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PSICOLOGIA ESCOLAR
 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA (Módulo 0)
 
Organização do material:
 
         Olá, aluno!
        
         Estamos iniciando uma jornada de estudo e pesquisa juntos e, para começar, é importante que você receba orientações gerais sobre como está organizado este material.
 
         Inicialmente, serão apresentadas as competências e habilidades vinculadas à nossa Disciplina. Consideramos importante que você conheça o que esperamos que aprenda e desenvolva em relação a cada Módulo de estudo, não apenas em termos de conteúdos, mas de ferramentas e procedimentos necessários para sua formação profissional.
 
         O material foi organizado de forma a favorecer o desenvolvimento dos assuntos e ajudar você a se localizar durante seus estudos, por isso ele foi construído com uma lógica interna, com coerência e organização, para favorecer sua compreensão e tornar seu percurso prazeroso.
 
         Não se esqueça de recorrer constantemente às fontes (livros, artigos, etc.) que serviram como referencia para a construção deste material e onde você encontrará novas possibilidades de busca e aprendizagem!
 
         A DISCIPLINA
 
         Como o nome indica, nesta disciplina você terá oportunidade de conhecer a atuação do psicólogo em relação aos processos educativos. Nosso objetivo é levá-lo a conhecer a atuação do psicólogo em relação às demandas escolares no contexto clínico, institucional e comunitário. Você terá oportunidade de estudar a multiplicidade de fatores constituintes da queixa escolar, analisar os aspectos históricos, sociais, culturais, afetivo-emocionais, cognitivos e comportamentais envolvidos na constituição da queixa escolar. Além disso, irá conhecer a atuação do psicólogo no processo ensino - aprendizagem, considerando o contexto das relações institucionais, a partir da perspectiva da teoria crítica e também no campo da orientação profissional.
 
         Dessa forma, nossa disciplina tem como objetivo geral o desenvolvimento das seguintes competências:
 
 Compreensão dos fenômenos e processos psicológicos constituídos a partir de relações sociais por meio da discussão de situações-problema voltados às questões de escolarização.
 
 Compreensão da atuação do psicólogo em contextos educativos para promoção do desenvolvimento humano e construção de políticas que expressem o compromisso com a educação pública brasileira.
 
 Construção de recursos para atuação a partir de princípios e estratégias de intervenção frente aos problemas de escolarização segundo uma perspectiva crítica no contexto escolar.
 
 
         Como você pode perceber, além de adquirir um conhecimento teórico consistente, desejamos que você compreenda seus fundamentos históricos e políticos e que possa perceber sua vinculação com a proposição de uma metodologia e de uma atitude profissional. Nesse sentido, indicamos as seguintes habilidades que você desenvolverá durante o curso:
 
 Analisar o percurso histórico da escolarização brasileira e as políticas públicas em psicologia no Brasil.
 
 Conhecer a atuação do psicólogo frente às demandas escolares, a partir de uma visão crítica em psicologia.
 
 Identificar as dificuldades de escolarização em uma dimensão psicossocial por oposição as práticas biologizantes.
 
 Identificar e descrever criticamente os funcionamentos institucionais e a dinâmica das relações na escola no diagnóstico e intervenção em psicologia.
 
 Identificar mitos e preconceitos sobre a criança que não aprende na escola.
 
 Planejar e elaborar intervenções que respondam às demandas relativas às queixas escolares segundo um enfoque crítico em psicologia escolar.
 
         O material aqui apresentado poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das atividades realizadas nas aulas presenciais e à distância.
 
            O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos, que devem ser estudados ao longo do semestre letivo. Alguns tópicos serão objeto de avaliação na NP1 (Módulos 1 a 4) e outros serão avaliados na NP2 (Módulos 5 a 8).
 
         Sugerimos que você siga a ordem abaixo apresentada, ao planejar seu estudo, uma vez que os temas mantém entre si uma relação lógica.
 
 Módulo 1:
Visão crítica em psicologia escolar contemplando a perspectiva histórica em que se deu a aproximação entre psicologia e educação.
 
Módulo 2:
Revisão histórica das principais teorias da educação.
 
Módulo 3:
Análise crítica das políticas públicas na educação brasileira.
Os mitos e preconceitos acerca da criança que não aprende.
 
Módulo 4:
O papel do psicólogo na escola, no sentido de promover reflexão sobre as práticas e favorecer transformações.
Reflexão crítica acerca dos instrumentos de intervenção.
 
Módulo 5:
Os problemas de ensino e aprendizagem.
As implicações pedagógicas dos problemas de aprendizagem.
O papel do psicólogo escolar frente à queixa escolar.
 
Módulo 6:
Modelo de atuação do psicólogo diante dos problemas de aprendizagem a partir da visão crítica em psicologia escolar: uma proposta de intervenção diante das Queixas Escolares.
 
Módulo 7:
O psicólogo escolar como mediador no processo de conscientização dos professores quanto ao seu papel a partir de uma atitude crítico-reflexivo com base na abordagem sócio-histórica.
Análise e atuação institucional do psicólogo frente a problemas de leitura e escrita e de indisciplina.
 
Módulo 8:
Orientação Profissional e o papel do psicólogo.
 
Módulo 9:
Este módulo contém 15 exercícios que devem ser realizados em Estudos Disciplinares – ED – quando habilitados.
 
 
         Em cada um dos módulos, haverá uma breve apresentação do assunto, indicação de material para leitura, atividades de estudo e exercícios de verificação da aprendizagem. Lembre-se que a mera realização dos exercícios não permitirá a aprendizagem dos temas. É imprescindível que você realize todas as atividades descritas em cada módulo, especialmente a leitura dos textos indicados como bibliografia básica do Módulo.
 
         O presente módulo (zero), por se tratar da apresentação do curso, não inclui exercícios. 
 
         A Bibliografia apresentada a seguir relaciona as obras consideradas importantes para o estudo dos temas. Em cada módulo, serão indicados os trechos específicos que devem ser lidos.
 
 
Bibliografia Básica:
 
MACHADO, A. M, SOUZA, M. P. R. (org.). Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. 4ª ed. São Paulo, Casa do Psicólogo. 2004.
 
MEIRA, M. M.; ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar: Teorias Críticas. São Paulo, Casa do Psicólogo. 2003.
 
MEIRA, M. M.; ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar: Práticas Críticas, São Paulo, Casa do Psicólogo. 2003.
 
Bibliografia Complementar:
 
BOCK, S. D. Orientação Profissional – A abordagem Sócio-histórica. São Paulo, Cortez, 2002.
 
PATTO, M. H. S. Para uma visão crítica da razão psicométrica. In: Revista Psicologia – USP v. 8, nº 1, São Paulo. 1997. p. 47-62
 
PATTO, M. H. S. Exercícios de Indignação – escritos de Educação e Psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2005.
 
SAVIANI, D. As teorias da educação e o problema da marginalidade. In Escola e Democracia. São Paulo: Editores Associados. 2003. 38a ed. p. 03 - 34.
 
TANAMACHI, E; SOUZA, M. P. R; ROCHA, M. E. M. (org.). Psicologia e Educação – desafios teórico-práticos.São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
 
Textos disponíveis na Internet
 
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. Vídeos Documentários. A Psicologia Educacional e Escolar em São Paulo. Volume 8.
Disponível em: http://www.crpsp.org.br/memoria/
Acesso em: 19/dezembro/2013.
 
CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO. Psicologia e Educação: contribuições para atuação profissional. Volume 6.
Disponível em: http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/caderno.aspx
Acesso em: 19/dezembro/2013.
 
FÓRUM SOBRE MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE. Recomendações de práticas não medicalizantes para os serviços e profissionais de educação e saúde.
Disponível
em: http://medicalizacao.org.br/recomendacoes/
Acesso em: 19/dezembro/2013.
 
 
         Além destas referências, é desejável que você recorra a outras fontes, caso queira se aprofundar em algum tópico específico do programa. É importante que, em sua pesquisa, você recorra a fontes confiáveis. Indicamos a seguir alguns endereços eletrônicos cuja consulta é recomendada:
 
 
BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES (USP)
http://www.teses.usp.br/
 
PEPSIC – PERIÓDICOS ELETRÔNICOS EM PSICOLOGIA
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php
 
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE (BVS) - www.bvs-psi.org.br
 
PERIÓDICOS CAPES - www.periodicos.capes.gov.br
 
DVD Coleção Grandes Educadores – Jean Piaget com apresentação de Yves de La Taille (ATTA mídia e educação - Editora Paulus www.paulus.com.br
         Se você necessitar de informações adicionais para ampliar seus conhecimentos, solicite-as ao professor, nas aulas presenciais ou nos plantões de tutoria da disciplina.
       Passemos, então, ao conhecimento das ideias dessa ação profissional em psicologia tão importante nos tempos atuais!
 
         Bons estudos!
MÓDULO 6
Modelo de atuação do Psicólogo diante de problemas de aprendizagem a partir da visão crítica em Psicologia Escolar.
 
Texto 1 : SOUZA, B. P. de.  Apresentando a Orientação à Queixa Escolar In: Orientação à Queixa Escolar. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2012, p. 97-134.
Texto 2 : SOUZA, B. P. Trabalhando com dificuldades na aquisição da lingua escrita. In: Orientação à Queixa Escolar. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2012, p. 137-163.
 
