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Libertação pelo direito ou da libertação do direito: o caso das sufragistas.

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1 
 
Libertação pelo direito ou da libertação do direito: 
o caso d’as sufragistas. 
 
Fábio Junior Rocha Vianna1 
Universidade Federal de Ouro Preto 
rochaviannafj@gmail.com 
Resumo: 
Este trabalho tem por objeto, não estranhamente, examinar o filme As Sufragistas, 
sob direção de Sarah Gavron, a luz de um referencial teórico muito preciso, a saber, 
Kriele. Nosso trajeto, portanto, será i) dar uma descrição bem aproximada da produção 
cinematográfica, contando com alguns apêndices no tocante a contextualização do que a 
obra busca retratar; ii) apresentação teórica, mais precisamente os dois conceitos 
“libertação pelo direito e libertação do direito” que Kriele busca elucidar em Libertação 
e iluminismo político. Uma defesa da dignidade do homem. E iii) dado por compreendido 
a parte “i)” e “ii)” de nossa digressão, passamos então a inferir, se é que a lente teórica 
nos permite fazer tal coisa, se a luta engendrada pelas suffraggetes no filme e talvez na 
vida real, foram, segundo os conceitos de Kriele, uma luta pela libertação pelo direito ou 
uma luta pela libertação do direito. 
 
Palavras-chaves: Sufragistas, libertação-pelo-direito, libertação-do-direito. 
 
1. O filme: 
Recebedor de dois prêmios: British Independent Film Award: Melhor Ator 
Coadjuvante 2015 (Brendam Gleeson) e Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Designer 
de Produção (Alice Normington), as Sufragista é um filme que busca retratar a 
reivindicação do direito ao voto que uma parcela das mulheres britânicas engendrara no 
século XX. Sua sinopse é bem precisa nesse quesito: 
 
1 Graduado em filosofia (licenciatura) pela Universidade Federal de Ouro Preto e graduando em ciências 
econômicas pela Universidade Federal de Ouro Preto. 
2 
 
“As indicadas ao Oscar® Carey Mulligan e Helena 
Bonham Carter, além de Meryl Streep, três vezes 
vencedora do Oscar®, estrelam este poderoso drama, 
inspirado em eventos reais, sobre mulheres dispostas 
a tudo em favor de sua luta pela igualdade, na 
Inglaterra do início do século 21. Instigada pela 
fugitiva Emmeline (Meryl Streep), Maud (Carey 
Mulligan) entra no crescente movimento sufragista, 
juntamente com mulheres de todos os níveis sociais, 
que sacrificaram seus empregos, suas casas, filhos e 
até suas vidas pelo direito de votar.” (YOUTUBE 
FILMES, 2019) 
Inicialmente o filme é promissor. Com uma narrativa muito bem desenvolvida e clara, 
o roteirista Abi Morgan consegue conduzir com bastante cautela cada cena sem perder o 
fio condutor central: narrativa de uma história real. E assim o filme é conduzido até o 
final. A questão é essa: “final”. O filme encerra de maneira muito “seca”. Ele promete 
muito no começo gerando uma forte expectativa em quem o vê, de modo que no final 
espera-se que as suffraggetes consigam o direito de voto estendido as mulheres e dessa 
feita “revolucionar” nosso sistema político. Infelizmente para nossa desgraça ainda nos 
dias de hoje as mulheres no mundo não conseguiram esse direito em sua integralidade. 
Para o nosso desprazer em alguns lugares do mundo, sobretudo no Brasil, as mulheres 
recebem, em média, dois terços do que os homens. Na Arábia Saudita mulheres 
conseguiram o direito ao voto no ano de 2015. Portanto, seria demasiado ingênuo e muito 
“hollywoodiano” o filme As Sufragistas terminar com “todas viveram felizes para 
sempre”. A verdade é que muita gente levou e leva porrada ainda nos dias de hoje lutando 
pelo trivial. Mas trivial não no sentido de que a vida, a dignidade humana, ou os direitos 
iguais sejam triviais, trivial no sentido de que deveríamos a essa altura – depois de 
praticamente três séculos de Iluminismo, depois de mais de 130 anos de abolição de 
escravatura – ter consciência coletiva acerca de princípios de justiça no tocante a 
organização de sociedades hipercomplexas2. Mas, quanto a isso não podemos ser 
pessimistas. Pelo contrário, a história nos mostra que os dias de hoje são muito menos 
sangrentos do que a 200 anos atrás. Nossos sistemas de descentralização de poder, 
organizações como a ONU, Conselhos de Ética, Estado Democrático de Direito, 
 
