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AO HOMEM CONVÉM AMAR - Radha Krishna

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RADHA KRISHNA 
 
AO HOMEM CONVÉM AMAR 
 
EDITORA PONGETTI – 1969 
 
TRANSCENDÊNCIA 
 
 Não importa o ano que transcorre. Basta o leitor saber que, 
nesta época, nada é razoável. 
 Tudo assumiu descomedidas proporções. Todas as perspectivas são 
discutíveis, já que se vive em caos de inquietude crepuscular. A 
excitação de um final de CICLO salienta flagelos apocalípticos que 
desabam sobre nosso formoso Planeta de verdes revérberos, verdes 
florestas e verdes águas. O Terceiro Milênio encontrará o habitante 
da TERRA ainda empoeirado na ridícula vaidade de uma Ciência jovem e 
propósitos falhos... 
 Que importa o ano que transcorrer! Nesta fase, a TERRA e sua 
Humanidade padecem o transe das grandes angústias, dos terríveis 
pesadelos e das mortes coletivas... A despeito disso, subsistirá dos 
escombros finais: feridas, duramente provada, mas PURA, enfim! Os 
exemplares humanos que nela permanecerem, então, terão aprendido, 
finalmente, que AO HOMEM CONVÉM AMAR! 
 
 
“A ESCALA DO CÓSMICO, TODA A FÍSICA MODERNA NO-LO ENSINA, APENAS O 
FANTÁSTICO TEM POSSIBILIDADE DE SER VERDADEIRO.” – TEILHARD DE 
CHARDIN 
 
 
TRILHA DE IDÉIAS 
 
 OBRIGADA por ter vindo, GERALDO – disse a mulher simplesmente, 
os OLHOS VERDES sondando suavemente os olhos verdes do visitante. – 
Sente-se... ou ande, se preferir. Importa que fique inteiramente à 
vontade. As etiquetas para mim são dispensáveis. Inibem a criatura, 
tornando-a superficial. Malogram a autenticidade... Isto não 
significa, porém, que sou adepta ou simpatizante dos Movimentos que 
ameaçam a velha e sagrada Ética humana! 
 Alta e elegante, a figura do rapaz, camisa esporte negra, olhos 
magnéticos, ar felino, fez lembrar imediatamente o porte do RADIL do 
planeta KUNTI (espécie semelhante à pantera-negra terráquea). RUBY 
sorriu de leve e suspirou profundamente. Mesmo que não tivesse sido 
informada, jamais se enganaria com esse exemplar. Estava habituada 
aos inquietos exilados planetários... de KUNTI e de alguns outros 
mundos. GERALDO, ela creditava, nada sabia de sua origem. E, por 
certo, não daria crédito quando fosse informado. Era comum suceder 
assim... Quantas vezes havia acontecido caber à RUBY a tarefa pouco 
agradável de comunicar tão discutível fato. Habitual era ser olhada 
com espanto, receio... ou piedade. Quantas vezes havia chorado 
discretamente por ler no olhar de alguém um juízo patético: “Coitada! 
Deve ter alguns parafusos frouxos!" Ou, ainda: "Esta carece de 
diversão e me escolheu para gaiato". E muitos outros conceitos assim 
tão próprios daquele que ignora. Conclusões daquele que caminha sob o 
controle de um limite evolucional que não o capacita para entender, 
compreender, ou crer. 
 Enquanto brincava com a almofada de tecido metálico carmim, 
GERALDO demonstrava curiosa expectativa. 
 - Vamos tentar ignorar o calor - começou RUBY - Farei perguntas 
que acredito inesperadas. Pelo menos, fora da cogitação da maioria. 
 - Estou esperando. 
 - Responderá com absoluta autenticidade? 
 - É claro! Costumo ser autêntico. Agrada-me ser verdadeiro. NÃO 
MENTIR é um preceito que considero indispensável na minha vida. 
 - Observem! - Comentou RUBY, voltando-se rapidamente para suas 
irmãs presentes - Vocês teriam dúvidas quanto à origem planetária de 
GERALDO? Vejam os OLHOS! O rosto... que mantém ainda traços do radil 
de Kunti... 
 - Foi o que disse antes, não foi? - respondeu uma delas... a que 
respondia pelo nome de RAMÍ. 
 - KUNTI?! – surpreendeu-se o rapaz - Certa ~vez disseram-me que 
eu deveria ser de Vênus - As três mulheres trocaram ligeiro sorriso. 
 - Deixaremos seu planeta de origem para outra ocasião. Diga-
me... - pediu RUBY – Contenta-se, intimamente, com as atividades que 
se processam atualmente no mundo? Está satisfeito com a vida como tem 
de ser vivida em qualquer lugar do globo? Está contente com o que é? 
Não lhe assalta nenhuma inquietude? Nenhuma insatisfação imprecisa, 
mesmo quando estão atendidas todas as necessidades primárias 
exigíveis? Ou quando logrou êxito em suas aspirações? 
 - Uma pergunta de cada vez! É claro que não estou contente com 
as atividades do mundo hodierno, e nem sempre fico satisfeito com o 
que consigo realizar. Também não estou feliz com o que sou. Um 
artista, RUBY, parece jamais conseguir a perfeição que almeja. 
Especialmente, quando ele determina fazer de seu trabalho um 
instrumento de ajuda e esclarecimento para seus semelhantes. A 
verdade é que, à medida que o homem se aproxima do que chama 
desenvolvimento da vida orgânica, moral e intelectual, ele se 
dispersa... 
 - Você quer dizer: redunda num atraso... ou como se caminhasse 
em círculos? 
 - Mais ou menos isso. Vamos para diante! Pergunte. 
 - Acaso pensou mais demoradamente, algum dia, na condição 
provisória do corpo físico e sua inexorável, breve, extinção? 
 - Não, RUBY... Não me detive demais sobre isso. Devia? 
 - Acredito que seria da melhor valia uma meditação a respeito. 
Comecei a pensar mais profundamente no assunto, quando meu Instrutor 
Espiritual indicou-me as meditações de Marco Aurélio... com algumas 
restrições, naturalmente. No livro II, encontrei o seguinte período: 
 
 "Da vida humana, a duração é um ponto; a substância, fluida; a 
sensação, apagada; a composição de todo o corpo, putrescível; a Alma, 
inquieta; a sorte, imprevisível; a fama, incerta." 
 
 - E mais adiante, no livro III: 
 
 “... lembra, ainda, que cada um vive apenas o presente momento 
INFINITAMENTE BREVE. 
 O mais da vida, ou já se viveu ou está na incerteza. 
 "Exíguo, pois, é o que cada um vive; exíguo, o cantinho de terra 
onde vive; exígua até a mais longa memória na posteridade, essa mesma 
transmitida por uma sucessão de homúnculos morrediços, que nem a si 
próprios conhecem, quanto menos a alguém falecido há muito." 
 “Não procedas como se houvesses de durar dez milênios; o FIM 
INEVITÁVEL PENDE SOBRE TI; enquanto vives, enquanto podes, torna-te 
um BOM." 
 
