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Sociodiversidade e Responsabilidade

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Sociodiversidade, Responsabilidade 
e Comprometimento Social
Núcleo de Educação a Distância 
www.unigranrio.com.br
Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 
25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ
Reitor
Arody Cordeiro Herdy
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa 
(PROPEP)
Emilio Antonio Francischetti
Pró-Reitoria de Administração Acadêmica
(PROAC)
Carlos de Oliveira Varella
Núcleo de Educação a Distância
(NEAD)
Márcia Loch
CATALOGAÇÃO NA FONTE 
NÚCLEO DE COORDENAÇÃO DE BIBLIOTECAS – UNIGRANRIO
O48s Oliveira, Rosane Cristina de.
Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social / Rosana Cristina 
de Oliveira. – Duque de Caxias, RJ: Unigranrio, 2019. 
160 p. : il. ; 23 cm.
Inclui bibliografia
1. Identidade social. 2. Cultura. 3. Pluralismo cultural. I. Título.
CDD – 306 
Produção: Fábrica de Soluções Unigranrio Desenvolvimento do material: Rosane Cristina 
de Oliveira
Copyright © 2019, Unigranrio
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, 
mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio.
Pró-Reitoria de Graduação
(PROGRAD)
Virginia Genelhu de Abreu Francischetti
Pró-Reitoria de Pós-Graduação Lato Sensu e Extensão 
(PROPEX)
Nara Pires
Sumário
Sociodiversidade e Formação Cultural dos Povos
Objetivos ........................................................................................... 07
Introdução ......................................................................................... 09
1. Pluralismo Étnico: Credo e Etnia .............................................. 11
2. Diversidade de Gênero e Sexualidade ...................................... 16
3. Cidadania ............................................................................ 19
Síntese ............................................................................................. 23
Referências Bibliográficas .................................................................... 25
Direitos Humanos, Inclusão do Público-alvo da Educação 
Especial e Acessibilidade
Objetivos ........................................................................................... 29
Introdução ......................................................................................... 31
1. Direitos Humanos ................................................................. 33
2. Inclusão do Público-alvo da Educação Especial ........................... 37
3. Acessibilidade ....................................................................... 40
Síntese ............................................................................................. 43
Referências Bibliográficas .................................................................... 45
Multiculturalismo e Globalização
Objetivo ............................................................................................ 49
Introdução ......................................................................................... 51
1. Diversidade Cultural e Globalização ......................................... 53
2. Cultura do Consumo .............................................................. 56
Síntese ............................................................................................. 61
Referências Bibliográficas .................................................................... 63
Políticas Públicas
Objetivo ............................................................................................ 67
Introdução ......................................................................................... 69
1. Políticas Públicas: a Educação e a Legislação para Pessoas Autistas ..... 71
2. Políticas Públicas: Habitação, Saneamento, Transporte e Saúde ... 74
3. Políticas Públicas: Segurança e Defesa ..................................... 78
Síntese ............................................................................................ 81
Referências Bibliográficas .................................................................... 83
Democracia e Ética
Objetivo ............................................................................................ 87
Introdução ......................................................................................... 89
1. Democracia .......................................................................... 91
2. Ética ................................................................................... 95
3. Desempenho Profissional e Empreendedorismo ......................... 97
Síntese ............................................................................................. 99
Referências Bibliográficas .................................................................... 101
Desenvolvimento Sustentável e Gestão Socioambiental
Objetivo ............................................................................................ 105
Introdução ......................................................................................... 107
1. Sustentabilidade ................................................................... 109
2. Educação Ambiental .............................................................. 113
3. Ecoeficiência ........................................................................ 114
Síntese ............................................................................................. 117
Referências Bibliográficas .................................................................... 119
Relações Comunitárias
Objetivo ............................................................................................ 123
Introdução ......................................................................................... 125
1. Voluntariado ........................................................................ 127
2. Investimento Social .............................................................. 129
3. Ações Não Governamentais .................................................... 131
Síntese ............................................................................................. 135
Referências Bibliográficas .................................................................... 137
Responsabilidade Social
Objetivo ............................................................................................ 141
Introdução ......................................................................................... 143
1. Responsabilidade Social Corporativa ........................................ 145
2. Responsabilidade Socioambiental ............................................ 153
Síntese ............................................................................................. 157
Referências Bibliográficas .................................................................... 159
Sociodiversidade e Formação 
Cultural dos Povos
Objetivos
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:
 ▪ Compreender o conceito de Sociodiversidade inerente à formação 
da identidade cultural dos povos, respeitando e convivendo com as 
diversidades culturais e comportamentais – etnias, religiosidade, 
gênero e orientação sexual.
7Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, nosso principal objetivo é refletir 
sobre questões fundamentais para as relações sociais e o cotidiano. Essas 
questões dizem respeito à discussão sobre o conceito de sociodiversidade e os 
aspectos que envolvem a formação cultural dos povos.
A diversidade sob a qual a sociedadeestá alicerçada baseia-se no 
estudo das várias etnias que compõem os territórios, a pluralidade religiosa, 
as relações de gênero e a sexualidade, tanto do ponto de vista em respeito às 
escolhas individuais e à manutenção dos direitos, como ao exercício pleno 
da cidadania. Essas temáticas são fundamentais para a construção de uma 
conduta profissional consolidada nos princípios da dignidade humana, da 
ética e do respeito mútuo.
9Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
1. Pluralismo Étnico: Credo e Etnia
A conceituação de sociodiversidade diz respeito às diferentes 
manifestações culturais, modos de vida, relação do homem com a natureza e o 
multiculturalismo. Os estudos sobre as questões étnico-raciais fazem parte da 
multiplicidade de temas inseridos nas discussões acerca da sociodiversidade.
 No Brasil, as investigações sobre as questões raciais e indígenas são 
fundamentais para o desenvolvimento de olhares mais críticos acerca dos 
caminhos sociais, políticos e econômicos sob os quais a sociedade brasileira 
alicerça seus valores. Em geral, podemos verificar, nos meios midiáticos, uma 
série de medidas, políticas públicas e conflitos em torno da população negra 
e indígena. Esses conflitos referem-se aos inúmeros casos de racismo e ao 
descumprimento de uma série de prerrogativas e de garantias de direitos 
destinados a essas populações.
Nesse sentido, como surge a questão racial no Brasil? Quais são as bases 
históricas? Qual é a importância da compreensão das relações étnico-raciais 
em nosso país? Para responder a essas indagações, é importante fazermos 
uma contextualização.
A chegada do colonizador português no território brasileiro, no 
início do século XVI, inaugurou um processo que marcou profundamente 
a formação do povo brasileiro. Darcy Ribeiro, no livro O povo brasileiro – a 
formação e o sentido do Brasil, apresentou uma reflexão sobre a formação 
do povo brasileiro a partir do período colonial, apontando os aspectos que 
permearam a construção da América Portuguesa. A implantação do regime 
escravocrata representou, de acordo com Ribeiro (1995), dois momentos 
cruciais: o primeiro momento, com a tentativa (frustrada) de tornar a população 
indígena cativa e escravizada; e o segundo momento, com a inserção do negro 
escravizado para a realização das atividades agrícolas.
Ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e meados do XIX, a base do 
sistema colonial era: terra, escravidão e Igreja. Portanto, a economia agrária, 
baseada na mão de obra escrava, com o aval da Igreja Católica, compôs as 
características de sociabilidade na colônia portuguesa. Nesse contexto, os 
negros escravizados eram tratados como mercadorias, ou seja, não exerciam 
ou possuíam direitos. Essa situação perdurou até a segunda metade do século 
11Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
XIX, quando ocorreu a inserção do imigrante europeu em substituição 
gradual do trabalho escravo pelo trabalho assalariado.
Em 1888, no ato da assinatura da Lei Áurea decretando o fim da 
escravidão no Brasil, a sociedade enfrentava um novo dilema: por um lado, 
a necessidade do trabalho assalariado para responder às diretrizes impostas, 
especialmente, pela Inglaterra; por outro lado, a ausência de suporte por parte 
do Estado em relação à massa de ex-escravizados. A maior parte da população 
negra deixou o meio rural em busca de oportunidades nos centros urbanos, 
mas a precariedade estrutural urbana, política e social acirrou ainda mais as 
desigualdades sociais. Em condições precárias de trabalho e de sobrevivência, 
o negro liberto continuou enfrentando uma situação de miserabilidade, 
racismo e com pouco ou nenhum acesso aos bancos escolares. 
É importante ressaltar que o etnocentrismo europeu foi o principal 
alicerce da estrutura implantada nas respectivas colônias. O etnocentrismo 
é o ato de julgar outras culturas, tendo como base a própria cultura; dessa 
forma, as sociedades que estejam fora dos padrões assimilados são tratadas 
como inferiores. Nesse sentido, o etnocentrismo é o principal condutor de 
comportamentos preconceituosos, intolerantes e que, por vezes, acirram a 
violência em decorrência do racismo (MICHALISZYN, 2014).
 
