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CURSO DE ENGENHARIA CIVIL – EC – MODALIDADE EAD 
ESTUDO DIRIGIDO – ETAPA VII 
Componente: Cidade meio Ambiente, segurança e Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. A cidade como objeto de estudo e a história das cidades 
 
A cidade é o palco da maior parte da existência humana, naquilo que podemos produzir de 
melhor: por um lado; artes plásticas, música, arquitetura e tecnologia; por outro, violência, 
desigualdade social, guerras e pestes. Esta contradição marcou todas as cidades do mundo e 
tem consumido os homens na busca de respostas. 
 
Assim podemos definir cidade como uma área urbanizada, que se diferencia de vila e outras 
entidades urbanas através de vários critérios, os quais incluem população, densidade 
populacional ou estatuto legal, embora sua clara definição não seja precisa, sendo alvo de 
discussões diversas. A população de uma cidade varia entre as poucas centenas de habitantes 
até a dezena de milhão de habitantes. 
 
A história das cidades do mundo em geral é longa, sendo que as primeiras cidades teriam 
surgido entre quinze a cinco mil anos atrás, dependendo das diversas definições existentes 
sobre o que define um antigo assentamento permanente como uma cidade. Sociedades que 
vivem em cidades são frequentemente chamadas de civilizações. 
 
A ciência estima que os seres humanos viviam em pequenos grupos sobre a face da terra há 
mais de 10.000 anos de forma nômade, morando em cavernas. No entanto o abandono da vida 
nômade em cerca de 8000 a.C. é marcada pelo início da agricultura e da linguagem seguida 
pela utilização de habitações construídas com diversos tipos de materiais e a fixação em 
aldeias. 
 
As aldeias primitivas eram baseadas em relações de parentesco, também chamadas de clãs e 
a organização das mesmas seguia formas circulares que facilitava o controle e defesa, alem de 
favorecer a comunicação. 
 
Tema: Planejamento Urbano e História das cidades 
 
Componente: Cidade meio Ambiente, segurança e Desenvolvimento Sustentável 
 
Data: 31/10/2012 
 
Professor Responsável: Carolina Oliveira 
 
Neste estudo dirigido faremos uma abordagem teórica utilizando temas como: 
 
1. A Cidade como Objeto de Estudo e a História das Cidades 
2. A evolução das cidades no Brasil 
3. Planejamento Urbano 
4. Plano Diretor 
5. Movimentos, lutas sociais e planejamento urbano 
O aumento da complexidade das relações entre os vários grupos levou a criação de uma nova 
forma de organização territorial, surgindo então as relações de poder entre os grupos sociais, 
as leis urbanas e consequentemente a forma mais conhecida de organização territorial 
conhecido como sistema ortogonal (Figura 1). Dessa forma o homem iniciou a formação de 
grupos e consolidado um fato que mudaria completamente a forma de viver dos seres 
humanos: a cidade. 
 
Figura 1: Ilustrações das cidades do Vale do Rio Tigre e Eufrates, planificada por volta de 2000 a.C. 
 
Ao longo da sua existência os seres humanos agrupados e fixados em um lugar criaram as 
trocas dos excedentes da produção, criando o comércio, as indagações sobre a existência 
deram início às religiões, as inquietações levaram às artes e a cultura de forma geral e por fim 
estabeleceram as relações de poder. 
 
Dessa forma os agrupamentos humanos evoluíram por várias razões e constituíram uma rede 
urbana mundial rica e complexa, contraditória e social e economicamente desigual. A 
humanidade, em alguns momentos da história, quando as cidades se tornaram perigosas 
demais com as invasões sequenciais, levou a população a abandoná-las retornando às áreas 
rurais. Mesmo assim o canto de sereia que as cidades exercem sobre os homens não cessou e 
elas tornaram a florescer transformando-se no fenômeno do século XXI. 
 
As cidades podem surgir pela ação espontânea de vários fatores que decorrem das 
necessidades humanas de água, alimentos, cultura, religião, entre outros. Os deslocamentos 
em busca destes elementos e as estratégias humanas para a sua obtenção (tais como a 
agricultura) levaram ao surgimento de vários núcleos urbanos que cresceram de forma 
orgânica, obedecendo aos princípios do terreno e erguidos conforme os conhecimentos 
humanos até então adquiridos. 
 
