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1 HOSPITAL GERAL ROBERTO SANTOS SERVIÇO DE PEDIATRIA PROTOCOLO DE FLUIDOTERAPIA DE MANUTENÇÃO - IMPLANTAÇÃO DA SOLUÇÃO ISOTÔNICA Dilton Mendonça _________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO As crianças hospitalizadas apresentam riscos potenciais para desenvolver hiponatremia e o uso habitual de soluções salinas hipotônicas de manutenção (Na+ < 130mEq/L) é o principal fator para agravar esta situação (hiponatremia adquirida). Quando a solução salina isotônica é usada, a hiponatrremia é menos provável de ocorrer e apresenta risco insignificante para hipernatremia. Não existe uma solução de manutenção única para todas as crianças durante todas as fases da doença, mas já existem evidências suficientes para a escolha segura do uso da solução isotônica. BASES PARA A MUDANÇA - FISIOPATOGENIA Desde 1957, é utilizada a fórmula de Holliday–Segar para o cálculo de hidratação de manutenção por via endovenosa em Pediatria. Peso Necessidades calóricas Até 10kg 100kcal/kg/dia 10 a 20kg 1000kcal + 50kcal/kg/dia (para cada kg acima de 10kg) >20kg 1500kcal + 20kcal/kg/dia (para cada kg acima de 20kg) Necessidades diárias de água, eletrólitos e glicose na manutenção – para cada 100kcal. Água: 100ml - Na: 3mEq - K: 2 mEq - Glicose: 8g Taxa hídrica máxima por dia: 2400ml O NaCl utilizado é a 0,18% - 30mEq de Na/L – Osmolaridade:60mOsm/L Por ser uma solução hipotônica, esta recomendação em crianças hospitalizadas pode ter efeitos indesejáveis porque a maioria apresenta risco de desenvolver hiponatremia como resultado de vários estímulos para a produção de arginina vasopressina (AVP). A administração de fluidos hipotônicos em pacientes com excesso de AVP torna previsível a ocorrência de hiponatremia (cerca 30% dos pacientes). A hiponatremia é definida como a concentração de sódio inferior a 136mmol/L e é o transtorno eletrolítico mais comum entre crianças hospitalizadas. Na presença de infecções agudas, há retenção hídrica por maior secreção de ADH e a administração de mais sódio e menos água livre pode reduzir o risco de hiponatremia. 2 ALGUNS CONCEITOS Tonicidade é a capacidade que os solutos têm de provocar movimento de água de um compartimento para outro. Osmolaridade refere-se ao número de partículas osmoticamente ativas de soluto contidas em um litro de solução. mosM = Peso da substância (g/L x Número de partículas X 1000 Peso atômico da substância (g) A osmolaridade plasmática também pode ser estimada através do cálculo [(Na + K)x2] + (glicemia/18). OSMOLARIDADE x PRINCIPAIS SOLUÇÕES Plasma Ringer Lactato SF 0,9% SG 5% Sol 1:4 Osmolaridade Na (mOsm/L) 140Mmol/L 140mEq/L 130Mmol/L 130mEq/L 154 Mmol/L 154mEq/L 0 30Mmol/L 30mEq/L Osmolaridade (mOsm/L) 280-295 275 308 252 282 SOLUÇÃO mEq/l de sódio (Na+) NaCl a 20% 3400 NaCl a 3% 513 Solução 1:1 77 NaCl a 10% - 1ml = 1.7mEq de sódio NaCl a 20% - 1ml = 3.4mEq de sódio NaCl a 3% - 1ml = 0.5mEq de sódio NaCl a 0.9% - 1ml = 0,15mEq de sódio (1g de NaCl = 17 mEq de Na) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE HIPONATREMIA As crianças apresentam maior risco de encefalopatia hiponatrêmica e as principais manifestações clínicas de hiponatremia são: Cefaleia Náuseas e vômitos Letargia Desorientação 3 Depressão de reflexos tendinosos Convulsões Disfunção neurológica permanente Edema cerebral – morte Herniação de tronco cerebral SOLUÇÃO ISOTÔNICA DE MANUTENÇÃO PRINCIPAIS INDICAÇÕES – Pacientes instáveis e graves, especialmente nas situações referidas abaixo: Doenças pulmonares (como pneumonias e bronquiolite) Desidratação e nefropatias perdedoras de sal Doenças do Sistema Nervoso Central (como meningites, encefalites, tumores cerebrais e traumatismo crânioencefálico) Sepse e hipotireoidismo Situações de hipovolemia e hipotensão Situações de vômitos, náuseas, dor significativa e estresse Pós-operatórios em geral (principalmente ortopédicos, neurocirúrgicos e otorrinolaringológicos) Doenças oncológicas e hidratação para quimioterapia Cetoacidose diabética (considerar protocolo específico) NÃO INDICAR SOLUÇÃO ISOTÔNICA NA FASE INICIAL DE HIDRATAÇÃO: pacientes estáveis que ficarão curtos períodos em hidratação parenteral. Monitorizar nível sérico do Na e, se necessário, instituir solução isotônica. Período neonatal Distúrbios hidroeletrolíticos graves Insuficiência renal aguda e doença renal crônica Situações de edema significativo (particularmente associada à insuficiência cardíaca, insuficiência hepática, glomerulopatias e hipoalbuminemia) Pós-operatório de cirurgia cardíaca *Analisar individualmente cada caso – considerar restrição hídrica e salina. 