Para o colonizador europeu, o continente africano e as américas eram 
considerados lugares atrasados, com uma população que vivia de modo 
primitivo. Até o fim do século XIX, as teorias que determinavam a supremacia 
europeia na condição de civilizados, em detrimento das sociedades africanas 
e indígenas como “primitivas”, foram fundamentais para o acirramento das 
desigualdades entre os povos. Entre as teorias mais eficazes, destacou-se o 
Darwinismo Social, no século XIX. Charles Darwin, biólogo do século XIX, 
constatou cientificamente o processo de evolução das espécies e, entre outras 
coisas, atribuiu à espécie humana etapas de desenvolvimento até chegar ao 
estágio em que se encontrava: o homo erectus. O intelectual do século XIX 
Herbert Spencer (1820-1903), ao tentar aplicar essa teoria à dinâmica da 
sociedade, segmentando entre sociedades primitivas e civilizadas, contribuiu 
para o chamado darwinismo social, que gerou inúmeros casos de conflitos 
sociais, entre os quais podemos destacar o imperialismo na África, iniciado 
em meados do século XIX, que, além dos problemas de ordem econômica e 
política, gerou o Apartheid. 
12 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
O Apartheid foi um regime de segregação racial, implantado nos países do continente 
africano entre os anos de 1948 e 1990, sendo o responsável por uma série de assassinatos 
e perseguições políticas, entre os quais a prisão de Nelson Mandela teve grande repercussão. 
A respeito desse tema, fica como indicação o filme Um grito de liberdade, de 1987, dirigido 
por Richard Attenborough.
No século XX, especificamente a partir dos anos 1940 e 1950, a 
teoria antropológica conhecida como relativismo cultural criticou duramente 
o etnocentrismo, argumentando que não existem sociedades civilizadas em 
detrimento das chamadas primitivas ou culturas mais desenvolvidas do que 
outra. O relativismo cultural defende a existência de culturas no plural, ou 
seja, não há uma cultura melhor do que a outra, pois a cultura está presente 
em todas as sociedades.
É inegável o papel do negro e indígenas na sociedade brasileira, 
especialmente nas dimensões culturais, linguísticas e religiosas. Temos inúmeras 
manifestações originárias de matrizes africanas, como na música, na culinária 
e na religiosidade. Na música popular brasileira, entre as quais destacam-se o 
maracatu e o samba, e, também, na dança (a capoeira é um bom exemplo), 
pode-se observar as raízes na africanidade. Na religiosidade, a principal 
manifestação é o Candomblé, cuja origem está no sincretismo entre os cultos 
africanos e a necessidade de se adequar ao catolicismo, uma vez que os rituais 
típicos das regiões de onde os negros escravizados eram originários não eram 
aceitos no Brasil. Assim, é comum observar a correspondência entre os santos 
católicos e os orixás, como é o caso de São Sebastião - Oxossi, Santa Bárbara - 
Iansã, São Jorge - Ogun, Nossa Senhora da Conceição - Oxum, entre outros.
Nas últimas décadas, os casos de intolerância religiosa, mais 
especificamente os que são direcionados às religiões de matrizes africanas, 
ganharam repercussão. Em geral, os conflitos que se configuraram tiveram como 
motivação a dificuldade em lidar com as diferenças, especialmente no contexto 
dos estados multiculturais, ou seja, territórios que abrigam várias manifestações 
de culturas (na mesma cidade, região ou país). Assim, os comportamentos 
que fundamentam preconceitos, estigmas, e consequentemente, induzem a 
atos violentos tornaram-se objetos de inúmeras pesquisas. Com os grupos 
estigmatizados, que têm ressaltadas características, consideradasnegativas por 
Importante
13Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
outros grupos que compõem a sociedade, bem como o preconceito baseado 
na incompreensão ou desconhecimento de determinada manifestação étnica e 
cultural, são os principais alvos da intolerância (OLIVEIRA, 2007).
Nesse sentido, o reconhecimento e a liberdade religiosa fazem parte 
dos processos culturais de formação da sociedade; não se trata de somente 
“tolerar” as manifestações religiosas, uma vez que tal atitude significaria o ato de 
“suportar” apesar de não concordar. No caso das religiões de matrizes africanas, 
a “tolerância” necessariamente não constitui respeito aos ritos e características 
dessas religiões. Assim, a inclusão do tema relações étnico-raciais nos currículos 
escolares, discutindo a história e a cultura afrobrasileira e indígena, tem como 
objetivo refletir sobre a diversidade cultural e identitária dos povos. O resultado, 
espera-se, é construir uma sociedade mais justa e respeitosa.
 
Na linguagem, a influência do africano na construção da língua 
portuguesa é visível no uso dos diminutivos, como no prefixo ca-, que 
significa pequeno); como exemplo podemos citar as palavras “camundongo” 
e “cachimbo”. Um estudo interessante sobre a língua portuguesa e o papel 
dos indígenas e africanos nesse processo foi elaborado por Guerreiro (2015), 
chamando a atenção para os elementos históricos e as mudanças sofridas na 
língua a partir da inserção do negro africano na sociedade brasileira. Nesse 
estudo, a autora também aborda a importância das línguas e culturas indígenas 
para a sociedade brasileira, destacando o folclore e as lendas mais conhecidas, 
como o Saci-Pererê e o Curupira (nomes originários do Tupi-Guarani).
Entretanto, além dos aspectos culturais, linguísticos e religiosos que 
fazem parte do processo de formação do povo brasileiro, na atualidade, as 
questões que envolvem o preconceito racial, a luta por equidade e justiça 
social estão em voga. As populações indígenas têm dificuldade para manter 
seus elementos culturais, bem como a questão da demarcação injusta de 
territórios indígenas; além disso, são de difícil adequação e entendimento entre 
as lideranças indígenas e o poder estatal brasileiro. Estima-se que no período 
de chegada do colonizador português, no início do século XVI, mais de 4 
milhões de indígenas viviam no Brasil. Ao longo do tempo, inúmeras etnias 
indígenas foram extintas ou diminuíram consideravelmente sua população, 
por meio da proliferação de doenças (especialmente com o contato com o 
“homem branco”) e massacres promovidos pelo colonizador. Outro fator são 
os conflitos travados com o Estado e produtores rurais. 
14 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
De acordo com os dados do último censo do IBGE (Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística), atualmente, existem apenas aproximadamente 
900 mil indígenas no Brasil, compostos por 305 etnias e com 274 idiomas 
diferentes, e 57% vivem em terras demarcadas. Muitos vivem em situação de 
pobreza ou em constantes conflitos pelo direito às terras demarcadas. 
Um importante passo sobre a sociodiversidade indígena e a legislação em 
torno dessa questão é a Lei 11.645/2008, que assegura o acesso, nos currículos 
escolares, ao ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Indígenas. 
No Brasil, uma parcela expressiva da população negra não está 
devidamente contemplada no mercado de trabalho, os índices de violência 
motivados por preconceito são visíveis. De acordo com a Organização Mundial 
das Nações Unidas, a população negra é a que mais sofre com a desigualdade 
social e a violência. No mercado de trabalho, a dificuldade das pessoas negras 
ou pardas terem progressão de cargos e salários está mais acentuada. De 
acordo com estudo intitulado Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores 
empresas do Brasil e suas ações afirmativas, realizado pelo Instituto Ethos em 
2016, apenas 6,3% de pessoas negras estão em cargos de gerência, somente 
4,7% ocupam cargos executivos. As mulheres negras estão em condições ainda 
mais desfavoráveis se comparadas aos homens, pois apenas 1,6% exercem 
cargos de gerência, e 0,4% estão nos quadros executivos. Mas, quando os 
cargos são correspondentes ao início da carreira, são 57,5% para aprendizes, 
e 58,2% para trainees.
A violência é um fator importante para ser debatido. De acordo com 
o Atlas da Violência (2017), a cada 100 pessoas vítimas de homicídios no 
Brasil, 71 são negras, sendo os jovens as maiores vítimas. Ao analisar os 
dados de violência, com base no gênero e na etnia, os resultados também são 
alarmantes. O número de mulheres negras vítimas de feminicídio (homicídio 
cuja motivação é o fato da vítima ser do gênero feminino) é maior do que o 
das mulheres não negras. Aproximadamente, 65% das mulheres vítimas de 
assassinato no Brasil, durante o ano de 2016, eram negras, configurando a 
problemática que envolve a desigualdade de gênero e a questão racial. 
Nesse sentido, os estudos sobre as relações de gênero e sexualidade 
são, também, de suma importância para compreendermos a diversidade que 
permeia a sociedade do ponto de vista das identidades de gênero. Também 
15Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
é importante refletirmos sobre os conflitos oriundos de interpretações 
equivocadas sobre essas temáticas, os problemas enfrentados no mercado de 
trabalho e a importância das políticas públicas voltadas para as questões de 
gênero e sexualidade.
2. Diversidade de Gênero e Sexualidade
 