No entanto, com o sonho humano em antever o futuro surgiu outra forma de núcleo urbano: as 
cidades planejadas. Estes sonhos existem desde a Grécia de Platão e Roma de César, à idade 
média, renascimento, barroco iluminismo e chegando até os dias atuais. 
 
As cidades denominadas novas são normalmente fruto das intenções de planejamento regional 
(caso de países como França, Inglaterra, entre outros) em busca do controle do território ou 
sua organização e deveriam desenvolver-se conforme princípios estabelecidos pelos seus 
criadores. Muitas destas cidades, no entanto se perdem nos princípios de seu próprio 
planejamento e acabam apresentando descontroles territoriais muito comuns a áreas urbanas 
não planejadas. 
 
Contudo o evento desencadeador da tomada da cidade como objeto de estudo para vários 
campos profissionais foi a revolução industrial. Este evento, ocorrido a partir de meados do 
século XIX na Europa, transformou completamente os espaços urbanos então existentes e as 
também as formas de produção dos mesmos. 
 
A substituição do modo artesanal de produção pelo modo fabril legou grandes conquistas, mas 
trouxe também o desafio de uma nova perspectiva de vida em sociedade até então não 
experimentada pela humanidade. Os artesãos foram obrigados a sujeitarem-se aos donos das 
fábricas, que, em face da grande quantidade de mão de obra, obrigava-os a aceitar jornadas 
de trabalho até 18 horas diárias (incluindo mulheres e crianças) em troca de remunerações 
irrisórias e desumanas. 
 
O grande fluxo migratório das zonas rurais para as cidades se intensificou, o número de 
atividades fabris cresceu de forma extraordinária, transformando-as em grandes “caldeirões” 
prontos para explodir em revoltas tamanha era a falta de condições de habitabilidade, saúde e 
saneamento para a grande maioria das pessoas. 
 
Na tentativas de explicar tamanho caos vivido pelas pessoas com o industrialismo crescente, 
as desigualdades sociais, as más condições de habitação e saneamento, surgem nomes como 
John Ruskin (1819-1900), William Morris (1834-96), Robert Owen (1771-1858), Charles Fourier 
(1772-1837), entre outros que buscavam teorias que explicassem o espaço urbano e 
conseqüentemente apontassem os rumos a seguir. 
 
A compreensão da cidade neste período conturbado pode ser dividido em duas grande 
correntes de pensamento: o Progressismo e Culturalismo. Estas correntes se diferenciariam 
segundo a forma dos seus seguidores pensarem a realidade do espaço urbano e seus fatores 
geradores. Enquanto os culturalistas se debruçavam sobre os fatores ligados à degradação da 
beleza das cidades e aquilo que deveria ser realizado para resgatá-la, os progressistas se 
detiveram com preponderância sobre as questões sociais e as transformações requeridas para 
a sociedade urbana da época. 
 
Muitos conceitos se fundamentaram em utopias sócio-politicas para a construção de cidades. 
Uma das criações deste período que teve grande impacto sobre as teorias urbanísticas foi o 
conceito de cidade jardim idealizadas por Ebenezer Howard (1850-1928), que propunha uma 
cidade fundamentada na integração entre cidade e natureza, com grande enfoque no 
culturalismo (Figura 8). 
 
Este conceito foi utilizado para a construção de várias cidades em todo mundo, mais 
notadamente na Inglaterra, após 1945. No Brasil parte deste conceito foi utilizado nos 
chamados bairros jardins em São Paulo e outras cidades, contudo não refletem o pensamento 
de estruturação espacial contido inicialmente e serviram mais como bandeira para a 
comercialização de empreendimentos imobiliários privados. 
 
A chegada doséculo XX trouxe ainda mais luz para os estudos sobre o espaço urbano. Uma 
contribuição de vulto para a história do urbanismo foi a proposta de Tony Garnier para uma 
cidade industrial. 
 
A proposta da cidade industrial de Garnier foi criada em 1901 e apresentava as primeiras 
intenções do que poderia ser chamado de planejamento urbano. A cidade era projetada para 
abrigar 35.000 habitantes e já previa alguns conceitos que seriam posteriormente discutidos 
pelos arquitetos em congressos de arquitetura moderna em 1933 e que seriam tomados como 
princípios básicos para a cidade moderna. 
 
