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A transição para o trabalho assalariado no Brasil, descrita por Celso Furtado, com a formação do Complexo Cafeeiro paulista

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Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP 
Instituto de Ciências Socias e Aplicadas – ICSA 
Departamento de Ciências Econômicas – DEECO 
Formação Econômica Brasileira – ECO168 
 
Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira 
Fábio Junior Rocha Vianna1 
*Os dois textos bases aqui utilizados como fontes de pesquisa e reflexão são Formação Econômica 
Brasileira de Celso Furtado e a Tese de doutoramento de Wilson Cano. 
Uma breve introdução: 
Antes de mais nada é adequado fazer jus que esta é uma questão que merece 
páginas e mais páginas de exposição e discussão de um tema ao mesmo tempo rico, mas 
limitado. Rico porque quando se trata de descrição e interpretação, i.e a teoria explicativa, 
de um ou vários fatos históricos, vários elementos precisam ser levados em conta: 
contexto que o(s) fato(s) ocorreu(am), antecedentes, cultura vigente, ideologia, fatores 
políticos, fatores econômicos, etc. Limitado porque as fontes nem sempre são tão 
transparentes, alguns dados de um local não batem com outro, a pesquisa de um diverge 
de outro (o que é bom, pois nos coloca em situação de discussão e revisão de crenças o 
tempo todo), escassez de um dado estatísticos, perda de documento, limites do próprio 
pesquisador, etc. Nisto consiste, pelo menos em parte, o trabalho do historiador, que se 
servem tanto economistas, filósofos, cientistas políticos, sociólogos, antropólogos, 
juristas e toda a gente que se interessa pelos fatos que ocorreram no passado e que se 
desdobram no presente, e em parte no futuro. Como muito bem escreve Harari – professor 
de história da Oxford University – no livro Homo Deus: uma breve história do amanhã. 
“O estudo da história tem o objetivo de nos livrar dessa 
submissão ao passado. Ele nos permite voltar a cabeça para 
mais de uma direção e começar a perceber possibilidades 
inimagináveis. Ao observar a cadeia acidental de eventos que 
nos trouxe até aqui, nos damos conta de como nossos 
pensamentos e sonhos ganharam forma – e podemos começar 
 
1 Graduando em filosofia (licenciatura) UFOP. 
a pensar e sonhar de forma diferente. O estudo da história não 
dirá qual deve ser nossa escolha, mas ao menos nos dará mais 
opções.” p.67 
A questão: 
Penso, pois, que neste contexto este será meu empreendimento: Articular a 
transição para o trabalho assalariado no Brasil, descrita por Celso Furtado, com a 
formação do Complexo Cafeeiro paulista. 
Uma das grandes dificuldades que sempre tive ao descrever qualquer 
acontecimento histórico – talvez por uma má formação escolar – é a de que sempre tenho 
a impressão de que é necessário eu contextualizar a ocorrência (ou fato), seja ela de 
qualquer natureza for – política, por exemplo2. Pelo menos em parte eu sempre me exigi 
isso, mas nunca soube se de fato conseguia atender essa exigência pessoal. O fato é, por 
onde começar contar essa história, que como dizem alguns professores de história 
“devemos entender a história sempre como um processo...”, ainda mais quando estou 
falando de um lugar que não é especificamente o meu, pois venho de um curso em grande 
medida diferente: filosofia. 
Pois bem, de uma maneira direta e geral, se fosse para descrever uma resenha ou 
sinopse deste processo, de acordo com dois importantes historiadores que tivemos em 
curso – Wilson Cano e Celso Furtado – penso que seria sensato mas muito precipitado e 
de certa forma ingênua, dizer que essa articulação entre a transição do trabalho escravo 
para o trabalho assalariado e além disso articula-los com a formação do Complexo 
Cafeeiro a explicação seria deste modo: 
Começamos o século XIX com a decadência da até então duas matérias primas 
rentáveis que aqui se produzia e mandava para Europa: cana de açúcar e o ouro. Depois 
de explorar grandes quantidades de ouro e outros minérios e enviar para Inglaterra, berço 
da Revolução Industrial e Burguesa. Depois de algumas províncias como a de São Paulo, 
Rio de Janeiro e Minas Gerais – esta última em especial – começarem a se organizar 
economicamente – no caso de Minas Gerais se organizar para uma economia 
explicitamente de subsistência e com um número extraordinário de mão-de-obra (muito 
 