Além dos estudos sobre as questões étnico-racial e indígena, as 
relações de gênero e sexualidade também fazem parte da sociodiversidade. 
Os primeiros estudos sobre gênero, em geral, partiam das discussões sobre 
as mulheres, desde as análises acerca das lutas políticas inauguradas com o 
movimento feminista no século XIX e início do século XX, até as novas 
configurações em relação a gênero e sexualidade.
No século XIX, os movimentos de mulheres deram suporte à 
construção do feminismo. Uma das conquistas advindas desses movimentos, 
no início do século XX, foi o direito ao voto. O termo “feminismo” diz 
respeito à dimensão política – cuja a principal característica é a defesa por 
igualdade entre os sexos –, bem como na ideia radical de que as mulheres 
são pessoas, e, portanto, devem ser vistas com direitos como todos os 
membros da sociedade. O feminismo não está pautado na dicotomia ou 
oposição em relação ao masculino, conforme observa-se no senso comum. 
É importante ressaltar que o feminismo não diz respeito ao uso do termo 
“mulher”, conforme demonstrou Judith Butler, no livro Problemas de Gênero, 
uma vez que a sociedade tende a determinar o que é ser mulher nos âmbitos 
cultural, histórico e psicológico, produzindo, assim, inúmeros olhares sobre o 
feminino e o que é ser “mulher”. Esses olhares, construídos a partir da ideia e 
naturalização da cultura machista, tende a alocar as mulheres na subalternidade 
em relação ao masculino. Um dos resultados é a violência contra mulheres ou 
qualquer pessoa que se considere feminina (como as mulheres trans). 
Um dos estudos que marcaram as análises sobre feminismo, gênero 
e sexualidade foi o Segundo Sexo, de autoria de Simone de Beauvoir, nos 
anos 1940. Nesse livro, a autora abordou como a sociedade construiu seus 
pressupostos de desigualdade entre os gêneros, bem como a subalternização da 
mulher. Ao afirmar que “ninguém nasce mulher, torna-se”, Beauvoir promove 
16 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
uma reflexão pautada não somente no aspecto da determinação biológica do 
sexo que inscreve-se no ato do nascimento (homem e mulher / macho e fêmea), 
mas, sim, no caráter identitário e cultural que moldam a socialização e educação 
dos sujeitos a partir do seu sexo. Por exemplo:ao nascer, aparece determinado 
o que é de “menino” e o que é de “menina”, configurando categoricamente qual 
o tipo de comportamento que deve ser assimilado pelos indivíduos para que 
respondam às expectativas e imposições sociais. Nesse sentido, a supremacia 
masculina, em detrimento da fragilidade feminina, seria um elemento a ser 
discutido pelas intelectuais feministas.
 
Dos anos 1940 até as décadas de 1970 e 1980, a maioria dos trabalhos 
que tinham como foco a questão do gênero chamava a atenção para os 
problemas em torno da formação histórica baseada no patriarcalismo (no 
poder político-social exercido especialmente por homens), que gerava 
inúmeros conflitos e violência contra as mulheres. O resultado dessas 
reflexões foram a criação de políticas públicas de proteção às mulheres, 
como a Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAMs), criada nos anos 
1980, a Lei Maria da Penha, em 2006 e a Lei do Feminicídio, em 2015.
 
Entretanto, do final dos anos 1980 em diante, as pesquisas sobre gênero 
incluíram outras temáticas de igual importância, chamadas de identidades 
de gênero. Os estudos sobre identidades de gênero estão para além das 
análises baseadas na “heteronormatividade”, ou seja, a ideia preconceituosa 
de que somente a heterosexualidade seria a única a ser aceita pela sociedade 
e, portanto, qualquer outra orientação sexual estaria na marginalidade e 
sujeita a críticas, discriminação e repúdio. Essa concepção de orientação 
sexual, ao ignorar as demais orientações advindas da diversidade sexual, é 
um dos motivadores de conflitos e violências sofridas por sujeitos que não se 
enquadram no comportamento heteronormativo. 
Os dados divulgados anualmente pela ONG GGB (Grupo Gay da 
Bahia) revelam o crescimento da violência e dos assassinatos sofridos pela 
população LGBTTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Travestis e 
Interssexuais): uma das constatações é a de que a maior parte das vítimas 
de homicídios são pessoas Trans (Transgênero e Travestis). As pessoas 
transgênero são aquelas que não se identificam com o sexo biológico com 
que nasceram e, por esse motivo, decidem pela mudança de sexo, por meio 
de cirurgias e acompanhamento psicológico durante o processo. Já a pessoa 
17Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
travesti é aquela que também não se identifica com o corpo biológico que 
nasceu, usa roupas e possui comportamentos de pessoas do sexo oposto, 
mas não fazem a cirurgia de mudança de sexo. Em geral, os indivíduos 
de orientação sexual Trans estão mais vulneráveis, pois a não aceitação 
de sua condição por parte dos familiares, o preconceito exacerbado nos 
espaços escolares e a dificuldade em se inserir no mercado de trabalho são 
os principais fatores que colocam essa população em risco. 
As pessoas Intersex são aquelas que, ao nascer, constatam a existência dos 
dois sexos, chamadas de “hermafroditas”; o Intersex pode nascer com aparência 
biologicamente feminina, mas possuir predominância anatômica masculina e vice-
versa. A percepção de que a pessoa é Intersex nem sempre é de fácil constatação 
e, em alguns casos, por exemplo, a descoberta pode vir em decorrência de alguma 
cirurgia ou na infertilidade, pois, ao fazer os procedimentos e exames médicos 
para descobrir os motivos da impossibilidade de engravidar, pode-se verificar que, 
internamente, os órgãos correspondem ao sexo masculino.
O gênero não é definido somente nos elementos biológicos do 
indivíduo, mas também pelas dimensões sociais, culturais e pela orientação 
sexual. Assim, a identidade de gênero é um composto de construções sociais, 
culturais e escolhas individuais com as quais o sujeito se identifica. Por 
esse motivo, embora o sujeito pertença biologicamente ao sexo masculino 
ou feminino, ao não se sentir confortável com essa “determinação”, pode 
assumir identitariamente outra configuração. Nesse ponto, é importante 
salientar que a escolha do indivíduo por outra orientação sexual diferente do 
seu sexo biológico não configura nenhum tipo de problema de ordem mental 
ou comportamento desviante e pervertido, mas somente como identificam 
seus corpos a partir da dimensão psicológica. 
As múltiplas construções sobre gênero podem ser observadas 
nos movimentos LGBTTI. Em geral, esses movimentos têm, na pauta, a 
institucionalização de políticas públicas, o reconhecimento do ponto de vista 
do exercício pleno da cidadania, o reconhecimento de direitos, entre outros. 
O Ministério Público lançou, em 2017, a Cartilha LGBT, apresentando os 
conceitos, os direitos LGBT, a legislação e os órgãos de defesa e direitos dessa 
população. Nesse documento, a sociedade tem acesso aos principais pontos da 
legislação, às políticas públicas e à defesa dos direitos. 
18 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
A Cartilha LGBT é um documento importante enquanto referencial 
sobre a questão LGBT no Brasil. Nessa publicação, a sociedade tem 
pleno acesso às determinações legais, bem como o direcionamento 
que a justiça institucionalizou sobre a inclusão, respeito e exercício de 
liberdade por parte desses grupos. 
Ultimamente, é comum ouvirmos a expressão “ideologia de gênero” 
para caracterizar negativamente as questões de gênero, argumentando que tal 
“ideologia” é nociva em relação ao processo de socialização da criança. Entretanto, 
a “ideologia de gênero”, conceitualmente, não existe, uma vez que os sujeitos 
não têm uma “ideia” sobre seu gênero, mas, sim, uma identidade de gênero. 
Em geral, a “ideologia de gênero” é uma expressão utilizada superficialmente, 
de acordo com dogmas religiosos e contrários a qualquer manifestação de 
orientação sexual que não se enquadre na heteronormatividade.
A compreensão em torno das relações étnico-raciais, de gênero 
e sexualidade, além de chamar a atenção para a importância em relação às 
condutas e práticas éticas na sociedade, também são questões que perpassam 
pela necessidade de pensar o exercício pleno da cidadania e a busca e 
preservação dos direitos individuais, conforme veremos a seguir.
3. Cidadania
 
