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Prof. Renato Bulcão UNIDADE I Homem e Sociedade Esta disciplina é uma introdução à Antropologia. A Antropologia nos permite entender melhor o contexto na qual os seres humanos desenvolveram suas culturas. Introdução A natureza determina a formação e o comportamento de uma sociedade. A sociedade é a forma que os seres humanos encontraram para melhor sobreviverem. A cultura organiza as formas de cooperação entre os seres humanos e assim organiza a sociedade. Cultura, natureza e sociedade Nosso comportamento é resultado da seguinte combinação: nossas capacidades inatas (nascemos com elas); a influência da cultura em que vivemos; nossa história de vida pessoal. Precisamos de referências de comportamento da sociedade. Somos indivíduos sociais. O comportamento do indivíduo Ainda não sabemos por que as pessoas têm determinadas habilidades físicas. Algumas dessas habilidades permitem que nós tenhamos sucesso com algumas especializações. A maioria das especializações (plantar, cozinhar, construir etc.) pode ser aprendida. É mais fácil percebermos nossa herança genética a partir das coisas que não podemos fazer (correr rápido, cantar bem, pular alto etc.). A herança genética A cultura foi construída para facilitar a proteção da procriação. Para os seres humanos, importante é garantir que os filhos cresçam e também se reproduzam. Os homens não têm inclinação natural para cuidar das crianças. As primeiras culturas determinaram uma divisão do trabalho pela característica de gênero. Mulheres cuidam dos filhos e da comida e os homens cuidam da proteína (caça) e da segurança. A divisão sexual do trabalho A Antropologia percebeu que a divisão do trabalho por gênero também foi seguida por uma divisão do trabalho por qualidade inata: alguns caçam melhor do que os outros; outro sabe pescar melhor; outra sabe cozinhar melhor; outra entende de plantas que servem de medicamentos; outro tem força física para quebrar pedras; outro corre muito rápido e serve de mensageiro. A divisão do trabalho e a organização da família Para organizar a família, os seres humanos criaram regras de procriação, chamadas de tabus. Essas regras determinam quem pode casar com quem: pai não pode casar com a filha. Os pais entendiam seus filhos como seus bens, sua propriedade. Assim, os pais podiam dar sua filha em casamento para obter a aliança do homem que iria procriar com ela. A divisão do trabalho e a organização da família Até o século 19, acreditava-se que o mundo tinha sido feito em uma semana e que tudo nasceu ao mesmo tempo: todas as plantas; todos os animais. Charles Darwin foi o primeiro a perceber que a vida se desenvolve o tempo todo, criando espécies que sobrevivem às intempéries. A evolução não acontece por mutação da espécie, mas por extinção de uma espécie, que abre espaço para outra espécie. A Teoria da Evolução Como a cultura determina a aptidão do ser humano? a) Existe uma relação entre o que aprendemos a fazer e o que pensamos. b) A aptidão é natural e determina quem somos. c) Só fazemos as coisas se temos um dom. d) Fazemos bem tudo aquilo que aprendemos. e) A cultura nunca determina a aptidão de alguém. Interatividade Como a cultura determina a aptidão do ser humano? a) Existe uma relação entre o que aprendemos a fazer e o que pensamos. b) A aptidão é natural e determina quem somos. c) Só fazemos as coisas se temos um dom. d) Fazemos bem tudo aquilo que aprendemos. e) A cultura nunca determina a aptidão de alguém. Resposta Adaptação ao meio As espécies se adaptam ao meio ambiente porque as características genéticas mais bem sucedidas naquele meio acabam sendo transmitidas através das gerações. Isto acontece porque os indivíduos da espécie que não nascem com as características necessárias para o sucesso morrem antes de procriar. Este processo dura entre 100 e 200 mil anos. Consequências da Teoria da Evolução O ser humano também viveu este processo de adaptação. Nas tribos que formavam as populações na antiguidade, todas as pessoas eram muito parecidas. Se lembramos dos vikings, dos esquimós ou dos zulus, lembramos também que eles eram muito parecidos entre si. Consequências da Teoria da Evolução As tribos tinham formas próprias de construir casas, uma alimentação composta de alimentos encontrados ao redor e hábitos culturais que permitiam sobreviver naquele meio ambiente. Consequências da Teoria da Evolução A cultura do ser humano se desenvolveu de acordo com a descoberta das plantas comestíveis e das formas de caça mais eficientes. Os antropólogos entenderam que este processo de desenvolvimento de métodos de sobrevivência – a forma original de cultura – facilitou a sobrevivência de apenas determinados indivíduos da tribo. Por isso, nas antigas tribos, todos os indivíduos eram muito parecidos. Consequências da Teoria da Evolução Com a agricultura, o ser