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CF 1934

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
STELA CRISTINA DA SILVA PEDROSO
AMANDA BEATRIZ CARVALHO DE SOUZA
SABRYNA COSTA OLIVEIRA
JOÃO VICTOR
ELIZEU
 CESAR 
NALME
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 16 DE JULHO DE 1934)
NAVIRAÍ
2019
STELA CRISTINA DA SILVA PEDROSO
AMANDA BEATRIZ CARVALHO DE SOUZA
SABRYNA COSTA OLIVEIRA
JOÃO VICTOR
ELIZEU
CESAR
NALME
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 16 DE JULHO DE 1934)
Trabalho apresentado à disciplina de Teoria da Constituição como requisito parcial de obtenção de nota.
NAVIRAÍ
2019
INTRODUÇÃO
A Constituição de 1934 foi uma consequência direta da Revolução Constitucionalista de 1932. Com o fim da Revolução, a questão do regime político veio à tona, forçando desta forma as eleições para a Assembleia Constituinte em maio de 1933, que aprovou a nova Constituição substituindo a Constituição de 1891.
Pressionado, sobretudo pelos paulistas, o governo não teve outra alternativa senão possibilitar, por meio da Carta Magna, a melhora das condições de vida da grande maioria dos brasileiros, criando leis sobre educação, trabalho, saúde e cultura. Também ampliando o direito de cidadania dos brasileiros e possibilitando que grande fatia da população, até então marginalizada do processo político do Brasil, pudesse participar desse processo. A Constituição de 1934 na realidade foi um marco revolucionário na História do Brasil, trazendo à tona direitos e garantias nunca antes vistos.
1. CONTEXTO HISTÓRICO
1.1. REPÚBLICA OLIGÁRQUICA (1894-1930)
No período anterior ao governo de Getúlio Vargas, presidente que promulgou a Constituição de 1934, o Brasil encontrava-se na chamada República Oligárquica, fase histórica marcada pelo domínio de poucos, sobretudo das elites paulista e a mineira. Estes estados (SP e MG) revezavam-se indicando candidatos à presidência do país e assim controlavam inteiramente a política brasileira. Ademais, a República Oligárquica era marcada por fraudes eleitorais e, como o voto era aberto, o coronelismo (controle dos votos da população feito pelos coronéis) era uma prática corriqueira. 
Com o tempo, a República Oligárquica desgastou-se e o fato de o poder ser concentrado nas mãos de poucas pessoas passou a deixar muitos grupos insatisfeitos. Dentre esses grupos, destacam-se os militares, que originaram o chamado Movimento Tenentista. Esse movimento era formado sobretudo por jovens oficiais do exército e objetivava, principalmente, moralizar e reestruturar a República brasileira. Eles eram contrários às fraudes eleitorais e o controle restrito da política brasileira à época. O Tenentismo ganhou uma grande dimensão durante a década de 20, promovendo algumas revoltas, sendo as principais delas: Os dezoito do forte de Copacabana (1922), O segundo 05 de julho (1924) e a Coluna Prestes (1925). Esses levantes contrários ao governo formaram um dos fatores responsáveis pela crise da República Oligárquica.
Além das revoltas, houve também um fator externo que contribuiu para o desequilíbrio da República Oligárquica: a Crise de 1929, nos Estados Unidos da América (EUA). Essa crise teve proporções astronômicas e refletiu em praticamente em todos os países do mundo, inclusive no Brasil, que tinha os EUA como um dos principais importadores de nosso produto agrícola mais importante: o café.
Agrupados, esses fatores fragilizaram imensamente o período e deram pretexto à Revolução de 1930.
1.2. REVOLUÇÃO DE 1930
Como já apresentado anteriormente, no período da República Oligárquica a cada mandato alternavam-se na Presidência da República os indicados da oligarquia paulista e da oligarquia mineira. Porém, em 1929, o então presidente Washington Luís rompeu a aliança com Minas Gerais, indicando o paulista Júlio Prestes para a Presidência, quando a indicação deveria ser de um mineiro. Esse acontecimento obviamente gerou grande descontentamento entre os mineiros e os levou a formar, juntamente com Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco, a Aliança Liberal, indicando à presidência o gaúcho Getúlio Vargas, sendo o paraibano João Pessoa seu vice. 