Garnier pregava que a cidade não deveria ter barreiras ou muros e deveria ser dotada de 
grandes espaços públicos. As primeiras intenções de uma divisão da cidade em zonas 
especificas para residências separadas das zonas industriais já podia ser visto neste plano. 
Esta estratégia viria a ser chamada de zoneamento do uso e ocupação do solo urbano. 
 
Outro pensador deu sua contribuição para o urbanismo neste período foi o espanhol Arturo 
Sorya e Mata que propõe a cidade linear; uma cidade desenhada ao longo de um grande 
corredor ferroviário, ladeada por áreas verdes 
 
A partir início do século XX iniciou-se um grande movimento denominado de racionalismo que 
terá nomes como Le Corbusier e Walter Gropius como defensores de uma nova ordem nas 
cidades baseada na utilização de todas as conquistas técnicas no urbanismo com vistas a 
alcançarem melhorias sociais no espaço da cidade, condenando os excessos de 
ornamentações nas edificações. 
 
O século XX, no entanto não foi só de conquistas, a explosão de duas grandes guerras 
mundiais trouxe para os urbanistas outros grandes desafios. 
 
Algumas cidades do Brasil iniciaram um processo de crescimento populacional acelerado sem 
ser seguido por condições mínimas para receber tal fato, nem físico-territorial nem legal. Dessa 
forma a desigualdade espacial se instalou gerando uma cidade fragmentada em locais onde as 
condições de habitação são favoráveis e outros onde isto é negado aos habitantes. 
 
 
2. Evolução das cidades no Brasil 
 
A evolução das áreas urbanas no Brasil seguiu inicialmente os desígnios da Coroa portuguesa 
orientada pelas pretensões econômicas que a metrópole tinha para a sua colônia nas 
Américas. 
 
A urbanização seguiu passos lentos uma vez que a produção nos primeiros anos da 
colonização se baseava fundamentalmente em produtos agrícolas. Diferente da colonização 
espanhola que já de início estabeleceu orientações para a ocupação do território também com 
áreas urbanizada, fato conhecido pela existência de planos urbanos onde já se observavam 
diretrizes para arruamento, localização de atividades, aspectos de saneamento, entre outros. 
 
A coroa portuguesa somente inicia suas intenções de uma política de urbanização para o Brasil 
a partir do século XVII com a colaboração das descobertas de metais preciosos que também 
levam ao surgimento de núcleos que posteriormente se transformariam em cidades. 
 
Embora a concentração de pessoas nas cidades tenha se verificado na Europa no fim do 
século XIX a partir do início da revolução industrial este processo somente se verificou no 
Brasil de forma marcante a partir da década de 1930 com o advento de uma industrialização 
ainda muito precária. 
 
A consequência deste processo foi a construção de uma cidade desigual e tem impactado 
sobremaneira na qualidade de vida. O processo de urbanização não acompanhado de 
planejamento adequado tem produzido áreas urbanas com carência de infraestrutura e 
serviços básicos, sistema viário repleto de afunilamentos e descontinuidades, poluição do ar e 
das águas, sonora e visual, entre outros malefícios. 
 
A expansão urbana descontrolada, literalmente, tem conduzido os habitantes da cidade à 
despersonificação e ao declínio do ambiente urbano como um lugar de possibilidades de 
crescimento humano. A expansão da cidade, produzindo novos espaços urbanos pode ser 
debitada, em grande parte, à falta de estruturas de planejamento orientadas para o controle 
dos processos de urbanização. 
 
O aumento da intensidade do domínio português no Brasil levado também pelo descobrimento 
de metais preciosos caudaram um aumento do número de núcleos urbano, uma vez que estas 
atividade levavam a isto. A coroa portuguesa apressou-se em estabelecer normas que 
impusessem algum controle territorial, no entanto somente ao término do século XIX surgem no 
Brasil algumas regras de controle urbano mais específicas e aparecem também os chamados 
códigos de posturas. 
 
Estes códigos visavam estabelecer normas básicas de conduta urbana que viessem buscavam 
evitar conflitos e a organizar a construção de ruas e edifícios. 
 
Entretanto a presença destes códigos não foi capaz de resolver os problemas urbanos de 
grandes demandas por novas habitações, saneamento básico e outros serviços de natureza 
urbana. Tal situação transformou as cidades em um palco de conflitos sociais que marcaria 
profundamente o Brasil a partir do século XX. 
 