- Acredito que seria válido meditar sobre o assunto... 
- Estamos vivendo o "momento infinitamente breve" de que falou 
aquele sábio, GERALDO. Sim... Vale a pena falar disso. Não é assunto 
que constitua, fonte de sombras, mas promessa de luz! Quanto mais me 
adentro nele... mais encontro pequeninas porções de mim mesma. Como 
se penetrasse um laboratório pessoal de pesquisas... e, insatisfeita, 
buscasse sempre novos resultados, sem me deter naqueles já 
conquistados – Voltando-se para o rapaz, ela prosseguiu - Nunca lhe 
ocorreu sentir-se qual uma máquina, acionada por forças 
desconhecidas? Ou outras vezes, em que seu arbítrio reclama... quase 
intima... uma urgência inexplicável? 
- Muitas vezes, senti-me assim... Impulsionado para fazer coisas 
que não imaginava ser capaz. Sim, muitas vezes tenho estado às voltas 
com a urgência inexplicável de que fala. Urgência de saber tudo 
acerca do que ignoro! Preocupação de investigar a verdadeira origem 
do Homem. Não, RUBY, não estou nada satisfeito com o que sei. 
Inúmeras vezes perguntei-me: estariam certos os que falaram e 
escreveram sobre o princípio do Homem? Estariam certos, quando até 
hoje a evolução humana mostra-se tão precária; quando se cultivam 
ainda sentimentos tão inferiores como o ódio, a maledicência, etc.? 
Também tenho feito a auto-indagação usual: "QUEM SOU?"... "DE ONDE 
VIM"... "PARA ONDE VOU?". 
- Pois é... A Antropogenia explica os fenômenos da geração 
humana. A Antropologia ocupa-se de sua classificação cultural e 
etnológica... Ainda a Antropometria encarrega-se das dimensões 
diversas do corpo. E, por fim, teme a mais interessante das ciências 
citadas, a Antroposofia,que se incumbe da natureza moral do Homem. 
Mas... a insatisfação face à ORIGEM continua. Os limites do 
conhecimento alcançado são palpáveis! Enquanto isso, a verdadeira 
natureza do Homem exige outras respostas. Reclama outro nível de 
percepção. Para uns, isso não ultrapassa movimentos infra-
conscientes. Pala outros, como nós, manifesta-se como instância que 
não cede. 
- Daí - falou GERALDO, pensativo, - essa necessidade de meditar, 
investigar, de duvidar das noções tão pouco elucidativas que nos 
foram legadas. MAS, RUBY! Onde encontrar as fontes idôneas para 
pesquisar? 
- Acredito que as fontes sempre aparecem, quando desejamos com 
firmeza alcançar um propósito superior. Começamos buscando 
inconscientemente. Depois, vêm as tentativas tateantes, já no campo 
do consciente. Ensaios válidos. Como a criança que engatinha... e 
tenta os primeiros passos. Sem sombra de dúvida, uma força dirigida, 
embora, às vezes, mal canalizada. Veja! Não lhe ocorreu a necessidade 
de projetar-se, através do pensamento, pelas dimensões ainda ocultas, 
numa débil tentativa de assimilar as modificações manifestadas pela 
GRANDE ORIGEM? 
- Sim, isso já me ocorreu. Não apenas uma vez... Chego a desejar 
que meu pensamento alcance distâncias imensas: milhões ou bilhões de 
anos luz! Outros planetas habitados por Inteligências superiores ou 
simplesmente diferentes da nossa. 
- A verdade é que tropeçamos em acontecimentos que surgem com a 
fachada do ACASO e não, passam de diretrizes para a conquista da 
AUTO-CONSCIÊNCIA. Você acredita no ACASO? 
- Pensando bem, acho que não. 
- Para tudo há explicações coerentes, GERALDO... Ainda que se 
tenha de esperar algum tempo por elas. Agora, diga-me... o que pensa 
do AMOR? Refiro-me, naturalmente, ao sentimento que simplifica e 
acomoda as deficiências do mundo e dos homens. Daquele que se mantém 
acima das limitações tão próprias do estágio da criatura terráquea. 
GERALDO levantou-se e passeou, agitado, de um lado para o outro 
da sala. Começava a demonstrar maior entusiasmo com o desenvolvimento 
das idéias. Tirou do bolso um maço de cigarros. 
- Permite-me? 
- Sem dúvida. Esteja à vontade. Olhe! Estes sapatinhos indianos 
de bronze, são cinzeiros... embora micro-cinzeiros. O fumo não é 
consumido por nós aqui de casa, mas não me aborrece o cheiro do 
cigarro ou do cachimbo. O diabo é o charuto! Sou capaz de desmaiar 
literalmente com o terrível aroma de qualquer deles. 
- O que há de errado com o fumo, RUBY? 
- Assunto controverso, amigo. As pesquisas científicas vêm 
acusando o fumo de PERIGOSO. Tem sido apontado como causa de 
câncer... Agora mesmo, nos EUA, está sendo veementemente combatido. 
- Não me referia a esse aspecto. 
- Ah! No que diz respeito ao aspecto espiritual... é muito 
negativo. Obstrui os canais de percepção sutil. Se os poros de um 
indivíduo estão vedados, a pele não respira, não é verdade? Pois 
bem... O mesmo se dá com o consumo do fumo, do álcool ou da carne. Os 
animais abatidos são criaturas já bem "despertas" no seu estágio de 
vida. Percebem, sentem, sofrem... Alguns deles revoltam-se na hora de 
serem mortos. Essa vibração de revolta e agonia permanece na carne, 
mais tarde ingerida pelo Homem. É evidente que não fará nenhum 
benefício ao organismo humano. Além disso, há outros inconvenientes: 
a carne como transmissora de doenças, micróbios ou vírus 
desconhecidos. A criatura em seu estágio hominal... não devia mais 
ser carnívora. A Evolução tem seus degraus... Enfim, meu amigo, 
abolir o consumo da carne, do fumo e do álcool constitui para nós 
higiene física e psíquica. Muitos julgam tratar-se de sentimentalismo 
religioso. Nada disso! É uma resolução inteligente. Só isso. 
- E o fumo? - insistiu interessado. 
- Além de risco para a saúde física, salienta-se o aspecto 
astral. Os viciados desencarnados são atraídos para os fumantes do 
plano físico. Pretendem com isso saciar suas necessidades prementes, 
sem solução no plano ou dimensão onde estão. Através do viciado 
encarnado, absorvem a ilusão de tragar a fumaça. E daí... resultam 
companheiros constantes. Tais elementos, evidentemente, são 
habitantes do astral inferior e, por conseqüência, vizinhança 
negativa para o habitante de cá. Se os fumantes pudessem visualizar 
seus acompanhantes ou "simpatizantes"... com certeza mudariam de 
"diversão". 
- Agora, RUBY, podemos voltar à sua pergunta anterior? 
- Estou esperando a reposta. 
- Sabe... - começou ele. – Desagrada-me ver a palavra AMOR tão 
explorada, tão mal aplicada. Quando penso no AMOR, sinto-O como 
PODER! Intimamente ligado à necessidade de dar o melhor de nós 
mesmos... de respeitar o próximo e ser verdadeiro em nossos atos e 
palavras. O AMOR é essa necessidade que sinto de sondar a Força 
silenciosa que vigia, muitas vezes, por um par de olhos. Força que é 
capaz de transformar e transportar a criatura a alturas 
desconhecidas. Que pode manifestar-se em qualquer um, em qualquer 
momento, ou retirar-se tão inesperadamente como chegou... como é 
comum ocorrer. E você, RUBY, como crê no AMOR? 
- Aí está algo de difícil definição. Talvez tenhamos os mesmos 
ângulos de visão. A diferença está apenas na forma de exprimir a 
idéia. Creio no AMOR como FORÇA AUTO-EXISTENTE, FONTE AUTO-ATIVA, 
irradiante. Pode ser captada em seus múltiplos aspectos, segundo a 
sensibilidade e evolução de cada criatura. Creio no AMOR como 
incógnita inconquistada, de manifestações sempre renovadas... Energia 
dominante, mal canalizada, mal pesquisada, pelos falhos sentidos 
humanos. Particularmente, penso que o Homem terráqueo não está ainda 
satisfatoriamente equipado para interpretar o AMOR. Detecta suas 
muitas FACES, de maneira dispersa, mas... foge-lhe a ESSÊNCIA! Ainda 
assim, creio firmemente que é o AMOR a única religião conveniente ao 
Homem. E o único Ideal também. Porque é a Força Todo-Poderosa que se 
desprende d'Alma e abraça os múltiplos aspectos da Natureza, onde 
também impera... Porque somente o AMOR encaminha o Homem sutilmente 
para o auto-descobrimento, projetando-o às escalas cósmicas de 
transcendentais realidades. Para muitos pode parecer ingênua ou mesmo 
ridícula tal concepção. Mas... que importa a opinião humana, quando a 
inconstância é sua mais forte característica? 
A formidável INTELIGÊNCIA-ORIGEM tem se revelado sempre AMOR, a 
despeito da ignorância evidente que pesa s sobre os habitantes deste 
e de muitos outros mundos semelhantes. Mesmo os sábios do átomo, hão 
de tropeçar constantemente em indagações que persistem em permanecer 
"MISTÉRIO". Ignoram os movimentos e transformações que o AMOR opera 
no Homem e na Criação... Nos micros como nos macromundos! Sim, meu 
amigo, IGNORAM! Ignoram que o AMOR está presente, como origem de 
todos os enigmas: conciliador de todos os impulsos, transmutador de 
todas as fronteiras, luz de todos os fenômenos, essência-mater de 
toda Verdade, unificador de todos os caminhos... Conclusão de todas 
as buscas! 
Sabe, GERALDO, nada poderia acrescentar ao que acabei de expor. 
Sou um exemplo simplório da espécie que represento. Descontentam-me 
as complexidades. Como já disse, não aprecio etiquetas, excesso de 
artifícios e tudo mais que possa ferir frontalmente a simplicidade da 
vida. Exatamente porque acredito que a vida do Homem deveria 
desenvolver-se RUMO AO AMOR... que é toda SABEDORIA a ser conquistada 
em trilhas tão lentamente descobertas... E mais lentamente ainda 
percorridas. 
- Tem razão... - concordou o rapaz, sempre pensativo, voltando a 
mover-se pela sala como um grande gato negro. - O homem terráqueo é 
preguiçoso. Caminha devagar demais. A mente, quando não evolui, 
estaciona e,conseqüentemente, acaba numa neblina, que chamo 
autodestruição. Observa-se, hoje em dia, sem muito esforço, a 
necessidade humana de transpor os limites já alcançados. Daí o menos 
evoluído carecer de tóxico para atingir emoções diferentes ou a 
percepção de outros alcances. 
- Ninguém pode negar uma mudança em tudo. Está evidente. Uma 
mudança inevitável que assusta! Os valores humanos estão sendo 
trocados. Estranhamente trocados! O psiquismo do homem fatigado gera 
comportamentos enfermiços, forja conceitos torcidos de libertação. 
- Muitos, porém, estão despregando-se, embora quase 
imperceptivelmente, das confinações terráqueas. Estão sendo 
sutilmente preparados para alcances de proporções cósmicas. 
- Já que estamos falando de tais alcances, quero perguntar-lhe: 
deteve-se, alguma vez, na idéia de um outro infinito dimensional, 
semelhante e correspondente ao nosso? 
- Sem dúvida! E respeito toda e qualquer consideração, sobre o 
assunto. 
- Nesse caso, qual a sua opinião a respeito dos "PORTAIS" ou 
"PASSAGENS" para outras dimensões? Tem algum conceito já formado? 
- Como assim? 
- Bem... Existem os "PORTAIS" propriamente ditos, que são 
engenhos construídos e controlados por Inteligências superiores. 
Enquanto que as "PASSAGENS" são aberturas naturais, fixas ou 
provisórias, que dão acesso a outras FAIXAS dimensionais, superiores 
ou inferiores, sujeitas a outras leis, como por exemplo: diferentes 
graus de densidade de matéria. E ainda outros fatores que escapam à 
sabedoria do terráqueo comum. 
- Concordo com isso, mas não me interesso pelos PORTAIS 
construídos. As máquinas deveriam estar ultrapassadas para as 
Inteligências superiores à nossa. 
- É preciso levar em consideração, GERALDO, que existem Raças 
que evoluem mais no sentido da mecânica, da tecnologia... 
- Está certo, mas o que me toca mais profundamente a 
sensibilidade são as Altas Inteligências ou Super-Raças que já 
atingiram evolução tal que as capacitaram para a posse de mentes 
super-poderosas... 
- Falo das Inteligências que ultrapassaram a dependência das 
máquinas. Quando desejam transpor grandes distâncias e limites 
dimensórios ou inter-dimensórios, usam apenas o poder mental para o 
transporte da matéria que compõe corpos ou objetos. 
- De minha parte... aprecio os mais diversos níveis de evolução. 
Encontro neles belezas novas, interesses de grande efeito. 
Ocasionalmente, tocando idéias com certo jovem de nome ARUNA, toquei 
de leve sobre este assunto. Sei que penso dessa forma há milênios. 
Acredito que seguirei pensando assim ainda por muito tempo. Não basta 
ao Homem, seja de que planeta for, conhecer Galáxias ou aprofundar-se 
nos mistérios das grandes RADIAÇõES. É preciso... é indispensável que 
o Homem conheça intimamente as várias definições da NATUREZA! Que 
decifre, por vários ângulos, os envolventes câmbios. Que chegue a 
conceber as grandes vertigens, as revoluções da FORMA... E até mesmo 
o singelo segredo da Concha marinha! (pág. 148/149 do livro "Raí... 
Fantasma ou Enigma Cósmico?"). É assim que penso... e sinto. GERALDO. 
* 
* * 
 
