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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA GENIS ALVES PEREIRA DE LIMA O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO SOUZA MARTINS”: O POLIVALENTE DE ITUIUTABA-MG (1974-1985) ITUIUTABA-MG 2015 GENIS ALVES PEREIRA DE LIMA O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO SOUZA MARTINS”: O POLIVALENTE DE ITUIUTABA-MG (1974-1985) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito para a obtenção do Título de Licenciatura em Pedagogia. Orientador (a): Profº. Dr. Sauloéber Társio de Souza ITUIUTABA-MG 2015 GENIS ALVES PEREIRA DE LIMA O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO SOUZA MARTINS”: O POLIVALENTE DE ITUIUTABA-MG (1974-1985) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito para a obtenção do Título de Licenciatura em Pedagogia. Ituiutaba, 15 de julho de 2015. BANCA EXAMINADORA: __________________________________________ Prof. Dr. Sauloéber Társio de Souza – UFU/FACIP (ORIENTADOR) _______________________________________________________ Profa. Lúcia Helena Moreira Oliveira _________________________________________________________ Profa. Simone Cléa dos Santos Miyoshi Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a vida inteira. Rubem Alves. Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo. Martin Luther King Jr. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, por me conceder seu inexprimível amor e por ter me acompanhado em todos os momentos desta caminhada. Agradeço ao meu esposo Romildo e a meus filhos Samuel Alexandre, Ana Elvira e Lucas Ryan pela compreensão dos momentos em que estive ausente e pelo companheirismo e paciência disponibilizados durante este tempo. Aos meus pais João Pedro e Lázara Antônia, pelo incondicional apoio durante o decorrer desta caminhada. A toda a minha família pelo incentivo e ajuda sempre concedidos. Agradeço em especial ao Professor Dr. Sauloéber, pela dedicação em seu compromisso docente em todos os momentos disponibilizados nas orientações, as quais nortearam os caminhos para a construção e aquisição de conhecimentos durante meu processo de formação e com certeza continuarão me acompanhando. O meu agradecimento sincero pelo incentivo, atenção, gentileza e conhecimentos proporcionados no decorrer deste período. As Professoras Lúcia Helena Moreira Oliveira e Simone Cléa dos Santos Miyoshi por terem aceitado o convite em participarem da minha banca, as quais irão contribuir relevantemente para o aprimoramento deste trabalho. A minha turma por todos os momentos de amizade, harmonia e conhecimentos construídos a cada dia em que vivenciamos juntos. As minhas amigas e amigos que sempre estiveram presentes do meu lado, com o apoio dispensado em todos os momentos deste percurso. Ao Diretor da Universidade Federal de Uberlândia – UFU/ Campus Pontal, Professor do Curso de Pedagogia Dr. Armindo Quilici Neto, a Coordenadora do Curso e Professora Dra. Lúcia Valente e a todos os demais Professores do Curso de Pedagogia pelos conhecimentos propiciados neste processo formativo. Agradeço a todos que contribuíram para a construção deste trabalho: ao apoio de todos os profissionais da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” – Polivalente, a qual nos acolheu no decorrer deste processo, aos entrevistados – ex- diretor, ex-professores, ex- alunos e aos que diretamente e indiretamente tiveram participação em vista para que este fosse concretizado. O meu sincero agradecimento mediante o respeito, disponibilidade e a atenção dispensada por cada um! RESUMO A importância em investigar os processos históricos, é compreendida como princípio norteador e possibilitador de novos olhares sobre as estruturas da nossa sociedade atual, ao observarmos os modelos econômicos, políticos e sociais pautados em relações sociais em contextos remotos. Neste sentido, a proposta desse trabalho de pesquisa, é a história da Escola Estadual "Antônio Souza Martins" – o Polivalente, na cidade de Ituiutaba-MG, no período que abrange os anos de 1974 a 1985, o ponto de partida foi o contexto de sua criação legal, no período da Ditadura Civil-Militar, sendo este um dos principais fatores para a implantação desse tipo de escola por todo o país. As escolas polivalentes surgiram em meio ao momento de difusão da vertente pedagógica tecnicista, a qual foi constituída com base nos acordos entre o Brasil e os Estados Unidos, por meio das ações entre o MEC e a USAID (Ministério da Educação e Cultura/ United States Agency of International Development). Nesta perspectiva algumas questões foram surgindo tais como: que modelo de educação foi pensado para essas escolas? Quais as condições de criação da Escola Polivalente nesta cidade? Quem eram os atores sociais envolvidos nessa instituição e a que classe social se vinculavam? O que era prescrito em seus estatutos e o que foi praticado no cotidiano das pessoas dessa instituição? Neste intuito, o trabalho visou reflexões dos processos históricos advindos do recorte temporal, eventos esses que deixaram marcas profundas em nossa sociedade, na vida dos atores que participaram das vivências no espaço escolar investigado, na valorização da identidade da instituição, enquanto provedora de educação entendida de “qualidade” para a época. Também ressaltamos a importância da temática no campo da história da educação de nosso país e da região, uma vez que muito pouco se escreveu sobre as escolas polivalentes, e, em especial, no Triângulo Mineiro. Metodologicamente pautou-se pela revisão bibliográfica sobre a temática, pelas pesquisas documentais e iconográficas e também pelo uso de entrevistas com ex- diretor, alunos, professores e funcionários que tiveram participação em meio as experiências adquiridas no interior da referida instituição de ensino. Palavras-Chave: Instituições Escolares; Regime Militar; Ensino Profissionalizante; Triângulo Mineiro. ABSTRACT The importance in investigating historical processes, is understood as a guiding principle and enabler of new perspectives on the structures of our society today, when you look at the economic, political and social models based on social relations in remote settings. In this sense, the proposal of this research paper, is the story of the State school "Antonio Souza Martins"-Polivalente, in the city of Ituiutaba-MG, in the period between 1974 to 1985, the starting point was the context of its creation, legalCivil- military dictatorship, this being one of the main factors for the implementation of this type of school around the country. Multipurpose schools appeared in the moment of dissemination of pedagogical technical aspect, which was constituted on the basis of agreements between Brazil and the United States, by means of actions between the MEC and the USAID (Ministério da Educação e Cultura/ United States Agency of International Development). With this in mind some questions arose such as: what model of education was thought to these schools? What are the conditions of creation of Multipurpose School in this town? Who were the social actors involved in this institution and that social class bound? What was prescribed in their statutes and what was practiced in the everyday life of the people of this institution? To this end, the work aimed to reflections of historical processes arising from the temporal, those events that have left deep scars in our society, in the lives of the actors who participated in the experiences in the school space investigated, in appreciation of the institution's identity, as provider of education understood in "quality" for the season. We also stress the importance of the subject in the field of history of education of our country and of the region, since very little is written about the multipurpose schools, and, in particular, in the Triângulo Mineiro. Methodologically was by literature review on the topic, the documentary and iconographic research and also by the use of interviews with former directors, students, teachers and staff who had participated in the experience gained in the educational institution mentioned. Keywords: Educational Institutions; The Military Regime; Vocational Education; Triângulo Mineiro. LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – Reportagem sobre a inauguração da Escola Polivalente..................34 FIGURA 02 – Foto Desenho da planta da Escola Polivalente................................35 FIGURA 03 – Foto Currículo das disciplinas que compunham o 1º Grau..............38 FIGURA 04– Foto Currículo das disciplinas que compunham o 2º Grau...............40 FIGURA 05 – Foto Banco com entalhe em madeira............................................... 51 FIGURA 06 – Foto Suporte para vaso em sisau.......................................................51 FIGURA 07– Foto Alunos participando de Festa Junina no Polivalente................55 FIGURA 08– Foto Alunos na aula da Escola Polivalente.......................................60 FIGURA 09 - Foto Alunos na aula de Práticas Agrícolas...................................... 62 FIGURA 10 - Foto Alunos na Pista de Atletismo.................................................. 63 FIGURA 11 – Foto Alunos nas atividades de Educação Física............................. 69 FIGURA 12 – Reportagem sobre as inscrições para a Escola Polivalente.............. 76 FIGURA 13 – Foto Atividades desenvolvidas na Escola Polivalente.................... 78 FIGURA 14 – Foto Alunos em fanfarra da Escola Polivalente.............................. 79 LISTA DE TABELAS TABELA 01 – Relação geral do número de Posse dos profissionais da Escola Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício verificado por gênero (1976-1985).............................................................................................................42 TABELA 02 - Relação específica anual do número de posses dos profissionais da Escola Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício (1976-1985).........43 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................... 11 1. AS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS ORIUNDAS DO CONTEXTO POLÍTICO BRASILEIRO DURANTE O PERÍODO DA DITADURA CIVIL-MILITAR...................................................................................... 17 2. A EDUCAÇÃO EM MEIO ÀS PROPOSTAS DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE: a Pedagogia Tecnicista no Brasil......................................................................................................... 22 3. PRIMÓRDIOS DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL E SOCIAL DE ITUIUTABA............... 28 4. A ESCOLA POLIVALENTE DE ITUIUTABA: ORIGEM DO SEU PROCESSO CONSTITUTIVO................................................................ 32 4.1 A criação............................................................................................. 32 4.2 O prédio e espaço físico..................................................................... 34 4.3 O Currículo........................................................................................ 37 4.4 Quadro Relativo ao Percentual Docente (1974-1985)....................... 41 4.5 Memórias dos Sujeitos Históricos...................................................... 45 4.5.1 Docentes.................................................................................. ........ 45 4.5.2 Discentes.......................................................................................... 59 4.5.3 Funcionários..................................................................................... 73 4.5.4 Diretor.............................................................................................. 75 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 81 REFERÊNCIAS............................................................................................ 83 FONTES........................................................................................................ 84 11 INTRODUÇÃO Este trabalho decorre dos estudos advindos do período de formação no Curso de Pedagogia-UFU/FACIP integrado a pesquisa de Iniciação Científica que foi desenvolvida com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, na Universidade Federal de Uberlândia (Campus do Pontal). A pesquisa consiste no estudo sobre o processo de implantação das escolas Polivalentes, e especificamente o da Escola Estadual “Antônio de Souza Martins ”- o Polivalente, na cidade de Ituiutaba-MG, bem como da reflexão sobre a história dessa instituição e dos atores que ali estiveram em parte de sua vivência. Neste sentido, a proposta em buscar pesquisar essa escola Polivalente decorre da compreensão do contexto que abrange sua criação (1974); o período do Regime Militar, sendo este o marco da implantação das referentes escolas no país, e isso implica compreender: Que educação a ser implantada nelas? A partir de que ou/de quem seriam os interesses desse modelo de educação? Quais seriam os grupos sociais atendidos por essas escolas? Quem eram as pessoas que compuseram parte dessa história? Estas são algumas das indagações a serem investigadas nesta proposta de trabalho. Deste modo, o interesse no trabalho de investigação histórica referente à Escola Estadual “Antônio Souza Martins”, no período compreendido desde sua criação até o ano de 1985, surgiu diante do próprio interesse pelo campo da História, e posteriormente dos estudos realizados na Graduação no curso de Pedagogia- UFU/Campus Pontal, através das abordagens estudadas na disciplina de História da Educação. Investigar a referida instituição implicou, portanto, abusca pela reflexão dos processos históricos que deixaram marcos em nossa sociedade, na vida dos gestores, professores, alunos, além da própria valorização da identidade da instituição enquanto provedora da educação, e assim das pessoas que por ali construíram um pouco da sua história de vida naquele determinado período. Assim, o presente trabalho se apoiou em leituras bibliográficas referentes à temática, pesquisas realizadas a partir de documentos do acervo da referida instituição, fontes jornalísticas do Acervo Cultural do município, bem como de entrevistas com ex- atores do âmbito acadêmico que fizeram parte dessa história na instituição. Reconhecer a importância do conhecimento histórico, e assim das origens e dos processos de criação e implantação das instituições escolares, é essencial para compreendermos como foram se originando e se desenvolvendo os modelos educativos 12 no Brasil, o que contribui para a ampliação de novos olhares sobre a educação de nossa atual realidade. A proposta metodológica do trabalho aqui delineado se pautou ao início à revisão bibliográfica, pela qual o pesquisador tem a possibilidade de expandir os conhecimentos metodológicos, essenciais na investigação histórica, uma vez que as mudanças ocorridas nas teorias metodológicas produziram embasamentos favoráveis ao desenvolvimento das pesquisas históricas. Neste sentido, apontam Souza e Castanho (2009, p.3): As mudanças de ordem teórico-metodológica na investigação histórica produziram efeitos positivos em diferentes aspectos da produção do conhecimento, o que refletiu também na maneira de se fazer a história da educação no Brasil, contribuindo para que este campo da ciência se constituísse em espaço autônomo, com objeto próprio, mesmo que se apoiando em outras disciplinas. O procedimento metodológico para a investigação se compôs também em visitas a Escola Polivalente e ao Acervo Cultural do Município, para o levantamento de informações a partir dos documentos encontrados, além da análise das fontes, compostas por documentos como o Regimento de implantação, caderno de Posse e Exercício de professores, algumas matérias jornalísticas, publicações oficiais e iconografia, bem como se apoiou em fontes orais em entrevistas com seis ex-alunos, quatro ex-professores, uma ex-funcionária e um ex-diretor da escola, os quais contribuíram relevantemente com as informações sobre o período em que ativamente estiveram em meio ao interior da instituição. 1 Alberti (2008, p.166) ao se referir sobre a relevância da História Oral no trabalho de pesquisa: Essa riqueza da História oral está evidentemente relacionada ao fato de ela permitir o conhecimento de experiências e modos de vida de diferentes grupos sociais. Nesse sentido, o pesquisador tem acesso a uma multiplicidade de "histórias dentro da história", que, dependendo de seu alcance e dimensão, permitem alterar a "hierarquia de significações historiográficas", no dizer da historiadora italiana Silvia Salvatici. Outros campos nos quais a História oral pode ser útil são a História do cotidiano (a entrevista de história de vida pode conter descrições bastante fidedignas das ações cotidianas); [...] Histórias de comunidades, como as de bairro, as de imigrantes, as camponesas etc, podendo inclusive auxiliar na investigação de genealogias; História de instituições, tanto públicas como privadas; registro de tradições 1 Todas as entrevistas foram previamente marcadas com data e horários específicos com os participantes. Foram usados pseudônimos para os nomes dos entrevistados. 13 culturais, aí incluídas as tradições orais, e História da memória. (ALBERTI, 2008, p. 166) A referida autora ressalta que outra especificidade da História Oral é o fato desta ter como um dos principais alicerces a narrativa, já que “um acontecimento vivido pelo entrevistado não pode ser transmitido a outrem sem que seja narrado”. (ALBERTI, 2008, p. 170-171). Assim, o entrevistado ao relatar sobre suas experiências e significados tem a possibilidade de transformar sua vivência em linguagem escrita, mediante a organização dos acontecimentos que dão amplos sentidos a elas. A memória segundo a autora tem um papel muito importante neste processo, já que as entrevistas podem ser comparadas com outros documentos de arquivos, possibilitando ao pesquisador analisar deslocamentos e sentidos entre ambos. Já para Xavier (2005, p.2), a História Oral “é considerada como fonte identitária de um povo, capaz de retratar as realidades, as vivências e os modos de vida de uma comunidade em cada tempo e nas suas mais variadas sociabilidades” No entanto, segundo este autor, é preciso que, ao trabalhar com as fontes orais, tenha-se a precaução quanto a não priorizar somente estas, mas buscar redimensioná-las com fontes escritas, visando chegar a uma investigação mais aprofundada no objeto de pesquisa. A memória pode ser vista como uma busca de representações constitutivas de culturas entre os povos. Neste sentido esse autor ressalta a importância da memória ao se trabalhar com a História Oral: Não se pode negar que, ultimamente, vários estudos são direcionados para o estudo da memória. Já se disse que "um povo sem memória é um povo sem história". Entende-se por esta expressão que não há história sem memória. O discurso, hoje, sobre memória, enfoca que ela é o encontro do passado no presente e que significa a identidade cultural, a construção e a história de um povo. A memória representa a forma de organização de uma nação, sociedade, comunidade, cidade ou grupo social. É necessário ressaltar que a memória em debate é a memória coletiva, pois, os indivíduos, não podem ser analisados separadamente. Eles não vivem isoladamente e a memória, ao ser retratada, será sempre de um grupo ou classe social. Deste modo, entende-se que a memória individual é parte constitutiva e inseparável da memória coletiva (HALBWACHS, 1990: 36). (XAVIER, 2005, p. 8). Nesta perspectiva, a História Oral se apresenta como fonte enriquecedora para o trabalho do pesquisador, uma vez que remete para a busca de interpretações e 14 significados que trazem importantes representações no decorrer do trabalho de pesquisa: “A utilização da História Oral como fonte de pesquisa, no complemento, justificação e como recurso alternativo não só enriquece o trabalho de pesquisa, como também valoriza os 'atores sociais' como indivíduos sujeitos agentes de sua própria história”. (XAVIER, 2005, p. 4) A utilização da História Oral foi um dos reflexos percebidos na metodologia de pesquisa histórica a partir da década de 1990, presentes também no novo fazer histórico da pesquisa educacional, na perspectiva dos princípios investigativos com ênfase na cultura escolar, que passaram a ser articuladas de acordo com Souza e Castanho (2009) em quatro grandes blocos, sendo estes os atores, os discursos e as linguagens, as instituições e os sistemas educativos e as práticas educativas. Não havia a preocupação com as práticas escolares, isto é, com o que se vivia no cotidiano da escola, a realidade escolar, o ser da escola, os saberes que nela se produziam ou se reproduziam, o currículo escolar, o saber social que os alunos traziam à escola e suas relações com o saber instituído pela escola, a simbologia escolar, as festividades, a disciplina como forma de controle, as disciplinas como organização dos saberes e das carreiras dos professores, a profissionalização docente e seus ritos, a arquitetura escolar como linguagem significativa...