (maribnobrega@hotmail.com)
P: Em que consiste a competência internacional?
R: É a delimitação de competência que visa a determinar o espaço em que deve haver jurisdição, na medida em que o Estado possa fazer cumprir soberanamente as suas sentenças. A competência internacional brasileira estabelecida pelo CPC diz quais as causas que deverão ser conhecidas e decididas pela justiça brasileira.
 
P: Quais são os princípios que orientam a distribuição de competência internacional?
R: 	- Princípio da efetividade, segundo o qual o Estado deve abster-se de julgar se a sentença não tem como ser reconhecida onde deve produzir efeitos.
 	- Plenitudo jurisdictionis: o poder/dever de conceder a prestação jurisdicional no território é pleno e ilimitado, sofrendo limitações apenas pela legislação interna.
 	- Princípio da exclusividade: Os Tribunais de cada país aplicarão as regras delimitadoras de jurisdição que integram sua própria ordem jurídica, e não as de outros Estados. 
 	- Unilateralidade: à norma delimitadora da jurisdição estatal não se concede o poder de atribuir competência internacional a outro Estado.
 	- Imunidade de jurisdição: a jurisdição deixa de ser exercida em razão da qualidade do réu. Com as evoluções nas relações internacionais, passou a existir uma teoria de imunidade relativa de jurisdição, distinguindo os atos de gestão dos atos de império, só a estes sendo aplicada a imunidade.
 	- Proibição de denegação de justiça: o Estado inicialmente incompetente deve julgar a demanda quando ficar constatado que ela não pode ser julgada em qualquer outro tribunal estrangeiro.
 	- Autonomia da vontade: em caso de concorrência, abre-se a possibilidade de escolher o foro, a jurisdição. Aí se inserem os institutos do forum shopping, o qual consiste na procura, dentre as jurisdições de competência concorrente para apreciar determinada lide, daquela que possa ser obtida uma decisão mais favorável; e do forum non conveniens, que permite ao juízo acionado recursar a prestação jurisdicional se entender comprovada a existência de outra jurisdição mais adequada, a fim de evitar abusos.
 	
P: Como o CPC estabeleceu a competência internacional da autoridade judiciária brasileira?
R: A competência internacional da autoridade judiciária brasileira está prevista nos artigos 88, que estabeleceu casos de competência concorrente ou cumulativa, e no artigo 89, que estabeleceu competência exclusiva.
 	 
P: Quais os casos de competência internacional concorrente?
R: As hipóteses de competência internacional concorrente são as seguintes: se o réu estiver domiciliado no Brasil, não importando sua nacionalidade; se a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil; se a ação originar-se de ato ou fato ocorrido no Brasil.
Esses casos também podem ser julgados por tribunais estrangeiros, devendo a sentença ser homologada pelo STJ para ter eficácia no território brasileiro.
 
P: Quais os casos de competência internacional exclusiva?
R: São os casos de ações relativas a imóveis situados no Brasil, e inventários e partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do Brasil. Nesses casos, a sentença estrangeira não pode ser homologada para produzir efeitos no Brasil.
 
P: Ocorre litispendência entre a ação ajuizada no estrangeiro e no brasil, nos casos de competência concorrente?
R: Diz-se que há litispendência quando se repete ação idêntica a uma que se encontra em curso, quando a nova ação tem as mesmas partes, pedido e causa de pedir de uma outra. A consequência é a extinção da segunda ação sem resolução do mérito. O art. 90 do CPC estabeleceu que não ocorre litispendência no Brasil, quando intentada a mesma ação em tribunal estrangeiro, em clara ênfase à supremacia da jurisdição nacional em face da estrangeira, e enquanto não houver sido homologada pelo STJ a sentença estrangeira.
 
