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História do Brasil ESTADO NOVO: NACIONALISMO E PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA 2ª GM 1 Sumário Introdução ........................................................................................................................................2 Objetivo .............................................................................................................................................2 1. Elementos do discurso nacionalista de Vargas .......................................................................2 1.1. Os intelectuais e a construção do nacionalismo ............................................................2 1.2. Samba e futebol .................................................................................................................3 2. A participação do Brasil na 2ª GM .....................................................................................5 2.1. A Força Expedicionária Brasileira (FEB) ...........................................................................5 Exercícios ..........................................................................................................................................6 Gabarito ............................................................................................................................................9 Resumo .............................................................................................................................................9 2 Introdução Na apostila anterior analisamos a construção da imagem de Getúlio Vargas como pai dos trabalhadores. A relação próxima e de benefícios aos trabalhadores por meio de legislação trabalhista e a fundação de sindicatos, com líderes sindicais que eram funcionários do governo, garantia a exaltação das medidas do governo e enaltecia a imagem de Vargas. Ao mesmo tempo, mantinha o controle social dos trabalhadores urbanos que viam se avolumando com o estabelecimento do modelo de industrialização por substituição de importações. Nessa apostila trataremos da relação entre o nacionalismo e a participação do Brasil no conflito da 2ª Guerra Mundial. Vamos explorar como Vargas foi capaz de forma pragmática estabelecer a inserção do Brasil no contexto internacional, não abrindo mão da exaltação nacional. Objetivos • Analisar a exaltação da nação no Estado Novo como instrumento de legitimação do governo; • Compreender a inserção do Brasil no contexto mundial da 2ª Guerra Mundial, examinando a participação brasileira nesse conflito como uma forma de barganha com os Estados Unidos, promovendo recursos para a economia. 1. Elementos do discurso nacionalista de Vargas 1.1. Os intelectuais e a construção da identidade nacional Você sabe que o que entendemos por “brasileiro” é algo construído por discursos de vários tipos? Podemos dizer que durante o Estado Novo, um dos objetivos de Vargas era justamente construir essa identidade nacional, mas ele fez isso sozinho? Não, Getúlio Vargas contou com uma gama de intelectuais na busca do “ser brasileiro autêntico”, associando elementos discursivos com diretrizes políticas e econômicas de seu governo. O discurso nacionalista no Estado Novo se associava na exaltação da economia pela industrialização com a participação do Estado, com a substituição das importações por produtos nacionais em busca da autossuficiência econômica. Além disso, o trabalhador era visto como o construtor dessa nação, valorizado como braço da nação. Por fim, por de trás desses discursos havia a subordinação dos governos e autoridades estaduais à central, sendo eleita a única legítima para representar a nação. 