         Tendo em conta a demanda de profissionais da psicologia e da comunidade em geral para o atendimento psicológico de crianças e adolescentes cuja queixa tem origem em questões escolares, Beatriz de Paula Souza e Cintia Copit Freller, psicólogas da equipe do Serviço de Psicologia Escolar da USP, desenvolvem uma abordagem de atendimento a qual denominam de Orientação à Queixa Escolar.
O trabalho de Orientação à Queixa Escolar parte de uma perspectiva crítica, dialética, que enfatiza a importância dos fatores sociais na constituição dos sujeitos. Nesse sentido, a queixa escolar é compreendida como um emergente de uma rede de relações que envolvem a criança, a família, e a escola.
O objeto de estudo é essa rede de relações e o objetivo do trabalho é movimentar tal rede para que se caminhe no sentido do desenvolvimento de todos os segmentos envolvidos.
            O trabalho proposto, em linhas gerais, estrutura-se a partir dos seguintes princípios técnicos: colher e problematizar as versões sobre a queixa junto às pessoas envolvidas; promover a circulação das informações e das reflexões nessa rede de relações visando à busca conjunta de alternativas para a superação da queixa; identificar, mobilizar e fortalecer as potencialidades presentes em todos os indivíduos envolvidos no processo.
Trata-se de uma ação breve e centrada na queixa que não pode ser confundida com o psicodiagnóstico.
            Embora não se trate de uma estruturação rígida, a autora do texto propõe os seguintes procedimentos para o trabalho de orientação à queixa escolar.
TRIAGEM DE ORIENTAÇÃO
Pode ser feita de forma individual ou grupal. Como geralmente são os pais que procuram pelo atendimento, esse primeiro encontro é realizado com eles.
Os principais objetivos dessa triagem são: apresentar o trabalho que é oferecido; ouvir a versão dos pais sobre a queixa; investigar e pensar a demanda com eles buscando alternativas para a movimentação da queixa, para que se comece a caminhar em busca de soluções; verificar a natureza da queixa estabelecendo prioridades.
Em alguns casos pode ocorrer que o trabalho já seja encerrado nesse primeiro momento, por exemplo: quando nesse encontro os pais vislumbram possibilidades de modificação em relação à queixa.  Nessa situação combina-se que os pais podem posteriormente retornar para continuidade de atendimento, caso seja necessário. Também pode ocorrer o encaminhamento para outro tipo de atendimento especializado quando se julga importante, embora não seja esse o objetivo do trabalho.
Quando se entende que há questões escolares importantes para serem trabalhadas se dá continuidade ao processo partindo para o encontro com as crianças ou adolescentes.
ENCONTROS COM CRIANÇAS OU ADOLESCENTES
            São realizados em média seis encontros com as crianças. Os principais objetivos desses encontros são: ouvir a versão delas, saber como percebem,  como pensam e sentem a queixa; valorizar a condição de sujeito da sua própria história; perceber e acolher as necessidades, sofrimentos e dificuldades apresentadas, tornando-as pensáveis pelas crianças; reconhecer as potencialidades individuais necessárias  para que se possa (re) conquistar a capacidade de aprender.
Nesses encontros são utilizados recursos, tais como: materiais lúdicos, material escolar, etc. Não se utiliza teste.
INTERLOCUÇÃO COM A ESCOLA
O contato com a escola se inicia através do relatório que a mesma  envia  sobre a criança, também pode ocorrer após os encontros com pais e crianças e em outros momentos que se fizerem necessários para o bom andamento do trabalho.
Alguns aspectos devem ser observados pois funcionam como facilitadores dessa interlocução com a escola, por exemplo: fazer o encontro na própria escola, ouvir a queixa esclarecendo-a e pensando-a junto com a professora, diretora, coordenadora; perceber e valorizar os recursos e esforços realizados pela escola para a resolução da questão, entre outros.
ENTREVISTAS DE FECHAMENTO
Essas entrevistas são feitas com o aluno, a família e a escola. Os principais objetivos são: releitura do caso considerando as novas informações, visões, perspectivas; avaliar o processo e seus efeitos mobilizadores; combinar o acompanhamento, que é um encontro realizado após algum tempo de encerramento da orientação à queixa escolar. Esse encontro visa  verificar, com todos os envolvidos, os resultados do trabalho realizado.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando a fundamentação teórica, os conceitos e argumentos utilizados pela autora para  pensar  e realizar o trabalho de orientação à queixa escolar.
2) A partir da leitura, esteja atento (a)  às estratégias de intervenção verificando a coerência existente entre a fundamentação teórica e as ações realizadas pelas psicólogas na execução do trabalho relatado no texto.
3) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
EXEMPLO 1
Helena tem 8 anos e tem apresentado rebaixamento no desempenho escolar desde que seus pais se divorciaram. Este problema tem sido observado também com outras crianças que passam ou passaram pela mesma situação em outras turmas. Sob uma perspectiva crítica, o psicólogo escolar pode intervir de que forma?
 
Leia as alternativas abaixo e assinale a  INCORRETA.
a) Propondo atividades para os alunos em parceria com a professora. Por exemplo: pedir que todas as crianças desenhem e escrevam sobre suas famílias e que seja trabalhada, a partir dali, a diversidade nos arranjos familiares de todos os alunos;
 
b) Realizando um ciclo de debates sobre o tema do divórcio com especialistas de diversas áreas (advogados, psicólogos, psiquiatras infantis, religiosos, etc) destinados a todos os participantes da escola: equipe escolar, pais e alunos, a fim de que o tema seja “oxigenado” no imaginário da instituição e de seus agentes.
 
c) Convocando os pais de Helena para comparecerem a fim de que tomem conhecimento da situação da filha e reflitam, junto com a escola, sobre o que poderia ser feito para minimizar o sofrimento da criança.
 
d) Encaminhando a criança para uma avaliação clínica já que tal situação transcende o âmbito escolar.
 
e) Reunindo conhecimentos sobre os potenciais ou habilidades de Helena e propondo à turma toda uma atividade em que a menina se sinta capaz, buscando elevar sua auto-estima e valorizar sua imagem na turma.
 
             A alternativa D é a incorreta, propõe uma ação
centrada no indivíduo, desconsiderando todo o contexto relacional dessa criança e que essa questão afeta também a outros alunos. As alternativas A, B, C e E  buscam potencializar os sujeitos e o trabalho em conjunto.
 
EXEMPLO 2
Arlete é professora da 2ª. Série, ela pediu para que a mãe de Maria a levasse ao psicólogo. A queixa da professora é que Maria, que veio transferida de outra escola há pouco tempo, participa muito pouco das atividades propostas e quando o faz não demonstra prazer na realização das tarefas, apresenta dificuldade para ler e escrever, não consegue acompanhar a classe, assim, o seu aprendizado está severamente prejudicado. Arlete busca por alternativas que possam alterar o quadro apresentado e para ela o encaminhamento para o atendimento psicológico é o mais adequado.
Tendo em vista o trabalho do psicólogo junto a demanda de queixa escolar como a mesma deve ser compreendida e aprofundada?
Leia as afirmativas abaixo e depois assinale a alternativa correta.
I - A queixa deve ser compreendida como uma síntese de múltiplas determinações.
II - A queixa é apenas a aparência, assim é necessário olhar o entorno, o contexto.
III - Para aprofundarmos a queixa devemos buscar com todos os envolvidos as ações, os acontecimentos, as concepções que produziram e motivaram o encaminhamento, ou seja, devemos devolver a história á queixa.
IV - A queixa deve ser considerada  como uma dificuldade de adaptação dessa criança.
V - Para aprofundarmos a queixa é necessário apenas o contato com a professora já que é ela que está enfrentando dificuldades com a criança.
É correto apenas o que se afirma em:
a)    IV e V.
b)    I e II
c)    I, II e III
d)    II e IV
e)    I e III
As ações propostas nas afirmativas IV e V são simplistas e reducionistas, não estão adequadas ao referencial teórico proposto pelo texto. A alternativa correta é a “C”.
 
 
Texto 2 : SOUZA, B. P. Trabalhando com dificuldades na aquisição da língua escrita. In: Orientação à QueixaEscolar. SOUZA, B. P. (org). São Paulo, Casa do Psicólogo. 2007. p.137 – 163.
 