Chegadas as eleições de 1930, Júlio Prestes acabou por vencer, e os opositores, apesar de insatisfeitos, não tomaram, por ora, o poder. Entretanto, um acontecimento mudou o curso da história: João Pessoa, o vice de Vargas, foi assassinado. Na verdade, o crime foi cometido por motivos locais e pessoais, não tendo relação com a eleição presidencial. Porém, ocorreu em um momento extremamente oportuno, tendo a culpa sido atribuída ao governo. Assim, a Aliança Liberal despertou e o plano de tomar o poder por meio de uma Revolução pode se concretizar.
Em 3 de outubro, militares liderados por Getúlio Vargas, do sul e do norte do país, convergiram para a capital brasileira. Ao chegarem no Rio de Janeiro, formou-se a Junta Governativa, pelos três ministros militares Tasso Fragoso, Mena Barreto e Isaías de Noronha. Diante dos militares, o presidente Washington Luís declarou que só sairia do cargo preso ou morto. Imediatamente, a Junta Governativa o prendeu e o levou ao Forte Copacabana, onde permaneceria até novembro e dali partiria para o exílio na Europa.
Com isso, Getúlio Vargas tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes, revogando a constituição de 1891 e governando por decretos. Da mesma forma, nomeou seus aliados para interventores (governadores) das províncias brasileiras.
A Constituição de 1934 foi publicada no dia 16 de julho de 1034 e vigorou apenas por 03 (três) anos. Ela tinha como marcos o fato de ser liberal e progressista, o que refletia o populismo e o nacionalismo econômico característico da Era Vargas e também por ter um caráter autoritário, o que representa outra forte característica deste período. Salienta-se que a Lei de 1934 foi elaborada de acordo com o pensamento jurídico da época, o qual, nascido depois da Primeira Grande Guerra, buscava a racionalização do poder. 
1.3. GOVERNO PROVISÓRIO
O Governo Provisório teve como objetivo reorganizar a vida política do país. Neste período, o presidente Getúlio Vargas deu início ao processo de centralização do poder, eliminando os órgãos legislativos (Federal, Estadual e Municipal). Este momento foi marcado por muita tensão entre a centralização do poder em torno a Vargas e o descontentamento das antigas oligarquias estaduais.
Diante da importância que os militares tiveram na estabilização da Revolução de 30, os primeiros anos da Era Vargas foram marcados pela presença dos “tenentes” nos principais cargos do governo, e por esta razão, foram designados representantes do governo para assumirem o controle dos estados.Tal medida tinha como finalidade anular a ação dos antigos coronéis e sua influência política na região.Esta manobra política desagradou àqueles coronéis que possuíam grande influência no País, e passaram a confrontar o governo.
Os tenentes passaram a controlar os estados com o nome de "intendentes" após a deposição dos antigos presidentes estaduais (governadores) eleitos.Entre os tenentes estavam Juarez Távola, Juraci Magalhães, João Alberto e Ary Parreiras. No entanto, haviam civis, como Maurício de Lacerda e Pedro Ernesto.
Juarez Távora foi denominado delegado dos estados do norte (que compreendia do Espírito Santo ao Amazonas) e João Alberto, interventor de São Paulo. Por sua parte, Juracy Magalhães foi escolhido como interventor da Bahia e Ary Parreiras, do Rio de Janeiro.Pedro Ernesto foi nomeado interventor do Distrito Federal e Maurício de Lacerda serviu como embaixador no Uruguai e pouco depois rompeu com Vargas.
Essa situação de dominação pelos chamados “intendentes”, logo gerou conflitos entre as interventorias tenentistas e os partidos representativos das oligarquias. As divergências foram mais graves em São Paulo, atingindo o auge em abril de 1931, quando o Partido Democrático de São Paulo rompeu publicamente com o interventor João Alberto
Lins de Barros.
A luta por posições e privilégios políticos, inicialmente de âmbito local, assumiu uma amplitude nacional. Já havia um grande descontentamento por parte das oligarquias, e ainda ocorriam abusos por parte dos interventores, fazendo com que se instalasse em todo o país uma situação de crise.
Entretanto, no Governo Provisório foi adotado o Código dos Interventores, a fim de garantir o controle de Vargas sobre os interventores federais nos estados, limitando o poder desses tenentes nomeados. Vargas promulgou então o Decreto nº 20.348, documento que continha alguns artigos, entre os quais os que vedavam aos estados contrair empréstimos sem prévia consulta ao Executivo, gastar mais de 10% da despesa ordinária com as polícias militares, e possuir forças policiais superiores ao Exército Nacional.