FALHA O OPERADOR CONSCIENTE 
 
SHALIMAR entrou na sala com seu passo miúdo, gracioso. Esboçou 
tímido sorriso, enquanto seus olhos amarelos, expectantes, analisavam 
RUBY abandonada numa poltrona, abstraída. 
- Sozinha? - indagou. 
- É o que parece... segundo os velhos conceitos da lógica e da 
razão - brincou RUBY, voltando-se devagar para a moça. - Posso estar 
enganada. O Homem nunca está só... em verdade. 
- Notícias de GERALDO? - quis saber. Sentando-se na outra 
poltrona. 
- Nenhuma. 
- Não vai tentar saber? - insistiu. 
- Não. As criaturas têm sempre razões supostamente válidas para 
esquecer compromissos... sejam simplesmente comerciais, sociais ou 
espirituais. É um homem muito ocupado. Deixaremos as coisas como 
estão. Não me compete mudar a feição dos fatos. Ou das resoluções 
alheias. Para ele houve um "chamado". Espécie de convocação para 
atividades que interessam ao Espírito... e só a ELE dizem respeito. 
Quando isso ocorre, surgem obstáculos de aspectos vários. Tropeços 
aparentemente intransponíveis. GERALDO deve estar enfrentando 
impedimentos... internos ou externos. E não terá forças para supera-
los... infelizmente. Lamento. Quando o Homem foge a essa, espécie de 
chamado, mesmo diante de verdadeiras barreiras, paga tributo pesado à 
oportunidade perdida. 
- Você havia dito que ele brevemente estaria apto para elevados 
empenhos... 
- Sim... se houvesse escolhido certo. Seria capaz de atingir, em 
um tempo mínimo, os Caminhos que levam a uma super-ciência. 
- Que pena! - lamentou SHALIMAR. - Não há como intentar uma 
solução para modificar o panorama atual? 
- Não! Não vamos abordar este tema. Não se deve forçar uma 
reação provável, baseado apenas na tendência dos grandes valores 
latentes. Não, SHALIMAR... Pense bem! Há um oscilador virtual em cada 
criatura. Conheço pouco das variações de freqüência e suas 
complexidades. Não é a primeira vez que luto com dificuldades 
experimentais. É bom que GERALDO determine, pessoalmente, - enquanto 
seu arbítrio permite!, - o que convém ao seu atual processo de 
transição sutil. Agora... vamos falar de outra coisa. 
- Está certo. Não falemos mais disso. Em que pensava, quando 
cheguei? Tinha o olhar triste, distante. 
- Cogitava sobre a Flauta... Pensava nos cambiantes anseios da 
alma humana, que ela interpreta tão bem! Pensava que, embora o 
HINDOSTÃO possua tantos instrumentos, numerosos em som e contextura, 
só a Flauta eternizou-se como "mensageira dos ternos acordes". 
- A flauta de bambu! - suspirou SHALIMAR. - Tão diferente da 
flauta moderna! 
- Muito diferente... - a voz de RUBY tornou-se mais e mais 
cadenciada. Quase morria. - Houve época em que uma flauta singela 
encantou a alma das gentes de Gokul e Vraja. 
- Ah! O Senhor KRISHNA... - suspirou ainda SHALIMAR como se 
revivesse tão remoto passado. 
- CHANDI DAS, o hindu, escreveu em seus poemas... que KRISHNA 
falou certa vez para determinada Gopi (pastora), a quem amava 
infinitamente: 
 
":Escuta RAI... Para tocar a flauta há que se adotar primeiro a 
posição do músico. Só então a flauta será suscetível de proporcionar 
algum deleite. Imita minha posição. Dobra o joelho de tua, perna 
esquerda, que cruzarás com teu pé direito. Inclina a cabeça para a 
esquerda e assim expressa-te... fala com tua flauta... "regozijaste 
com tua música!" 
 
- Quando você entra em cogitações sobre a gente simples de 
Gokul, Vraja e os efeitos da tosca flauta de KRISHNA, RUBY... com 
certeza é a velha auto-insatisfação que está revolvendo seu mundo 
interior. 
- Tem razão... - suspirou a mulher. Os OLHOS VERDES mais VERDES 
sob a intensidade de uma radiância dominante. - Falhei na minha 
tarefa. Isto é tudo. Não cabe lamentos. FALHEI... Não há consolo 
possível. Cada vez que acontece, sofro os efeitos devastadores do 
auto-descontentamento. Tufão que não dá trégua... por muito, muito 
tempo. 
- Em suma: quer dizer auto-punição. Como sabe que falhou, quando 
a desistência não foi sua? 
- Nada de auto-punição, querida. Auto-descontentamento na 
acepção da palavra. A falha existe, embora a contragosto. Você não 
tem noção, SHALIMAR! Não concebe os câmbios indefinidos, as mutações 
profundas, que experimenta a Alma humana. Os "resíduos" do passado 
milenar de aprendizado em diversos retornos, retêm influências que 
escapam à percepção sensorial. Por exemplo: às vezes alguém 
antipatiza com você no primeiro encontro. Injustificável no quadro 
atual de sua vida. Entretanto, são reações subjetivas, decorrentes de 
sentimentos arquivados na "adega escura"de FREUD. Em alguns casos, 
motivos arquivados há séculos ou milênios, em outras encarnações. Da 
mesma forma o estranho mecanismo funciona com sua outra face: a tão 
comentada "atração à primeira vista". Trata-se, portanto, de remotos 
contatos positivos ou negativos, que não figuram no consciente, mas 
persistem como clichês vivos, intactos, no inconsciente... Enfim, são 
causas assim que têm, vez por outra, constituído facetas 
determinantes no resultado da minha tarefa espiritual. 
- Nesse caso, - murmurou SHALIMAR, - o "Operador" mais hábil 
estaria fadado a falhar... 
- Não, se contar com os fatores TEMPO, OPORTUNIDADE e PUREZA DE 
INTENÇÕES, para pesquisar a famosa "adega escura"... Para enfraquecer 
a excitação do clichê negativo, ativando, conseqüentemente, os 
movimentos positivos do novo clichê. A mutação das impressões 
anteriormente recebidas, cabe à NATUREZA, mas... a superposição da 
energia constante, transmitida pelas ações positivas do "Operador", 
acabariam por modificar a influência negativa do clichê antigo. E uma 
reação passiva permitiria o estado receptivo desejado. - RUBY 
silenciou. 
- Este assunto tem a força de feitiço. Em que está pensando, 
agora? 
- Numa frase que se refere a CENTRAL-ORIGEM de todo existir. Não 
me pertence, é claro. 
- Posso conhece-la? 
- Sem dúvida... "NO ME BUSCARIAS SI NO ME HUBIESES YA 
ENCONTRADO"... 
- Sábias palavras... Ninguém buscaria a DIVINDADE... se não 
soubesse, embora subjetivamente, que ELA EXISTE! 
* 
* * 
 
TREINO PRIMITIVO PARA UM “SENTIR" AVANÇADO 
 
 GERAINE passeava de um lado para outro do quarto amplo, decorado 
em vermelho-gerânio. Cabelos desalinhados. Olhos brilhantes de fúria. 
Déshabillé vestido com displicência. Nenhuma pintura. Alçando os 
olhos esverdeados para a visitante, disse simplesmente: 
 - Chegou bem na hora, RUBY. Estou precisando de você. - A voz 
era comum e inexpressiva. 
 - Coincidência conveniente, então? - fez a outra, ocupando a 
poltrona cor de gerânio. 
 - Você ensinou-me a não acreditar no "acaso" ou nas 
"coincidências", lembra-se? Agora, não vai querer que aceite a 
possibilidade de ter conseguido "atraí-la" para minha casa com o 
"poder da minha mente" - motejou. 
 - A mente possui qualidades que o vulgo desconhece, minha cara. 
 - Pode ser. A minha, porém, está desacreditada. Se possuísse 
algum poder, Marcos estaria em casa neste momento. - GERAINE apanhou 
o maço de cigarros na penteadeira. Acendeu um com movimentos bruscos. 
Suas mãos estavam trêmulas. Os negros cabelos, quase lisos, 
desalinhados, roçaram-lhe os ombros. RUBY aguardava quieta. Os OLHOS 
VERDES estreitados, sondando as reações da jovem senhora. 
 - Imagino que esteja estranhando a fumaceira - prosseguir 
GERAINE, fitando o cigarro como se o visse pela primeira vez. 
 - Estranhando? De modo algum. Seus nervos estão em péssimo 
estado. Isto está evidente. Se voltou a fumar é porque fracassou na 
tentativa de evita-lo. Muito natural. Em que posso ser útil, minha 
cara? 
 - Fico doente só de ver sua calma! - explodiu a outra. 
 - O que deveria fazer? Gritar, dar-lhe um par de bofetões para 
acalma-la... ou destruir seu maço de cigarros? O que pareceria mais 
lógico para você? 
 - Está bem... Pareço doida. E você não é amiga igual as outras. 
Às vezes, penso que vou conseguir comportar-me com equilíbrio, como 
você aconselha. Sei que seus ensinamentos são lógicos, benéficos, 
belos. Sei que deseja ver-me feliz... Mas... não mereço seus 
cuidados, RUBY. Falta-me sutilidade para responder ao seu padrão de 
sabedoria. 
 - Ora! Isto é o que se chama "fuga". Um psicanalista bem 
intencionado não hesitaria em deixar bem claro que você está sempre 
arranjando escapatória. Onde está seu marido? 
 - Divertindo-se por aí. Nos braços de alguma... - murmurou entre 
dentes, enquanto esmagava o cigarro no cinzeiro, com fúria contida. 
 - Não fale assim! Marcos ama você, GERAINE. E, nesse caso, 
considero descabida a acusação. 
 - O que você disse? - gritou a outra - Isto é uma tolice! 
 - Admito que não tem tido comportamento convincente, mas... 
 - Mas... coisa alguma! Marcos deixa-me só constantemente, RUBY. 
Já contei isso, não contei? Nenhum homem que ame sua esposa teria um 
comportamento assim. E temos apenas cinco anos de casados. Qualquer 
tempo vago, corre para a casa do tal Valter. Um salafrário que 
costuma trair a mulher, até com criadas! Qualquer tempo vago, minha 
querida, e lá vai o Marcos "jogar xadrez" em casa do Valter. "VOU 
JOGAR XADREZ, DOÇURA", é o estribilho. Estou saturada, RUBY! Devia ao 
menos trocar o pretexto, de vez em quando. "Vá ao cinema, querida", 
acrescenta apressado. "Procure distrair-se, minha bela"... ou "Leia 
um livro" conclui distraído. Ah! Tenho ganas de incendiar a casa e 
fumar um cigarro no muro fronteiro. 
 - Acalme-se, GERAINE. - RUBY suspirou. A jovem senhora correu 
para sua penteadeira. Apanhou outro cigarro. Curvou ligeiramente a 
cabeça, num gesto gracioso, para acende-lo. - Não acredito que seu 
marido possa traí-la. Ainda não, GERAINE. O homem está mesmo 
interessado naquele jogo. 
 - Não tente consolar... 
 - Não estou tentando isso. Você quer Marcos em casa, não quer? 
Quer alcança-lo com os olhos todos os momentos em que não esteja no 
escritório, não é? 
 - Não há dúvida, mas... 
 - Não existe alternativa, menina. Aprenda a jogar xadrez! Compre 
um tabuleiro novo com suas 32 figuras atraentes. 
 - Acredita nesta solução? 
 - Acredito. 
 - Puxa! Vou acabar profundamente entediada. Jogar xadrez todas 
as noites, domingos e feriados? 
 - Bem... - garantiu RUBY, encolhendo os ombros. Não é assim tão 
sacrificial. Acabará habituada. E terá seu marido em casa... 
encantado com seu interesse por ele. Não esqueça de largar o cigarro. 
 - Mas, ele também fuma! 
 - Eu sei. Contudo, um hábito desagradável já é o bastante. 
Marcos notará seu hálito fresco, livre do odor do fumo... tão pouco 
atraente. Talvez pense demoradamente sobre o assunto, e acabe 
abdicando do cigarro também. 
 - Você é uma criatura encantadora, RUBY. 
 - Tem certeza? Uma solução tão simples não vale tal elogio. 
 - Não é elogio, querida. É... como você diz, simples 
constatação. 
 - Você não existe. Mulheres não costumam ser assim... com as 
outras. 
 - Não me considero apenas uma representante do meu sexo. Antes 
de tudo, sou Serva de propósitos que estão alem dos interesses 
materiais. Agora, venha aqui. Olhe-se no espelho. Na vida normal dos 
homens terráqueos, minha querida, uma esposa com este aspecto acaba 
por tornar-se "peça" integrante da casa. Passa despercebida. Não 
chama atenção. Não atrai. 
 - Tem razão... - concordou GERAINE, fitando com desagrado sua 
figura refletida. - Aí está algo de opinião neutra: o espelho! Sabe, 
RUBY, você realçou um ângulo da questão que parece muito importante 
agora. Com o tempo vamos deixando de lado certos cuidados. E 
pergunto: afinal é a mim, GERAINE, ou unicamente ao meu aspecto 
exterior que Marcos ama? Meus sentimentos, meu coração, minhas 
qualidades não contam? 
 - É claro que contam. Infelizmente, para o homem menos evoluído 
espiritualmente, a aparência está em primeiro lugar. E não se queixe! 
Há homens que preferem uma esposa rica. Contente-se, menina. Você 
teve sorte... ou mérito. Marcos ama você. 
 - Não posso perde-la de vista, RUBY. Quero-lhe muito! 
 - Pode ocorrer que não tenhamos muitas oportunidades de estar 
juntas. Quero que anote, GERAINE... - A voz de RUBY tornou-se mais 
doce. O olhar verde... distante. - O amor humano pode vir a ser muito 
forte, mas... geralmente é extremamente frágil. Necessita de 
tributos: renúncias, cultivoe culto incessantes. Você tem o dever de 
ensinar a seu marido as delicadezas que o amor humano exige para 
sobreviver e florescer incansável. Não importa o número de anos que 
tenha passado pelo seu casamento. Antes de esposa, você tem o dever 
de ser namorada. Comportar-se como tal. O doce dever de fazer uso das 
pequeninas surpresas. O agradável dever de cuidar de sua aparência, 
de sua higiene, das pequenas outras coisas que estão em volta do seu 
romance. O dever de sugerir ao invés de exigir... O dever de 
compreender o momento oportuno de esgueirar-se e deixa-lo só consigo 
mesmo. O dever de ouvi-lo com atenção, tomando parte ativa nos seus 
pequenos ou grandes triunfos... como nas suas decepções. Enfim... a 
obrigação de provar que é indispensável na sua vida. 
 - Você não existe, RUBY... Seus conceitos são muito dignos. Não 
teria coragem de discordar deles, mas... ninguém é indispensável, 
querida. Todos são substituíveis. Especialmente substituíveis. 
Especialmente, uma esposa. O homem é louco por novidades. 
 - Você seria insubstituível... se agisse como mencionei. 
Qualquer mulher conseguiria isto, se ensinasse ao marido a amá-la 
antes de deseja-la. 
 - E se o ensinamento não for bem recebido? Não me parece tão 
fácil assim. 
 - A mulher inteligente sempre sabe quando há possibilidade de 
ser amada e não apenas desejada. E, nesse caso, um ensinamento sutil 
é sempre bem aceito, porque... AO HOMEM CONVÉM AMAR. 
 - Nisso, ainda, tem muita razão - murmurou GERAINE, com olhos 
nublados. 
* 
* * 
 