O termo “cidadania” é amplamente utilizado no cotidiano da sociedade. 
Entretanto, do ponto de vista conceitual, pode-se dizer que cidadania significa 
condições para o exercício de direitos por parte do cidadão, ou seja, a garantia 
do direito do cidadão remete, diretamente, ao ato do exercício de cidadania. 
Em relação à concepção jurídica do uso do termo, está vinculado ao fato de 
que o cidadão exerce cidadania quando usufrui de seus direitos políticos. Para a 
sociologia, o uso do termo é mais abrangente, pois não basta ter direitos políticos 
assegurados; é fundamental que o sujeito tenha garantias de seus direitos civis 
e sociais. No Brasil, um dos entraves para que o cidadão exerça plenamente sua 
cidadania está no desconhecimento dos direitos sociais e civis que estão garantidos 
na Constituição de 1988, também conhecida como “constituição cidadã”.
Importante
Leia mais
19Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Historicamente, a cidadania como garantia de direitos foi instituída 
no final do século XVII, no contexto da Revolução Francesa; em 1789, foram 
declarados, na França, os direitos do homem e do cidadão. Nesse documento, 
as noções de cidadania que conhecemos aparecem em 17 artigos, dentre eles: 
a liberdade individual e a igualdade de direitos; o direito à propriedade, a 
segurança e o combate à opressão; o respeito aos direitos de cada homem; o 
direito ao exercício da opinião e liberdade religiosa etc.
Pouco mais de 100 anos depois, já no século XX, em 1948, foi idealizada 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nela, estão reafirmados os 
direitos civis, salientando a importância da liberdade, justiça e paz. No artigo 
2, chamamos a atenção para a redação que, de maneira simples, salienta a 
importânciada preservação dos direitos: 
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades 
proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, 
nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de 
opinião política ou outra, de fortuna, de nascimento ou de qualquer 
outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada 
no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território 
da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, 
sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Ambas as declarações apontam para a questão da manutenção de 
direitos fundamentais. Assim, ressalta-se que os processos discriminatórios 
frequentemente sofridos por sujeitos ou grupos em relação à etnia, orientação 
sexual ou religiosa representam uma grave violação aos Direitos Humanos. 
Nos estudos da área de Direito, uma das dimensões amplamente discutidas 
é o “direito à diferença”, especialmente no chamado “novo direito privado 
brasileiro”. Atualmente, a pluralidade de ideias, de valores, de sujeitos e de grupos 
é o principal elemento que promove a proteção da diversidade. Esse pluralismo 
é percebido com base nas noções de tolerância e concepção moral e jurídica, que 
asseguram o direito à diferença. Nesse sentido, o direito privado passa a conviver 
igualmente com outras legitimidades e outros valores (FERRAZ; LEITE, 2015).
Entretanto, a pluralidade ou diversidade típica da sociedade atual 
também é um elemento de vulnerabilidade, ou seja, é necessário pensar a 
20 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
diversidade e, ao mesmo tempo, observar a vulnerabilidade em torno das 
populações chamadas de minorias. Negros, indígenas e LGBTTI, por 
exemplo, estão constantemente no cenário político e social, na busca por 
direitos e proteção, uma vez que fazem parte de grupos que sofrem violências 
motivadas pelo preconceito racial e de gênero.
A cidadania, historicamente, pode ser observada em três momentos: os 
direitos civis (baseados no direito à liberdade, propriedade privada e igualdade 
assegurada pela lei), direitos políticos (especialmente no direito ao voto e 
demais formas de participação do cidadão nas questões governamentais) e 
direitos sociais (moradia, educação, emprego, saúde e seguridade social). No 
Brasil, esses direitos aparecem difusos, e, mesmo no contexto democrático, a 
manutenção de um direito não garante a de outro. O fato de o Brasil ser uma 
democracia e ter o voto direto e irrestrito (um direito político) não significa 
que o direito à saúde, educação ou emprego está, da mesma forma, assegurado.
De acordo com Carvalho (2005), os problemas em torno do exercício 
pleno da cidadania, ou de um determinado direito é que, no caso do Brasil, os 
direitos civis foram limitados, especialmente no período entre a abolição da 
escravidão, em 1888; a proclamação da República, em 1889; e a ascensão de 
Getúlio Vargas ao poder, em 1930. Para o autor, nesse período, a participação 
popular na política nacional, limitada na ação de pequenos grupos oligárquicos 
e detentores de poder econômico, excluiu as massas das decisões políticas e, 
consequentemente, atrasou a aquisição e manutenção de direitos civis e sociais.
Após 1930, o cenário político brasileiro também não se mostrou 
favorável ao exercício pleno de direitos e cidadania. Durante o governo de 
Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945, o fechamento do Congresso Nacional 
e a instauração do Estado Novo promoveram um período ditatorial e de 
silenciamento de grupos opositores ao regime implantado por Vargas, 
provocando, ainda mais, o enfraquecimento de qualquer elemento 
democrático. Em 1942, a consolidação das leis trabalhistas - a CLT -, 
significou um avanço nos direitos sociais, mas não garantiu, de fato, os 
demais direitos (civis e políticos). Menos de duas décadas depois, o Golpe de 
1964 e a institucionalização dos militares no poder novamente promoveram 
o retrocesso dos direitos civis e políticos, pois uma das primeiras medidas 
foi o fechamento do Congresso, o governo por Atos Institucionais (decretos 
produzidos pelo poder executivo) e o voto indireto (ausência da sociedade civil 
21Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
na escolha de presidente e demais membros do poder executivo e legislativo). 
Nesse sentido, ao longo de quase 30 anos, a sociedade brasileira manteve-se 
distante do exercício do direito político.
No início dos anos 1980, o processo de redemocratização foi lento e 
de difícil retomada da democracia. O regime militar extinguiu-se em 1985, 
e alguns direitos civis foram retomados, tais como a liberdade de expressão 
individual e da imprensa. Entretanto, não significou a possibilidade de 
exercício da cidadania, pois os direitos políticos e sociais ainda não estavam 
devidamente acessíveis à população em geral.
Para Carvalho (2005), o exercício da cidadania está atrelado à 
manutenção dos direitos civis, políticos e sociais. No Brasil, a facilidade com 
a qual a conquista desses direitos são postas em cheque ao longo da história 
(o processo de escravidão no período colonial, a instauração complexa do 
regime republicano, as ditaduras civil e militar) é responsável por uma parcela 
significativa das desigualdades sociais. Os problemas sociais no Brasil, como a 
pobreza e o sistema de assistência social precários ainda não foram resolvidos, 
mesmo com a manutenção da democracia.
Nesta unidade de aprendizagem, discutimos as relações étnico-raciais, 
de gênero e sexualidade e a importância da conquista e manutenção dos 
direitos sociais, civis e políticos. Eles são fundamentais para o exercício 
da cidadania e, no vídeo Compromisso das empresas com os Direitos 
Humanos LGBT, produzido pelo Instituto Ethos, você conhecerá melhor 
como e quais são as estratégias de inclusão social para a população LGBT. 
Saiba Mais
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22 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, foram apresentadas as discussões em 
torno das relações étnico-raciais, de gênero e sexualidade e de cidadania. 
Sobre a questão étnico-racial, chamou-se a atenção para o processo de 
colonização e escravização dos negros africanos, abordando a cultura trazida 
por eles e o seu papel fundamental para a formação do povo brasileiro. 
As relações de gênero e sexualidade foram tratadas conceitualmente, 
destacando as políticas voltadas para os grupos LGBTs. É importante ressaltar 
o papel das empresas e de organizações não governamentais para a inclusão 
das pessoas LGBTs. 
Apresentamos, também, a situação de violência à qual estão expostas 
a comunidade LGBTs e a população negra, em decorrência do racismo e do 
preconceito de gênero.
Por fim, nesta unidade de aprendizagem, discutiu-se a questão da 
cidadania, destacando a importância dos direitos sociais, políticos e civis no 
processo de construção e exercício pleno da cidadania.
23Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
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20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 
2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir 
no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História 
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 23 jan. 2018.
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2015. Disponível em: https://run.unl.pt/bitstream/10362/18278/1/
25Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
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RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
26 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Direitos Humanos, Inclusão 
do Público-alvo da Educação 
Especial e Acessibilidade
29Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Objetivos
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:
 ▪ Interpretar contextos sociais permeados por diversidades.
31Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, serão abordadas as questões sobre 
os direitos humanos, a inclusão do público-alvo da educação especial e a 
acessibilidade. As discussões sobre os direitos humanos são fundamentais para 
o entendimento em torno do direito à vida, liberdade de escolha e manutenção 
da justiça social, destacando a necessidade de compreensão desse tema para 
além das dimensões do senso comum.
Em seguida, serão apresentadas as discussões sobre a importância do 
reconhecimento da sociedade e do Estado acerca da necessidade de inclusão 
das pessoas que fazem parte do público-alvo da educação especial (pessoas com 
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e com altas habilidades/
superdotação). O processo de inclusão desse público-alvo diz respeito aos 
espaços de empregabilidade (como o cumprimento da lei que garante uma 
porcentagem das vagas no mercado de trabalho para esse público); nas 
instituições de ensino (especialmente no cumprimento de medidas, como 
a contratação de tradutores de língua de sinais); e nas relações familiares 
(construindo bases de informação para que os membros familiares tenham 
condições de cuidados e procedimentos adequados a cada caso). Além disso, 
abordaremos a questão da acessibilidade, compreendida como fundamental 
para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
1. Direitos Humanos
 
