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economia politica nelson IMPRIMIR

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INTRODUÇÃO
1. DEFINIÇÃO DA ECONOMIA POLÍTICA.
	A produção possui um aspecto técnico e um aspecto social. O aspecto técnico da produção é estudado pelas ciências naturais e técnicas: a física, a química, a metalurgia, a construção de máquinas, a agronomia e outras. A economia política estuda o aspecto social da produção, as relações social-produtivas, isto é, econômicas, entre os homens.
	A economia política estuda as relações de produção em sua interação com as forças produtivas. As forças produtivas e as relações de produção em sua unidade formam o modo de produção.
	As forças produtivas são o elemento mais dinâmico e revolucionário da produção. O desenvolvimento da produção inicia-se com as modificações das forças produtivas, antes de tudo com as modificações e o desenvolvimento dos instrumentos de produção, produzindo-se depois as modificações correspondentes também no domínio das relações de produção. As relações de produção entre os homens desenvolvem-se na dependência do desenvolvimento das forças produtivas, mas, por seu turno, atuam da maneira mais ativa sobre as forças produtivas.
	As forças produtivas da sociedade só poderão desenvolver-se mais ou menos livremente até quando as relações de produção corresponderem ao caráter das forças produtivas. Num determinado ponto do seu desenvolvimento, as forças produtivas ultrapassam os marcos das relações de produção existentes e entram em conflito com elas. E as relações de produção, de forma do desenvolvimento das forças produtivas, transformam-se em grilhões dessas mesmas relações.
	Devido a isto, as velhas relações de produção mais cedo ou mais tarde são substituídas por novas relações de produção, correspondentes ao nível de desenvolvimento atingido e ao caráter das forças produtivas da sociedade. As premissas materiais para a substituição das velhas relações de produção por outras novas surgem e desenvolvem-se nas entranhas do velho modo de produção. As novas relações de produção abrem caminho para um ulterior desenvolvimento das forças produtivas.
	De tal maneira, a lei econômica do desenvolvimento da sociedade é a lei da correspondência das relações de produção com o caráter das forças produtivas.
	Na sociedade baseada na propriedade privada e na exploração do homem pelo homem, os conflitos entre as forças produtivas e as relações de produção manifestam-se na luta de classe. Nestas condições, a substituição do velho modo de produção por outro, novo, realiza-se mediante a revolução social.
	O conjunto das “relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas de consciência social”.
	Uma vez criada, a superestrutura, por seu turno, exerce ativa influência recíproca sobre a base, acelerando ou freando o seu desenvolvimento. Com a modificação da base econômica, modifica-se também sua superestrutura.
	A economia política estuda as relações de produção, a base da sociedade em sua interação com a superestrutura, isto é, com a ideologia, com as concepções políticas e com as instituições.
	A economia política é uma ciência histórica. Trata da produção material em sua forma social historicamente determinada, das leis econômicas inerentes aos correspondentes modos de produção. A lei econômica é a essência necessária e estável dos fenômenos e processos econômicos, isto é, a ligação e dependência causai que se repete, interiormente inerente a esses fenômenos e processos.
	As leis do desenvolvimento econômico da sociedade são leis objetivas. São engendradas por determinadas condições econômicas, independentemente da vontade dos homens, e perdem sua força com o desaparecimento destas condições. As leis econômicas são as leis do desenvolvimento das relações de produção. Regem as relações sociais de produção e de distribuição dos bens materiais.
	Os homens não podem suprimir ou criar arbitrariamente as leis econômicas. Podem apenas conhecer estas leis e utilizá-las para modificar as relações econômicas no interesse da sociedade. Entretanto, atuando sobre a economia de acordo com as leis conhecidas e com as necessidades amadurecidas do seu desenvolvimento, os homens favorecem o aparecimento de novas relações econômicas regidas por novas leis a elas inerentes.
	A utilização das leis econômicas numa sociedade de classes reveste sempre um caráter de classe: a classe avançada de cada formação social utiliza as leis econômicas de acordo com os interesses do desenvolvimento progressista da sociedade, ao mesmo tempo em que as classes superadas opõem-se a isto.
	A cada modo de produção é inerente sua lei econômica fundamental. A lei econômica fundamental é a essência de um determinado modo de produção, é a lei do seu movimento e determina a linha principal de desenvolvimento da sociedade. a diferença da lei econômica fundamental, as outras leis econômicas representam aspectos essenciais particulares das relações de produção e determinam processos particulares do desenvolvimento econômico da sociedade. A lei econômica fundamental encontra-se em interação com as outras leis econômicas de uma sociedade determinada e em relação a elas desempenha o papel dirigente.
	A economia política “investiga em primeiro lugar as leis particulares de cada etapa do desenvolvimento da produção e da troca, e só ao chegar ao fim desta investigação pode formular as poucas leis inteiramente gerais aplicáveis a produção e a troca em geral”.
	Consequentemente, o desenvolvimento das diferentes formações sociais é determinado tanto por suas leis econômicas específicas, como também por aquelas leis econômicas comuns a todas as formações. Entre tais leis figuram: a lei da correspondência das relações de produção ao caráter das forças produtivas, a lei da elevação da produtividade do trabalho e algumas outras. Quer dizer, as formações sociais não só estão separadas umas das outras pelas leis econômicas específicas inerentes a um determinado modo de produção, mas também estão ligadas umas as outras por certas leis econômicas comuns a todas as formações.
	A economia política estuda os seguintes tipos históricos fundamentais conhecidos de relações de produção: o regime comunitário primitivo, o regime escravista, o feudalismo, o capitalismo e o socialismo. O regime comunitário primitivo é um regime que precede a sociedade de classes. O regime escravista, o feudalismo e o capitalismo são diferentes formas de sociedade baseadas na propriedade privada sobre os meios de produção, na escravização e exploração das massas trabalhadoras. O socialismo é um regime social baseado na propriedade social socialista sobre os meios de produção, livre da exploração do homem pelo homem.
	A economia política investiga como se processa o desenvolvimento dos estádios inferiores da produção social aos seus estádios superiores, como surgem, desenvolvem-se e são suprimidos os regimes sociais baseados na exploração do homem pelo homem. Mostra como todo o curso do desenvolvimento histórico prepara a vitória do modo de produção socialista. Estuda, ademais, as leis econômicas do socialismo, as leis do aparecimento da sociedade socialista e seu ulterior desenvolvimento rumo a fase superior do comunismo.
	De tal modo, a economia política é a ciência do desenvolvimento das relações sociais de produção, isto é, das relações econômicas entre os homens. Elucida as leis que regem a produção e a distribuição dos bens materiais na sociedade humana nos diferentes graus do seu desenvolvimento.
1.1 Método da economia política
	O método do materialismo dialético é o método da economia política marxista. A economia política marxista-leninista aplica as teses fundamentais do materialismo dialético e histórico ao estudo do regime econômico da sociedade.
	A economia política, diferentemente das ciências naturais — da física, da química, etc. —, no estudo do regime econômico da sociedade não pode empregar a experimentação realizada em condições de laboratório, criadas artificialmente, eliminando
aqueles fenômenos que dificultam o exame do processo no seu aspecto mais puro.
	Cada regime econômico constitui um quadro contraditório e complexo. A tarefa da investigação científica consiste em descobrir, por trás da aparência exterior dos fenômenos econômicos, com a ajuda da análise teórica, os processos profundos, os traços fundamentais da economia, que exprimem a essência de determinadas relações de produção, abstraindo ou pondo de lado os traços secundários.
	O resultado dessa análise científica são as categorias econômicas, isto é, os conceitos que constituem a expressão teórica das reais relações de produção de uma determinada formação social, como, por exemplo, a mercadoria, o valor, o dinheiro, o cálculo econômico, o preço de custo e outros.
	O método de Marx consiste em ascender das categorias econômicas mais simples para as mais complexas, o que corresponde a um desenvolvimento gradual da sociedade segundo uma linha ascendente — dos estádios inferiores para os superiores. 	Nesta ordem de investigação das categorias da economia política, a investigação lógica é o reflexo do curso histórico do desenvolvimento social.
	Na análise das relações de produção capitalistas, Marx destaca, em primeiro lugar, a relação mais simples, aquela que mais frequentemente se repete: a troca de uma mercadoria por outra. Ele mostra que na mercadoria — nesta célula da economia capitalista — estão contidas em embrião as contradições do capitalismo. Partindo da análise da mercadoria, Marx explica o aparecimento do dinheiro, descobre o processo de transformação do dinheiro em capital, a essência da exploração capitalista. Marx mostra como o desenvolvimento social leva inevitavelmente a morte do capitalismo, a vitória do comunismo.
	Lênin indicou que a economia política deve ser exposta sob a forma de uma caracterização dos sucessivos períodos do desenvolvimento econômico. De acordo com esta indicação, no presente curso de economia política, as categorias econômicas fundamentais da economia política — a mercadoria, o valor, o dinheiro, o capital, etc. — são examinadas segundo a sucessão histórica em que elas surgiram nos diferentes estádios de desenvolvimento da sociedade humana. Assim, conceitos elementares sobre mercadoria e dinheiro são dados ainda na caracterização das formações pré-capitalistas. 	Já sob um aspecto desenvolvido, essas categorias são examinadas no estudo da economia capitalista, onde elas atingem seu pleno desenvolvimento. O mesmo critério de exposição é também empregado em relação a economia socialista. O conceito elementar sobre a lei econômica fundamental do socialismo, sobre a lei do desenvolvimento planificado e proporcional da economia nacional, sobre a distribuição do trabalho, sobre o dinheiro, o valor, etc., é dado na seção que trata do período de transição do capitalismo ao socialismo. Já um tratamento desenvolvido destas leis e categorias é feito na seção “O sistema socialista de economia nacional”.
