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ANATOMIA APLICADA À FISIOTERAPIA Giulianna da Rocha Borges Músculos da parede anterior e posterior do tronco Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os músculos da parede anterior e posterior do tronco, da caixa torácica, da respiração, da coluna lombossacral e da pelve. Analisar a interação entre os músculos do tronco, da caixa torácica, da respiração e da coluna vertebral. Descrever a organização e a função dos músculos da caixa torácica e sua relação com a respiração e com os movimentos de membros superiores e inferiores. Introdução Neste capítulo, você vai compreender quais são os músculos que perten- cem às paredes que formam o tronco. Além disso, vamos descrever as correlações entre eles e discutir sobre suas funções em vários contextos, como durante a respiração. Veremos também que muitos dos músculos que têm origem na pa- rede anterior ou posterior do tronco se inserem nos membros superiores e estão diretamente relacionados com a movimentação destes. É essencial que o fisioterapeuta adquira esses conhecimentos em razão de sua estreita relação com pacientes que foram acometidos por patologias que atingem diretamente ou indiretamente essa musculatura, como doenças respiratórias, pacientes acamados e indivíduos portadores de distrofias musculares, paralisias e outras. Anatomia dos músculos do tronco O tronco é a região do corpo que contém o tórax, o abdome e a pelve. Além disso, a face posterior do tronco compreende uma região estudada separa- damente das demais, o dorso (TORTORA; NIELSEN, 2017). Numa vista anterior, o tórax situa-se entre o pescoço e o abdome, serve de fi xação aos membros superiores e contém a cavidade torácica que aloja o coração, os grandes vasos e os pulmões, entre outras estruturas anatômicas. O abdome é a porção do tronco entre o tórax e a pelve e contém a cavidade abdominal e várias vísceras de diversos sistemas, como digestório, urinário, endócrino, etc. A pelve é a porção mais inferior do tronco logo abaixo do abdome e tem grande importância na reprodução, no suporte de vísceras dos sistemas urinário e reprodutor e, na mulher, ganha um papel fundamental na gravidez e no parto. Por fi m, o dorso compreende a face posterior do tronco que fi ca entre a região glútea e a base do pescoço (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Os músculos esqueléticos de cada uma dessas regiões têm funções específi- cas, desde auxiliar a movimentação dos membros até promover os movimentos respiratórios e do tronco, estabilizar o tronco para manter ou promover pos- turas e até mesmo auxiliar na proteção dos órgãos dessas regiões (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculos do tórax Moore, Dailey e Agur (2014) dividem os músculos do tórax em músculos toracoapendiculares e músculos da parede torácica. Os músculos toracoa- pendiculares têm origem na parede torácica, porém, se inserem nos membros superiores (esqueleto apendicular) e, portanto, a ação principal desses mús- culos está relacionada à movimentação dos membros superiores. Entretanto, podemos atribuir outras ações a esses músculos, como participar da inspiração forçada. Outra função importante é que em conjunto com os demais músculos que movimentam o ombro e o braço, são capazes de aumentar a expansão da caixa torácica, facilitando a respiração, por exemplo, elevando os membros superiores. São divididos em toracoapendiculares anteriores e posteriores. Os músculos da parede torácica (que Moore, Dailey e Agur denominam de verdadeiros) revestem verdadeiramente a parede do tórax e estão relacionados diretamente à movimentação das estruturas que formam a parede torácica, principalmente para promover os movimentos respiratórios. Músculos da parede anterior e posterior do tronco2 Músculos toracoapendiculares anteriores São quatro músculos na face anterior do tórax que movem os membros superiores. Músculo peitoral maior: é um músculo plano em forma de leque, lo- calizado na região mais superior e superficial do tórax. Esse músculo serve de referência anatômica para várias abordagens, pois sua margem inferior forma a prega axilar anterior e sua margem superior em contato com a margem anterior do músculo deltoide forma o sulco deltopeitoral no qual podemos palpar a parte superior da veia cefálica. A cabeça clavicular do músculo peitoral maior tem origem na face anterior da metade medial da clavícula e a