MAUS PRENÚNCIOS 
 
ACENANDO um exemplar do jornal "O GLOBO" (25-6-69), RAMI, irmã 
de RUBY, entrou em casa. 
- Aí está, querida! - disse com acento entusiástico. - O que 
você tanto tem falado nestes últimos tempos. Nunca pensei que suas 
suposições viessem a ser confirmadas tão depressa. - RUBY pegou o 
jornal, algo surpresa, e leu: 
- “Advertência de U THANT na ONU: ENVENENAMENTO DO AR AMEAÇA DE 
EXTERMÍNIO A VIDA SOBRE A TERRA." 
"O Secretário-Geral da ONU, U THANT, apresentou ontem um projeto 
para enfrentar e resolver o problema do envenenamento do meio-
ambiente, advertindo que "se não se agir em tempo, estará em perigo o 
futuro da vida na Terra,." 
- Ah! Isso é bom sinal. Ao menos - comentou RUBY em voz apenas 
audível - começam a perceber que estamos em maus lençóis. 
Entretanto... 
- Entretanto? 
- Ora! As pesquisas, como diz a notícia, "revelam que, além dos 
gases patogênicos emanados por fábricas, motores a explosão, etc., o 
uso de inseticidas, formicidas e fungicidas de todas as naturezas 
pode causar danos aos homens e aos animais, através dos vegetais que 
lhes servem de alimento." É claro que estão no inicio do caminho. Há 
algum tempo atrás, certo escritor que considero inteligência 
respeitável já havia comentado à respeito. E dizia assim: "Aonde 
temos chegado? O contato com os neutrões tornam radioativos a todos 
os elementos. As exposições nucleares experimentais envenenam a 
atmosfera do planeta. Este envenenamento, que progride em proporção 
geométrica, aumentará extraordinariamente o número de crianças 
nascidas mortas, de cânceres e de leucemias, estropiará as plantas, 
transtornará os climas, produzirá monstros, nos romperá os nervos e 
nos afogará..." E assim por diante. 
 - Nesse caso, para mim, a notícia deixa de ser "um furo". - E 
fitando o cenho franzido da irmã, indagou. - O que não está 
coincidindo, RUBY? 
 - Bem... minha convicção não é, apenas, ou, exatamente esta. 
Esta ameaça já está pairando sobre nós há mais tempo. Tenho falado 
sobre outro aspecto de ameaça que visa o mesmo extermínio de nossa 
raça... mas tem outra origem. É uma convicção, possivelmente 
infundada. Contudo... insisto em mantê-la, até prova em contrário. 
Para isso, terei de esperar indefinidamente. 
 - É verdade. Você está farta de falar sobre isso... e nós, 
fartos de ouvir... sem dar maior importância ao assunto. Vejamos 
agora... Explique-me sua idéia. Estou curiosa. 
 - Como disse, esta espécie de poluição do ar do que nossos 
cientistas agora tratam, é apenas UM dos muitos perigos que se 
prenunciam. Um perigo detectado. Há outros, entretanto, ainda 
ignorados. Sobre a poluição do ar, falei de passagem, em outubro de 
1954, num pequeno artigo publicado no jornal "O NOSSO", órgão 
espiritualista. Ultimamente, tenho falado mesmo é de CONTAMINAÇAO DA 
ATMOSFERA TERRESTRE, por mutação substancial nos componentes 
atmosféricos. Ou, simplesmente, por interferência de elementos 
estranhos ao meio-ambiente. Qualquer entendido que me ouvisse agora, 
com certeza forçaria um sorriso e, com muito tato, diria que os 
leigos são absurdos e temerários. Principalmente fantasistas. Isso, 
porém, não me faria abdicar da idéia inicial. 
 - Esclareça melhor. O que acredita, exatamente? 
 - Na inserção de ESPÓRIOÇ nas camadas de pressão que envolve o 
nosso globo. Células de vida endobióticas, capazes de resistir ao 
campo gravitacional e mesmo ao provável choque de moléculas gasosas, 
até alcançar a crosta, onde estamos. Simplificando: parasitos 
extraterrenos, seguindo uma linha de invasão controlada. Elementos 
que se nutrem da nossa vitalidade. ou mais claramente, do fluído que 
mantém a VIDA. 
 - Hum... É uma teoria provável – suspirou RAMÍ. 
 - Teoria? Pois sim. As características da minha assertiva estão 
bem diante de nossos olhos, ou daqueles que desejem uma investigação 
séria. Anote: os padrões de microorganismos surgidos. Os vírus 
insensíveis às pesquisas mais acuradas: indomáveis! As novas 
exposições epidêmicas, demonstrando resistência, a todo e qualquer 
combate da ciência. Um DESGASTE ENERGÉTICO constante nas criaturas: 
bem ou mal-alimentadas. Residentes nas cidades ou no campo. Tudo 
junto, sendo submetido a uma sondagem imparcial, acabará, provando um 
combate lento, mas decidido. Ainda mais, temos a RONDA CONTÍNUA dos 
Objetos Não Identificados (Discos Voadores), dos mais variados tipos, 
coincidindo com Hipótese tão viável. Todos já sabem: não é de agora 
que somos "espionados" por Inteligências extraterrenas. Positivas e 
negativas. 
 - Está certo, mas... não se pode acusar ser a fonte do desgaste 
energético de que falou, o excesso de atividade da era atômica? 
 - Naturalmente, muitas outras fontes poderão ser apresentadas 
como resposta coerente. Mas, isto, apenas quando se desejar negar a 
evidência, antes de um exame imparcial e veramente estudioso. 
 - Tem razão... - concordou RAMI, largando a bolsa, com ar 
preocupado. - Os cientistas percebem, finalmente, a ameaça... mas 
estão se apoiando em causas atuantes no próprio planeta. 
 - Não tem importância. Não importa por onde eles comecem. Temos 
que esperar. Nada pode ser feito, até que a Ciência atente para as 
dimensões exatas da verdadeira causa. Teremos que esperar... Talvez 
até a captura de uma das Células Invasoras, e conseqüente pesquisa de 
seus associados, interpretação correta de sua freqüência, etc. 
 - Diante de tal concepção, qual seu conceito acerca de COMO 
debelar tais Espórios? 
 - Meu conceito a este respeito nada vale, maninha. Os leigos não 
opinam convenientemente em causas da Ciência: estão fora de 
cogitação. 
 - Não importam as proposições da Ciência neste momento, querida. 
Elas virão com o tempo, como você disse. Possivelmente, no tempo 
certo para os rumos cármicos desta Humanidade. Quero conhecer o que 
você concebe como reação imediata. 
 - Posso expor meus pontos de vista, se você prometer não rir. 
 - Às vezes, meus reflexos são lentos, você sabe. Talvez ria 
depois. Vamos lá, RUBY, fale! Exponha! 
 - Está certo. Vamos lá... Como disse antes, a COISA rompe o 
equilíbrio energético dacriatura vivente. E, como qualquer outro 
elemento também vivente, possui freqüência própria. Acredito que uma 
constante VIBRAÇÃO DE AMOR liquidaria o invasor, na pessoa que 
possuísse tal freqüência dinâmica. 
 - Vibração de AMOR? Você quer dizer uma reação pessoal?! 
 - Por que não? A vibração do AMOR SUPERIOR no elemento humano 
representa uma freqüência de limiar indefinido ainda. É a maior força 
experimentada pelo Homem, minha irmã! É claro que não estou fazendo 
referências a qualquer tipo de atração física ou suas resultantes. 
Repito: acredito que uma vibração mais ou menos constante de 
freqüência superior, altamente dinâmica, desenvolve no indivíduo 
propriedades de potencial que alcança limites ainda ignorados. Esta 
seria a força capaz de liquidar, na intimidade humana, a ameaça 
invasora. Você compreende, RAMI? É a própria natureza do sentimento 
(vibração) experimentado que emite, desenvolve e movimenta forças 
ainda não pesquisadas, mas latentes no "EQUIPAMENTO ORIGINÁRIO" do 
ser humano. Os ensinamentos de JESUS alcançavam muito longe, querida. 
Lembre-se! ELE ensinou: "AMAI-VOS UNS AOS OUTROS... assim como EU vos 
amo". E também: "Só O AMOR SALVARÁ O HOMEM!", etc. E tudo isso não 
dizia respeito apenas ao decorrer das vidas em sociedade, ou aos seus 
carmas individuais. Dizia respeito, especialmente, ao carma coletivo, 
que se processaria neste final de milênio. 
 - É... Considero plausível sua convicção. A exposição foi 
clara... A cura ou combate a um elemento parasito endobiótico tem 
mesmo que vir de dentro, já que atua sob aspecto tão inesperado. 
Qualquer intervenção de fora para dentro, resultaria inoperante. Você 
tem razão, RUBY... e JESUS estava com ela INTEIRINHA! AO HOMEM CONVÊM 
AMAR! Pena que tão poucos aceitem esta verdade, sem tentar torce-la. 
Sem tentar reduzir seus legítimos valores a uma "freqüência” da mais 
baixa dinamização. Pena que a Ciência ainda tenha de demorar... até 
detectar o elemento invasor. 
 - Isso também faz parte das condições cármicas da Humanidade da 
TERRA e suas resultantes. O Homem, em sua vaidade, já supõe haver 
adquirido a chave que permite o acesso à mecânica do Universo. Na 
verdade, porém, nem chega a perceber que somente seu próprio 
ESPÍRITO, entrando em vínculo com o ESPÍRITO UNIVERSAL pode detectar 
a LEI do "eterno progresso de concentração". E depois conceber que é 
nesse progresso de concentração que resulta a expansão cósmica. 
* 
* * 
 