Na primeira unidade de aprendizagem, a abordagem sobre a cidadania 
assinalou a importância dos direitos humanos. Nesse sentido, ressaltamos 
a necessidade de compreender, historicamente, a construção dos direitos e 
dignidade da pessoa humana, como uma das pré-condições para a instauração 
dos direitos humanos na atualidade. Nosso principal intuito é trabalhar o 
contexto histórico e a conceituação de direitos humanos, além do senso 
comum, chamando a atenção para o direito à vida.
 
A questão dos direitos humanos, antes da elaboração e institucionalização 
da Declaração dos Direitos Humanos, em 1948, tem elementos fundamentais 
na dimensão jurídica do Estado de Direito. De acordo com essa dimensão, 
a inspiração para sua construção jurídica está no pensamento cristão, 
destacando o argumento de que os seres humanos foram criados à imagem 
e semelhança de Deus. Assim, o cidadão se destaca dos demais seres vivos, 
tornando-se especial e possuidor de dignidade. Essa discussão foi abordada 
por Alves (2001), que apontou algumas semelhanças entre as concepções de 
direitos humanos na atualidade e a igreja católica e seu papel doutrinário ao 
longo do tempo.
 
Para ele, além da afirmação de que o homem foi criado à imagem e 
semelhança de Deus, dando a ele dignidade e o colocando como especial diante 
do “criador”, ao longo do século XIX, por exemplo, a Igreja se posicionou 
em defesa dos direitos da pessoa, argumentando sobre seu descontentamento 
diante dos inúmeros casos de abusos e desrespeito sofridos pelos operários 
durante o processo de industrialização. Entre os direitos da pessoa humana 
considerados fundamentais, Alves (2001) apresenta: o direito à vida; integridade 
física e psicológica; direito aos bens materiais que garantam a sobrevivência 
digna do cidadão; direito ao trabalho digno; direito à autonomia individual 
e familiar; direito a exercer a religião que escolher; direito à participação 
política, econômica, cultural, entre outros.
 
Além da importância da doutrina católica no que diz respeito à 
preservação da dignidade humana, o chamado pensamento iluminista do 
século XVIII difundiu ideias fundamentais em relação ao valor da pessoa 
humana. É importante destacar que, no período de efervescência do 
33Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Iluminismo, vigoravam as monarquias absolutas, cujo Rei tinha poder de vida 
e de morte sobre seus súditos. O Iluminismo criticava essa estrutura de poder 
político e defendia a ideia de que o Estado (monárquico) não deveria intervir 
na autonomia individual, ou seja, todo homem teria o direito à propriedade 
privada. A Revolução Francesa (1789) e a primeira Revolução Industrial (na 
última década do século XVIII, na Inglaterra) foram dois eventos históricos 
impulsionados pelos ideais iluministas, bem como pelo descontentamento da 
burguesia mercantil e da população diante dos “desmandos” dos monarcas. 
Essas duas revoluções assinalaram o fim das monarquias absolutas, ou seja, a 
queda do poder em torno do Rei. 
 
Nas primeiras duas décadas do século XIX, por causa da “segunda” 
Revolução Industrial, promovida a partir da inserção de máquinas a carvão, o 
processo produtivo tornou-se mais ágil. Ao mesmo tempo, o campo passou 
a criar ovelhas em detrimentos de outras práticas agrícolas, com o intuito de 
fornecer lã para as fábricas de tecelagem, descartando uma quantidade elevada 
de trabalhadores rurais; consequentemente, esses camponeses seguiram 
para os grandes centros urbano-industriais, ficando esse processo conhecido 
como “cercamento dos campos”. O campo rendeu-se à cidade, e seus antigos 
trabalhadores rurais, sem outra opção, partiram em busca de atividades 
produtivas nas fábricas. A cidade, sem preparo para receber o contingente 
populacional advindo dos campos, enfrentou seu primeiro problema em 
decorrência da Revolução Industrial: a pauperização e favelização da população 
operária – esse cenário fez parte do contexto do Estado Liberal.
 
Noséculo XIX, com a queda das monarquias absolutas na 
Europa e a ascensão da burguesia industrial, o Estado Liberal, idealizado 
e defendido pelos iluministas, não encontrou um cenário favorável para 
sua sobrevivência, pois cuidava apenas da institucionalização das decisões 
por parte dos detentores do capital. Assim, o Estado Liberal, ao delegar à 
sociedade a liberdade individual, não conseguiu manter a dignidade humana. 
Além disso, a ausência de controle do Estado em torno das questões 
econômicas, a liberdade de comércio e das relações de produção (mediadas 
pelos detentores do capital e dos meios de produção), a livre concorrência 
e supremacia da propriedade privada, entre outras características do Estado 
Liberal, transformaram-se, ao longo do século XIX, nos principais entraves 
para a sobrevivência dessa dinâmica de poder estatal (GUERRA, 2011). 
As mazelas sociais – como a fome, pobreza, miserabilidade, ausência de 
34 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
direitos sociais e a exploração da classe operária – provocadas pelo sistema 
capitalista industrial, inaugurado pela Revolução Industrial, apontaram as 
contradições desse sistema, reavivando as discussões em torno da dignidade 
humana e do papel do Estado nessa questão. Surgia, ao final do século XIX 
até meados do século XX, o Estado de Bem-estar Social, que era responsável 
pela concepção, institucionalização e manutenção de padrões aceitáveis de 
acesso à saúde, educação, moradia, saneamento básico, empregabilidade e 
aposentadoria (GROPPO, 2005).
 