cabeça esternocostal origina-se das seis primeiras cartilagens costais, face anterior do esterno e inferiormente da aponeurose do músculo oblíquo externo do abdome. Com inserção no sulco intertubercular do úmero, ao se contrair promove adução e rotação medial do braço. Pela sua origem relacionada às costelas e ao esterno, o músculo peitoral maior também participa da inspiração forçada por tracionar as seis primeiras costelas. Inervação pelos nervos peitorais lateral e medial, cabeça clavicular (C5 e C6) e cabeça ester- nocostal (C7, C8 e T1) (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo peitoral menor: de proporções menores que o peitoral maior, o músculo peitoral menor é imediatamente profundo ao músculo peitoral maior que o recobre quase completamente, exceto na sua porção mais lateral. De formato triangular, sua base fixa-se nas costelas de III a V, bem próximo às suas cartilagens costais e seu ápice se insere no processo coracoide da escápula. A contração desse músculo promove o deslocamento inferior e anterior da escápula, estabilizando-a contra a parede torácica, além disso, participa como musculatura acessória da inspiração forçada. Essa estabilização da escápula é importante, principalmente, para movimentos em que o membro superior vai segurar ou tocar algo. Inervação pelo nervo peitoral medial (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo subclávio: é um músculo pequeno com origem na junção da primeira costela com sua cartilagem costal e inserção na face inferior do terço médio da clavícula. O músculo subclávio estabiliza a clavícula por fixar e deprimir esse osso durante sua contração. Além disso, fornece proteção aos vasos sanguíneos subclávios e plexo braquial que têm 3Músculos da parede anterior e posterior do tronco trajeto por essa região. Sua inervação é garantida pelo nervo subclávio (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo serrátil anterior: está localizado na região posterolateral do tórax. Tem origem nas laterais das costelas de I a VIII e inserção na face anterior da margem medial da escápula. Sua nomenclatura refere-se ao seu formato, pois as bordas de seu ventre assemelham-se aos dentes de uma serra. A contração desse músculo promove protração e rotação da escápula pressionando-a contra a parede torácica. Também atua na inspiração forçada elevando as costelas em que se origina. Sua inervação fica por conta do n. torácico longo (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Veja as Figuras 1 e 2. Figura 1. Vista anterior do tórax; músculo peitoral maior. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). Músculos da parede anterior e posterior do tronco4 Figura 2. Vista anterior do tórax; músculo peitoral menor, músculo subclávio e músculo serrátil anterior; músculo peitoral maior foi retirado. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). São cinco músculos na face posterior do tórax que fixam os membros superiores. Moore, Dailey e Agur (2014) os divide em músculos intrínsecos e extrínsecos do ombro, porém, como os músculos intrínsecos estão mais rela- cionados aos membros superiores, tais músculos serão estudados no capítulo referente aos membros superiores. Os músculos extrínsecos ainda podem ser divididos em superficiais e profundos. 5Músculos da parede anterior e posterior do tronco Músculos toracoapendicularesposteriores superficiais M. trapézio: o músculo trapézio é um grande músculo plano e de forma triangular que recebe essa nomenclatura porque, ao visualizarmos ambos os músculos de cada lado, formam um trapézio. Cada um deles fixa o cíngulo do membro superior ipsilateral ao crânio e à coluna vertebral e ainda auxilia na suspensão do membro superior. O músculo trapézio é dividido em três partes de acordo com a direção de suas fibras. Temos então a parte descendente, a parte transversa e a parte ascendente. Cada parte tem ações diferentes na articulação escapulotorácica fisio- lógica. Sua origem se dá no terço medial da linha nucal superior, na protuberância occipital externa, no ligamento nucal e nos processos espinhosos das vértebras C VII a T XII. A inserção acontece no terço lateral da clavícula, no acrômio e na espinha da escápula. As ações musculares dependem da direção das fibras de cada parte do trapézio. A parte descendente eleva a escápula, a parte ascendente a deprime e a parte transversa (ou todas as partes juntas) retrai a escápula; as partes descendente e