            Conforme nos relata a autora do texto, as dificuldades no processo de alfabetização de crianças em idade escolar tem sido uma das principais causas de encaminhamento para atendimento psicológico.
            O analfabetismo ou analfabetismo funcional é um problema da Educação e é também um problema da Psicologia em função do sofrimento psíquico que tal situação pode vir a gerar para as pessoas em tal condição.  Não dominar os códigos para leitura e escrita é uma questão muito séria, conduz à exclusão social, tecnológica e política desses indivíduos.
            Tendo em vista a importância de se trabalhar no sentido da superação das dificuldades existentes no processo de alfabetização, a autora, relatando o trabalho que realiza, nos aponta uma base teórica e um conjunto de estratégias de ação para o enfrentamento desse problema.
BASE TEÓRICA
            Sem deixar de considerar as questões sociais e políticas que envolvem o contexto educacional a autora nos mostra a relevância do domínio, por parte do profissional da psicologia, do ferramental teórico oferecido pela psicogênese da língua escrita no enfrentamento dos problemas de alfabetização.           
            A psicogênese da língua escrita é o resultado das pesquisas desenvolvidas por Emília Ferreiro que foi orientada por Jean Piaget. Apresentamos a seguir, resumidamente, algumas das idéias presentes no trabalho de Emília Ferreiro e que foram apontadas pela autora do texto.
            Aprender a ler e escrever não é simplesmente um trabalho mecânico de decodificação som-grafia, para aprender a ler e escrever é necessário que se compreenda o que a escrita representa e como essa representação funciona. Para tanto as crianças vão construindo hipóteses. Tais hipóteses seguem um determinado percurso até que se chegue ao domínio da escrita. Nesse percurso é possível observar diferentes níveis no processo de construção da noção de escrita, a saber: nível pré-silábico; silábico; silábico-alfabético e alfabético.
NÍVEL PRÉ – SILÁBICO
Inicialmente as crianças não fazem uma distinção clara entre desenho e escrita, elas trabalham com a hipótese de que os caracteres gráficos representam as características dos objetos ou idéias. Posteriormente começam a fazer a  distinção entre desenho e escrita, mas ainda não têm a clareza de que o que se representa graficamente é o som da palavra e não o objeto em si. Assim podem ficar confusas quando observam que um objeto grande como um trem pode ser representado por uma palavra tão pequena. A isso chamamos realismo nominal.
NÍVEL SILÁBICO  
            Nesse nível as crianças compreendem que a escrita representa o som das palavras. Tal compreensão segue uma lógica própria dessa fase. As crianças percebem que as palavras estão divididas em sílabas, e acreditam que a cada sílaba, corresponde uma única letra. Por exemplo, para representar a palavra “BONECA”, a criança pode escrever: “RAT”. Nesse exemplo a criança também não considerou o valor sonoro das letras escolhidas para a escrita da palavra.
NÍVEL SILÁBICO-ALFABÉTICO
É considerado como um nível de transição entre o nível anterior e o posterior, daí sua nomenclatura. Nele a lógica silábica aparece misturada com a lógica alfabética. Perceber que a fala pode ser subdividida em unidades menores, em fonemas, o que constitui a lógica alfabética, não é tão simples para os aprendizes nesse momento. Os fonemas (menos as vogais) têm som artificial e a compreensão de tal conceito exige maior abstração do que o conceito de sílaba. Por exemplo, para representar a palavra “BONECA”, a criança pode escrever: “BONK” ou “BNCA”, aqui ocorreram trocas ou omissões de letras. Tais produções, normais nesse momento evolutivo, são, às vezes, erroneamente classificadas como distúrbios de aprendizagem, dislexia ou déficit de atenção
NÍVEL ALFABÉTICO
È uma escrita quase convencional, mas ainda podem ocorrer algumas trocas  ou omissão de letras. Trocam o P pelo B; D por F ou V, confundem S-Z-Ç-SS; R-RR; G-J; GU-QU; H-LH-NH. Por exemplo, para representar a palavra: “CASA” a criança pode escrever: “CAZA”.
Nos nossos exemplos enfatizamos mais os aspectos gráficos da produção infantil, no entanto, cabe lembrar que os aspectos construtivos, (o que a criança quis representar), precisam ser considerados juntamente com os aspectos gráficos (o que ela escreveu).
Posteriormente a escrita das frases trará outros e novos desafios para as crianças.
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
Durante os atendimentos com as crianças ou jovens o principal objetivo do  trabalho, relatado pela autora,  é o resgate das possibilidades de pensar e de  aprender  desses indivíduos, busca-se que eles possam ocupar o lugar de sujeito da  aprendizagem, que se sintam capazes para isso.
“Nossas intervenções nestes casos dirigem-se a ajudá-las apropriarem-se de seu pensamento e de suas hipóteses, a problematizar e fornecer algumas informações sobre a leitura e a escrita que qualquer adulto letrado pode oferecer sem tornar-se, por isso, professor.” (p.141)
Nos atendimentos se utilizam jogos, materiais plásticos e gráficos escolhidos considerando as necessidades e interesses das crianças.
TRABALHO COM OS PAIS
Durante os encontros realizados com os pais é comum que os mesmos repitam o discurso veiculado pela escola: a criança não sabe nada, escreve tudo errado, etc. É esse olhar desqualificador e sofrido dos pais sobre os saberes construídos pela criança que deve ser o principal objeto de intervenção. Busca-se criar condições para que a criança possa ser percebida por eles como um sujeito capaz, que está em processo, construindo conhecimento.
TRABALHO COM A ESCOLA
Junto á escola procura-se enfatizar os saberes revelados, as possibilidades apresentadas pela criança. È importante que se possa re-significar o olhar que o professor tem sobre o seu aluno para que o processo de ensino-aprendizagem seja posto em movimento e tenha continuidade.
Atividades recomendadas:
1)
Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando a fundamentação teórica, os conceitos e argumentos utilizados pela autora para  pensar  e realizar seu o trabalho.
2) A partir da leitura, esteja atento (a)  às estratégias de intervenção verificando a coerência existente entre a fundamentação teórica e as ações realizadas na execução do trabalho relatado no texto.
3) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
EXEMPLO 1
Você é psicólogo escolar e é solicitado a auxiliar as professoras de 1a série que têm tido algumas dificuldades quanto à alfabetização de seus alunos.
Veja o depoimento de uma das professoras:
“ Tenho uma aluna com dificuldade na alfabetização, às vezes ela faz muita consoante junta. Então não tem como ler. De repente põe uma vogal no meio, fica uma coisa sem nexo.”
Considerando o que foi estudado acerca do processo de aquisição da língua escrita, o que você diria a essa professora?
 
Leia as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta.
 
I-Essa criança está vivenciando uma das etapas normais do processo de aquisição da leitura e escrita.
II- Estes “erros” são hipóteses a partir de elaborações internas que a criança tem sobre a construção da escrita.
III- Estas omissões não podem ser encaradas como problemas de aprendizagem, mas como conflitos ( com avanços e recuos) que a criança tem em seu processo de alfabetização.
IV- Essa aluna deve ser encaminhada para o neurologista uma vez que tais erros são indícios de comprometimento nessa área.
 
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
c) Apenas a afirmativas IVestá correta.
d) Apenas a afirmativas I está correta.
e) Apenas afirmativas I, II e III estão corretas.
 
A afirmativa IV apresenta uma proposta  que desconsidera os pressupostos teóricos da abordagem solicitada. Assim, a alternativa correta é a E.
 
EXEMPLO 2
A professora de Vinícius está satisfeita com as produções gráficas de seu aluno, e considera que ele está aprendendo rápido. Entretanto os pais dele estão muito insatisfeitos com seus erros. Não sabe escrever, só desenha letras, sem relação nenhuma com os sons. Em casa eles ensinam algumas palavras que ele pede, mas logo ele esquece. Cavalo, por exemplo, eles já ensinaram e ao encontrar uma produção dele feita na escola, percebem que ele escreveu completamente errado. Algumas vezes corrigem o que a professora não corrigiu, e estão ressentidos com a professora, que parece ignorar ou não cumprir seu dever de professora ensinando o certo.
 Tendo como base os pressupostos da Psicogênese da Língua Escrita, um psicólogo ao tomar conhecimento desta queixa deve:
I – Convidar os pais de Vinícius para uma conversa na escola, para juntamente com a professora mostrar as produções de seu filho, procurando esclarecê-los de que seu filho está construindo hipóteses sobre a escrita.
II – Orientar a professora para que ela ofereça uma atenção individualizada para essa criança como aulas de reforço, por exemplo.
III – Convidar os pais de Vinícius para uma conversa na escola, pois a criança parece ter sérios problemas de atenção, apresentando produções inadequadas para a faixa etária, o que implicaria na necessidade de uma autorização dos mesmos para a realização de uma avaliação da criança.
IV – Investigar se existem outros alunos na mesma condição de Vinícius, e, se confirmada esta hipótese, será necessário orientar a professora a mudar a metodologia de ensino, uma vez que os alunos estão sendo mal alfabetizados.
 
Assinale a alternativa CORRETA:
 
(A) Apenas I é verdadeira.
(B) Apenas II é verdadeira.
(C) Apenas II e III são verdadeiras.
(D) Apenas III e IV são verdadeiras.
(E) I, II, III e IV são verdadeiras.
 
Observe que as afirmativas II, III e IV não levam em conta os pressupostos da psicogênese da língua escrita, portanto, “A” é alternativa correta.
 
Muito bem! Após realizar e acompanhar os argumentos de cada questão acima faça novamente uma leitura cuidadosa do texto indicado no inicio dessa aula e realize os exercícios que estão em anexo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las. Caso persistam, apresente-as ao professor, na tutoria presencial.
 
MÓDULO 7
 
Psicólogo escolar enquanto mediador do processo de conscientização dos professores quanto ao seu papel, a partir de uma postura crítica-reflexiva, com base na abordagem sócio-histórica.
Texto 1 - AGUIAR, W. M. J.; GALDINI, V. Intervenção junto a professores da rede pública: potencializando a produção de novos sentidos In: Psicologia Escolar: Práticas Críticas. MEIRA, M. E.; ANTUNES, M. A. A. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p.87-103.
Texto 2 - SOUZA, B. P. S. Professora desesperada procura psicóloga para classe indisciplina. In: MACHADO; SOUZA (org) Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicologo, 2004, p.105-112.
 