	O método marxista torna possível conhecer as leis objetivas do desenvolvimento econômico e utilizá-las praticamente segundo os interesses da construção da sociedade comunista.
	Diferentemente da história, a economia política não se propõe o estudo do processo histórico do desenvolvimento da sociedade em toda a sua diversidade concreta. Ela fornece os conceitos fundamentais sobre os traços essenciais de cada sistema de economia social.
	Ao lado da economia política, também existem outras disciplinas científicas que estudam as relações econômicas em setores particulares da economia nacional, a base das leis descobertas pela economia política: a economia da indústria, a economia da agricultura e outras.
2. A PRODUÇÃO DE BENS MATERIAIS, BASE DA VIDA DA SOCIEDADE
	A economia política é uma das ciências sociais(1). Estuda as leis da produção social e da distribuição dos bens materiais nos diferentes estádios de desenvolvimento da sociedade humana.
	A base da vida da sociedade é a produção material. Para viver, os homens devem ter alimentos, roupas e outros bens materiais. Para possuir esses bens, os homens devem produzi-los, devem trabalhar.
	Os homens produzem os bens materiais, isto é, travam a luta contra a natureza, não isoladamente, mas em conjunto, em grupos, em sociedades. Consequentemente, a produção sempre e em quaisquer condições é produção social, e o trabalho, uma atividade do homem social.
	O processo de produção dos bens materiais pressupõe os seguintes aspectos:
o trabalho do homem,
o objeto de trabalho e
os meios de trabalho.
	O trabalho é uma atividade racional do homem, no processo da qual ele modifica e adapta os objetos da natureza para satisfação de suas necessidades. O trabalho é uma necessidade natural, uma condição indispensável a existência dos homens. Sem o trabalho seria impossível a própria vida humana.
	Objeto de trabalho é tudo aquilo sobre o que atua o trabalho do homem. Os objetos de trabalho podem ser fornecidos diretamente pela natureza, como, por exemplo, a madeira que se serra no bosque, ou os minérios que se extraem das entranhas da Terra. Os objetos de trabalho anteriormente submetidos a ação do trabalho, como os minerais numa usina metalúrgica, o algodão numa fiação, o fio numa tecelagem, tomam a denominação de matérias-primas.
	Meios de trabalho são todas as coisas com ajuda das quais o homem atua sobre o objeto do seu trabalho e o modifica. Entre os meios de trabalho figuram antes de tudo os instrumentos de produção, e também a terra, as edificações produtivas, as estradas, canais, depósitos, etc.. Na composição dos meios de trabalho, o papel determinante cabe aos instrumentos de produção, que incluem toda a variedade de instrumentos empregados pelo homem em sua atividade laboriosa, a começar pelos toscos instrumentos de pedra do homem primitivo, até as máquinas atuais. O nível de desenvolvimento dos instrumentos de produção serve de medida do domínio da sociedade sobre a natureza, de medida do desenvolvimento da produção. As épocas econômicas distinguem-se não por aquilo que se produz, mas pela maneira como são produzidos os bens materiais, com que instrumentos de produção.
	Os objetos de trabalho e os meios de trabalho constituem os meios de produção. Os meios de produção por si mesmos, sem se associarem a força de trabalho, nada podem criar. Para que possa ser posto em marcha o processo de trabalho, a força de trabalho deve juntar-se aos meios de produção. A força de trabalho é a capacidade do homem para o trabalho, o conjunto de forças físicas e espirituais do homem, graças as quais está ele em condições de produzir bens materiais. A força de trabalho é o elemento ativo da produção, que cria e põe em movimento os meios de produção. Com o desenvolvimento dos instrumentos de produção, desenvolve-se também a capacitação do homem para o trabalho, sua maestria, sua prática, sua experiência produtiva.
	Os meios de produção, com ajuda dos quais são criados os bens materiais, e os homens, que põem em movimento esses meios e realizam a produção dos bens materiais, constituem as forças produtivas da sociedade.
	Não apenas os instrumentos de produção, mas também os objetos de trabalho constituem um elemento inseparável das forças produtivas. Junto com o papel determinante dos instrumentos de produção, o desenvolvimento dos objetos de trabalho (a criação de novos tipos de matérias-primas, entre eles materiais para a elaboração de instrumentos de produção, descobrimento de novos recursos energéticos, etc.) é um índice bastante importante do nível das forças produtivas. É sabido, por exemplo, que imensa importância teve a passagem a utilização dos metais para a produção de instrumentos de trabalho, de petróleo, de energia elétrica, e, nos últimos tempos, aquelas modificações nos objetos de trabalho que estão relacionadas com o desenvolvimento da química, com a produção de novíssimos metais, com a aplicação da energia nuclear. As massas trabalhadoras são a força produtiva fundamental da sociedade humana em todas as etapas do seu desenvolvimento.
As forças produtivas exprimem as relações dos homens com os objetos e as forças da natureza, utilizados para a produção de bens materiais. Entretanto, no processo da produção, os homens não se relacionam apenas com a natureza; ao mesmo tempo, mantêm uns com os outros determinadas relações mútuas.
	As relações sociais entre os homens no processo de produção dos bens materiais constituem as relações de produção. As relações de produção incluem: as formas de propriedade sobre os meios de produção, a situação das classes e grupos sociais na produção e suas relações mútuas e as formas de distribuição dos produtos.
	Nenhuma produção é possível sem essa ou aquela forma de propriedade, isto é, sem uma forma social historicamente determinada de apropriação, pelos homens, dos bens materiais e em particular dos meios de produção(4). O caráter das relações de produção depende antes de tudo do seguinte: na propriedade de quem se encontram os meios de produção — se na propriedade de pessoas isoladas, de grupos ou classes sociais, que se utilizam desses meios para a exploração dos trabalhadores, ou se na propriedade da sociedade, que tem por objetivo a satisfação das necessidades materiais e culturais das massas populares. De tal modo, o papel determinante no sistema das relações de produção é desempenhado por esta ou aquela forma de propriedade dos meios de produção.
	A forma de propriedade dos meios de produção determina a situação dos homens no sistema da produção social, a estrutura de classes da sociedade. Quando a forma predominante é a propriedade privada capitalista dos meios de produção, os operários são privados dos meios de produção e por isto obrigados a trabalhar para os capitalistas, que se apropriam do produto do seu trabalho. 
	Devido a isto, também as relações de produção no capitalismo caracterizam-se pela presença de contradições antagônicas e de uma aguda luta de classes entre os capitalistas e operários e igualmente pela luta de concorrência entre os capitalistas para a obtenção de lucros mais elevados. 	Nas condições do socialismo, domina a propriedade social dos meios de produção, em suas duas formas — a estatal (de todo o povo) e a colcosiano-cooperativa; aqui, foi liquidada a exploração do homem pelo homem e os trabalhadores trabalham para si, para a sua sociedade. As relações de produção não conhecem contradições antagônicas e caracterizam-se pela colaboração fraternal e pela ajuda mútua socialista.
	As relações de produção determinam também as correspondentes relações de distribuição. A distribuição é o elo de ligação entre a produção e o consumo. Os frutos da produção destinam-se ao consumo produtivo ou ao individual. Denomina-se consumo produtivo a utilização dos meios de produção para a criação de bens materiais. 	Denomina-se consumo individual a satisfação das necessidades do homem em alimentos, roupas, habitação, etc..
	A distribuição dos produtos do trabalho depende da distribuição dos meios de produção. Se os meios de produção encontram-se em propriedade das classes exploradoras, então também a distribuição dos produtos do trabalho realiza-se com fins de enriquecimento dos exploradores e em prejuízo dos interesses dos trabalhadores. Se, entretanto, os meios de produção constituem propriedade social socialista, então também os produtos do trabalho são distribuídos de acordo com os interesses da ampliação da produção socialista e da elevação do nível de bem-estar material e cultural dos trabalhadores.
	Nas formações sociais onde existe a produção mercantil, a distribuição dos bens materiais realiza-se mediante a troca de mercadorias.
	A produção, a distribuição, a troca e o consumo constituem uma unidade, na qual o papel predominante pertence a produção. Por sua vez, determinadas formas de distribuição, troca e consumo exercem ativa influência recíproca sobre a produção, favorecendo ou freando o seu desenvolvimento.
3. CARÁTER DE CLASSE DA ECONOMIA POLÍTICA
	A economia política estuda os problemas mais atuais, que afetam vitais interesses das diferentes classes da sociedade. Serão inevitáveis a morte do capitalismo e a vitória do sistema socialista de economia, estarão os interesses do capitalismo em contradição com os interesses da sociedade e do desenvolvimento progressista da humanidade, será a classe operária o coveiro do capitalismo e o portador das ideias de libertação da sociedade do capitalismo? todas estas e outras questões semelhantes são respondidas de modo diferente por diferentes economistas, na dependência dos interesses de que classes eles reflitam. Precisamente por isso explica-se porque não existe uma única economia política para todas as classes da sociedade e porque existem diversas economias políticas: a economia política burguesa, a economia política proletária e, por fim, uma economia política das classes intermediárias, a economia política pequeno-burguesa.