ascendente atuam juntas para girar a cavidade glenoidal superiormente. A inervação e realizada pelo nervo acessório (NC XI) (fibras motoras) e pelos nervos espinais C3 e C4 (fibras de dor e propriocepção) (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo latíssimo do dorso: o músculo latíssimo do dorso recebeu esse nome por ser muito grande. Ele recobre toda a região inferior e superficial do dorso e segue até o úmero. Tem origem nos processos espinhosos das últimas seis vértebras torácicas, na fáscia toracolombar, na crista ilíaca e nas quatro costelas inferiores e tem inserção no sulco intertubercular do úmero. Sua contração promove extensão, adução e rotação medial do úmero. Além disso, eleva o corpo em direção aos braços durante a escalada. O nervo toracodorsal promove a inervação do músculo latíssimo do dorso (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculos da parede anterior e posterior do tronco6 Músculos toracoapendiculares posteriores profundos Músculo levantador da escápula: o músculo levantador da escápula, apesar de a nomenclatura descrever sua função direta de elevar a es- cápula, também auxilia na fixação do membro superior ao tronco. Esse músculo é profundo ao músculo esternocleidomastoideo, tem formato de fita, origina-se dos tubérculos posteriores dos processos transversos das vértebras C I a C IV e tem inserção na margem medial da escápula superiormente à raiz da espinha da escápula. Sua contração promove elevação da escápula e gira sua cavidade glenoidal inferiormente por meio de rotação da escápula. Os nervos dorsal da escápula e cervical promovem sua inervação (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TOR- TORA; NIELSEN, 2017). Músculo romboide maior: tem origem nos processos espinhosos das vértebras T II a T V, inserção na margem medial da escápula e altura da espinha até o ângulo inferior da escápula. Músculo romboide menor: tem origem no ligamento nucal e proces- sos espinhosos das vértebras C VII e T I. Sua inserção se dá na área triangular uniforme na extremidade medial da espinha da escápula. Ambos os romboides promovem retração da escápula e em sinergismo com o levantador da escápula gira a cavidade glenoidal inferiormente. Além disso, fixam a escápula à parede torácica. Os dois são inervados pelo nervo dorsal da escápula (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Veja a Figura 3. 7Músculos da parede anterior e posterior do tronco Figura 3. Vista posterior. Músculos toracoapendiculares posteriores superficiais e profundos. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). Músculos da parede anterior e posterior do tronco8 Músculos da parede torácica Os músculos da parede torácica propriamente ditos ou verdadeiros, como cita Moore, Dailey e Agur (2014), estão envolvidos diretamente com as estruturas ósseas que formam a caixa torácica e, consequentemente, envolvidos na mo- bilidade dessas estruturas. A movimentação da caixa torácica ganha grande importância durante os movimentos respiratórios. Sabemos que durante o repouso, para que os pulmões se expandam e reduzam a pressão intrato- rácica, é necessário que a musculatura inspiratória de repouso se contraia para aumentar o diâmetro da caixa torácica e, consequentemente, o volume pulmonar. Sabemos também que a expiração em repouso é passiva e depende apenas do relaxamento da musculatura inspiratória e a retração elástica dos pulmões. Entretanto, durante o esforço físico e em algumas patologias, a musculatura acessória da respiração torna-se ativa e uma boa parte dessa musculatura pertence à parede torácica (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; SILVERTHORN, 2017). Músculos intercostais: existem três tipos de músculos intercostais, os externos, os internos e os mínimos. Recebem essa nomenclatura porque preenchem os espaços entre as costelas, espaços intercostais (EIC). Os músculos intercostais externos são mais superficiais e preenchem os EIC desde os tubérculos da costela (posterior) até as junções costocondrais (anterior). Participam ativamente da inspiração em repouso e da forçada. A camada profunda é formada pelos músculos intercostais internos, que são perpendiculares aos músculos intercostais externos e preenchem os EICs desde os sulcos das costelas até as margens superiores das costelas inferiores. Eles se “fixam aos corpos das costelas e a suas cartilagens costais, desde o esterno anteriormente até os ângulos das