3 No aspecto cultural, o governo de Vargas se empenhou na formação da consciência nacional. Nesse sentido, as identidades regionais eram vista inseridas necessariamente em um conjunto amplo da nacionalidade brasileira. Os tipos nacionais caracterizavam cada região, mas estas convergiam em tipos que formavam o todo da nação. A particularidade do “ser brasileiro” tinha de ser universalizada. Um dos nomes célebres nessa construção e busca foi o do reconhecido modernista Mário de Andrade (1893-1945). Ele viajou o Brasil em busca da “autêntica” cultura brasileira entre 1927 e 1928 e por isto foi convidado para redigir o projeto inicial do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1936. Criado em 1937 após a alterações em seu projeto original, o SPHAN era um órgão responsável por determinar o que seria o patrimônio nacional. O SPHAN tombou as cidades históricas de Ouro Preto, Tiradentes e Diamantina e a região do Pelourinho, em Salvador, passando a defender a preservação do patrimônio como uma forma de manter a memória nacional e constituir a sua identidade. O movimento de criação de uma identidade nacional também promoveu uma séries de pesquisas acadêmicas de historiadores, linguistas e sociológos. Dentre os mais destacado, podemos citar: • Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) com a obra Raízes do Brasil; • Caio Prado Júnior (1907-1990) com Formação do Brasil Contemporâneo e, • Gilberto Freyre (1900-1987), na obra Casa Grande & Senzala. EXEMPLO 1.2. Samba e futebol O samba e o futebol eram manifestações populares ocupadas, sobretudo, por negros e mulatos na socieade brasileira. Gilberto Freyre, em artigo publicado após a Em 1936, o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902- 1982) publicou Raízes do Brasil, onde identificava na cordialidade a pecularidade do brasileiro. Essa característica virtuosa quando aplicada na vida pública se traduzia em individualismo, troca de favores pessoais, paternalismo e compadrio. Isso enfraquecia a sociedade moderna e democrática que dependia da impessoalidade das instituições para seu pleno funcionamento. 4 Copa do Mundo de 1938, criou a expressão “futebol mulato” para caracterizar o futebol brasileiro. Exaltava a forma brasileira de jogar como uma arte, oposta ao futebol técnico europeu. Nessa edição da Copa, Leônidas da Silva, conhecido como “Diamante Negro”, foi o artilheiro. A música popular também foi incorporada ao discurso oficial, vista como um dos elementos fundamentais para a exaltação do país. O samba e a capoeira, que anteriormente era proibido de ser executado por sua origem africana, deixaram de ser criminalizados e passaram a ser considerados como elementos da cultura nacional. O samba em especial passou a ser divulgado e exaltado pelo regime do Estado Novo: foram produzidas músicas que valorizavam o trabalho e os operários. EXEMPLO No plano internacional, a música brasileira ganhou projeção pela figura de Carmem Miranda (1909-1955). Nascida em Portugal, veio ainda na infância para o Brasil e teve grande sucesso no cinema, quando integrou a partir de 1939 a indústria cinematrográfica de Hollywood (Figura 01). Nestes filmes, ela apresentava um figurino exótico, com frutas e flores, e sempre com sorriso estampado em seu rosto, dançando e cantando músicas que valorizavam a brasilidade miscigenada, de um país alegre e harmônico. Em um de seus filmes, Você já foi à Bahia?, de 1945, contracenava com o papagaio braileiro Zé Carioca (Joe Carioca), o qual depois foi estampado em inúmeras revistas em quadrinhos. Em 1939, o samba “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso (1903-1964) tornou-se conhecido e valorizava em sua letra a natureza do país ea miscigenação racial: “Brasil, meu Brasil brasileiro/Meu mulato inzoneiro/Vou cantar-te nos meus versos/O Brasil, samba que dá/Bamboleio, que faz gingar/O Brasil do meu amor/Terra de Nosso Senhor/Brasil! Brasil! Pra mim! Pra mim!”. 5 01 Miranda com o ator Don Ameche no filme Uma noite no Rio, de 1941. 2. A participação do Brasil na 2ª GM 2.1 A Força Expedicionária Brasileira (FEB) A 2ª GM se desdobrou de 1939 até 1945, com conflitos espalhados pelo mundo e centralizados na disputa entre as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e as potências Aliadas (Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética). O Brasil com sua extensão continental e seu litoral extenso se tornava estratégico nesse contexto. Vargas se posicionou de forma ambígua, não definindo claramente um lado no conflito. Por exemplo, em 1940, depois de vitórias arrasadoras das tropas alemãs na Europa, ocupando a França, Vargas se pronunciou aclamando o sucesso alemão. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos buscavam a aproximação maior com o Brasil. Seu governo tinha o objetivo de garantir o controle do hemisfério ocidental, afastando qualquer influência alemã sobre o continente americano. Vargas enxergou nessa tentativa uma possibilidade de barganha com a potência estadunidense, e o desenvolvimento da economia brasileira. A aproximação se concretizou em um volumoso empréstimo em setembro de 1940 dos Estados Unidos para o Brasil, com a finalidade de construir a usina siderúrgica de Volta Redonda. Em contrapartida, o Brasil foi pressionado a se posicionar ao lado dos Aliados. Em agosto de 1942, navios brasileiros foram atacados por submarinos alemães e naufragaram, quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo. As Forças Armadas iniciaram a organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), um contigente militar para ser enviado para a Europa e que participou das operações militares contra os alemães em 1944 e 1945. Além disso, a Força Aérea Brasileira enviou uma esquadrilha para combate e a Marinha atuou no Atlântico Sul. 6 Os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), conhecidos como “pracinhas”, atuaram no front italiano, na famosa batalha de Monte Castelo. Apesar de uma zona de combate secundária, inauguraram a participação de uma tropa latino-americana em um conflito de tamanha monta e tiveram um desempenho elogiado (Figura 02). 02 Soldados da FEB na Itália durante a 2ª GM, 07 de setembro de 1944. Exercícios 1. (ENEM, 2ª aplicação 2016) Aquarela do Brasil Brasil! Meu Brasil brasileiro Meu mulato inzoneiro Vou cantar-te nos meus versos O Brasil, samba que dá Bamboleio que faz gingar O Brasil do meu amor Terra de Nosso Senhor Brasil! Pra mim! Pra mim, pra mim! Ah! Abre a cortina do passado Tira a mãe preta do Cerrado 7 Bota o rei congo no congado Brasil! Pra mim! Deixa cantar de novo o trovador A merencória luz da lua Toda canção do meu amor Quero ver a sá dona caminhando Pelos salões arrastando O seu vestido rendado Brasil! Pra mim, pra mim, pra mim! ARY BARROSO. Aquarela do Brasil, 1939 (fragmento). Muito usual no Estado Novo de Vargas, a composição de Ary Barroso é um exemplo típico de: a) música de sátira. b) samba exaltação. c) hino revolucionário. d) propaganda eleitoral. e) marchinha de protesto. 1. (ENEM, 2012) O que o projeto governamental tem em vista é poupar à Nação o prejuízo irreparável do perecimento e da evasão do que há de mais precioso no seu patrimônio. Grande parte das obras de arte até mais valiosas e dos bens de maior interesse histórico, de que a coletividade brasileira era depositária, têm desaparecido ou se arruinado irremediavelmente. As obras de arte típicas e as relíquias da história de cada país não constituem o seu patrimônio privado, e sim um patrimônio comum de todos os povos. (ANDRADE, R. M. F. Defesa do patrimônio artístico e histórico. O Jornal, 30 out. 1936. In: ALVES FILHO, I. Brasil, 500 anos em documentos. Rio de Janeiro: Mauad, 1999 (adaptado).). A criação no Brasil do Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (SPHAN), em 1937, foi orientada por ideias como as descritas no texto, que visavam: a) submeter a memória e o patrimônio nacional ao controle dos órgãos públicos, de acordo com a tendência autoritária do Estado Novo. b) transferir para a iniciativa privada a responsabilidade de preservação do patrimônio nacional, por meio de leis de incentivo fiscal. 8 c) definir os fatos e personagens históricos a serem cultuados pela sociedade brasileira, de acordo com o interesse público. d) resguardar da destruição as obras representativas da cultura nacional, por meio de políticas públicas preservacionistas. e) determinar as responsabilidades pela destruição do patrimônio nacional, de acordo com a legislação brasileira. 2. (FGV-SP/2004) Em 21 de dezembro de 1941, Getúlio Vargas recebeu Osvaldo Aranha, seu ministro das Relações Exteriores, para uma reunião. Leia alguns trechos do diário do presidente: "À noite, recebi o Osvaldo. Disse-me que o governo americano não nos daria auxílio, porque não confiava em elementos do meu governo, que eu deveria substituir. Respondi que não tinha motivos para desconfiar dos meus auxiliares, que as facilidades que estávamos dando aos americanos não autorizavam essas desconfianças, e que eu não substituiria esses auxiliares por imposições estranhas". (Vargas, Getúlio, Diário. São Paulo/Rio de Janeiro, Siciliano/Fundação Getúlio Vargas, 1995, vol. II, p. 443). A respeito desse período, podemos afirmar: a) As desconfianças norte-americanas