[...] Masfoi nos anos de 1990 [...] tendia a analisar de dentro aqueles aspectos - ainda sociais - gerados por essa realidade escolar, entendida agora como uma cultura com seus traços e exigências, com sua própria lógica interna. (CASTANHO, 2006, p.156 apud SOUZA; CASTANHO, 2009, p. 30). Diante desse novo fazer metodológico sobre as instituições escolares, os estudos temáticos referentes à estas tem se mostrado relevantes fontes de pesquisas, uma vez que propicia o conhecimento relativo à própria identidade da instituição pesquisada, bem como a valorização desta na sociedade, e sobretudo às vivências passadas pelos atores que foram participantes em meio ao processo de construção da sua respectiva historicidade. Pode-se refletir sobre as inúmeras possibilidades de se buscar fazer a História de Instituições Escolares, no entanto é pertinente nos indagarmos o porquê de se fazer a história de uma determinada instituição. Sanfelice (2006) aponta alguns pontos a serem considerados para a resposta, a qual segundo ele não é muito simples; dentre os pontos destacam-se: [...] As instituições escolares têm também uma origem quase sempre muito peculiar. Os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a 15 existir são os mais diferenciados. Às vezes a unidade surge como uma decorrência da política educacional em prática. Mas nem sempre. Em outras situações a unidade escolar somente se viabiliza pela conquista de movimentos sociais mobilizados, ou pela iniciativa de grupos confessionais ou de empresários. A origem de cada instituição escolar, quando decifrada, costuma nos oferecer várias surpresas. (SANFELICE, 2006, p, 23). Segundo este autor, são inúmeros os exemplos para se poder dizer que uma determinada instituição escolar, desde seu espaço geográfico até a arquitetura do seu prédio têm sua identidade própria, a tornando singular, ou seja, cada instituição é única em suas características e especificidades. E, nesta perspectiva, Sanfelice (2006) coloca que a singularidade das instituições educativas pode mostrar e como também esconder como ocorreu ou ocorre o fenômeno educacional de uma determinada sociedade: Mergulhar no interior de uma Instituição Escolar, com o olhar do historiador, é ir em busca das suas origens, do seu desenvolvimento no tempo, das alterações arquitetônicas pelas quais passou, e que não são gratuitas: é ir em busca da identidade dos sujeitos (professores, gestores, alunos, técnicos e outros) que a habitaram, das práticas pedagógicas que ali se realizaram, do mobiliário escolar que se transformou e de muitas outras coisas. Mas o essencial é tentar responder à questão de fundo: o que esta instituição singular instituiu? O que ela instituiu para si, para seus sujeitos e para a sociedade na qual está inserida? Mais radicalmente ainda: qual é o sentido do que foi instituído? (SANFELICE, 2006, p. 24). O trabalho de pesquisa historiográfica assim é produzido a partir da interpretação que se faz do sentido que tais instituições escolares propiciaram aos sujeitos enquanto nas formas que educaram, instruíram e contribuíram para a formação ofertada, e que de algum modo estão preservadas na memória dos que vivenciaram práticas no interior dessas instituições. Neste sentido, afirma Rodríguez (2008, p.23): O estudo histórico das instituições educacionais deve considerar os diversos aspectos envolvidos para podermos compreendê-los nos âmbitos social e institucional. Focalizar as instituições escolares nos estudos da História da Educação, implica também detectar as possíveis vinculações e articulações com a história da política educacional, considerando os aspectos escolares internos e seus condicionantes do contexto histórico, visando a compreensão dos “modelos” sociais, culturais e religiosos presentes nesses contextos. 16 Nesse processo de pesquisa, as fontes jornalísticas foram utilizadas de forma complementar as outras fontes na interpretação dos fatos integrantes do período descrito já que não foi possível localizar nessas fontes muitas informações sobre a escola, mesmo assim, aquelas encontradas possibilitaram uma reflexão decorrente do cruzamento entre os relatos orais e os documentos levantados na instituição. A pesquisa dessa forma buscou a coerente compreensão do trabalho historiográfico, valorizando às temáticas conceituais e metodológicas necessárias ao seu desenvolvimento. Buffa e Nosella (2005) ao abordarem sobre a pesquisa em instituições escolares e os aspectos metodológicos importantes, afirmam: Quanto às principais fontes utilizadas, podemos citar: legislação, documentos oficiais da criação da instalação da escola, recuperação da memória dos dirigentes, professores, ex-alunos, entrevistas e questionários, livros didáticos, diários de classe, currículo e programa das disciplinas, cadernos dos alunos, materiais didáticos, jornais da época, fotografias, etc. (BUFFA e NOSELLA, 2005 apud SOUZA; CASTANHO, 2009, p. 12,). O pesquisador, assim ao adentrar o trabalho de pesquisa, deve se atentar para uma profunda investigação, que compreende uma vasta dedicação entre o objeto e as partes envolvidas; nesta análise metodológica proposta “é essencial indagar a origem social e o destino profissional dos atores de uma instituição escolar para se definir o sentido social da mesma; assim como é essencial analisar os currículos aí utilizados para se compreender seus objetivos sociais”. (BUFFA e NOSELLA 2005, p.5083). Diante desta perspectiva, se torna necessário, que o trabalho de investigação às instituições escolares, abranja uma contextualização ampla de compreensão histórica. Assim, nas duas primeiras seções do texto, abordamos o contexto histórico brasileiro, bem como a pedagogia proposta pelo Estado naquele momento. 2 O Brasil traz em seu contexto histórico, e principalmente, no período da Ditadura Civil-Militar, grandes características de movimentos políticos geradores de mudanças que provocaram transformações no modo de organização da educação brasileira; e as Escolas Polivalentes surgem em meio a essas vertentes, tendo como principal característica 2 Referente a isso Sanfelice (2008) aponta: “A dimensão da identidade de uma instituição somente estará mais bem delineada quando o pesquisador transitar de um profundo mergulho no micro e, com a mesma intensidade, no macro. As instituições não são recortes autônomos de uma realidade social, política, cultural, econômica e educacional. Por mais que se estude o interior de uma instituição, a explicação daquilo que se constata não está dada de forma imediata em si mesma. Mesmo admitindo que as instituições adquirem uma identidade, esta é fruto dos laços de determinações externas a elas e, como já dito, “acomodadas” dialeticamente no seu interior”. (SANFELICE, 2007, p. 14-15). 17 serem as percussoras de implantação desse modelo educativo, inspirada pelas relações econômicas entre o Brasil e Estados Unidos, por meio de acordos entre USAID/MEC 3 , a fim de disponibilização financeira por parte dos Estados Unidos; através das quais seria propiciada uma educação que além das disciplinas regulares, abrangia também as disciplinas de Práticas Agrícola, Industrial, Comercial e Educação Para o Lar, com o intuito de uma formação profissional, voltada a suprir as demandas do desenvolvimento industrial necessário à sociedade. Nas seções finais, adentramos diretamente ao cenário dos fatos estudados. Assim, neste exercício sobre a história da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - o Polivalente, em Ituiutaba-MG, buscou-sea construção de um discurso propiciador de conhecimentos constituintes de parte de nossa história local e também brasileira no período empreendido em que o país se encontrava sob o regime da Ditadura Civil- Militar; o qual se respaldou em um processo de leituras e metodologias indicadas pelo orientador da presente pesquisa, com o intuito de que esta poderá servir de apoio à maiores explanações posteriores na área da historiografia referente às Instituições Escolares. 1. AS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS ORIUNDAS DO CONTEXTO POLÍTICO BRASILEIRO DURANTE O PERÍODO DA DITADURA CIVIL-MILITAR Ao procurar o entendimento e a compreensão sobre a criação de uma instituição escolar, é imprescindível buscar o aprofundamento dos processos históricos que abrangem o contexto político, econômico, cultural e social de um determinado período da história, dessa forma, torna-se favorável uma breve abordagem do contexto histórico, ao qual há uma estreita relação entre acontecimentos marcantes da história e às políticas internacionais que adentraram nosso país, contribuindo para modos de organização no âmbito educacional brasileiro, especificamente se tratando do período ao qual objetiva o presente trabalho: a Ditadura Civil-Militar, ocorrida entre os anos de 1964 a 1985. Podemos destacar as interferências oriundas do contexto da Segunda Guerra mundial entre os anos de 1939 a 1945, como marcantes às determinações econômicas, políticas, sociais e consequentemente educacionais; uma vez que a partir de então, os 3 USAID – Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional/ MEC – Ministério da Educação e Cultura. 18 países considerados economicamente prejudicados passaram a ter a “ajuda” de financiamentos dos Estados Unidos, bem como passaram também ao endividamento e controle político até mesmo na educação, estando o Brasil à mercê dessas questões. A Segunda Guerra Mundial, como sabemos, objetivou a busca por conquista de espaços territoriais e superação de poder econômico; desse modo a formação e divisão entre os países que a constituíram deram origem a dois blocos; de um lado estava o “Eixo”, englobando a Alemanha e países seguidores, e do outro o bloco “Aliado”, referente à Grã-Bretanha, e posteriormente outros países aderentes, entre eles a União Soviética, os Estados Unidos e o Brasil. Com a derrota da Alemanha, a União Soviética e Estados Unidos passaram a ser considerados as superpotências mundiais, porém a partir de então vivendo em clima de adversidade; o que caracterizou a chamada “Guerra Fria” entre os dois países no período de 1945 a 1989, no qual viveram em clima eminente de guerra por 40 anos, o que não veio a acontecer efetivamente de modo radical como era previsto, uma guerra nuclear. Este breve contexto, remete às influências capitalistas exercidas pelos Estados Unidos, que a partir de então cada vez se tornaram mais visíveis as relações de linhagem capitalista, e consequentemente de empréstimos e dívidas aos quais o Brasil foi se submetendo ao mesmo, referente às negociações que se intensificavam no mercado internacional. Tais contextos deixaram marcos na história brasileira, bem como na Educação, a qual foi também submetida a financiamentos e modelos de ensino a serem seguidos; sendo assim considerada como meio de poder ideológico e possível mantenedora da esfera social; no que diz respeito aos reflexos deixados pelo período compreendido pela Ditadura Civil-Militar 4 , no qual o autoritarismo e controle estiveram presentes. Deste modo, como já mencionado, a partir das relações políticas entre os Estados Unidos e Brasil, houve também na área educacional, formas de organização visando estruturas de ensino através dos acordos políticos entre instituições internacionais e nacionais. 4 O início do Regime Militar teve como principal característica a inconformidade por parte dos opositores, as propostas de governo de João Goulart, o então presidente com planos democráticos de reformas, que favorecia as massas de trabalhadores; seus adversários assim em 31 de março de 1964 o destituíram do poder com o Golpe Militar, resultando na permanência de governos militares no poder até o ano de 1985. Neste período, fortes repreensões davam sustentação ao regime, e a oposição ao mesmo era visto como ameaça nacional (ARAÚJO, 2010). 19 Em frente às propostas de implantação de um modelo educativo, destaca-se a USAID; de acordo com Araújo (2007, p. 52), esta instituição estava ligada à esfera da educação brasileira, com o intuito de legitimar um projeto de transformação e modernização da educação brasileira, na qual a finalidade era o direcionamento a uma racionalidade de modo de produção capitalista e que partiria do contexto da sociedade brasileira, dividida em classes. Desta forma, o modelo de educação desenvolvido, ganha um projeto a ser implantado no Brasil através também da criação das Escolas Polivalentes; houve assim transformações nas etapas do ensino, unificando-se o primário com o ginásio, e profissionalizando-se o colegial, o que resultou na mudança da Lei básica de normalização do ensino; a Lei 5.692/71, a qual norteou toda a educação básica neste período. Foi realizada deste modo, a união entre a USAID e MEC, a fim de nortearem os rumos da educação brasileira a serem definidos e implantados nas Secretarias Estaduais de Educação; a USAID no âmbito universitário, promoveu a orientação dos profissionais especialistas para os planejamentos do ensino secundário, o que veio a ser a EPEM- Equipe de Planejamento do Ensino Médio e a partir de planos racionais sobre o ensino médio para os Estados, resultou na organização do PREMEM- Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio 5 ; o que veio a constituir a completa transformação do Ensino Médio, bem como na implantação da Lei 5.692/71; o que, segundo Araújo (2007, p. 53), tais medidas são vistas como principais pontos do processo de modernização brasileira educacional. Surge a partir dessas decisões, a implantação das Escolas Polivalentes no Brasil, seguida da legalização da Lei 5.692/71 e mediante as decisões advindas de reuniões específicas realizadas, ficam claras as posições ideológicas de educação a serem promovidas; Uruguai e Chile apoiaram as metas voltadas para o desenvolvimento educativo visando atender a profissionalização capitalista, enquanto a Colômbia ao 5 A Universidade norte-americana “San Diego State College Foundation”- Califórnia foi responsável por nortear os planejamentos da área educacional do ensino secundário, no âmbito federal e estadual. Assim, o governo brasileiro ficou responsável por promover a reprodução em meio à sociedade, sobre a importância deste projeto educativo, e ao mesmo tempo a união com a Aliança para o Progresso, a qual diz respeito ao projeto de educação, desenvolvido a partir de três reuniões realizadas respectivamente no Uruguai, Chile e Colômbia, que objetivaram definir o tipo de educação a ser implantada no Brasil; a fim de estabelecerem metas a serem alcançadas em dez anos seguintes (ARAÚJO, 2010, p. 7). 20 avaliar o Plano de metas da Aliança para o Progresso 6 , evidenciou a crítica quanto à este modelo, apontando propostas para um novo projeto, no qual o Homem deveria ser o ponto principal e não o trabalho, como era evidente nas metas dos outros países descritos; porém a crítica não surgiu efeito e o plano a ser seguido seria o então de cunho político internacional, o qual buscava aliar ao Regime Militar, com o intuitode garantir a força das elites dominantes. Nesta vertente, as Escolas Polivalentes se apresentaram como uma proposta de ensino, com ênfase a promover a qualidade de uma educação pautada no ensino profissionalizante, no qual se encontrava elevado grau de prestígio educacional, uma vez que o aparato metodológico e prático contava com um significativo diferencial, diante dos demais modelos em vigor. De acordo com Fonseca (2013), o período ditatorial, como já apontado, iniciou- se assim com o Golpe Militar, advindo da união civil-militar ao tirar o então presidente João Goulart do poder, passando a assumir a Presidência da República o Marechal Humberto Castello Branco, o qual contava com o total apoio dos EUA e das multinacionais. É fato que as repressões causaram grande temor e espanto no decorrer deste período, já que o povo não tinha direito a manifestar nenhuma opinião contrária ao determinado pela ditadura. A este respeito Cunha e Góes (1985) apontam: A repressão foi a primeira medida tomada pelo governo imposto pelo golpe de 1964. Repressão a tudo e a todos considerados suspeitos de práticas ou mesmo ideias subversivas. A mera acusação de que uma pessoa, um programa educativo ou um livro tivesse inspiração "comunista" era suficiente para demissão, suspensão ou apreensão. (CUNHA; GOÉS, 1985, p. 36). Podemos refletir, a partir desse contexto, o quanto a Educação pode ser vista como um forte mecanismo de poder; neste momento ela era considerada como uma das maiores armas a favor dessa forma de governo, já que se uma parcela maior do povo 6 Um importante Projeto neste contexto político foi a Aliança Para o Progresso; de acordo com Araújo (2010), este projeto foi o resultado de três reuniões com o objetivo de decidir a educação que seria colocada no Brasil, o que resultou na implantação das Escolas Polivalentes, bem como na criação da Lei 5.692/71, a qual legalizou e oficializou a Educação Básica no Brasil durante o período. Destaca-se primeiramente a "Reunião Extraordinária do Conselho Interamericano Econômico e Social em Nível Ministerial”, a qual foi realizada em Punta del Este - Uruguai. Após destaca-se a "Segunda Conferência sobre Educação e Desenvolvimento Econômico e Social na América Latina", sendo esta realizada em Santiago do Chile, em 1962. A terceira conferência foi considerada como a "Reunião Interamericana de Ministros da Educação", sendo a mesma realizada em Bogotá - Colômbia em 1963. 21 tivesse acesso a maiores conhecimentos, isso poderia trazer ameaças a estabilidade das formas mantidas pelo regime militar. Nesta perspectiva, a sociedade foi se estabelecendo em uma visão global do mundo do trabalho enquanto a educação compulsoriamente ia se tornando fundamental para a promoção das atividades capitalistas, uma vez que a instrução se torna essencial para as práticas profissionais. O período do Regime Militar tornou mais visível as influências dos Estados Unidos no que diz respeito às formas de controle dos meios de produção capitalistas; era preciso que o mercado se preparasse para receber trabalhadores técnicos capacitados para a produção industrial que a demanda exigiria dos mesmos na execução das diferentes tarefas presentes no setor industrial. É importante também destacar que as políticas internacionais da USAID, já se faziam presentes no Brasil antes ao período do Regime Militar, uma vez que esta atuava na formação de professores do ensino primário por meio da Universidade de Minas Gerais. De acordo com Araújo (2010) , a partir de tais medidas, a Escola Polivalente foi criada, e com a ajuda financeira, política e ideológica dos EUA, o modelo internacional foi oficialmente estabelecido por meio das Escolas Polivalentes que seriam implantadas no Brasil; e frente à decisão de que a ajuda internacional seria importante para a solução dos problemas educacionais do país, os órgãos CFE (Conselho Federal de Educação), MEC (parte da instituição educacional brasileira) e DES (Diretoria do Ensino Secundário), a USAID foi então convidada a se incumbir de dar o suporte necessário ao processo educativo no que diz respeito ao controle técnico e financeiro, bem como em outras funções como em treinar a equipe técnica brasileira nos planejamentos de ensino, dar assistências às secretarias e conselhos de educação, dentre outros. Araújo (2010) traz: Neste momento, a USAID contrata os serviços do sistema universitário do Estado da Califórnia (EUA), que, por meio da San Diego State College Foundation, ofereceu os serviços de seus especialistas para atuarem como consultores durante dois anos, tendo eles a obrigação de orientar a área de planejamento de ensino no nível secundário em âmbito federal e estadual. (ARAÚJO, 2010, p. 3). Nesta perspectiva, tais instituições americanas se responsabilizaram em propiciar cursos de formação aos profissionais escolhidos pela USAID na San Diego State University, a fim de posteriormente colocá-los em prática no Brasil. 22 O PREMEM, de acordo com Araújo (2010) foi o resultado do novo acordo em 1970, entre a USAID/MEC, sendo que a partir de 1972, a EPEM foi incorporada à estrutura do planejamento do MEC, perdendo deste modo sua autonomia e administrativamente implementada à este; a partir de então o PREMEM passou a ser o responsável pelo plano da reforma educacional e pela implementação e organização das Escolas Polivalentes, escolas estas que marcaram o contexto histórico brasileiro junto ao acordo realizado com a política internacional da Aliança para o Progresso no momento em que se encontrava o país sob a Ditadura Militar. 