costelas posteriormente” (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Há uma interrupção na continuidade desses músculos posteriormente em que são substituídos pela membrana intercostal interna. Esses músculos participam apenas da expiração ativa. Os músculos intercostais ínti- mos são separados dos músculos intercostais internos pelos nervos e vasos intercostais e são considerados partes menores desses músculos. Esses músculos passam entre as faces internas de costelas adjacentes e estão numa porção mais lateral dos espaços intercostais. Ainda não foi comprovado, porém, sugerem-se que suas ações sejam iguais às dos músculos intercostais internos (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). 9Músculos da parede anterior e posterior do tronco Músculo subcostal: são bastante heterogêneos em forma e tamanho e, geralmente, são bem desenvolvidos apenas na parede inferior do tórax. Comumente, são finas faixas de músculo que se estendem da face interna do ângulo de uma costela até a face interna da segunda ou terceira costela inferior a ela, cruzando um ou dois EICs. Os músculos subcostais se unem aos intercostais internos, seguindo na mesma direção que eles (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculos transversos do tórax: localizados na face interna da parede anterior do tórax, recebem essa nomenclatura em razão da direção de algumas de suas fibras. Têm quatro ou cinco faixas de fibras transversais que se direcionam superolateralmente da face posterior da parte inferior do esterno até a face interna das 2ª a 6ª cartilagens costais. Apesar de muitos autores atribuírem uma função respiratória a esses músculos, a propriocepção parece ser uma ação mais adequada a eles (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Todos os músculos descritos até aqui são inervados pelos nervos intercos- tais. Veja as Figuras 4 e 5. Músculos da parede anterior e posterior do tronco10 Figura 4. Vista interna da parede anterior do tórax. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). 11Músculos da parede anterior e posterior do tronco Figura 5. Vista profunda da parede posterior do tórax. Músculos intercostais. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). Músculo diafragma: o músculo diafragma separa as cavidades torácica e abdominal. Tem formato de dupla cúpula, sendo quea face superior convexa forma o assoalho da cavidade torácica e a face inferior, côncava, forma o teto da cavidade abdominal. Além disso, tem três aberturas importantes que permitem a passagem da aorta (hiato aórtico), do esôfago (hiato esofágico) e da veia cava inferior (forame da veia cava). O centro do músculo é formado por seu tendão e é denominado centro tendíneo. Suas fibras musculares periféricas se originam de diversas estruturas como processo xifoide do esterno, seis costelas inferiores e Músculos da parede anterior e posterior do tronco12 suas cartilagens costais, vértebras lombares e seus discos intervertebrais e costela XII e convergem ao seu centro tendíneo que se funde à face inferior do pericárdio e pleuras. O músculo diafragma é o principal músculo da inspiração, pois sua contração promove o aumento do diâ- metro craniocaudal da cavidade torácica (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Apesar de a parte periférica do músculo ser formada por fibras musculares contínuas, alguns autores a dividem em três partes de acordo com suas fixações (MOORE; DAI- LEY; AGUR, 2014): ■ Parte esternal: quando presente é formada por duas alças musculares fixadas à face posterior do processo xifoide do esterno. ■ Parte costal: as fixações das alças largas dessa parte se dão nas faces internas das seis últimas cartilagens costais e respectivas costelas; formam as cúpulas direita e esquerda do músculo. ■ Parte lombar: tem origem dos ligamentos arqueados medial e lateral, dos arcos aponeuróticos e das três primeiras vértebras lombares; essa parte forma os pilares musculares direito e esquerdo do diafragma que se ligam ao centro tendíneo do músculo. É muito comum o estudante se confundir com a dinâmica de contração e relaxamento do músculo diafragma. Esse músculo, ao se contrair, abaixa suas cúpulas e isso faz com o diâmetro torácico aumente no sentido craniocaudal. Inversamente, ao relaxar, suas cúpulas se elevam e o diâmetro craniocaudal é reduzido. O músculo diafragma é inervado pelo nervo frênico e, além de sua ação respiratória, atua em conjunto com a musculatura abdominal na manobra de Valsalva, quando aumentamos a pressão abdominal voluntariamente, por exemplo, durante a defecação, a micção ou o parto. Durante os movimentos provocados pelo diafragma também aumentamos o retorno venoso ao coração. O aumento da pressão abdominal pela contração do diafragma e dos músculos abdominais faz com que a coluna seja estabilizada durante o levantamento de pesos (TORTORA; NIELSEN, 2017). Veja a Figura 6. 