	Disto, porém, segue-se que estão completamente equivocados aqueles economistas que afirmam ser a economia política uma ciência neutra, não partidária, que a economia política independe da luta de classes na sociedade e não está direta ou indiretamente vinculada a qualquer partido político.
	Esta economia política objetiva só pode ser a economia política daquela classe que não está interessada na dissimulação das contradições e das chagas do capitalismo, na manutenção da ordem capitalista, daquela classe cujos interesses coincidem com os interesses de libertação da sociedade da escravidão capitalista, com os interesses do desenvolvimento progressista da sociedade. Essa classe é a classe operária. Por isso, a economia política objetiva só pode ser aquela economia política que se apoia nos interesses da classe operária. A economia política marxista-leninista é precisamente esta economia política.
	A economia política marxista constitui parte integrante importantíssima da teoria marxista-leninista.
	Os grandes dirigentes e teóricos da classe operária, Marx e Engels, foram os fundadores da economia política proletária. Em seu genial trabalho O Capital, Marx revelou as leis do aparecimento, do desenvolvimento e da morte do capitalismo, fez a fundamentação econômica da inevitabilidade da revolução socialista e da instauração da ditadura do proletariado. Marx e Engels elaboraram, em seus traços gerais, a doutrina sobre o período de transição do capitalismo para o socialismo e sobre as duas fases da sociedade comunista.
	Posteriormente, a doutrina econômica do marxismo foi desenvolvida de modo criador nos trabalhos do fundador do Partido Comunista e do Estado soviético, do genial continuador da causa de Marx e Engels, V.I. Lênin. Lênin enriqueceu a ciência econômica marxista com a generalização da nova experiência do desenvolvimento histórico, criando a doutrina marxista sobre o imperialismo, revelou a essência econômica e política do imperialismo, analisou os traços fundamentais da crise geral do capitalismo, criou uma nova teoria da revolução socialista, elaborou a doutrina sobre os caminhos e métodos da construção do socialismo e do comunismo. Marx, Engels e Lênin foram, desse modo, os criadores da economia política verdadeiramente científica.
	A teoria econômica marxista-leninista é desenvolvida de maneira criadora nas resoluções do Partido Comunista da União Soviética, dos partidos comunistas e operários irmãos de outros países, nos trabalhos dos dirigentes desses partidos, que enriquecem a ciência econômica com novas conclusões e teses a base da generalização da prática da luta revolucionária e da construção do socialismo e do comunismo. Apoiando-se nos trabalhos de Marx, Engels e Lênin, o eminente teórico do marxismo-leninismo I.V. Stálin apresentou e desenvolveu uma série de novas teses no domínio da economia política. Na elaboração e no desenvolvimento da teoria econômica participam ativamente amplos círculos de marxistas estudiosos da economia. Para o desenvolvimento da teoria econômica possui uma grande significação a generalização da experiência de vanguarda das massas populares,
dos dirigentes da economia e inovadores da produção que revelam iniciativas criadoras na construção do socialismo.
	A economia política marxista-leninista é uma poderosa arma ideológica nas mãos da classe operária e de toda a humanidade trabalhadora em sua luta pela libertação do jugo capitalista. A grande força da teoria econômica do marxismo-leninismo consiste em que arma a classe operária, as massas trabalhadoras, com o conhecimento das leis do desenvolvimento econômico da sociedade, dá-lhes uma clara perspectiva e a certeza na vitória final do comunismo.
	Aparecimento da sociedade humana. As forças produtivas no regime comunitário primitivo
	O aparecimento da sociedade humana verificou-se no início do atual período quaternário da história da Terra, o qual conta, como supõe a ciência, pouco menos de um milhão de anos. Em diversas regiões da Europa, Ásia e África dotadas de clima quente e úmido, habitava uma espécie altamente desenvolvida de macaco antropoide. Como resultado de um longo período de desenvolvimento, compreendendo uma série de graus intermediários, destes distantes ancestrais originou-se o homem.
	O aparecimento do homem constitui uma das mais grandiosas reviravoltas no desenvolvimento da natureza. Esta reviravolta verificou-se a partir do momento em que os ancestrais do homem começaram a produzir instrumentos de trabalho. A diferença radical entre o homem e o animal somente começa a existir com a produção de instrumentos, ainda que os mais rudimentares. É sabido que os macacos frequentemente utilizam-se de paus ou pedras para derrubar frutos das árvores, ou defender-se de ataques. Entretanto, animal algum jamais fez mesmo o mais primitivo instrumento.
	Os ancestrais do homem viviam em bandos; também em bandos e hordas viviam os homens primitivos. O aparecimento do homem foi, ao mesmo tempo, o aparecimento da sociedade, humana. No curso de um desenvolvimento bastante prolongado, surgiu entre os homens uma espécie de ligação que não existia nem podia existir no mundo animal: a ligação através do trabalho. Diferentemente dos seus ancestrais, o homem passou a produzir os meios necessários a subsistência com a ajuda de instrumentos de trabalho. Nos tempos primitivos, o homem encontrava-se na mais forte dependência em relação a natureza que o cercava. É completamente errônea a tese de alguns sábios burgueses sobre a suposta existência de uma idade do ouro naqueles tempos. O processo de domínio das forças espontâneas da natureza decorria com extrema lentidão, uma vez que os instrumentos de trabalho eram os mais primitivos. Os primeiros instrumentos do homem eram pedras grosseiramente talhadas sob a forma de achas manuais e paus. Constituíam como que um prolongamento dos seus membros: a pedra — o punho fechado; o pau — o braço estendido.
	Durante longo tempo, o homem primitivo viveu principalmente da caça e da coleta de alimentos, o que era feito coletivamente, com a ajuda dos rudimentares instrumentos de trabalho. Em face da insuficiência de alimentos, ocorria a antropofagia entre os homens primitivos. No curso de muitos milênios, como se estivessem tateando, através de um acúmulo de experiências extremamente lento, os homens aprenderam a produzir instrumentos muito simples, utilizados para golpear, talhar, arrancar raízes e para outras atividades muito simples, as quais se cingia então quase toda a esfera da produção.
	Na luta com a natureza, a descoberta do fogo foi uma imensa conquista do homem primitivo. Graças a descoberta do fogo, modificaram-se substancialmente as condições da vida material dos homens. O homem primitivo destacava-se definitivamente do mundo animal, estava concluída a prolongada etapa de formação do homem. O fogo era utilizado para o preparo de alimentos, como carne, peixe, raízes feculentas, tubérculos, etc., para produzir instrumentos de produção e oferecia proteção contra o frio e contra as feras.
	Com o correr do tempo, o homem aprendeu a fazer instrumentos mais perfeitos. Apareceram as lanças com extremidade pontiaguda, machados, facas e raspadeiras de pedra, arpões e ganchos. Estes instrumentos possibilitaram a caça de grandes animais e o incremento da pesca.
	A pedra permaneceu como o principal material para a produção de instrumentos durante um período muito prolongado. A época do predomínio dos instrumentos de pedra, que é calculada em centenas de milhares de anos, é chamada a idade da pedra. Somente mais tarde aprendeu o homem a fazer instrumentos de metal — a princípio de metal bruto e em primeiro lugar de cobre (o cobre, porém, sendo um metal maleável, não alcançou grande emprego na produção de instrumentos), depois de bronze (liga de cobre e estanho) e, por fim, de ferro. E de acordo com isso, a idade da pedra sucederam-se a idade da pedra e do cobre, depois a idade do bronze e, por fim, a idade do ferro.
	Marco importante no caminho para o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho ainda na idade da pedra foi a invenção do arco c da flecha, com o aparecimento dos quais a caça passou a fornecer maior quantidade de meios de subsistência. O incremento da caça conduziu ao aparecimento da pecuária primitiva. Os caçadores começaram a domesticar os animais, a começar pelo cão. Mais tarde, de acordo com as peculiaridades das diferentes regiões onde os homens se haviam fixado, foram sendo domesticados cabras, gado vacum, porcos e cavalos.
	Se a pecuária primitiva originou-se da caça, a agricultura primitiva surgiu da coleta de frutos e plantas comestíveis silvestres. Durante muito tempo, a agricultura permaneceu num estado extremamente primitivo. A terra era revolvida a mão, inicialmente apenas com um pau, e depois com um pau tendo a extremidade dobrada, uma espécie de enxadão. Nos vales fluviais, as sementes eram lançadas sobre o limo deixado pelas enchentes dos rios. A domesticação dos animais tornou possível a utilização do gado como força de tração. Posteriormente, nos estádios finais do desenvolvimento da sociedade primitiva, quando os homens dominaram a fundição do metal e apareceram os instrumentos metálicos, o seu emprego tornou mais produtivo o trabalho agrícola. A agricultura passou a ter uma base mais sólida.
3.1 As Relações de Produção do Regime Comunitário Primitivo
	Os instrumentos de trabalho na sociedade primitiva eram de tal modo rudimentares que excluíam a possibilidade do homem primitivo enfrentar isoladamente as forças da natureza e os animais selvagens. Daqui a necessidade da propriedade comunitária sobre a terra e outros meios de produção, bem como do trabalho coletivo.
	Os homens primitivos não tinham noção da propriedade privada sobre os meios de produção. Como sua propriedade individual, para uso de membros isolados da comunidade, figuravam apenas alguns instrumentos de produção que, ao mesmo tempo, serviam de meios de defesa contra as feras.