2. A EDUCAÇÃO EM MEIO ÀS PROPOSTAS DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE: a Pedagogia Tecnicista no Brasil Podemos ver que a Escola foi constituindo-se e modificando-se ao longo dos tempos, porém sempre identificada pelos grupos sociais que a compõem. Neste sentido é visto que a Escola surge no primeiro momento voltada para uma minoria da classe dominante. A partir da Idade Média, na Europa, é que a Educação veio a se tornar um Produto da Escola, sendo que um conjunto de pessoas, em sua maioria religiosa, se especializou na transmissão do saber, e desde então a atividade de ensinar foi se desenvolvendo em lugares específicos; nesta perspectiva a escola durante um bom tempo esteve reservada às elites, e, aos ditos “pobres”, a aprendizagem acontecia na prática cotidiana: Durante séculos, este tipo de escola ficou reservado às elites. Serviu em primeiro lugar aos nobres, passando depois a atender à burguesia que, na medida de sua ascensão, exigia os mesmos privilégios que detinham os aristocratas. O “resto”- lavradores, operários, a gente pobre- aprendia na prática do dia-a-dia. (HARPER, Babette et al, 2000, p. 27). A escola assim voltada para esta minoria dominante só veio a sofrer mudanças com o início da Revolução Tecnológica, pela qual houve a necessidade de se pensar em modificações nos conteúdos disciplinares que exigiam maior cientificidade para o desenvolvimento técnico que emergia frente às sociedades. Assim sendo, na medida em que as produções econômicas geradas pelas indústrias cresciam, foi surgindo também a necessidade desta população da classe operária ter o mínimo de instrução para saber lidar com as técnicas exigidas ao 23 desenvolvimento do trabalho nas indústrias. O que, deste modo, levou-se a pensar em uma escola que preparasse, para o trabalho, a classe social oposta à elite dominante, a classe dos menos favorecidos, os quais, para tal, precisariam saber o mínimo necessário. Nesta lógica, a escola desde seuprincípio é marcada por diferenças sociais que interferem diretamente na Qualidade do Ensino ofertado às distintas classes sociais. Referente a isso: Foi assim que, paralelamente à escola dos ricos, foi surgindo uma outra escola, a escola dos pobres. Sua função era dar aos futuros operários o mínimo de cultura necessário à sua integração por baixo na sociedade industrial. A coexistência desses dois tipos de escola cria uma situação de verdadeira segregação social. As crianças do “povo” freqüentavam a “escola primária”, que não é concebida para dar acesso a estudos mais aprofundados. As crianças da elite seguiam um caminho à parte, com acesso garantido ao ensino de nível superior, monopólio da burguesia. (HARPER, Babette et al, 2000, p.29). Esta distinção foi se alterando a partir das reivindicações feitas pela classe trabalhadora quanto aos direitos de igualdade do ensino para todos; o que repercutiu no ensino público, gratuito e obrigatórios à todos. A escola passou assim a ser considerada como um meio essencial para as chances de emancipação social pelas classes menos favorecidas. No entanto, essa expectativa teve suas limitações ao passo que o ensino ofertado a todos os alunos das distintas classes possuíam diferentes condições de sobressaírem-se ou não nos estudos; a própria escola não dava condições para os alunos que não conseguiam prosseguir seus estudos. Na maioria das vezes, pela precária condição social que não lhes permitiam a permanência na escola, e ainda considerando que em determinado período dos estudos era realizado exames de “seleção”, nos quais obviamente os mais favorecidos eram aprovados para seguirem em frente, ou seja, os alunos mais favorecidos continuavam os estudos até chegarem à universidade, enquanto os da classe inferior dificilmente chegavam a esta, mas ao contrário, em poucos anos de escolaridade seguiam a profissão desvinculados da escola, aumentando o número da evasão escolar e uma maior massa da classe operária. Neste sentido: Gradualmente vai sendo abolido o sistema de duas escolas separadas, uma reservada aos ricos e outra destinada aos pobres. A partir de agora, todos os alunos começam seus estudos num mesmo tipo de escola e é apenas ao término de um tronco comum que vai se dar a SELEÇÃO, isto é, a repartição dos alunos em dois grupos: de um 24 lado, uma minoria que vai continuar os estudos até alcançar a universidade e, de outro lado, uma maioria que vai seguir cursos mais curtos e menos valorizados, que conduzem apenas às escolas técnicas e profissionais. (HARPER, Babette et al, 2000, p. 32). Mello (1986) ao se referir sobre a questão do papel formativo da Escola, coloca que “foi proclamando a educação pública, gratuita e obrigatória, como forma de promoção da igualdade e, portanto direito de todos, que a burguesia conseguiu ser hegemônica e garantiu o apoio de amplos setores da sociedade para sua proposta político-educacional” (MELLO, 1986, p. 11). Assim, os cidadãos passaram a ter os mesmos direitos de igualdade formais para adentrar a escola, no entanto prevaleciam as dificuldades para que de fato estes tivessem reais condições de prosseguir os estudos, bem como viesse a refletir em uma sociedade mais igualitária por meio das possibilidades colocadas através do direito do ensino público. Nesta vertente, compreende-se que as mudanças ocorridas na Educação vêm sendo ao longo do tempo advindas de relações em meio ao processo da economia capitalista. Todavia, a década de 1970 nos revela um período em que a Pedagogia Tecnicista esteve à frente de um modelo implantando com maior intensidade na Educação brasileira, uma vez que esta se encontrou diretamente vinculada ao trabalho pedagógico escolar. Tal modelo se caracterizou em vista da organização da necessidade da mão de obra para o trabalho frente à sociedade que se encontrava nesse exato momento, em meio ao crescimento capitalista industrial e consequentemente, aflorando o aumento das produções que emergiam sob os interesses de um país economicamente mais desenvolvido para o progresso. Nesta perspectiva, ao analisar se realmente ocorreu uma Revolução em 1964, ou seja, uma ruptura ao que diz respeito aos aspectos políticos e socioeconômicos no Brasil, Saviani (2007, p. 362) coloca que a partir do Golpe Militar, desencadeado em março de 1964, de fato a ruptura deu-se no nível político e não no socioeconômico, uma vez que esta ruptura política buscou “preservar a ordem socioeconômica, pois se temia que a persistência dos grupos que então controlavam o poder político formal viesse a provocar uma ruptura no plano socioeconômico”. (SAVIANI, 2007, p. 362). Desse modo, segundo o referido autor, não ocorrendo ruptura no plano socioeconômico, houve continuidade também na Educação, o que pode ser refletido na 25 legislação instituída pelas reformas de ensino pautadas na LDB (Lei n. 4024, de 20 de dezembro de 1961) baixadas pela ditadura, as quais não foram revogadas em seus primeiros títulos que enunciavam as diretrizes traçadas, mas “foram alteradas as bases organizacionais, tendo em vista ajustar a educação aos reclamos postos pelo modelo econômico do capitalismo de mercado associado dependente, articulado com a doutrina da interdependência”. (SAVIANI, 2007, p. 362). Neste sentido, a Educação sofreu ajustes específicos a partir da concepção do ensino proposto junto à formação técnica profissionalizante. De acordo com Saviani (2007, p. 363), a concepção produtivista de Educação, teve como marco de abertura o ano de 1969; a partir deste ano ocorreram reformas implementadas na área educacional em virtude de aprovações que regulamentavam a incorporação destas reformas na legislação. Mira apud Romanowski (2009, p. 10210), colocam que “as reformas de Ensino Superior (Lei 5540/68) e do Ensino Primário e Médio (Lei 5692/71 – que instituiu o Ensino de 1º e 2º graus), decorrentes dos acordos MEC-USAID (1966) foram representativas da influência da concepção tecnicista no contexto escolar”. Especificadamente em relação aos objetivos da reforma do 1º e 2º graus as autoras apontam: A reforma do Ensino de 1º e 2º Graus teve por objetivo geral “proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania” (Brasil, 2009). Para tanto, ampliou a obrigatoriedade para 8 (oito) anos, aglutinando o curso primário e o ginasial e extinguiu a separação entre escola secundária e escola técnica, criando o ensino profissionalizante. (MIRA apud ROMANOWSKI, 2009, p. 10211). A Pedagogia Tecnicista é compreendida assim, tendo sua origem no Brasil a partir da tendência produtivista, sob a aprovação da Lei n. 5692, de 11 de agosto de 1971, a qual buscou sua extensão a todas as escolas do país. Nessa perspectiva, Kuenzer apud Machado (1986, p. 29), ao abordarem sobre esta Pedagogia, nos traz que a partir da década de 1960 diante do discurso desenvolvimentista presenciado, a baixa produtividade do sistema escolar teve um papel fundamental, ou seja, naquele momento em que o país se encontrava em um significativo desenvolvimento econômico, os baixos índices da demanda escolar relativos ao número da população e suas consequências como os altos níveis de evasão e 26 repetência, eram fatores vistos como entrave ao alcance dos objetivos do desenvolvimento esperado na sociedade. Neste sentido, o sistema escolar era tido como o responsável por esta inadequadação no resultado de seu produto, uma vez que havia por um lado a baixaqualificação da mão de obra advinda pela desigualdade de distribuição de renda, e por outro lado, pela falta de preparo das massas para o processo político. A referida autora aponta que frente a tais soluções para o impasse, o Estado e considerável número de intelectuais, privilegiaram a tecnologia educacional: A demanda de mão-de-obra representada pelas multinacionais trazia em decorrência da transposição do modelo de produção, a importação do modelo de formação utilizado na pátria-mãe. A reprodução das relações de produção na divisão internacional do trabalho na etapa monopolista exige a reprodução das ideias que a suportam. (KUENZER apud MACHADO, 1986, p. 30). Nesse momento então, em que a demanda pela mão de obra do trabalho profissional surge como base do processo econômico, surge também a necessidade de pensar em medidas para a preparação adequada dos trabalhadores no desenvolvimento das técnicas exigidas nos setores industriais; vemos assim a Educação como meio para a busca do alcance de alternativas condizentes com a demanda do trabalho advinda pelo crescimento industrial: [...] a opção pela tecnologia educacional configurou-se, então, como a possibilidade de transpor, para o sistema de ensino, o modelo organizacional característico do sistema empresarial, visando à reordenação do sistema educacional com base nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade. (MIRA apud ROMANOWSKI, 2009, p. 10209). A tecnologia educacional é apontada por Kuenzer apud Machado (1986, p. 30), como “a absorção, pela educação, da ideologia empresarial”, podendo ser entendida no contexto do processo produtivo sistematizado a partir da Teoria Geral da Administração, tendo como primeiro teórico Frederick W. Taylor: Esta teoria surge tendo como preocupação central o controle do processo produtivo, necessidade gerada pelo desenvolvimento capitalista, que, introduzindo novas relações de produção a partir da compra e venda de força de trabalho, transfere o controle realizado internamente pelo produtor, a uma instância superior a ele: a da gerência. (KUENZER apud MACHADO, 1986, p. 31). 27 Diante desta concepção, os cidadãos passaram a executar o trabalho de acordo com a organização estabelecida pela divisão setorial de controle do processo produtivo industrial, bem como passa também a ser transposta essa ideologia para a educação: A educação passa ser vista como investimento individual e social, em decorrência do que deve vincular-se aos planos globais de desenvolvimento. A expectativa de que a educação atenda às necessidades econômicas, políticas e sociais, conduz, inicialmente à avaliação dessas mesmas necessidades, o controle da execução dos projetos e a posterior verificação do grau de atingimento dos objetivos propostos. É a tecnologia educacional, suportada pela Teoria Geral dos Sistemas, que oferece a resposta para os problemas assim colocados; ela já havia comprovado sua eficácia nos meios empresariais e na pátria-mãe; bastava portanto, transpô-la para a educação no Brasil. (KUENZER apud MACHADO, 1986, p. 34). A busca pelo aperfeiçoamento da organização necessária ao processo de qualificação profissional decorrente em virtude da demanda da mão de obra que cada vez fluía frente à estrutura econômica de produção mostrava-se necessária diante das relações capitalistas no âmbito da sociedade em expansão, expressa pelas crescentes indústrias que iam surgindo consideravelmente nesse período. Tal processo, como antes mencionado, neste período se mostra com maior concretude, trazendo para a Educação essa concepção advinda do objetivo de estreitar a formação dos sujeitos integrada ao ensino profissionalizante, a fim do alcance de uma maior qualificação para o trabalho a ser desenvolvido nas diferentes áreas específicas em meio às indústrias que estavam sendo consideravelmente implantadas no Brasil em prol do crescimento econômico. Neste sentido Saviani (2007) ao se referir a essa temática traz apontamentos que melhor salientam para essa questão: A adoção do modelo econômico associado-dependente, a um tempo consequência e reforço da presença das empresas internacionais, estreitou os laços do Brasil com os Estados Unidos. Com a entrada dessas empresas, importava-se também o modelo organizacional que as presidia. E a demanda de preparação de mão-de-obra para essas mesmas empresas associada à meta de elevação geral da produtividade do sistema escolar levou à adoção daquele modelo organizacional no campo da educação. Difundiram-se, então, ideias relacionadas à organização racional do trabalho (taylorismo, fordismo), ao enfoque sistêmico e ao controle do comportamento (behaviorismo) que, no campo educacional, configuraram uma orientação pedagógica que podemos sintetizar na expressão “pedagogia tecnicista”. (SAVIANI, 2007, p. 365-367). 28 Mediante ao exposto, fica claro que o ensino passa a sofrer influências do modelo econômico capitalista, uma vez que a escola é considerada uma instituição capaz de contribuir com as metas esperadas para o alcance da melhoria do processo de crescimento econômico, ao ofertar o ensino preparatório para as classes trabalhadoras que seriam inseridas no mercado de trabalho. No entanto, torna-se pertinente a reflexão sobre a prática pedagógica no âmbito dessa Pedagogia Tecnicista, uma vez que, se importava primordialmente a essa concepção o alcance de sujeitos preparados profissionalmente para atender as demandas de mão de obra para as indústrias, como daria a formação integral destes mediante a necessária aprendizagem dos conteúdos curriculares junto ao ensino regular? Havia uma adequação metodológica condizente com a grade curricular proposta, entre teoria e prática? Como era a relação entre professor e aluno mediante essa educação profissional? Como se dava esse processo de ensino? Essas são algumas das questões cabíveis de estudos posteriores em buscas relativas ao processo da história da educação brasileira, uma vez que remete-nos para a possibilidade de novos olhares sobre as práticas e saberes constituídos no Brasil sob a orientação dessa tendência pedagógica. Dentre as indagações, o presente trabalho buscou uma reflexão sobre a possível identificação desta tendência Pedagógica aplicada no âmbito da referida instituição pesquisada, a fim de estabelecer uma relação entre o trabalho desenvolvido mediante o ensino ali ofertado e aprendizagem apreendida pelos ex-alunos que ali perpassaram parte do processo de formação, na qual se pautou a voz ativa dos sujeitos que fizeram parte dessa história, pela pesquisa aqui delineada. 3. PRIMÓRDIOS DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO CONTEXTO EDUCACIONAL E SOCIAL DE ITUIUTABA A história da cidade de Ituiutaba remete ao contexto relativo à área territorial antes habitada por índios Caiapós, que viviam nos arredores deste município. No primeiro momento, de acordo com o historiador Zoccoli (2013), Ituiutaba foi desbravada pelos fazendeiros Joaquim Antônio de Morais e José da Silva Ramos, ambos vindos do Sul de Minas Gerais no ano de 1820. Nessa perspectiva, a ocupação constituiu a origem histórica da construção da cidade, como aponta Silva (2012): 29 Com o decorrer dos anos, a fama do lugar extraordinário atravessou suas fronteiras e com isso a localidade começou a ganhar forasteiros, trabalhadores, comerciantes, professores, padres, intelectuais que vinham de perto ver São José do Tijuco. O arraial foi progredindo e adquirindo novo aspecto, de Vila. [...] Em 1910, Vila Platina recebeu sua primeira escola, o Grupo EscolarJoão Pinheiro, existente até os dias de hoje. Em 1915, Vila Platina foi elevada à categoria de cidade, recebendo o nome de Ituiutaba, oriundo da língua tupi-guarani, cujo significado é “I” (rio), TUIU (Tijuco), “TABA” (povoação, aldeia, cidade), portando – cidade do rio tijuco. O nome, um neologismo ameríndio, foi escolha do então líder político da região, senador e intelectual Camilo Rodrigues Chaves, um dos envolvidos na emancipação político-administrativa da terra tijucana. (SILVA, 2012, p. 59-60). Até os anos de 1950, havia predomínio da educação privada no município de Ituiutaba. A partir de então houve um considerável avanço no sistema de educação pública, ao passo que partir da década de 50 a cidade recebeu a criação de escolas que viriam a promover maiores oportunidades de escolarização para a população que até então anterior há essa década, fora mantida uma restrita oferta de ensino público, e como visto a Escola Polivalente surge em meio a esse processo de instalação de escolas públicas que vinham sendo sucessivamente implantadas na cidade de Ituiutaba. Entretanto, no que se refere à Educação Profissionalizante no contexto histórico de Ituiutaba, Silva (2012) aponta que nos anos de 1930 foram fundadas duas escolas privadas, as quais ao início não tinham a finalidade de ofertar cursos profissionalizantes, porém no decorrer dos anos vieram a ser instaladas. Segundo o referido autor, tais escolas visavam atender os anseios da elite urbana e rural a fim de oferecer a educação para os seus filhos no próprio município, já que o ensino ginasial era inexistente na cidade. A primeira escola a oferecer o ensino profissional, de acordo com Silva (2012), foi o Instituto “Marden”, fundado em 1933, iniciando em 1934 o seu funcionamento com o Curso Primário; em 1935 veio a ter início o Curso Normal e em 1942 o Curso Ginasial. Assim, em busca de atender aos interesses dos jovens que trabalhavam durante o dia, foi instalado no referido Instituto, o Colégio Comercial “Barão de Mauá”, o qual ofereceu os cursos Ginásio Comercial (1º Ciclo) e Técnico de Contabilidade (2º Ciclo). Silva (2012) destaca que “apesar de ser privado e destinado à elite urbana e rural da cidade, o Marden criou e manteve os cursos comerciais para aqueles que não podiam estudar de dia por conta de não terem outro recurso ou forma de se manter, inclusive na 30 escola, senão pelo trabalho”. (SILVA, 2012, p. 62). Este Instituto exerceu suas atividades educacionais até o ano de 1979, quando então veio a ser extinto. A segunda escola a ofertar esse tipo de ensino em Ituiutaba na década de 1930, de acordo com este autor, foi o Colégio Santa Teresa, instituição Confessional, a qual atendia moças em regime de internato e externato, formando-as em Economia Doméstica e Artes, nos Cursos Primário, Ginasial e Normal. Silva (2012) traz que outra escola confessional instalada em 1948, o Ginásio São José, fundado e dirigido pelos padres Estigmatinos, ofertava os Cursos Ginasial e Colegial, bem como os Cursos Profissionais Ginasial de Comércio e Técnico de Contabilidade; este Colégio teve assim seu funcionamento até o ano de 1980. Outra instituição criada no ano de 1956 em Ituiutaba, conforme aponta Silva (2012), foi o Educandário Espírita Ituiutabano, o qual era particular e mantido pela União das Mocidades Espíritas de Ituiutaba (UMEI), bem como mantenedor de cursos primários e ginasiais gratuitos. Assim sendo, após requerimento do Diretor em prol do Colegial de Comércio, em 1963 a instituição foi denominada de “Colégio Comercial de Ituiutaba”, passando a ofertar o Curso Técnico em Contabilidade, de modo que em 1967 foi oficialmente autorizado pelo Diretor de Ensino Comercial, o funcionamento do Curso de Técnico em Contabilidade na referida instituição. Contudo, como já mencionado, a Escola Polivalente, com seu diferencial pedagógico, veio acompanhada também por um modelo arquitetônico advindo para a construção de seu prédio, com todo um planejamento setorial para o desenvolvimento das práticas educativas a serem realizadas no seu interior. É visto que um amplo espaço geográfico foi destinado para a instalação desta escola em Ituiutaba. Podemos refletir a partir dessa perspectiva, que o Colégio Polivalente, antes de tudo se mostrava com o intuito de se apresentar como um diferencial, não apenas ao setor educacional como também ao desenvolvimento cultural e econômico da cidade, uma vez que, os processos advindos das relações econômicas estavam em alta por meio das indústrias que cada vez mais se instalavam no cenário ituiutabano. Tais características influenciaram grandemente as relações econômicas entre as indústrias e a demanda por trabalhadores nos diversos setores técnicos, necessários para a mão de obra especializada. É compreendido neste contexto, que este período do recorte temático aqui delineado, destaca-se como um dos mais fluentes no que diz respeito ao 31 desenvolvimento industrial que a cidade vivia até então, ou seja, as grandes indústrias vieram a se instalar em Ituiutaba, consideravelmente no decorrer da década de 1970: A capital econômica e cultural de uma das mais ricas, prósperas e futurosas áreas do opulento Estado de Minas – Ituiutaba -, está completando 74 anos nesta data. Essa idade pode ser provecta para um homem, que ao atingi-la sente o peso de tantos “janeiros” e traz no rosto a marca de tantos anos vividos. Para Ituiutaba, contudo, ocorre um fenômeno interessante. Quanto mais velha, mais jovem, vaidosa e cativante se mostra. Sempre remoçada, com roupagens novas e se enfeitando como fazem as moças catitas e de requintado bom-gosto. Ituiutaba é assim. Uma jóia de cidade, que sedia o progresso em ritmo galopante. Cidade que cresce rapidamente nos sentidos horizontal e vertical, com u’a média de construção de três e meia casas por dia. No meio do casario, que se estende por todos os lados, cobrindo uma área superior a 20 quilômetros quadrados, destacam-se edifícios de dois, três, quatro pavimentos e se erguem os oito primeiros “arranha- céus”. Novos blocos, de muitos andares, surgirão brevemente, atestando a pujança desta terra e o quanto pode sua gente arrojada e de incomparável espírito empreendedor. (Jornal Cidade de Ituiutaba, 16 de setembro de 1975). Segundo constatações através de documentos locais investigados, nesta década a cidade vivenciou uma grande expansão de progresso, uma vez que recebeu a criação de importantes obras públicas, como o terminal rodoviário, implementação de rodovias e aeroporto, o parque de exposições, bem como de indústrias de porte agrícola, pecuária, pneus, adubos, cerâmicas, dentre outras, destacando-se dentre elas a Nestlé, sendo sua instalação prevista na cidade, já no ano de 1974, a qual se mantém ativamente no mercado de produção da cidade. Em destaque editorial de jornal da cidade referente à tal crescimento industrial: "Já contamos com mais de 200 unidades industriais, incluindo-se é claro, as máquinas de beneficiar arroz". (Jornal Cidade de Ituiutaba, 16- 17/07/1974). Nesta perspectiva, a Escola Polivalente vem a ser implantada em meio a este próspero crescimento industrial em Ituiutaba, a qual perpassava por grandes investimentos que foram efetivados em prol do desenvolvimento econômico, sendo um fator primordial para novas possibilidades do crescimento do mercado de trabalho, ao passo que as atividades industriais buscavam se expandir neste município: Novas indústrias estão se implantando, entre elas a maior fábrica de leite em pó da América Latina e 15a da Cia. Nestlé, a ELDORADO – Indústria de Plásticos Ltda., a Cerâmica Tamoio, todas no setor industrial-nortede nossa cidade. Estas se somam às numerosas indústrias em funcionamento, dando-nos a certeza de que a industrialização em marcha não sofrerá solução de continuidade. 