2 Quero dizer sociedades com inúmeras culturas, inúmeras visões de mundo, portanto inúmeros interesses 
no tocante a organização da vida em sociedade. 
3 
 
presunção de inocência, habeas corpus, e sofisticados mecanismos de proteção a vida, 
tem nos balizado com muita eficiência no que tange aos Direito Humanos, p. ex. Em 
suma, instituições fortes de longa data sustentam de modo a garantir direitos e deveres de 
aproximados 7 bilhões de pessoas atualmente. 
Mas convenhamos, essa é apenas uma parte de constatações, mais precisamente, um 
paralelo – e se permissível – crítica ao filme. Trata-se, na verdade, de um desfecho de seu 
desdobramento no que tange a opinião crítica subjetiva. 
O que nos furta atenção quando deparado com cenas e diálogos pelos interpretes em 
tela é a forma inaceitável de tratamento orientado as mulheres. É chocante e inadmissível 
a forma que as mulheres são tratadas em pleno ano de 1912. Um absurdo pra ser mais 
preciso. As mulheres, por lei, são impedidas de ter acesso ao filho em caso de ruptura de 
união estável ou mesmo casamento. Outras duas cenas que faz quem está em frente as 
telas e que tenha o senso humano desenvolvido minimamente é descaso narrado pelo 
policial investigador. Em suas falas “você acha que vão acreditar em uma menininha 
como você?”, “você não é ninguém”. Um segundo momento que desperta nojo é o 
aparentemente dono da lavanderia assediando a jovem adolescente filha de Violet que em 
outrora fizera o mesmo com Maud. Ademais nas cenas iniciais fica latente quando Maud 
vai até uma organização de Estado, para falar, no lugar de Violet, sobre a situação das 
mulheres na lavanderia. Nessa cena a única mulher que está sentada junto as grupo de 
homens é a mulher que está registrando, aparentemente uma ata, portanto aquelas alturas 
destituídas de fala. Ora, oque se enfatiza ali é precisamente a ausência da mulher na 
participação pública. Nesse momento, Maud desconsidera usar o manuscrito de Violet e 
passa a proferir em suas próprias palavras o que ela tem passado pelos últimos 24 anos 
de sua vida, haja vista que ela declara ter 24 anos e ter nascido na lavanderia. “o tempo 
de trabalho para as mulheres é menor”, “ elas sentem dor, tosse, se queimam, intoxicam,” 
não sabe, porém, o que viria significar a concessão ao voto, mas declara que o fato de 
haver uma possibilidade de melhorar, ela fala “só de pensar em votar, e que há outra 
maneira de viver essa vida”. É a partir desse momento que a personagem principal ganha 
relevo de militante em prol do direito ao voto. Abre mão de sua família nessa luta em 
busca de igualdade. 
2. Dos conceitos de Libertação e “Libertação”: 
4 
 