 
           Aguiar e Galdini (2003), iniciam suas reflexões acerca das possibilidades de trabalho do psicólogo em relação á formação de professores apresentando os pressupostos teóricos e metodológicos que fundamentam suas ações.
Segundo Galdini e Aguiar (2003), pensar a formação de professores requer olhar para além da dimensão técnica, não se trata apenas de buscar quais estratégias são mais adequadas para a realização desse trabalho, é necessário levar em conta quais são os pressupostos teóricos que fundamentam tal ação. Por traz de toda ação educativa, quer estejamos conscientes disso ou não, existe uma visão de homem, mundo, sociedade, cultura , educação. Há um conjunto de representações, constituídas à partir de nossas histórias,  que direcionam nossas ações e é preciso reconhecê-las, desvelá-las para superar a alienação e produzir a transformação social.
Não é possível pensar a formação de um profissional sem levar em conta o contexto social, político e ideológico no qual ele se insere. Assim, a relação professor – instituição - sociedade deve ser considerada dialeticamente.
 No texto, o professor, concebido como ser histórico, social, transformador, sujeito ativo, investigador da sua realidade é visto como capaz de produzir idéias e práticas sociais que possam responder aos desafios apresentados pela educação. O professor, diante de condições excludentes e alienantes, impostas por um precário sistema de ensino, pode colaborar com a transformação do ambiente escolar, no sentido de que este venha auxiliar os indivíduos no resgate da possibilidade de pensar autonomamente e no exercício efetivo da cidadania. Tendo em conta tal concepção de professor como o psicólogo pode trabalhar para auxiliar a formação desse profissional?
Buscando responder a esse desafio as autoras relatam o trabalho que realizaram o qual resumidamente apresentamos a seguir.
Foram realizados dez encontros, de uma hora cada, com aproximadamente doze professores que já estavam trabalhando na escola. O objetivo foi realizar uma intervenção que possibilitasse “a reflexão, re-significação e, assim a produção de novos sentidos sobre a vivência de ser professor” (p.91)
Inicialmente foi feita a configuração do universo escolar, ou seja, buscaram na instituição quais eram ascondições físicas e relacionais existentes, qual a filosofia veiculada na escola, a proposta pedagógica, etc.  Para tanto foram feitas observações e entrevistas com todos os segmentos envolvidos, corpo docente e discente.
Durante os encontros com os professores foi criado um espaço de acolhimento, de escuta no qual falaram sobre as situações vividas, pensaram, sentiram, refletiram sobre os determinantes de suas ações e buscaram conjuntamente alternativas para o enfrentamento dos desafios propostos no cotidiano escolar. Como estratégias para esse trabalho foram realizadas dinâmicas de grupo. Tais dinâmicas visavam permitir ao professor a apropriação dos determinantes que os constituíam e também pensar o social na constituição da subjetividade dos sujeitos.
 Outros
temas também foram abordados durante os encontros, por exemplo: quem era o aluno real? O que ele pensava, sentia, buscava? Como era a relação professor –  aluno ? Através de discussões de casos buscaram pensar o papel do outro na constituição dos sujeitos bem como estratégias de enfrentamento para as questões vividas.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando a fundamentação teórica, os conceitos e argumentos utilizados pela autora para  pensar  e realizar seu o trabalho.
2) A partir da leitura, esteja atento (a)  às estratégias de intervenção verificando a coerência existente entre a fundamentação teórica e as ações realizadas na execução do trabalho relatado no texto.
3) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
EXEMPLO 1
Uma das possibilidades de atuação do psicólogo escolar refere-se ao trabalho com professores. Aguiar (2003) aponta a importância de refletir sobre os caminhos e desafios encontrados nas atividades de intervenção com professores. Considerando o que foi exposto e os textos estudados na nossa disciplina, leia as propostas abaixo e assinale a alternativa incorreta:  
a)      a) No início dos programas de intervenção, os professores têm uma expectativa alta de conseguirem obter soluções claras e definitivas para as dificuldades enfrentadas no cotidiano de trabalho. 
b)         b) Um caminho viável para as transformações no contexto educacional seria a formação do professor em serviço. Assim, as intervenções seriam realizadas no próprio contexto educacional, por meio do processo de reflexão sobre a própria prática diária. 
c)     c)  Para que um programa seja bem-sucedido, é necessário que se enfatize a importância dos professores problematizarem a própria prática, de modo a saírem do senso comum. 
d)      d) O trabalho em grupo com professores é fonte potencial para as mudanças no contexto educacional. Essas mudanças e o processo de tomada de consciência serão alcançados independentemente das discussões teóricas, uma vez que a necessidade dos professores é conhecer boas estratégias de ação. 
e)      e) Ainda que no processo de formação do grupo de professores o novo funcione como um componente motivacional, a presença do medo e a insegurança diante das situações novas criam uma situação contraditória: o querer mudar, ao mesmo tempo, temendo esse querer mudar.
 
Na alternativa D se propõe que a transformação possa ocorrer sem que os pressupostos teóricos que sustentam as ações possam ser modificados. Não é possível modificar uma ação sem que esta possa ser pensada de outra forma. O pensamento determina a ação. A transformação do contexto educacional passa necessariamente pela transformação das concepções sobre esse contexto, não é mera questão metodológica.
 
EXEMPLO 2
 A concepção de que o professor é um “trabalhador braçal”, ou seja, um profissional que desempenha uma função técnica, hierárquica e burocraticamente concebida, tem sido combatida pelas atuais intervenções de psicólogos junto a professores. Neste sentido, Galdini e Aguiar (2003) sugerem uma compreensão de professor segundo a qual se pode afirmar:
a)      a) A profissão docente é caracterizada pela técnica e pela subordinação à burocracia escolar. 
b)      b) O professor é entendido como um agente cuja função é assegurar a manutenção dos objetivos ideológicos e educacionais. 
c)      c) O professor está sujeito a condições ideológicas e de trabalho institucionais, contra as quais não pode se colocar. 
d)      d) O professor é um ser construído a partir de suas experiências e circunstâncias sócio-culturais, e tem a possibilidade de, consciente dos processos institucionais e globais, transformar suas práticas. 
e)   e) O professor é determinado pela condições sociais e ideológicas a que está submetido portanto não pode ser pensado enquanto agente de transformação social
As alternativas A, B, C e E concebem o professor ora como sujeito passivo ora como mero agente de reprodução do sistema. Apenas a alternativa D concebe o professor como agente de transformação o que está adequado a concepção teórica proposta no texto.
 
Análise institucional do problema da indisciplina;
Texto 2: SOUZA, B. P. Professora desesperada procura psicóloga para classe indisciplinada. In: Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. MACHADO, A. M.; SOUZA, M. P. R. (org.).  São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. 4a ed. p.105-112. 
                
            Esse texto relata o trabalho desenvolvido por Beatriz de Paula Souza em uma escola pública da cidade de São Paulo com cinco classes de 3ª. série do ensino fundamental. Aborda a questão da indisciplina na escola, queixa freqüente por parte de um grande número de escolas públicas.
            Segundo a autora, a indisciplina geralmente é compreendida como sendo um sinal de distúrbio, um desvio, algo a ser tratado. Mas o que é indisciplina?
            O conceito de indisciplina não é o mesmo para todas as pessoas, ele varia conforme a exigência de cada um. Algo pode ser considerado indisciplina para mim e não ser indisciplina para você. Isso depende dos parâmetros que estabelecemos.
Não estar em conformidade com as regras, não obedecer, desviar-se dos parâmetros estabelecidos por determinado grupo social pode ser sinal de saúde e não de doença, pode ser denúncia, pedido de socorro para sair de um conjunto de condições inadequadas para a vida psíquica, para o desenvolvimento saudável. Convêm lembrar que a transgressão e a agressividade são componentes fundamentais do desenvolvimento individual e social. Nesse sentido, trabalhar com essa questão requer primeiramente que se  compreenda o que os indivíduos entendem por indisciplina. Qual a função da indisciplina naquele grupo social, naquele momento histórico? O que se pede? O que se denuncia? Essas são questões que nos permitem começar a delinear as ações necessárias para o desenvolvimento da proposta de trabalho.
Apresentamos a seguir, resumidamente, a experiência relatada pela autora.
A partir da queixa da escola em relação à indisciplina dos alunos foram realizadas reuniões com as professoras cujos objetivos foram: clarificar a queixa, estabelecer o contrato de trabalho, compreender um pouco do contexto no qual essa queixa era produzida e os recursos já utilizados pelas profissionais no sentido de superá-la. A proposta inicial era que se verificasse a versão dos alunos acerca dessa questão e que posteriormente os dados obtidos pudessem ser pensados juntamente com as professoras.
Foi pedido para que os alunos expressassem no papel, escrevendo ou desenhando como essa situação era percebida por eles. Esse material possibilitou que se chegasse a alguns dados, tais como: vários alunos repetentes estavam revoltados com essa situação; durante o ano ocorreram muitas trocas de professoras; alguns conteúdos e estratégias pedagógicas não estavam adequados ás necessidades desses alunos; presença de racismo e machismo entre os alunos. Tais dados foram discutidos com o grupo de trabalho e várias propostas de ações foram adotadas, por exemplo: adequação dos conteúdos pedagógicos às necessidades da turma; alteração de estratégias pedagógicas; revisão dos mecanismos escolares que reforçavam a divisão entre meninos e meninas (o machismo); trabalhos com o tema racismo, etc. Os resultados obtidos variaram dependendo do grau de envolvimento dos agentes sociais, foram mais positivos junto aos professores mais compromissados com a questão.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando a fundamentação teórica, os conceitos e argumentos utilizados pela autora para  pensar  a questão da indisciplina.
2) A partir da leitura, esteja atento (a)  às estratégias de intervenção verificando a coerência existente entre a fundamentação teórica e as ações realizadas pela psicóloga na execução do seu trabalho.
3) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
EXEMPLO 1
A indisciplina escolar objetivada através de comportamentos agressivos, irreverentes,
desatenciosos dos alunos é a queixa da atualidade das escolas brasileiras, seja de caráter público ou privado. A partir deste excerto e das leituras realizadas, reflita sobre as seguintes afirmativas:
 