 
3. Planejamento Urbano 
 
O planejamento urbano é o processo de criação e desenvolvimento de programas que buscam 
melhorar ou revitalizar certos aspectos (como qualidade de vida da população) dentro de uma 
dada área urbana (como cidades ou vilas); ou do planejamento de uma nova área urbana em 
uma dada região, tendo como objetivo propiciar aos habitantes a melhor qualidade de vida 
possível. 
 
O planejamento urbano, segundo um ponto de vista contemporâneo (e, em certa medida, pós-
moderno), tanto enquanto disciplina acadêmica quanto como método de atuação no ambiente 
urbano, lida basicamente com os processos de produção, estruturação e apropriação do 
espaço urbano. A interpretação destes processos, assim como o grau de alteração de seu 
encadeamento, varia de acordo com a posição a ser tomada no processo de planejamento e 
principalmente com o poder de atuação do órgão planejador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uma ideia muito comum, ainda que com certo nível de imprecisão teórica, é a de que os 
planejadores urbanos trabalham principalmente com o aspecto físico de uma cidade, no 
sentido de criar propostas que têm como objetivo embelezá-la e fazer com que a vida urbana 
seja mais o confortável, proveitosa e lucrativa possível. 
 
Porém, o trabalho de planejamento envolve especialmente o contato com o processo de 
produção, estruturação e apropriação do espaço urbano, e não apenas sua configuração a 
posteriori, como quer a afirmação anterior. Sob este ponto de vista, os planejadores são atores 
de um perpétuo conflito de natureza eminentemente política, e por este motivo, seu trabalho 
não deve ser considerado como neutro. Também precisam prever o futuro e os possíveis 
impactos, positivos e negativos, causados por um plano de desenvolvimento urbano, os quais 
muitas vezes favorecem ou contrariam os interesses econômicos dos grupos sociais para os 
quais trabalham. 
 
Uma definição precisa do que seja o planejamento urbano necessariamente passa pelo 
trabalho de localizá-lo, enquanto disciplina, em relação ao urbanismo. Tanto o planejamento 
urbano quanto o urbanismo são entendidos como o estudo do fenômeno urbano em sua 
dimensão espacial, mas diferem notadamente no tocante às formas de atuação no espaço 
urbano. Desta maneira, o urbanismo trabalha (historicamente) com o desenho urbano e o 
projeto das cidades, em termos genéricos, sem necessariamente considerar a cidade como 
agente dentro de um processo social conflitivo, enquanto que o planejamento urbano, antes de 
Os urbanistas aconselham municípios, sugerindo possíveis medidas que 
podem ser tomadas com o objetivo de melhorar uma dada comunidade 
urbana, ou trabalham para o governo ou empresas privadas que estão 
interessadas no planejamento e construção de uma nova cidade ou 
comunidade, fora de uma área urbana já existente.Eles trabalham tradicionalmente junto das autoridades locais, geralmente 
para a municipalidade da cidade, embora nas últimas décadas tenham se 
destacado os profissionais que trabalham para organizações, empresas ou 
grupos comunitários que propõem planos para o governo. 
agir diretamente no ordenamento físico das cidades, trabalha com os processos que a 
constroem (ainda que indiretamente, sempre atue no desenho das cidades). 
 
O planejamento urbano é atividade, por excelência, multidisciplinar, enquanto que o 
Urbanismo, ao longo da história, se caracterizou como disciplina autônoma (especialmente do 
ponto de vista profissional). Porém, os limites entre o planejamento e o urbanismo são pouco 
claros na prática: intervenções urbanísticas na cidade são comumente tratadas como "obras de 
planejamento", enquanto que atividades típicas do planejamento (como a criação de um plano 
diretor), são eventualmente tratadas como "obras de urbanismo". 
 
A questão da definição clara e distinta das duas disciplinas complica-se de fato quando se 
procura a sua história: é um consenso, no meio acadêmico, que o Urbanismo seja tratado 
apenas como disciplina autônoma a partir do século XIX e que o planejamento urbano surja 
como matéria de interesse acadêmico apenas no século XX, mas também é fato que as 
cidades são planejadas e desenhadas desde o início da civilização. Desta maneira, a história 
das cidades (ou da urbanização, para ser mais preciso), ocorre paralelamente com a história 
do homem em sociedade, embora o estudo da intervenção do homem na cidade seja mais 
recente. A partir do momento em que se considera que o planejamento urbano lida 
basicamente com o conjunto de normas que regem o uso do espaço urbano (assim como sua 
produção e apropriação), sua história seria bastante diversa daquela referente ao desenho das 
cidades. 
 