OUVINDO DORIAN 
 
 OBRIGADA por ter consentido em responder minhas perguntas, 
querida – começou RUBY, com ar muito sério. – E, também, por permitir 
que sejam publicadas. – Os olhos escuros da jovem senhora tiveram 
fulgor de ternura. Acomodou-se melhor na poltrona coral e disse com 
aquele seu peculiar acento de lealdade. 
 - Sabe que tais formalidades são desnecessárias, RUBY. É por 
conhece-la bastante que estou aqui. Pergunte o que desejar. 
Responderei com a autenticidade que você sempre espera da mente e do 
coração humano. Especialmente dos que vivem à sua volta. 
 - Diga-me, então, DORIAN. Acredita mesmo ter sido, em outra 
vida, a francesa Christiane d’Artois, a mesma que, em fenômeno de 
metempsicose, ocupou temporariamente o corpo da indiana Mira, em 
MAHABELIPUR? 
 - Não posso ter a menor dúvida. 
 - Por que? Simplesmente porque tomou conhecimento da ocorrência? 
 - Não. É difícil explicar. Sei que não o farei com a clareza 
exigível. O fato é que sinto-me realmente Christiane d’Artois. Sinto 
que pensei, agi e sonhei como ela o fez naquela ocasião em Marselha. 
E isto não quer dizer que encontro similitudes entre as duas 
personalidades, apenas. Não! Christiane d'Artois não se assemelha a 
mim: SOU EU. Sei que parece estranho tal afirmativa, mas posso 
assegurar com inteira lealdade que a sensação pessoal é autêntica. 
Não faz diferença que eu seja acreditada ou não. Não modificaria 
coisa alguma a opinião alheia. Não sou impressionável nem sujeita a 
auto-sugestão. Também não encontro absurdo no fato, nem mesmo 
mistério. Pelo contrário. Para mim, constitui uma realidade simples, 
que veio justificar certas atitudes atuais desconexas, resultantes do 
inconsciente, por certo. Ademais, o retorno da alma humana, através 
de vários corpos, em aprendizado nos diversos planos da criação, não 
é mais proposição desconhecida nem considerada incabível. Nem mesmo é 
pertence de nossas crenças pessoais, RUBY. Hoje em dia, as reflexões 
da própria Ciência prometem descobertas interessantíssimas! 
Proximamente, os "mistérios" e "milagres" serão esclarecidos nos 
tubos de ensaio de um laboratório, como você tem dito sempre. Ou nas 
experiências obtidas através de novos engenhos captantes de mensagens 
cósmicas. Então, tudo o que nossos estudos particulares de metafísica 
têm simplificado e esclarecido, serão considerados e aceitos pela 
medida dos homens. 
 - É verdade... Entretanto, tenho encontrado ainda muitos 
intelectos privilegiados, estreitamente confinados aos limites 
provisórios da lógica e da razão humana. Quando estas são 
inegavelmente passíveis de valores novos, segundo o progresso de seus 
gênios. Passíveis de mutações, como tudo neste fim de milênio. 
Mutações inesperadas, mas que terão de ser inevitavelmente aceitas. 
Todos terão de encontrar-se habituados a idéia da existência de 
outros planetas, habitados por Inteligências que ultrapassam os 
padrões humanos, e precipitam o progresso mental terráqueo, por 
conseqüência. Sacudindo a ignorância das concepções limitadas. – RUBY 
brincava com o lápis sobre o bloco de papel de anotações, enquanto 
seus olhos verdes mergulhavam em aparente abstração -. E não apenas 
isto! Conceberão também a existência de planetas e humanidades 
inferiores à nossa. Pequeninos inferninhos primitivos. Ou, quem sabe, 
paraísos rudimentares, onde a bondade da natureza humana não esteja 
codificada entre a mistura das atitudes falsas e dos sentimentos 
condicionados. Alegro-me, porque sei... Não está longe o dia em que 
os conceitos de curto alcance estarão por terra, a despeito de tudo e 
de todos. Antes, julgavam que a Terra era o CENTRO... e PLANA! Sabe, 
querida amiga, os homens costumam negar o que desconhecem, ou aplicar 
títulos inajustáveis ao que não alcançaram... ainda. Vamos, portanto, 
a outra pergunta, DORIAN. Qual sua opinião pessoal sobre os DISCOS-
VOADORES? Nega-los, acredito, parece-me ser assunto transposto. A 
própria MANCHETE publicou recentemente que “em novembro de 1968, o 
III Colóquio Brasileiro sobre os Objetos Aéreos Não Identificados, 
convocado pelo Instituto Brasileiro de Astronáutica e Ciências 
Espaciais, em São Paulo, sob a presidência do Professor Flávio 
Pereira, concluiu com um apelo às elites científicas e tecnológicas 
nacionais para o estudo desse “grave problema que, a essa altura, 
assume importância vital para os interesses da coletividade 
internacional”. Esse apelo partia das premissas de que: 1 – Os 
discos-voadores existem; 2 – Os discos-voadores apresentam-se como 
obedecendo a controle inteligente; 3 – Os discos-voadores revelam 
características que não podem ser explicadas pelos conhecimentos da 
ciência contemporânea e nem pelas possibilidades atuais de nossa 
tecnologia; 4 – Os discos-voadores são OBJETOS EXTRATERRENOS.” O que 
me diz, DORIAN? 
 - Digo que eles representam a seqüência natural dos 
acontecimentos em nosso planeta neste final de ciclo. É claro que 
acredito neles. E mais: creio que são antigos e costumeiros 
visitantes, intimamente ligados a muitos acontecimentos importantes 
da TERRA. Creio que somos investigados por naves interestelares 
amigas, neutras... e algumas de vibração ameaçadora para a espécieterráquea. As que são amigas, por certo vêm influenciando nossos 
cientistas, para nosso bem. Dentro dos limites do nosso carma 
coletivo, como você sempre opinou. 
 - Bem, querida, como estamos no mais absoluto acordo, não 
importunarei mais. Suas respostas indicam, de princípio, que 
possuímos o mesmo rumo de estudos, crenças e ideais. Se insistirmos, 
acabaremos redundantes. O bom está em que, num mundo como o nosso de 
hoje, existam pessoas em acordo. Pessoas simples, mas verdadeiras. 
Pessoas que se deslocam com os pés bem firmados no solo, mas... os 
olhos voltados para o INFINITO. Pessoas que crêem firmemente que AO 
HOMEM CONVÉM AMAR! 
* 
* * 
 