P: Em que consiste a homologação de sentença estrangeira?
R: É um processo que visa conferir eficácia a um ato judicial estrangeiro. Qualquer provimento, inclusive não judicial, proveniente de uma autoridade estrangeira só terá eficácia no Brasil após sua homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. Até 2004, esse processo era da competência do Supremo Tribunal Federal. Após a Emenda Constitucional n. 45/2004, o Superior Tribunal de Justiça passou a ter a competência para processar e julgar os feitos relativos à homologação de sentença estrangeira e à concessão de exequatur às cartas rogatórias.
Os requisitos estão dispostos na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e são estes: a) haver sido proferida por juiz competente; b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d) estar traduzida por intérprete autorizado.
A execução da sentença estrangeira, após a homologação, compete à Justiça Federal, conforme art. 109, X, CF (... a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação...), no juízo cível competente, conforme artigo 475-P, III, do CPC.
 
P: Em que consiste a carta rogatória e como se procede a sua execução no caso de carta rogatória passiva?
R: A carta rogatória é instrumento de comunicação de atos processuais, utilizada quando dirigida a ordem ou comunicação à autoridade judiciária estrangeira. Pode ser ativa, quando emitida pelo Brasil para cumprimento em país estrangeiro. Nesse caso, ela será enviada conforme convenção internacional ou, à falta desta, através de via diplomática. A carta rogatória pode ser também passiva, quando são emitidas pela justiça estrangeira para cumprimento no Brasil. Nesse caso, o cumprimento dependerá de autorização do STJ, conforme determina a CF, que concederá o exequatur. Caso concedido, o cumprimento da carta rogatória se procederá diante de vara federal (109, X, CF), devendo, após, ser devolvida ao juiz de origem. 
Partes. Capacidade e legitimidade. Substituição processual. Mariana (maribnobrega@hotmail.com)
P: Quais são os pressupostos processuais subjetivos relacionados à parte?
R: Capacidade de ser parte (personalidade judiciária ou jurídica): consiste na capacidade do sujeito de gozo e exercício dos direitos e obrigações. É pressuposto processual de existência.
Capacidade de estar em juízo (capacidade processual): capacidade necessária apara a prática de atos processuais em juízo, sem necessidade de assistência ou representação. É pressuposto processual de validade, sendo vício sanável. A capacidade processual pressupõe a capacidade de ser parte.
Capacidade postulatória: é capacidade técnica exigida para a prática dos atos processuais postulatórios, tem-na os advogados inscritos na OAB, MP, e, em alguns casos, as pessoas não advogadas (Ex: Juizados Especiais Cíveis, causas trabalhistas e habeas corpus). É pressuposto de validade, podendo ser sanada.
 
P: Em que consiste a legitimidade no âmbito da ação?
R: Consiste em uma condição da ação que estabelece a pertinência subjetiva da demanda, sendo a situação prevista em lei que permite a um determinado sujeito propor a demanda judicial e a outro formar o polo passivo.
Pode-se identificar no ordenamento a possibilidade de legitimação ordinária e extraordinária.
A legitimação ordinária (art. 6º, CPC), consiste naquela em que o somente o próprio titular do direito alegado pode pleitear em seu próprio nome. 
A legitimação extraordinária (ou substituição processual) é hipótese excepcional, onde se permite que alguém, em nome próprio, litigue em defesa de interesse de terceiro.
 
P: Fale sobre a substituição processual.
R: A substituição processual, para a maioria dos autores, é sinônimo de legitimação extraordinária, e consiste na hipótese em que determinado sujeito litiga em nome próprio interesse de terceiro. Tem as seguintes características: excepcional e prevista em lei, legitimado extraordinário atua como parte, pode ser no polo ativo ou passivo, a coisa julgada estenderá seus efeitos ao substituído,
o substituto tem poderes de gestão do processo e não poderes de disposição do direito material discutido.
É importante não confundir a substituição processual com a sucessão processual, que ocorre quando um sujeito sucede o outro no processo, assumindo sua posição processual (há uma troca de sujeitos no processo). 	
 
