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RESUMO SOCIETÁRIO P1

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Matéria P1 - SOCIETÁRIO:
. Responsabilidade dos sócios na sociedade limitada;
. Teoria da desconsideração da personalidade jurídica;
. Direito de retirada do sócio nas sociedades;
____________________________________________________________
. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS NA SOCIEDADE LIMITADA – Arts. 1.052 a 1.087.
– A responsabilidade dos sócios perante credores é solidária ao limite do que faltar a ser integralizado no capital social.
– A caracterização de sociedade de pessoas ou capital depende da análise do contrato social. Na omissão é de pessoas.
– Pode ser simples ou empresária, de acordo com o seu objeto social.
Ainda que a responsabilidade de cada sócio se restrinja ao valor de suas quotas, todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. 
A principal obrigação assumida pelo sócio no momento da constituição da sociedade é a de integralização do valor do capital social subscrito; o vínculo jurídico é formado entre o sócio (devedor) e a sociedade (credora). 
Trata-se de obrigação pessoal.
Não há solidariedade entre os sócios perante a sociedade.
O inadimplemento da obrigação de integralizar valor subscrito autoriza a sociedade a demandar somente o sócio devedor (sócio remisso).
A integralização das quotas pode ser à vista ou a prazo. O contrato social tem de mencionar a quota de cada sócio no capital social e o modo de realizá-la.29 Remisso é o sócio que descumpre a obrigação de integralizar o valor devido.30
A responsabilidade dos sócios deve ser aferida sob dois aspectos:
a) interna corporis, isto é, em relação à sociedade;
b) erga omnes, vale dizer, em relação a terceiros.
Perante a sociedade, os sócios têm responsabilidade individual, restrita ao valor das quotas que subscreveram no capital social. 31
Em relação a terceiros, respondem solidariamente pela integralização do capital social.32
Uma vez exaurido o patrimônio da sociedade devedora, os credores podem compelir todos os sócios a integralizarem a parte que faltar no capital social.
Impõe-se ao credor o esgotamento do patrimônio social para ter direito à ação de integralização em face dos sócios.33
A solidariedade determinada pela lei pode ser invocada por credores, caso o patrimônio social seja insuficiente, ou por terceiros, como por exemplo, o liquidante, em caso de dissolução da sociedade,34 bem como o administrador judicial na falência da sociedade.35
Nesse caso, o sócio demandado tem direito de regresso em face do sócio devedor da integralização.
Um exemplo será mais elucidativo: suponha-se que determinada sociedade declare, no contrato social, capital de R$ 90.000,00, integralizado em R$ 60.000,00 e dividido igualmente entre os sócios “A”, “B” e “C”, cada um com 30.000 cotas de R$ 1,00 (um real) cada uma. Os sócios “A” e “B” integralizaram à vista o valor devido, mas o sócio “C” comprometeu-se a integralizar o valor devido em 12 (doze) vezes. Suponha que essa sociedade contraiu obrigação de R$ 700.000,00, tendo R$ 400.000,00 de patrimônio líquido. Executada a sociedade, exaurido seu patrimônio, o credor pode imputar responsabilidade solidária aos sócios para cobrar o que falta para ser integralizado no capital social, isto é, R$ 30.000,00.
Nas sociedades limitadas, o sócio não responde pelas dívidas da sociedade porque sua responsabilidade se limita ao capital social. Caso contrário, a responsabilidade seria ilimitada. Integralizado o capital social, o sócio está isento de qualquer outra obrigação, e eventuais credores da sociedade somente podem demandar os sócios pela quantia faltante na integralização do capital social.
Em suma: a responsabilidade dos sócios perante a sociedade é restrita ao valor das quotas subscritas. Respondem, porém, solidariamente, perante terceiros, pelo capital faltante.
nsuficiêÉ conveniente ressaltar que credores somente podem cobrar o valor que faltar a ser integralizado no capital social após exaurir o patrimônio da sociedade. De início, a responsabilidade dos sócios perante terceiros é subsidiária. Caso comprovada a inexistência ou incia de patrimônio social, poderão voltar-se contra qualquer sócio. Nesse caso, a responsabilidade será solidária.
Em resumo:
A regra é a limitação da responsabilidade dos sócios ao capital social, ou seja, até o valor que faltar a ser integralizado.
. TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
No direito brasileiro, a teoria foi introduzida por Rubens Requião.