CLÁUDIO ROCHA, PERSONALIDADE INVULGAR 
 
ABSTRAÍDA, RUBY folheava comentários de David Bergamini sobre o 
Universo, quando seus olhos pousaram sobre o título "Os Céus 
Misteriosos". Leu a seguir... "Em épocas remotas, o Homem descobriu 
algo elemental: que ele era o fixo do Universo. Havia-se ordenado que 
estrelas e planetas se movessem majestosamente para guia-lo e 
adverti-lo de qualquer perigo, enquanto trabalhava ou viajava. Pouco 
a pouco, novos conceitos e instrumentos mecânico obrigaram-no a 
reconhecer que ele e seu mundo eram simples partículas cósmicas de um 
universo infinito, emocionante e desconhecido." 
Presa às últimas palavras, viu-se envolvida em novas meditações. 
Aprisionada ao que ela própria designa de "MEU SONHO ESSENCIAL"... O 
desenvolvimento gradativo da percepção humana nos infinitos planos de 
vida. A manifestação lenta, mas decisiva, daquilo que RUBY concebe 
como equipamento-origem do Homem, insinuando-se nos mistérios da 
matéria vivente, nas atraentes químicas reativas... nos processos 
indefiníveis, ainda, da Evolução. Enfim... cogitações sobre a 
aparente debilidade e o infindo alcance do Homem. 
- Posso falar com CLÁUDIO, no momento, Hilda? - indagou RUBY ao 
telefone. A linda e gentil secretária respondeu com aquele tom suave 
muito particular: "É claro!" Logo, a voz forte fez-se ouvir. RUBY 
explicou. - Ultimamente tenho andado às voltas, mentalmente, com o 
problema da "antimatéria". Com certeza, deveria entreter-me com 
assuntos de moda, culinária, crianças e outras coisas do gênero, 
quando já tenho tantos outros problemas pela frente. Mas... tais 
coisas não me atraem suficientemente. Se alguns anos atrás tivessem 
surgido oportunidades, na ocasião certa, é possível que, hoje, eu 
estivesse fincada num laboratório de pesquisas. Ou num observatório 
astronômico, remexendo lógicas contraditórias, contornando deduções 
árduas. Não aconteceu assim, entretanto. Nem por isso, a exigência da 
minha mente foi ou tem sido menos constante. Contudo, acredito 
firmemente na valia da opinião de outras mentes, expandidas em muitos 
sentidos, para meu estudo pessoal. Não é indispensável que os 
conceitos venham de cientistas para que os considere válidos face à 
minha pesquisa particular. Cada criatura, cada mundo... formado ou em 
formação. Cada mente, um laboratório onde se processam experiências 
ocultas, de resultantes, por vezes, importantíssimas e ignoradas. 
Bem... essa lengalenga toda significa que estou querendo sua opinião 
à respeito de certo assunto que transcende as demarcações usuais. 
- Pois bem. Pergunte. Tentarei responder a contento. 
- Considera possível a COEXISTÊNCIA de outros universos na 
intimidade do nosso universo perceptível? 
- Não considero apenas possível essa coexistência. Algo em meu 
íntimo afirma tal possibilidade como verdadeira. E creia mesmo, RUBY, 
que podemos considerar a existência - senão de vários - de, pelo 
menos, dois Universos perceptíveis que coexistem, sem sombra de 
dúvida: o Macrocosmo e o Microcosmo. Estes dois, que alcançam o 
Infinito Positivo e o Infinito Negativo, se interpenetram, sem 
princípio nem fim. Os outros, ainda na faixa material, passíveis de 
serem detectados por instrumentos físicos, e que se propagam nos dois 
sentidos mencionados, somente ainda não foram constatados por falta 
de meios práticos. Mas, não poderíamos negar, mesmo na fase atual do 
nosso avanço científico, que tudo é energia. E que energia é 
Universo, sejam concentrações de galáxias, concentrações de 
moléculas, átomos ou mesmo energia subatômica, ainda desconhecida. E 
mais, aquém e além. 
- Afora tais concepções, creio na interpenetração ou 
interpenetrações, também infinitas, de Universos extrafísicos. Estes, 
só passíveis de reconhecimento através do desenvolvimento mental do 
Homem ou do Espírito do Homem. Ou de seres super evoluídos e que, por 
isso mesmo, são Super-Universos. É, em suma, assunto difícil este, 
minha prezada amiga. Não creio ter sido suficientemente explícito, em 
tão poucas palavras. 
- Engana-se, CLAUDIO. Os tais universos antimatéria, nos quais 
ando aparafusada, encaixam perfeitamente na sua exposição. Porém, não 
penso em libera-lo agora. Pretendo continuar indagando... se não 
estou sendo importuna. 
- Continue, por favor. 
- Desde um remoto passado, certos homens de elevado e raro nível 
espiritual, acumularam fragmentos concatenáveis de uma super-ciência 
que trata dos poderes latentes nos seres e nas coisas. Tais homens 
acreditavam em Inteligências empenhadas no desenvolvimento do 
conhecimento do homem terráqueo. O que opina sobre isto? 
- Adianto ser apenas uma opinião - a minha. Meu descrédito por 
Inteligências superiores, cujo labor é elevar a inteligência humana, 
é tão transcendental quanto a própria matéria em foco. O caso é que 
costumo dispensar das minhas preocupações aquilo que invalida minhas 
experiências pessoais. Ou a generalidade delas no mundo que me cerca. 
(Quer-nos parecem que, como indivíduos ou nações nossa burrice é 
demasiada para podermos pretender sermos assessorados por seres 
brilhantes e elevados. Mesmo desculpando-nos com a balela de que a 
injustiça, a fome, o ódio, a imoralidade e as guerras provêm da 
fraqueza humana e são necessárias ao nosso progredir, persiste a 
incoerência. Todavia, minha crença e minha fé nos poderes latentes do 
Homem são inabaláveis. Mas, acredito que só a ele - o Homem 
individualmente - cabe a tarefa de dar vazão e expandir suas 
possibilidades, através do disciplinado esforço pessoal, meditação 
orientada, concentração profunda, visualização cósmica do poço 
inexaurível e onipresente da Sabedoria. 
 - Agora, veja CLÁUDIO. Certo entendido (ou quem sabe, um 
sábio!), afirmou que "a Lua acabará" por cair na Terra. Existe um 
momento - várias dezenas de milênios - em que a distância de um 
planeta a outro parece fixa. Porém, chegará um dia, em que nos 
daremos conta de que a espiral SE ENCOLHE. Pouco a pouco, no curso 
das Idades, a Lua irá acercando-se. A força de gravitação que exerce 
sobre a Terra aumentará. Então, as águas de nossos oceanos se 
juntarão numa maré permanente, e crescerão, cobrindo as terras, 
afogando os trópicos, cercando as mais altas montanhas. Os seres 
vivos sentir-se-ão progressivamente liberado de seu peso. CRESCERÃO. 
Os RAIOS CÓSMICOS serão cada vez mais poderosos. Ao atuar sobre os 
genes e os cromosomas, produzirão mutações. Aparecerão novas raças, 
animais, plantas e HOMENS GIGANTESCOS. 
 "Depois, ao acercar-se mais, a Lua explodirá, girando a toda 
velocidade, e se converterá num imenso anel de rochas, gelo, água e 
gás, que girará cada vez mais depressa. Por fim, o anel cairá sobre a 
TERRA. O Apocalípse anunciado! Subsistirão alguns homens, os mais 
fortes, os melhores, os eleitos, que presenciarão estranhos e 
formidáveis espetáculos. E, acaso, o espetáculo final. 
 "Após muitos milênios sem satélite, durante os quais a TERRA 
terá conhecido extraordinárias imbricações de raças antigas enovas, 
civilizações de gigantes, e imensos cataclismos, MARTE, menor que 
nosso globo, acabará por acercar-se. Alcançará a órbita da TERRA. 
Porém, é demasiado grande para ser capturado, para converter-se, como 
a Lua, num satélite. Passará muito próximo da TERRA, roçando-a, e irá 
cair no Sol, atraído por este, aspirado pelo Fogo. Então, nossa 
atmosfera sentir-se-á arrastada pela gravitação de MARTE, e nos 
abandonará para perder-se no espaço. Nosso globo morto, seguirá 
girando em espiral e será alcançado pelos planetóides gelados que, a 
sua vez, se arrojará contra a Sol. Após a colisão, virá o GRANDE 
SILÊNCIO, a GRANDE IMOBILIDADE, enquanto o vapor de água irá 
acumulando, durante milhões de anos, no interior da massa ardente. 
Por fim, se produzirá uma nova explosão e outras criações na 
Eternidade das forças ardentes do Cosmos." - RUBY suspirou e 
continuou com voz cadenciada. - O que você pensa de tudo isso? 
- Eu... Bem, não sei se devo externar meu pensamento. Posso 
parecer pretensioso. 
- Não acredito. Parto do princípio de que toda criatura dotada 
de profunda sensibilidade está fora do ridículo da presunção. Uma 
coisa colide frontalmente com a outra. O homem sensível 
(verdadeiramente), percebe além dos limites provisórios da razão e da 
lógica em voga. A presunção forja antolhos, confina o homem, 
prejudicando, principalmente, seus alcances mentais. Um cientista 
vaidoso é um homem de possibilidades demarcadas. Você não é um 
cientista, mas é um estudioso constante, de mente arejada e 
sensibilidade aguçada. Sabe que passaria a usar muletas mentais, se 
se permitisse acolher uma qualidade inferior assim tão prejudicial. 
- Então, RUBY, se devo responder, direi exata e honestamente o 
que penso. 
- Ademais... - prosseguiu RUBY - não estou pedindo concordância. 
Quero a sua opinião pessoal, simplesmente. A diversidade é a beleza 
da vida, alguém já disse, embora não lembre quem. Se todos 
pensássemos de modo igual, acabaríamos submetidos a uma espécie de 
tédio irremediável. Sou uma mulher que sonha com a expansão das 
idéias para horizontes sempre mais belos e mais puros. 
- Uma mulher que acredita na liberação inevitável das cadeias 
que sujeitam o Homem à IGNORÂNCIA. Fale, portanto, meu caro amigo! 
Nem mesmo estou aqui para julga-lo, mas para caminhar junto com a sua 
idéia, descobrindo novos aspectos, jamais negando-os por 
incompetência. 
- Está certo, RUBY. Se você insiste... Parece que é do consenso 
da moderna Astronomia que a Lua colidirá, algures no tempo e no 
espaço, com o planeta do qual é satélite. E, perdoe-me, sou concorde 
apenas com este conceito. Assim mesmo, ressalvados alguns aspectos: 
a) Acho que não se deveria levar em conta nenhuma força gravitacional 
lunar atuando sobre a Terra, por inexistente. Creio que a ação do 
nosso satélite natural e seu efeito nos fluxos e refluxos das águas e 
outras implicações (como se pretende existir na agricultura e mesmo 
no comportamento humano), é uma conseqüência tão somente da pressão 
da massa do corpo da Lua sobre as ondas magnéticas que fluem no 
espaço sideral e - no raso especial do nosso planeta Terra - sobre o 
Cinturão de Van Allen, que circunda o globo terrestre. A "fricção" 
desses invólucros e correntes eletromagnéticas, por sua vez, 
pressionam as camadas atmosféricas, esta os mares, ocasionando, 
assim, o conseqüente preamar e baixa-mar. b) Pelo que conheço, sou 
mais propenso a negar que aceitar espirais que se encolhem. Acredito 
num Universo em expansão, tal qual a da consciência dos seres. Creio 
no advento da queda da Lua, em razão da frenação total do seu 
movimento de rotação - já fraco - com o conseqüente desequilíbrio de 
forças e da aproximação do satélite, até o ponto em que a Astronomia 
designa por "Momento de Roche", quando desagregada, a Lua despencará 
"sobre" a Terra. A ausência dessa massa, nas proximidades do planeta, 
influirá, por seu turno, na rotação da Terra. E daí, ocorrerão 
mutações climáticas, com suas implicações. c) Julgo que o 
desenvolvimento de espécies ou raças far-se-á em decorrência do 
aprimoramento da alimentação, do meio ambiente, da higiene física, 
mental o moral, com o aniquilamento das doenças. E que a incidência 
de radiações de quaisquer natureza, sobre os genes, produziria 
mutações negativas. Quanto a homens gigantescos, outros animais e 
plantas de porte, a impressão é de que seria contra-producente, haja 
vista a experiência anterior da natureza - que ela mesma aniquilou 
nas eras mesozóica e cenozóica, por impraticável - volvendo a formas 
e volumes coerentes. d) Em virtude do mencionado na letra b, MARTE 
não poderia involuir para o centro, o Sol. Ao contrário, aquele 
astro, como os demais, afasta-se à medida em que o SOL perde força 
pelo escape de energia. A Terra, Marte, Vênus, Mercúrio e os demais 
planetas orbitarão a diferentes distâncias do Sol nos milênios 
vindouros. E é provável que o Sol, de tempos em tempos, crie um novo 
planeta, com a ejeção de parte da própria massa que, condensando, 
evolui até certa distância do nascedouro, onde é favorecido o advento 
de vida orgânica. E, dando de si mesmo, além da perene radiação do 
seu calor, o Sol fenece e, com ele, todo o sistema, no frio e na 
escuridão. 
 - Dá gosto ouvi-lo, CLAUDIO. Nossos caminhos aparentemente 
diversos, acabara por criar atalhos (ou brechas) onde nos 
encontramos, perfeitamente entrosados. E, já que estamos falando da 
Lua, planeta-satélite tutelar do signo que, segundo os entendidos, 
influi nos nascidos entre 21 de junho a 2: de julho (CÂNCER ou 
CARANGUEJO), vale ir mais adiante, pois nós dois somos "Filhos da 
Lua". Nossa palestra fará parte de um livro que publicarei. Assim, 
recordo o SEU LIVRO, cujo original teve a confiança de submeter à 
minha singela consideração. Ele trata de assuntos interessantíssimos. 
Uma obra de "science ficcion" bem elaborada. Ou como se diz "bem 
plantada"! Justifica com teorias bem plausíveis, acontecimentos 
remotos, que poderão vir a ser confirmados num próximo futuro. Por 
considerar seu livro encaixado nos interesses de nossa época, é que 
peço agora: fale-me dele, CLÁUDIO! Faça um comentário, embora 
superficial, já que não deve afetar o sigilo exigível acerca de uma 
obra ainda não editada. 
 - É verdade, meu livro menciona alguns dos aspectos desta 
palestra. Focaliza, ainda, outras teorias de fatos passados, mais ou 
menos recentes e remotos. Tenta, da maneira mais racional possível, 
explicar mistérios já sondados, mas que perduram ainda como enigmas 
na natureza. Lança, concomitantemente com o aparecer da LUA no céu 
vizinha, a razão de como esse astro saído das entranhas da Terra, 
ocasionou os mistérios das idades glaciárias, do desvio na elíptica 
do eixo terrestre, do desaparecimento de milhões de animais, do 
evento do dilúvio, da separação do primeiro, colossal e único 
continente nas partes hoje conhecidas. E daí as enigmáticas 
cordilheiras que fazem o topo do mundo e o berço dos oceanos; os 
lagos e planícies; a vastidão solitária do Oceano Pacífico Central. 
Tudo mesclado numa estória de romance de ficção, que: tem seu 
alvorecer em outros mundos distantes, de onde, fugidos de ciclópicos 
desastres, seus habitantes encontraram neste planeta o novo lar, a 
nova esperança, o início de uma nova era. É a origem das lendas dos 
povos, dos manuscritos, das narrações bíblicas, dos contos de 300 
séculos passados e consumidos na ingestão do tempo. É a sombra 
projetada pela tênue luz de uma lembrança dissipada pela dúvida de 
memórias perdidas e confusas que, apesar de tudo, murmuram nomes. 
Nomes assim: AZTLAN, KUKULCAN, OZAM, ATLANTIDA, CARIAS (o povo de 
CAR),LEMÚRIA, etc. Ecos, apenas pálidos ecos nos idos da memória... 
 - Meu editor é um indivíduo notável, CLÁUDIO. Tranqüilo, 
simpático, reto de caráter, nada ambicioso. Você devia procura-lo. 
Seu livro devia ser editado, antes que se confirmem as formidáveis 
teorias nele existentes. Ali! meu amigo! E dizer que a Alma do Homem, 
em sua luta pela auto-consciência, pode tomar dimensões infinitas. 
Pode retroceder aos movimentos perdidos de gerações passadas, ou 
alcançar umbrais das mutações futuras. Bem falou o alquimista 
Gurdjieff: "Si no tiene fe, hay que tener fuego!"... "Sea cual fuere 
el trabajo, jamás se trakaja bastante". Ocorre, neste momento, que 
estou sendo importuna mesmo. Você está gripado e eu, servindo de 
instrumento de desvio energético. Nada simpático. Vou deixa-lo em 
paz. Grata pela indulgência. E que desagrade profundamente à Gripe, 
pensamentos como os nossos. 
* 
* * 
 