 
Plano Diretor 
 
Um plano diretor é um instrumento de ordenação urbana. 
 
Um plano diretor mostra como o terreno da cidade deve ser utilizado e se a infra-estrutura 
pública de uma cidade como educação (escolas e bibliotecas), vias públicas (ruas e vias 
expressas), policiamento e de cobertura contra incêndio, bem como saneamento de água e 
esgoto, e transporte público, deve ser expandida, melhorada ou criada. 
 
O plano diretor tem como objetivo principal, fazer com que a propriedade urbana cumpra com 
sua função social, entendida como o atendimento do interesse coletivo em primeiro lugar, em 
detrimento do interesse individual ou de grupos específicos da sociedade. Um exemplo é a 
necessidade de prever uma destinação adequada aos terrenos urbanos, especialmente 
aqueles subutilizados e localizados em áreas dotadas de infra-estrutura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O plano diretor deve definir as áreas que podem ser adensadas, com edifícios de 
maior altura, as áreas que devem permanecer com média ou baixa densidade, e 
aquelas áreas que não devem ser urbanizadas, tais como as áreas de preservação 
permanente. 
Limites impostos pelo plano diretor incluem a altura máxima de estruturas em 
algumas ou em todas as regiões da cidade, por exemplo. 
Um plano diretor inclui quase sempre instalações de transporte público, bem como 
áreas de recreação, escolas e facilidades comerciais. 
Um plano diretor recomenda como o terreno da cidade deve ser usado. O plano 
geralmente divide a comunidade em secções separadas para casas e edifícios de 
apartamentos, comércio, indústria e áreas para instalações públicas. 
Um plano diretor também pode pedir a demolição de prédios em uma dada região e 
regular os tipos de serviços a serem oferecidos dentro de uma dada região, 
permitindo, por exemplo, a presença de pequenas indústrias e estabelecimentos 
comerciais, mas proibindo grandes indústrias. Alguns planos podem permitir o 
desenvolvimento de áreas de uso mistos, com uma combinação de indústrias, 
comércio e residências. 
Durante o processo de elaboração do plano diretor, os planejadores urbanos, representados 
por profissionais de várias áreas, como engenheiros, arquitetos e urbanistas, geólogos, 
economistas, sociólogos, geógrafos, juristas, estatísticos, biólogos, analisam a realidade 
existente do município e, com a participação da sociedade civil, representada por 
comerciantes, agricultores, associações de moradores, ongs e movimentos sociais, propõe 
novos rumos de desenvolvimento do município, buscando-se alcançar a realidade desejada por 
toda a população. 
 
Desde 2001, a legislação brasileira exige que a elaboração e a revisão de um plano diretor seja 
realizada de forma participativa e democrática, por meio de debates públicos, audiências, 
consultas e conferências. Se não houver participação da sociedade civil, o plano diretor pode 
ser invalidado. 
 
Atualmente, muitos especialistas em planejamento urbano usam computadores no trabalho. 
Computadores processam a informação que os planejadores analisam ao formar o plano 
diretor. Computadores são usados também para a criação de mapas. 
 
Geralmente, em pequenas cidades, um plano diretor é desenvolvido por uma companhia 
privada, que então manda o plano para o governo ou município, para aprovação. Já em 
cidades maiores, é uma agência pública que desenvolve o plano diretor. Grandes cidades 
costumam possuir um departamento próprio para o planejamento urbano, que é responsável 
por desenvolver, alterar e implementar o plano diretor. 
 
Movimentos, lutas sociais e planejamento urbano 
A expansão periférica das cidades marcou o processo de urbanização do Brasil. As 
desigualdades sociais foram a tônica da industrialização, em parte causada pela falta de uma 
política habitacional que absorvesse uma grande parcela da população que migrava do campo 
para a cidade em busca de oportunidades. Mesquita (2008) argumenta que esta situação gerou 
a proliferação do mercado informal de lotes urbanos e alimentou uma estrutura capitalista de 
espoliação dos mais pobres pela especulação imobiliária e altos lucros. 
 