CONCEITO:
A desconsideração da personalidade jurídica implica a suspensão da personalidade jurídica, operada pelo órgão judiciário, no curso do processo, permitindo que, excepcionalmente, sejam ampliados os limites subjetivos da relação processual para alcançar o patrimônio dos sócios, para coibir os efeitos de fraude comprovada, levada a efeito mediante a utilização da pessoa jurídica para finalidades outras que não seu objeto social, impedindo que os sócios ou terceiros se locupletem indevidamente às custas da pessoa jurídica.
O Código Civil, no art. 50, positivou a teoria da desconsideração da personalidade jurídica: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”.
O novo CPC, no art. 133, dispõe que: 
“Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo”.
Não resta dúvida de que o novo CPC ratifica o entendimento do art. 50 do Código Civil, no sentido de não admitir a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica de ofício. O art. 133 do CPC diz que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
O afastamento momentâneo da personalidade jurídica está arrimado no desvio de finalidade da pessoa jurídica. É corriqueiro o caso de sociedade simulada ou aparente, em que um dos sócios detém quase todo capital social, servindo o consórcio de participação irrisória, apenas, como “dama de companhia” para justificar a existência da sociedade, em se tratando de execução de título extrajudicial firmado pelo sócio-gerente de sociedade por quotas de responsabilidade limitada da qual ele detém 99,90% do capital social.
Este é o típico exemplo que possibilita a descaracterização da condição do empresário individual, com afastamento de sua responsabilidade ilimitada, pois o sujeito de direito e obrigações passa a ser a pessoa jurídica, que, como já dito, tem responsabilidade ilimitada perante seus credores.
O “sócio” titular de quase a totalidade do capital social fica em situação de extrema “segurança e conforto”, pois utiliza a figura da sociedade como uma couraça acobertadora de situações antijurídicas. Ao que indica, um dos propósitos da Lei nº 12.441/2011, que criou a figura da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, é incentivar o exercício de atividade empresarial por pessoa física (ou jurídica) sem que exponha o comprometimento do patrimônio pessoal de forma ilimitada.
Fica a questão: o sócio titular de parte inexpressiva do capital social assume responsabilidade perante credores quando da aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica?
R: Na Justiça do Trabalho o entendimento dominante é não imputar tal responsabilidade, salvo comprovada fraude.
Sobre o tema: 
“Sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Execução fiscal com penhora em bem de sócio-gerente. Embargos de terceiro. Sociedade realmente fictícia, em que o sócio-gerente é dono de 99,2% do capital, sendo os restantes 0,8% de sua mãe e concunhado.
A assertiva de que a
pessoa jurídica não se confunde com a do sócio é um princípio jurídico básico, não um tabu, e merece ser desconsiderada quando a sociedade é apenas um alter ego de seu controlador, na verdade comerciante em nome individual.
Lição de Konder Comparato. Embargos de terceiro rejeitados (...)” (TJRS, RDM 63/1983). “Sócio minoritário que não contribuiu diretamente para o dano aos credores não pode responder integralmente pela execução com seu patrimônio. Com esse entendimento, a 4ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região (SC) negou pedido para que o sócio de uma empresa com cota inexpressiva bancasse dívida devida a um grupo de 60 trabalhadores. Os autores cobram cerca de R$ 230 mil da massa falida de uma confecção de Jaraguá do Sul (SC), em execução que tramita há mais de 15 anos.
Como a dívida não foi quitada pelos sócios majoritários, eles pediam o redirecionamento da execução a um minoritário, argumentando que ele deveria ser responsabilizado pelo valor total.
O pedido já havia sido negado em primeira instância, mas os credores recorreram da decisão.
Para eles, a responsabilidade dos sócios em relação a dívidas trabalhistas deveria ser encarada como solidária e ilimitada, independentemente do percentual reduzido na participação societária. Mas os desembargadores concluíram, por maioria de votos, que não seria razoável ordenar que um único sócio minoritário pagasse a dívida.
Eles decidiram limitar a sua responsabilidade à proporção do capital integralizado, ou seja, 0,12% da dívida trabalhista. Com informações da Assessoria de Comunicação Social do TRT-12” (AP 01715-2005-046-12-00-4).
A Terceira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 17ª Região entendeu que um ex-sócio que participa somente com 1% (um por cento) do capital social da empresa não pode ser considerado responsável pelas dívidas trabalhistas. No entendimento da relatora, ratificado pela Terceira Turma, o ex-sócio da empresa, que não detém poderes de administração e apenas cumpre formalidade para constituição desta, não pode ser considerado responsável pelo pagamento das verbas trabalhistas, de reclamações ajuizadas por seus trabalhadores, vez que empregado também é.
Ouso discordar da decisão. Ainda que titular de parcela insignificante, o sócio participou do conluio para a criação da sociedade. 