I – As explicações, no contexto escolar, continuam a se orientar pela história prática de  psicologizar e/ou medicalizar problemas de aprendizagem e comportamento escolar, tratando-se como problema o que é uma manifestação.
II – Uma prática que se observa com rigor no contexto escolar, responsabiliza o indivíduo (aluno, professor) ou um grupo social (família, canais de TV), em particular, pela autoria de fenômenos que ocorrem no âmbito da escola.
 III –A atuação do psicólogo escolar como agente de mudança deve procurar romper com os discursos já cristalizados dentro do ambiente escolar, principalmente no que se refere à indisciplina.
IV – O psicólogo, no contexto escolar, procurará discutir com todos os envolvidos o que seja a (in)disciplina e terá como referencial para o seu trabalho que este conceito não é algo pronto e estático, mas que tem seu significado construído a partir do contexto e das pessoas que vivenciam esse processo.
 
Estão corretas:
 
a) I, II, III apenas.
 b) I, II, IV, apenas.
 c) II, III, IV, apenas.
d) I, III, IV, apenas.
e) I, II, III e IV.
           
            Todas as afirmativas correspondem ao que está proposto no texto base, assim, você deve ter assinalado a resposta “E”.
 
EXEMPLO 2
Uma escola pública do ensino médio tem se deparado com diversas situações voltadas à indisciplina. Esta situação chega a inviabilizar o trabalho pedagógico. Você é consultado, como psicólogo, para auxiliar os professores a encontrarem uma solução para o problema . A partir da leitura e discussões realizadas em sala, assinale a alternativa que está incorreta com relação ao entendimento sobre indisciplina
 
a) No contexto escolar, a indisciplina é freqüentemente apresentada como um distúrbio, desvio, como se o natural fosse a disciplina.
b)Um ponto interessante a ser destacado é que indisciplina é um conceito que varia conforme a exigência de cada um.
c)A entrada do profissional da psicologia para o trabalho com a indisciplina, a partir de uma abordagem crítica, possibilita espaços de expressão para que os discursos possam ser movimentados.
 d) Normalmente, atribui-se a indisciplina ao fato de a escola preocupar-se apenas com os aspectos cognitivos dos alunos, enfatizando o acúmulo dos saberes. Entretanto, sabe-se que este é o objetivo da escola, não havendo espaço para o trabalho com as questões afetivas e sociais.
e)Um dos fatores que podem estar contribuindo para a indisciplina é a incapacidade dos alunos relacionarem os conteúdos aprendidos com conceitos mais imediatos de suas vidas. Esse fator pode  gerar o desinteresse pelo processo de aprendizagem.
            A alternativa D apresenta o discurso da escola tradicional, muito diferente do referencial teórico proposto na nossa disciplina, logo, está errada.
 
Muito bem! Após realizar e acompanhar os argumentos de cada questão acima faça novamente uma leitura cuidadosa do texto indicado no inicio dessa aula e realize os exercícios que estão em anexo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las. Caso persistam, apresente-as ao professor, na tutoria presencial.
 
 
 Módulo 1:
Visão crítica em psicologia escolar contemplando a perspectiva histórica em que se deu a aproximação entre psicologia e educação.
Leitura básica:
BOCK, A.  M. B. Psicologia e Educação: Cumplicidade ideológica. In: Psicologia Escolar: Teorias Críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, p. 79 – 103.
 
            O objetivo desse texto é analisar por que a psicologia tornou-se necessária para a educação e como respondeu às demandas que lhe foram feitas. A autora aborda criticamente a relação de cumplicidade ideológica que se estabeleceu entre Psicologia e Educação ao longo da história.
            A escola tradicional (séc. VIII até o início do séc. XX), de base religiosa, não precisava da Psicologia para acompanhar a prática educativa, acreditava que o ser humano era dotado de duas naturezas: uma essencialmente boa e construtiva e outra corrompida pelo pecado original. O professor deveria ser um modelo a ser seguido e a tarefa da educação era preservar o que há de bom no ser humano, através da disciplina, das regras rígidas, da vigilância.    Acreditava-se que o conhecimento poderia ser transmitido ao aluno pelo professor, valorizava-se o domínio do conteúdo, não se preocupava com o processo e sim com o produto, com o resultado final, ou seja, não importava se o aluno havia compreendido um determinado conteúdo, o que importava era que ele apresentasse a resposta correta, mesmo sendo por ter apenas decorado.
            No séc. XX, com o advento da Escola Nova, assistimos a uma nova maneira de compreender a infância, embora continuasse a ser pensada como possuidora de uma dupla natureza, a criança passou a ser vista como naturalmente boa, desde o nascimento, mas era preciso evitar que pudesse vir a ser corrompida.
            A educação era pensada como um processo natural de desenvolvimento das potencialidades humanas.  
            Os vigilantes disciplinares da escola tradicional foram trocados pelos vigilantes do desenvolvimento (psicólogos e pedagogos).
            O professor passou a ser visto como um organizador de condições para uma aprendizagem ativa. O aluno era compreendido como sujeito ativo que construía seu próprio conhecimento e poderia escolher o que e quando aprender. A ênfase recaiu sobre o processo de aprendizagem, não se valorizava tanto os conteúdos escolares, o importante era aprender a aprender.
No séc. XX a Psicologia também se desenvolveu, não só como conhecimento, mas como prática capaz de contribuir aos processos educacionais. Instrumentos da Psicologia tais como os testes servem para que se possam formar classes mais homogêneas, para avaliar o desenvolvimento das crianças. A Psicologia Clínica tradicional começou a atender individualmente as crianças com queixa escolar.
            Na medida em que se voltou prioritariamente para o mundo interno do sujeito, a Psicologia contribuiu para o fortalecimento das noções naturalizantes da Pedagogia e para ocultar a Educação enquanto processo social, daí a cumplicidade ideológica entre Psicologia e Educação.
            A partir de tais concepções o fracasso escolar será sempre compreendido com sendo problema do aluno, nunca da didática, da estrutura autoritária da escola, da sua desatualização, do projeto pedagógico, da política educacional implantada pelo Estado.
            O texto também nos mostra que essa relação de cumplicidade estabelecida entre a Psicologia e a Educação pode vir a acontecer em outros termos de modo a superar as visões naturalizantes e patologizantes acerca da queixa escolar. Segundo a perspectiva crítica, a educação é processo social, que responde às necessidades dos grupos dominantes na sociedade. Ela não é neutra, nem desinteressada, visa á manutenção da estrutura social e das relações de poder. Assim, não é possível continuar pensando a educação como um processo natural de desenvolvimento de potencialidades existentes nos sujeitos.
            Em seu trabalho o psicólogo educacional deve atuar como um agente de promoção da saúde mental, para tanto é necessário considerar as dimensões ética e política da nossa prática. A dimensão ética se compõe pela solidariedade ao outro e a dimensão política pelo compromisso com a transformação social. Não é possível continuar indiferente frente à situação de miséria de muitos e de riqueza de poucos, frente à situação de exclusão, em que se encontra um grande número de crianças que não obtém sucesso em sua trajetória escolar.
            È necessário que se faça uma psicologia escolar e não uma psicologia do escolar. Assim, há necessidade de que se compreenda o jogo de forças que produz
o fenômeno, ou seja, que se considerem os aspectos sociais, políticos e ideológicos que produzem o fracasso escolar e não que se continue a procurar exclusivamente no indivíduo que não aprende, no seu mundo interno, nas suas relações familiares as razões do não aprender.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de sua tese.
 
2) A partir da leitura, procure identificar em cada momento histórico as idéias predominantes acerca do que é educação, qual o papel do aluno, do professor e o papel do psicólogo, observe a ideologia presente e as mudanças que foram ocorrendo ao longo do tempo.
 
3) Esteja atento. O modo como pensamos e agimos sempre está atendendo ao interesse de uma determinada classe social. Enquanto psicólogos devemos atender aos interesses de quem? Reflita sobre isso.
 
4) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
 
Exercício 1 - Uma psicóloga escolar que atua na rede pública de ensino tem como pressuposto que durante muitos anos a psicologia e a pedagogia foram cúmplices para a manutenção da ideologia dominante, e como profissional busca romper com esta forma de atuação. Após um grupo de professores se queixarem sobre os comportamentos de um aluno e os problemas de aprendizagem decorrentes, ela provavelmente:
I – Dirá aos professores que a permanência de crianças com necessidades especiais no cotidiano escolar exige-lhes que se especializem em relação às patologias que se apresentam, e que eles poderiam fazer um curso sobre crianças com problemas específicos de comportamento.
II – Atuará como agente de mudanças, buscando romper com os discursos já cristalizados dentro do ambiente escolar.
III – Iniciará observando a criança e convidando-a, posteriormente, para uma avaliação selecionando os instrumentos mais apropriados para avaliar o desenvolvimento da inteligência e da personalidade deste aluno.
IV – Considerará a queixa escolar sob uma perspectiva mais ampla, em termos das variáveis sócio/político/culturais na realidade escolar.
V – Inicialmente fará um diagnóstico do caso e, se necessário, encaminhará para atendimento com uma psicóloga clínica, buscando evitar que o problema do aluno se agrave.
Assinale a alternativa correta:
a) I e II são falsas.
b) III e V são falsas.
c) I e V são falsas.
d) II e IV são verdadeiras.
e) II, IV e V são verdadeiras.
 
Se você compreendeu adequadamente a proposta da autora do texto, você assinalou a alternativa D. As afirmações I, III e V contemplam a ideia de que devemos buscar na criança a origem do problema, que o não aprender necessariamente é uma patologia a ser tratada, também indicam procedimentos compatíveis com o modelo clínico tradicional para o enfrentamento das questões educacionais. Apenas as alternativas II e IV apontam para uma perspectiva mais crítica que considera os fatores sociais, culturais, políticos e pedagógicos na análise do jogo de forças que produz o fenômeno. Essa é uma perspectiva que vai além do olhar apenas para o aluno que não aprende.
 
 
Exercício 2 -  Observe a figura abaixo
    
Relacione a figura com os assuntos que estudamos no texto de Ana Bock.
Leia as afirmativas abaixo e depois escolha a alternativa correta.
I. A figura representa claramente os pressupostos da Escola Nova. Segundo tais pressupostos os alunos não deveriam trazer seus sentimentos, curiosidades, e ideias para a escola.
II. A figura representa o ensino tradicional, onde a postura esperada do aluno é a de um receptáculo de informações sendo que, as suas opiniões e conhecimentos prévios não interessam ao professor.
III. Na figura o professor pode ser visto como um organizador de condições para uma aprendizagem ativa.
IV. A figura representa o aluno como sujeito ativo que constrói seu próprio conhecimento.
Assinale a alternativa correta:
A) I e II estão corretas.
B) II e III estão corretas.
C) Somente II está correta
D) Somente I está correta.
E) I, III e IV estão corretas
 
Se você escolheu a alternativa C é sinal de que compreendeu alguns dos principais conceitos do nosso texto. A afirmativa I confunde os conceitos da Escola Tradicional com os conceitos da Escola Nova. As afirmativas III e IV apresentam pressupostos da Escola Nova que não podem ser relacionados com a figura apresentada.
 
Exercício 3 -  Leia a situação problema a seguir e responda a questão:
Marilda é professora da 2º ano e possui alguns alunos que não estão acompanhando o ritmo da classe. Quando indagada sobre as possíveis causas de tais dificuldades ela nos diz: - As crianças desse bairro são pobres e desnutridas, suspeito que devam ter alguma disfunção neurológica, não sabem falar direito, falam fosque quando se diria fósforo, fungão quando se diria fogão, nessas condições como é que podem aprender?
Analisando o discurso da professora, a partir de uma perspectiva crítica, é correto afirmar que:
I. A fala da professora nos mostra que ela leva em conta condições econômicas e sociais mostrando seu engajamento político com a situação.
II. Marilda nos apresenta um discurso repleto de preconceitos e que reflete o processo de biologização.
III. Seu discurso visa naturalizar e patologizar o que nem deve ser visto como natural, nem necessariamente é consequência de doença. Marilda não leva em conta à rede de relações e as diferentes versões da situação dirigindo seu olhar apenas para a criança e sua família.
Assinale a alternativa correta:
a)  As alternativas I, II e III estão corretas.
b)  As alternativas II e III estão corretas.
c)  As alternativas I, e III estão corretas.
d)  As alternativas I e II estão corretas.
e)  Apenas a alternativa I está correta.
 
Nesse exercício você deve ter assinalado a alternativa B. Apenas as afirmativas II e III correspondem ao referencial teórico solicitado.
Exercício 4 -  A frase abaixo é constituída por duas proposições unidas por uma implicação lógica (portanto).Para facilitar a identificação, a implicação lógica está grafada em negrito na frase. Examine-a e assinale a alternativa correta:
 
Para a perspectiva crítica as explicações para o fracasso escolar não podem ser encontradas apenas no indivíduo encaminhado para a avaliação psicológica, portanto, para compreendermos o fracasso escolar é necessário estar atento ao campo de forças no qual esse fenômeno se manifesta.
a) se somente a 1ª proposição for verdadeira.
b) se somente a 2ª proposição for verdadeira.
c) se ambas forem falsas.
d) se ambas forem verdadeiras, mas a implicação lógica torna a frase falsa.
e) se ambas forem verdadeiras e mantiverem a relação lógica estabelecida na frase.
 
Você deve ter assinalado a alternativa E. As duas proposições estão corretas, mantêm a relação lógica estabelecida na frase e correspondem ao referencial teórico proposto.
 
Muito bem! Após realizar e acompanhar os argumentos de cada questão acima faça novamente uma leitura cuidadosa do texto indicado no inicio dessa aula e realize os exercícios que estão em anexo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las. Caso persistam, apresente-as ao professor, na tutoria presencial.
 
 Módulo 2:
 
Revisão histórica das principais teorias da educação.
 
Leitura básica:
SAVIANI, D. Teorias da educação e o problema da marginalidade. In: Escola e Democracia. 38a ed. São Paulo, Editores Associados. 2003, p. 03 - 34.
 
            O texto nos possibilita uma compreensão mais sistemática e crítica acerca das diferentes teorias da educação. Destaca os principais pressupostos teóricos de cada uma delas e o modo como estas vêm compreendendo a questão da marginalidade. Marginalidade aqui compreendida como estar à margem do processo educacional, referindo-se aos indivíduos que de alguma forma estão excluídos de tal processo, por exemplo: as crianças em idade escolar que não têm acesso à educação, os que fracassam ou desistem nesse processo, os analfabetos.
Saviani classifica as teorias educacionais em dois grandes grupos: as teorias não críticas e as teorias crítico-reprodutivistas. Cada uma delas explica a questão da marginalidade a partir de uma determinada maneira de compreender as relações entre educação e sociedade.
 
            Para as teorias não críticas a sociedade é harmoniosa, busca a integração dos indivíduos, a igualdade entre eles. Assim sendo, a marginalidade é um fenômeno acidental, individual, um desvio a ser corrigido. A educação é um instrumento capaz de corrigir tal desvio, de auxiliar na superação da marginalidade garantindo a construção de uma sociedade igualitária.
 
            As teorias crítico reprodutivistas concebem a sociedade como sendo composta por classes sociais antagônicas, que disputam o poder, possuem interesses e visões de mundo diferentes. A marginalidade é compreendida como um fenômeno inerente á própria estrutura social. Pensa a educação como um instrumento a favor da manutenção da estratificação social, seu papel é reforçar a dominação dos grupos que detêm o poder, é a reprodução das desigualdades sociais. Pensando dessa forma o fracasso (do) escolar é na verdade o êxito da escola.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de sua tese.
 
2) Assista ao filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (Direção Peter Weir, EUA, 1990) e faça uma análise da história com os principais conceitos propostos por Saviani em seu texto.
Sinopse: Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno se torna o novo professor de literatura, mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos".
 
3) Acompanhe agora um exemplo de exercício:
 
Exercício 1 - Segundo Demerval Saviani (2003) as teorias educacionais podem ser classificadas em dois grupos. Em um primeiro grupo as teorias colocam a educação como um instrumento de equalização social. O segundo grupo entende que a educação é um instrumento de discriminação social. Segundo o autor, as teorias procuram explicar a questão da marginalidade a partir de uma determinada forma de entender as relações entre educação e sociedade. Tendo-se em conta os principais pressupostos desses grupos teóricos analise as afirmativas abaixo:
I – As teorias crítico-reprodutivistas defendem que a escola é um instrumento de equalização social e, portanto, de superação da marginalidade.
II – Para as teorias não críticas, a sociedade está marcada pela divisão entre grupos ou classes que se relacionam à base da força.
III – Segundo as teorias não críticas a marginalidade é um desvio a ser corrigido pela educação.
IV- As teorias crítico-reprodutivistas defendem que a função da educação é a reprodução das desigualdades sociais.
 Assinale a alternativa correta:
a) Apenas III está correta.
b) Apenas I e II estão corretas.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II e IV estão corretas.
e) Apenas III e IV estão corretas.
 
Você deve ter percebido que nas afirmativas I e II os conceitos estão invertidos. O que se afirma acerca das teorias crítico-reprodutivistas são pressupostos das teorias não críticas e vice-versa. Apenas as afirmativas III e IV apresentam as ideias corretamente. Dessa forma a alternativa correta é a E.
 