2 Descrever a 2ª Guerra Mundial, por exemplo, envolve contextualizar, sinalizar antecedentes, etc. 
mais que São Paulo e Rio de Janeiro) – uma nova matéria prima surge, a saber, o café; 
como via de reestabilização dos comércios de exportação. 
Alguns fatores levam, em primeiro lugar, São Paulo se desenvolver tão 
discrepantemente das outras províncias. São Paulo teve fortes apoios do Estado com 
políticas de valorização do café; políticas de criação de infraestrutura, por exemplo, como 
é o caso da criação de galpões e ferrovias (esta primeira como maneira estocar o café, e a 
segunda como via de transporte do café do Oeste Paulista até os portos no Rio) e a criação 
de bancos como braços financiadores deste forte empreendimento. 
Até aqui nada de novo. Muitos incentivos, preço do café em alta 
internacionalmente (houve alguns momentos que houve uma queda, mas o governo tratou 
de intervir), e já que o preço estava em alta fazia sentido aumentar o plantio desta rica 
fruta. E já que haverá trabalho, tanto para o plantio quanto para colheita e transporte, 
segue-se que haverá necessidade de mão de obra em grande quantidade. Que até então 
era toda escrava advinda exclusivamente do tráfico negreiro3. Não à toa que se fala 
frequentemente dos mais de trezentos anos de escravidão (1500-1850). De dívida 
histórica que temos para com nossos afrodescentes aqui no Brasil. 
Acontece que neste interim um fato político acontece. Inglaterra, país que Portugal 
fizera acordos políticos substâncias, promulga uma lei que proibia o tráfico de escravos. 
A lei Euzébio de Queirós. E com esta lei, segundo Celso Furtado, Ingleses tinham 
autorização para barrar em mar aberto, durante as navegações, qualquer tipo de 
embarcação que estivesse traficando africanos para o Brasil. Daqui, como os cafeeiros 
eram colônia de Portugal e estes havia acordos com os Ingleses, seguir-se-ia que o circo 
começava a se fechar. Começa-se, então a escassez de mão-de-obra. De agora em diante 
várias tentativas ocorreram como maneira de retomar a produção e exportação. 
Obviamente que do mero fato de ter sido proibido o tráfico não se segue que a escravidão 
acabou. Infelizmente ela só veio de fato a ser extinguida apenas em 1888, no dia 13 de 
maio, através da Lei Aurea. Mas o que houve entre estes 38 anos, dito de maneira simples, 
foi simplesmente a escassez de mão de obra. Como não se podia traficar mais escravos e 
como as condições de vida destes eram inumanas, seguindo disso uma alta taxa de 
mortalidade, i.e, baixo crescimento vegetativo, e a demanda por mão de obra cada vez 
 