O século XX foi inaugurado com a primeira Guerra Mundial, entre 
1914 e 1917. Essa guerra, extremamente nociva para o mundo, especialmente 
aos países ocidentais, constituiu um cenário que impulsionou, quase duas 
décadas depois, a Segunda Guerra Mundial, que ocorreu entre 1939 e 
1945. Esse cenário diz respeito à ascensão do nazismo na Alemanha e do 
fascismo na Itália. Uma das marcas da Segunda Guerra foi a perseguição à 
população judia e os assassinatos e torturas nos campos de concentração; 
aproximadamente, cerca de seis milhões de judeus foram mortos ao 
longo da guerra, nos campos de concentração, com envenenamento a gás, 
fuzilamento ou na condição de “cobaias” em experimentos conduzidos por 
médicos e cientistas nazistas.
 
É fato que, em contextos de guerra, as questões de respeito à vida 
são ignoradas. No caso da Segunda Guerra, as atrocidades sem precedentes, 
especialmente em relação à situação sofrida pela população judia, levantaram 
inúmeras discussões sobre como a sociedade seria reconstruída. Somado às 
atrocidades cometidas com a perseguição aos judeus, o final da Segunda Guerra 
foi marcado com o lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, 
no Japão; essas cidades foram dizimadas e, há décadas sofre com os resquícios 
radioativos, causadores de doenças, entre outros infortúnios para os seres 
humanos, fauna e flora. Esses acontecimentos suscitaram o surgimento de um 
termo para designar o massacre sem precedentes: o genocídio. Essa palavra foi 
utilizada, pela primeira vez, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, 
para designar o assassinato deliberado e em massa de grupos ou comunidades 
inteiras, motivado por questões de raça, religião e etnia.
 
O fim da Segunda Guerra foi marcado pela derrota dos países que 
compuseram o Eixo: a Alemanha nazista, a Itália fascista e o Japão. Os 
países aliados que venceram a guerra (Estados Unidos, Reino Unido e União 
35Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Soviética, entre outros países da Europa e Américas Central e Sul) designaram 
inúmeros embargos econômicos aos países do Eixo. Além disso, os países do 
Eixo tiveram que enfrentar, em decorrência da devastação provocada pela 
guerra, processos de reparação e julgamentos – o Julgamento de Nuremberg 
foi um dos mais significativos e era composto por um tribunal militar 
internacional, com o intuito de julgar os membros do alto comando nazista. 
A Alemanha teve seu território dividido em lado ocidental e lado oriental, 
pelo muro de Berlin, o qual demolido em 1989, representando a queda do 
Bloco Socialista.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e do nazismo, apesar de uma série de movimentos 
internacionais contrários a qualquer ensejo de guerra, entre os anos de 1947 e 1991, o 
mundo vivenciou a chamada Guerra Fria, que consistia em uma série de investidas para 
a construção de armamentos pesados, incluindo bombas atômicas, 
por parte dos países que passaram a compor o Bloco Comunista e o 
Bloco Capitalista. Os países do Bloco Comunista faziam parte da União 
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e os que pertenciam ao Bloco 
Capitalista estavam ao lado dos Estados Unidos da América.
Para saber mais sobre a Guerra Fria, assista ao vídeo indicado.
 
Os países ocidentais, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, 
reuniram-se, trazendo, na pauta de discussões, a necessidade de criar mecanismos 
que pudessem inibir o desencadeamento de novas guerras de dimensões 
internacionais. Assim, em 24 de outubro de 1945, foi institucionalizada a 
Organização das Nações Unidas (ONU), a partir da promulgação da Carta das 
Nações Unidas, formada por vários países, com o intuito de criar estratégias 
que possibilitassem a manutenção da paz. Inicialmente, a organização contou 
com 51 países-membros e, atualmente, são mais de 191, incluindo o Brasil.
 
Nesse sentido, três anos após a criação da ONU, esse órgão apresentou 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948. 
Os trabalhos desenvolvidos pela ONU, além da manutenção da paz, promovem, 
desde a sua criação, instâncias diversas de discussão sobre o desenvolvimento 
econômico e a construção de estratégias para a proteção do meio ambiente, 
sendo o principal órgão promotor dos direitos humanos.
Vídeo
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36 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
A Organização das Nações Unidas define “Direitos Humanos” como 
direitos que todos os serem humanos possuem, independentemente de raça, 
religião, etnia, idioma, gênero, nacionalidade ou qualquer outra condição em 
que o indivíduo esteja inserido. Além disso, ela ainda assegura o direito à 
liberdade de expressão, de opinião, ao exercício de trabalho em condições 
adequadas, moradia, saúde, educação e à vida.
O Direito Internacional dos Direitos Humanos é responsável pela 
configuração de normas e regras que devem ser seguidas ou abandonadas 
pelos governos, com o intuito de garantir a todos os indivíduos o alcance 
das prerrogativas estabelecidas pela Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. Portanto, é importante salientar que os direitos humanos, ao 
defender o direito à vida de todos os seres humanos, estão pautados na 
dimensão universal do respeito à pessoa.
2. Inclusão do Público-alvo da Educação Especial
 
Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na primeira 
metade do século XX, a exclusão/inclusão social daqueles que, de alguma 
forma, não correspondiam ao que era determinado como “normal” pela 
sociedade, tornou-se uma questão em constante debate.
Em vários momentos da história da humanidade, é possível perceber a 
diversidade no entendimento do lugar e papel que esses indivíduos ocupavam. 
No Egito antigo (aproximadamente 4.500 anos a.C.), a partir da análise de 
algumas pinturas, túmulos e afrescos, notava-se que não havia qualquer 
impedimento do exercício de tarefas ou de aceitação do sujeito com alguma 
“deficiência” física. O mesmo não ocorreu na Grécia Antiga. 
No livro A República, de Platão, é possível perceber a forma como aquela 
sociedade se comportava em relação ao “deficiente”. Para Platão, por exemplo, 
seria aconselhável que, no ato do nascimento, as pessoas que apresentassem 
condições de “homens inferiores” ou “disformes” deveriam ser arremessadas 
de umpenhasco ou abandonadas ao relento e, em alguns casos, deveriam ser 
ocultadas, ou seja, retiradas do convívio social. Durante o império romano, a 
pessoa com algum tipo de “deficiência” também não era aceita, e a recomendação 
era que os pais eliminassem os nascidos “anormais” pelo afogamento.
37Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Ao longo do império romano, especialmente a partir do ano I 
(d.C.), o surgimento do cristianismo reconfigurou, aos poucos, as questões 
que envolviam as pessoas que nasciam com algum tipo de limitação física. 
Aproximadamente no século IV (d.C.), ainda durante o império romano, 
a partir da ação dos cristãos, surgiram os primeiros abrigos e hospitais que 
recebiam indigentes ou pessoas “deficientes”.
 
Na Idade Média, e em contextos também da antiguidade clássica, 
o sujeito que nascia com algum tipo de “deficiência” era visto como um 
“castigo” de Deus ou alguém que não poderia ser aceito na sociedade. Alguns 
indivíduos que não estavam adequados fisicamente eram abandonados à sua 
própria sorte ou enviados para espaços de confinamento.
 
Na Idade Moderna, entre os séculos XV e XVIII, a Europa cristã 
passou por transformações importantes do ponto de vista social e cultural, 
entre elas o distanciamento do homem das dimensões divinas para explicação 
tanto do mundo, quanto dos acontecimentos de suas vidas em particular. 
Assim, para as pessoas com alguma deficiência, foram construídos espaços 
de atendimento fora das igrejas ou asilos destinados aos pobres e idosos 
(SILVA, 1987).
 
Ao longo do século XIX, especialmente nos Estados Unidos, além da 
manutenção das instituições criadas anteriormente para atender às pessoas 
com deficiência, é interessante destacar a criação de locais específicos para 
os marinheiros fuzileiros, que retornavam mutilados de alguma situação de 
conflito. Em 1867, na Filadélfia, foi inaugurado o Lar Nacional para Soldados 
Voluntários Deficientes.
 
No século XX, a assistência destinada às pessoas deficientes e 
doentes em geral teve avanços importantes com a inserção de programas de 
reabilitação. Esses programas foram incorporados, especialmente, em virtude 
das duas guerras mundiais, que provocaram o aumento de pessoas feridas em 
conflitos. Além disso, as pessoas com deficiência, que foram presas pela polícia 
nazista durante a Segunda Guerra Mundial, foram vítimas de experimentos 
comandados por médicos e cientistas nazistas.
 