eram completamente infundadas porque não havia nenhum simpatizante do nazi-fascismo entre os integrantes do governo brasileiro. b) Com sua política pragmática, Vargas negociou vantagens econômicas com o governo americano e manteve em seu governo simpatizantes dos regimes nazi-fascistas. c) Apesar das semelhanças entre o Estado Novo e os regimes fascistas, Vargas não permitiu nenhum tipo de relacionamento diplomático entre o Brasil e os países do Eixo. d) No alto escalão do governo Vargas havia uma série de simpatizantes do regime comunista da União Soviética e de seu líder Joseph Stalin. e) As pressões do governo norte-americano levaram Vargas a demitir seu ministro da Guerra, o general Eurico Gaspar Outra, admirador dos regimes nazifascistas. 9 Gabarito 1. [b]. O DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), criado no decorrer da Ditadura do Estado Novo, tinha por objetivo valorizar e divulgar produções culturais que incentivassem o patriotismo e valorizassem a cultura brasileira. 2. [d]. Apesar de criada e desenvolvida durante o Estado Novo, o discurso apresentado no texto não tem um caráter autoritário. O SPHAN foi criado a partir de um posicionamento nacionalista, ou seja, não como uma agressão do Estado sobre a vida privada, mas como uma forma de criar uma legislação que preservasse elementos da história brasileira. 3. [b]. Vargas adotou uma postura de neutralidade perante as potências europeias. Apesar de sua proximidade com o nazi-fascismo, Vargas acabou se posicionando a favor dos Aliados na Segunda Guerra Mundial devido a vantagens econômicas que conseguiu angariar. Essa situação gerou uma contradição que dificilmente ele conseguiria superar: apesar da proximidade com os EUA e de sua luta contra regimes ditatoriais, Vargas manteve estruturas totalitárias em seu governo. Resumo Nessa apostila, examinamos os elementos da construção do discurso nacionalistadurante o Estado Novo. O governo promovia oficialmente a busca de uma identidade nacional, identificando o “ser brasileiro” autêntico. Para isso, captou intelectuais como Mário de Andrade, criou orgãos como o SPHAN e promovia a exaltação do samba e do futebol. No plano internacional, Carmem Miranda disseminou uma imagem harmônica e alegre do Brasil. Nesse momento, desenrolava-se o conflito da 2ª GM, e o Brasil com sua extensão e amplo litoral atraiu o interesse dos Aliados. Vargas mantinha uma posição ambígua em relação ao conflito, até que a partir de 1942 enxergou no apoio aos Aliados uma forma de barganha interessante para promover uma fonte de recursos para a economia. Trocou o apoio do Brasil na guerra por empréstimos volumosos realizados pelos Estados Unidos, fundamental, por exemplo, para a construção da usina siderúrgica deVolta Redonda. Declarou apoio aos Aliados e organizou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviando um contigente de “pracinhas” brasileiros para o combate das tropas alemãs no front italiano. 10 Referências bibliográficas ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda História – História Geral e História do Brasil. São Paulo: Ática, 1996. COTRIM, Gilberto. História Global – Brasil e Geral. São Paulo: Saraiva, 1997. FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2015. _____. História Geral do Brasil. São Paulo: Elsevier, 2016. NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República. Da Queda da Monarquia ao Fim do Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016. BRASIL. DECRETO-LEI Nº 25, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Decreto_no_25_de_30_de_novembro_de_1937.pdf>. Acesso em: 06/04/19 às 07h46min. No tempo do futebol arte. Disponível em: <http://revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/no-tempo-do- futebol-arte>. Acesso em: 06/04/19 às 08h07min. LETRAS.MUS.BR. Aquarela do Brasil. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/ary-barroso/163032/>. Acesso em: 06/04/19 às 08h32min. Referências imagéticas Figura 01: WIKIMEDIA. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carmen_Miranda_e_Don_Ameche_em_That_Night_in_Rio..jpg. Acesso em: 06/04/19 às 08h33min. Figura 02: FLICKR. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/arquivonacionalbrasil/31335211877. Acesso em: 06/04/19 às 08h38min.
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