32 Todos os setores de nossa comuna estão em pleno desenvolvimento. Indústria, Comércio, Educação, Ensino Superior, Saúde, Comunicação, Transportes, Assistência, Artes, Esportes, Diversões, Turismo, etc., em notável expansão e melhoria. (Jornal Cidade de Ituiutaba, 16 de setembro de 1975). Deste modo, é visto que a escola se colocava como um avanço a ser conquistado no setor educacional, como também na contribuição a ser alcançada no desenvolvimento sócio cultural e econômico; tais objetivos, nesta perspectiva por certo, traziam muitas expectativas aos moradores de Ituiutaba, uma vez que a escola se mostrava com um diferencial desde sua arquitetura, comparando-a com as demais escolas da rede pública da cidade daquele momento. 4. A ESCOLA POLIVALENTE DE ITUIUTABA: ORIGEM DO SEU PROCESSO CONSTITUTIVO 4.1 A criação A história de uma instituição escolar não se restringe apenas ao seu fazer burocrático, pedagógico e prático, mas vai muito além disso, uma vez que todas as relações que a envolvem são advindas de processos interativos entre os atores que a compuseram em determinado período. Com o intuito de descrever o processo constituinte da Escola Polivalente de Ituiutaba, esta segmentação busca apresentar alguns dos importantes aspectos advindos do seu desenvolvimento, respaldando-se em análises de fontes composta por Histórico e Regimento Escolar, Livro de Exercício e Posse de professores e funcionários e jornais do contexto pesquisado, bem como de entrevistas com ex-diretor, professores, alunos e funcionários, através das quais foi possível obter consideráveis informações sobre as práticas cotidianas que permearam o interior desta instituição. Em meio a este contexto histórico, a cidade de Ituiutaba recebe assim, através do PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio) em convênio com o Estado, a implantação da Escola Estadual Polivalente “Antônio Souza Martins”, situada em área central desta cidade. No entanto, esta Escola trazia um diferencial que a distinguia das demais escolas também implantadas neste período: a proposta de ensino curricular, bem como as metodologias aplicadas no processo de ensino e de aprendizagem aos alunos. 33 Mediante pesquisa documental da referida instituição, pôde-se constatar através do seu Histórico, que esta teve sua instalação no ano de 1971, por meio do disposto na Lei nº 5.760/71, sob o Artigo 76, inciso X da Constituição do Estado, o qual dispõe da criação das 26 (vinte e seis) Escolas Polivalentes implantadas no país, em decorrência do convênio celebrado em 1970, entre a União, representada pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC- através do PREMEM, e o Estado de Minas Gerais. As Escolas Polivalentes como consta no referido documento foram pensadas minuciosamente através de estudos que foram realizados pela EPEM - Equipe de Planejamento do Ensino Médio, ao se buscar partir para uma concepção de escola polivalente e totalmente sintonizada com a realidade brasileira; sendo também ressaltado neste documento (1987) que as Escolas foram ao início definidas como Ginásios, estando naquele momento denominada "Escola Polivalente". Este marco constituinte ficou estabelecido por meio do Decreto Nº 16. 654, de Outubro de 1974, de Criação das Escolas Polivalentes de 1º Grau, como demonstra a parte descrita do referido documento abaixo: DECRETO N 16.654, DE OUTUBRO DE 1974 Cria Escolas Estaduais de 1 Grau. O governador do Estado de Minas Gerais, no uso da atribuição que lhe confere o artigo 76, inciso X, da Constituição do Estado, e tendo em vista o que dispõe o artigo 3º da Lei nº 5.760, de 14 de setembro de 1971, decreta: Art. 1º - Ficam criadas 26 (vinte e seis) Escolas Estaduais de 1º Grau – 5ª. a 8ª série – construídas, na terceira etapa, em decorrência do convênio celebrado, aos 19 de fevereiro de 1970, entre a União, representada pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC – através do Programa de Expansão e Melhoria do Ensino – PREMEM – e o Estado de Minas Gerais, aprovado pela Resolução nº 925 de 27 de maio de 1970, da Assembléia Legislativa, nas cidades de Araxá, Campo Belo, Caxambu, Corinto, Conselheiro Pena, Curvelo, Diamantina, Frutal, Guaxupé, Juiz de Fora, Itabira, Itajubá, Itaúna, Ituiutaba, Mantena, Monte Carmelo, Nova Lima, Muriaé, Oliveira, Paracatu, Poços de Caldas, Sabará, Santos Dumont, S. João del-Rei, S. João Nepomuceno e Três Corações. [...] Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, aos 15 de outubro de 1974. Rondon Pacheco 34 4.2 O prédio (espaço físico) Neste sentido, essa Escola se mostrou à população tijucana como uma nova expectativa de instituição pública que viria ser instalada na cidade, sendo já considerada uma Escola Modelo, a qual viria possibilitar um ensino de qualidade aos alunos que ali a adentrasse para os estudos. A futura implantação desta instituição, como constatado em acervo histórico, foi consideravelmente anunciada em jornal da cidade quando ainda se encontrava em processo de construção: "O Ginásio Polivalente será sem sombra de dúvidas, uma nova arrencada de Ituiutaba no setor educacional e haverá de contribuir muito para com o nosso desenvolvimento sociocultural e econômico. (sic)" (Jornal de Ituiutaba, 4 de novembro de 1973). Figura 1: Notícia sobre a inauguração do Polivalente Fonte: Acervo Cultural do Município Em outra matéria jornalística, revela-se que a instituição escolar era ansiosamente aguardada pela comunidade local, carente de oportunidades educativas: A instalação do Polivalente é de grande significação para nossa comuna. É a concretização de um ideal, para a qual contribuíram a administração anterior e a atual e os homens do governo ligados ao 35 setor da instrução pública. Ela virá a ajudar a resolver um dos grandes problemas de nossa terra, qual seja o da falta de vagas para todos os que desejam estudar. (Jornal de Ituiutaba, 21 de agosto de 1974). A Escola Polivalente foi deste modo instalada na Rua 18 entre Avenidas 31 e 33, atendendo inicialmente aos alunos da 5ª a 8ª séries do 1º Grau. É possível identificar a partir de sua arquitetura a ampla construção destinada a suas atividades, bem como ao espaço de sua área física. Neste sentido, a construção dessa Escola se constitui em um avanço de modernidade educacional da época, uma vez que esta apesar de contar com todas essas especificidades era pública e visava atender aos anseios da comunidade tijucana por mais oportunidades de escolarização, especialmente na esfera pública. Mediante documentos consultados, é possível observar o registro da planta da área compreendida pela Escola Polivalente, pela qual se pode notar os espaços interno e externo da mesma. Figura 2: Desenho da planta da Escola Polivalente Fonte: Acervo da Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente É visível a identificação das partes constituintes do espaço da Escola Polivalente, bem como de suas respectivas áreas externas, compostas por jardins frontais e laterais, estacionamento, campo de futebol, duas quadras pararelas, pista de atletismo e o espaço reservado às atividades de Práticas Agrícolas. 36 Para a construção do Colégio Polivalente, o estilo empregado foi alvenaria (tijolo laminado), de acordo com o constatado, este foi inaugurado com todas as dependências citadas acima, ou seja, com todosos setores já finalizados e em condições de funcionamento. Inauguração da Escola Polivalente Deverá ser inaugurada no próximo dia 02 de setembro, a Escola Estadual Polivalente de Ituiutaba. Os pavilhões e praça de esporte já estão concluídos. O mobiliário, material didático, etc. deverão chegar a qualquer momento. (Jornal Cidade de Ituiutaba, Agosto de 1974) Em relação ao mobiliário, a partir do “Manual de Equipamento” contido no acervo da escola foi possível ter o conhecimento das áreas sob as quais esses materiais eram planejados e organizados a fim de serem equipados nas Escolas Polivalentes. Segundo consta neste documento, este tinha por finalidade apresentar a distribuição do “Mobiliário e Equipamento Escolar” pelos Ambientes e Unidades Espaciais que compunham uma Escola Polivalente, os quais se caracterizavam pela oferta do ensino de 1º Grau de 4 séries (5ª a 8ª) e o ensino de 1º Grau de 8 séries (1ª a 8ª). Desse modo, o livro apresenta detalhadamente as partes acima mencionadas. Como visto pela referência destacada sobre as possíveis diferenças dos mobiliários a serem recebidos pelas distintas áreas de atividades que seriam desenvolvidas nesses dois níveis de ensino nessas escolas, havia a distinção de acordo com modelo arquitetônico sob sua estrutura de ensino: Vale assinalar que nem todos os Ambientes e Unidades Espaciais são encontrados, obrigatoriamente, na Escola Polivalente de 4 séries (5a. à 8a. Série), dependendo a sua existência do projeto arquitetônico relativo a cada modelo. (PREMEM, Manual de Equipamento, 1974). Foi possível também verificar a listagem de espaços prescritos neste documento, para os Ambientes e as Unidades Espaciais em um número total de 84 setores, destacando-se entre estes as áreas destinadas para as atividades com o trabalho de práticas esportivas, agrícolas, jardins, biblioteca, cantina, laboratórios, salas diversas para o trabalho pedagógico, sanitários, vestiários, zeladoria, dentre outros. Deste modo, o Mobiliário e Equipamento Escolar destinados as Escolas Polivalentes se caracterizavam pelos modelos arquitetônicos que estas possuíam mediante o ensino ofertado. A Escola Polivalente pesquisada, como constatado, recebeu o seu mobiliário 37 no ano de 1974, pelo Programa de Expansão e Melhoria do Ensino – PREMEM, mediante o Termo de Exame e recebimento do Mobiliário e Equipamento Escolar. 4.3 O Currículo O Colégio Polivalente, deste modo iniciou suas atividades no ano de 1974 sendo o ensino ofertado aos estudantes da 5ª à 8ª séries do 1º Grau, sendo a partir do ano de 1984 implantado também o ensino de 2º Grau- 1º, 2º e 3º anos. O ensino assim decorria de um currículo desenvolvido sob planejamento específico, visando à formação integral do aluno com disciplinas regulares, bem como a formação profissional técnica a partir de conteúdos diversificados e aulas práticas que seriam realizadas em espaços adequadamente organizados, em salas e laboratórios que abrangessem o aparato necessário à aprendizagem, como os mobiliários e recursos de materiais usados por alunos e professores. Tendo, portanto em vista a implantação do ensino técnico profissionalizante nesta instituição, referente ao seu Cronograma Curricular, podemos vê-lo como constatado, organizado em seus conteúdos específicos em Núcleo Comum e a Parte Diversificada; estando as atividades de Preparação para o Trabalho integradas a estas dentro de uma carga horária prevista e sob a forma de aprimoramento ao trabalho. Mediante o Currículo da Escola Polivalente relativo ao ensino de 1 Grau, as disciplinas eram organizadas pelas matérias em suas áreas de estudos, estando estas assim prescritas: Parte do Núcleo Comum: “Comunicação e Língua Portuguesa – Língua Portuguesa e Educação Artística; Estudos Sociais – Geografia e O. S. P. B, História, Educação Moral e Cívica e O. S. P. B; Ciências - Ciências F. B. Programa da Saúde, Matemática, Geometria e Desenho; Educação Física; Ensino Religioso”. A Parte Diversificada era composta por: “Culturas Regionais - Jardinagem e Fruticultura; Artes Gráficas e Manugráficas – Cerâmica, Couro, Vidro, Madeira e Cortiça, Eletricidade; Atividades de Escritório – Bancária, Comerciais, Mecânografia e Datilografia; Economia Doméstica – Decoração e Habitação, Puericultura; Nutrição e Dietética; Língua Estrangeira Moderna (Inglês)”. Como pode-se observar na imagem do currículo a seguir: 38 Figura 3: Currículo das disciplinas que compunham o 1º Grau Fonte: Acervo Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente (1974). A cidade de Ituiutaba recebera assim uma nova forma de modelo educativo, ou seja, uma escola projetada para um ensino diferenciado dos demais Currículos, já que a prática pedagógica seria integrada ao ensino profissionalizante vinculada às demais disciplinas da Grade Curricular do ensino regular. Como pode ser visto, a carga horária referente às disciplinas das partes comum e diversificada contava com uma diferença considerável quanto ao número de aulas, ou seja, para as disciplinas do currículo comum a carga horária se apresentava bem maior que as disciplinas do currículo diversificado destinado as aulas do ensino técnico, já que dentre a carga horária que perfazia um total de 750 h anuais, pode ser identificada uma ênfase maior nas disciplinas do ensino regular. Referente às disciplinas que compunham o ensino técnico profissionalizante, observou-se que há uma maior carga horária destas disciplinas nas duas últimas séries que compunham o ensino ofertado, a 7ª e 8ª séries. Esta Instituição foi assim compreendida no primeiro momento, como já antes mencionado, ao ensino de 1º Grau desde sua implementação no ano de 1974, quando 39 foram iniciadas suas atividades, passando a partir do ano de 1984, a ser ofertado e ensino de 2º Grau. De acordo com o constatado, o ensino de 2º Grau foi bastante desejado pela população tijucana, uma vez que os pais alegavam a necessidade de continuidade dos estudos dos filhos, assim a equipe gestora da escola com apoio de pais e outras instâncias, buscaram meios para a conquista deste nível de ensino. Tal busca pela ampliação do ensino teve destaque em notícia de jornal da cidade, como descrito abaixo em parte da publicação: 2º Grau na Escola Polivalente O Vice Presidente da Câmara Municipal, vereador H. D., procurando traduzir as aspirações da Direção, do seleto Corpo Docente, da Secretaria, de Funcionários e, sobretudo, dos Srs. Pais e dos jovens alunos da tradicional Escola Polivalente de Ituiutaba, no sentido de dotar, o quanto antes e com a máxima urgência aquele modelar estabelecimento de ensino do 2º Grau, solicitou na reunião da edilidade tijucana, fosse enviado ofício ao secretário da Educação de nosso Estado, objetivando a materialização do assunto em tela, tendo o Requerimento daquele edil e que, professor que por longos que é e pai de alunos matriculados no Polivalente, sente na própria carne a falta que está fazendo o curso de 2º Grau naquele estabelecimento de Ensino. [...] Naquela oportunidade o vereador H. D. lembrou à casa Legislativa que, dotando nosso Polivalente de 2º Grau, sua metodologia educacional não sofrerá solução de continuidade, ou seja: os alunos do Polivalente, ao lado de uma esmerada educação recebida e reforçada pela ação atuante e bem atualizada de suas Orientadoras e Supervisoras, também são preparados para uma profissão, cujos parâmetros são as vocações diversificadas e respeitadas de cada um de seus alunos individualmente, devendo-se todo esse sucesso formativo daqueles jovens estudantes à presençaamiga, humana, firme, filosófica-moral e sobretudo idealista de seu Diretor, Profº. S. N. (Acervo Cultural do município. Jornal Cidade de Ituiutaba, 23 de outubro de 1980). E diante das aspirações para o ensino de 2º Grau nesta escola, o mesmo foi contemplado posteriormente, como mencionado no ano de 1984. Como constatado em seu Regimento: Adendo ao Regime Escolar Em atendimento à publicação do Diário Oficial do Estado de Minas Gerais de 07-02-84, página...coluna...quando do ato de aprovação prévia da Escola Estadual "Antônio Souza Martins" de 1º e 2º graus, o regimento da referida Escola sofre as seguintes modificações: 2 - Da identificação da Escola. 2.1 - Ato de Criação: Decreto 16.654 de 15-10-74 e Ato de Criação do 2º Grau: Decreto 23.416 de 07-02-84. [...] 40 O Plano Curricular da escola referente ao ano de 1984, como pesquisado, consta que as disciplinas da Educação Regular referente aos Conteúdos Específicos era composta por áreas de ensino que se subdividiam em cinco, sendo estas: Comunicação e Expressão - Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Educação Artística, Educação Física, Língua Estrangeira Moderna (Inglês); Estudos Sociais - Geografia e Educação Moral e Cívica, História, Educação Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil, Ensino Religioso; Ciências - Matemática, Física, Química, Biologia e Programa da Saúde. A Parte Diversificada era composta pelas disciplinas: Biologia e Programa de Saúde. Segundo nota de observação contida no documento, as atividades de Preparação para o Trabalho seriam integradas aos programas do Núcleo Comum e da Parte Diversificada, dentro da carga horária prevista para os mesmos e sob a forma de aperfeiçoamento ao trabalho. Figura 4: Currículo das disciplinas que compunham o 2º Grau Fonte: Acervo da Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente. 41 Nesse sentido, ao compreendermos as práticas advindas do trabalho pedagógico integradas ao currículo, podemos melhor refletir sobre a proposta do ensino ofertado mediante as práxis efetivadas. O pesquisador pode estabelecer a conexão objetiva entre as particularidades da escola e a sociedade, a partir do levantamento e da análise de qualquer dado empírico (documentos, fotografias, plantas, cadernos, livros didáticos etc.), mas, dada nossa experiência, acreditamos que os procedimentos mais adequados para alcançar esse objetivo metodológico são a análise das trajetórias dos alunos, ex- alunos e docentes, bem como a análise dos conteúdos e das metodologias utilizadas na instituição estudada. Em outras palavras: é essencial indagar a origem social e o destino profissional dos atores de uma instituição escolar para se definir o sentido social da mesma; assim como é essencial analisar os currículos aí utilizados para se compreender seus objetivos sociais. (NOSELLA; BUFFA, 2005, p. 5074). 4.4 Quadro com relação dos docentes (1976-1985) Como constatado no livro de “Posse e Exercício” do Acervo da Escola Polivalente no qual se encontra o registro datado da entrada dos profissionais referente aos “termos de Posse e Exercício do pessoal nomeado, enquadrado, reenquadrado ou removido para o referido estabelecimento de ensino” (Ituiutaba, setembro de 1976), a partir do ano de 1976, restringindo-se ao ano de 1985, considera-se que houve um bom número no quadro dos profissionais que estiveram inseridos no interior dessa instituição, como professor (a), supervisor pedagógico, orientador educacional, inspetor de alunos, servente, serviçal, auxiliar de secretaria e auxiliar de biblioteca. É possível identificar através das tabelas que seguem abaixo, a relação das Posses registradas no recorte temático aqui delineado: 42 Tabela 1- Relação geral do número de Posse dos profissionais da Escola Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício verificado por gênero (1976-1985) Função Feminino Masculino Total Supervisoras Escolar/ Pedagógico 02 - 02 Orientadoras Educacionais 05 - 05 Docentes 47 24 71 Inspetores de alunos 01 01 02 Serventes 05 01 06 Serviçais 02 - 02 Auxiliares de Secretaria 06 - 06 Auxiliares de Biblioteca 03 - 03 TOTAIS 71 26 97 43 Tabela 2 – Relação específica anual do número de posses dos profissionais da Escola Polivalente de acordo com o livro de Posse e Exercício (1976-1985) É visto mediante o recorte temporal do referido documento, especificadamente ao quadro de professores, a existência de um significativo percentual em relação a questão do gênero, ou seja, a maioria dos (as) docentes que atuaram no Polivalente neste período determinado, constituía-se por professoras; uma vez que sob o total de 71 contratados, havia 47 professoras e 24 professores, com vista aproximadamente de 66% de diferença quanto às professoras em relação aos professores. Entretanto é necessário considerar também que alguns desses professores no decorrer do tempo específico contaram com novas contratações mediante processos seletivos, fato que não será aprofundado nesta contextualização. Ano Supervisor Escolar/ Orientador Educacional Nº de Posse Professora/F Professor/M Inspetor de alunos Servente Serviçal Auxiliar de Secretaria Auxiliar de Biblioteca 1976 1 Supervisor Pedagógico F - 7 M - 5 = 12 1977 F - 3 M - 4 = 07 1 1979 1 Orientador F - 3 M - 2 = 05 1 1980 F - 1 M - 1 = 02 1981 F - 15 M - 4 = 19 1 5 1982 1 Supervisor Pedagógico- 2 Orientadores Educacionais F - 6 M - 5 = 11 1 1983 F - 7 M - 2 = 9 1984 F - 5 6 3 1985 2 Orientadores Educacionais M - 1 1 44 Todavia, a questão do gênero 7 remete para a importância da reflexão sobre a atuação do professor no contexto histórico educacional, uma vez que a atuação profissional no magistério foi primeiramente perpassada pela atuação do gênero masculino, sendo aos poucos modificada por razões socioeconômicas e culturais que foram sendo estruturadas no âmbito educacional. Nessa perspectiva, Soares (2008) aponta que foram surgindo vários aspectos para que a carreira docente masculina no Magistério fosse sendo aos poucos superada pelo gênero feminino; tais aspectos segundo a referida autora, dizem respeito a questões relativas à própria condição econômica salarial, bem como ao crescimento do número do gênero feminino que adentrou as Escolas Normais, uma vez que houve nesse contexto a oferta do ensino público secundário para a formação de professoras e assim a partir de então a classe feminina foi se inserindo na carreira docente, acarretando deste modo a feminização mais acentuada desta profissão: Para que se compreenda o trabalho docente atual, é de extrema relevância compreender e refletir historicamente sobre o início da feminização dessa profissão. Michael Apple (1998) foi o primeiro a definir a categoria de gênero como um elemento indispensável para a compreensão do trabalho docente. Para o autor, classe, sexo e ensino são indissociáveis. O autor sugere que o magistério feminino está diretamente relacionado a “um processo de trabalho articulado às mudanças, ao longo do tempona divisão sexual do trabalho e nas relações patriarcais e de classe” (SOARES, 2008, p. 3 apud APPLE, 1998, p. 15). Neste sentido, compreende-se que a questão do gênero relativa à profissão docente pode ser entendida a partir de processos advindos e permeados por relações e mudanças em meio a sociedade, as quais se constituíram historicamente sob os aspectos socioculturais, políticos e econômicos e foram sendo reconstruídas na esfera social e educacional. 