A prevalência desse entendimento é uma porta aberta para fraude, pois incentivará a transferência do patrimônio do sócio majoritário para o titular de percentual inexpressivo do capital social, frustrando todas as expectativas dos credores. 
Da mesma forma não se pode presumir a condição de empregado pelo fato de o sócio deter parcela ínfima do capital, pois não é incomum que sua participação na sociedade sirva de fachada para encobrir situação evidentemente fraudulenta. 
Giovanni Comodaro Ferreira12 diz haver “situações em que a utilização da pessoa jurídica é feita ao arrepio dos fins para os quais o Direito albergou o instituto. Em muitos casos, os integrantes de um ente coletivo se ocultam por detrás de sua autonomia formal para lesar direitos ou infringir norma legal ou estatutária, valendo-se da pessoa jurídica como instrumento de fraude ou ilicitude”. Não se pode confundir a despersonificação com a desconsideração.
Na primeira, a sociedade perde por completo a sua personalidade jurídica, enquanto, na desconsideração, a personalidade jurídica é afastada, temporariamente, para atingir o patrimônio dos sócios que se tenham utilizado da sociedade de forma fraudulenta. No mesmo sentido, Rubens Requião. Para alguns, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica excepciona o princípio da separação patrimonial. Divirjo.
A nosso ver, a teoria não é exceção a esse princípio, mas uma reafirmação dele, na medida em que não permite a utilização fraudulenta da sociedade pelos sócios, ou o desvio de finalidade.
A despeito de tese majoritária em contrário, entendo que o prejudicado pode demandar o sócio diretamente nos casos de abuso do direito, isto é, quando abusar dos seus direitos de sócio ou exercê-los de forma anormal.
O fundamento é a prática de ato ilícito, em razão de abuso direito, de seu espírito, violação essa aferível objetivamente, de dolo ou culpa.
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica serve ao caso sempre que comprovadas fraude, má-fé, confusão patrimonial, desvio de finalidade etc., mas, já não é cabível se a responsabilidade do sócio advier de lei (como, por exemplo, no abuso do direito). Doutrina e jurisprudência majoritárias ainda entendem que o abuso do direito cometido por um sócio é pressuposto da aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Sustento tese diversa.
O abuso do direito não se confunde com a teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Em geral, aplica-se a teoria de modo equivocado.
Não se pode confundir a teoria da desconsideração da personalidade jurídica com o ato ultra vires, o abuso do direito e a responsabilidade decorrente da própria lei.
O Código Civil considera desconsideração da personalidade jurídica o desvio de finalidade e a confusão patrimonial. Por desvio de finalidade, entenda-se a utilização da sociedade, pelo sócio, ainda que dentro do seu objeto social, mas com a intenção de auferir vantagens indevidas. O ato praticado pelo sócio, apesar da fraude, é lícito.
No abuso do direito tem-se o ato como ilícito. Comete ato ilícito todo aquele que, a pretexto de exercer um direito, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos costumes (v. Cap. 7, item 7.4).29
No ato ultra vires, o sócio obriga a sociedade em atividade diversa da declarada em seus atos constitutivos, utilizando a figura da pessoa jurídica para desviar-se de sua finalidade, sem necessariamente objetivar a obtenção de vantagens indevidas.
Em sentido contrário, Salomão Filho, quando afirma que a desconsideração da personalidade jurídica “nem sempre constitui um ato ilícito”, motivo pelo qual a sanção que lhe é mais adequada é a de ineficácia relativa.
É importante lembrar que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica tem por objetivo principal o afastamento momentâneo da personalidade jurídica da pessoa jurídica, nos casos de confusão patrimonial ou desvio de finalidade, atingindo os integrantes da pessoa jurídica, razão pela qual, admite-se sua aplicação não somente nas sociedades, mas em qualquer pessoa jurídica, como, por exemplo, as empresas individuais de responsabilidade limitada.
. TEORIA MENOR DA DESCONSIDERAÇÃO
Ao contrário da chamada teoria maior da desconsideração, em que a imputação de responsabilidade aos sócios depende, necessariamente, da prova da culpa (lato senso), a teoria menor admite o levantamento da personalidade jurídica da sociedade e consequente responsabilização dos sócios se a sociedade não dispuser de bens suficientes para ressarcir o prejuízo do credor. 
Entendo que a adoção dessa teoria, ao invés de relativizar a distinção consagrada entre a figura da sociedade e a de seus sócios, bem como da autonomia patrimonial existente, acaba por negar toda a base do direito societário e, pior, sem qualquer fundamento substancial, partindo de casuísmo.