13Músculos da parede anterior e posterior do tronco Figura 6. Músculo diafragma. Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009). Músculos da parede anterior e posterior do tronco14 Músculos abdominais O abdome não possui um arcabouço ósseo que proteja suas vísceras, por- tanto, a extensa musculatura abdominal exerce essa função, além de atuar na expiração forçada, nos movimentos da coluna vertebral e em fenômenos fi siológicos como defecação, micção, parto, espirro, tosse, etc. Geralmente, ao estudarmos os músculos abdominais, nos referimos à parede anterolateral; os músculos posteriores são estudados juntamente com o tórax ou com o dorso. A parede anterolateral é formada por quatro pares de músculos esqueléticos cujas fi bras estão dispostas em direções variadas. Músculo oblíquo externo do abdome: o mais superficial dos músculos laterais, tem origem nas faces externas das costelas de V a XII e inser- ção na metade anterior da crista ilíaca, tubérculo púbico e linha alba. A direção de suas fibras desce obliquamente de superior para inferior e de lateral para medial, como se você estivesse colocando as mãos nos bolsos de uma calça. Ao contrair-se, o músculo oblíquo externo comprime as vísceras abdominais, faz também sustentação destas e ainda flexiona e roda o tronco (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo oblíquo interno do abdome: como a própria nomenclatura descreve, o músculo oblíquo interno é imediatamente profundo ao músculo oblíquo externo. Suas fibras também têm direção oblíqua, porém, em sentido contrário ao músculo superficial. Tem origem na fáscia toracolombar, dois terços anteriores da crista ilíaca e ligamento inguinal. A inserção acontece nas margens inferiores das costelas X a XII e linha pectínea do púbis. A ação desse músculo é semelhante ao do músculo oblíquo externo do abdome (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo transverso do abdome: é o mais profundo dos três músculos laterais. Tem origem nas faces internas da 7ª a 12ª cartilagens costais, aponeurose toracolombar, crista ilíaca e ligamento inguinal. Suas fibras seguem em sentido transversal até se inserirem na linha alba, aponeurose do músculo oblíquo interno do abdome, crista púbica e linha pectínea do púbis. É sinergista na compressão e sustentação das vísceras (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). 15Músculos da parede anterior e posterior do tronco O bom tônus e o arranjo estrutural dos três músculos laterais do abdome fornecem proteção considerável às vísceras abdominais (TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo reto do abdome: é o músculo anterior da parede anterolateral do abdome. É longo e formado por três a quatro ventres musculares em série intercalados por interseções tendíneas. Os dois músculos, um de cada lado, estão separados entre si pela linha alba, uma linha de tecido conjuntivo denso que se forma na linha mediana desde a sínfise púbica até o processo xifoide, pela união das aponeuroses dos três músculos laterais do abdome. Essas mesmas aponeuroses formam a bainha do músculo reto abdominal que o envolve por completo. O músculo tem origem na sínfise e crista púbica e inserção no processo xifoide e 5ª a 7ª cartilagens costais. Suas ações envolvem a flexão do tronco (vértebras lombares), a compressão das vísceras abdominais e a estabilização e o controle da inclinação da pelve (antilordose) (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Todos os músculos da parede anterolateral são inervados por nervos tora- coabdominais (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Veja a Figura 7. Figura 7. Músculos da parede anterolateral do abdome. Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009). Músculos da parede anterior e posterior do tronco16 Músculos do dorso (lombossacrais) Vários músculos no dorso, região posterior do tronco, promovem a manutenção da postura e movem a coluna vertebral. Uma importante função relacionada à manutenção da postura é permitir a adequada expansão e retração da caixa torácica durante a respiração. Por exemplo, quando a musculatura do dorso está enfraquecida, a postura arqueada para frente, formando uma hipercifose na região torácica, faz com que o tórax seja comprimido e a respiração seja prejudicada. Moore, Dailey e Agur (2014) os denomina de músculos próprios ou intrínsecos do dorso e todos são inervados pelos ramos posteriores dos nervos espinais. Alguns desses músculos foram estudados em conjunto com a coluna cervical. Os demais serão discutidos no presente capítulo. Uma particularidade desses músculos é que são revestidos por uma fáscia que se estende da pelve até o crânio, sendo que nas partes torácica e lombar a fáscia forma uma membrana fi brosa mais ampla, a aponeurose toracolombar. Essa aponeurose é mais fi na nos músculos intrínsecos da região torácica e mais espessa na região lombar. Os músculos do dorso são distribuídos em camadas superfi cial, intermédia e profunda. Camada superficial A camada superfi cial é formada pelos músculos esplênios da cabeça e do pescoço, estudados juntamente à coluna cervical por apresentarem íntima relação com as vértebras cervicais (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Camada intermédia De cada lado da coluna vertebral temosum sulco entre os processos espinhosos medialmente e os ângulos das costelas lateralmente. Esse sulco é preenchido por um conjunto de músculos denominado músculo eretor da espinha e são os principais músculos posturais por serem extensores da coluna vertebral. De medial para lateral, podemos dividir o músculo eretor da espinha em: músculo espinal, músculo longuíssimo e músculo iliocostal. Cada uma das três partes recebe denominações de acordo com a região que se encontra, por exemplo, músculo iliocostal do lombo, músculo iliocostal do pescoço, etc. Todas as partes dos músculo eretor da espinha têm origem comum na parte posterior da crista ilíaca, na face posterior do sacro, nos ligamentos sacroilíacos e nos processos espinhosos sacrais e lombares inferiores (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). 17Músculos da parede anterior e posterior do tronco Camada profunda Ainda mais profundo ao músculo eretor temos um grupo de pequenos mús- culos oblíquos denominados músculos transversoespinais, compostos pelos músculos semiespinais, multífi dos e rotadores. Cada um com sua direção específi ca, originam-se dos processos transversos das vértebras e se inse- rem nos processos espinhosos das vértebras superiores (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculo semiespinal: é mais superficial e sua nomenclatura é em razão de o músculo só estar presente na metade superior da coluna vertebral. Tem três divisões de acordo com suas fixações: músculo semiespinal da cabeça, músculo semiespinal do pescoço e músculo semiespinal do tórax. Promove extensão da coluna cervical, cabeça e coluna torácica, além de girar a coluna para o lado oposto. Músculo multífido: está na camada intermédia e é formado por feixes musculares curtos, de forma triangular e mais espessos na região lombar. Promove estabilização local das vértebras. Músculos rotadores: são os mais profundos do grupo e mais desenvol- vidos na região torácica. Estabilizam as vértebras e promovem extensão local das vértebras e movimentos de rotação. Moore, Dailey e Agur (2014) ainda atribui a esses músculos uma função proprioceptiva. Músculos interespinais: têm origem nas faces superiores dos processos espinhosos das vértebras cervicais a lombares e se inserem-se nas faces inferiores dos processos espinhosos da vértebra imediatamente superior. São sinergistas na extensão e rotação da coluna vertebral. Músculos intertransversários: originam-se dos processos transversos das vértebras cervicais a lombares e se inserem nos processos transversos das vértebras imediatamente superiores. São sinergistas na flexão lateral da coluna vertebral e a contração bilateral estabiliza a coluna vertebral. Veja as Figuras 8 e 9. Músculos da parede anterior e posterior do tronco18 Figura 8. Vista posterior dos músculos próprios ou intrínsecos do dorso. Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009). 19Músculos da parede anterior e posterior do tronco Figura 9. Vista posterior dos músculos próprios ou intrínsecos do dorso; músculos transversoespinais. Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009). Músculos pélvicos e perineais Os músculos pélvicos e perineais atuam na sustentação das vísceras pélvicas e alguns como esfíncteres, ou seja, obliteram a passagem de algumas estruturas como a uretra e o ânus. A função da musculatura pélvica e perineal pode ser ilustrada pelo fato de que um enfraquecimento dessa musculatura na mulher pode ocasionar incontinência urinária e favorecer o prolapso de útero. Durante aumentos da pressão abdominal, como espirros e tosse, é essa musculatura Músculos da parede anterior e posterior do tronco20 que se contrai para dar um suporte dinâmico adicional às vísceras pélvicas (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Os músculos pélvicos, geralmente, são considerados como os músculos que formam o assoalho da pelve, apesar de que existem outros músculos formando as demais paredes pélvicas. O assoalho da pelve é formado pelo diafragma da pelve, uma região em forma de funil, fechado pelos músculos isquiococcígeo e levantador do ânus e pelas fáscias desses músculos. Esses músculos praticamente fecham a pelve inferiormente do púbis ao cóccix e de uma parede latera da pelve até a outra. Tanto a uretra como o ânus atravessam o diafragma da pelve e, nas mulheres, o canal vaginal também (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014; TORTORA; NIELSEN, 2017). Músculo levantador do ânus: é um músculo plano e o maior do assoalho pélvico. É formado pelos músculo puborretal, músculo pubococcígeo e músculo iliococcígeo que estão fixados anteriormente ao púbis pelo arco tendíneo do músculo levantador do ânus. O músculo puborretal é a porção mais medial do músculo levantador do ânus e suas fibras formam uma alça ao redor do reto que delimita o hiato urogenital e hiato anal. Essa alça está envolvida na continência fecal. O músculo pubococcígeo é mais largo e está interposto entre o músculo puborretal e o músculo iliococcígeo. Origina-se no púbis e insere-se no cóccix (corpo anococcígeo). Por último, temos o músculo iliococcígeo, o mais lateral desse grupo. Apesar de sua nomenclatura, sua origem se dá no arco tendíneo e na espinha isquiática e a inserção também acontece no cóccix (corpo anococcígeo) (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculo isquiococcígeo: é mais posterior ao músculo levantador do ânus. Tem origem na espinha isquiática e inserção na extremidade inferior do sacro e cóccix (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Veja as Figuras 10 e 11. 21Músculos da parede anterior e posterior do tronco Figura 10. Vista superior do diafragma da pelve. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). Figura 11. Vista inferior do diafragma da pelve. Fonte: Adaptada de Tank e Gest (2009). O períneo é considerado um compartimento do corpo, apesar de ser pouco profundo. Os músculos do períneo são observados em uma região inferior ao assoalho da pelve, o qual forma o teto do períneo. Com os membros inferiores abduzidos, o períneo é uma área ligeiramente triangular entre as coxas, que se estende do púbis anteriormente e das faces mediais (internas) das coxas Músculos da parede anterior e posterior do tronco22 lateralmente, e as pregas glúteas e a extremidade superior da fenda interglútea posteriormente (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Tanto em homens como em mulheres o períneo é uma região importante para referências anatômicas relacionadas aos órgãos genitais. Nas mulheres, tem uma importância adicional no parto vaginal. A região perineal é dividida ao meio por linha transversal que une os dois túberes isquiáticos, formando uma área triangular anterior, a região urogenital e outra área triangular pos- terior, a região anal. A região anal é aberta e a região urogenital é fechada pela membrana do períneo. A uretra em ambos sexos e a vagina na mulher, perfuram essa membrana. Outra função importante para essa resistente mem- brana é que, em conjunto com os ramos isquiopúbicos dos ossos dos quadris, elas fornecem sustentação ao pênis e escroto nos homens e ao pudendo nas mulheres. Para finalizar, temos um outro importante ponto de referência, o corpo do períneo, marcado pela região central da linha transversal, que divide o períneo ao meio. No corpo do períneo, várias fibras dos músculos perineais se encontram e se cruzam (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Os músculos da região perineal estão dispostos em duas camadas: Músculos da camada superficial Músculo transverso superficial