humano passou a ter uma nova relação com o meio ambiente. As tribos ficaram fixadas em determinados territórios e aprenderam umas com as outras a cultivar preferencialmente alguns alimentos. Aprenderam a desenvolver suas línguas a partir da imitação dos sons dos pássaros e da imitação dos próprios sons corporais. A evolução humana mudou com a agricultura A agricultura permitiu maior quantidade de alimento para todos. A comida foi, durante milênios, o bem mais precioso da humanidade. Com o controle cada vez maior do fogo, o ser humano finalmente conseguiu trabalhar os metais, criando, assim, armas mais eficazes. Dessa forma nasceram as primeiras civilizações. A evolução humana mudou com a agricultura As primeiras civilizações precisaram organizar as famílias por meio das regras de casamento, organizadas por tabus. Assim, as populações puderam crescer na medida em que o ser humano ultrapassou a barreira que a natureza impõe através da seleção natural. Havia comida suficiente e regras familiares para permitir que até mesmo os menos adaptados pudessem sobreviver. As primeiras civilizações Período Neolítico – aproximadamente de 12.000 a 6.000 a.C. Começa a divisão sexual do trabalho, que determina as tarefas masculinas e as femininas, e a sociedade se divide em camadas sociais. Primeiras manifestações religiosas, crenças em divindades. Sedentarismo; surge a cerâmica e a tecelagem e a fundição de metais. Surge o comércio e o uso de moeda; surge a propriedade privada. O período Neolítico termina com o domínio da escrita. As primeiras civilizações Com o aumento da população, as pessoas puderam se especializar mais no trabalho que faziam com mais facilidade. Isso deu início à divisão do trabalho e também à hierarquia social. Os antigos caçadores se transformaram em guerreiros. Ao invés de caçarem animais, passaram a combater outras civilizações. Quatro mil anos antes de Cristo, os seres humanos inventaram a escrita e passaram a escrever sua história. As primeiras civilizações Na medida em que tentavam explicar as coisas da natureza, passaram a explicar o mundo através da invenção de deuses. A primeira grande civilização foi a egípcia, pois eles aprenderam a lidar com o tempo observando as estrelas. Dessa forma puderam planejar melhor a agricultura, tornando-se o reino do Egito o mais rico do mundo por quase três mil anos. Também foram os primeiros a estruturar a sociedade de uma forma duradoura. As primeiras civilizações Qual o motivo do aumento da população humana na Terra? a) Deus permitiu que crescêssemos e multiplicássemos. b) A pouca vergonha do sexo aberto fezisso. c) A indústria farmacêutica lucra mais em manter as pessoas vivas. d) A agricultura permitiu comer diariamente. Aprendemos a estocar alimentos. e) A falta de predadores naturais. Interatividade Qual o motivo do aumento da população humana na Terra? a) Deus permitiu que crescêssemos e multiplicássemos. b) A pouca vergonha do sexo aberto fez isso. c) A indústria farmacêutica lucra mais em manter as pessoas vivas. d) A agricultura permitiu comer diariamente. Aprendemos a estocar alimentos. e) A falta de predadores naturais. Resposta Como o comportamento social acaba permitindo a estrutura da sociedade, surge o espaço para diversas formas de expressão do indivíduo. Para explicar os comportamentos psicológicos diversos, os seres humanos inventaram que estes comportamentos eram inspirados por diversos deuses. Da mesma forma que os deuses influenciavam a natureza, deviam também influenciar os seres humanos. A invenção dos deuses Os deuses antigos eram organizados em famílias, pois assim ficava mais fácil explicar as características das pessoas dentro da família. Como por séculos a principal tarefa dos homens era proteger a família, a hierarquia dos deuses era a mesma das famílias. Os homens mandavam, pois eram os pais que tinham gerado os filhos. A família dos deuses Quando as tribos se formaram, a partir da expansão das famílias, nasceram as trocas. As trocas são fruto da divisão do trabalho: eu caço, você pesca e aquela mulher cuida da plantação. Para que todos tenham um pouco de tudo, são trocados os bens. Deuses e humanos: as trocas Quando as tribos precisavam que os deuses mudassem o comportamento da natureza, pediam para os deuses. Rezavam para chover ou para parar de chover. Caso os deuses não ouvissem, sugeriam uma troca na forma de um sacrifício. Primeiro sacrificavam animais para que os deuses “comessem” a oferenda. Algumas civilizações chegaram a oferecer meninas em sacrifício para que elas fossem casar com os deuses. Deuses e humanos: as trocas As trocas também incluíam os filhos e filhas das famílias. Os pais consideravam seus filhos como seus bens e trocavam o casamento deles por acordos de cooperação. Uma família guerreira protegia uma família de agricultores, pois seus filhos eram casados. Isso criou formas de