No Brasil, além de hospitais, a criação de escolas especializadas 
– como o Instituto Benjamin Constant – são iniciativas que, ao longo 
38 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
do tempo, colaboraram para o surgimento de movimentos e legislações 
que promovessem a inclusão desse público. As primeiras iniciativas de 
atendimento e inclusão de pessoas com deficiência ocorreram no século 
XIX, na cidade do Rio de Janeiro, com a criação do Instituto dos Meninos 
Cegos, em 1854 (atual Instituto Benjamin Constant) e o Instituto dos 
Surdos-mudos, em 1857 (atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos 
- INES). Na primeira metade do século XX, em 1926, foi inaugurado 
o Instituto Pestalozzi, com o intuito de receber pessoas com deficiência 
mental. No ano de 1945, na Sociedade Pestalozzi, institucionalizou-se o 
atendimento voltado especificamente para pessoas com superdotação, tendo 
Helena Antipoff (1892-1974) à frente do processo.
 
Nos anos 1960 e 1970, A Lei de Diretrizes e Bases definiu o direito 
de inserção de pessoas excepcionais, com deficiências físicas, transtornos mentais 
e superdotação. Entretanto, esses estudantes não seriam inseridos nas classes 
regulares, mas, sim, em classes especiais, reforçando a separação e isolamento 
desse público dentro dos espaços escolares. Somente com a Constituição de 1988, 
no artigo 205 – que define a educação como um direito de todos, sem distinção 
ou preconceito – e no artigo 206, Inciso I – que enfatiza a igualdade de condições 
de acesso e permanência nos espaços escolares –, é que podemos observar uma 
maior preocupação com a inclusão das pessoas portadoras de algum tipo de 
deficiência. A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394), de 
1996, também contempla a importância de garantir, preferencialmente, a inclusão 
da pessoa com deficiência na rede regular de ensino. 
 