UM ALAGOANO ADMIRÁVEL 
 
 A CRISE de TEMPO, nestes últimos meses, vem tornando impossíveis 
as entrevistas que RUBY havia deliberado. Depois, o tal VIRUS que se 
projeta com sintomas gripais, parece viajar todo o corpo humano, 
assaltando cada órgão, por etapas, com indisfarçável determinação. Um 
aspecto de "gripe" a mais, cujo vírus, mais poderoso e não menos 
estranho à Ciência que o "nosso velho conhecido", afeta diretamente o 
nosso potencial Energético. Nesta fase, RUBY encontra recurso, para 
realizar parte de seu intento, no telefone ou na correspondência. 
 DR. NELSON BANDEIRA DE MELLO, elemento de grande e conceituada 
família alagoana, é amigo de muitos anos. E, desta vez, RUBY 
determinou um questionário para ele. Sabendo-o ocupadíssimo, e não 
encontrando, por sua vez, oportunidade para visitá-lo em sua 
residência, decidiu escrever. É claro que sentiu-se egoísta depois. 
DR. NELSON é especialista em doenças nervosas, além de constante 
estudioso. Médico muito cônscio de seus deveres para com o 
semelhante. RUBY habituou-se a conhece-lo como homem incansável, sem 
horário fixo para seu descanso ou distrações. E sentiu-se culpada por 
roubar-lhe as mínimas horas de repouso. BERACY, sua esposa, por certo 
não a perdoaria, se não fosse bem formada: a esposa certa para um 
homem de ciência. E as respostas ao questionário, vieram exatamente 
como RUBY esperava. Respostas serenas, saídas de uma mente sóbria, 
arquivo de experiências inúmeras. Uma mente respeitável, com a 
capacidade de absorver sempre mais conhecimentos, admitir as 
probabilidades e nunca negar o que o Homem positivamente está longe 
de alcançar. 
 - Quero sua opinião pessoal, dr. Considera ou não concebível a 
existência de universos paralelos ao nosso universo visível? 
 - Não julgo difícil conceber a existência de outros universos 
paralelos a este, do qual, aliás, ainda conhecemos tão pouco. 
 - Nesse caso, aceita que possamos entrar em comunicação com tais 
universos, um dia? 
 - A mente humana deve estar sempre aberta à compreensão das mais 
ousadas concepções. Não é improvável que, se existem outros universos 
paralelos, haja entre eles a comunicação de que você suspeita. Não 
nos esqueçamos de que, em termos de UNIVERSO, ou mesmo de GALÁXIA, a 
posição da TERRA deve ser muito modesta. 
 - Bem... Quero esclarecer que a suposição não é apenas minha. Há 
elementos da própria Ciência que já admitem tal possibilidade como 
positivamente viável. De minha parte, há uma certeza que não provém 
de conceitos ou suposições. Mas, vamos adiante. O astrônomo John 
Kraus, de Ohio, afirmou haver captado, em junho de 1956, sinais 
procedentes do planeta VÊNUS. Outras referências de fontes igualmente 
idôneas asseguram a recepção de sinais oriundos de Júpiter (Instituto 
de Princeton). Qual o seu conceito de homem de ciência à respeito? 
 - Suponho que os sinais recebidos de VÊNUS e JúPITER não tiveram 
suas causas perfeitamente estabelecidas. Acha que aqui, como em 
relação a qualquer outro problema, a atitude do homem de ciência deve 
ser de expectativa, quando não lhe é dado investigar. Em relação a 
VÊNUS, parece que muito cedo será possível uma verificação da causa 
desses sinais. 
 - Alguns investigadores admitem a possibilidade de contatos com 
outras civilizações, até extragalácticas, em um período de tempo em 
que afirmam não estar muito longe. Referem-se aos radiotelescópios 
que têm recebido ondas emitidas a dez mil milhões de ANOS-LUZ, 
consideradas MENSAGENS. E isso diz respeito ao Homem terráqueo e 
outras civilizações. Não apenas outros planetas ou universos entrarem 
em contato entre si. O que pensa disso? 
 - Esses investigadores baseiam-se, certamente, no progresso da 
tecnologia, para admitir a possibilidade relativamente próxima de 
comunicação da nossa civilização com outras extraterrenas, ou mesmo 
extragalácticas. Cada nova conquista trás a esperança de mais 
progresso. A Ciência não pára! 
 - Vamos adiante, então. O senhor, dr. NELSON, que trata 
intimamente com o psiquismo humano, que é diariamente arrastado a 
constante aprendizado da natureza profunda do subconsciente e dos 
recursos da MENTE, o que opina sobre o seu PODER? 
 - De fato, não foram ainda devidamente exploradas as 
potencialidades da mente humana. O próprio INCONSCIENTE não foi e, 
segundo alguns, nunca será totalmente desvendado. Mas, É certo que, 
mesmo assim, escassamente exercitada, a MENTE já tem o PODER de 
CONSTRUIR e DESTRUIR. 
 - Y. M. Renê Grousset disse que "a função da humanidade consiste 
em ajudar o Homem Espiritual a desprender-se, a realizar-se; em 
ajudar o Homem, como dizem os hindus em frase admirável, a converter-
se NO QUE É". Tenho testemunhado sua atuação, doutor, neste sentido. 
Desde que o conheci, soube que era mais que um médico: era um 
sacerdote da medicina, um homem consciente, inegoista. Um homem de 
saber, muito simples e profundamente humano. Procurei-o sempre que 
precisei do conselho sóbrio do Amigo, ou do parecer equilibrado do 
homem experimentado nos anos de pesquisa, de sondagem direta da mente 
humana. Agora, deponho diante do psicoanalista uma consulta: a 
realidade com a qual temos lidado até agora é suficientemente 
satisfatória para a razão do homem que evolui? Ou temos legitimo 
direito de optar por uma realidade considerada fantástica, que 
transpõe os umbrais do futuro? 
 - O homem é, normalmente, um insatisfeito. O que é natural, pois 
vive constantemente em busca da perfeição. Por isso, acho que é 
LÍCITO esperar ele por uma realidade melhor do que a atual. Uma 
realidade em que possa considerar-se feliz. 
 - Muito bem, doutor... Veja! O Homem terráqueo é, como dizem os 
entendidos, IMPERFEITO. Pessoalmente, segundo meus próprios 
conceitos, prefiro designa-lo INACABADO. Isso porque ele está 
vivendo, na TERRA, as mais variáveis fases de mutação, que resultarão 
poderes insondados. À medida que são feitas descobertas, há 
correspondente câmbio na mente do descobridor, assim como de muitos 
outros. O Homem deste planeta, está sofrendo a resultante dos 
movimentos ou atividades de um final de CICLO. Fase que resultará 
fantásticos, estranhos câmbios na psique humana. A própria TERRA 
cambia de aspecto. E, como qualquer outro planeta, é um organismo 
vivo. Precisa-se viver em harmonia com ele. Diga-me sua opinião à 
respeito deste assunto. 
 - Talvez você tenha razão, quando diz que o Homem terráqueo é 
INACABADO, em vez de dizer IMPERFEITO. Pois, mesmo que ele alcance a 
plenitude de sua forma física e mental de acordo com um padrão pré-
estabelecido, ainda não será PERFEITO. Porque, a meu ver, a perfeição 
é inatingível. Mas, a evolução não pára. Alcançada a meta do "homo 
sapiens sapiens", deverá haver um novo objetivo, possivelmenteo 
"homo supersapiens", ou coisa que o valha. Depois deste, existirão 
outros objetivos a conquistar e o Homem, aproximar-se-á cada vez mais 
da PERFEIÇÃO... sem contudo a atingir. Eis que estamos divagando 
sobre coisas demasiado remotas, enquanto a adaptação ao planeta exige 
de nós um esforço constante, aqui e agora. 
 - Pelo que meu singelo alcance pode conquistar, concordo com 
suas palavras, doutor. Agora, diga-me, o que pensa sobre a 
advertência de JESUS, quando ensinou que "Só PELO AMOR SERÁ SALVO O 
HOMEM"? Não estaria contida nesta simples frase, a CHAVE de PODERES 
de grande alcance? 
 - Sim, esta foi a SUA Mensagem . E, se nada mais houvesse dito, 
nem feito, já teria cumprido uma grande missão. O AMOR é a CHAVE da 
PAZ, o maior atributo de que carece esta Humanidade. 
 - Ah! Como concordamos! E nesse caso, o senhor que tem se 
mantido além dos sonhos caducos e da cega impressionabilidade do 
Homem comum, diga-me: acha ou não razoável a eleição definitiva, 
neste caos final, do preceito AO HOMEM CONVÊM AMAR? 
 - AO HOMEM CONVÉM AMAR? Ah! RUBY... se todos pudessem eleger 
este preceito como norma de vida! Creio firmemente que a verdadeira 
felicidade só existe para quem a segue. 
......................... 
 O homem de ciência deve desculpar a leiga importuna. O Amigo, 
esse, não tenho dúvidas, é suficientemente tolerante e bom. Nele 
deponho meu singelo tributo de respeito e admiração, assim como 
considero as possibilidades ilimitadas do Homem de amanhã. 
* 
* * 
 