Os militares, unidos em torno do Clube 3 de Outubro, com sede no Rio de Janeiro, começaram a debater instrumentos para consolidar as Forças Armadas. Desta maneira, apoiaram a reforma trabalhista e se posicionaram contra as eleições e a convocação de uma Assembléia Constituinte.
Os grupos oligárquicos, contudo, cobravam eleições e uma reforma constitucional. Deste modo, passaram a desafiar Getúlio Vargas, na tentativa de evitar o fortalecimento político dos tenentes.
Estas medidas consolidaram-se em clima de tensão entre as velhas oligarquias e os militares interventores.A oposição à essas ambições centralizadoras de Vargas, concentrou-se em São Paulo, onde as oligarquias locais, sob o apelo da autonomia política e um discurso de conteúdo regionalista, convocaram o “povo paulistano” a lutar contra o governo Vargas, exigindo a realização de eleições para a elaboração de uma Assembléia Constituinte. A partir desse movimento de descontentamento e revolta, teve origem a chamada Revolução Constitucionalista de 1932.
1.4. REVOLUÇÃO DE 1932
Logo após assumir a presidência da República, Vargas centralizou de forma totalitária o poder. Depondo os governadores dos estados, nomeou interventores de sua confiança, desagradando, assim, as elites locais. A elite mais insatisfeita com tal alteração foi a paulista. Getúlio nomeou um interventor que sequer era paulista, contrariando o interesse da população de São Paulo. Além disso, já existiam grupos interessados na promulgação de uma nova Constituição e em novas eleições presidenciais.
Assim, tendo em vista a clara divergência política entre a elite paulista e o interventor do estado, passou a existir uma instabilidade no governo. Em fevereiro de 1932 a situação se agravou ainda mais: Cansados do autoritarismo de Vargas, da falta de democracia e de todos os atos discricionários do presidente, cidadãos comuns e membros de movimentos de oposição ao governo começaram a realizar manifestações na cidade de São Paulo e a capital se tornou o foco de lutas contra o Governo Provisório. Em 23 de maio, ainda de 1932, ocorreu uma grande e importante manifestação, na qual quatro manifestantes acabaram sendo assassinados por forças militares que apoiavam o governo. O assassinato de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo de origem ao famoso MMDC, um símbolo que fortaleceu ainda mais as insatisfações populares e resultou em novas e mais organizadas manifestações contra o governo. O que antes era apenas a manifestação das insatisfações populares, passou a se tornar um verdadeiro movimento político e armado. 
A partir de 09 de julho, membros da Revolução, conhecidos por Constitucionalistas, e tropas do governo passaram a se enfrentar, em um verdadeiro estado de guerra. No âmbito dos conflitos armados, o objetivo era mostrar a força e consistência daquela tentativa de Revolução, combater e derrotar as forças do governo se fosse necessário e, por fim, chegar ao Rio de Janeiro (capital do país à época) para depor o presidente Getúlio Vargas.
No entanto, as movimentações e apoios esperados em Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, foram facilmente controladas pelo governo. Assim, as forças paulistas, apesar de manterem um bom controle da Revolução, também acabaram sendo derrotadas. Em 02 de outubro, depois de meses de combate, os conflitos chegaram ao fim. A Revolução de 1932 foi desmantelada e Getúlio Vargas vencia mais uma vez.
Apesar da vitória, reconhecendo a possibilidade de novas ameaças a seu governo, o presidente Vargas atendeu algumas das reivindicações feitas pelos revolucionários, com o objetivo de amenizar as insatisfações populares. Em 1933, uma nova Assembleia Constituinte foi aberta, para o desenvolvimento de uma nova Constituição, que no ano seguinte, 1934, seria colocada em prática.
2. INSPIRAÇÃO
 Do ponto de vista formal, os estadistas tiveram como inspiração a Constituição de Weimar, de 1919 e a Constituição Republicana espanhola, de 1931. 
A Constituição Espanhola de 1931 possuía o título III, denominado Direitos e deveres dos espanhóis, subdividido em liberdades e direitos individuais (Capítulo I: Garantias individuais e políticas) e sociais (Capítulo II: Família, economia e cultura), reconhecia a liberdade religiosa, de expressão, reunião, associação e petição (direito de toda pessoa a dirigir uma petição ao governo), o direito de livre residência e de circulação e de escolha de profissão, inviolabilidade do domicílio e da correspondência, igualdade frente da justiça, proteção da família, direito ao trabalho, direitos à cultura e ao ensino.