3 De acordo com Celso Furtado, que descreve de acordo com o censo de sua pesquisa, aproximadamente 2 
milhões de escravos na metade do século estavam aqui em terras brasileiras. Formação Econômica 
Brasileira. p.174 
mais alta em função do alto crescimento do plantio de café, entre outras culturas, além é 
claro, da própria cultura de subsistência que predominava enfaticamente em Minas 
Gerais, uma solução alternativa precisava ser engendrada para sanar essa escassez. 
Como mostra Celso Furtado 
Em 1852, um grande plantador de café, o senador Vergueiro, 
se decidiu a contratar diretamente trabalhadores na Europa. 
Conseguindo do governo financiamento do transporte, 
transferiu oitenta famílias de camponeses alemães para a sua 
fazenda em Limeira. A iniciática despertou interesse, e mais 2 
milpessoas foram transferidas, principalmente de Estado 
alemães e da Suíça em 1857. (p. 184-185) 
Contudo, como de se esperar – e daí de repente até fazer jus a famosa expressão 
“jeitinho brasileiro” – as coisas não foram como se esperavam. O que se pretendia com 
essa imigração do ponto de vista do cafeeiro era que essa família viesse para sua fazenda 
e nessa se estabelecesse de modo que ela teria de trabalhar por um bom tempo para, 
primeiro, pagar sua viagem da Europa para o Brasil haja vista ela ter sido custeado pelo 
Estado brasileiro. E como novamente mostra Furtado, não tardou a Europa perceber a 
“folga” que tal acordo propusera. 
A reação da Europa – onde tudo que dizia respeito a um país 
escravista suscitava imediata preocupação – não tardou. Em 
1867 um observador alemão apresentou à Sociedade 
Internacional de Emigração de Berlim uma exposição em que 
pretendia demonstrar que os colonos emigrados para as 
fazendas de café no Brasil eram submetidos a um sistema de 
escravidão disfarçado. 
Daqui em diante as coisas começam a ganhar talvez um pouco mais de 
formalidade. Isso já na década de 60 do século XIX. No início, ambos, colono e senhor 
de terras dividiam as responsabilidades da produção. Não que o senhor de terras punhas 
as mãos no processo, mas que o resultado da produção, tanto negativa quanto 
positivamente seria igualmente repartido. Depois esse modelo se sofistica de certo modo. 
Colono começa receber anualmente uma quantia em função da quantidade de pés de café 
que ele, e provavelmente sua família, haviam produzidos – como mostra a passagem. 
A evolução se inicia pelo sistema de pagamento ao colono. O 
regime inicialmente adotado era o de parceria, no qual a renda 
do colono era sempre incerta, cabendo-lhe a metade do risco 
que corria o grande senhor de terras. A perda da colheita podia 
acarretar a miséria para o colono, dada a sua precária condição 
financeira. A partir dos anos 1860 introduziu-se um sistema 
misto pelo qual o colono tinha garantida a parte principal de 
sua renda. Sua tarefa básica consistia basicamente em cuidar 
de um certo número de pés de café, e por essa tarefa recebia 
um salário monetário anual. Este salário era completado por 
outra variável, pago no momento da colheita em função do 
volume desta. 
Como fica evidente (e como fiz questão de deixar bem estabelecido na introdução, 
a de que o estudo da história deve ser entendido como um processo) já aqui no inicio dos 
anos 1860, tem-se grandes resquícios de uma mudança de economia. Mas não nos termos 
de comercio exportador (pois tanto na economia escravista quanto na capitalista existe 
esse comércio) e sim no processo produtivo, que começa a deixar o caráter escravista, 
portanto ter de começar a levar em conta os custos da produção como um todo. Neste 
sentido vale lembrar as palavras de CANO, 
"Em alguns caso, e principalmente no oeste paulista, poder-se-
ia distinguir, na realidade, quatro "momentos" da evolução 
histórica cafeeira: um primeiro, em que a atividade é 
escravista; um segundo, em que predominando ainda o 
escravismo, já existem alguns segmentos operando com 
trabalho assalariado ou com outras formas distintas do trabalho 
(a parceria, por exemplo); o terceiro, ao contrário do anterior, 
seria aquele em que a predominância se daria na forma do 
trabalho assalariado e, no último, finalmente, a escravidão 
estaria extinta." (p.20pdf, p.8). 
 
Parafraseando CANO, os dois primeiros momentos são considerados momentos 
de economia escravista, enquanto que os dois últimos, momentos de economia capitalista. 
Contudo, ainda assim o incentivo não era tão apetitoso do ponto de vista dos 
imigrantes europeus. Precisava de algo mais. Foi quando, então, já no ano de 1870, que 
o governo passou a custear toda a viagem de vinda dos imigrantes sem que com isso eles 
tivessem que ressarci-lo futuramente, pelo menos no seu primeiro ano de atividade. Isso 
possibilitaria que o imigrante e sua família pudesse se estabilizar (começar a cultivar pelo 
menos a agricultura de subsistência) até que as coisas começassem a ter mais segurança. 
Isso, de acordo com o Furtado possibilitou pela primeira vez na história da América uma 
extraordinária migração da Europa destinadas a trabalhar nas plantações de café. É o que 
mostra esta breve passagem. 
O número de imigrantes europeus que entraram nesse estado 
sobe de 13 mil, nos anos 1870, para 184 mil no decênio 
seguinte e 609 mil no ultimo decênio do século. O total para o 
ultimo quartel do século XIX foi de 803 mil, sendo 577 mil 
provenientes da Itália. 
Percebe-se que o movimento de transição para o trabalho assalariado – diferente 
do que intuitivamente somos levados a pensar – não foi um processo que do dia para noite 
se efetivou. O que aconteceu foi, primeiro, falta de mão de obra escrava. Segundo, na 
falta de mão de obra ocorria concomitantemente o movimento migratório e o trabalho 
escravo. Como essa mão de obra não era suficiente começa-se um projeto de incentivo de 
imigração de europeus, mais precisamente italianos. Terceiro – e resumidamente – Só em 
1888, com a publicação da Lei Aurea, que o escravo passa a ser colocado como os 
imigrantes, i.e, em regime salarial. Mas claro, deve se frisar e deixar mais que claro. O 
ex-escravo, comparado com as condições de emprego e oportunidade dos imigrantes 
europeus, em momento nenhum teve salários, ou melhor dizendo, acesso aos mesmos 
recursos. Obviamente, tanto a história quanto o nosso atual cenário social são provas 
muito consistente disso. No nosso cenário atual temos, por exemplo, o relatório anual da 
OXFAM, onde mostra o quão desigual, em termos de condição salarial entre brancos e 
negros ainda são discrepantes aqui no Brasil.4 Já na história fica ainda mais evidente este 
processo na passagem de Furtado. 
(...) a abolição da escravatura assumiu esse aspecto de 
mudança formal, passando o escravo liberado a receber um 
salário que estava fixado pelo nível de subsistência 
prevalecente, o qual por sua vez refletia as condições de vida 
antiga dos escravos. 
 
