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Carlos Signor c.signor@hotmail.com DIREITO EMPRESARIAL II– 3º tópico CRIAÇÃO DO TÍTULO Como todo o negócio jurídico, os títulos de crédito necessitam de uma causa para serem criados. Os títulos abstratos ou não-causais são aqueles que nascem do acordo entre as partes, cuja causa que lhe deu origem somente importa a elas, não havendo vinculação entre essa origem e a emissão do título. Ex.: Nota promissória e cheque. A emissão dos títulos causais decorre obrigatoriamente de um relação anterior, uma vez que estão vinculados a uma causa que lhe dá origem. Ex.: Duplicata. A origem de uma obrigação representada por um título de crédito, pode ser: a) Extracambial, que é o caso por exemplo de uma pessoa que pede emprestado um computador a um amigo e o devolve com defeito, decorrente do mau uso. Neste caso, a pessoa ao assumir a culpa, e sendo a importância devidamente quantificada, pode ter o valor da obrigação de pagar, representado pela a assinatura de um cheque ou uma nota promissória; b) Contrato de compra e venda ou mútuo, no qual consta o valor da obrigação a ser cumprida; c) Cambial, que é o caso do avalista de uma nota promissória. SAQUE (Arts. 1º e SS da LUG) Com a criação de uma letra de câmbio, nascem três situações: 1. A situação jurídica daquele que dá a ordem de pagamento, que determina que certa quantia seja paga por uma pessoa a outra. É o sacador. 2. A situação jurídica daquele para quem a ordem é dirigida, o destinatário da ordem, que deverá efetuar o pagamento ordenado. É o sacado. 3. A situação jurídica do beneficiário da ordem de pagamento, aquele em favor de quem se faz a dita ordem. É o credor, também chamado de tomador. Portanto, saque é o ato de criação, de emissão da letra de câmbio. Após este ato, o tomador estará autorizado a procurar o sacado para receber a quantia contida no título. Outro efeito do saque é o fato de vincular o sacador ao pagamento da letra de câmbio. Se o sacado não pagar o título, o tomador poderá cobrá-lo do próprio sacador que, ao praticar o saque, tornou-se co-devedor do título (art. 9º da LUG). (Art. 9º: O sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra). Mesmo criando as três situações jurídicas acima referidas, a lei faculta que uma mesma pessoa ocupe mais de uma dessas situações. Assim, a letra pode ser sacada pelo próprio sacador (a mesma pessoa: sacador e tomador) ou, ainda, a letra pode ser cobrada do sacador (a mesma pessoa: sacador e sacado) (Art.3º da LUG). (Art. 3º: A letra pode ser à ordem do próprio sacador. Pode ser sacada sobre o próprio sacador. Pode ser sacada por ordem e conta de terceiro). ACEITE (LUG, art. 21 a 29) Alguns títulos são emitidos pelo próprio devedor, como a nota promissória. Com sua emissão, o devedor declara a existência de um compromisso, assumindo a obrigação cambial. Outros são emitidos por terceiro, o sacador, como é o caso da letra de câmbio e a duplicata. Esses documentos obrigarão o sacado (devedor) se estiverem aceitos. O aceite pode ser feito mediante a simples assinatura do sacado no anverso do título ou com alguma declaração do aceitante no verso do título (Art. 25 da LUG). Através do aceite, o aceitante assume obrigação direta e principal de pagar a letra na data do vencimento (Art. 28 da LUG). Na Nota Promissória a obrigação de pagar ao tempo do vencimento é assumida pelo emitente, com o ato de criação do título ao assiná-lo, equiparando-se ao aceitante da letra (art. 78 da LUG). (Art. 78 – O subscritor de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra). STJ: LETRA DE CAMBIO. AUSENCIA DE ACEITE. A SIMPLES EMISSÃO DE LETRA DE CAMBIO NÃO IMPORTA CRIAÇÃO DE VINCULO CAMBIAL POR PARTE DO SACADO QUE SE ABSTEVE DE ACEITA-LA. INAPLICABILIDADE DO ENTENDIMENTO CONSUBSTANCIADO NA SUM. 60. (RESP 89599/RS; STJ, 3ª Turma; Relator Min. EDUARDO RIBEIRO; j. em 19/03/1998, unânime; DJU de 18/05/1998, p. 00082) -LUG (Decreto 57.663/1966) – arts. 28, 29 e 44 -Decr. 2.044/1908 – art. 28 A falta de aceite em letra de câmbio à vista, por si só não torna o protesto irregular, na medida em que ficou claramente demonstrada a relação jurídica das partes, bem como estava prevista em cláusula contratual a emissão de letras de câmbio em caso de inadimplemento do apelante. Ocorrido o inadimplemento a emissão da letra de câmbio, e seu