	O trabalho do homem primitivo não criava qualquer excedente além do mais indispensável a vida, isto é, não proporcionava um produto suplementar. Em tais condições, na sociedade primitiva não podia haver classes nem exploração do homem pelo homem. A propriedade social existia apenas nos marcos de cada comunidade; estas comunidades eram pequenas e mais ou menos isoladas umas das outras. Segundo Lênin, aqui o caráter social da produção abarcava apenas os membros de uma comunidade.
	A atividade laboriosa dos homens da sociedade primitiva baseava-se na simples colaboração (cooperação simples). A cooperação simples é o emprego simultâneo de uma quantidade mais ou menos considerável de força de trabalho para a execução de trabalhos simples. Já a cooperação simples, porém, abria diante dos homens primitivos a possibilidade de realizar tarefas, cujo cumprimento por um homem apenas era inconcebível (por exemplo, a caça a grandes animais selvagens).
	O nível de produção extremamente baixo e a insuficiência de objetos de consumo provocavam a necessidade de uma distribuição igualitária. Os produtos do trabalho mal bastavam para a satisfação das necessidades mais essenciais dos homens primitivos.
Em tais condições, a desigualdade na distribuição condenaria a morte pela fome uma parte dos membros da comunidade primitiva e, com isso, poria em perigo a capacidade de sobrevivência de toda a coletividade.
	Na vida da sociedade primitiva, um grande passo adiante foi dado com o aparecimento da divisão do trabalho. Sua forma mais simples foi a divisão natural do trabalho, isto é, a divisão do trabalho de acordo com a idade e o sexo: entre adultos, crianças e velhos e entre homens e mulheres.
	Na medida em que se desenvolviam as forças produtivas, a divisão do trabalho tornava-se gradualmente mais sólida e estável. A especialização do homem no domínio da caça e a da mulher na coleta de alimentos vegetais e na economia doméstica conduziram a uma certa elevação da produtividade do trabalho.
	Enquanto durou o processo de separação do homem do mundo animal, as pessoas viviam em bandos e hordas. O desenvolvimento dos instrumentos de trabalho fez surgir a necessidade da substituição da horda primitiva por uma coletividade produtiva mais sólida e mais coesa e da ampliação dos marcos da colaboração simples entre os homens. Naquele estádio de desenvolvimento da sociedade, os laços de família desempenhavam um papel decisivo para a união dos homens. Surgiu daí a necessidade da transição da horda primitiva para a organização gentílica da sociedade. A “gens” era um grupo composto inicialmente por algumas dezenas de pessoas congregadas por laços de sangue.
	A passagem para a organização gentílica exigiu uma modificação radical nas relações entre os sexos. Dentro da horda imperavam relações sexuais sem normas entre homens e mulheres, praticava-se o incesto. Isto influía negativamente no desenvolvimento dos homens primitivos. Surgiu a necessidade vital de uma regulamentação das relações sexuais, com a instituição da exogamia (proibição de ligação matrimonial entre parentes por consanguinidade). Aqueles grupos de homens primitivos onde o incesto era restringido desenvolviam-se mais rapidamente em comparação com os grupos que admitiam ligações matrimoniais entre parentes por consanguinidade. As ligações matrimoniais passaram a ser estabelecidas entre os membros de diferentes “gens”, o que ampliava a possibilidade da colaboração simples e favorecia o desenvolvimento das forças produtivas. Com o passar do tempo, o número de componentes da “gens” aumentou, atingindo até centenas de pessoas; desenvolveu-se o hábito da vida conjunta; as vantagens do trabalho em comum persuadiam cada vez mais os homens a permanecerem juntos.
	Algumas “gens” constituíram-se em tribos, que são a forma superior de organização da sociedade primitiva.
	Na primeira etapa do regime gentílico, a posição dirigente era ocupada pela mulher, o que constituía uma decorrência das condições da vida material dos homens de então. A caça com os instrumentos mais primitivos, atribuição dos homens, não podia assegurar por completo a subsistência da comunidade: seus resultados eram mais ou menos ocasionais. Nestas condições, mesmo as formas rudimentares de agricultura e pecuária (domesticação de animais) possuíam grande significação econômica. Constituíam uma fonte de subsistência mais segura e constante do que a caça. 	Entretanto, a agricultura e a pecuária, enquanto realizadas através de métodos primitivos, eram predominantemente atribuições das mulheres, que permaneciam próximas ao lar, ao mesmo tempo em que os homens estavam na caça. Durante um longo período, a mulher desempenhou o papel principal na comunidade gentílica. O parentesco era fixado pela linha materna. Esta era a “gens’’ materna, ou matriarcal (matriarcado). 
	O matriarcado, como forma antiga do regime gentílico, é conhecido por todos os povos. Mas, em diferentes sociedades, ele atingiu um grau maior ou menor de desenvolvimento. Não são raros os casos em que importantes sobrevivências do matriarcado conservaram-se mesmo num grau mais elevado de desenvolvimento da sociedade.
	No curso do constante desenvolvimento das forças produtivas, quando se processou a passagem da agricultura com o emprego daqueles enxadões de madeira para uma forma mais desenvolvida, a agricultura com o arado, empregando-se o gado como força de tração e se desenvolveu a pecuária (pastagens), estes ramos, que exigiam trabalho masculino, assumiram importância decisiva na vida da comunidade; a “gens” matriarcal cedeu lugar a “gens” paterna ou patriarcal (patriarcado). A posição principal transferiu-se para o homem, que se tornou o chefe da comunidade gentílica. O parentesco passou a ser fixado segundo a linha paterna. A “gens” patriarcal existiu no derradeiro período do regime comunitário primitivo.
	A força motriz do desenvolvimento do regime comunitário primitivo era o esforço dos homens primitivos para assegurar os meios vitalmente necessários a sua existência. Pelo fato de que o homem primitivo era dotado de instrumentos extremamente frágeis para a sua luta com a natureza, aquele esforço concretizava-se através do trabalho coletivo.
	Partindo daí, pode-se formular do seguinte modo a lei econômica fundamental do regime comunitário primitivo: a produção dos meios vitalmente necessários a subsistência da comunidade primitiva, com o emprego de instrumentos rudimentares de produção, a base do trabalho coletivo.
	A inexistência da propriedade privada, da divisão da sociedade em classes e da exploração do homem pelo homem excluía a possibilidade de existência do Estado.
	Aparecimento da propriedade privada e das classes. Decomposição do regime comunitário primitivo. O regime comunitário primitivo atingiu no matriarcado o seu maior florescimento. A “gens” patriarcal já continha os germes da decomposição do regime comunitário primitivo.
	As relações de produção no regime comunitário primitivo encontravam-se, até certo momento, em correspondência com o nível de desenvolvimento das forças produtivas. Na última etapa do patriarcado, com o aparecimento de instrumentos metálicos, novos e mais aperfeiçoados, as relações de produção da sociedade primitiva deixaram de corresponder as novas forças produtivas. Os estreitos marcos da propriedade comunitária e a distribuição igualitária dos produtos do trabalho freavam o desenvolvimento das novas forças produtivas.
	Antes, quando os instrumentos eram extremamente primitivos, só era possível lavrar a terra mediante o trabalho conjunto de dezenas de pessoas. Em tais condições, o trabalho em comum era uma necessidade. Mas, com o desenvolvimento dos instrumentos de produção e o crescimento da produtividade do trabalho, já sucedia uma família estar em condições de lavrar uma parcela de terra e assegurar-se os meios necessários de subsistência. Desse modo, criava-se a possibilidade da passagem para a economia individual, que, naquelas condições históricas, era mais produtiva. Ia desaparecendo mais e mais a necessidade da propriedade comunitária e do trabalho coletivo, enfim, da economia comunitária.
	O aparecimento da propriedade privada está intimamente ligado a divisão social do trabalho e ao desenvolvimento da troca. Com a passagem a pecuária e a agricultura, surgiu a divisão social do trabalho, isto é, uma divisão do trabalho segundo a qual a princípio diferentes comunidades e depois também membros individuais das comunidades passaram a ocupar-se em diferentes tipos de atividade produtiva. A separação das tribos pastoris constituiu a primeira grande divisão social do trabalho. Já esta primeira grande divisão social do trabalho determinou uma elevação da produtividade do trabalho notável para aqueles tempos
	Na comunidade primitiva durante muito tempo não houve base para a troca: todo o produto era obtido e consumido em comum dentro da própria comunidade. Modificou-se a situação com o aparecimento da primeira grande divisão social do trabalho. Entre as tribos pastoris apareceu algum excedente de gado, de lacticínios, de carne, couros e peles. Ao mesmo tempo, tinham elas necessidade de produtos agrícolas.
	Por seu turno, as tribos que se ocupavam na agricultura alcançaram com
o tempo alguns progressos na produção agrícola. Agricultores e pastores careciam de artigos que não podiam produzir em suas próprias economias. Entre as tribos pastoras e as que se ocupavam na agricultura estabeleceram-se, desde a antiguidade, vínculos econômicos através da troca.
	Ao lado da agricultura e da pecuária, também se desenvolveram outros tipos de atividade produtiva. Ainda na idade dos instrumentos de pedra, os homens aprenderam a produzir utensílios de argila. Surgiu depois a tecelagem manual.