4 As desigualdades de renda entre grupos raciais aumentaram nos últimos dois anos. Em 2016, negros 
ganhavam R$ 1.458,16 em média, o que corresponde a 57% dos rendimentos médios de brancos, 
equivalentes naquele ano a R$ 2.567,81. Já em 2017, os rendimentos médios de negros foram de R$ 
1.545,30 enquanto os dos brancos alcançaram R$ 2.924,31, diminuindo a razão de rendimento para 53%. 
Tal razão não passa de 57% há sete anos, numa longa estagnação de equiparação iniciada em 2011. (País 
Estagnado, um relatório das desigualdades brasileiras, 2018. p,20). 
E o que acontece com este escravo que do dia para noite deixa de escravo? Durante 
mais de trezentos anos ele não fez mais nada a não ser trabalhar indigna e inumanas horas 
diárias, (mais de quinze) em alguns períodos. Ou seja, não sabia fazer outra coisa senão 
levantar a foice para a capina, ou corte de cana de açúcar, ou colheita de café, ou atividade 
dedicada a pecuária. Que tipo de orientação se espera deste tipo de pessoa a partir deste 
marco histórico: sua liberdade foi outorgada. Este, durante minha leitura, foi o que mais 
me chamou atenção e que de certa forma concordei. 
O homem formado dentro desse sistema social está totalmente 
desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. 
Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de 
acumulação de riqueza é praticamente estranha. Demais, seu 
rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas 
“necessidades”. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição 
e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acimade suas necessidades – que estão determinadas pelo nível de 
subsistência de um escravo – determina de imediato uma forte 
preferência pelo ócio. 
Esta primeira passagem é muito promissora do ponto de vista hipotético, penso. 
Ao que tudo indica, e esta parece ser uma boa hipótese de Furtado, o que o escravo quer, 
depois de ser liberto, é simplesmente viver. Ele não está interessado em momento algum 
a enriquecer, ou formar patrimônio. Depois de uma vida toda trabalhando extensas horas, 
comprometendo boa parte de sua vida a condições desagradáveis de trabalho, sendo 
humilhado, maltratado, considerado não-humano, que tipo de pessoa estaria disposta a se 
submeter a qualquer tipo de trabalho, dado que não se tinha formado uma ideia de 
acumulação de riqueza? O que se queria era só poder acordar pelas manhãs e ter a 
liberdade de poder – aqui eu arrisco a dizer – ouvir pássaros e poder, talvez, cantar uma 
canção qualquer. Como não se tinha formado uma concepção econômica capitalismo na 
mentalidade destas pessoas escravizadas, que sentido faria para elas querer trabalhar em 
troca de salário? 
Cabe tão somente lembrar que o reduzido desenvolvimento 
mental da população submetida a escravidão provocará 
segregação parcial desta após a abolição, retardando sua 
assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do 
país. (p.204). 
Ou seja, dito de maneira simples, a escravidão nos custou muito caro, pois a mentalidade 
dos que aqui trabalhão em regime escravocrata, diz Furtado, não desenvolveu uma 
mentalidade econômica capitalista, desejável para o desenvolvimento econômico do país, 
o que em consequência retardou seu próprio desenvolvimento. 
Assim, ao que mostra Celso Furtado e Wilson Cano, foi como se desdobrou todo o 
processo de transição de trabalho escravo para o trabalho assalariado. Um processo que 
levou algumas décadas até se completar, começando a partir de 1850 com a proibição do 
tráfico, através da Lei de Euzébio e completando com a Lei Aurea de 1888.

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