 
PEDAGOGIA TRADICIONAL
 
            Dando continuidade ao nosso texto, Demerval Saviani, como já foi dito anteriormente, classifica as teorias educacionais em dois grandes grupos: as teorias não críticas e as teorias crítico-reprodutivistas.
            No grupo das teorias não críticas encontramos a pedagogia tradicional, a pedagogia nova e a pedagogia tecnicista.
            Apresentaremos a seguir algumas das principais ideias defendidas por cada uma delas. A marginalidade é identificada com a ignorância, o marginalizado é quem não é esclarecido. O papel da escola, no sentido de superar a marginalização, é transmitir informação que deve ser acumulada, armazenada pelo aluno.
            O professor é o centro do processo de ensino, o aluno deve assimilar o conhecimento selecionado e transmitido pelo professor.
            Essa teoria da educação não conseguiu o seu intento de universalização do saber. Nem todos os indivíduos tinham acesso à escola, dentre os que tinham acesso à escola nem todos foram bem sucedidos e dentre os bem sucedidos nem todos se ajustavam à sociedade que se pretendia construir.
 
PEDAGOGIA NOVA
 
            É uma teoria pedagógica baseada nos princípios da biologia e da psicologia. Acredita-se que os homens são essencialmente diferentes, cada indivíduo é único, não se repete. Portanto, marginalizado é o rejeitado, aquele que pelas suas diferenças não é aceito pelo grupo. Assim, o papel da educação é contribuir para a construção de uma sociedade que aceite todo e qualquer tipo de diferença individual, cujos membros se respeitem mutuamente.
            O professor deve ser um estimulador, um orientador da aprendizagem cuja principal iniciativa deve ser do aluno, não há preocupação com o conteúdo pedagógico, mas com o processo de aprendizagem, o importante é aprender a aprender.
            O tipo de escola proposto implicava em custos mais elevados que a escola tradicional um dos motivos pelos quais ela não altera positivamente o panorama educacional na rede pública de ensino, mas aprimora a qualidade de ensino destinado às elites.
 
PEDAGOGIA TECNICISTA
 
            Considerando os pressupostos da neutralidade científica, racionalidade, eficiência e produtividade,  prega a necessidade de tornar o processo educativo objetivo e operacional. Isso deve ser feito através do planejamento cuidadoso das condições de aprendizagem. O planejamento educacional deve feito por técnicos, professores e alunos cumprem a programação. A escola deve treinar os indivíduos para a execução das tarefas demandadas pelo social, deve ensinar a fazer. Nesse contexto marginalizado é o incompetente, o improdutivo.
            A pedagogia tecnicista ao tentar transpor para a educação a forma de funcionamento do sistema fabril perdeu de vista a especificidade da educação.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma tabela para organizar seus estudos: coloque no alto os dois grandes grupos das teorias indicadas por Saviani: não críticas e as teorias crítico-reprodutivistas. Depois vá completando com as demais informações, ao final você terá um esquema organizado da matéria.
 
2) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
Exercício 2 - Joana é professora em uma escola e está enfrentando algumas dificuldades para desenvolver o conteúdo com alguns de seus alunos que não estão conseguindo o desempenho esperado, conversando com a coordenadora pedagógica da escola a mesma lhe responde que a saída para a resolução de tal questão é analisar e programar estratégias mais eficientes de controle, planejando eventos antecedentes e consequentes que permitam a melhoria da aprendizagem.
 É possível articular a proposta de trabalho apresentada com a seguinte abordagem educacional:
Assinale a alternativa correta:
a) Pedagogia tradicional, pois a mesma enfatiza a importância do bom relacionamento entre professor e aluno.
b) Pedagogia Nova que valoriza o domínio dos conteúdos pelos alunos.
c) Pedagogia Tecnicista que destaca a importância do planejamento educacional considerando a abordagem comportamental como base científica para a elaboração de estratégias de ensino.
d) Pedagogia Nova cuja ênfase recai sobre o processo de aprendizagem e não sobre o conteúdo de ensino.
e) Pedagogia tradicional, que se preocupa com o domínio dos conteúdos escolares pelo aluno.
 
Embora os conceitos apresentados nas alternativas D e E correspondam às respectivas abordagens, os mesmos não se encaixam com o que está proposto na questão. As alternativas A e B apresentam conceitos errôneos. Apenas a
alternativa C corresponde ao que foi proposto pela questão. Ao contrário do grupo composto pelas teorias não críticas, as teorias crítico-reprodutivistas não resultaram em uma proposta pedagógica a ser implantada pelo sistema educacional.
 
 
TEORIA DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA (Bourdieu e Passeron)
 
            No grupo das teorias crítico-reprodutivistas encontramos a teoria da violência simbólica, a teoria do aparelho ideológico do estado e a teoria da escola dualista. Vejamos algumas das principais ideias de cada uma das teorias.
            Todas as sociedades organizam-se como um sistema de relações de força material entre grupos e classes. À violência material (dominação econômica) corresponde a violência simbólica (dominação cultural). A violência simbólica se manifesta pela imposição ideológica, pela formação de opinião pública, pelos meios de comunicação, pela pregação religiosa, pela propaganda, moda, educação familiar, etc.
            A ação pedagógica é uma imposição arbitrária da cultura dos dominantes aos dominados. Não há superação das desigualdades pela educação. A escola não é espaço de luta pela transformação social. Nesse sentido, marginalizados são os grupos dominados.
 
TEORIA DO APARELHO IDEOLÓGICO DO ESTADO (Althusser)
 
            Para a manutenção do poder e da estrutura social o Estado conta com aparelhos repressivos (Governo, Polícia, Exército, Prisões, etc.) e ideológicos (religioso, escolar, familiar, sindical, informativo, cultural).
            A escola, enquanto aparelho ideológico do Estado reproduz as relações do capitalismo, busca impor aos alunos a ideologia da burguesia no intuito de manter sua dominação.
            A escola pode vir a ser um espaço para a luta de classes, no entanto Althusser acredita que essa será uma luta heroica e inglória. Para essa teoria marginalizada é a classe trabalhadora, cuja força de trabalho é explorada pelos capitalistas.
 
TEORIA DA ESCOLA DUALISTA (Establet)
 
            Establet também acredita que a escola é Aparelho Ideológico do Estado. Para essa teoria a escola está dividida em duas grandes redes que correspondem á classe social da burguesia e do proletariado. A educação cumpre duas funções básicas: formação da força de trabalho e imposição da ideologia burguesa. A escola é um instrumento de luta da burguesia contra o proletariado. Nesse sentido, marginalizado é o proletariado.
            Admite a existência da ideologia do proletariado que tem origem fora da escola, nas massas operárias e em suas organizações. A luta de classes se trava nas relações de produção e de exploração.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os conceitos e argumentos apresentados pelo autor.
 
2) A partir da leitura, procure identificar em cada uma das teorias as ideias predominantes acerca do conceito de marginalidade; da função da  educação na sociedade, do papel do aluno e do professor.  Observe a ideologia presente nessas teorias e as mudanças que foram ocorrendo ao longo do tempo.
 
3) Reflita sobre as seguintes questões: É possível superar a marginalização? Lutar contra a seletividade, a discriminação e a baixa qualidade do ensino?
 
4) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios.
 
Exercício 3 - Maria é professora em uma escola pública, acredita que os alunos devem dominar todo o conteúdo passado pela professora, para tanto realiza muitos exercícios, faz com que os alunos repitam várias vezes o que foi ensinado, acredita que com isso está contribuindo para a superação das desigualdades sociais. Maria, no entanto, está frustrada, muitos de seus alunos não conseguem acompanhar o ritmo que ela tenta impor à sala e ela não sabe mais o que fazer, afinal trata todos os alunos igualmente.A qual teoria da educação corresponde a postura de Maria?
Assinale a alternativa correta:
a) Pedagogia Nova
b) Pedagogia Tradicional
c) Teoria do Aparelho Ideológico do Estado
d) Pedagogia Tecnicista
e) Teoria da Violência Simbólica
 
Observe que Maria se coloca como transmissora do conhecimento valoriza  muito o conteúdo, a repetição por parte do aluno, acredita que a escola é instrumento de superação das desigualdades sociais. Tais concepções e posturas correspondem àalternativa B.
 
Exercício 4 - De acordo com o que foi estudado sobre as teorias da educação e o problema da marginalidade pode-se considerar que as afirmativas abaixo correspondem aos pressupostos da Pedagogia Tradicional. Leia atentamente as afirmativas abaixo e responda a questão:
I. A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante.
II. O educador é o que disciplina e os educandos são os disciplinados.
III. O educador é o que sabe e os educandos aqueles que não sabem.
Está correto o que se afirma em:
a) Somente I.
b) Somente II.
c) Somente III.
d) Estão corretas I e II.
e) Estão corretas I, II e III.
 
 
Você deve ter assinalado a alternativa E. Todas as afirmativas correspondem a Abordagem Tradicional I. A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. O educador é o que disciplina e os educandos são os disciplinados. O educador é o que sabe e os educandos aqueles que não sabem.
 
 
Muito bem! Você realizou os exercícios e acompanhou os argumentos dados para cada resposta. Agora para “fechar com chave de ouro”, releia esse belíssimo texto de Saviani e realize os exercícios que estão em anexo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Estas dúvidas devem ser motivo de novas pesquisas bibliográficas, na tentativa de saná-las. Caso persistam, apresente-as ao professor, na tutoria presencial.
 
 MÓDULO 3
 
Análise crítica de algumas políticas públicas na educação brasileira.
Os mitos e preconceitos acerca da criança que não aprende.
 
Leitura básica:
 
PATTO, M. H. S.  Acelerando a escolarização: em nome do quê? In: Exercícios de Indignação  – escritos de Educação e Psicologia. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2005, p 17 a 28.
 