do períneo: tem origem na face interna do ramo isquiopúbico e túber isquiático e inserção ao longo da face inferior da margem posterior da membrana do períneo até o corpo do períneo. Sustenta e fixa o corpo do períneo/assoalho pélvico para sustentar as vísceras abdominopélvicas e resistir ao aumento da pressão intra-abdominal (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculo bulboesponjoso:em homens, tem origem na rafe mediana na face ventral do bulbo do pênis e corpo do períneo e sua inserção circunda as faces laterais do bulbo do pênis e a parte mais proximal do corpo do pênis, inserindo-se na membrana do períneo, na face dorsal dos corpos esponjoso e cavernosos e na fáscia do bulbo do pênis. Esse músculo sustenta e fixa o corpo do períneo/assoalho pélvico, comprime o bulbo do pênis para expelir as últimas gotas de urina/sêmen e auxilia a ereção comprimindo a saída de sangue pela V. perineal profunda e impelindo o sangue do bulbo para o corpo do pênis. Em mulheres, a origem se dá apenas no corpo do períneo. O músculo passa de cada lado da parte inferior da vagina, circundando o bulbo do vestíbulo e a glândula vestibular maior para inserir-se no arco púbico e na fáscia dos corpos cavernosos do clitóris. Tem como ação sustentação e fixação do 23Músculos da parede anterior e posterior do tronco corpo do períneo/assoalho pélvico, atua como um “esfíncter” da vagina, ajuda na ereção do clitóris (e talvez do bulbo do vestíbulo) e comprime a glândula vestibular maior (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculo isquiocavernoso: sua origem acontece na face interna do ramo isquiopúbico e túber isquiático. O músculo circunda o ramo do pênis ou clitóris e insere-se nas faces inferior e medial do ramo e na membrana do períneo medial ao ramo. Suas ações é manter a ereção do pênis ou clitóris mediante compressão das veias e impulsionar o sangue da raiz do pênis ou do clitóris para o corpo do pênis ou clitóris (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculo esfíncter externo do ânus: origina-se na pele e na fáscia que circundam o ânus e no cóccix por meio do corpo anococcígeo. Passa ao redor das faces laterais do canal anal e insere-se no corpo do períneo. Constringe o canal anal durante a peristalse, resistindo à defecação, sustenta e fixa o corpo do períneo e o assoalho pélvico (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculos da camada profunda Músculo transverso profundo do períneo: tem origem na face interna do ramo isquiopúbico e túber isquiático. Segue ao longo da face superior da margem posterior da membrana do períneo até o corpo do períneo e músculo esfíncter externo do ânus. Sustenta e fixa o corpo do períneo/ assoalho pélvico para sustentar as vísceras abdominopélvicas e resistir ao aumento da pressão intra-abdominal (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Músculo esfíncter externo da uretra: circunda a uretra superiormente à membrana do períneo; em homens, também ascende na face anterior da próstata; em mulheres, algumas fibras também circundam a vagina (músculo esfíncter uretrovaginal). Comprime a uretra para manter a continência urinária; em mulheres, a parte uretrovaginal do músculo es- fíncter também comprime a vagina (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). Veja as Figuras 12 e 13. Músculos da parede anterior e posterior do tronco24 Figura 12. Vista inferior. Períneo feminino. Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009). Figura 13. Vista inferior do diafragma da pelve. Fonte: Adaptada de Martini, Timmons e Tallitsch (2009). 25Músculos da parede anterior e posterior do tronco Em alguns trabalhos de parto, quando há interrupção ou atraso na descida do feto, é necessário realizar uma incisão na região perineal para auxiliar a expulsão do bebê, a episiotomia. Apesar de não ser obrigatória em todos os partos vaginais, a episiotomia pode ser realizada e o corpo do períneo (episiotomia mediana) é o local de escolha mais frequente para essa incisão (MOORE; DAILEY; AGUR, 2014). MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. (Série Martini). MOORE, K.; DAILEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. TANK, P. W.; GEST, T. R. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009. TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. Músculos da parede anterior e posterior do tronco26 Conteúdo:
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