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O Mito e a Filosofia DECO

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O Mito e a Filosofia
O conhecimento é a fabricação do ideal sobre a Terra. Tende a descrever, apontar o certo e o errado, discutir, julgar, valorizar. A descoberta de novos materiais: fogo, chifre, dente, fio, couro; proporcionaram a criação de novos conhecimentos que influenciaram o nosso comportamento e foi se aperfeiçoando ao longo dos tempos. O conhecimento é sempre progressivo e busca uma ordem: religião, mito, filosofia, ciência, senso comum.
O conhecimento filosófico traz, na filosofia, o desenvolvimento da capacidade de pensar o seu próprio pensamento. É o doxo – opinião e o paradoxo – contra opinião. A filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas. Para melhor compreendermos como nasce a filosofia, é fundamental entendermos primeiro como se dá e o que representa um tipo de pensamento tão antigo quanto o próprio homem: o mito. Compreender a questão do mito não implica em estabelecer um olhar negativo, condenatório, mas, na realidade, buscar as bases dessa forma quase natural, ou imediata, do homem dar respostas aos problemas que o afligem. 
A palavra mito é grega e significa contar, narrar algo para alguém que reconhece o proferidor do discurso como autoridade sobre aquilo que foi dito. A mitologia é carregada de variações, que nos reveste de crenças e superstições. Através dos mitos as gerações têm procurado explicações para a origem das coisas.A origem do mito remonta a Antiguidade, situando-se entre os povos primitivos de forma a proporcionar uma determinada posição no mundo, isto é, de encontrar o seu lugar no meio dos demais seres da natureza. À primeira vista, trata-se de um modo ingênuo, fantasioso, anterior a toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos fenômenos naturais ou mesmo a de uma construção cultural, mas que modelam, também, a ação humana resultante de uma manifestação volitiva antecessora.
Como etapa embrionária do desejo de se consolidar um paradigma mais eficiente, afugentando o medo e a insegurança a seu redor, o homem concebe o mito. Aquele, à mercê das forças naturais que lhe são, num primeiro momento, assustadoras, inicia um processo de emprestar a este suas qualidades emocionais. Desse modo, as coisas que o cercam adquirem nova conotação, sempre impregnada de qualidades (sejam boas ou más) familiares ou sobrenaturais, atraentes ou ameaçadoras. É a partir dessa concepção que o homem engendra o movimento dentro de um mundo animado por forças pelas quais ele precisa conhecer, ainda que de maneira rústica.
De acordo com Martins (1992:62), o pensamento mítico está, então, muito ligado à magia, ao desejo, ao querer que as coisas aconteçam de um determinado modo. A partir disso se desenvolvem os rituais como meios de proporcionar os acontecimentos desejados. Ainda em conformidade com a referida autora, o ritual é o mito tornado ação.
Pode-se dizer que a principal função do mito é promover tranqüilidade ao homem, bem como acomodá-lo em face do ambiente que o circunda. Através da função em comento o homem, posteriormente, irá gerar suas volições, ou seja, estará apto a produzir atos propriamente ditos e fixará modelos exemplares de funções das atividades humanas.
O homem é um ser que busca constantemente a reafirmação de suas necessidades. E uma destas é a existência de se conhecer como parte de um grupo, o qual garante a sobrevivência a seus integrantes e por ele há o despertar consciente de equacionar aquele imperativo básico (pertencer a grupo, com segurança).
Outra característica do mito é o fato de ser sempre dogmático, qual seja, de apresentar-se como verdade que não precisa ser provada e que não admite contestação. A sua aceitação tem se dá mediante a fé e a crença. Contudo, não é uma aceitação racional, não sedo possível prová-la, em questioná-la, cientificamente se referindo.
Os gregos criaram vários mitos para poder passar mensagens para as pessoas e também com o objetivo de preservar a memória histórica de seu povo. Há três mil anos, não havia explicações científicas para grande parte dos fenômenos da natureza ou para os acontecimentos históricos. Portanto, para buscar um significado para os fatos políticos, econômicos e sociais, os gregos criaram uma série de histórias, de origem imaginativa, que eram transmitidas, principalmente, através da literatura oral.
O mito  surge a partir da necessidade de explicação sobre a origem e a forma das coisas, suas funções e finalidade, os poderes do divino sobre a natureza e os homens. Ele vem em forma de narrativa, criada por um narrador que possua credibilidade diante da sociedade, poder de liderança e domínio da linguagem convincente, e que, acima de tudo, “jogue para a boca do mito” o que gostaria de impor, mas adequando a estrutura do mito de uma forma que tranqüilize os ânimos e responda às necessidades do coletivo.
É o narrador quem constrói o esquema do mito, porém ele só nasce e se consolida a partir da aceitação coletiva, ou seja, o mito só existe quando ele cai no senso-comum. É ele quem dá a vida ao mito.
Considerados há muito tempo como antagônicos, mito e filosofia protagonizam atualmente uma (re)conciliação. Desde os primórdios, a Filosofia, busca do saber, é entendida como um discurso racional que surgiu para se contrapor ao modelo mítico desenvolvido na Grécia Antiga e que serviu como base de sua Paideia (educação). 
 
Referências:
CHAUI, M. Filosofia, Série Novo Ensino Médio, Volume Único, São Paulo, Editora Ática, 2004, pp. 23-5.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, Ática, 2000, p. 161-3.
MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.

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