PATTO, M. H. S.   Democratização do ensino e políticas públicas: desafios para a pesquisa. In: Exercícios de Indignação  – escritos de Educação e Psicologia. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2005, p. 57-67.
 
 
            Os textos nos trazem reflexões acerca de algumas das mudanças na política educacional, em relação ao processo de escolarização na rede pública, tendo como referência pesquisas de base etnográfica que se pautam pela perspectiva crítica.
            A autora aborda mais especificamente as seguintes reformas que foram sendo implantadas ao longo dos anos: ciclo básico, classes de aceleração, progressão continuada e os programas de inclusão. Embora algumas das propostas  não tenham vindo para ficar, por exemplo: as classes de aceleração, nesse sentido, interessante é observar como, em cada diferente momento da educação, os indivíduos foram se apropriando dessas mudanças e o resultado de cada uma delas no processo educacional.
 
            Como as escolas recebem as mudanças que são impostas pelo governo?
 
            Segundo Roger Bastide, para que a transformação ocorra é necessário que a novidade possa “entrar em harmonia com o campo de significações da cultura receptora”. Assim, não basta que o Estado determine estas ou aquelas transformações, a vontade estatal inevitavelmente vai encontrar a vontade popular, o que significa dizer que muitas vezes a intenção das reformas propostas é uma  e a realidade, o que realmente acontece nas escolas, é outra.
            Conforme nos coloca a autora, uma política educacional, como é o caso da nossa, que se pauta pelo descaso pela boa qualidade de ensino, num país marcado pelas desigualdades sociais e econômicas, pelo cinismo com o direito dos cidadãos acaba por refletir também nas relações que se estabelecem dentro da escola. Tais relações muitas vezes resultam em atrito entre os níveis hierárquicos, na inimizade entre professores e alunos, no descaso, no fatalismo,
no preconceito social e racial entre outros. E é dentro desse contexto que muitas vezes professores e diretores são atropelados por mudanças intempestivas nas diretrizes administrativas e pedagógicas.
            Vejamos brevemente algumas dessas mudanças e os resultados obtidos.
 
 
 
PROPOSTA DO CICLO BÁSICO
 
            Visava eliminar a repetência nas séries iniciais do ensino fundamental, estava organizada como ciclo básico inicial – CBI (1ª. e 2ª. séries) e ciclo básico continuidade- CBC ( 3ª. e 4ª. série), não deveria haver reprovação durante os ciclos.
            Era uma proposta de base construtivista, que colocava o aluno como sujeito do processo de aprendizagem, mas esse não era  o olhar dos professores.
            Na implantação da proposta foram criadas as classes intermediárias, nessas classes ficavam os alunos que de acordo com o critério dos professores não podiam seguir adiante. Dessa forma, as escolas repuseram a reprovação que se queria eliminar na passagem da primeira para a segunda série.
            Constata a autora do texto que as escolas resistiram à mudança e alteraram a proposta de modo que a mesma entrasse em conformidade com a lógica institucional anterior à reforma, ou seja, instituiu-se a repetência que se propunha a eliminar.
 
CLASSES DE ACELERAÇÃO
 
            Foram criadas como o intuito de resolver o problema de defasagem idade-série. Afinal, a reprovação aumento o custo da educação para o Estado.
            De um lado, o modo como aconteceu o processo contribuiu para a diminuição da qualidade do ensino e ao reunir na mesma classe todos os “alunos indesejáveis” tais classes passaram a ser vistas como perigosas, acirrando assim o preconceito e a discriminação  para com os alunos. Por outro lado, barateou os custos e melhorou as estatísticas educacionais que passaram a apresentar uma diminuição no índice de repetência.
 
PROGRESSÃO CONTINUADA
 
            Proposta desenvolvida originalmente com a intenção de, ao eliminar a repetência, possibilitar condições de igualdade, em hipótese o aluno teria mais tempo para dominar os conteúdos. Pelo modo como foi implantada, gerou o caos, por exemplo, havia (e ainda há) alunos que chegavam na 5ª série ou na  6ª série, completamente analfabetos.
 
PROGRAMAS DE INCLUSÃO
 
            Camuflado pelo discurso oficial que proclamava o direito universal à educação, os alunos com necessidades especiais foram colocados em sala de aula regular, isto sem o devido cuidado e preparo da comunidade e dos profissionais que trabalhavam com estas crianças.
 
            Estar em sala de aula e não ser aceito ou não  receber um trabalho de qualidade é garantia de inclusão?
 
            Segundo Patto, muitos são os problemas enfrentados pela educação, e a saída para nossos problemas não está na técnica, são as concepções e as relações que precisam ser o objeto de atenção dos projetos.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de sua tese.
 
2) A partir da leitura, observe como em cada diferente momento da educação os indivíduos foram se apropriando das reformas propostas pelo Estado e o resultado de cada uma delas no processo educacional.
 
3) Reflita sobre as seguintes questões:
 A política pública de educação escolar no Brasil tem sido democratizante?
 No momento atual do capitalismo e das manobras em escala mundial para proteger o capital, a massa de pessoas cujo trabalho vem se tornando desnecessário aumenta. Qual o papel da educação nesse contexto?
 
4) Acompanhe os seguintes exemplos de exercícios:
 
Exercício 1 - A Psicologia Escolar tem sido convocada a participar das discussões sobre Políticas Públicas em  Educação, na medida em que, para compreender e contribuir com a  realidade escolar é preciso considerar como se concretizam estas propostas e medidas. Qual das alternativas abaixo não reflete a realidade no que diz respeito das Políticas Públicas em Educação:
Assinale a alternativa INCORRETA:
a) O discurso oficial a respeito da equalização de oportunidades tem girado em torno de três eixos: garantia de universalização do acesso à escola, garantia de permanência nela e garantia de bom ensino a todos.
b) Uma das grandes contradições da política educacional brasileira é a relação entre o crescimento quantitativo de vagas nas escolas e a qualidade do ensino.
c) As políticas educacionais refletem, inevitavelmente, as condições existentes nas três esferas: econômica, política e social.
d) Os professores, embora frequentemente convidados a participar da elaboração das Políticas Públicas, não tem se envolvido por estarem desmotivados em função da desvalorização da profissão docente.
e) Um dos principais problemas em relação às Políticas Públicas em Educação diz respeito à descontinuidade em relação às trocas de governo.
 
Dizer que o professor não participa da elaboração das Políticas Públicas porque não quer é uma falácia. Os professores não são consultados, as mudanças são impostas pelo Estado. A alternativa incorreta é a D.
 
Exercício 2 - Alisson prefere quebrar pedras a estudar. Ao despertar, já se imagina no garimpo, ganhando dinheiro e, não na escola, que frequenta quase por obrigação. Às vezes, assiste a uma aula com “ódio”. A palavra é dura. Quando peço uma resposta para o professor e ele diz ‘cace no livro’, fico com ódio. Sinto raiva dele. O relato de Alisson traz uma das principais dificuldades enfrentadas pelo ensino atual: a escola estar preparada para receber e trabalhar com a diversidade de alunos que chegam e, principalmente manter esse aluno.
A partir desse breve relato pode-se perceber um conjunto de características sobre a escola na qual Alisson está matriculado. Assinale a alternativa incorreta:
a) Pelo relato de Alisson, a escola parece um espaço deslocado do contexto social no qual o garoto se insere.
b) A educação, da maneira como ocorre na escola da Alisson, parece ser um esforço para que haja uma apropriação, por todos, da produção cultural, garantindo possibilidades para todos participarem e modificarem a dinâmica social.
c) Outra característica dessa escola pode ser a concepção de que a busca pela aprendizagem deve partir do aluno, desconsiderando a importância do educador favorecer o interesse e desejo por aprender.
d) Nessa concepção, a escola não tem contribuições para a solução dos problemas da marginalidade. Ao contrário, é mais uma fonte de reprodução social ao invés de transformação.
e) A dinâmica escolar apresentada por Alisson, muitas vezes, serve mais para justificar as desigualdades sociais presentes na sociedade, ao invés de pensar em possibilidades de mudanças.
 
Apenas a alternativa B não corresponde á perspectiva crítica. O proposto corresponde à ideologia do discurso oficial que visa camuflar os processos de exclusão.
 
 
OS MITOS E PRECONCEITOS ACERCA DA CRIANÇA QUE NÃO APRENDE.
 
Leitura básica:
MOYSÉS, M. A. A  e COLLARES, C. A. L. Sobre alguns preconceitos no cotidiano escolar. In: Ideias 19, FDE – Fundação para o desenvolvimento da Educação. São Paulo, 1993, p. 9-25.
 
            As autoras nos mostram como determinados mitos e preconceitos acerca das causas das dificuldades de aprendizagem acabam por interferir de forma negativa na compreensão que se pode produzir sobre o não aprender. Desvelam a ideologia presente no modo pelo qual alguns segmentos da sociedade compreendem a questão do fracasso escolar.
            O texto nos mostra uma definição de preconceito baseada no referencial  teórico oferecido por Agnes Heller. Segundo Heller,  é  característico  da vida cotidiana  a existência de juízos provisórios, tal juízo é considerado provisório na medida em que se constitui em uma ideia que se faz sobre determinada situação e que se antecipa a ela. Muitas vezes no confronto com a realidade percebemos que a ideia que havíamos formado sobre determinada situação não corresponde á verdade, ao que realmente é.

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