hierarquia na sociedade, que sempre foram organizadas a partir das famílias dos guerreiros. Deuses e humanos: as trocas As trocas precisavam ser controladas. Para isso, a escrita e logo depois os números passaram a registrar tudo o que era trocado. Isto criou a organização social. Como estes registros são formas de comunicação, a antropologia moderna defende que a comunicação também é parte importante da vida do ser humano. As trocas e o desenvolvimento da cultura As trocas não são apenas materiais. Existem também trocas simbólicas. Uma troca simbólica é justamente o casamento dos filhos de duas famílias. A cerimônia não pretende determinar a posse dos filhos, mas principalmente os acordos entre as duas famílias. Essa troca simbólica do casamento é que acabou determinando a importância da virgindade da mulher. As trocas e o desenvolvimento da cultura As trocas simbólicas criaram a noção de parentesco. Criaram também a ideia de reciprocidade: eu faço algo por você e você retribui de alguma forma. As trocas materiais e simbólicas acabaram por estruturar as relações sociais. Novamente, a escrita serviu para documentar o que tinha sido trocado, qual tinha sido a combinação feita. As trocas e o desenvolvimento da cultura Cada sociedade acabou atribuindo a noção de valor às coisas que eram importantes ou escassas. Para facilitar as trocas, criou-se o dinheiro, que eram moedas de metal precioso que serviam para dar maior liberdade ao sistema de trocas. Com isso nasceu o comércio, que era a profissionalização da atividade de trocas. As trocas e o desenvolvimento da cultura Com o comércio, as trocas serviam para que os comerciantes mais espertos acumulassem uma maior quantidade de bens materiais. Com uma maior quantidade de bens materiais, surgiram os deuses para proteger o comércio e os comerciantes. Nasceu também a justiça para regular a relação de trocas. As trocas e o desenvolvimento da cultura Qual a diferença entre as trocas materiais e as trocas simbólicas? a) Trocas materiais são em dinheiro e as simbólicas são no cartão de crédito. b) Trocas materiais são presentes e trocas simbólicas são desinteressadas. c) Trocas materiais são de objetos, e as simbólicas são culturais. d) Trocas materiais são onerosas, e as simbólicas são dominadoras. e) Trocas materiais e trocas simbólicas são a mesma coisa. Interatividade Qual a diferença entre as trocas materiais e as trocas simbólicas? a) Trocas materiais são em dinheiro e as simbólicas são no cartão de crédito. b) Trocas materiais são presentes e trocas simbólicas são desinteressadas. c) Trocas materiais são de objetos, e as simbólicas são culturais. d) Trocas materiais são onerosas, e as simbólicas são dominadoras. e) Trocas materiais e trocas simbólicas são a mesma coisa. Resposta As trocas criam a necessidade de uma regulamentação que chamamos de justiça. A justiça cria uma hierarquia de valores, determinando o que é justo e o que não é. A essa hierarquia de valores damos o nome de moral. Então, cada civilização acaba por determinar o que é justo e o que é moral. As trocas criam a moral A moral varia, portanto, de civilização para civilização. No Ocidente, adotamos os valores morais da civilização judaica. Seguimos os mandamentos que Moisés recebeu de Deus. Então, nossos valores morais estão atrelados às trocas simbólicas que surgem a partir dos Dez Mandamentos. As trocas criam a moral O maior valor moral é simbólico: O respeito. A partir dos valores morais organizamos nossos hábitos e costumes. Os hábitos e costumes são a cultura de uma sociedade. Quanto mais regras sociais conhecemos, inclusive de outros povos, mais temos cultura. A moral cria a cultura Toda cultura é composta de valores simbólicos. Os valores simbólicos, uma vez aceitos por uma sociedade, determinam todas as demais trocas materiais. Assim percebemos que os valores simbólicos se baseiam em valores morais que organizam a justiça na sociedade. A moral cria a cultura Quanto mais os hábitos e costumes incluem o respeito, mais a sociedade inclui a aceitação da diversidade das pessoas. Isto permite o combate ao racismo, à homofobia e colabora para a inclusão social dos deficientes físicos e mentais. O próprio respeito faz com que estes deficientes sejam hoje em dia chamados de pessoas portadoras de necessidades especiais. A cultura organiza a justiça Os hábitos e os costumes acabam sendo representados por símbolos. Isto permite à civilização a construção de significados. Toda sociedade constrói sua forma de ver o mundo através de significados simbólicos. Isto é expresso por meio da língua. A cultura organiza os símbolos As línguas têm desenvolvimento próprio. Os hábitos e costumes acabam sendo nomeados de forma especial por uma língua. Quando uma sociedade não tem um determinado hábito ou costume, acaba importando uma palavra e seu significado de outra língua. A cultura organiza