7 Para entender tal processo concorda-se com as colocações de Almeida (1998), que afirma que a atribuição do desprestígio da profissão ao “sexo” do sujeito, se constitui num discurso que contribui para a desvalorização da profissão docente. Tal conotação apresenta uma forma contraditória, pois no início a docência era uma função realizada sumariamente por homens. Então podemos inferir que sua desvalorização antecede à feminização. Inicialmente, eram os homens que freqüentavam em grande maioria o magistério. Mas, aos poucos essa situação ia mudando em decorrência de salários diminutos e a presença de mulheres que aceitavam esses parcos rendimentos, se tornou maciça nas escolas normais. Esse fenômeno foi registrado em todas as Províncias do Brasil. (SOARES, 2008, p. 1). 45 4.5 Memórias dos Sujeitos Históricos 4.5.1. Docentes A Escola Polivalente, desde o início de suas atividades, em sua singularidade, contou com professores que demonstraram ter se dedicado intensamente ao processo de consolidação do ensino na instituição. No período aqui delineado, os professores que tiveram participação nesta pesquisa partilharam de lembranças e vivências compreendidas através de suas práticas desenvolvidas no âmbito educacional junto aos que coletivamente construíram parte dessa história no tempo em que atuaram no Polivalente. Neste intuito, para a presente pesquisa, contou-se com a participação de quatro ex-professores - três professores e uma professora. A partir dos depoimentos dos ex- professores, foi possível a reflexão sobre os significados construídos em meio as suas práticas experenciadas junto aos alunos, podendo também ser vista a consideração desses profissionais ao terem sido partícipes do processo histórico educativo de boa parte da população tijucana. Sendo assim oportuno uma breve contextualização relativa ao perfil de cada um dos entrevistados. Valter 8 iniciou seus estudos no Grupo Escolar São José em Santa Vitória, concluindo nesta cidade até a 8ª série, após concluiu o 2º Grau na Escola Técnica Federal na cidade de Uberlândia e posteriormente fez o Curso Superior na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, sendo este o Curso de Formação de Professores promovido pela SEE, MEC e PREMEM; esse Curso de acordo com o professor visou formar Profissionais para atuarem nas Escolas Polivalentes. Ao falar sobre sua vida acadêmica, o Professor Valter relata que começou sua carreira como professor aos 18 anos e sempre gostou de Matemática, sendo esta sua área preferida; ele relembra que dentre professores que deixaram marcas em sua vida foram um professor de Matemática e um de Ciências, já que estas eram as áreas com as quais ele mais se identificava. Antes de iniciar seu trabalho na Escola Polivalente de Ituiutaba, o Professor Valter relatou que lecionou na Escola Polivalente da cidade de 8 O professor Valter nasceu no ano de 1953 na cidade de Santa Vitória - MG, onde viveu sua infância no sítio de propriedade da família, junto aos pais e aos seus 10 irmãos. No sítio ele brincava e trabalhava ajudando seus pais com os afazeres da fazenda, como também estudava. Ele colocou que sempre teve o apoio da família, não ocorrendo nenhum obstáculo durante o período de seus estudos. Durante o tempo em que residia nesta cidade, trabalhou no comércio até se mudar para outra localidade a fim de dar continuidade aos estudos. Casou-se e teve um filho, o qual está no momento em Formação Superior na Universidade Federal de Uberlândia. 46 Caxambú, posteriormente veio para esta cidade na qual exerceu sua profissão docente na Escola Polivalente até se aposentar, no período de 1974 até 2007. O seu processo de contratação nesta escola, segundo ele, se deu por meio de seleção através de vestibular, mediante sua formação no Curso de Licenciatura para Formação de Professores destinado aos profissionais que atuariam nas Escolas Polivalentes, realizada na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, na qual se especializou na área de Práticas Agrícolas. A escola segundo ele, contava com uma Gestão participativa, já que Diretor, Vice, Supervisão, Orientação, Professores e Serviçais trabalhavam sempre em conjunto, mantendo uma boa relação com todos da escola. Quanto ao aspecto físico do Polivalente na época em que atuou nesta escola, ele relatou que este era excelente, capaz de atender alunos e professores em todos os aspectos, uma vez que contava com uma ampla estrutura tanto no ambiente interior, com salas e laboratórios adequados ao trabalho pedagógico, quanto ao ambiente exterior, o qual contava com vasta área para as práticas efetivadas com os alunos, como a sua disciplina de Práticas Agrícolas, a qual no momento das aulas práticas era realizada no espaço específico destinado às mesmas, como também quadras de esporte, dentre outros. Ele relatou que a escola contava com uma grande demanda de alunos e era muito procurada pela população tijucana, segundo ele, vinham muitos filhos de fazendeiros da região estudar no Polivalente, como também alunos de famílias tradicionais da cidade. Sobre o perfil destes, na maioria, em sua consideração quanto o nível socioeconômico, estava no nível da classe média. Segundo o Professor, não havia casos de evasão desses alunos e quanto a transferências, estas ocorriam apenas por motivo de mudança de família, já que quem começava na 5ª série sempre terminava o curso que abrangia até a 8ª série. A distribuição das vagas era organizada de modo a preencher o número correspondente ao que a escola ofertava: “existiam na época 400 vagas por turno para as 4 áreas de atuação – Agrícolas, Comerciais, Industriais e Educação Para o Lar. Havia exame de seleção para todos os alunos”. (VALTER, 2015) De acordo com este professor, o qual atuou nesta escola como professor de Práticas Agrícolas e Matemática, ao se referir sobre o ensino de 1º Grau 9 - 5ª a 8ª séries, 9 Referente às disciplinas que compunham o Currículo do 1º Grau das áreas de ensino do Polivalente neste período, foram destacadas pelo Professor Valter respectivamente: Matérias Acadêmicas- Português, 47 ele relata que o Polivalente contava com a oferta de 800 vagas, sendo estas divididas nos períodos em que a Escola atendia- matutino e vespertino – 400 vagas em cada turno, contando assim com 10 turmas de 40 alunos em cada turno, de modo que as áreas do ensino profissionalizante eram distribuídas em quatro (4) integradas ao ensino regular: Práticas Agrícolas, Práticas Comerciais, Práticas Industriais e Educação Para o Lar. No decorrer da 5ª e 6ª séries os alunos perpassavam pelas quatro áreas do ensino profissionalizante, ou seja, a cada semestre os alunos estudavam uma dessas áreas, e ao adentrarem a 7ª série, escolhiam a área com a qual mais se identificavam, dando continuidade na área escolhida sob a 7ª e 8ª séries. Neste sentido, os alunos já eram orientados a refletirem sobre a possível vocação profissional, ou seja, a escola propiciava ao aluno a se conhecer e se identificar com as ramificaçõespropostas pelos cursos integrados ao ensino que este aluno freqüentava no decorrer de sua formação nas quatro séries abrangentes nesta escola. De acordo com este professor, sua área de atuação no Polivalente de Ituiutaba nas áreas que compunham o ensino integrado era Técnicas Agrícolas; segundo ele, as suas aulas sempre aconteciam de forma dinâmica e com uma considerável participação dos alunos. Assim, como relatado, durante as suas aulas ele sempre estava em movimento na sala e não tinha o costume de ficar sentado, mas buscava o diálogo a todo o momento entre o que estava sendo ensinado e aprendido pelo aluno, segundo ele, teve casos de alunos virem procurá-lo posteriormente para lhe falarem sobre a continuidade dos estudos e para lhe agradecer pela atenção e pelo ensino disponibilizado nas aulas, como o caso de um ex-aluno que em determinado dia o procurou na escola para lhe falar que estava fazendo o Curso de Medicina, dentre outros. Quanto a rotina das aulas, ele apontou que embora trabalhasse o mesmo conteúdo teórico com as diferentes turmas, ele sempre contextualizava variando os tipos das abordagens, buscando interagir com os alunos de modo a fazer com que eles se interessassem pelo exposto e assim pela participação mediante uma aprendizagem significativa: “sempre gostei de quebrar essa rotina a cada aula”. (VALTER, 2015). Matemática, Ciências, História, Geografia, Organização Social e Política do Brasil – O.S.P.B., Inglês, Desenho Geométrico, Geometria, Educação Moral e Cívica, Educação Religiosa. Matérias Práticas – Técnicas Agrícolas: Técnico agrícola, Agronomia, Veterinária, Engenharia florestal e outros. Técnicas Comerciais: Contabilidade, Administração, Ciências econômicas e outras. Técnicas Industriais: Engenharia industrial, Engenharia elétrica e outras. Educação Para o Lar: Nutrição, Fisioterapia e outras. 48 Em seu depoimento, o Prof. Valter (2005) destacou que ainda mantém contato com alguns ex-alunos, quando estes o encontram na rua, sempre o procuram para conversar e relembrar um pouco da época em que estiveram juntos na escola, já que na relação entre professor e alunos houve a construção de um vínculo de amizade que permanece vivo entre eles. Dentre os alunos, ele ressalta o conhecimento de alguns que deram continuidade aos estudos e são formados em medicina, veterinária, agronomia, etc. Ao se referir sobre o contexto político educacional da época e suas considerações sobre as influências da política na escola, ele aponta que estas influências sempre estiveram presentes no meio educacional: “a política sempre teve interferência sobre a educação. São várias as formas em que a política interfere: preparação de professores, currículos, carga horária, salários, etc., naquela época as normas eram cumpridas conforme queria o Governo.” (VALTER, 2015) Como vimos anteriormente, a repressão forçava a adesão aos programas que o governo federal impunha a população neste período em que várias medidas foram dimensionadas nas esferas sociais, como também na educação, ao ser priorizada como meio de integração aos interesses da economia industrial. Sobre sua consideração no tempo em que atuou no Polivalente, ele ressalta que foi um período em que aprendeu junto aos seus alunos e como antes mencionado, continua ainda sendo muito querido por vários ex-alunos que o encontram, pois, segundo ele: “A docência é o maior aprendizado para o ser humano. Nas faculdades aprendemos as matérias acadêmicas. Na relação com os alunos de diferentes idades, aprendemos a ser gente cada vez melhor”. (VALTER, 2015) Mariana 10 iniciou seus estudos no Colégio Santa Tereza, no qual concluiu até a 4ª série, indo morar posteriormente na cidade de “São Sebastião do Paraíso”, estudar interna em um Colégio de Freiras, concluindo neste, parte da 8ª série, quando o internato fechou, regressando deste modo a Ituiutaba e voltando a estudar no Colégio Santa Tereza, onde fez o Curso Normal. Após, Mariana foi para Uberlândia fazer Faculdade de Artes - Curso de Desenho e Artes. Posteriormente retornou a Ituiutaba e graduou-se em Complementação Pedagógica, Pós-Graduação em Supervisão, Inspeção, 10 A professora Mariana nasceu no ano de 1952 na cidade de Ituiutaba- MG, onde viveu sua infância junto aos pais e seus 10 irmãos, já que perdeu três quando crianças, totalizando deste modo 14 irmãos, assim ela relatou que brincava e ajudava a cuidar dos irmãos mais novos. Estudou no Colégio Santa Tereza até a 4ª série, o qual se localizava bem próximo à sua casa, prosseguindo posteriormente seus estudos em outra localidade. Atuou no Polivalente de 1983 até o ano de 1985 quando saiu e tirou o LIP – Licença para Tratar de Interesses Particulares - para ir para fora do país. Casou-se e não teve filhos. 49 Gestão Escolar e Orientação. Atuou no Polivalente de 1983 até o ano de 1985. Nasceu no ano de 1952 na cidade de Ituiutaba- MG, onde viveu sua infância junto aos pais e seus 10 irmãos, já que perdeu três quando crianças, totalizando deste modo 14 irmãos, assim ela relatou que brincava e ajudava a cuidar dos irmãos mais novos. Estudou no Colégio Santa Tereza até a 4ª série, o qual se localizava bem próximo à sua casa, prosseguindo posteriormente seus estudos em outra localidade. De acordo com o depoimento da Professora Mariana, ela sempre teve o apoio dos pais para prosseguir com seus estudos. Começou a atuar profissionalmente em Uberlândia como professora quando estava fazendo faculdade de Artes com a idade de 20 anos. Após concluir sua graduação retornou à Ituiutaba e começou a lecionar em escolas estaduais, dentre estas o Polivalente, sendo sua área de atuação Práticas Industriais. A professora relatou que o processo de seleção para sua entrada no Polivalente foi por contrato, tendo como requisito a apresentação da escolaridade, ou seja, do Curso de Graduação exigido para a área a ser ministrada. Ao se referir sobre sua entrada nesta escola ela aponta que: Quando comecei a trabalhar na Escola Polivalente, não encontrei nenhuma dificuldade, era uma relação muito boa, era um pessoal amigo, na época, tinha o Valter, o Valter todo extrovertido, nós éramos parceiros, ele trabalhava com a metade da turma e eu com a outra metade, ele trabalhava com Práticas Agrícolas... teve outros professores que eu dividi a turma na Educação para o Lar, eu não me lembro o nome dos professores, mas o Polivalente era muito assim, o pessoal era muito amigo, muito legal... (MARIANA, 2015). Ao falar sobre a relação com a Gestão da escola, a Professora Mariana relatou que esta era sempre participativa e se interagia bem com os professores e demais da escola; segundo ela, a sua relação com os colegas de trabalho era legal, ainda tem contato com alguns deles, bem como sua relação com os funcionários, uma vez que ainda ao encontrá-los fica feliz porque ficou guardada uma amizade que foi construída naquela instituição. Em relação a situação física do Polivalente na época em que atuou como professora, ela relata que tinha tudo que era necessário no espaço físico, de modo que ela considera ainda permanecer conservado o espaço dessa escola no atual momento, já que o mesmo não sofreu grandes modificações. 50 Segundo o depoimento da Professora Mariana, embora ela fosse formada em Artes e assim trabalhasse na área de Práticas Industriais, havia alguns materiais que exigiam maiores conhecimentos, como habilidades em algumas máquinas, o que foi sendotrabalhado e apreendido gradualmente junto aos alunos: No Polivalente eu lecionei Artes Industriais, embora não tinha a especialização da Arte Industrial... trabalhávamos com argila...com argila os alunos trabalhavam com a alma, com a sensibilidade; os vasos eram feitos na máquina, eram peças criativas e decorativas, lembro-me que os alunos faziam vasos em forma de orelha, nariz, eles criavam as peças.., com sisau os alunos faziam suporte para plantas, trabalhavam com moldura de espelho, lá eles trabalhavam muito com couro – molhava-se o couro, frisando o trabalho artístico, fazíamos também carteiras com o couro, bancos...trabalhávamos com cerâmica, madeira, entalhe, os alunos fizeram vários banquinhos usando o entalhe, suportes de vasos trançados com sisau... O entalhe é feito na madeira com formão, os meninos assim gostavam bastante, e o entalhe para ser feito depende de muita habilidade, muita paciência, para ele ficar bonito tem que trabalhar muito, aproveitar a veia da madeira, lixar muito bem lixado para dar um acabamento bonito... então eles faziam, eles gostavam, faziam quadros...Na minha aula quem gostava, gostava, quem não gostava, aprontava, mas eu tinha vários alunos que gostavam muito... (MARIANA, 2015). Ao falar sobre as influências da aprendizagem dos alunos mediante as técnicas aprendidas em suas aulas, ela relata ter conhecimento de ex-alunos do Polivalente que prosseguiram estudos e profissões que estão vinculados ao que vivenciaram nas aulas de Artes Industriais: [...] inclusive, eu tive alunos que aprenderam a entalhar, hoje eles tem a profissão de Dentista, Protético, como um que se formou como Protético; ele despertou a sua habilidade quando era aluno do Polivalente, tem outro também, formado em Podologia, no início mesmo ele fazia entalhe na madeira, hoje ele trabalha a parte de “cutículas”, então ele tinha aquela habilidade e aflorou a experiência, dentre outros. (MARIANA, 2015) Foi possível ter o acesso a alguns objetos pessoais da Professora Mariana, os quais ela guarda como lembrança, estes foram construídos junto aos alunos do Polivalente na época em que ela ministrava a disciplina de Artes Industriais, dentre estes, bancos, suporte para vasos de sisau e suporte para chaves de madeira, como demonstra as imagens abaixo: 51 Figura 5: Banco com entalhe em madeira. Fonte: Acervo Pessoal Mariana Figura 6: Suporte para vaso em sisau Fonte: Acervo Pessoal Mariana 52 Como pode ser visto, os trabalhos desenvolvidos pelos alunos demonstraram que a habilidade era algo essencial para a produção artística dos objetos, como a Professora Mariana relata ao falar que “o entalhe na madeira é a arte manual, na qual a pessoa desenvolve a habilidade, a paciência e a intuição... a beleza dele é a execução do trabalho, feito com a alma, é um trabalho longo que exige paciência”. (MARIANA, 2015) A professora ao se referir sobre a organização do número de alunos sob os cursos profissionalizantes relata que a sala de aula era dividida ao meio, com um número aproximado de 20 alunos para cada professor. Segundo ela, as classes eram sempre muito cheias, quanto ao perfil socioeconômico dos alunos, ela considera que a maior parte era da classe média; ela coloca que naquela época “os alunos eram mais comprometidos, mais do que hoje”. (MARIANA, 2015) Ao fazer uma reflexão sobre sua prática, a professora ressalta que é importante ter o gosto pela profissão na qual se atua: “Em toda a minha vida eu lecionei Artes, eu gostei daquilo que eu fazia, sempre gostei de Arte, de fotografar... hoje, recentemente aposentada, continuo com a minha Arte da Fotografia”. (MARIANA, 2015) Helton 11 estudou em uma Escola Rural concluindo nesta até a 2ª série, após mudou-se para a cidade de Ituiutaba para estudar no Instituto Marden onde concluiu a 3ª e 4ª séries. Posteriormente mudou-se com os irmãos para a cidade de Araguari para estudarem em admissão internos no Colégio “Regina Pacis” (Rainha da Paz), no qual estudou cinco anos, voltando a Ituiutaba para fazer o Tiro de Guerra e estudar. Em 1960 os pais mudaram para a cidade e passou a morar com eles. Em 1961 começou a trabalhar no Banco Mineiro da Produção e após passou a trabalhar no Banco de Crédito Real, quando também estudava a noite fazendo o Curso de Contabilidade no Instituto Marden. Quando terminou o Curso de Contabilidade em 1970 iniciou a Faculdade de História na Faculdade do Triângulo Mineiro – FTM e continuou a trabalhar no Banco. Atuou no Polivalente de 1974 até 1993, quando foi trabalhar na Superintendência de Ensino e atuou nesta instituição até se aposentar. 11 O Prof. Helton nasceu no ano de 1941 na cidade de Ituiutaba – MG, sendo que a sua família residia na zona rural. Assim, em sua infância morou na fazenda junto aos pais e aos quatro irmãos - no entanto, ele perdeu dois, estando no presente momento em um número total de três irmãos. Segundo ele, em sua infância brincava, fazia serviços que dava conta e estudava em uma Escola Rural que ficava próxima a sua casa, na qual concluiu até a 2ª série, já que posteriormente ele veio para Ituiutaba estudar no Instituto Marden, concluindo neste as 3ª e 4ª séries, quando posteriormente mudou-se com os irmãos para estudar em outra localidade. Casou-se e teve três filhos, os quais tem como formação profissional: Médico, Advogado e Bióloga. 