Em 2008, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) lançou A Política 
Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva, determinando que a 
educação especial deve fazer parte da proposta pedagógica da escola regular. O 
intuito dessa política é derrubar barreiras para que o público-alvo da educação 
inclusiva (alunos com deficiência, Transtorno do Espectro Autista – TEA e 
altas habilidades/superdotação) possa participar das atividades escolares sem 
discriminação (BRASIL, 2008).
Na atualidade, apesar de inúmeros casos de discriminação em relação 
às pessoas com deficiência, uma série de mudanças está em curso, alterando, 
substancialmente, o olhar da sociedade. Uma questão importante a ser salientada 
é o tratamento em relação às pessoas que possuem algum transtorno, como o 
Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em 2012, a Lei nº 12.764/12 instituiu 
39Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do 
Espectro Autista, com o objetivo de garantir o acesso aos bancos escolares, 
bem como o cumprimento de todos os recursos e adaptações para receber, 
adequadamente, esse público nas instituições regulares de ensino.
3. Acessibilidade
Os direitos humanos, como exposto anteriormente, são fundamentais 
tanto para a proteção e manutenção do direito à vida, como para as discussões 
sobre o público-alvo da educação inclusiva. Nessa direção, a questão da 
acessibilidade também compõe um tópico importante no processo de 
construção e manutenção de uma sociedade alicerçada nos direitos e na 
qualidade de vida.
O uso do termo “acessibilidade” apareceu nos anos 1940 e estava ligado 
ao surgimento dos serviços direcionados à reabilitação física e profissional. Nos 
anos 1950, esses serviços ganharam força e um pouco mais de aperfeiçoamento. 
Em seguida, o termo foi utilizado para referenciar instituições e serviços 
voltados para reabilitação física (especialmente em relação aos soldados que 
participaram da Segunda Guerra Mundial) e profissional. 
Nos anos 1960, o meio acadêmico abarcou os estudos sobre 
acessibilidade e, especialmente na arquitetura, uma das questões que passou 
a fazer parte dos debates foram as chamadas “barreiras arquitetônicas”, que 
eram entraves para a acessibilidade. Nos anos 1970, surgiram os primeiros 
projetos arquitetônicos, apresentando as possibilidades de eliminar, na prática, 
as barreiras que impediam o acesso aos espaços públicos. Esses projetos 
ganharam força nos anos 1980 e, nos anos 1990, atingiram protagonismo com 
a concepção de desenho universal, ou seja, a sociedade passou a compreender 
a necessidade legal de promover acessibilidade (FÁVERO; COSTA, 2014).
Na redação do Decreto n. 5.296, Art 8º, Inciso I, ficou estabelecido que 
acessibilidade diz respeito à:
Possibilidade de condição de alcance para utilização, com segurança 
e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, 
edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus 
40 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações 
abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto 
na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com 
mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004)
O Decreto nº 5.296 foi um marco na construção de políticas públicas 
em relação à acessibilidade no Brasil. As prerrogativas contempladas 
no documento ajudam na elaboraçãode condições dignas e inclusivas, 
direcionadas ao público que possui algum tipo de dificuldade de acesso 
aos espaços públicos.
É importante salientar que o Decreto nº 5.296 estabelece as bases sob 
as quais as instituições, espaços públicos e privados devem se orientar para que 
todo cidadão tenha acessibilidade. Nos espaços públicos, a lei define que os 
transportes coletivos e os projetos arquitetônicos devem apresentar adequação 
para que as pessoas possam transitar e utilizar sem impedimentos. Nesse sentido, 
a exigência é que exista sinalização adequada, meios de acesso aos andares, 
espaço para cadeiras de rodas e locais definidos para sentar nos transportes 
públicos, destinados a idosos, pessoas com deficiências, entre outros. 
O atendimento prioritário também é mencionado no Decreto nº 5.296, 
estabelecendo que as pessoas com alguma deficiência ou mobilidade reduzida 
devem ter acesso imediato aos atendimentos em instituições financeiras, 
órgãos de administração pública ou privada, empresas prestadoras de serviços 
etc. A regulamentação do direito à acessibilidade é dada pela Norma Brasileira 
9050, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/NBR, 2004).
A importância da acessibilidade como forma de respeito à dignidade 
humana, inclusão social e qualidade de vida está relacionada à 
construção de espaços educacionais de qualidade e que possa favorecer 
a sociedade nos aspectos dos direitos humanos. 
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41Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, foram discutidas três questões 
fundamentais e complementares: os Direitos Humanos, a Inclusão do 
Público-alvo da Educação Inclusiva e Acessibilidade. Em relação aos Direitos 
Humanos, chamou-se a atenção para os pressupostos históricos em torno do 
direito à vida, bem como os fatores decisivos para a criação e institucionalização 
da Declaração dos Direitos Humanos, em 1948. Esses fatores dizem respeito 
aos atos sem precedentes durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, 
que suscitaram os debates sobre quais medidas poderiam ser pensadas para 
evitar novos eventos violentos. Sobre a inclusão social do público-alvo da 
educação inclusiva, a importância está centrada na legislação que assegura a 
inserção desse público nas instituições educacionais. Por fim, vimos a questão 
da acessibilidade, desde os anos 1940, com a preocupação dos profissionais 
de reabilitação, até os estudos acadêmicos dos anos 1970/1980 em diante, 
com os projetos arquitetônicos que inseriram as medidas de acessibilidade, 
especialmente nos espaços públicos. 
43Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
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46 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Multiculturalismo 
e Globalização
49Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Objetivo
Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de:
 ▪ Comparar culturas distintas em contextos de Globalização.
51Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Introdução
Nesta unidade de aprendizagem, o objetivo é compreender a questão 
do multiculturalismo no contexto da globalização. O multiculturalismo ou a 
pluralidade cultural diz respeito às várias dimensões culturais sob as quais as 
sociedades estão alicerçadas, ou seja, a diversidade de raça, idiomas, religiões, 
linguagens etc., conforme estudamos na primeira unidade de aprendizagem. 
Com o advento da sociedade industrializada a partir da última década 
do século XVIII (com a 1ª Revolução Industrial na Inglaterra), com o 
crescimento dos mercados internacionais e com a proximidade comercial e 
cultural entre as sociedades, também promovidas pelo processo intenso de 
industrialização, as nações intensificaram o consumo. Esse consumo cresceu 
e cresce continuamente e, em decorrência dessa realidade, as sociedades 
vivenciam a chamada cultura do consumo.
1. Diversidade Cultural e Globalização
A sociodiversidade diz respeito às diferentes manifestações culturais, 
modos de vida, relação com a natureza, multiculturalismo etc. Nesse sentido, 
as abordagens sobre cultura, multiculturalismo e o pluralismo étnico e 
suas inúmeras características demonstram a importância da construção do 
conhecimento direcionado para a formação humana. 
Em geral, o termo “cultura” significa um conjunto de normas, regras, 
identidade e os padrões típicos de vida de uma determinada sociedade. A 
palavra “cultura” é originária do latim, que designava espaços agrários ou o ato 
de trabalhar a terra para torná-la fértil. Do ponto de vista antropológico, não 
há um consenso sobre o conceito de cultura. O primeiro autor a apresentar 
uma conceituação foi Taylor(1871), no livro Primitive Culture, afirmando 
que cultura seria a complexidade em relação aos sujeitos que incluiria a 
diversidade de conhecimentos, crenças, manifestações artísticas, a questão da 
moral, os costumes, a composição das leis e hábitos pertencentes aos homens 
que integram determinada sociedade. Dessa forma, salienta-se que a cultura 
não faz parte de herança genética, mas, sim, dos inúmeros modos de vida 
assimilados pelos sujeitos em determinados contextos sociais.
Essas características são perpetuadas em sociedade, por meio das 
gerações, a partir do processo de socialização. A socialização é o meio pelo qual 
conhecimentos, comportamentos, modos de vida, percepções de mundo, formas 
de construção dos elementos morais e éticos que compõem a cultura de um povo, 
são passados e perpetuados ao longo do tempo entre os membros da sociedade. 
Os estudos sobre cultura são vastos. É importante ressaltar que, durante 
o século XIX e início do século XX, o uso do termo “cultura” também foi 
utilizado para designar sociedades “mais ou menos” desenvolvidas e, por esse 
motivo, era comum falar em sociedade mais avançada e, portanto, civilizadas, 
que seriam aquelas que possuíam mais recursos tecnológicos, como era o caso 
dos países europeus. 
Por outro lado, o termo “primitivo” era designado àquelas sociedades 
que não estavam adequadas ao reconhecimento e uso de recursos tecnológicos, 
como as sociedades africanas. Essa distinção gerou inúmeros problemas, 
entre eles a falsa ideia de que, ao existirem sociedades “mais avançadas” do 
53Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
que outras, o argumento para promover o imperialismo na África foi que 
aquelas sociedades eram primitivas e, portanto, deveriam passar por estágios 
civilizatórios – foi o etnocentrismo europeu. O resultado foi o chamado 
“apartheid”, baseado na segregação da população da maioria dos países do 
continente africano, assunto abordado na primeira unidade de aprendizagem.
Nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX, os estudos 
antropológicos feitos por Boas (2005), em Antropologia cultural, alocou 
o conceito de cultura na espécie humana e tudo que a engloba. O autor 
estudou as sociedades até então rotuladas como “primitivas”, julgando que, 
com o tempo, essas sociedades estavam destinadas ao desaparecimento e, 
portanto, era necessário elaborar uma série de estudos baseados na sua 
“descrição densa”. Esse método, a “descrição densa”, tinha como principal 
característica a inserção do pesquisador na sociedade que se quer observar 
e descrever “fidedignamente” os modos de vida, ou seja, os elementos 
típicos daquela sociedade. Assim, seria possível deixar, para as gerações 
vindouras, o registro das sociedades primitivas que seriam extintas com o 
passar do tempo.
Uma das sociedades “primitivas” escolhidas por Boas (2004) para 
realizar a “descrição densa” foram os esquimós. O antropólogo passou um 
ano entre os esquimós. Ao chegar na localidade e começar a interação junto 
aos grupos, o autor teve uma surpresa: observou que o que ele e seus colegas 
antropólogos chamavam, até então, de “primitivos”, possuíam elementos 
culturais, padrões comportamentais, formas de conhecimento etc., diferentes, 
mas em nenhuma hipótese inferior em relação à sociedade ocidental chamada 
“civilizada”. Essa constatação foi fundamental para que as afirmativas em 
torno da ideia de culturas mais ou menos evoluídas chegassem ao fim. 
Desse momento em diante, passou a vigorar a noção de culturas, no plural, 
reconhecendo a diversidade cultural dos povos. 
Nas últimas décadas do século XX em diante, a partir das discussões 
sobre o pluralismo cultural, temos o conceito de multiculturalismo, que foi 
designado para identificar a existência de formas culturais diferentes no âmbito 
das sociedades modernas. Posteriormente, com o advento da globalização, essa 
conceituação passou a ser utilizada para descrever as diferenças culturais dos 
grupos sociais em contextos mais amplos, e não somente a uma determinada 
sociedade, conforme salientou Santos (2001).
54 Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
Nesse sentido, os conceitos de multiculturalismo e sociodiversidade, do 
ponto de vista antropológico, estão interligados. A sociedade é diversa, plural 
e, portanto, multicultural: existem múltiplos grupos humanos, com padrões 
singulares organizacional, social, política, cultural e de valores morais.
No contexto da globalização, o debate gira em torno de duas 
questões: por um lado, observa-se o entrelaçamento entre culturas, a troca 
de conhecimentos e maior proximidade entre as nações; mas, por outro lado, 
argumenta-se os perigos em torno da globalização, especialmente em relação à 
imposição, dominação e padronização em decorrência da imposição de valores 
e de modos de vida. Um bom exemplo é a chamada “American Way Of Life” 
– o jeito americano de ser –, um fenômeno que se disseminou pelos países 
de orientação capitalista, em decorrência da expansão da produção cultural e 
midiática dos Estados Unidos ao longo do século XX e intensificada nos anos 
1950 e 1960. 
No geral, os meios midiáticos (programas de televisão, indústria 
cinematográfica, jornais e revistas) difundiram a imagem dos Estados Unidos 
da América como uma sociedade justa, progressista e democrática. Por 
conseguinte, o cidadão norte-americano destacava-se por sua conduta ética, 
bem educada e saudável; portanto, um estilo de vida que deveria ser um 
espelho a ser seguido por outras nações. 
De acordo com Santos (2001, p.9), a globalização apresenta-se 
como um fenômeno típico da sociedade moderna, baseada em três formas 
de interpretação do mundo: “o mundo como fábula, como perversidade e 
como possibilidade”. O mundo observado como uma fábula diz respeito à 
construção imaginária e ideológica de aldeia global, difusão instantânea de 
informações e de compressão do espaço e do tempo, ou seja, a diminuição 
de distâncias e de tempo provocada pelo fenômeno da internet, por exemplo. 
Assim, o mundo estaria vivenciando uma falsa noção de que tudo está ao 
alcance de todos.
Entretanto, essa noção de proximidade mundial mascara as 
singularidades locais, cuja diversidade cultural é imensa. Em contrapartida, a 
globalização pode ser visualizada com perversidade, especialmente em relação 
à questão social, apontando a perda gradativa do valor pago de salário médio, 
o acirramento da pobreza e da fome em todos os continentes do planeta, a 
55Sociodiversidade, Responsabilidade e Comprometimento Social
desigualdade de acesso à educação básica e de qualidade e o acesso à saúde, 
entre outros problemas.
O mundo como possibilidade baseia-se na globalização mais humana, 
cujo uso das técnicas, conhecimento do planeta e a observação sobre o 
momento político e econômico podem ser utilizados para outros objetivos, 
entre os quais destacam-se: o reconhecimento da pluralidade cultural dos 
povos e a diversidade de pensamento para além do eurocentrismo (pensamento 
alicerçado na cultura e modo de vida europeu).
Além das questões apontadas por Santos (2001), é importante 
chamar a atenção para a dificuldade de pensar a globalização do ponto de 
vista humanitário, especialmente na atualidade, cujas discussões em torno dos 
rumos políticos e econômicos estão em constante conflito pela dificuldade de 
os países desenvolvidos assimilarem propostas e acordos internacionais, como 
é o caso das resoluções em torno da diminuição da poluição. 
No contexto da globalização, uma série de transformações ocorreu nos 
países da América Latina, entre os quais destacaram-se os conflitos 
internos políticos, em decorrência de crises econômicas e sociais. Para 
saber mais sobre as questões sociais em decorrência da Globalização, 
dos anos 1970 em diante, assista ao documentário proposto.
A globalização, especificamente

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