 
Litisconsórcio. Assistência. Intervenção de terceiros: oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo. Ação regressiva. Rodolfo Cursino (dolfobc@gmail.com)
P: Conceitue, de forma simplificada, as seguintes classificações de litisconsórcio: Ativo, Passivo, Misto; Inicial e Ulterior; Unitário e Simples; e Multidinário.
R: Litisconsórcio é pluralidade de partes nos polos do processo. O ativo e o passivo ocorrem, respectivamente, quando a pluralidade se dá no polo ativo ou passivo da demanda. O misto, por sua vez, quando há pluralidade em ambos os polos.
Litisconsórcio Inicial é aquele em que a sua formação ocorre desde o inicio do processo, já na inicial. Ulterior, por sua vez, é o que pode surgir em momento posterior, já com o processo em curso, tal como ocorrer com a intervenção de terceiros.
Litisconsórcio unitário é aquele segundo o qual o juiz deve decidir o mérito de maneira igual para todos os litisconsortes. No simples, por sua vez, tem o juiz tem a possibilidade de exarar decisões diferentes.
P: O que se enende por litisconsórcio necessário e facultativo e quais as hipóteses previstas pelo CPC?
R: Litisconsórcio necessário é aquele cuja formação é obrigatória para o processo. Ocorre nas hipóteses em que a lei determinar, bem como quando o juiz tiver que decidir a causa de modo uniforme para todas as partes.
No facultativo, por sua vez, cuja formação não é obrigatório, tem-se como hipóteses as situações em que houver comunhão de bens ou obrigações. Identidade de fundamento de fato e de direito. Conexão e afinidade de questões.
P: Existe litisconsórcio ativo necessário?
R: A doutrina brasileira não é unanime acerca da existência do litisconsórcio ativo necessário, no ordenamento jurídico brasileiro. Para uma primeira corrente, não há que se falar em tal espécie de litisconsórcio, não podendo o autor ficar na dependência de um co-legitimado para exercer o seu direito de ação.
Os que entendem por sua existência, no entanto, defendem que é possível a sua propositura, desde que requeira a citação do outro litisconsorte para integrar a relação processual. Este poderá ingressar no polo ativo, concordando com o autor. No polo passivo, se dele discordar ou quiser apenas impugnar a sua participação, ou nada fazer, ocasião em que o autor será o seu substituto processual.
P: Um ato praticado por um litisconsorte atinge os demais?
R: Nos termos da doutrina brasileira, ao interpretar o CPC, deve-se entender que todo ato praticado pelo litisconsorte em um litisconsórcio simples não produz efeito quanto aos demais, ou seja, não os beneficie, nem os prejudica. No que tange ao Unitário, no entanto, o ato benéfico produz efeito para todos, ao passo que o maléfico não produz efeito para ninguém, nem mesmo para o que praticou.
P: Conceitue litisconsórcio Eventual, Alternativo e Sucessivo.
R: O litisconsórcio eventual consiste na propositura de demanda direcionada a pessoas diferente, para que um delas seja acolhida se a outra não o for. A exemplo, tem-se a propositura de ação de investigação de paternidade contra dois supostos pais.
O litisconsórcio alternativo, por sua vez, consiste em demanda contra pessoas distintas, para que uma delas seja condenada, independente de preferência. A exemplo, o ajuizamento de ação de consignação em pagamento para revelar quem é o credor.
Por fim, o Sucessivo corresponde a propositura de demandas por pessoas diferentes para que a segunda seja acolhida, se a primeira o for. A exemplo, uma demanda em que a mãe requer a indenização pelas despesas da paternidade, se a demanda de reconhecimento proposta por seu filho tiver êxito. 
 