53 Em seu depoimento, o Professor Helton relatou que sempre teve o apoio da família para continuar os estudos, pois o pai fazia questão que os filhos estudassem. Ao falar sobre um professor que deixou marcas em sua vida, ele lembra-se sobre “o professor da Escola Rural, ele era um espetáculo, sem recurso nenhum ele dava aula maravilhosamente bem”. (HELTON, 2015) Ao referir-se sobre sua carreira como docente, o Professor Helton relatou que começou a lecionar no Colégio São José, onde trabalhou por aproximadamente três anos. Após, no ano de 1974 começou a trabalhar como Professor na Escola Polivalente, tendo atuado também nesta como Vice-diretor, exercendo deste modo suas atividades nesta escola até o ano de 1993. Segundo ele, quando começou a trabalhar no Polivalente, não encontrou nenhuma dificuldade, pois já conhecia os professores e o diretor, uma vez que estes juntos haviam realizado o Curso Superior de Formação de Professores na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG – Curso de Curta Duração. Quanto a situação física da escola, ele relatou que naquela época era espetacular, o prédio e tudo era novo, com toda a estrutura capaz de atender bem os alunos, contando inclusive com um número de 20 banheiros que ficavam em local próximo ao espaço das atividades esportivas, os quais eram usados para os alunos tomarem banho após as aulas de Educação Física, a escola contava também com a presença de um médico e um psicólogo. Quanto a sua contratação profissional no Polivalente, segundo ele, ocorreu através de vestibular, mediante a graduação obtida pelo Curso Superior de Formação de Professores realizado na UFMG, no qual sua área de formação foi em Práticas Comerciais. O Professor relatou que havia muita demanda de vagas na escola; sua consideração quanto o nível socioeconômico dos alunos, é de que esta permeava todas as classes, sendo comum aos alunos darem continuidade aos estudos e assim mantinham a permanência na mesma: “Casos de evasão no Polivalente não eram comuns, reprovação era, mas por falta do aluno estudar, então fazíamos reunião, chamávamos os pais e conversávamos sobre a situação dos filhos”.(HELTON, 2015) Neste sentido, em seu depoimento o Professor Helton relatou que a Gestão da escola procurava sempre participar de modo integrado com todos da escola, e sua relação com esta e seus colegas de trabalho sempre foi muito boa e de respeito. Ao falar sobre sua atuação como vice-diretor, ele colocou que sempre procurou trabalhar com honestidade e clareza mediante as necessidades que surgiam na escola, 54 junto à gestão, alunos, pais e professores, de modo que, diante das ações o diálogo estava sempre presente: “eu era vice-diretor e cuidava da área disciplinar dos alunos, na verdade os professores cuidavam da disciplina dos seus alunos, então em último caso, chamávamos os pais para conversar e para nos ajudar e surtia efeito”. (HELTON, 2015) Segundo ele, os cursos técnicos que compunham o ensino integrado, não eram bem cursos profissionalizantes, mas vocacionais, já que havia diferentes áreas com as quais os alunos podiam se identificar. A área de atuação de Helton como professor no Polivalente foi em Práticas Comerciais; de acordo com seu relato, as aulas eram sempre dinâmicas, os alunos aprendiam na interação com a prática: Minha sala de aula era muito gostosa, era divida em três momentos de atividades práticas: tinha uma “Bomboniere”, de verdade, se comprava e vendia, e os alunos ganhavam salário com o próprio dinheiro que era obtido no decorrer das vendas. Tinha o Banco, os alunos trabalhavam com talão de cheque, tudo como o funcionamento de um Banco mesmo... e uma Escola de Datilografia. Todo o lucro da loja era revestido no salário deles, na Bomboniere a gente mudava a diretoria da loja a cada 15 dias, mudávamos também a diretoria da loja de Datilografia e do Banco, mudávamos tudo. Quanto a rotina das aulas, lá no Polivalente os professores não mudavam de sala de aula, os alunos é que mudavam; os alunos tinham 5 minutos para mudarem de sala na troca de horários. Os alunos interagiam muito nas minhas aulas; na minha área os próprios alunos cuidavam da organização da sala e dos materiais. (HELTON, 2015) A partir dessas aulas que aconteciam de modo prático e dinâmico, o referido professor relatou que os alunos se sobressaiam mediante as aprendizagens, como no caso de três ex-alunos do Polivalente que trabalharam no Banco Financial do qual ele era gerente, devido aos conhecimentos práticos que eles aprenderam lá. Ele relatou também que tem o conhecimento de ex-alunos que atualmente são médicos, dentistas, policiais, dentre outros, de modo que ainda encontra ex-alunos na rua e sempre é lembrado por eles. Em seu depoimento, ele relatou que há poucos dias um ex-aluno o abordou perto de sua residência chamando-o: “professor, professor” e relembrando o tempo em que foi seu aluno o elogiou pela postura que tinha como professor, postura esta como mencionou ao professor, que procura ter em suas ações, já que ficou como exemplo em sua vida. Ao relatar sobre a relação da escola com a comunidade, o Prof. Helton 55 ressaltou que a escola sempre procurava estabelecer uma relação participativa junto a esta e aos pais dos alunos: Na escola havia confraternizações e eventos, ela promovia esses encontros com pais e com os filhos, fazíamos campeonatos. Os pais participavam, fazíamos torneios com participação, tinha festa junina com dança de quadrilha, os pais participavam e se interagiam com a escola. (HELTON, 2015) Figura 7: Alunos participando de Festa Junina no Polivalente Fonte: Acervo Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente 56 Danilo 12 iniciou seus estudos em regime interno no Instituto Marden, no qual concluiu o 1º Grau – 1ª a 8ª séries, após fez o 2º Grau na Escola Estadual “Governador Israel Pinheiro” – o Estadual. Em seu depoimento ele relatou que durante sua trajetória escolar sempre teve o apoio da família e após ter concluído o 2º Grau, fez dois anos de cursinho no Colégio Objetivo na cidade de São Paulo. Ao seu retorno a Ituiutaba, ele fez Faculdade de Filosofia e posteriormente o Curso de Curta Duração em Belo Horizonte, o qual foi promovido para a Formação de Professores dos Colégios Polivalentes, na Universidade Federal de Minas Gerais, tendo sido Ciências a sua área de formação neste curso. Segundo o Professor Danilo, alguns anos mais tarde, ao ter início o 2º Grau no Polivalente, ele fez também o Curso de Química em Guaxupé, no Sul de Minas, em Universidade Privada. Desse modo, o Professor Danilo relatou que começou a exercer sua atividade profissional trabalhando no comércio da cidade. Ao falar sobre sua carreira docente, ele relatou que iniciou esta por volta dos 25 anos de idade, ministrando aulas no Instituto Marden, Escola Israel Pinheiro, Colégio Santa Tereza e SESI. Neste sentido, o professor afirmou que começou a trabalhar na Escola Polivalente no ano em que esta começou suas atividades em 1974 e atuou nesta até se aposentar, não encontrando assim nenhuma dificuldade no ambiente desta escola, já que as aulas eram bem distribuídas e os professores trabalhavam apenas com 20 alunos na sala, como relatado: “Eu dava aula de Ciências no laboratório com 20 alunos, eram dois laboratórios e dois professores de Ciências, cada um ficava com 20 alunos, todas as aulas práticas da escola eram com 20 alunos”. (DANILO, 2015) Segundo ele, para o ingresso como professor no Polivalente era necessário antes fazer concurso, os candidatos aprovados foram fazer o Curso Superior de Curta Duração na Universidade Federal de Minas Gerais, quanto o processo de seleção para a contratação na escola, após a graduação do curso, esta seleção era feita por concurso CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), os aprovados eram admitidos e tinham a carteira assinada. 12 O Professor Danilo nasceu no ano de 1945 em Ituiutaba, sendo sua família na época residente da área rural. Tem três irmãos, sendo o mais novo destes. Viveu com seus pais e os irmãos na fazenda até os 10 anos de idade, quando mudou para a cidade de Ituiutaba para estudar. Casou-se e têm três filhas, a mais velha é formada em Ciências da Computação e Inglês e reside no Canadá, a do meio é formada em Física e a mais nova é Nutricionista. 57 Referente a essa questão, foi possível através da notícia destacada em jornal identificar a ênfase sobre a importância trazida quanto aos Cursos destinados a formação de professores para as Escolas Polivalentes: Nosso Governador assinou o Decreto nº 12.863, que dará cumprimento a convênio celebrado entre Minas e a União, o Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio, a Universidade Federal de Minas Gerais e o Centro de Treinamento de Professores para os 90 Ginásios Orientados para o Trabalho – a Serem criados em Minas, haja vista os grandes benefícios que têm trazido ao País, às nossas indústrias, as experiências feitas com os aludidos ginásios nos Estados onde já foram instalado. A admissão de pessoal administrativo, técnico, docente e auxiliares será feita através do contrato regido pela CLT, com vigência por prazo indeterminado, exigindo-se dos interessados títolos de habilitação legal. Estão abertas desde 2º de Julho p. p. e prolongar-se-á até dia 15 do corrente, o prazo para as inscrições para o exame de seleção dos candidatos aos Cursos de Licenciatura de Curta Duração (autorizados pelo Conselho Federal de Educação através dos pareceres; nsº 912169 e 74/70), em Belo Horizonte, Uberaba, Uberlândia e outras cidades. (Jornal Cidade de Ituiutaba, 1971) Neste sentido, os professores das Escolas Polivalentes comocompreendido, passaram por um Curso de Licenciatura Curta específico de preparação para as áreas de ensino a serem ministradas nos cursos técnicos integrados ao ensino regular e mediante a este eram capacitados para atuar nessas escolas sob tais áreas. Quanto a entrada dos alunos na escola, o Professor Danilo relatou que estes também passavam pelo processo de exame de seleção, o qual era baseado em conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática, e desse modo era exigida uma pontuação para o aluno adentrar esta escola, segundo ele, havia muita demanda de vagas na escola, casos de evasão não aconteciam e a reprovação era muito rara; em sua consideração este fato se deve em vista das aulas serem atrativas para os alunos, como relatado pelo professor “as aulas eram muito prazerosas, eram muito práticas, no laboratório, eles gostavam da aula de Ciências, para trabalharem com o microscópio, eles ficavam loucos por essas aulas”. (DANILO, 2015) Segundo ele, as aulas do ensino técnico que compunham o currículo escolar, eram bem dinâmicas e interativas, os alunos aprendiam nessas aulas por interesse mesmo, pelo próprio movimento das aulas, como demonstra em seu relato: Na Educação par o Lar, fomos os primeiros a trabalhar com a soja, em 1974 estavam começando com o plantio na região, então ensinava-se nessas aulas a preparação de alimentos com a soja, como 58 bolo, torta, leite de soja, farinha, carne de soja, tudo de soja, e eles aprendiam a fazer. Na época, os alunos estranharam um pouco os alimentos de soja, o sabor... mas todos os alunos participavam dessas aulas de Educação para o Lar e aprendiam muitas técnicas com os alimentos. Na Prática de Comércio, eles aprendiam a trabalhar com crédito, com débito, a preencher um talão de cheque... Nas Artes Industriais eles aprendiam muitas coisas, como trabalhar com madeira, cerâmica, tinha o forno de cerâmica, tinha até o torno para o metal.... (DANILO, 2015) Ao falar sobre a estrutura física da escola, o Professor Danilo destacou que esta contava com tudo, biblioteca, sala para filmes, laboratórios, quadra, campo de grama, banheiros com chuveiros, vestiário feminino e masculino. Segundo ele, depois das aulas de Educação Física os alunos voltavam suados e iam para o banho e lá os alunos é que mudavam de sala, os professores não. Quanto a inspeção escolar, ele relatou que havia a presença desta na escola uma vez por mês, a qual vinha de Uberlândia, já que não havia ainda na cidade uma unidade da Secretaria do Estado. O Polivalente segundo ele buscava sempre a participação dos pais e da comunidade “os pais eram bem presentes, fazíamos as reuniões e os pais sempre iam”. (DANILO, 2015) Nesse sentido, o Professor Danilo trouxe em seu relato que a escola promovia muitos eventos, como festas que visavam a integração dessas partes, como mencionado em seu relato a fanfarra era uma das atividades de mais destaque: “a escola promovia muitos eventos, um dos principais era a fanfarra, o Polivalente possuía 120 instrumentos de fanfarra, ela ganhou em primeiro lugar em vários concursos que teve aqui; o professor de Educação Física treinava a fanfarra”. (DANILO, 2015) Nessa perspectiva, o professor destacou também a relação da escola com os funcionários, a qual segundo ele era bem interativa “Os funcionários eram muito amigos, muitas vezes ajudamos funcionários e alunos que passavam por dificuldades, arrecadávamos dinheiro, alimentos, comprávamos roupas, sapatos, fazíamos campanhas, a gente ajudava”. (DANILO, 2015) Ao se referir sobre o contexto político da época, o Professor Danilo relatou que este interferiu nas políticas educacionais, no entanto não prejudicou o ensino do Polivalente, já que os professores buscaram ofertar um ensino de qualidade aos seus alunos, não se limitando a prepará-los para a mão de obra destinado ao mercado de trabalho, mas visando a preparação dos alunos a darem continuidade dos estudos em um processo de ensino integrado a formação humana. 59 Dentre o exposto a partir das memórias e vivências trazidas pelos Professores (a) Valter, Mariana, Helton e Danilo, foi possível vislumbrar parte da história vivida nesta escola e na vida dos sujeitos que a comporam neste período. Considerando as lembranças trazidas por estes profissionais a partir dos momentos experenciados entre o ensino e a aprendizagem, os significados se fazem presentes em cada prática do passado, os quais demonstram terem sido internalizados e marcados pela convivência em meio às ações vividas no Polivalente. Como compreendido, a Escola Polivalente ao dispor de uma boa e organizada infraestrutura, propiciava o interesse da comunidade quanto ao comprometimento em assegurar uma formação de qualidade para os filhos, uma vez que, como demonstrado nos relatos dos professores, não havia um quadro de evasão, de modo que a escola buscava o vínculo participativo dos pais junto as atividades que eram desenvolvidas na mesma, como festas comemorativas, torneios esportivos, dentre outros eventos que podem ser considerados interativos entre a relação escola e família. Os docentes eram contratados por seleções simplificadas ou por indicação, passaram por qualificações e tinham boa estrutura para atuarem nessa instituição, dentro dessas condições, indagamos: que tipo de aluno a escola “modelo” passou a receber em suas dependências? 4.5.2 Discentes O conhecimento advindo das vivências entre os atores que estiveram no interior da instituição torna-se essencial para buscarmos a compreensão das práticas que ali foram integradas e experenciadas, as quais constituíram parte da construção histórica desta instituição. Para a presente pesquisa foram entrevistadas seis ex-alunas, as quais estudaram nesta escola durante o recorte temporário e contextual atingido pela pesquisa. Dentre as alunas que foram entrevistadas, todas residem neste município; estas se fizeram integrantes em prol do processo de construção dessa história, bem como das interpretações que foram sendo constituídas nessa trajetória em busca de significados vividos na Escola Polivalente. No arquivo da Escola, durante o período da pesquisa não foi possível verificar documentos relativos ao livro de matrículas dos alunos que a adentraram no período do início e suas atividades, porém mediante as entrevistas, buscou-se a relação entre os 60 depoimentos e fontes pesquisadas, como registros jornalísticos, grade curricular, práticas pedagógicas e fotografias. Figura 08: Alunas (os) da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente Fonte: Acervo da Escola Estadual Antônio Souza Martins – Polivalente Eva 13 nasceu em 1965 em Ituiutaba e sempre morou nesta cidade, dos seis irmãos ela é a terceira. Ela relatou que durante sua infância passou por muitas dificuldades e precisou trabalhar para ajudar com o sustento da família, assim, tinha muita vontade de conhecer outros lugares, como uma fazenda, mas devido às dificuldades financeiras, acabou ficando sempre limitada a esta cidade, a qual segundo ela, nesta época, era pequena, tinha bastantes árvores, poucas residências: A gente brincava um pouco, mas saíamos para vender tomate, vender doce, vender sabão, o que o adulto achava conveniente para vender; a gente visitava as Vilas, atravessava o córrego e íamos vender. Era 13 A ex-aluna Eva é formada na área de Assistência Social e Pedagogia, como também proprietária de Salão de Beleza e, atualmente se encontra em curso na Pós-Graduação em Educação. Concluiu da5ª a 8ª série do 1º Grau na Escola Polivalente, entreos anos de 1979 a 1982, se afastou dos estudos durante alguns anos e retornou aos mesmos já na idade adulta, depois de casada e com uma filha, a qual está em formação cursando Medicina. 61 muito bom ser aquela turma grande, mesmo que a gente passava muita dificuldade... mas a hora de ir brincar era muito boa, a hora de ir para a escola a gente também ia feliz porque sempre vinha um conhecimento novo e.... era uma carência de coisas materiais muito grande, mas naquela época ninguém ligava, não tinha esse capitalismo que tem hoje. (EVA, 2015) Ao falar sobre sua trajetória escolar, Eva relata que após concluir a 4ª série do 1º Grau, iniciou a 5ª série na Escola Polivalente no ano de 1979 no período vespertino, onde concluiu até a 8ª série, não possuindo nenhuma reprovação durante este período; mesmo antes de iniciar os estudos ela colocou que pensava em como seria estudar no Polivalente: “eu via contar maravilhas, a minha irmã mais velha já tinha estudado lá, eu fui com muitas expectativas” (EVA, 2015). Ela relatou que nesta época trabalhava fora para uma tia no período da manhã, e logo que terminava os afazeres se dirigia para a escola. Referente às práticas pedagógicas, Eva relata que foi muito boa a experiência do estudo nesta escola junto às disciplinas que compunham o ensino profissional, já que as aulas eram sempre dinâmicas. Dentre os depoimentos referentes às disciplinas estudadas na Escola Polivalente Eva (2015) relata: Tinha as aulas de Práticas Agrícolas, que ora a gente estudava a parte teórica e depois a gente descia lá para a horta, a gente plantava hortaliça; tinha o Professor Valter que lecionava essa disciplina, Práticas Agrícolas... a gente media os canteiros, preparava a terra, semeava sementes, aguava todo dia e quando começavam a nascer as hortaliças era uma beleza só... a gente podia até levar um pouco para casa, e isso era bom porque para mim que tinha os irmãos, chegava em casa com verduras, fazíamos a comida e ficava muito bom... nessas aulas não ficávamos só sentados, só na teoria, escrevendo como nas outras disciplinas...Tinha também uma disciplina muito boa que era a Práticas Comerciais, a gente simulava compras e vendas, e isso era tudo anotado, era muito bom. Para mim era mais dificultoso porque eu tinha dificuldade com os números, em fazer contas, mas eu via que quem saia bem, achava o máximo essas aulas...Tínhamos também outra disciplina chamada Educação Moral e Cívica, que nos ensinava mais o preparo para o civismo, era o amor a Pátria, era o respeito à Escola, para com as pessoas, a reverência ao Hino Nacional, o astiamento a Bandeira, então na aula de Educação Moral e Cívica a professora sempre lia e a gente sabia muitas coisas que não podíamos fazer, porque foram ensinadas nessas aulas... (EVA, 2015) 62 Figura 09: Alunos na aula de Práticas Agrícolas. Fonte: Arquivo da Escola “Antônio Souza Martins” – Polivalente Nessa perspectiva, a aluna destaca algumas das disciplinas estudadas e que ficaram marcadas em sua vida; no entanto ela revela com a qual mais se identificou ao estudar nesta Escola: Tínhamos também uma hora boa, que era a hora que eu mais gostava...era a hora da aula de Educação Física, tinha muitas duchas para a gente tomar banho, cada um chegava da Educação Física suado, tinha corrida, tinha voleibol, handebol... a gente jogava, na corrida eu era boa, conseguia medalhas porque eu chegava na frente, esforçava, esforçava muito... porque durante a minha infância eu brinquei muito, corri muito, pulei muito, subi em muitas árvores...então correr para mim não era dificuldade, então eu corria, corria muito e as medalhas vinham para mim... era boa também no handebol... (EVA, 2015) 63 De acordo com o relato acima, pode-se observar que o esporte ocupava um espaço central na vida da ex-aluna, já que ela expõe sua espontaneidade sobre as práticas positivas vivenciadas nessa área. Figura 10: Alunos na Pista de Atletismo. Fonte: Arquivo da Escola “Antônio Souza Martins”- Polivalente A aluna Eva (2015), ao concluir seu relato e concepção sobre o período de sua formação nessa instituição: O ensino do Polivalente, na verdade tinha suas regras. Mas acredito que foi o que me deu base teórica e social para o meu retorno aos estudos já depois de alguns anos afastada da escola, pois logo que terminei a 8ª série parei de estudar... Mas hoje vejo que uma das coisas mais importantes é a continuidade dos estudos, de modo que busco sempre continuar aprendendo no processo formativo pessoal, profissional e humano. Foi boa a interação, eu conheci muita gente, eu aprendia... valeu a experiência, a interação com as pessoas mesmo, e aquele objetivo de estar lá concluindo a 5ª, 6ª, 7ª e a 8ª, estar sempre indo para a escola e não ficar na ociosidade, não ficar na rua, não ficar em casa vendo o tempo passar, então eu fui à luta...não foi em vão aquele ensino, contribuiu para o processo de minha formação, enquanto sujeito sobre o que eu aprendi lá; as coisas mudaram muito, mas ainda está valendo os valores. (EVA, 2015). 