devido protesto são representativos do exercício do direito do apelado de ver satisfeito o débito remanescente, não havendo que se falar em ilicitude na conduta da ré, nem em nulidade do título. Sendo regular o protesto e não restando configurada a prática de ato ilícito diante de sua manutenção, quando ainda subsistia pretensão de recebimento do título, não há falar em dever de indenizar (nº 70040023046 >> O aceite pode ser simples ou qualificado, isto é, aceita somente uma parte do valor contido na cambial (art. 26 da LUG); >> O aceite pode ser riscado, o qual é considerado como recusa, desde que feito antes da restituição da letra (aceite nulo) (Art. 29 da LUG); >> A falta ou recusa do aceite resultará em vencimento antecipado e consequente ação por falta de aceite (Art. 43 da LUG) ENDOSSO (Art. 11 e ss) É o ato cambiário que opera a transferência do crédito representado por título à “ordem”, com a tradição do título, em decorrência do princípio da cartularidade. A cláusula “à ordem” pode ser expressa ou tácita, ou seja, basta que não tenha sido inserida a cláusula „não à ordem‟ para que ela seja transferida por endosso (Art.11 da LUG). O alienante de uma cambial é chamado de endossante ou endossador e, o adquirente, de endossatário. Portanto, ao endossar o título, o endossante deixa de ser o credor, posição que será ocupada pelo endossatário. Somente o credor poderá ser endossante. Não há limite para o número de endossos de um título de crédito. Podendo ser endossado por diversas vezes ou, não ser endossado. O endosso produz dois efeitos: 1. Transfere a titularidade do crédito representado na letra, do endossante para o endossatário; 2. Vincula o endossante ao pagamento do título, na qualidade de coobrigado (art. 15 da LUG: “O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for posteriormente endossada”). O endosso previsto no artigo 15 da LUG é o chamado endosso „sem garantia‟. Com essa cláusula, o endossante transfere a titularidade da letra, sem se obrigar ao seu pagamento. Portanto, por força do artigo 903 do CC, aplica-se a regra do artigo 15 da LUG e não a do artigo 914 do CC O endosso pode ser: 1. Em branco – quando não identifica endossatário (“pague-se”); no verso. A letra transforma-se em título ao portador. O endossatário poderá transferir o título por mera tradição, não ficando coobrigado. 2. Em preto – quando identifica o endossatário (“pague-se a Antonio Silva); no verso. Exemplo de Endosso Translativo em Branco: No endosso ilustrado acima, Eduardo Augusto da Costa & Cia Ltda era o credor, e, ao assinar seu nome no verso do cheque, está autorizando outra pessoa receber este cheque em seu nome. No exemplo acima, caso Eduardo Augusto da Costa & Cia Ltda fizesse um endosso translativo em preto, teria colocado os seguintes dizeres no verso do cheque. " Pague-se a "Fulano de Tal", + assinatura de "Eduardo Augusto da Costa & Cia Ltda". O endosso pode ser feito no anverso. Neste caso, não basta a simplesassinatura; tem que identificar o ato cambiário praticado. A lei veda o endosso em parte, considerando nulo o endosso parcial (Art. 12 da LUG:O endosso deve ser puro e simples.qualquer condição a que ele seja subordinado, considera como não escrita. O endosso parcial é nulo) (art. 912 do CC). A doutrina trata do endosso impróprio, também chamado de endosso- mandato ou endosso-procuração. É aquele que confere ao endossatário a possibilidade de agir como representante do endossante, exercendo os direitos inerentes ao título (art. 917 do CC e art.18 da LUG). O credor da letra poderá transferir a sua posse do título a um terceiro, sem transferir-lhe a titularidade do crédito representado. DUPLICATA. PROTESTO. MANUTENÇÃO. ENDOSSO-MANDATO. DANO MORAL. LEGITIMIDADE DE PARTE PASSIVA AD CAUSAM DOS BANCOS ENDOSSATÁRIOS.No endosso-mandato, só responde o endossatário pelo protesto e pela sua manutenção quando o fez, a despeito de advertido da irregularidade havida, seja pela falta de higidez, seja pelo seu devido pagamento.– Hipótese em que os bancos endossatários não foram comunicados a respeito do pagamento dos títulos diretamente à sacadora endossante. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 576.174/RS, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 06.10.2005, DJ 19.12.2005 p. 415). APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE CANCELAMENTO DE PROTESTO. DUPLICATA MERCANTIL. PROCESSUAL CIVIL. ILEGITIMIDADE PASSIVA. ENDOSSO-MANDATO. Consoante orientação maciça do Augusto STJ, no endosso-mandato o banco endossatário somente responde pelo protesto quando o promoveu após previamente informado da irregularidade existente no título, seja por sua inexigibilidade, quer pela quitação do débito. Demonstrado que a transferência da cártula deu-se por endosso mandato e ausente demonstração de existência de alguma dessas irregularidades, carece o Banco endossatário de legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70043653955, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 11/08/2011) Outro endosso impróprio é o endosso-caução, também chamado de pignoratício ou garantia, previsto no artigo 918 do CC e no artigo 19 da LUG). Neste caso, o título é entregue ao endossatário como garantia de uma dívida assumida pelo endossante. O título fica empenhado em poder do credor do endossante e deverá conter a cláusula “valor em garantia” ou “valor em penhor”. Cumprida a obrigação, o título será devolvido ao endossante. Em caso de inadimplemento, o endossatário terá sua titularidade plena. O banco que recebe a duplicata por endosso translativo ou endosso caução e aponta-a para protesto, como é o caso dos autos, tem legitimidade para figurar no pólo passivo da ação que visa sua anulação e o conseqüente cancelamento do protesto (REsp nº 541.460/RS, rel. Min. Barros Monteiro, j. em 18.08.2005, DJ 03.10.2005, p. 260; REsp nº 332.813, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, j. em 09.10.2001, DJ 27.06.2005, p. 395). Assim tem decidido aquela Corte, inclusive, em decisões monocráticas (Ag 538.682, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. em 18.10.2005, DJ 26.10.2005). (Apelação 70035724434- 20ª Câm.Cv. TJ/RS). O negócio jurídico transladador da titularidade de crédito de efeitos não cambiais é a cessão civil de crédito, diferindo do endosso em dois níveis: 1. Quanto à extensão da responsabilidade do alienante do crédito perante o adquirente; 2. Quanto aos limites de defesa do devedor em face da execução do crédito pelo adquirente. O endossante responde, em regra, tanto pela existência do crédito quanto pela solvência do devedor, ou seja, o endossatário poderá executar o crédito contra o endossante, caso o devedor não tenha efetuado o pagamento; Na cessão de crédito, o cedente responde, em regra, apenas pela existência do crédito e não pela insolvência do devedor (arts. 295/296 CC). Com relação à defesa, o devedor poderá defender-se, quando executado pelo cessionário, argüindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o cedente (art. 294 CC), mas não poderá defender-se quando executado pelo endossatário, argüindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o endossante (inoponibilidade das exceções a terceiros de boa-fé-Art. 17 da LUG e art. 916 do CC). São dois os casos de endossos com efeito de cessão de crédito: 1. Aquele praticado após o protesto por falta de pagamento ou fora do prazo legal para o protesto (art. 20 da LUG); 2. Endosso de letra de câmbio com cláusula não à ordem (art. 11 da LUG). Esta cláusula pode ser inserida pelo sacador ou por um endossante. Portanto, quem receber uma letra de câmbio endossada com a cláusula „não à ordem‟, não terá garantia nem endossante e nem do cedente. É o endosso-póstumo.‟ AVALISTA (Arts. 30/32 da LUG) O pagamento de uma letra de câmbio pode ser total ou parcialmente garantido por aval. O avalista garante o pagamento do título em favor do devedor principal ou de um coobrigado. O avalista é responsável da mesma forma que o seu avalizado (arts. 32 da LUG e 899 do CC). É uma obrigação autônoma em relação ao avalizado. Por isso, eventual nulidade da obrigação do avalizado, não compromete a do avalista. O avalista tem direito à ação regressiva. O aval resulta da simples assinatura do avalista no anverso da letra de câmbio. O to de garantia de efeitos não cambiais é a fiança, que se distingue do aval quanto à natureza da relação com a obrigação garantida. A obrigação do fiador é acessória (art. 837 CC), ao passo que a obrigação do avalista é autônoma (Art. 32 da LUG). Assim o fiador tem o benefício de ordem (art. 827 CC), enquanto que o avalista não dispõe desta prerrogativa.
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