A situação urbana do Brasil, em boa parte do século XX foi marcada pela cumplicidade do 
Estado ao não favorecer a implementação de políticas urbanas que tornassem a vida dos mais 
pobres mais digna, oferecendo-lhes a capacidade de adquirir os bens básicos para a 
sobrevivência. 
 
Os habitantes da cidades sem um programa estatal que proporcionasse a aquisição de uma 
moradia digna, lançaram-se na ocupação de fundos de vales sempre sujeitos a enchentes, 
onde o esgoto corre a céu aberto. 
 
O sistema viário se apresenta desconexo e afunilado pela falta de coesão entre a malha viária 
existente e os novos loteamentos, entre outros vários problemas advindos da ausência de 
políticas públicas urbanas. Liga-se a estes problemas outros caracterizados pela falta de 
saneamento, educação, mobilidade, saúde, entre outros que tem afligido grande parte da 
população das cidades acarretando uma perda da qualidade de vida, principalmente das 
classes de renda mais baixa. 
 
Ao longo do século XX, as ações do Estado (incluindo os três Poderes da República: 
Legislativo, Executivo e Judiciário) em todos os níveis (Federal, Estadual ou Municipal), no 
entanto mostraram-se tênues e desconectadas da real dimensão do problema. 
 
As lutas sociais advindas dos conflitos gerados pelas más condições de vida tornaram-se 
intensas deste período, notadamente aquelas ligadas à falta de moradia na área urbana. 
 
A evolução das cidades em todo território brasileiro no século XX, principalmente aquelas que 
estiveram próximas ou pertencentes a algum empreendimento público ou privado (implantação 
de ferrovias, rodovias, indústrias etc.) se deu de maneira parecida pelo favorecimento do 
capital em detrimento de uma estruturação espacial urbana. 
 
A produção da cidade sempre foi marcada pelas desigualdades sociais, no entanto é na 
América Latina, na África em alguns locais daÁsia que a proporção toma aspectos dramáticos. 
Nestas cidades as lutas sociais para conquista dos direitos básicos à cidade sempre foram 
marcadas por processos repressivos que visavam garantir a supremacia das elites. 
 
Os movimentos ligados a posse da terra seja ela urbana ou rural sempre foram combatidos 
sem lhes dar o verdadeiro crédito necessário a uma leitura crítica da realidade da falta de 
políticas públicas sérias para a habitação e a produção rural. Para Santos (2011), os 
movimentos sociais urbanos atuam em segmentos específicos na cidade: 
 
Os movimentos sociais urbanos em geral atuam sobre uma problemática urbana 
relacionada com o uso do solo, com a apropriação e a distribuição da terra 
urbana e dos equipamentos coletivos. Portanto, movimentos por moradia, pela 
implantação ou melhoria dos serviços públicos, como transporte público da 
qualidade, saúde ou educação são exemplos de movimentos reivindicatórios 
urbanos de caráter popular, relacionados ao direito à cidade e ao exercício da 
cidadania (SANTOS, 2011, p.2). 
 
Os movimentos sociais tiveram um longo caminho ao longo da instabilidade na democracia 
brasileira que flutuou entre períodos de ditadura e períodos democráticos. Por outro lado as 
práticas do Poder Público também colaboraram para, em muitas situações enfraquecer os 
movimentos sociais adotando estratégias de cooptação dos seus líderes para cargos públicos 
tentando transformar as reivindicações em políticas publicas nem sempre em sintonia com as 
mesmas. 
 
A construção do espaço da cidade no Brasil, desde muito cedo foi permeado pela 
desigualdade. O início das primeiras vilas no Brasil estão ligadas ao poder agrário uma vez que 
o país se fundamentou economicamente na produção da monocultura. Dessa forma as cidades 
iniciais não eram mais que pontos de encontro para troca de excedentes e encontros religiosos 
semanais. 
 
A presença da escravidão, inicialmente relegando os negros à senzala e posteriormente com a 
abolição lançando-os para os núcleos urbanos, contribuiu ainda mais para acirrar os problemas 
das cidades. Essa população de desvalidos recém saídos das fazendas de café, onde foram 
substituídos pelos imigrantes europeus afluíram aos milhares para núcleos urbanos 
despreparados de infraestrutura, habitação, entre outros serviços 
 
A partir dos anos 1930, com o inicio do processo de industrialização a situação somente tendeu 
a piorar, nos legando a cidade que temos hoje. 
 