64 Luíza 14 nasceu no ano de 1968 em Ituiutaba e relata que sempre residiu nesta cidade, sendo a 2ª filha dos cinco irmãos, dois (2) homens e três (3) mulheres, assim ela coloca que teve uma infância feliz, na qual brincava e ajudava sua mãe com os afazeres domésticos, não tendo trabalhado fora neste período. A ex-aluna relata que iniciou seus estudos no Polivalente no ano de 1979, concluindo neste da 5ª a 8ª série, não sendo reprovada no decorrer deste período. Deste modo, ela relembra que vivenciou grandes momentos ao estudar nesta escola, uma vez que todas as atividades, tanto as teóricas quanto as práticas advindas da integração do ensino regular e técnico profissionalizante, eram em sua consideração devidamente bem planejadas; segundo seu relato os professores se mostravam empenhados e acompanhavam a aprendizagem dos alunos, sendo este um dos maiores motivos para que ela se lembre com carinho dessa escola, como traz ao relembrar sobre um dos professores que deixou marcas em sua vida como estudante: Na verdade a gente, eu mesma, gostava de todos, mas um que marcou, acho que para a maioria dos alunos, foi o professor Valter, que na época era professor de Práticas Agrícolas... Porque ele era uma pessoa muito amiga, muito alegre, ele conversava assim com a gente, não parecia ser um professor, parecia ser um amigo mesmo, um colega de sala, não tratava a gente com indiferença... (LUÍZA, 2015) Ao falar sobre as aulas que integravam o ensino profissionalizante, Luiza (2015) relata que não se esquece do tempo em que estudou participando dessas aulas, já que elas faziam com que o ensino se tornasse mais dinâmico, pois haviam várias práticas diferenciadas e isso tornava a escola mais interessante. Segundo ela todas as aulas que compunham esta área integrada eram ministradas de modo interativo: Havia salas específicas, cada uma para sua matéria, a de Práticas Comerciais por exemplo, nas aulas simulávamos compras e vendas de produtos, havia o caixa, a gente abria o caixa, anotava as vendas e no final a gente fechava o caixa... então nas aulas de Práticas Agrícolas a gente plantava, a gente colhia alimentos, legumes que a gente plantava, e nas Práticas Industriais a gente fazia trabalhos manuais, trabalhávamos muito com madeira, pintávamos quadros, era tudo na sala específica. Na aula de Práticas Agrícolas a gente descia para onde havia os canteiros. Eu gostava muito dessas aulas.(LUÍZA, 2015) 14 A ex-aluna Luíza iniciou seus estudos no ano de 1979 na 5ª série do 1º Grau no Polivalente, concluindo nesta a 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries, e após alguns anos o 2º Grau, profissionalmente atua na área comercial do município como proprietária de uma “Boutique”. É casada e têm três filhos, dois estão cursando Faculdade de Direito e a filha está se preparando para adentrar a faculdade. 65 Ao relatar sobre sua concepção do ensino na Escola Polivalente na época em estudou nesta, Luíza (2015), ressalta que a aprendizagem aconteceu de modo integrado em sua vida, pois considera que tanto o ensino regular com as disciplinas comuns quanto as integradas ao ensino profissionalizante contribuíram para o seu processo formativo: O ensino foi muito bom, foi muito válido porque na época nenhuma outra escola oferecia todos esses cursos profissionalizantes, então assim foi um diferencial que a escola ofereceu para os alunos, foi muito gratificante porque foram vários cursos e em todos a gente aprendeu um pouco, saindo dali tendo concluindo o 1º Grau com um diferencial a mais do das outras escolas. O ensino profissionalizante junto ao ensino regular deveria ter permanecido nesta escola, porque como eu já comentei, apesar de sido em pouco tempo, mas assim, trouxe noções básicas para o aluno, de Práticas Comerciais, Industriais, de tudo um pouco, então, preparava o aluno também para o mercado de trabalho, era muito importante se tivesse continuado, ainda mais hoje em dia em que o mercado de trabalho anda muito exigente e competitivo. Com certeza acredito que o Polivalente buscou oferecer um ensino de qualidade no período em que estudei lá, como os cursos profissionalizantes as outras matérias em si foram também de um alto conteúdo, a gente saiu dali bem preparado mesmo, os professores eram assim, bem preparados para cada matéria e saímos de lá, assim bem preparados mesmo... o estudo na verdade é a alavanca para o futuro de qualquer pessoa, se a pessoa não tiver o estudo muito dificilmente irá conseguir uma boa profissão, então quanto mais estudar maior vai ser a chance do futuro profissional. (LUÍZA, 2015) Rosemary 15 nasceu no ano de 1972 na cidade de Ituiutaba e sempre residiu nesta, em sua infância morava junto com seus pais e irmãos, dos cinco (5) irmãos é a quarta filha. Ela relata que em sua infância brincava, ajudava a mãe com os afazeres e a cuidar da sua irmã mais nova, não precisando ter trabalhando fora durante esse período de sua infância. Ao falar sobre sua vida escolar, ela relatou que iniciou os estudos no Polivalente no ano de 1984, na 5ª série, concluindo até a 7ª no mesmo, e durante este período não teve nenhuma reprovação. Em seu depoimento, Rosimary (2015) relatou que guarda lembranças profundas do tempo em que esteve em formação nesta escola, como das aulas, dos colegas, 15 A ex-aluna Rosemary tem sua formação como Pedagoga atuando como professora e funcionária federal. Iniciou seus estudos no Polivalente no ano de 1984, concluindo neste a 5ª, 6ª, 7ª e parte da 8ª série, quando transferiu-se para outra escola, concluindo alguns anos após o Ensino Médio no Polivalente. Tem apenas uma filha, a qual atua profissionalmente como Fotografa. 66 professores e equipe gestora. Segundo ela, nesta escola não encontrou dificuldades quanto a interação como também de aprendizagens. Ao falar sobre as aulas que integravam o ensino profissionalizante e prática dos professores: Eu me lembro que dividia-se a sala com a metade dos alunos; fazíamos um semestre de Práticas Agrícolas e o outro semestre do ano fazíamos as Práticas Comercias, Industriais...Eu me lembro que nas aulas de Práticas Industriais, a gente aprendia a fazer trabalho com sisau, com madeira, a gente fazia quadros, escrevia os nomes, fazia algum desenho, suporte para vasos com sisau, e nas de Práticas Agrícolas a gente aprendia a plantar a horta, como cuidar da horta, dentre algumas outras lembranças. A turma era bem participativa, não só na minha sala, mas eu me lembro que a escola toda gostava muito dessas aulas. Os professores todos que eu me lembro eram dedicados, professores que respeitavam os alunos e tinham uma boa convivência com eles; tanto que quando eu precisei sair em 1989 do Polivalente e fui para outra escola concluir a 8ª série, eu achei bem diferente...os professores da outra escola não tinham uma aproximação com os alunos, tanto os professores como a direção e os funcionários; eu percebi uma diferença muito grande, então assim, eu acredito e considero que a escola procurava sim proporcionar um ensino, um ambiente agradável. (ROSEMARY, 2015) A ex-aluna a partir do relato acima demonstra ter experenciado uma nova adaptação ao adentrar a outra escola, de modo que foi possível perceber as marcas positivas do convívio estabelecido nesta escola mediante a outra na qual ela adentrou. Uma das questões importantes apontadas pela ex-aluna Rosemary em seu relato se refere à relação professor e aluno; ela lembra-se de uma vivência que considera ter contribuído para sua formação humana no que se refere a prática de um dos seus professores: [...] Houve... o professor de Português, ele incentivava muito a leitura, ele reservava, não me lembro, mas por exemplo, 5 (cinco) pontos em cada bimestre para a leitura e então assim, o meu gosto pela leitura eu acredito ao incentivo dele; e ele pedia para os alunos lerem lá na frente e ia lá para o fundo da sala de aula e conforme o aluno ia lendo lá, ele ia fazendo as suas intervenções, ele falava “olha, aí tem uma pausa”... e com o aluno que tinha mais dificuldade, ele pegava aquele texto que o aluno estava lendo, ia lá e se posicionava no lugar dos mesmos, lia, explicava e voltava para o fundo da sala. Então assim, esse professor é o Nilson, foi professor de Português e Inglês, foi também vice-diretor nesta escola, ele tem um papel muito marcante na minha vida, tem outros professores também, mas esse é o que mais marcou. Eu tenho certeza que foi um ensino de qualidade, um ensino que proporcionou muitos conhecimentos... conhecimentos que eu trago até hoje e que foram essenciais para a 67 minha formação pessoal, para minha formação profissional, para minha formação social. (ROSEMARY, 2015) Vanusa 16 nasceu no ano de 1964 na cidade de Ituiutaba – MG; em sua infância morou nesta cidade junto com os pais e os irmãos, sendo a segunda dos sete (7) irmãos. Em seu depoimento ela relatou que teve uma infância tranquila e feliz, cheia de brincadeiras, segundo ela, os pais tiveram que trabalhar arduamente para criar os filhos, mas sempre procuraram oferecer o melhor a eles, sendo muito amados pelos mesmos e não trabalharam antes da idade adulta. Ao falar sobre sua trajetória acadêmica, a ex-aluna Vanusa relata que começou a estudar na Escola Polivalente no ano de 1976 na 5ª série, concluindo nesta até a 8ª, o que de acordo com ela, era o que a escola oferecia, não possuindo nenhuma reprovação neste período. Ao se referir sobre o ensino que o Polivalente ofertava, bem como das disciplinas que compunham o currículo, o qual abrangia o ensino regular integrado ao profissionalizante, Vanusa bem destaca a forma como estas eram organizadas mediante as práticas ali vivenciadas por ela no período em que lá estudou: O diferencial da escola era a oferta em concomitância com o ensino regular, disciplinas de caráter profissionalizante. Não era propriamente um curso independente, mas disciplinasque integravam o currículo escolar. Essas disciplinas eram: Educação para o lar, Técnicas Comerciais, Técnicas Industriais e Técnicas Agrícolas. As matérias do ensino regular eram: Português, Matemática, História, Geografia, Ciências, que dispunha de um magnífico laboratório todo equipado e até as mesas eram diferenciadas das demais disciplinas, pois a sala era específica. Educação Física, Educação Artística, Inglês, Francês, Moral e Cívica OSPB - Organização Social e Política do Brasil. Essas duas últimas substituíram as disciplinas de filosofia e sociologia consideradas de caráter comunista e reacionárias pelo governo militar, claro que entendi isso depois de adulta.... As salas de aula eram todas específicas, por conta da diversidade de cada disciplina, não somente para as disciplinas profissionalizantes, mas as do currículo regular também. Sendo assim os alunos que mudavam de sala a cada troca de horário, não os professores. (VANUSA, 2015). Vanusa (2015), ao mencionar sobre sua consideração sobre as práticas docentes, aponta que a escola primava pela disciplina, pelo dever de cumprir, da moral e do civismo, características que segundo ela eram próprias do período do regime militar em que estavam vivendo no país. 16 A ex-aluna Vanusa é Doutora em Educação e professora na Universidade Federal de Uberlândia - UFU Campus do Pontal. 68 Quanto a marcas deixadas pelos professores, a ex-aluna relata que “todos de alguma foram muito marcantes, o ensino era muito intenso, os professores eram extremamente dedicados, não sei se era a visão de criança adolescente, mas consegui sentir que o ensino era ministrado com muita paixão” (VANUSA, 2015). Ela ressalta que perdeu o contato com a maioria dos que foram seus colegas, no entanto ainda tem contatos com alguns e o conhecimento dos que hoje atuam como médicos, vereadores, motoristas de ônibus, e uma colega mais íntima que atua na área educacional, dentre outros. De acordo com Vanusa (2015), as aulas práticas eram muito estimulantes, uma vez que as diferentes áreas possibilitavam dinâmicas interessantes no processo de aprendizagem: Era tudo de bom... Plantávamos, colhíamos, pintávamos quadros, cozinhamos, costurávamos, comprávamos, vendíamos, participávamos de olimpíadas, gincanas e feiras de ciências; fazíamos exposição de artes, organizávamos recitais de poesias, entre outros. O cunho político do ensino tecnicista e militar que caracterizava o momento não era sentido no interior da escola, sobretudo na visão dos alunos. Pelo contrário, era o ensino visto como de excelente qualidade, que oferecia um currículo rico e diversificado, que nos dias de hoje se oferecido, garantiria uma formação bem menos enfadonha, reprodutivista desestimulante como testemunhamos. (VANUSA, 2015) Neste sentido, a ex-aluna relata que não considera que o ensino integrado ao profissionalizante ofertado no Polivalente tenha tido o caráter restrito a preparação dos alunos para o trabalho, como propunha a política da época, podendo ser identificada sua posição quanto a isso através de seu depoimento: Não considero que a escola tenha oferecido um ensino técnico profissionalizante, embora esse fosse o objetivo não declarado por conta do momento político que estávamos vivendo. Digo que não era profissionalizante porque não havia certificação específica para esse fim. Concluímos na oitava série o primeiro grau sem especificações de caráter profissional. A formação que recebemos não se restringia apenas a instrução conteudistas, característica das demais escolas públicas, embora ela existisse. Além do conteúdo eram trabalhadas formas diferentes e ensino que para mim foi significativa a aprendizagem. (VANUSA, 2015) Uma das disciplinas mais lembradas por Vanusa se refere a Educação Física, a qual segundo ela tinha um diferencial que a destacava das demais escolas do município: 69 [...] foi uma das experiências que mais marcou minha trajetória na escola. A disciplina era uma verdadeira arena olímpica, pois nos era oferecida as mais variadas modalidades de educação físicas, entre jogos coletivos, vôlei, handball, basquete, ginástica, apoio, flexões, polichinelos, alongamentos etc, ... corridas, pois tinha uma pista específica para esse fim, livre, de revezamento, com barreira..., salto à distância, com barra... Futebol de quadra e de campo... tinha muita coisa nem sei precisar, mas era literalmente uma educação física das mais variadas, que não via em nenhuma outra escola. Éramos de fato modelo nesse aspecto. (VANUSA, 2015) Figura 11: Alunos nas atividades de Educação Física Fonte: Arquivo da Escola “Antônio Souza Martins” - Polivalente É possível a partir das imagens identificar algumas das diversas atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física, como jogos na quadra, saltos a distância e a altura, corrida, dentre algumas que foram anteriormente citadas pela a ex-aluna Vanusa. Segundo esta aluna, as avaliações eram realizadas sem muita distinção do que temos atualmente, já que faziam provas de caráter somativa, mensais e bimestrais, como também trabalhavam em grupo, faziam cópias de conteúdos dos livros, “mas também fazíamos trabalhos interessantes como dramatizações de livros de literatura, maquetes, 70 avaliações práticas de ciências no belíssimo laboratório, entre outros”. (VANUSA, 2015) Ao concluir sobre sua experiência e vivência formativa no Polivalente, Vanusa relatou sua consideração quanto a qualidade do ensino que a escola buscou oferecer no período de seus estudos: No contexto do período e considerando a realidade das demais escolas públicas, o Polivalente ofereceu sim uma educação polivalente e de qualidade... foi uma escola de proeminência na sociedade ituiutabana, principalmente por oferecer um ensino de boa qualidade e de acesso a população de baixa renda. (VANUSA, 2015) Roberta 17 nasceu no ano de 1966 na cidade de Ituiutaba- MG, residindo nesta junto com seus pais e seus quatro irmãos, sendo a quarta dos cinco filhos da família. Em seu depoimento ela relatou que teve uma infância tranquila, na qual tinha o carinho dos pais, brincava e era muito feliz, não precisou trabalhar durante esta fase de sua vida. Ao falar sobre sua trajetória acadêmica, Roberta (2015) relatou que começou a estudar no Polivalente em 1978 na 5ª série, concluindo neste até a 8ª série, não tendo nenhuma reprovação durante este período. A ex-aluna diz lembrar-se bem dos cursos profissionalizantes que eram integradas ao ensino regular, sendo estes: Educação para o Lar, Práticas Agrícolas, Técnicas Comerciais e Técnicas Industriais, segundo ela, as habilidades que os alunos adquiriam através dos conteúdos da base comum e diversificadas davam o suporte para os cursos profissionalizantes, para os quais haviam salas específicas e muito bem equipadas. Desse modo, Roberta (2015), diante da sua consideração sobre esta escola e professores que deixaram marcas em sua vida, pode ser observada a referência afetiva presente na relação entre professor e aluno, constituída neste processo: Foi a melhor escola que estudei... havia um professor, o Valter, de Práticas Agrícolas, que era muito amigo da turma, muito alegre, ele chamava todos pelo nome, e se lembrava de todos os alunos, quando mesmo nem éramos mais seus alunos... até hoje, somos amigos. (ROBERTA, 2015) 17 A ex-aluna Roberta é formada em Ciências Biológicas, com especializaçãoem Gestão e Auditoria Ambiental e mestranda em Microbiologia Agropecuária. Atua como professora da Educação Básica da rede municipal e professora da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG. É casada e teve três filhos, no entanto perdeu uma filha; estando o filho mais velho cursando Medicina e o mais novo cursando o 9º ano do ensino fundamental. 71 Esta ex-aluna relatou que a relação com os colegas no Polivalente era boa, já que “era uma escola muito especial, o relacionamento era muito bacana, lá não havia naquela época problemas de indisciplina” (Roberta, 2015). Ela diz ter ainda contatos com alguns ex-colegas. Ao falar sobre a disciplina da qual mais gostava, ela relatou que era Ciências, já que segundo ela, sempre lhe chamou a atenção estudar os fatos que estão relacionados conosco e com o meio que nos cerca. A ex-aluna em seu depoimento relatou que as aulas de Educação Física eram sempre interativas, os alunos participavam nos campeonatos e competições, como traz ao lembrar-se dessas aulas: Eram aulas que treinavam para o esporte de competição, havia uma caixa de areia para o salto à distância, uma pista de corrida, e também, as aulas para o esporte em equipe, basquete, vôlei, futebol, ... as aulas eram muito dinâmicas e diversificadas, na época, havia muitos banheiros femininos e masculinos, para que após as aulas de educação física, pudéssemos tomar banho... eu participava com moderação das aulas, nunca tive muito habilidade para os esportes... (ROBERTA, 2015) De acordo com Roberta (2015), as avaliações no Polivalente aconteciam por meio de provas, trabalhos em grupos e individuais, segundo a ex-aluna, os professores eram todos muito bem capacitados naquela época, inclusive muitos deles foram vindos de outras cidades para ministrarem aula nesta escola. Ao se referir sobre sua consideração sobre o ensino integrado ao técnico profissionalizante ofertado nesta escola ela relatou que este era: Excelente, éramos loucos por fazer as disciplinas de ensino técnico profissionalizante... eu acho que para aquela época era um formato que prometia um avanço na educação para as pessoas da rede pública. Foi um pena o projeto das Escolas Polivalente ter acabado... (ROBERTA, 2015) Diante das suas considerações sobre a qualidade do ensino que a escola buscou propiciar nesta época, a ex-aluna ressalta que “foi um ensino de qualidade, fui muito feliz nesta escola, na época em que estudei lá, era tudo muito prazeroso”. (ROBERTA, 2015) 72 Elisa 18 nasceu no ano de 1968 na cidade de Ituiutaba - MG, onde morou junto aos seus pais, irmãos e o seu avô paterno, sendo a quarta filha dos cinco (5) irmãos. Em seu depoimento ela relatou que teve uma infância tranquila, na qual brincava e estudava, não tendo trabalhado fora, mas apenas ajudava a mãe com os afazeres domésticos. A ex-aluna Elisa iniciou seus estudos na Escola Polivalente em 1979 na 5ª série concluindo nesta até a 8ª, tendo sido reprovada na 5ª série. Ao falar sobre o período de sua formação e ao ensino integrado aos cursos profissionalizantes que a escola oferecia Elisa (2015), relatou que nesta época, estudou junto às disciplinas do ensino regular também as áreas de Práticas Comerciais, Educação para o Lar, Práticas Industriais e Práticas Agrícolas, para as quais havia salas específicas: Nas aulas de Práticas Comerciais a gente aprendia a trabalhar com cheque, com troco, comprando e vendendo... em Educação para o Lar fazíamos pratos de comidas, em Práticas Agrícolas plantávamos verduras, nas Artes Industriais a gente trabalhava com entalhe na madeira, com argila, com suporte para vasos feitos com cordas... (ELISA, 2015) Sobre as suas considerações sobre as práticas dos professores, Elisa (2015) relatou que estes cobravam retorno dos alunos quanto aos conteúdos, eram mais exigentes do que hoje, o que ela acredita se referir ao regime da reprovação que tinha na escola. A relação com os colegas, segundo ela era boa; ainda possui contatos com várias colegas que estudaram no Polivalente, inclusive uma delas é sua colega de trabalho atualmente. A matéria da qual mais gostava de estudar era Matemática, já que sempre foi a sua matéria preferida, quanto as avaliações que eram realizadas pelos professores no Polivalente Elisa (2015), diz ter sido trabalhos em grupos, no entanto eram mais provas individuais. Ao se lembrar sobre as aulas de Educação Física, Elisa (2015) relatou que gostava de praticar salto a distância e handebol, segundo ela, os alunos que se negavam a fazer as atividades eram orientados a catar folhas dos jardins, assim ela diz que essas aulas eram boas, e logo após o término os alunos tinham que tomar banho. 