Começamos nossa digressão a partir de uma descrição histórica que Kriele se detém 
em nos apresentar marcando como o relevo do surgimento dos conceitos que serão 
desenvolvidos nessa seção, a saber, Libertação e “Libertação”. Mais precisamente a chave 
teórica aqui é a ideia de que por um lado tivemos uma libertação do homem pelo direito, 
isto é, através de instituições de direito e jurídica, e outra “libertação” através da extinção 
de tais instituições. Em suma esta última argui que as instituições aprisionam ao invés de 
“libertar”. Kriele, nesse sentido descreve: 
A Revolução de 1789 teve início com a Declaração dos Direitos do 
Homem e dos Cidadãos, desembocando na Constituição de 1971 que se 
baseava no princípio da divisão de poderes de uma legislação 
democrática, do poder executivo e do poder judicial. Os três princípios: 
Direitos do homem, divisão de poderes e democracia, que em sua 
unidade(globalidade) formavam a quinta-essência do iluminismo 
político do século XVIII, encontraram sua expressão na Constituição de 
1792. (KRIELE, 1980. p.9). 
A segunda Revolução, que teve inicio em 10 de agosto de 1792 na 
Comuna de Paris, propunha-se superar este direito público dos direitos 
do homem, da divisão de poderes e da democracia numa “libertação” 
absoluta: A emancipação do direito público do Iluminismo político 
devia conduzir à plenitude da democracia e da liberdade, mas de fato 
conduziu ao terror, no qual a nova noção de “libertação” se manifestou 
pela primeira vez no mundo. (KRIELE, 1980. p.9). 
De uma forma geral o que se pretende estabelecer é o conceito de libertação 
longamente exaurido por Kriele. Deste modo, uma primeira tentativa de esclarecer o que 
vem a ser esse movimento que cunhou esses conceitos é uma distinção entre a libertação 
pelo direito e libertação do direito. 
É comum admitir-se que libertação e “libertação” se distinguem em 
primeira linha pelo método que adotam na luta política: reforma ou 
revolução, sem violência, com violência. Mas essa não é absolutamente 
a diferença mais importante. (KRIELE, 1980. p.21). 
Ora, se no caso da libertação pelo direito temos uma reforma sem violência, já no 
caso da libertação do direito temos a revolução via violência. Mas como salienta o autor, 
essa não é diferença substancial entre ambas. 
5 
 
A diferença mais importante entre libertação e “libertação não está no 
método, mas no fim, portanto, na representação sobre uma sociedade 
libertada. (KRIELE, 1980. p.22). 
Uma digressão mais prolongada começa ilustrar melhor o que vem a ser essa 
“libertação”. Trata-se em ultima análise da suspensão, ou melhor dizendo, da extinção de 
todo o aparelho jurídico de Estado que cumpre e faz cumprir os direitos de uma sociedade 
organizada e cooperativa. Continua Kriele: 
“a noção-chave “libertação” pode ser definida (determinada) 
exclusivamente por seu ataque contra o estado constitucional 
democrático. Os slogans dessa “tradição libertadora” foram: 
democracia radical, substituição do domínio de homens sobre homens 
pela administração das coisas, pela igualdade, autonomia, emancipação, 
liberdade de domínio. (KRIELE, 1980. p.24). 
Ao que esta citação sinaliza, a reivindicação dessa linha teórica que fundamenta, 
portanto, um posicionamento político é uma ideia mais ou menos obscura de que o 
Estado, via direito, aprisiona os indivíduos e que por isso a via de emancipação – a 
expressão “Libertação” – é a solução que visa uma maior liberdade aos indivíduos. De 
modo que esse projeto se apresenta da seguinte forma: 
A noção ilegítima da “libertação” subdivide os homens em duas classes: 
em menores e em maiores, em educandos e educadores, em 
emancipados e emancipandos, em libertadores e libertandos. Os 
libertadores definem as condições em que os menores se tornam 
maiores. (KRIELE, 1980. p.26) 
De tal modo que isso configura exatamente como se fosse uma promessa. Na 
verdade, trata-se de mais do que isso: a ideia equivocada, ou pressuposto de que há classes 
libertadas e libertandas, maiores e menores, por isso carente de serem libertadas das 
amarras do Estado. 
Portanto, em conclusão deste primeiro conceito, afirma Kriele: 
A característica mais profunda e expressiva da corrente da tradição 
“libertadora” é a seguinte: Eliminar a dignidade humana equivale a 
reduzir o homem a uma estrutura de necessidades e inteligência técnica. 
É exatamente isso que deve ser o “homem novo”. (KRIELE, 1980. 
p.37) 
6 
 