A espoliação urbana deu o tom da construção das cidades brasileiras onde a terra urbana 
passou a valer como moeda, o que deixou milhares de pessoas à mercê de empreendedores 
imobiliários inescrupulosos que fizeram da cidade um grande banco e os lotes para moradia 
eram seu grande investimento. 
 
Empurrados para as áreas periféricas das cidades em habitações precárias ou em favelas, as 
populações mais carentes amargaram a falta de transportes, saneamento básico, saúde, 
educação e alimentação decentes. 
 
Neste cenário, os movimentos sociais urbanos iniciaram a luta por melhores condições de vida 
na cidade. Contudo a vida dos trabalhadores urbanos na foi mais fácil a partir daí, pois os 
conflitos entre as classes dominantes e o operariado sempre teve o Estado com interlocutor e 
na maioria das vezes de foram ditatorial e a favor das elites. 
 
Os movimentos pelas reformas urbanas não tardaram a surgir e se basearam na maioria das 
vezes na esfera municipal, uma vez que é nesta esfera que os maiores problemas acontecem. 
Segundo Araújo Junior (2011, p.3), “o município é o espaço ideal para o debate sobre as 
necessidades locais, devendo-se observar que qualquer deliberação deve estar em sintonia 
com os princípios regionais e nacionais”. 
 
As intensas lutas pelo estalecimento de estatutos legais que garantissem a realização de uma 
reforma urbana ampla durou todos os anos da ditadura militar iniciada nos anos 1960 e se 
estendeu pela Nova República até chegar à Constituição Federal de 1988, quando se 
estabeleceu a obrigatoriedade de políticas publicas para a cidade. 
 
No entanto, a regulamentação dos artigos da Constituição só aconteceria em 2001 com a 
promulgação do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001, que se constituiu uma norma jurídica 
que tornou obrigatória a participação popular no planejamento da cidade. 
 
O Estatuto contém inclusive um Capítulo que prevê a gestão democrática da cidade. Em 
diversos outros dispositivos se percebe esta intenção e afirmação do legislador: 
 
Art. 2º - A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das 
funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes 
diretrizes gerais: 
[...] 
II – gestão democrática por meio de participação da população e de associações 
representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução 
e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento 
urbano; 
[...] 
XIII – audiência do Poder Público Municipal e da população interessada no 
processo de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos 
potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o 
conforto ou a segurança da população. 
[...] 
Art. 4º - Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos: 
[...] 
V – institutos jurídicos e políticos: 
[...] referendo popular e plebiscito. 
 
Essa imposição da participação popular em vários momentos do Estatuto da Cidade, em 
especial na elaboração do Plano Diretor rompe uma tradição excludente das diversas camadas 
da sociedade, o que fortalece a legitimidade e validade desta lei municipal que regula o espaço 
urbano. 
 
 
Referências 
 
ARAÚJO JUNIOR, Miguel Etinger de. Algumas considerações sobre o Plano Diretor dos 
municípios e sua importância no processo de construção da cidadania e da democracia. 
Disponível em: <http://www.uel.br/cesa/direito/doc/estado/artigos/ 
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do Solo Urbano. EPUSP: São Paulo, 1998. 
 
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porque mudar o planejamento urbano no Brasil. Disponível em: 
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppII/pagina_PGPP/Trabalhos2/Carlos_Frederico_lago_
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CARVALHO, Pompeu Figueiredo de. Instrumentos legais de gestão urbana: referências ao 
estatuto da cidade e ao zoneamento. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/igce/ 
planejamento/publicacoes/TextosPDF/Pompeu03.pdf>. Acesso em: 18 out. 2007. 
 
CASTELNOU, Antonio. Teoria do Urbanismo. Disponível em: <http://istoecidade.weebly. 
com/uploads/3/0/2/0/3020261/ta447_apostila_parte_2.pdf>. Acesso em: 6 set. 2011. 
 
FIORILLO, C. A. P. Estatuto da Cidade Comentado. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2002. 
 
FUNDAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL – FIDEM. Manual de ocupação dos 
morros da região metropolitana do Recife / Fundação de Desenvolvimento Municipal 
FIDEM; coord. Margareth Mascarenhas Alheiros... (et al.): Ensol, Recife 2004. 
 
GARNIER, Jean-Pierre. O futuro das cidades: a luta por espaço. Disponível em 
<http://www.unmp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=396:o-futuro-das-
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