Já Constituição de Weimar (1919) representa o auge da crise do Estado Liberal do século XVIII e a ascensão do Estado Social do século XX. Foi o marco do movimento constitucionalista que consagrou direitos sociais, de segunda dimensão e reorganizou o Estado em função da Sociedade e não apenas do indivíduo. Ela apresentava, em sua segunda parte, a declaração dos direitos e deveres fundamentais, acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social, como o direito à educação, à cultura, à saúde, ao trabalho e outros do mesmo gênero.
3. PRINCIPAIS PONTOS MANTIDOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1891.	
Dentre os pontos preservados em relação a Constituição anterior temos a manutenção do regime republicano com princípios Federativos, o Presidencialismo, o regime representativo (art. 1º) e ainda a existência do sistema político de três poderes (Legislativo Executivo e Judiciário) presente no art. 3º. No entanto mesmo mantendo o Federalismo houve uma redução na autonomia dos Estados. 
	
 Art. 1º - A Nação brasileira, constituída pela união perpétua e indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios em Estados Unidos do Brasil, mantém como forma de Governo, sob o regime representativo, a República federativa proclamada em 15 de novembro de 1889. 
Art. 3º - São órgãos da soberania nacional, dentro dos limites constitucionais, os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si.
4. INOVAÇÕES
Além dos tópicos mantidos da Constituição de 1891 a nova Constituição trouxe em seu texto algumas inovações. Ela criou leis sobre educação, trabalho, saúde e cultura. Ampliou o direito de cidadania dos brasileiros, trazendo uma perspectiva de mudanças na vida de grande parte dos brasileiros.
4.1. DIREITOS TRABALHISTAS 
Dentre as novidades da Constituição está o estabelecimento da Justiça do Trabalho e de leis trabalhistas como a proibição do trabalho infantil (menores de quatorze anos de idade); o estabelecimento da jornada de trabalho de oito horas diárias com repouso semanal obrigatório; férias remuneradas e remuneração para trabalhadoras grávidas; salário mínimo e igualdade de salários para uma mesma função independente de estado civil, nacionalidade, sexo e idade; obrigação de as empresas manterem, no mínimo, dois terços de empregados brasileiros; obrigação de indenizar o trabalhador que fosse demitido sem justa causa (estas estão presentes do art. 121 ao 123);
Além disso, ficou autorizada a formação de sindicatos (art. 120), porém estes tinham de ser reconhecidos e autorizados pelo Ministério do Trabalho. Esta condição foi imposta de
modo que facilitaria o controle das atividades sindicais no país e ainda usaria este espaço para apoiar Vargas. 
4.2. ECONOMIA
Com relação à economia, a nova carta incentivava medidas nacionalistas defendendo as riquezas naturais do país, estabelecendo assim a nacionalização de recursos minerais presentes no subsolo brasileiro e o monopólio estatal em alguns setores da indústria. E também trouxe possibilidade de nacionalizar empresas estrangeiras e de determinar o monopólio estatal sobre determinadas indústrias (art. 116-118). 
4.3. EDUCAÇÃO
No campo educacional, determinava que a União seria a responsável pelas diretrizes da educação nacional (art. 5º, XIV). Além disso, em seu art. 138, alínea b, defendia que a educação eugênica deveria ser estimulada. E ainda, traz em seu texto dentre os art. 148 e 158 algumas normas que visam garantir o direito a educação, dentre esses que o ensino primário fosse gratuito e de frequência obrigatória (art. 150, § único, alínea a).
4.3.1. Educação Eugênica 
Os parlamentares da União pretendiam estimular uma “educação eugênica”, adotando medidas legislativas e administrativas, que de acordo com a elite intelectual da época, seria uma forma de “higiene social”, buscando o melhoramento racial através de medidas sócio/educativas. Para os eugenistas, o fator “educação” seria apenas objetivo dos considerados “bem nascidos”, no caso, os brancos.
A imagem de um Brasil mais branco, caracterizado durante a República, onde houve grande incentivo à entrada de imigrantes de origem europeia, teve como finalidade o chamado “branqueamento da raça”. Essa ideologia possuiu forte influência através dos discursos de parlamentares, que articularam na Constituição de 1934, medidas que viessem a demonstrar o que a sociedade branca e alfabetizada idealizava para a educação no Brasil, como uma forma de melhoramento racial. 