P: A existência de solidariedade implica, sempre, litisconsórcio unitário?
R: Embora, na maioria dos casos, a existência de uma obrigação solidária origine o litisconsórcio unitário, não é uma regra a absoluta. Ainda que solidária, se a obrigação for divisível, haverá litisconsórcio simples, podendo-se adotar decisão diferentes para eles. Portanto, nos casos de solidariedade, apenas haverá litisconsórcio unitário se, além de solidária, a obrigação for indivisível.
P: O litisconsórcio necessário sempre será unitário? Existe a possibilidade de haver litisconsórcio facultativo e unitário ou necessário e simples? Exemplifique.
R: Não há que se confundir os conceitos de litisconsórcio necessário com o unitário, não existindo relação de coexistência necessária entre os mesmos.
Por serem classificações diferentes, há possibilidade de existirem litisconsórcios necessários e simples, necessários e unitários, facultativos e simples e facultativos e unitários.
No que tange ao facultativo e unitário, tem-se como exemplos as situações em que há co-legitimados, ou seja, embora mais de uma pessoa possa propor a ação, sua coexistência no processo não é indispensável, mas eventual decisão deve se dar de forma unitária. É o que ocorre, por exemplo, em ação reivindicatória proposta por condôminos ou ação popular proposta por mais de um cidadão.
Já quanto ao litisconsórcio necessário e simples, tem-se como exemplo a ação de usucapião, na qual, segundo a legislação, devem ser citados todos os proprietários, vizinhos e interessados, embora a decisão não precise ser uniformar para tais litisconsortes.
P: Qual a consequência de uma sentença proferida sem a citação de um litisconsórcio necessário? O que se entende por Intervenção “Iussu Iudicis”?
R: Tratando-se de litisconsórcio necessário unitário, a sentença é considerada nula, cabendo o ajuizamento da querela nulitatis. Em caso de necessário e simples, a sentença é considerada válida para aquele que foi citado, embora ineficaz para o que não o foi.
A intervenção Iussu Iudicies é instituto que surgiu no Código de Processo Civil de 1939, que permitia ao juiz trazer ao processo qualquer sujeito cuja presença repute útil. No CPC atual, instituto semelhante se encontra previsto no art. 47, possibilitando ao juiz ordenar que se promova a citação de todos os litisconsortes necessários ainda não citados.
P: Qual a diferença entre assistente simples e assistente litisconsorcial? O assistente simples se submete à coisa julgada?
R: Na assistência litisconsorcial, o assistente intervem no processo para defender direito próprio ou por ser co-legitimado. Corresponde a um litisconsórcio facultativo unitário ulterior.
Na assistência simples, por sua vez, o assistente possui interesse reflexo, não havendo relação direta para com o adversário. Age em nome próprio, mas defendendo interesse alheio. Neste caso, nos termos do CPC, julgada a ação, o assistente simples não é atingido pela coisa julgada, mas pela Eficácia da Intervenção, a qual recai sobre os fundamentos da decisão, impossibilitando a discussão deste fundamento pelo assistente, em outro processo, podendo, no entanto, ser afastada se demonstrar que não pôde influenciar na decisão, pelo estado em que recebeu o processo, ou que desconheceu alegações ou provas do qual o assistido não se valeu. Ou seja, quando houver por má gestão do processo pelo assistido.
P: Sobre a oposição, quais os procedimentos a serem adotados pelo juiz quando ela é ajuizada antes da audiência de instrução; entre o início da audiência e a sentença?
R: Ajuizada antes da audiência de instrução, a oposição corresponde a um incidente do processo, correndo simultaneamente com a ação, devendo o juiz julgá-la na mesma sentença que a ação principal.
Se ajuizada entre o início da audiência e a sentença, corresponderá a um processo incidente, ou seja, não será uma verdadeira intervenção de terceiros, mas uma oposição autônoma, seguindo procedimento ordinário, independentemente da principal. No entanto, é faculdade do juiz sobrestar a causa principal até 0- dias, para
que possa julgá-las em conjunto.
P: Acerca da Denunciação da lide: Qual a situação processual do denunciado ao ingressar no processo? O juiz pode condenar diretamente o denunciado à indenizar o adversário do denunciante?
R: O denunciado, ao ingressar no processo, possui duas relações. Em relação ao denunciante ele é o réu da ação regressiva. Na demanda originária, por sua vez, diverge a doutrina. Para os que entendem nos termos do CPC, o denunciado será litisconsorte unitário do denunciante. Para outra corrente, representada por Dinamarco, por sua vez, será um assistente litisconsorcial. Por fim, há os que entendem como Nelson Neri, ser o denunciado um assistente simples.
Via de regra, ante a ausência de relação material, a doutrina e a jurisprudência rechaçam a condenação direta do denunciado. No entanto, o STJ, em situação específica, já entendeu pela possibilidade. É o que acontece nas relações de seguro, quando se admite que a segurada indenize diretamente a vítima. Ressalta-se, inclusive, que, nos casos de Seguro DPVAT e seguro do fornecedor nas relação de consumo, a propositura da ação pode se dar diretamente contra a seguradora, não sendo caso de denunciação á lide.
P: O que se entende por nomeação autoria e quais as hipóteses legais? O autor é obrigado a nomear á autoria? E o nomeado é obrigado a ingressar no processo?
R: A nomeação à autoria corresponde à correção do polo passivo pelo réu, que chama ao processo o verdadeiro sujeito passivo da obrigação com o autor. Nos termos do CPC, é obrigatória a nomeação à autoria, devendo ser feita pelo réu, sob pena de arcar com as custas do processo. No entanto, uma vez nomeado à autoria, o nomeado possui a faculdade de aceitar ou recusar. Aceitando, o nomeante poderá sair do processo ou permanecer como assistente simples do nomeado. Por sua vez, recusando, o processo prosseguirá contra o nomeante, mas será eficaz, também, em relação ao nomeado.
 Formação, suspensão e extinção do processo. Débora Faustino (deborafa5@hotmail.com)
P: Quais os princípios processuais contidos no art. 262 do CPC?
R: Princípio dispositivo/da inércia da jurisdição e princípio do impulso oficial/inquisitivo.
 