	Teve importância particularmente grande a descoberta da fundição dos metais, a princípio do cobre e depois do bronze, resultado da fusão do cobre com o estanho, o que abriu amplas possibilidades para a produção de diferentes instrumentos e armas de metal (enxadas de cobre com cabo de macieira, pás, serras, machados, lanças, etc.). 	Começou a desenvolver-se, inicialmente apenas dentro de algumas comunidades, a produção artesanal — tecelagem, ferraria, olaria. Tornava-se cada vez mais difícil combinar estes tipos de atividade com o trabalho agrícola ou pastoril. Gradualmente, foram destacando-se, nas comunidades, pessoas que se ocupavam com o artesanato. 
	A separação do artesanato da agropecuária foi a segunda grande divisão social do trabalho. A produção dos artesãos — dos tecelões, ferreiros, armeiros, oleiros, etc. — destinava-se cada vez mais a troca. O domínio da troca ampliou-se consideravelmente.
	Nos primeiros tempos, a troca efetuava-se entre comunidades aparentadas. Nas transações de troca, funcionavam como representantes das comunidades os mais velhos, os patriarcas. O posterior desenvolvimento da divisão social do trabalho e a ampliação da troca solapavam cada vez mais a propriedade comunitária. Em tais condições, os chefes gentílicos, gradualmente, passaram a conduzir-se em relação aos bens da comunidade, como se fossem propriedade sua.
	De início, o principal objeto de troca era o gado. As comunidades pastoras possuíam grandes rebanhos de ovelhas, cabras e de gado bovino. Os anciãos e os patriarcas, que já enfeixavam um grande poder na sociedade, acostumaram-se a dispor desses rebanhos como se fossem propriedade sua. Também os demais membros da comunidade reconheciam-lhes o efetivo direito de dispor dos rebanhos. Assim, antes de tudo, foi o gado que se transformou em propriedade privada, e depois, gradualmente, todos os instrumentos de produção. A terra foi que, por mais tempo, permaneceu como propriedade comum.
	O desenvolvimento das forças produtivas e o aparecimento da propriedade privada conduziram pouco a pouco a decomposição da “gens”. A “gens” desagregou-se em grandes famílias patriarcais. Posteriormente, dentro da grande família patriarcal, começaram a destacar-se células familiares que transformavam os instrumentos de produção, os utensílios o gado, em sua propriedade privada. Com o crescimento da propriedade privada iam-se afrouxando os vínculos gentílicos. O lugar da comunidade gentílica passou a ser ocupado pela comunidade rural. Diferentemente da “gens”, a comunidade rural, ou de vizinhança, era constituída de pessoas nem sempre ligadas por laços de parentesco. A casa, a economia doméstica, o gado — tudo isto era propriedade privada das famílias isoladas. Os bosques, prados, a água e outros bens semelhantes constituíam propriedade comum, como, também, durante determinado período, os campos de cultivo. Inicialmente, os campos de cultivo eram periodicamente repartidos entre os membros da comunidade; mais tarde, porém, passaram a ser propriedade privada.
	O aparecimento da troca e da propriedade privada marcaram o começo de uma profunda reviravolta em todo o regime da sociedade primitiva. O desenvolvimento da propriedade privada e a acentuação das diferenças de bens fizeram com que, dentro das comunidades, em diferentes grupos dos seus membros, surgissem interesses diversos. 	Em tais condições, as pessoas que tinham na comunidade as atribuições dos anciãos, de chefes militares, de sacerdotes, utilizavam-se de suas posições para enriquecer. Tinham sob seu domínio uma parte considerável da propriedade comunitária. Os detentores de tais atribuições distanciavam-se mais e mais da massa dos membros da comunidade, constituindo uma aristocracia gentílica. Com frequência cada vez maior, transmitiam o seu poder por herança. Ao mesmo tempo, as famílias aristocráticas tornavam-se as famílias mais ricas. E a massa dos membros da comunidade, em escala maior ou menor, ia caindo gradualmente na dependência dessa cúpula aristocrática e rica.
	Com o crescimento das forças produtivas, o trabalho do homem, aplicado na pecuária e na agricultura, passou a proporcionar mais meios de existência do que os necessários para manter a vida dos homens. Surgiu a possibilidade da apropriação do trabalho suplementar e do produto suplementar, isto é, o excedente de trabalho e de produto sobre aquilo que era indispensável para o sustento do próprio trabalhador e sua família. 
	Revelava-se, assim, vantajoso não matar as pessoas aprisionadas em combates, como antes se fazia frequentemente, mas sim, obrigá-las a trabalhar, transformando-as em escravos. Dos escravos apropriavam-se as famílias mais ricas e aristocráticas. Por sua vez, o trabalho escravo acarretou o constante incremento da desigualdade, pelo fato de que as economias que empregavam escravos enriqueciam rapidamente. 
	Em face da acentuação da desigualdade de bens, os aristocratas passaram a transformar em escravos, não apenas os prisioneiros, mas também os seus parentes e compatriotas, que haviam empobrecido e contraído dívidas. Foi assim que surgiu a primeira divisão da sociedade em classes — a divisão em senhores de escravos e escravos. Surgiu a exploração do homem pelo homem, isto é, a apropriação gratuita por umas pessoas do produto do trabalho de outras pessoas.
	As relações de produção do regime comunitário primitivo decompuseram-se e cederam lugar a novas relações de produção, que correspondiam ao caráter das novas forças produtivas.
	A propriedade social foi substituída pela propriedade privada, o trabalho coletivo cedeu lugar ao trabalho individual, o regime gentílico a sociedade de classes. A partir desse período, toda a história da humanidade, até a construção da sociedade socialista, é a história da luta de classes.
	Os ideólogos burgueses pintam as coisas de maneira tal como se a propriedade privada tivesse existido eternamente. A história refuta essas invencionices e mostra convincentemente que todos os povos passaram pelo estádio do regime comunitário primitivo, que existiu durante muitos milênios.
4. APARECIMENTO DO REGIME ESCRAVISTA
	Nas primeiras etapas do seu desenvolvimento, a escravidão apresentou durante longo tempo um caráter patriarcal, doméstico. Havia relativamente poucos escravos. O trabalho escravo ainda não constituía a base da produção, mas desempenhava apenas um papel auxiliar na economia. A finalidade da economia, como antes, continuava sendo a satisfação das necessidades da grande família patriarcal, que quase não recorria a troca. 
	O poder do senhor sobre os seus escravos era já então ilimitado, apesar de continuar limitado o campo de aplicação do trabalho escravo.
	O contínuo incremento das forças produtivas, o desenvolvimento da divisão social do trabalho e da troca constituíam a base para a transição da sociedade ao regime escravista.
	A passagem dos instrumentos de trabalho feitos de pedra para os de metal determinou um considerável alargamento do âmbito do trabalho humano. Na agropecuária, que permanecia sendo o principal ramo da produção, aperfeiçoaram-se os métodos de cultivo da terra e da criação. Surgiram novos ramos na agricultura: a vinicultura, o cultivo do linho, de plantas oleaginosas, etc.. Os rebanhos das famílias ricas se multiplicavam. Os cuidados com o gado reclamavam mais e mais trabalhadores. A tecelagem, a elaboração dos metais, os trabalhos em olarias e outros ofícios artesanais aperfeiçoavam-se gradualmente.
	Uma vez que a agricultura era a principal atividade econômica,
enquanto o artesanato tinha uma importância secundária, nas condições do escravismo a economia era, em sua base, natural. Chama-se natural a economia na qual os produtos obtidos do trabalho não se destinam a troca e são consumidos nos próprios marcos dessa economia. Mas, ao mesmo tempo, desenvolvia-se a troca. Os artesãos produziam seus artigos inicialmente a base de encomendas e depois para a venda no mercado. Ao lado disso, muitos deles, no curso de um longo período, continuaram a possuir pequenas parcelas de terra que cultivavam para a satisfação de suas necessidades. Os camponeses exploravam fundamentalmente a economia natural, mas eram obrigados a vender certa parte dos seus produtos no mercado, a fim de ter a possibilidade de comprar os artigos produzidos pelos artesãos e pagar impostos em dinheiro. Assim, uma parte dos produtos do trabalho dos artesãos e camponeses ia transformando-se paulatinamente em mercadoria.
	A mercadoria é um produto destinado não ao consumo imediato, mas a troca, a venda no mercado. A produção para a troca é o traço característico da economia mercantil. A separação do artesanato da agricultura, o aparecimento do artesanato como um ofício independente significava que estava sendo gerada pouco a pouco a produção mercantil.
	Enquanto a troca teve um caráter fortuito, o intercâmbio de um produto do trabalho por outro fazia-se diretamente. Mas, na medida em que a troca ampliou-se e tornou-se um fenômeno regular, gradualmente foi-se destacando determinada mercadoria pela qual trocava-se de bom grado qualquer outra. Esta mercadoria começou a servir de dinheiro. O dinheiro é a mercadoria universal, com a ajuda da qual mede-se o valor de todas as outras mercadorias e que serve de intermediário na troca.
	O desenvolvimento do artesanato e da troca conduziu a formação das cidades. A cidade surgiu na remota antiguidade, no alvorecer do modo de produção escravista. Inicialmente, a cidade pouco se diferenciava do campo. Pouco a pouco, entretanto, o artesanato e o comércio concentraram-se nas cidades. Pelo tipo de ocupação dos habitantes, por seu modo de vida, a cidade separava-se cada vez mais do campo. Assim teve início a separação da cidade do campo e começou a oposição entre a cidade e o campo.