A mesma Constituição que estabeleceu a garantia de ensino primário gratuito em todo o país, também garante a defesa, através do artigo 138 da Constituição, que os mulatos, negros e deficientes (de qualquer nível) seriam limitados perante a educação. 
Segundo o parlamentar Pacheco e Silva, todas as escolas deveriam ter cursos suficientes de Eugenia, e as escolas superiores deveriam ser dotadas de cadeiras especiais para o estudo da hereditariedade humana e higiene racial (Eugenia), com possibilidades de pesquisas. A Eugenia deveria ser um tema de ensino e de exame para todas profissões da época.
Renato Kehl, um dos grandes nomes da eugenia no Brasil, comparou a educação com a medicina terapêutica, afirmando que, como deveria se pensar no doente, antes da doença, também seria pensar no educando, antes da educação. Segundo Kehl, as características herdadas eram mais importantes que as condições em que o indivíduo se encontrava. Chegou a afirmar que “quem é bom já nasce feito”, defendendo que a educação possui limitações em relação às características herdadas, estabelecendo que os indivíduos deveriam ser educados conforme seus atributos hereditários.
O projeto de lei 138 da Constituição de 1934, pretendia atuar numa população constituída em sua maioria de negros e mulatos, dificultando que estes se casassem com pessoas brancas de nível social elevado. Para isso, seria necessário que os jovens brancos se casassem cedo, concorrendo para a formação de uma elite nacional. Ou seja, os jovens considerados eugenicamente sadios, deveriam ter filhos logo no início do matrimônio, de forma que o número de filhos fosse maior do que em casais degenerados. Além do mais, nos primeiros anos do século XX, acreditava-se que as epidemias brasileiras eram culpa dos negros, recém libertos com a abolição da escravatura (1888).
4.4. SISTEMA ELEITORAL/ DIREITOS POLÍTICOS 
A Constituição de 1934 foi responsável por constitucionalizar a justiça eleitoral, pois o código eleitoral havia sido criado em 1932 e passou a ter normas na constituição pela primeira vez em 1934. Nesta, em seu capitulo I do título III se estabelece o voto secreto e direto, permitindo o voto feminino e passando a ser obrigatório para maiores de 18 anos alistados como eleitores. No entanto os analfabetos, soldados, padres e mendigos ainda tinham direito ao voto.
Salienta-se ainda, que a condenação criminal assim como na Constituição de 1988 era fator de suspensão dos direitos políticos, enquanto duravam os seus efeitos. 
São considerados inelegíveis nesta:
Os atuais representantes políticos, até um ano após cessadas suas respectivas funções;
Os Chefes do Ministério Público, os membros do Poder Judiciário, inclusive os das Justiças Eleitoral e Militar, os Ministros do Tribunal de Contas, e os Chefes e Subchefes do Estado Maior do Exército e da Armada; 
Os parentes, até o terceiro grau, do Presidente da República, até um ano depois de este ter deixado o cargo, salvo, para a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, se já tiverem exercido o mandato anteriormente ou forem eleitos simultaneamente com o Presidente; 
Os que não estiverem alistados como eleitores; 
Os Secretários de Estado e os Chefes de Polícia, até um ano após a cessação de suas funções; 
Os Comandantes de forças do Exército, da Armada ou das Polícias; 
4.5. EMENDAS
A Constituição de 1934 ainda estabeleceu mecanismos de reforma constitucional, quais sejam a revisão e a emenda, assim a Constituição poderia ser emendada desde que as alterações propostas não modificassem a estrutura política do Estado; a organização ou a competência dos poderes da soberania e revista, caso contrário, estabeleceu que o processo de revisão fosse mais rígido do que o processo de emenda. 
Art. 178 - A Constituição poderá ser emendada, quando as alterações propostas não modificarem a estrutura política do Estado (arts. 1 a 14, 17 a 21); a organização ou a competência dos poderes da soberania (Capítulos II, III e IV, do Título I; o Capítulo V, do Título I; o Título II; o Título III; e os arts. 175, 177, 181, este mesmo art. 178); e revista, no caso contrário. 
§ 1º - Na primeira hipótese, a proposta deverá ser formulada de modo preciso, com indicação dos dispositivos a emendar e será de iniciativa: 
a) de uma quarta parte, pelo menos, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; 
b) de mais de metade dos Estados, no decurso de dois anos, manifestando-se cada uma das unidades federativas pela maioria da Assembleia respectiva. 