A má redação do art. 28 da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) induz a equívocos. Há quem invoque a regra do § 5º do citado artigo como fundamento para a aplicação dessa teoria, ou seja, a insatisfação do credor seria o bastante para que o juiz determinasse a responsabilidade pessoal dos sócios. 
Isso é inexato.
Esse artigo somente permite a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade quando, em prejuízo do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social, falência, insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
– A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema
jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações.
Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração).
– A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.
– Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica.
– A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada na exegese autônoma do § 5º do art. 28 do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Recursos especiais não conhecidos” (REsp 279273/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi).
. TEORIA INVERTIDA DA PERSONALIDADE JURÍDICA
Pode dar-se, também, a desconsideração ao inverso, pela qual desconsidera-se a personalidade da pessoa jurídica a fim de responsabilizá-la por atos praticados por seus sócios. É o caso, por exemplo, do casal que se separa e o cônjuge sócio transfere seus bens à sociedade para fraudar a partilha ou esvaziar seu patrimônio quando demandado por eventual credor, por dívida particular.
Sobre o tema:
“Separação judicial. Reconvenção. Desconsideração da personalidade jurídica. Meação.
O abuso de confiança na utilização do mandato, com desvio dos bens do patrimônio do casal, representa injúria grave do cônjuge, tornando-o culpado pela separação. Inexistindo prova da exagerada ingestão de bebida alcoólica, improcede a pretensão reconvencional. É possível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, usada como instrumento de fraude ou abuso à meação do cônjuge promovente da ação, através de ação declaratória, para que estes bens sejam considerados comuns e comunicáveis entre os cônjuges, sendo objeto de partilha. A exclusão da meação da mulher em relação às dívidas contraídas unilateralmente pelo varão só pode ser reconhecida em ação própria, com ciência dos credores” (Ap. Civ. nº 1999.001.14506, Rel. Des. Letícia Sardas).
“Família. Competência. Ação de indenização. Teoria da disregard aplicada à relação matrimonial. Competente a Vara de Família e Sucessões para o processamento e julgamento de ação de indenização com base na teoria do disregard, sustentada em fraude à meação quando da separação judicial do casal, em face da estreita relação com a sociedade conjugal. Agravo de instrumento provido de plano” (TJRS, AI nº 70002924165, Rel. Des. Jorge Luis Dall’Agnol).
“Mostra-se admissível pedido de inclusão na relação processual executiva do sócio-gerente da executada, demonstradas sua dissolução irregular e inexistência de bens para garantia do débito, bem como de terceira empresa, também constituída majoritariamente pelo mesmo sócio, estabelecida no mesmo endereço da primeira, e dedicada ao mesmo ramo de atividades, ante a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. A aplicação da ‘disregard doctrine’ objetiva justamente desvendar a realidade que se oculta sob os véus do formalismo jurídico, e senão para que este não prevaleça em detrimento dos credores e de terceiros de boa-fé. Redirecionamento, entretanto, para outra sócia, que não fazia parte da empresa executada, e que não tem poderes de gerência na outra sociedade, que se afasta. Agravo parcialmente provido” (TJRS, AI nº 70004233011, Rel. Des. Eduardo Uhlein).
. DIREITO DE RETIRADA DO SÓCIO DA SOCIEDADE
O sócio não mais satisfeito em participar de uma sociedade tem o DIREITO de retirar-se, sendo reembolsado pela sua participação societária, valor calculado com base no patrimônio líquido da sociedade, porém o direito de retirada, nas sociedades limitadas, possui algumas particularidades, encontradas nos artigos 1.077 e 1.114 do código civil vigente, quais serão tratadas pelo presente artigo através da explanação sobre o direito de retirada, ou recesso, na sociedade limitada.
O DIREITO DE RETIRADA
O conceito, nada mais é do que o direito do sócio, por vontade unilateral, retirar-se da sociedade, mediante ao pagamento respectivo da sua participação societária, consequentemente, com a redução do patrimônio da sociedade e do capital social pela liquidação das quotas que lhe pertenciam.
Para GONÇALVES NETO (2012), o termo ?retirada?, não atinge somente ao Direito de Retirada do sócio, o termo atinge também a exclusão, desligamento do sócio ou doação de suas quotas sociais, porém, apesar do termo ?retirada? tratar de todos essas formas, todas diferem-se do Direito de Retirada:
?Em sentido lato, o termo ?retirada? tem sido utilizado para indicar qualquer das formas pelas quais ocorre a saída do sócio mediante pagamento do valor de sua participação societária, o que se verifica pela cessão ou transferência de sua quota a outro sócio ou a terceiro, pela sua exclusão ou pelo exercício do direito de se desligar da sociedade, mediante recebimento de seus haveres do patrimônio social. Também se fala em retirada na doação de quotas sociais, quando o sócio, por cessão gratuita, faz-se substituir pelo donatário.