	A medida que aumentava a massa de mercadorias destinadas ao intercâmbio, ampliavam-se também os limites territoriais da troca. Surgiu a necessidade do intermediário entre vendedores e compradores. Os comerciantes passaram a desempenhar esse papel. A separação da classe dos comerciantes, que não se ocupava da produção, mas somente da troca dos produtos, foi a terceira grande divisão social do trabalho. Buscando a obtenção de lucros, os comerciantes compravam as mercadorias aos produtores, transportavam-nas aos mercados de venda, as vezes bastante distantes do lugar da produção, e as vendiam aos consumidores.
	A ampliação da produção e da troca acentuou consideravelmente a desigualdade de bens. O dinheiro, o gado de tração, os instrumentos de produção, as sementes concentravam-se em mãos dos ricos. Os pobres viam-se obrigados, com crescente frequência, a recorrer a eles para obter empréstimos, a maior parte em forma natural e as vezes em forma monetária. Os ricos emprestavam instrumentos de produção, sementes e dinheiro, tomando dependentes os seus devedores e, no caso do não pagamento das dívidas, reduziam-nos a condição de escravos, tomavam-lhes as terras. Surgiu a usura, que trouxe um maior crescimento da riqueza para uns e para outros a sujeição por dívidas.
	Também a terra passou a converter-se em propriedade privada. Começaram a vendê-la e a comprá-la. Se o devedor não pudesse saldar sua dívida para com o usurário, só restava ao devedor desfazer-se da terra, vender os próprios filhos e a si mesmo, como escravos. Os grandes proprietários de terras, valendo-se de sua força, apoderavam-se de uma parte dos prados e das pastagens das comunidades camponesas rurais.
	A propriedade territorial, as riquezas em dinheiro e as massas de escravos concentravam-se nas mãos dos ricos senhores de escravos. A pequena economia camponesa arruinava-se cada vez mais, enquanto a economia escravista firmava-se e ampliava-se, estendendo-se a todos os ramos da produção. O trabalho escravo tornou-se a base da existência da sociedade. A sociedade cindiu-se em duas classes antagônicas: escravos e senhores de escravos.
4. 1 Assim se formou o modo de produção escravista.
	No regime escravista, a população dividia-se em homens livres e escravos. Os primeiros, em menor ou maior grau, desfrutavam dos direitos de cidadania, de posse de bens e políticos. Quanto aos escravos, eram privados de todos estes direitos. Os homens livres, por sua vez, dividiam-se na classe dos grandes proprietários de terras, que eram ao mesmo tempo grandes senhores de escravos, e na classe dos pequenos produtores (camponeses e artesãos); destes, as camadas acomodadas também utilizavam o trabalho escravo e eram senhores de escravos. Os sacerdotes, que desempenhavam um importante papel na época da escravidão, por sua posição ingressavam na classe dos grandes senhores de terras e de escravos.
	O aparecimento da propriedade privada e a divisão da sociedade em classes provocaram a necessidade do Estado. Com o aumento da divisão social do trabalho e o desenvolvimento da troca, as diferentes “gens” e tribos aproximavam-se mais e mais, constituindo uniões. Modificou-se o caráter das instituições gentílicas. Os órgãos do regime gentílico iam perdendo seu caráter popular. Transformaram-se em órgãos de domínio sobre o povo, em órgãos de rapina e opressão das suas tribos e das tribos vizinhas. Os anciãos e chefes militares das “gens” e das tribos transformaram-se em príncipes e reis. Anteriormente, eles desfrutavam de autoridade como pessoas eleitas pela “gens” ou união de “gens”. Agora, passavam a usar o seu poder para a defesa dos interesses da cúpula possuidora, para a repressão dos seus próprios parentes arruinados e para o esmagamento dos escravos. A este fim destinavam-se os destacamentos armados, os tribunais e os órgãos repressivos.
4.1.1 Assim foi criado o poder estatal.
	O Estado surgiu para manter subjugada a maioria explorada, em benefício da minoria exploradora.
	O Estado escravista desempenhou um grande papel no desenvolvimento e na consolidação das relações de produção da sociedade escravista. O Estado escravista mantinha subjugadas as massas de escravos. Tornou-se um aparelho amplamente ramificado de dominação e violência sobre as massas populares. A democracia da Grécia e de Roma antigas, exaltada nos manuais de história burgueses, era essencialmente uma democracia de escravistas.
4.1.1.1. As Relações Gerais entre a Produção e a Distribuição, a Troca e o Consumo
	Antes de prosseguir com a análise da produção, é necessário examinar as diversas rubricas com que os economistas a associam. A primeira ideia que de imediato se apresenta, é a seguinte: na produção, os membros da sociedade fazem com que os produtos da natureza tomem formas adequadas às necessidades humanas.
	A distribuição determina a proporção (o quantum) de produtos que cabem ao indivíduo; a troca determina a produção, da qual o indivíduo reclama a parte que lhe foi atribuida pela distribuição.
	Segundo os economistas, produção, distribuição, troca e consumo constituem assim um silogismo com todas as regras: a produção é o termo universal, a distribuição e a troca são o termo particular, o consumo é o termo singular com o qual o todo se completa. Há aqui, sem dúvida, um nexo, mas bastante superficial. A produção é determinada por leis gerais da natureza; a distribuição resulta da contingência social e, por isso, pode exercer urna ação mais ou menos estimulante sobre a produção; a troca situa-se entre ambas, como um movimento formalmente social; o ato final do consumo, que é concebido não apenas como resultado, mas também como objetivo final, situa-se, a bem dizer, fora da economia (a não ser quando, por sua vez, reage sobre o ponto de partida para iniciar
um novo processo).
	Os adversários dos economistas - tanto os que provêm da Economia Política, como os que lhe são estranhos ) acusam-nos de dissociarem grosseiramente coisas que constituem um todo, mas colocam-se no mesmo terreno, ou até muito mais abaixo. Com efeito, não há nada mais trivial do que acusar os economistas de considerarem a produção exclusivamente como um fim em si, e alegar que a distribuição é igualmente importante. 
4.2 Produção e Consumo
	A produção é também imediatamente consumo. Duplo consumo, subjetivo e objetivo: o indivíduo que, ao produzir, está desenvolvendo as suas capacidades, está também dispendendo-as, isto é, consome-as no ato da produção, tal como na procriação natural se consomem forças vitais. Em segundo lugar: consumo dos meios de produção utilizados, os quais se desgastam e se dissolvem em parte (como na combustão, por exemplo) nos seus elementos naturais; do mesmo modo, as matérias-primas utilizadas
perdem a sua forma e a sua constituição naturais: são consumidas. Portanto, em todos os seus momentos, o próprio ato da produção é também um ato de consumo. Aliás, os economistas admitem-no. 
	Chamam consumo produtivo à produção que corresponde diretamente ao consumo e ao consumo que coincide imediatamente com a produção. Esta identidade da produção e do consumo remete para a proposição de Espinoza: determinatio est negatio.
	No entanto, os economistas apenas estabelecem esta definição de consumo produtivo para dissociarem o consumo correspondente à produção, do consumo propriamente dito - o qual tomam como antítese e destruição da produção.
	O consumo é também imediatamente produção do mesmo modo que, na natureza, o consumo dos elementos e substâncias químicas é a produção das plantas. E claro que na nutrição, por exemplo – que é uma forma particular do consumo - o homem produz o seu próprio corpo. Isto é válido para toda a espécie de consumo que, por qualquer forma, produza o homem. Produção consumidora. Porém -
objetam os economistas -esta produção equivalente ao consumo é uma segunda produção, surgida da destruição do produto da primeira. Na primeira, o produto objetiva-se; na segunda, é o objeto criado por ele que se personifica. Por isso, a produção consumidora - embora constitua a unidade imediata da produção e do consumo - é essencialmente diferente da produção propriamente dita. Esta unidade imediata, na qual a produção coincide com o consumo e o consumo coincide com a produção, deixa subsistir a dualidade intrínseca de cada um.
	Portanto, a produção é imediatamente consumo, e o consumo é imediatamente produção; cada termo é imediatamente o seu contrário. Mas, simultaneamente, há um movimento mediador entre ambos; a produção é intermediária do consumo, cuja matéria cria; sem esta, aquele ficaria privado do seu objeto; por sua vez, o consumo é intermediário da produção, pois proporciona aos seus produtos o sujeito para o qual eles o são (produtos). 
	O produto só atinge o seu final no consumo. Uma via férrea onde não circulam trens, que não é usada, que não é consumida, pode dizer-se que é imaginária, que não existe.
	Sem produção não há consumo; mas sem consumo, também não há produção, pois, nesse caso, a produção seria inútil.
	O consumo produz a produção de duas maneiras:
1) na medida em que só no consumo o produto se torna produto. Por exemplo: um terno só se torna realmente um terno quando é vestido; uma casa desabitada não é realmente uma casa. 
	Contrariamente ao simples objeto da natureza, o produto só se afirma como produto, só se torna produto, no consumo.
	Ao absorver o produto, o consumo dá-lhe o toque final [finish strok e, no ms. de Marx], pois o [resultado] da produção é produto, não como atividade objetivada, mas só como um objeto para o sujeito atuante.