Dar-se-á por aprovada a emenda que for aceita, em duas discussões, pela maioria absoluta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em dois anos consecutivos. 
Se a emenda obtiver o voto de dois terços dos membros componentes de um desses órgãos, deverá ser imediatamente submetida ao voto do outro, se estiver reunido, ou, em caso contrário na primeira sessão legislativa, entendendo-se aprovada, se lograr a mesma maioria. 
§ 2º - Na segunda hipótese a proposta de revisão será apresentada na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, e apoiada, pelo menos, por dois quintos dos seus membros, ou submetida a qualquer desses órgãos por dois terços das Assembleias Legislativas, em virtude de deliberação da maioria absoluta de cada uma destas. Se ambos por maioria de votos aceitarem a revisão, proceder-se-á pela forma que determinarem à elaboração do anteprojeto. Este será submetido, na Legislatura seguinte, a três discussões e votações em duas sessões legislativas, numa e noutra casa. 
§ 3º - A revisão ou emenda será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A primeira será incorporada e a segunda anexada com o respectivo número de ordem, ao texto constitucional que, nesta conformidade, deverá ser publicado com as assinaturas dos membros das duas Mesas. 
§ 4º - Não se procederá à reforma da Constituição na vigência do estado de sítio. 
§ 5º - Não serão admitidos como objeto de deliberação, projetos tendentes a abolir a forma republicana federativa. 
5. DIREITOS HUMANOS
Em relação aos direitos humanos, podemos observar que na CF/1934 temos direitos de 1ª geração (direitos civis e políticos),
de 2ª geração (direitos sociais, culturais e econômicos), de 3ª geração (direitos coletivos e difusos). Verifica-se ainda que dentre os que entraram na constituição muitos deles correspondem a 2ª dimensão, isso exigiu do Estado uma participação maior para que estes pudessem ser implementados, ou seja, uma atuação Estatal positiva. 
6. QUANTO AOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS
Estes estão dispostos nos art. 113 e 114, o primeiro tendo 38 alíneas taxativas. Evidenciam-se algumas:
O princípio da igualdade perante a lei, não haveria privilégios e/ou distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, profissão própria ou dos pais, riqueza, classe social, crença religiosa ou ideias políticas (alínea 1);
Ninguém será obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei. (alínea 2)
A lei não prejudicara o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (alínea 3); 
 É livre o exercício de qualquer profissão (alínea 13)
Obrigatoriedade de se comunicar imediatamente qualquer prisão/detenção ao juiz competente para que a relaxasse e, se ilegal requerer a responsabilidade da autoridade co-autora; (alínea 21)
 Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer, ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade, por ilegalidade ou abuso de poder. (alínea 23)
 Não haverá foro privilegiado nem Tribunais de exceção; admitem-se, porém, Juízos especiais em razão da natureza das causas. (alínea 25)     
O impedimento da prisão por dívidas, multas ou custas; (alínea 30)
A extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião e, em qualquer caso, a de brasileiros; (alínea 31)
Instituiu assistência judiciária para os desprovidos financeiramente; (alínea 32)
Estabeleceu o mandado de segurança, para defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade (alínea 33);
7. O AUTORITARISMO E O NACIONALISMO
Apesar de conceder direitos de natureza democrática, essa constituição também possuía seu lado autoritário. Ficou estabelecido por esta, com intuito de manter Vargas no poder, que o novo presidente seria escolhido pelos membros participantes da Assembleia Constituinte. Dessa forma, Getúlio Vargas foi eleito indiretamente e conseguiu mais quatro anos de governo até que as primeiras eleições diretas fossem realizadas. 
Disposições Transitórias: Art 1º - Promulgada esta Constituição a Assembleia Nacional Constituinte elegerá, no dia imediato, o Presidente da República para o primeiro quadriênio constitucional. 
Outro exemplo deste lado é que no Título VIII, destinado às disposições gerais, a constituição revelava-se novamente autoritária. O parágrafo 5° do artigo 175, trazia a seguinte redação:
Art. 175 (...)
(...)
§ 5º - Não será obstada a circulação de livros, jornais ou de quaisquer publicações, desde que os seus autores, diretores ou editores os submetam à censura. 
Esta se revelava também, como já mencionado, nacionalista, o que fica demostrado no artigo 15 das Disposições Constitucionais Transitórias.