 Passamos a considerar nessa fase, o conceito concorrente ao de “Libertação” ou 
libertação do direito. Em contraste com este, o conceito de libertação pelo direito busca 
justificar as razões que o fundam enquanto tal, de modo que garante seu estatuto real, 
factivo e justo, portanto. Primeiro porque tal conceito se funda primordialmente, ou em 
outros termos, tem princípio na tríade: direitos humanos, divisão de poderes e 
democracia. 
Cirúrgico é Kriele neste sentido: 
A divisão de poderes, é verdade, não é uma condição suficiente para a 
concretização dos direitos humanos e democráticos, mas uma condição 
necessária, como demonstram as experiencias continuamente desde 
então. (KRIELE, 1980. p.45) 
Tendo como pressuposto básico a ideia de que todos tem direito que se respeitem 
a sua dignidade humana, continua Kriele: 
Numa cosmovisão neutra, o Estado se funda na seguinte pressuposição 
básica: Todo homem tem direito a que respeitem a sua dignidade 
humana. (KRIELE, 1980. p.45) 
E isso porque tal instituição só se consolida, ganha consistência, quando a tríade 
é concomitantemente unificada. Ou seja, democracia em ultima análise é descentralização 
de poder. E pode-se perguntar, como tal descentralização pode-se dar no âmbito da 
sociedade? A partir de unidades institucionais que tenham como principio essa tríade 
como carta magma. Em ultima instância o que se profere são balizadores institucionais 
que dão o devido suporte aos regimes democráticos: 
Já que a democracia só pode existir no âmbito da divisão de poderes, 
direitos humanos, democracia e divisão de poderes formam uma 
unidade institucional. (KRIELE, 1980. p.45) 
(...) A obrigação de respeitar a dignidade humana tornou-se o critério 
das instituições políticas e jurídicas e de suas mudanças. (KRIELE, 
1980. p.47). 
Esforçamo-nos agora por entender o que vem a ser o iluminismo político que 
Kriele reforça tanto em seu argumento: 
A quintaessencia do iluminismo político dos tempos modernos é a 
unidade formada pelos direitos humanos, pela divisão dos poderes e 
pela democracia. A eficácia real dos direitos do homem supõe seu valor 
7 
 
jurídico, e este supõe a divisão de poderes. Porque, somente, quando a 
autoridade pública como tal estiver vinculada ao direito, pode estar 
ligada pelos direitos do homem. Ora, ela se acha vinculada ao direito 
do homem somente no sistema da divisão de poderes, onde o executivo 
não pode dispor do poder nem o violar, onde, ao contrário, o direito lhe 
é preestabelecido pela constituinte e pelo legislador e onde juízes 
independentes zelam pelo respeito ao direito. (KRIELE, 1980. p.41) 
Ou seja, o que se vinha delineando em linhas gerais era uma iniciação ao que 
chegaríamos nesse segundo momento: iluminismo político, portanto, é uma extensão da 
tríade já mencionada. Em uma palavra Iluminismo político é liberdade (KRIELE, 1980). 
Pois é ela que garante a eficácia real dos direitos do homem, sobretudo porque está 
descentralizada os poderes que lhe competem. E isso porque quando a autoridade pública 
estiver balizada pelo direito ela estará em consonância com os direitos do homem e em 
atendimento do homem. De modo que o executivo não pode violar e dispor ao seu bel 
prazer, e juízes independentes zelam pela sua horizontalidade. 
Isso decorre, no entendimento de Kriele, por quê: 
somente quando os direitos humanos são garantidos pelo direito, o 
cidadão goza de segurança que lhe outorga o direito, goza da liberdade 
intelectual e política, sem a qual não seria sujeito de autodeterminação 
democrática, mas objeto da heterodeterminação estatal (KRIELE, 1980. 
p.41) 
Liberdade e igualdade não são, segundo Kriele, conceitos antagônicos e por isso 
inconsistentes de serem factíveis concomitantemente. O que se busca através das 
instituições de direito é que todos os homens tenham direito a liberdade modo a garantir 
o desenvolvimento pleno de suas habilidades, capacidades, ou se quisermos usar um 
termo de Rawls, projeto de vida. De poderem se autodeterminar. Ainda que sendo livres 
são desiguais, sobretudo em função das divergências de aptidão que um e outro têm, 
importao fato ultimo de serem livres e poderem se determinar respeitando o direito de 
liberdade do outro. 
Para o iluminismo politico “igualdade” significa liberdade e dignidade 
para todos e não apenas para alguns. Não se diz que cada um tem direito 
à liberdade “e igualdade”. A ideia da igualdade consiste antes em que 
“todo homem” tem igual direito a liberdade e igualdade. Não se trata de 
“nivelar” os homens, mas de terem o direito igual e possibilidades 
politicas e sociais iguais para a autodeterminação tanto individual como 
8 
 