P: Em que momento é considerada proposta a ação onde houver uma vara? E onde houver mais de uma?
R: Considera-se proposta a ação, tanto que a petição inicial seja despachada pelo juiz, ou simplesmente distribuída, onde houver mais de uma vara. Art. 263, CPC.
 
P: Em que momento processual nosso ordenamento proíbe o autor de modificar o pedido ou a causa de pedir sem anuência do réu e em que momento veda qualquer modificação (estabilização da demanda)?
R: O CPC proíbe ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir sem anuência do réu a partir da citação. Proíbe, ainda, qualquer modificação após o saneamento do processo. Art. 264, CPC.
 
P: Cite três situações ensejadoras da suspensão do processo.
R: V. art. 265, CPC.
 
P: É possível que ocorra o indeferimento da petição inicial (causa de extinção do processo, nos termos do art. 267, I, CPC) com resolução de mérito? Exemplifique.
R: A doutrina critica o posicionamento do dispositivo legal em tela visto que há possibilidade de se obter indeferimento da petição inicial com resolução do mérito (sentença definitiva), como ocorre nos casos de prescrição e decadência (art. 295, IV c/c art. 269, IV, CPC) e na hipótese prevista no art. 285-A do CPC (improcedência em causas repetitivas). Tais hipóteses, denominadas pela doutrina e jurisprudência “improcedência ‘prima facie’”, devem sempre ser comunicadas ao réu.
 
P: Diferencie os incisos II e III do art. 267 do CPC.
R: A hipótese prevista no inciso II (paralisação por um ano) ocorre por negligência de ambas as partes (STJ), devendo a parte negligente ser intimada para dar andamento ao processo em 48 horas (art. 267, §1º, CPC). Essa hipótese de extinção do processo pode se dar de ofício, não sendo necessário qualquer provocação. Nesse caso, a extinção do processo não enseja condenação em honorários advocatícios, visto que a responsabilidade recai sobre ambas as partes. Por sua vez, a hipótese prevista no inciso III (abandono do processo) ocorre por negligência do demandante, que será condenado ao pagamento das despesas e honorários advocatícios (art. 267, §2º, CPC), dependendo de provocação do réu caso ocorra após a apresentação da resposta do mesmo, buscando-se evitar desistência tácita, vedada pelo art. 267, §4º, CPC (STJ). Há que se ressaltar que a única hipótese que pode ensejar a perempção é a do inciso III.
 