18 A ex-aluna Elisa é formada em Matemática e atua como professora na rede estadual do município e como professora de Música em cidade próxima ao município. 73 Elisa (2015) ao se referir sobre sua concepção do ensino ofertado no Polivalente na época em que lá estudou, mediante aos cursos profissionalizantes que estavam integrados ao ensino regular, traz em seu relato que: Naquela época o ensino ajudou bastante, até o final do estudo... ajudou muito no desenvolvimento das profissões, acho que este ensino deveria ter permanecido, pois os alunos poderiam hoje ficar mais atualizados com a aprendizagem, hoje muitos não sabem fazer um troco, hoje poucos dão conta de preencher um cheque. (ELISA, 2015) A ex-aluna conclui que em sua opinião o Polivalente naquela época procurou oferecer um ensino de qualidade, segundo ela “devido a essas práticas de ensino que tiveram no Polivalente, a maioria queria estudar lá, considero que foi uma escola importante na minha vida”. (ELISA, 2015) 4.5.3 Funcionários Considerando que escola se constitui como espaço educativo mediante aos conhecimentos que são produzidos em meio as relações sociais que se estabelecem entre os sujeitos, buscamos enfatizar a importância da participação dos funcionários que junto a comunidade escolar constituem o processo organizacional educativo deste espaço. Essa organização dentro das escolas, que muitas vezes sequer é percebida, nos leva a refletir sobre o papel dos funcionários não- docentes no processo educativo, para desfazer o fetiche que a envolve, para compreender o trabalho de cada um e em seu conjunto, não apenas para valorizá-lo adequadamente – o que é absolutamente necessário –, mas, também, para aperfeiçoá-lo em benefício da qualidade do ensino. Ao refletirmos, percebemos a inter-relação entre o trabalho do professor na sala de aula e a importância do trabalho da secretária da escola, da merendeira, do inspetor de alunos, dos trabalhadores dos serviços de apoio. Há saberes e vivências que contribuem para o resultado final da escola que precisam ser sistematizados para serem incorporados de forma intencional e integrada ao projeto. (NORONHA, 2009, p. 363) Dessa forma, compreendendo os funcionários como parte constitutiva do processo da educação escolar, contamos nesta pesquisa, com a participação de uma ex- funcionária da Escola Polivalente, a qual nos concedeu uma entrevista. 74 Carla 19 nasceu no ano de 1950 na cidade de Canápolis – MG; após a família mudou-se para Centralina, cidade onde morou com seus pais e os sete irmãos, sendo a mais velha dos oito filhos, assim ela relatou que teve uma infância boa e feliz, brincava com os irmãos e primos e não precisou trabalhar, apenas ajudava em casa com as tarefas domésticas. A senhora Carla relatou que ao iniciarsua atividade profissional na Escola Polivalente a sua adaptação foi tranquila porque era um ambiente muito bom, de acordo com ela o desenvolvimento do seu trabalho era dinâmico “a gente chegava, varria, fazia a organização das salas, ajudava na cantina, na área externa, ajudei também na secretaria, rodando provas”. (CARLA, 2015) Desse modo, a senhora Carla em seu depoimento relatou que a escola na época promovia interações com a comunidade “era muito bom, lá tinha o Dia do Convívio, com a participação dos pais, alunos e professores, nesse dia tinha almoço, recreação, lanche”. (CARLA, 2015) Ao se referir sobre sua consideração referente a vivência junto a todos que faziam parte do Polivalente e as relações que lá foram constituídas, a senhora Carla relatou que: Sempre tive uma boa convivência com todos, não havia indiferença entre diretor, professores, funcionários e alunos, parecia uma família... também havia as regras na escola, e as advertências de acordo com o Regimento Interno para todos. Foi uma escola muito importante para mim, eu cresci. (CARLA, 2015) A ex-funcionária, por meio de seu relato demonstra que ao exercer suas funções na Escola Polivalente, constituiu também uma parte da sua história de vida, na qual aprendeu junto aos alunos, professores, equipe gestora, colegas de trabalho e comunidade. Todos os espaços da escola são também espaços educativos e o processo de aprendizagem também se complementa fora da sala de aula, onde o professor desenvolve um papel único e insubstituível. É preciso reconhecer que a educação é um processo coletivo, e que nos demais ambientes escolares ocorrem contínuos momentos de interação entre os profissionais não-docentes e os estudantes, sendo que aqueles contribuem de forma peculiar e diferenciada para o processo ensino- 19 A ex-funcionária Carla estudou em duas escolas em Centralina, uma de Ensino Primário e a outra Ginasial. Tem formação no Ensino Médio. Começou a trabalhar na Escola Polivalente no ano de 1980, onde exerceu a função por 27 anos até se aposentar. É casada e têm quatro (4) filhas, a mais velha é formada em Letras e duas estão estudando. 75 aprendizagem e para a formação integral dos alunos. (NORONHA, 2009, p. 365) 4.5.4 Diretor Sandro 20 é natural de Ituiutaba, em relação ao seu percurso acadêmico, em seu depoimento ele relatou que nesta cidade estudou nas Escolas João Pinheiro, Professor Ildefonso Mascarenhas da Silva e Colégio São José; aos 12 anos foi para Rio Claro e posteriormente à Ribeirão Preto estudar em Seminário, onde concluiu o 2º Grau. Segundo ele, após o ano de 1969 ele dedicou sua formação à Educação, ao magistério. Assim, após fez o Curso Superior de Filosofia e Teologia em Campinas- São Paulo, no Instituto Filosófico e Teológico, indo posteriormente fazer Pós- Graduação na Universidade de São Paulo- USP. Depois de concluir a Pós-Graduação, o ex-diretor fez especialização em Goiânia, o Curso de Administração Escolar- PREMEM em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais e Mestrado em Filosofia da Educação em Campinas. O ex-diretor Sandro, em seu depoimento, relatou que em sua carreira docente lecionou em Goiânia, as disciplinas de Filosofia e Psicologia em 2º Grau, no entanto sua ambição educacional sempre foi a de gerir uma escola técnica, até que foi convidado a criar uma Escola Normal em Magistério em uma cidade do interior, através da qual ele considera que o fez gostar e se identificar com a área da gestão: [...] me aventurei e me apaixonei pela gestão administrativa escolar; porque o que eu encontrei; um pessoal que não tinha visão nenhuma, com uns costumes muito elementares de educação e mesmo de família, [...] fiquei surpreso, mas falei aqui é o meu lugar, vou dar um salto nisso. (SANDRO, 2015) Neste sentido, o ex-diretor relatou que esta foi sua primeira experiência como gestor na área educacional, na qual ele atuou até quando prestou concurso para o Polivalente, no qual passou e posteriormente foi realizar o Curso de Administração Escolar em Belo Horizonte, como aponta em seu depoimento: 20 O ex-diretor Sandro nasceu no ano de 1942 em Ituiutaba-MG. Viveu junto a sua mãe e os três irmãos, já que seu pai veio a falecer quando ele tinha dois anos de idade. Segundo ele, na sua infância nem tanto brincava, mas trabalhava com seus irmãos ajudando sua mãe em casa com plantações de hortaliças. Aos doze anos foi para outra localidade estudar. Casou-se e tem 6 filhos, dentre os quais possuem as seguintes formações no momento: Agrônomo, Decoradora, Pedagoga, Contabilista. Atuou no Polivalente de 1974 até se aposentar no ano de 1988. 76 [...] o processo seletivo foi o seguinte, uma seleção onde tinha mais de 400 pessoas concorrendo a 76 vagas, que eram para as novas escolas que iam abrir, então eu consegui, daí tivemos que fazer o curso específico para as escolas Polivalentes na Universidade Federal de Belo Horizonte, fiz o curso de Administração Escolar. (SANDRO, 2015) Como relatado pelo ex-diretor Sandro, a escola iniciou suas atividades com o regime semestral no 2º semestre, em Setembro de 1974, o que veio a ser uma tremenda surpresa, já que, segundo ele, foi um drama em relação a conseguir alunos e, o que propuseram foi procurar e oferecer vagas para os alunos evadidos das escolas existentes, bem como para quem não havia ainda se matriculado “então nós fizemos uma proposta para 400 alunos e tivemos um atendimento para mais de 700 alunos, passavam pelo exame de seleção, especificamente matemática e português”. (SANDRO, 2015) Referente ao exposto pelo ex-diretor Sandro, foi notícia em destaque do jornal da cidade o anúncio sobre as vagas disponibilizadas na escola, como demonstra a imagem abaixo: Figura 12: Notícia sobre as vagas para inscrições no Polivalente Fonte: Acervo Cultural do Município. 77 Nesta perspectiva, o ex-diretor Sandro, colocou que ao início a escola recebeu muitos alunos que não haviam conseguido acesso as principais escolas de Ituiutaba, dando-se atendimento a um grande número de alunos moradores de distintas áreas da cidade, segundo ele, os alunos buscavam também o acesso a uma escola nova, bonita e atraente. Ao se referir sobre o ensino ofertado na escola, considerando que o mesmo contava com o diferencial do curso técnico integrado ao ensino regular, o ex-diretor relatou que este visava a uma preparação inicial para o aluno se apropriar de uma futura descoberta, como relatado: Esse programa na época do PREMEM, ele deveria ser o que hoje aspiram a formação técnica, começamos com uma iniciação profissional, então ela funcionava de 5ª a 8ª série, e nós trabalhávamos com o aluno o ensino acadêmico, com as disciplinas comuns, o currículo comum e mais as de iniciação profissional, de Artes Industriais, Educação para o Lar, Práticas Comerciais e Práticas Agrícolas, para nível de 5ª série era simplesmente uma iniciação ou uma apropriação para a pessoa descobrir uma profissionalização, um futuro educacional, então era semestral, como que funcionava, em dois anos os alunos passavam por semestre para uma dessas práticas de iniciação profissional e na sétima série ele definia por dois anos o que ele queria fazer, a cada semestre ia passando por uma dessas práticas e depois na 7ª e 8ª ele definia. (SANDRO, 2015) No entanto, segundo ele, apesar da grade curricular contar um número determinado para cada disciplina que compunha o currículo do Polivalente,a preponderância era para as áreas de Português e Matemática. Desse modo, o ex-diretor relatou que sempre houve uma certa competitividade entre outras escolas da cidade, ou seja, havia as escolas consideradas as melhores para prepararem os alunos para o vestibular, e assim começaram a descobrir que no Polivalente também isso era viável, já que o ensino deste dava possibilidade para os alunos passarem nos vestibulares também. 78 Figura 13: Atividades desenvolvidas na Escola Polivalente Fonte: Acervo Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente De acordo com a imagem acima, é possível identificar momentos de convívio entre professores e alunos e comunidade no interior da escola, neste sentido o ex-diretor relatou que a escola buscava conciliar a harmonia entre as relações praticadas e ensino e a aprendizagem dos alunos: [...] a nossa maneira de ser, sobretudo como uma escola onde propunha-se atraente, agradável, simpática ao público, simpática aos alunos e ao mesmo tempo com o rigor; mas o aluno era o dono da escola, ele intencionava as intenções da escola, a direção e os professores procuravam encaminhá-los para o rigor do saber, para a seriedade. (SANDRO, 2015) O ex-diretor, nessa perspectiva, ao falar sobre o conceito de educação ofertada na escola durante o período de sua gestão, relatou que sempre procurou desenvolver um 79 trabalho coletivo com todos da escola, pois segundo ele, em primeiro lugar ele tinha uma proposta pedagógica para esta escola mediante sua concepção de educação, a qual foi pautada nos ideais de Paulo Freire, o qual foi seu professor de Mestrado. Sendo assim, o ex-diretor Sandro colocou que aprendeu muito nos estudos que realizou sobre o pensamento de Paulo Freire, como também na qualidade de aluno deste autor, tendo assim se identificado com a educação proposta por este educador, sob a qual pensou em uma escola aberta para todos, alunos, professores, funcionários e comunidade: Eu tinha uma proposta, inclusive a proposta pedagógica do Polivalente, a partir de 1974 era uma experiência que eu sonhava, que eu visualizava muito o trabalho de Paulo Freire e me encantei e estudei muito Paulo Freire e fui aluno dele depois no Mestrado em Campinas, então a minha proposta era uma escola aberta, uma escola franca oficial com o aluno sendo o dono do saber, dos interesses, das necessidades, tudo isso, mas uma escola atraente, agradável, tanto é verdade que a fanfarra era aberta, era o xodó da escola, tinha 115 instrumentos na época, o esporte era outro atrativo mas ao mesmo tempo o aluno sabia que era rigorosa e lá era lugar de estudo mesmo que ela fosse aberta para o esporte aos sábados a vontade, para os pais, para a família, nós tínhamos um convívio, todo semestre os pais participavam e iam lá para a escola, chamava-se “um dia na escola de seu filho”, então nós descobrimos coisas fantásticas... era um processo tremendamente saudável, agradável e moderno. (SANDRO, 2015) Figura 14: Alunos em fanfarra do Polivalente Fonte: Acervo da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” - Polivalente 80 Ao fazer considerações sobre a relação estabelecida entre os docentes quanto à organização do trabalho pedagógico realizado no Polivalente na época, o ex-diretor relatou que não enfrentou dificuldades, já que eles sabiam sobre sua visão pedagógica, bem como da sua intenção de ação educativa naquela escola, e essa postura desenvolvida por ele é destacada ainda entre os que conheceram sua forma de atuação como educador: Todo mundo entendia a proposta, que por trás havia uma proposta, isso é interessante, eu tive elogios aqui em Uberlândia de professor que trabalhou lá, aqui mesmo na UFU em uma palestra que nós tivemos, em que eu fui falar sobre Paulo Freire, do meu trabalho, da minha visão de educação, teve um professor que levantou-se lá e havia trabalhado comigo, e ele falou que lá tinha uma proposta e que ele só conhecia um diretor que toda vez que tinha reunião, todo mundo tinha a pauta e sabia a direção do que se passava, então foi muito gratificante ouvir isso também, então eu tinha uma proposta sim, tinha um trabalho e eles aderiam, mesmo a contratempo como podiam rejeitar, mas no todo endossavam a ideia. (SANDRO, 2015) Neste sentido, o ex-diretor em seu depoimento ao falar sobre o tempo em que atuou no Polivalente, ressaltou que embora o seu sonho de atuar em uma escola profissionalizante talvez não tenha se concretizado como almejou, foi nesta escola que ele vivenciou processos marcantes de sua vida ao sentir que colocou em prática aquilo que acreditava alcançar no processo educacional enquanto educador: O Polivalente foi o meu lar, foi lá que eu me realizei como educador, foi lá que eu realizei um processo que eu acreditava de educação, onde as matrizes que eu criei com Paulo Freire, com Moacir Gadotti, com Rubem Alves que foram meus professores também de Mestrado, com todo esse pessoal eu senti que a educação que eu acreditava, eu conseguia passar para frente. No aspecto profissional ficou evidente que foi uma realização tremendamente forte e eu consegui passá-la para frente com muita maturidade, com muita confiança e com muita segurança e os resultados, hoje você recebe do pessoal que passou pela escola, que amadureceu com a gente que conviveu com a gente, que assumiu com a gente, então eu não posso esquecê-los, como jamais vou esquecer todo aquele pessoal que se envolveu comigo, acreditou que ali tinha uma proposta que era diferente e nós fizemos uma escola diferente, essa foi a minha gratificação. (SANDRO, 2015) Portanto, de acordo com o ex-diretor Sandro, a sua experiência de atuação no Polivalente no decorrer deste período, lhe propiciou muitas vivências marcantes, 81 segundo ele, ainda mantém contato com várias pessoas com que conviveu nesta escola, em maior número com ex-alunos do que com os ex-professores, assim ele relatou que sempre está em contato com ex-alunos que residem na cidade de Uberlândia, dentre estes atuando como advogados, professores, médicos, enfermeiros, engenheiros, dentre outros. Como demonstrado, tal experiência remete para uma história que tem sido construída e constituída a partir de vínculos afetivos que foram vivenciadas em meio a Escola Polivalente, os quais remetem os significados dessas vivencias que se encontram vivas na memória dos sujeitos envolvidos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho consideramos que, apesar do contexto político educacional mediante a ênfase no Ensino Técnico Profissionalizante no período em questão, bem como na intenção das Escolas Polivalentes no Brasil decorrente do processo de crescimento industrial e à necessidade de mão de obra especializada para o mercado de trabalho, a Escola Polivalente deste município buscou efetivar, desde sua criação, práticas norteadoras de uma formação pautada na qualidade do ensino ofertada aos seus alunos, desenvolvendo um trabalho integrado ao ensino regular e técnico, considerando as especificidades das áreas do conhecimento. Foi possível também refletir sobre as práticas permeadas entre os atores envolvidos nesta instituição, bem como das concepções pedagógicas presentes na Gestão Escolar no período do recorte da pesquisa. Usamos concepções pedagógicas no plural pois havia aquela prescrita – a Pedagogia Tecnicista, contudo, pelas falas dos colaboradores, percebemos a circulação de outras ideias entre os educadores, como a Pedagogia Histórico-Critica mencionada pelo ex-diretor. Considera-se que,ao mesmo tempo em que o país passava pelo período do Regime Civil Militar, no qual a educação sofreu, como já descrito antes, grandes interferências oriundas das medidas que buscaram vincular estreitamente a escola e a economia capitalista, a fim de atender as demandas e interesses do mercado de trabalho, a exemplo da criação das Escolas Polivalentes. Contudo, na escola pesquisada, foi perceptível a intenção da equipe gestora e docente na proposta de promover um ensino voltado para uma formação integrada e não apenas focada na profissionalização, fato observado pelas atividades desenvolvidas no interior da instituição, fomentando a 82 participação de alunos, pais, funcionários e comunidade nos eventos como em festas comemorativas, dias de convívio na escola, reuniões, desfiles, torneios esportivos, dentre outros. Como compreendido, a escola recebeu alunos de diversas classes sociais. Foi possível, através dos relatos das entrevistadas, identificar que, mesmo apesar de dificuldades econômicas vividas por parte de algumas, estas deram continuidade aos estudos e avaliam positivamente a formação obtida na escola, como também as demais entrevistadas ao se referirem com entusiasmo sobre as práticas formativas vividas na instituição. Dentre as seis entrevistadas, cinco possuem ensino superior. Tal questão remete para a importância do trabalho mediante a coletividade das partes constituintes, o qual demonstrou ter sido incorporado às práticas educativas que estiveram presentes no planejamento desenvolvido nesta instituição; estas, por sua vez, foram vividas e assimiladas pelos atores envolvidos no compromisso com a qualidade da educação dos seus educandos, não se restringindo a formação técnica profissional, mas envolvendo também a formação intelectual, social e humana. É visível a importância do trabalho desenvolvido nesta instituição, bem como no que se refere à subjetividade relatada pelos sujeitos envolvidos nessa pesquisa histórica, a qual nos possibilitou a reflexão de que os alunos consideram o Polivalente como uma escola que promoveu não apenas o ensino formal acadêmico, como também a construção da história pessoal e humana vivida nessa instituição. Portanto, ao buscar enfatizar a história desta escola, foi possível refletir sobre a origem de sua criação, sua rica estrutura física e arquitetônica (que se diferenciava do histórico de criação de outras instituições públicas de ensino locais), os atores envolvidos, as práticas vivenciadas, o modelo e as concepções do ensino ofertado e, sobretudo os significados que se fazem ainda presentes na vida dos sujeitos que perpassaram por esta instituição escolar. Fato este que consideramos relevante para a História da Educação ao contemplarmos parte dos processos constituintes das práticas educativas de nossa sociedade. O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História. (FREIRE, 1996, p.136) 83 REFERÊNCIAS ARAÚJO, José Alfredo de. A USAID, o Regime militar e a implantação das Escolas Polivalentes no Brasil. 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Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 25/05/2015 às 18h na residência do entrevistado em Ituiutaba - MG RODRIGUES, Rosimary. Ex-aluna da Escola Estadual “Antônio Souza Martins” – Polivalente, Ituiutaba MG. Entrevista concedida a Genis Alves Pereira de Lima em 15/04/2015 às 20h na residência da entrevistada em Ituiutaba – MG. DOCUMENTOS PESQUISADOS MINAS GERAIS, Acervo Cultural, Jornal Cidade de Ituiutaba. 1974/1985. MINAS GERAIS, Acervo da Escola Estadual “Antônio Souza Martins”. Regimento Escolar Escola Estadual “Antônio Souza Martins” O.5.O.C., Ituiutaba – MG. Documentos Consultados: Decreto de Criação; Livro de Posse e Exercício de 86 Profissionais; Currículo Escolar; Manual de Mobiliário das Escolas Polivalentes; Planta Baixa Arquitetônica ANEXO - HISTÓRICO ESCOLAR DE EX-ALUNA