4 OPÇÕES DE SOLUÇÃO ISOTÔNICA Soluções padronizadas Concentração de Na Concentração de K Osmolaridade SG 5% - 500 ml NaCl 20% - 20 ml KCl 19,1% - 5 ml Na+: 136mEq/L K+: 25mEq/L 570 Osmol/L SG 5% - 1000 ml NaCl 20% - 40 ml KCl 19,1% - 10 ml SG 10% - 1000 ml NaCl 20% - 40 ml KCl 19,1% - 10 ml SG 5% - 250 ml NaCl 20% - 10 ml KCl 19,1% - 2,5 ml Soluções Isotônicas Clássicas Concentração de Na Concentração de K e Ca Soro Fisiológico (NaCl 0,9%) Na+: 154 mEq/L Ringer simples Na+: 147 mEq/L K+ e Ca++: 4mEq/L Ringer lactato Na+: 130 mEq/L K+ e Ca++: 4mEq/L RECOMENDAÇÕES BASEADAS NO NÍVEL DE SÓDIO PLASMÁTICO Sódio plasmático Solução recomendada Na+ < 138 mEq/L Soluções isotônicas Na+: 138 – 144 mEq/L Soluções isotônicas ou 68 mEq/L Na+: 145 – 154 mEq/L Soluções com 68 mEq/L Exceções: TCE e Cetoacidose -> Solução isotônica* Na+ > 154 mEq/L Considerar patologia de base e avaliação clínica *Nestas duas situações os prejuízos de uma potencial hipernatremia são menores do que o risco de edema cerebral. No caso de cetoacidose diabética, apesar da sugestão inicial de solução isotônica, deve-se adotar o protocolo institucional. 5 SOLUÇÃO HIPOTÔNICA - PRESCRIÇÃO INICIAL PRINCIPAIS INDICAÇÕES: pacientes estáveis que ficarão curtos períodos em hidratação parenteral, especialmente nas seguintes situações: Pré-operatórios de cirurgias eletivas (pacientes sem patologias agudas) Perdas extra-renais de água livre (Febre – Queimaduras – Diarreia profusa aquosa com hipernatremia) Distúrbios na habilidade de concentração urinária (recém-nascidos prematuros) Perdas renais de água livre (Diabetes insípidos nefrogênico congênito – Displasia renal – Nefronoftise (doença renal cística medular) – Nefrites túbulo-intersticiais – Uropatias obstrutivas – Anemia Falciforme (casos específicos) Cardiopatias com descompensação. FLUXOGRAMA – PRESCRIÇÃO INCICIAL NÃO NÃO SIM SIM SIM * Considerar protocolo institucional específico Coleta de sódio Pós operatório de cirurgia cardíaca Insuficiência cardíaca, renal, hepática Distúrbios hidroeletrolíticos graves Período neonatal Perda de água livre Pós-operatório eletivo Hipernatremia Pós-operatórios em geral; hipovolemia e hipotensão; sepse; hipotireoidismo; doenças do SNC, pulmonares ou oncológicas/QT; cetoacidose diabética* Considerar soluções hipotônicas Analisar individualmente Considerar restrição hídrica e salina Prescrição inicial: solução isotônica Evitar balanço de sódio negativo e balanço hídrico positivo Na+ < 138mEq/L: Solução isotônica Na+ entre 138-144mEq/L:Solução isotônica ou 68mEq/L Na+ entre 145-154mEq/L: Solução 68mEq/L ou Solução isotônica se TCE ou cetoacidose diabética* Na+ > 154mEq/L: Considerar doença de base 6 REFERÊNCIAS 1. Saba et al. A randomized controlled trial of isotonic versus hypotonic maintenance intravenous fluids in hospitalized children. BMC Pediatrics 2011, 11:82 http://www.biomedcentral.com/1471-2431/11/82 2.Friedman et al. Comparison of Isotonic and Hypotonic Intravenous Maintenance Fluids – A Randomized Clinical Trial. JAMA Pediatrics Published online March 9,2015. 3.Hoorn EJ, Geary D: Acute hyponatremia related to intravenous fluid administration in hospitalized children: An observational study. Pediatrics, 2004: 113 (5): 1274-1284. 4.Andrade OVB, Shibata ARO – Protocolo assistencial Hospital Israelista Albert Einstein – 2012. 5.Choong K, Bohn D: Manutenção de líquidos na criança agudamente doente. Jornal de Pediatria, 2007 (83), S3-10. 6.Shippen P, Adderley R: Iatrogenic hyponatremia in hospitalized children: Can it be Avoided? Paediatr Child Health, 2008: 13 (6): 502-506. 7.Alves JTL, Troster, EJ, Oliveira CAC: Solução salinai como fluidoterapia de manutenção intravenosa para prevenir hiponatremia adquirida em crianças hospitalizadas.. Jornal de Pediatria, 2011 (87), 478-86. 8.Eulmesekian, PG, Perez A: Hospital-acquired hyponatremia in postoperative pediatric patients: Prospective observational study. Pediatr Crit Care Med, 2010 (11): 479-483. 9.Moritz ML, Ayus JC: Hospital-acquired hyponatremia: why are there still deaths? Pediatrics: 2004 (113): 1395-6. 10.Neville KA, Sanderman DJ: Prevention of hyponatremia during maintenance intravenous fluid administration: a prospective randomized study of fluid type versus fluid rate. J Pediatr. 2010 (156): 313-9.
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