2) na medida em que o consumo cria a necessidade de uma nova produção e, por conseguinte, a condição subjetiva e o móbil interno da produção, a qual é o seu pressuposto. O consumo motiva a produção e cria também o objeto que, ao atuar sobre ela, vai determinar a sua finalidade. 
	Verdade que a produção fornece, no seu aspecto manifesto, o objeto do consumo; mas também é evidente que o consumo fornece, na sua forma ideal, o objeto da produção; este surge na forma de imagem interior, de necessidade, de impulso e finalidade. O consumo cria os objetos da produção, mas sob uma forma ainda subjetiva. Sem necessidade não há produção; ora, o consumo reproduz as necessidades.
Pelo lado da produção, o problema caracteriza-se assim:
1) A produção fornece ao consumo a sua matéria, o seu objeto. Consumo sem objeto não é consumo; neste sentido, a produção cria, produz o consumo.
2) Porém, a produção não fornece apenas um objeto de consumo; dá-lhe também o seu caráter específico e determinado, dá-lhe o toque final - tal como o consumo dá ao produto o toque final que converte uma vez por todas em produto. Em suma, o objeto não é um objeto em geral, mas sim, um objeto bem determinado e que tem de ser consumido de uma maneira determinada, a qual, por sua vez, tem que ser mediada pela própria produção. A fome é a fome, mas a fome que é saciada com carne cozida e consumida com faca e garfo é diferente da fome do que devora carne crua e a come com a mão, com unhas e dentes. Por conseguinte, o que a produção produz objetiva e subjetivamente não é só o objeto do consumo; é também o modo de consumo. A produção cria, pois, o consumidor.
3) A produção proporciona não só um objeto material à necessidade, mas também uma necessidade ao objeto material. Quando o consumo emerge do seu primitivo caráter natural, imediato e tosco - e o permanecer neste estágio resultaria do fato de a produção não ter também ultrapassado o seu estágio natural, primitivo e tosco - passa a ser mediado como impulso pelo objeto: a necessidade que o consumo sente deste último é criada pela percepção do objeto. O objeto de arte - e analogamente, qualquer outro produto - cria um público sensível à arte e capaz de fruição estética. 
	Deste modo, a produção não cria só um objeto para o sujeito; cria também um sujeito para o objeto.
a) fornecendo-lhe a sua matéria; 
b) determinando o modo de consumo; 
c) provocando no consumidor a necessidade de produtos que ela criou originariamente como objetos. Por conseguinte, produz o objeto de consumo, o modo de consumo e o impulso para consumir. 
	Pelo seu lado, o consumo [cria] a disposição do produtor, solicitando-o como necessidade animada duma finalidade (a produção).
A identidade entre o consumo e a produção reveste-se pois, de um triplo aspecto:
1) Identidade imediata. A produção é consumo: o consumo é produção. Produção consumidora. Consumo produtivo. Os economistas designam ambos por consumo produtivo; estabelecem, no entanto, uma distinção - consideram a primeira como reprodução, e o segundo como consumo produtivo; todas as investigações sobre a primeira referem-se ao trabalho produtivo e ao trabalho improdutivo; as investigações sobre o segundo tem como objeto o consumo produtivo ou não produtivo.
2) Cada um dos termos surge como mediação do outro e mediado pelo outro. Isto exprime-se como uma dependência recíproca, como um movimento através do que se relacionam entre si e se mostram reciprocamente indispensáveis, embora permaneçam exteriores um ao outro. A produção cria a matéria para o consumo, enquanto objeto exterior a este; o consumo cria a necessidade enquanto objeto interno, enquanto finalidade da produção. Sem produção não há consumo; sem consumo não há produção.
3) A produção não é apenas imediatamente consumo, nem o consumo é apenas imediatamente produção; mais: a produção não é simplesmente um meio para o consumo, nem o consumo, simplesmente um fim para a produção - o mesmo é dizer, tão pouco é suficiente o fato de cada um proporcionar ao outro o seu objeto: a produção, o objeto exterior, material, do consumo; o consumo, o objeto ideal da produção. Cada um dos termos não se limita a ser imediatamente o outro, nem o mediador do outro: mais do que isso, ao
realizar-se, cria o outro, realiza-se sob a forma do outro. O consumo consuma o ato de produção, dando ao produto o seu caráter acabado de produto, dissolvendoo, absorvendo a sua forma autônoma e material, e desenvolvendo - através da necessidade da repetição - a aptidão para produzir surgida no primeiro ato da produção. 
	O consumo não é pois, apenas, o ato final pelo qual o produto se torna realmente produto: é também o ato pelo qual o produtor se torna realmente produtor. A produção, pelo seu lado, gera o consumo, criando um modo determinado de consumo, originando - sob a forma de necessidade - o desejo e a capacidade de consumo.
3) é particularmente discutida pela economia política, a propósito da relação entre a oferta e a procura, entre os objetos e as necessidades, entre as necessidades criadas pela sociedade e as necessidades naturais.
	Para um hegeliano não é agora mais fácil do que identificar a produção com o consumo. E isso foi feito não só por escritores socialistas, mas até por economistas vulgares (como, por exemplo, Say, quando pensam que, se considerarmos um povo - ou a humanidade in abstracto - a sua produção é igual ao seu consumo. Storch denunciou o erro de Say, notando que um povo, por exemplo, não consome simplesmente a sua produção, que também cria meios de produção, etc., capital fixo, etc. Além do mais, encarar a sociedade como um sujeito único é encará-la de forma falsa, especulativa; para um dado sujeito, produção e consumo surgem como momentos de um mesmo ato. 	Importa realçar sobretudo que, se se considerar a produção e o consumo como atividades quer dum indivíduo, quer de um grande número de indivíduos [isolados], tanto uma como outro seguem, em qualquer caso, como elementos de um processo no qual a produção é o verdadeiro ponto de partida, sendo, por conseguinte, o fator preponderante. O consumo, enquanto necessidade, é o próprio momento interno da atividade produtiva; mas esta última é o ponto de partida da realização, e portanto também o seu elemento preponderante, isto é: [etapa] pelo qual todo o processo se renova. 
	O indivíduo produz um objeto e, ao consumir o seu produto, regressa ao ponto de partida, procedendo como indivíduo que produz e que se reproduz. Deste modo, o consumo representa um momento da produção.
	Em contrapartida, na sociedade, a relação entre o produtor e o produto, uma vez acabado este último, é uma relação exterior; o regresso do objeto ao sujeito depende da contingência das relações que mantêm com os outros indivíduos; ele não se apropria diretamente do produto; - além do mais, quando produz em sociedade, a finalidade do sujeito não é a apropriação imediata do produto. Entre o produtor e os produtos interpõe-se a distribuição, a qual, mediante leis sociais, determina a parte do mundo dos
produtos que cabe aquele; interpõe-se, portanto, entre a produção e o consumo.
4.2.1.1 Distribuição e Produção
	Há um fato que não pode deixar de nos impressionar ao examinarmos os tratados correntes de economia política: neles todas as categorias são apresentadas de duas maneiras; por exemplo, na distribuição figuram a renda imobiliária, o salário, o juro, o lucro, ao passado que a terra, o trabalho e o capital figuram como agentes da produção. No tocante ao capital, vemos à evidência que aparece sob duas formas: 
1) como agente da produção; 
2) como fonte de rendimento, isto é: como elemento determinante de certas formas de distribuição. Por isso que o juro e o lucro figuram também na produção, pois são formas de que se reveste o crescimento do capital, quer dizer, são momentos da sua própria produção. Na qualidade de formas da distribuição, juro e lucro pressupõem o capital como agente da produção. São igualmente modos de reprodução do capital.
	De modo análogo, o salário é o trabalho assalariado considerado noutra rubrica: o caráter determinado que o trabalho possui aqui como agente da produção surge além como determinação da distribuição. Se não estivesse determinado como trabalho assalariado, o modo como o trabalho participa na repartição dos produtos não adquiriria a forma de salário; veja-se o caso da escravatura. Finalmente, - se considerarmos a renda imobiliária - que é a forma mais desenvolvida sob a qual a propriedade da terra participa na distribuição dos produtos - vemos que ela pressupõe a grande propriedade agrária (ou melhor a grande agricultura) como agentes de produção e não a terra pura e simples, tal como o salário não pressupõe o puro e simples trabalho.
	Por conseguinte, as relações e os modos de distribuição aparecem muito simplesmente como o reverso dos agentes de produção: um indivíduo que contribui para a produção com o seu trabalho assalariado participa, sob a forma de salário, na repartição dos produtos criados pela produção. A estrutura da distribuição é completamente determinada pela estrutura da produção. A própria distribuição é um produto da produção, tanto no que se refere ao seu objeto (pois só se podem distribuir os resultados da produção) como no que se refere à sua forma (posto que o modo determinado de participação na produção determina as formas particulares da distribuição, isto é: a forma sob a qual se participa na distribuição).
	 Por conseguinte, é uma rematada ilusão circunscrever a terra à produção, a renda imobiliária à distribuição, etc. Economistas como Ricardo, a quem se reprova com frequência o fato de apenas terem em vista a
produção definem a distribuição como o único objeto da economia. Na verdade, consideravam instintivamente que são as formas de distribuição que melhor exprimem as relações dos agentes de produção numa dada sociedade. Para o indivíduo isolado, a distribuição aparece naturalmente como uma lei social que determina a sua posição no seio da produção, isto é: no quadro em que produz e que, portanto, precede a produção. 	Ao nascer, o indivíduo não tem capital nem propriedade agrária; logo
que nasce é condenado, pela distribuição social, ao trabalho assalariado. Na realidade, o próprio fato de a tal ser condenado, resulta do fato de o capital e a propriedade agrária serem agentes autônomos da produção.