também nacional. Homens livres sempre são desiguais, porquanto 
fazem uso diverso de sua liberdade, conforme seus dons e inclinações. 
Importa apenas que tenham realmente as possibilidades para o livre 
desenvolvimento de sua personalidade levando na devida consideração 
o direito igual de qualquer outro. (KRIELE, 1980. p.55) 
Por fim, concluindo nossa segunda exposição conceitual: 
A primeira compreensão e mais importante do iluminismo político é, 
antes de tudo, que as exigências de liberdade e igualdade não são 
exigências contraditórias, mas idênticas. O direito à liberdade é um 
direito igual a todo homem. Ou formulando de maneira diferente: 
Igualdade significa liberdade para todos nós, não só para alguns. Com 
esse principio o iluminismo político apresenta-se como um terceiro 
caminho obliquamente a todas as correntes políticas, tanto do 
liberalismo conservador como também do igualitarismo progressista. 
(KRIELE, 1980. p.57) 
3. As Sufragistas: Libertação ou “Libertação”? 
Essa fase final busca retomar a primeira e segunda parte de nossa exposição e por 
fim dar um parecer, considerando os conceitos aqui apresentados, se a luta engendrada 
pelas sufragistas, pelo voto, portanto igualdade política, configura o caso de 
“libertação”, ou seja, libertação do direito, ou libertação pelo direito. 
Numa frase, o que se busca pelas suffraggetes, depois de exaurir nossa 
conceituação guiada por Kriele, não há o que contradizer, é uma luta de libertação 
pelo direito. 
Passamos, pois, justificar porque podemos defender isso. Em primeiro lugar é 
demasiado marcante o entendimento que a suffraggetes tem acerca das instituições. 
Elas não querem de modo algum revolucionar os modelos de organizações de 
sociedade, jogando tudo por terra e iniciando, em seguida, um “novo mundo”. Pelo 
contrário, elas entendem que só pelo direito elas terão o aporte necessário de modo a 
ser sustentável suas reinvindicações. Elas o fazem indo a tribunais, conselhos, e no 
extremo fazem com um manifesto na presença do rei. Poder-se-ia alguém objetar: mas 
ela, a militante que deu a sua própria vida, arriscou sua vida, portanto violando uma 
lei. É verdade, mas ela o faz justamente porque entende que apenas assim e justamente 
assim é que poderia ter a repercussão que teve, culminando em publicidade nos dias 
seguinte, promulgando concessão de voto – objetivo ultimo das suffraggetes. Ou seja, 
9 
 
o conhecimento da lei e entendimento de que as instituições são instrumentos eficazes 
na promoção de sociedades mais justas, via direito, é o que as conduziu a tomarem as 
decisões, de se posicionarem politicamente em sindicatos e se organizarem de modo 
a exigir do Estado participação política, isto é, escolher representantes que as 
representassem e fizessem leis que atendessem interesses específicos da mulheres, 
por exemplo. Como é caso da passagem que Maud responde ao seu ex marido que 
queria votar para poder mudar a lei que impedia de ter acesso ao seu filho, quando 
seu marido responde que por lei o filho era dele e não dela. 
Não falta cena que colabore a corroborar nossa defesa. Todas as manifestações 
promovidas por elas no filme, em última instância, visavam alcançar um público. Esse 
publico era uma representação de Estado (fosse o rei ou a mídia). E ora, como já foi 
falado, o Estado, Democrático de Direito, é uma instituição, pela via do direito, 
balizado pela tríade: i) direitos humanos, ii) divisão dos poderes, e iii) democracia, 
formando assim uma unidade institucional, que garante aos indivíduos a igualdade e 
a liberdade por força de lei. Assim sendo, elas entendiam que se a lei tinham a eficácia 
de atender aos homens e era precisamente rigorosa quanto a isso, por que não estender 
essa igualdade também para as mulheres, haja vista todas participarem da sociedade 
de maneira as vezes mais cruel e desgastante, como ficou registrado no relato de 
Maud. Na verdade, o voto era uma primeira reivindicação. As sucessivas 
reinvindicações viriam nos anos vindouros e que se desdobrou paulatinamente nos 
países do mundo afora, como é o caso do Brasil no ano de 1932. 
Referencias: 
• https://www.youtube.com/watch?v=IcOmJnDaPgo 
• KRIELE, Martin. Libertação e iluminismo político. Uma defesa da dignidade do 
homem. São Paulo: Loyola, 1980 [pp.17-68].

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