Tecnicamente, porém, a retirada, também conhecida como recesso, deve ser tomada em apenas um desses sentidos: como o direito de o sócio sair da sociedade mediante o recebimento de seus direitos patrimoniais de sócio, com consequente redução desse patrimônio e, quase sempre, do capital social em virtude da liquidação das quotas que pertenciam ao retirante?
.
DIREITO DE RETIRADA X RENÚNCIA
            A Renúncia se assemelha com o direito de retirada, pois ambas resultam da manifestação da vontade do sócio, porém, na renúncia, o sócio apenas desliga-se da sociedade, sem passar a ter o direito de receber dos demais sócios sua participação societária, simplesmente renuncia a qualidade de ser sócio.
Discorre sobre isso GONÇALVES NETO (2004):
?Na renúncia, o sócio abdica o status socii e suas quotas passam a pertencer a sociedade, sem que ocorra qualquer desembolso por parte dela, e, portanto, sem a redução do capital social.?
 
Apesar da renúncia não estar configurada como resolução da sociedade em relação a um sócio, não significa que esta tenha sido vedada, pelo contrário, a abdicação do seu exercício é uma modalidade de perda da propriedade de bens em geral.
DIREITO DE RETIRADA X EXCLUSÃO DO SÓCIO
A exclusão do sócio pode ocorrer quando: 
a) subscreve mas não integraliza suas quotas na forma acordada no contrato social, 
b) que comete falta grave no cumprimento de suas obrigações, 
c) que é acometido por incapacidade superveniente, 
d) que é declarado falido  
e) que tem suas quotas penhoradas e liquidadas em processo movido por um credor pessoal e às sociedades limitadas, além de também se submeterem às hipóteses acima mencionadas, receberam do legislador regulamentação mais específica, através do artigo 1.085 do código civil:
 
Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios, representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante alteração do contrato social, desde que prevista neste a
exclusão por justa causa.
 
Visto isso, apesar do termo retirada refletir também sobre a exclusão do sócio, difere-se do Direito de Retirada, principalmente quanto a vontade do sócio em se retirar, muitas vezes, quando excluído, por se adequar a uma das hipóteses legais permitidas, não tem a vontade de sair, é obrigado a sair, já no Direito de Retirada, o sócio retira-se por vontade unilateral mediante pagamento da sua participação societária.
 
PRAZO PARA O EXERCÍCO DO DIREITO DE RETIRADA
O Direito de Retirada deve ser pleiteado nos 30 (trinta) dias seguintes a reunião em foi deliberada a alteração contratual em que gerou divergência entre os sócios. Não se trata do prazo para o pré aviso, de 60 (sessenta) dias, qual trata o artigo 1.029 do código civil, mas sim do prazo decadencial que se não exercido, o direito extingue.
O prazo inicial começa a contar da reunião dos sócios, portanto, o sócio que falta uma reunião deve sempre saber quis foram as medidas aprovadas, caso não é de seu interesse continuar na sociedade, deverá pleitear seu direito nos 30 dias subsequentes.
PARTICULARIDADES PARA AQUISIÇÃO DO DIREITO DE RETIRADA NA SOCIEDADE LIMITADA
Diferentemente do que acontece nos outros tipos societários, o Direito de Retirada na Sociedade Limitada possui algumas particularidades quanto a pressupostos encontrados nos artigos 1.077 e 1.114 para se dar a retirada:
Art. 1.077 – Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subseqüentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no art. 1.031.
Art. 1.114. A transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031.?
Resumidamente, a aquisição do direito ocorre quando, há uma alteração contratual em que ocorra uma divergência sendo notificada nos 30 dias seguintes a data da reunião.
Para COELHO (2010), as sociedades limitadas com prazo determinado é que dependem das particularidades acima mencionadas:
Das sociedades limitadas por prazo indeterminado de vínculo instável, o sócio pode retirar-se a qualquer tempo, independentemente de motivação. Das limitadas de vínculo instável com prazo determinado e das limitadas de vínculo estável, a condição para o exercício do direito de retirada é a divergência relativamente a alteração contratual deliberada pela maioria, incorporação ou fusão envolvendo a sociedade.
Visto isso, as sociedades limitadas por prazo determinado depende de motivação, já as com prazo indeterminado independem de motivação.

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