	Mesmo à escala das sociedades na sua globalidade, a distribuição parece preceder e determinar, até certo ponto, a produção - surge, de certo modo, como um fato pré-econômico. Um povo conquistador reparte a terra entre os conquistadores; deste modo impõe uma certa repartição e uma forma dada de propriedade agrária: determina, desse modo, a produção. Ou então reduz os conquistados à escravatura, e baseia a sua produção no trabalho escravo. Ou então, um povo revolucionário pode parcelarizar a
grande propriedade territorial e, mediante esta nova distribuição, dar um caráter novo à produção. Ou então, a legislação pode perpetuar a propriedade agrária nas mãos de certas famílias; ou faz do trabalho um privilégio hereditário para fixar num regime de castas. Em todos estes exemplos, extraídos da história, a estrutura da distribuição não parece ser determinada pela produção; pelo contrário, é a produção que parece ser estruturada e determinada pela distribuição.
	Segundo a concepção mais simplista, a distribuição apresenta-se como distribuição dos produtos, como se estivesse afastada da produção e, por assim dizer, quase independente dela.
	 Porém, antes de ser distribuição de produtos, é: 
1) distribuição de instrumentos de produção; 
2) distribuição dos membros da sociedade pelos diferentes ramos da produção - e esta é uma definição mais ampla da relação anterior (consideração dos indivíduos em determinadas relações de produção). 
	Manifestamente, a distribuição dos produtos não é mais do que resultado desta distribuição, que está incluída no próprio processo de produção e determina a estrutura da produção. Se não se tiver em conta a última distribuição, englobada na produção, esta aparece, evidentemente, como uma abstração oca; na verdade, a distribuição dos produtos é determinada por esta distribuição, a qual, na sua origem, é um fator de produção. Ricardo, que se esforçou
por analisar a produção moderna na sua estrutura social determinada e que é o economista da produção por excelência, declara, precisamente por ssa razão, que o verdadeiro tema da economia moderna não é a produção, mas sim a distribuição. Eis mais uma evidência da inépcia dos economistas que encaram a produção como uma verdade eterna e relegam a história para o domínio da distribuição.
	Sem dúvida que a relação entre esta distribuição determinante da produção e a própria produção constitui um problema situado também no quadro da produção. Poder-se-ia replicar: posto que a produção parte necessariamente de uma dada distribuição de meios de produção, pelo menos a distribuição assim entendida precede a produção e constitui a sua condição prévia. Responder-se-ia então que a produção tem efetivamente as suas próprias condições e premissas que constituem os seus próprios momentos. À primeira vista, pode parecer que estas condições são fatos naturais, mas o próprio processo da produção transforma-os de naturais em históricos: e, para um dado período,
aparecem como condições naturais da produção, para outro período aparecem como o seu resultado histórico. Estes momentos são constantemente modificados no interior da própria produção; a introdução das máquinas, por exemplo, modificou tanto a distribuição dos instrumentos de produção como a dos produtos; a grande propriedade latifundiária moderna é o resultado, tanto do comércio e da indústria modernos, como da aplicação desta última à agricultura.
	Em última análise, as questões formuladas reduzem-se a uma só: qual é o efeito das condições históricas sobre a produção, e qual a relação entre esta e o movimento histórico em geral?
	Manifestamente, este problema depende da discussão e da análise desenvolvida da própria produção.
	Não obstante, dada a forma trivial sob que acima foram postas as questões, podemos resolvê-lo expeditamente.
	Todas as conquistas supõem três possibilidades: ou o povo conquistador impõe ao conquistado o seu próprio modo de produção (é o que os ingleses fazem atualmente na Irlanda e parcialmente na índia); ou então deixa subsistir o antigo e contenta-se com um tributo (por exemplo, os Turcos e os Romanos); ou, por fim, produz-se uma ação recíproca, de que resulta uma forma nova, uma síntese (em parte, nas conquistas germânicas). Em qualquer dos casos o modo de produção - seja ele o do povo conquistador,
o do povo conquistado ou o resultado da fusão de ambos - é determinante para a nova distribuição que se estabelece. Mesmo que esta se apresente como condição prévia para o novo período de produção, ela é já de si um produto da produção - não só da produção histórica em geral, mas de uma produção histórica determinada. Por exemplo, ao devastarem a Rússia, os mongóis agiram de acordo com a sua produção – a criação de gado - que apenas exigia grandes pastagens, para as quais os grandes espaços desabitados são uma condição fundamental.
	 Os bárbaros germanos, que viviam isolados nos campos e cuja produção tradicional se baseava no trabalho agrícola realizado por servos, puderam submeter as
províncias romanas às suas condições tanto mais facilmente quanto a concentração da propriedade da terra por que essas províncias tinham passado alterara já completamente as antigas condições agrárias.
	E verdade que em certas épocas se viveu unicamente da pilhagem; no entanto, para haver pilhagem é necessário que haja qualquer coisa para pilhar, quer dizer, produção. E o modo de pilhagem é, também ele determinado pelo modo de produção; não se pode pilhar uma nação de especuladores de Bolsa da mesma maneira que se pilha uma nação de criadores de gado.
	Quando se rouba um escravo, rouba-se diretamente um instrumento de produção; porém, é necessário que a estrutura produtiva do país a que se destina o escravo roubado admita o trabalho dos escravos, caso contrário (como na América do Sul, etc.) terá que se criar um modo de produção que corresponda à escravatura.
	As leis podem perpetuar nas mãos de algumas famílias a propriedade de um instrumento de produção, por exemplo, a terra. Estas leis só adquirem significado econômico quando a grande propriedade agrária se encontra em harmonia com a produção social, como na Inglaterra, por exemplo. Em França praticava-se a pequena agricultura; apesar da existência da grande propriedade: por isso, esta última fase foi destruída pela Revolução. Mas - e a perpetuação, por meio de leis, do parcelamento das terras, por exemplo? A propriedade concentra-se de novo, apesar das leis. Determinar mais em particular a influência das leis na manutenção das relações de distribuição, e a sua influência, por conseguinte, na produção.
 
4.2.1 Troca e Produção
	A circulação propriamente dita ou não é mais do que um momento determinado da troca, ou é a troca considerada na sua totalidade. Na medida em que a troca não é mais do que um momento mediador
entre, por um lado, a produção e a distribuição que aquela determina e, por outro lado, o consumo – e dado que o próprio consumo aparece também como um momento da produção - é evidente que a troca se inclui na produção, e é também um seu momento.
	Em primeiro lugar, é evidente que a permuta de atividades e capacidades que ocorre no interior da produção faz diretamente parte desta última - é até um dos seus elementos essenciais. Em segundo lugar, o mesmo se aplica à troca de produtos, pois esta é um meio que permite fornecer o produto acabado, destinado ao consumo imediato. No que até agora vimos, a troca é um ato incluído na produção. Em terceiro lugar, a chamada exchange entre dealers é, dada a sua organização, completamente determinada pela produção; representa uma atividade produtiva.
	Somente na sua última fase - no momento em que o produto é trocado para ser consumido imediatamente - é que a troca se apresenta independente e exterior à produção e, por assim dizer, indiferente a esta. Porém observamos que: 
1) não existe troca sem divisão do trabalho, quer esta seja natural, quer seja um resultado histórico;
 2) a troca privada pressupõe a produção privada;
 3) a intensidade da troca, assim como a sua extensão e a sua estrutura, são determinadas pelo desenvolvimento e pela estrutura da produção. Por exemplo, a troca entre a cidade e o campo, a troca no campo, na cidade, etc. 
	Portanto, a produção compreende e determina diretamente a troca em todas as suas formas. natural, quer seja um resultado histórico.
5. TEORIA CLÁSSICA 
	Nas primeiras décadas do século XIX o ensino de economia política gira em torno da obra de Adam Smith. Todo intelectual com preocupações sociais tem na riqueza das nações. A circulação generalizada de dinheiro e um complexo sistema de créditos suscitam controvérsias teóricas. Também as políticas de comércio exterior desafiam a gestão econômica em questão que iam de proibições à importação passando por taxas e impostos e a questão do câmbio.
	Os pensadores que se debruçam nessas questões e seguem um modelo básico de Smith irão compor a chamada economia política clássica. Muitos autores aparecem como membros da escola como: McCulloch, J.B Say, James Mill, Senior, Cairnes, Hodgskin, Thompson, Sismondi, Bailey, De Quincey entre outros. 
	No entanto destaca-se três autores clássicos mais importantes: Thomas Malthus, David Ricardo e Jhon Stuart Mill. Partindo do paradigma smithiano, elege como questão central da Economia Política o crescimento econômico, mas dão ênfase particulares a diferentes temas ligados a questão básica: Malthus enfatiza a demanda, Ricardo a distribuição dos rendimentos e Mill preocupa-se com a questão metodológica e sobre a produção, distribuição e propriedades dos bens.
	De fato Ricardo e Mill eram as maiores autoridades na fase áurea e da Economia Política inglesa em meados do século XIX. Malthus foi relativamente superado por eles, mas sua importância seria resgatada tempos depois.
	As reflexões desses autores clássicos estarão em sintonia com os problemas da época, embora a escola tenha se tornado ao longo do

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