P: Existe algum caso em que a ausência de pressupostos processuais (art. 267,IV, CPC) pode não ensejar a extinção do processo?
R: Segundo a doutrina, com base no art. 249, §2º do CPC, segundo o qual não se deve declarar a nulidade se o juiz tiver condições de julgar o mérito em favor da parte a qual aproveitaria a declaração da nulidade, pode a ausência de um pressuposto processual ser desprezada pelo juiz se o pressuposto violado for voltado à proteção da parte que no julgamento do mérito se sagrar vitoriosa.
 
P: Conceitue perempção, coisa julgada e litispendência.
R: Perempção é fenômeno que evita o abuso no exercício do direito de demandar, exigindo a extinção do processo quando a mesma ação for proposta pela quarta vez, tendo sido os três processos anteriores extintos sem a resolução do mérito por abandono do autor. Litispendência é a existência de dois ou mais processos em trâmite com a mesma ação. Coisa julgada ocorre quando for repetida ação que já foi julgada no mérito por decisão transitada em julgado em processo anteriormente proposto.
 
P: Diferencie desistência da ação (art. 267, VIII, CPC) e renúncia ao direito sobre que se funda a ação (art. 269, V, CPC).
R: Enquanto a desistência diz respeito somente ao processo em que ocorre, admitindo ao autor voltar ao Poder Judiciário com idêntica demanda, a renúncia concerne ao mérito da demanda, suscitando sentença definitiva, suprimindo ao autor qualquer possibilidade de propô-la novamente. Enquanto a renúncia pode ocorrer em qualquer momento processual, a desistência pode se dar até apresentação de resposta pelo réu (segundo a doutrina) ou no caso de revelia (STJ). Importante frisar que algumas questões não admitem renúncia (direitos indisponíveis).
 
P: Segundo entendimento prevalente no STJ e na doutrina, demandas indenizatórias em razão de dano moral são ou não transmissíveis? Aplica-se o art. 267, IX do CPC?
R: Para a maioria da doutrina e o STJ o direito de indenização a dano moral é patrimonial, de forma que os sucessores do ofendido têm o direito de sucedê-lo na demanda judicial, não sendo o caso de extinção do processo sem resolução do mérito conforme o art. 267, IX, do CPC.
 
P: O que se entende por “sentença genuína de mérito” ou “verdadeira sentença de mérito”?
R: Tais denominações são dadas à hipótese de extinção do processo com resolução de mérito prevista no inciso I do artigo 269 do CPC, qual seja, o acolhimento ou rejeição do pedido pelo juiz. Essa distinção ocorre tendo em vista que somente nessa hipótese se observa, de fato, a análise do direito material alegado pelo autor.
 
P: O que se entende por “falsas sentenças de mérito” ou “sentenças de mérito impuras”?
R: Todas as demais hipóteses de extinção do processo com resolução de mérito, vez que o juiz não enfrenta o direito material alegado pelo autor: tanto as sentenças homologatórias (em que há declaração unilateral de vontade de uma das partes, como no reconhecimento jurídico do pedido e na renúncia ou um acordo de vontades das partes, no caso da transação) como as que reconhecem a prescrição ou decadência.
 Petição inicial. Requisitos. Inépcia da petição inicial. Igor (irferreira@gmail.com)
 
P: Discorra sobre inépcia da petição inicial.
R: A inépcia é uma das causas de indeferimento da petição inicial (art. 295, inciso I e § único do CPC); há, ainda, outras causas que ensejam o indeferimento, tais como o reconhecimento de prescrição ou decadência e a ilegitimidade da parte.
A inépcia relaciona-se a defeitos na causa de pedir

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