Art. 15 - Fica o Governo autorizado a abrir o crédito de 300:000$000, para a ereção de um monumento ao Marechal Deodoro da Fonseca, Proclamador da República.
8. ESTRUTURA 
A Constituição de 1934 organizava-se e seguia a seguinte estrutura:
TÍTULO I: Da Organização Federal
CAPÍTULO I: Disposições Preliminares
CAPÍTULO II: Do Poder Legislativo  
SEÇÃO I: Disposições Preliminares 
SEÇÃO II: Das Atribuições do Poder Legislativo  
SEÇÃO III: Das Leis e Resoluções
SEÇÃO IV: Da Elaboração do Orçamento  
CAPÍTULO III: Do Poder Executivo  
SEÇÃO I: Do Presidente da República 
SEÇÃO II: Das Atribuições do Presidente da República  
SEÇÃO III: Da Responsabilidade do Presidente da República  
SEÇÃO IV: Dos Ministros de Estado 
CAPÍTULO IV: Do Poder Judiciário  
SEÇÃO I: Disposições Preliminares
SEÇÃO II: Da Corte Suprema  
SEÇÃO III: Dos Juízes e Tribunais Federais  
SEÇÃO IV: Da Justiça Eleitoral  
SEÇÃO V: Da Justiça Militar  
CAPÍTULO V: Da Coordenação dos Poderes  
SEÇÃO I: Disposições Preliminares  
SEÇÃO II: Das Atribuições do Senado Federal  
CAPÍTULO VI: Dos Órgãos de Cooperação nas Atividades Governamentais  
SEÇÃO I: Do Ministério Público  
SEÇÃO II: Do Tribunal de Contas  
SEÇÃO III: Dos Conselhos Técnicos  
TÍTULO II: Da Justiça dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios  
TÍTULO III: Da Declaração de Direitos  
CAPÍTULO I: Dos Direitos Políticos  
CAPÍTULO II: Dos Direitos e das Garantias Individuais  
TÍTULO IV: Da Ordem Econômica e Social  
TÍTULO V: Da Família, da Educação e da Cultura
CAPÍTULO I: Da Família  
CAPÍTULO II: Da Educação e da Cultura
TÍTULO VI: Da Segurança Nacional
TÍTULO VII: Dos Funcionários Públicos  
TÍTULO VIII: DISPOSIÇÕES GERAIS
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
9. CLASSIFICAÇÃO
	Origem:
	Promulgada
	Conteúdo:
	Formal
	Forma:
	Escrita
	Extensão:
	Analítica
	Modo de Elaboração:
	Dogmático
	Estabilidade:
	Rígida
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É inegável que essa constituição, liberal e progressista em relação aos direitos trabalhistas, refletia, de certa maneira, o populismo e o nacionalismo econômico tão característicos da Era Vargas, de forma que Getúlio conquistou a simpatia de grande parte da população brasileira.
Porém, apesar de a Constituição de 1934 representar o início de uma nova fase na vida do país, com a garantia de importantes direitos, ela vigorou por pouco tempo, até a introdução do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, sendo substituída pela Constituição de 1937.
Assim, o presidente Getúlio Vargas, por ter conquistado a população mediante os direitos que instituiu na Constituição de 1934, três anos depois, consequentemente, teve o apoio popular na instauração e manutenção de seu regime ditatorial, perdurando-se no poder até 1945.
REFERÊNCIAS
"Constituição de 1934"; Só Historia. Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/eravargas/p1.php>. Acesso em 11 de outubro de 2019.
“Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho de 1934)”. Planalto. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm>. Acesso em 19 de outubro de 2019. 
“Era Vargas”; Só História. Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/eravargas/>. Acesso em 14 de outubro 2019
“Revolução de 1930”; Só História. . Disponível em: <https://www.sohistoria.com.br/ef2/eravargas/p3.php>. Acesso em: 12/10/2019.
Bezerra, J. “Governo Provisório (1930-1934)”; Toda Matéria. Disponível em: < https://www.todamateria.com.br/governo-provisorio>. Acesso em 14 de outubro 2019.
BEZERRA. J. “Revolução de 1930”; Toda Matéria. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-de-1930/>. Acesso em: 12/10/2019.
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Código dos Interventores. Disponível em: <http://www.fgv.br/Cpdoc/Acervo/dicionarios/verbete-tematico/codigo-dos-interventores>. Acesso em 14 de outubro 2019
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