REFLEXÕES 
 
EM SEU aposento de trabalho, RUBY volta-se em sua cadeira 
giratória, fita abstratamente a janela e evoca o provérbio inglês: 
 
“Ao esvaziar a água da banheira, cuida de não arremessar o bebê 
com ela!" 
 
Na intransigência infecunda das NEGAÇÕES acerca do DESCONHECIDO, 
perde-se tanta beleza, tanta verdade, tanto alcance... O Homem possui 
faculdades ainda menosprezadas. A maioria insiste num costume que 
nega a inteligência: rechaça, baseada num cientificismo demasiado 
limitado, as possibilidades úteis, as probabilidades do 
desenvolvimento natural da MENTE. E também hipóteses passíveis de 
futura confirmação, além do alcance jamais medido da fabulosa 
engrenagem que relaciona o Homem com os organismos vivos e 
Inteligências dispersas nas mais inesperadas trilhas siderais. 
Até quando continuarão traçando tão estreitos limites às 
potencialidades originais do Homem? E, nesse caso, até quando 
insistirão em negar o que já é óbvio? - A existência de incalculável 
quantidade de outros planetas habitados por Inteligências superiores 
ou mesmo inferiores às nossas. 
Agora, o Homem terráqueo pisou o solo Lunar e, de repente, 
sentiu-se conquistador dos espaços. Entusiasmou-se. Logo a seguir, 
ouve-se falar de que tal "conquista" tornou-se obsoleta! Marte é o 
novo objetivo! A Lua está ultrapassada... Ora, muito bem. Pisar o 
solo da Lua, não quer dizer conquista-la, na acepção do vocábulo. 
Muito se terá que lutar, ainda, até o dia em que poderá ser 
considerada UMA CONQUISTA REALIZADA. Mas... assim somos nós 
terráqueos. Extremistas nas concepções e aceitações: ou negamos 
peremptoriamente um conceito supostamente fantástico, dentro de 
nossas provisórias limitações mentais, ou deixamo-nos envolver por um 
hiper-arrebatamento com frágeis bases num feito superficialmente 
realizado. 
Os que concebem ou alcançam horizontes mais amplos, formas, 
leis, tipos de vida e paragens ignoradas, são taxados de loucos, 
fantasistas ou sonhadores. Até prova em contrário, muito... muito 
depois (como ocorre agora com Julio Verne), quando a MENTE mais 
evoluída demonstra a evidência das possibilidades antes presumidas. 
Enfim... devem ser mesmo assim as etapas seqüentes da evolução 
humana. Oitenta por cento da Humanidade ignora o poder ou o valor da 
MENTE e sua destinação. Os outros vinte por cento não encontram 
oportunidade de se fazer acreditar. 
* 
* * 
 
QUANDO SE AMA... 
 
POR QUE veio? - inquiriu RANA, mau humorado, caminhando sem se 
voltar, enquanto RAM, o colosso silencioso, acompanha-o. 
- O que há com você, meu rapaz? Sua agressividade está excedendo 
os limites comuns de sua personalidade. 
- Reações naturais de um homem terráqueo que AMA 
desesperadamente uma mulher proibida. 
- Você não é terráqueo, RANA. Nunca chegou a ser um, na acepção 
do termo. A verdade única é que deseja esquecer que é: Dirigente de 
um Planeta. Responsável por uma Raça. E, nesse caso, meu rapaz, 
obriga-se a colocar os interesses de seu Povo acima dos particulares. 
Isso desagrada. 
- Paia mim... RAÍ está acima de tudo o que possa mencionar. É 
inútil evocar poderes e responsabilidades nesta fase, RAM. ELA está 
em dificuldades e eu... longe demais... DEMAIS... para ajuda-la. Uma, 
distância que enlouquece! Diga-me, RAM, quantos anos-luz exatamente? 
- Esqueça. - O colosso moreno ignorava a agressividade do 
admirável homem de maravilhosos cabelos acobreados. Tratava-o como a 
um adolescente rebelde. As dificuldades de RAÍ - disse em tom 
informativo - são resultantes de seu carma individual no planeta 
TERRA... e dos compromissos assumidos por ELA espontaneamente. São 
trâmites naturais de seu aprendizado cósmico. 
- Com que, frieza diz isso! Pode ser assim, mas... eu devia 
estar, agora, ao lado dela. Sofrendo cada angústia, casta desalento, 
cada desencanto, cada problema... por menor que fosse. - RANA atirou 
longe uma pedra dourada. O gesto exprimia a aflição de sua Alma. 
- Agora, você devia estar EXATAMENTE onde está, meu rapaz. 
Cumprindo débitos e compromissos assumidos. Realizando as atividades 
normais de desenvolvimento do PLANETA DOURADO... cuidando da evolução 
dos SMARANIANOS. RAI não é tão importante assim... Não me oponho que 
visite o KRISHNALOKA (planeta vizinho do Planeta Dourado), mas deve 
evitar a FURNA DO ESPELHO QUE REFLETE. Quanto menos souber do que se 
passa com RAI, na TERRA, mais calmo poderá manter-se. - RANA parou e 
voltou-se abruptamente para o Gigante Sereno. 
- Ora! E dizer que posso ver RAI através dos seus OLHOS... Dizer 
que se tornaram tão VERDES quanto os dela... Céus! Como pode mostrar-
se tão indiferente, RAM? Nada do que sofre RAI atinge você? assim que 
acontece quando se evolui? 
- Aí está um aspecto da questão que diz respeito unicamente a 
mim. Não se aborreça, meu rapaz. Você aprenderá... com o tempo... a 
respeito disso. Em cada etapa de evolução, o Homem tem um tipo de 
reação, um modo de pensar, um comportamento distinto. Não deve 
preocupar-se com o que sinto ou com o que sou ou não sensível. Não é 
o meu comportamento que está sendo observado pelos MAIORES, mas o 
seu! 
- De onde terei surgido, ó Alturas! Já não entendo homens nem 
devas - resmungou o homem smaraniano, enquanto seu belo rosto 
demonstrava cansaço e dor. 
- Qualquer dia compreenderá melhor... Preparei-o para amar seu 
Povo e lutar por ele. 
- Não tenho feito isso? 
- Com restrições. 
- Quando RAI chora, os SMARANIANOS deixam de existir para mim. 
Enlouqueço, porque sei que poderia dar o apoio físico e moral de que 
ELA carece nos momentos difíceis. Seria tão simples! Será que não 
compreende, RAM? RAI está muito só! Não lhe dói isso? - gritou o 
formoso exemplar humano, de punhos cerrados erguidos contra o 
firmamento. 
- Não se exalte, RANA. 
- Pois bem... Eu tenho uma espada atravessada no coração, 
enfraquecendo-me. SHAZZYA sabe disso. É minha irmã e vive com ELA. 
Sabe, melhor que você o que padeço. 
- Meu rapaz, você continua um vulcão visivelmente ativo. 
- "Não se exalte!" É só o que pode dizer? 
- Posso dizer outras coisas mais úteis, se você desejasse ouvir. 
- Estou farto de conceitos

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