os símbolos Assim, as diferentes culturas acabam promovendo trocas simbólicas entre elas. Às vezes estas trocas acabam por influenciar os costumes de uma civilização. Os comportamentos são importados. Os significados são importados. A cultura organiza os símbolos Promovendo trocas simbólicasentre culturas, construímos o entendimento entre elas. Com a construção do entendimento comum, diminuímos as diferenças entre as diversas sociedades. Com a adoção de símbolos comuns, criamos um capital cultural. As trocas simbólicas entre culturas Franz Boas (1930) – “A cultura inclui todas as manifestações dos hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo na medida em que são afetadas pelos costumes do grupo em que vive, e os produtos das atividades humanas na medida em que são determinados por tais costumes”. B. Malinoswki (1931) – “Esta herança social é o conceito central da antropologia cultural. Normalmente é chamada de cultura na moderna antropologia e nas ciências sociais. A cultura inclui os artefatos, bens, procedimentos técnicos, ideias, hábitos e valores herdados. Não se pode compreender verdadeiramente a organização social senão como uma parte da cultura”. As trocas simbólicas entre culturas W.H. Goodenough (1957) – “A cultura de uma sociedade consiste em tudo aquilo que se conhece ou acredita para influenciar de uma maneira aceitável os seus membros. A cultura não é um fenômeno material: não consiste em coisas, pessoas, condutas ou emoções, mas em uma organização de tudo isso. É a forma das coisas que as pessoas têm em sua mente, seus modelos de percebê-las, de relacioná-las ou de interpretá-las.” As trocas simbólicas entre culturas Clifford Geertz (1966/73) – “Se compreende melhor a cultura não como complexos de esquemas concretos de conduta – costumes, usos, tradições, conjuntos de hábitos – mas sim como planos, receitas, fórmulas, regras, instruções (o que os engenheiros de computação chamam de ‘programas’) e que governam a conduta”. “Cultura é um sistema simbólico, característica fundamental e comum da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada, significados e sentidos às coisas do mundo”. As trocas simbólicas entre culturas Anthony Giddens (1989) – “Cultura se refere aos valores que compartilham os membros de um grupo, às normas que estabelecem e aos bens materiais que produzem. Os valores são ideais abstratos, enquanto que as normas são princípios definidos ou regras que as pessoas devem cumprir”. As trocas simbólicas entre culturas Cada vez mais, o ser humano acaba se percebendo como membro da mesma espécie. Isso possibilita maior entendimento e consequente aceitação entre pessoas diferentes. Na medida em que entendemos melhor o planeta, conseguimos ver o meio ambiente como um todo, igual para todos os povos. As trocas simbólicas entre culturas Com uma cultura comum, as tradições das sociedades são abandonadas em favor de hábitos comuns. Aqueles que defendem as tradições tentam impedir as trocas simbólicas e defender uma forma antiga de ver o mundo. Neste sentido, toda tradição está condenada a acabar. As trocas criam uma cultura comum Teses que procuram explicar o comportamento de populações humanas a partir da determinação de um pequeno conjunto de características externas: “todo brasileiro sabe jogar bem futebol.” Ideologia é um conjunto de ideias que organizam uma forma de pensar. Geralmente, as ideologias geram preconceitos contra quem pensa de forma diferente. Determinismo e ideologia As maiores diferenças entre as sociedades contemporâneas dizem respeito aos hábitos e costumes religiosos. É a defesa desses hábitos que acaba promovendo a violência moderna. A educação tem, por este motivo, a tarefa de diminuir as diferenças culturais. Isso se faz ensinando os códigos de convivência e cooperação social. As diferenças culturais são cada vez menores A educação tem, como tarefa maior, preparar as pessoas para conviverem em sociedade. Quanto menos diferenças na forma de ver o mundo, maior a compreensão mútua. Por este motivo, sociedades educadas têm menores índices de violência. Quanto mais educação, mais trocas simbólicas acontecem. A educação diminui as diferenças culturais Qual a tarefa mais importante da educação? a) Educar é ensinar os códigos: o código de comer, o código de vestir, o código de falar, o código do comportamento social. b) Educar é ensinar ler e escrever. c) Educar é cuidar. d) Educar é construir escolas. e) Educar é zelar pela moral. Interatividade Qual a tarefa mais importante da educação? a) Educar é ensinar os códigos: o código de comer, o código de vestir, o código de falar, o código do comportamento social. b) Educar é ensinar ler e escrever. c) Educar é cuidar. d) Educar é construir escolas. e) Educar é zelar pela moral. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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