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Página | 1 Regulação da Osmolaridade Luís Carlos Guedes Júnior – 3º período _______________________________________________________________ A cor da urina vai variar de acordo com o estado de hidratação, este que pode ser alterado por vários fatores. As urinas mais coradas possuem uma maior concentração de sais, enquanto as mais claras possuem maior nível de água. Em um dia frio, o corpo não precisa realizar sudorese para perda de calor, assim mantendo os níveis de água no corpo, o que faz com que a urina fique mais clara nessas ocasiões. Em contrapartida, após atividade física intensa, o corpo perde muita água pela sudorese, o que aumenta a concentração salina na urina e faz com que ela seja excretada com uma cor mais amarelada. O ser humano tem a capacidade de urinar diariamente um valor entre 500ml e 18L, mantendo a mesma concentração iônica em ambos os casos. Isso quer dizer que se pegarmos um tubo de ensaio e observarmos a osmolaridade da coloração da urina, podemos associar que está associada a concentração de sais, onde quanto mais escura, maior essa concentração. Porém, curiosamente, o que é perdido de sal urinando 500 ml, também é perdido urinando 18L. Fazendo uma analogia, ao pegarmos uma colher de sal e despejarmos dentro de um copo, e outra colher e despejarmos dentro de uma piscina olímpica, ambas terão a mesma quantidade total de sal, porém o copo possui uma concentração salina muito maior. Página | 2 Quando falamos de água no corpo, temos que entender que existe água no plasma, no líquido intersticial e água intracelular. O percentual do nosso peso corporal composto por água do plasma é de 5% (4L), no interstício é de 15% (14L), e no meio intracelular é de 40% (28L), totalizando 60% do peso corporal total (42L). É importante ressaltar que a água pode ser ingerida no ato de beber e por meio de alimentos. Outros volumes de água no corpo, porém em quantidade menos significativa são a linfa e a água transcelular, que é a água presente no espaço entre uma célula e outra, o que acontece, por exemplo, no líquido cefalorraquidiano, nas junções sinoviais das articulações, nas secreções, como saliva, duodenais e biliares, etc. A ingestão de água é controlada pelo mecanismo da sede, e o que faz a pessoa ter sede ou não é a osmolaridade do plasma. Toda vez que sentimos sede a osmolaridade do plasma está aumentada. Osmolaridade pode ser definida como fator que faz trazer água para diluir solúveis. Quanto maior a osmolaridade, mais concentrados estão os íons, os sais no sangue, e o corpo precisa de mais líquido para diluir esses íons. Esse mecanismo pode ser explicado da seguinte forma: quando o sangue passa pelo hipotálamo, ele encontra dois núcleos, sendo eles o núcleo supra-óptico e o núcleo paraventricular. Esses núcleos vão produzir duas substâncias muito importantes que se concentram na neuro-hipófise, a ocitocina, que é muito importante na fase final da gestação (início do trabalho de parto), e a vasopressina (ADH – hormônio antidiurético). Ambos os núcleos sintetizam as duas substâncias. Quando ocorre aumento da osmolaridade do plasma, o hipotálamo percebe essa variação graças a presença de osmorreceptores, e esses receptores passam a informação para o núcleo supra-óptico (preferencialmente produz ADH) para produzir mais vasopressina, assim retendo mais líquido, aumentando a quantidade de água a ser ofertada para o plasma e diluindo os seus componentes. Além disso, os osmorreceptores modulam a sede, aumentando também a ingestão de água. A quantidade de água corporal pode variar de acordo com sexo, idade, peso, onde um recém-nascido pode ter até 80% de seu peso corporal composta por água, e é por isso que a pele dos bebês é mais delgada, Página | 3 enquanto um idoso que geralmente possui 50% do peso corporal composto por água já possui a pele mais ressecada e desidratada. Comparando os níveis de água no corpo com o passar da idade, podemos observar que a quantidade total vai diminuindo, principalmente o conteúdo extracelular. Observando o gráfico, notamos que a água intracelular é mantida por conta de sua importância nas funções celulares. Quando os níveis de água caem muito no indivíduo, gerando um caso de desidratação, preocupa-se mais com o paciente idoso do que o mais jovem, pois o nível de água total nesse indivíduo já é reduzido. Uma diarreia (que gera grande perda de água) na criança pode não ser tão preocupante, enquanto no idoso pode causar até desmaios. As mulheres tem uma tendência maior de reter líquido graças a presença do hormônio estrogênio. Página | 4 O corpo humano consegue regular a composição dos fluidos corporais através do sistema cardiovascular, envolvendo o sistema endócrino do hipotálamo, os rins, ou seja, por conta de vários mecanismos reguladores é muito difícil ocorrer um caso de desidratação em um indivíduo em condições normais. O corpo mantém uma balança sobre tudo que entra e sai do organismo, e é importante que seja observado no paciente o balanço hídrico. O balanço hídrico vai envolver o quanto entrou e o quanto saiu de líquido, avaliando soro, alimentação, sudorese, micção, além da própria produção endógena do organismo. De acordo com os valores, verifica-se perda ou ganho de líquido, revelando balanços positivos ou negativos. Podemos observar diferenças nos componentes intracelulares e extracelulares. No meio intracelular podemos observar alta concentração de K+, pouco Na+, diferentemente do extracelular, que é o oposto. Além disso, no meio extracelular observamos alto nível de Cl-. O bicarbonato praticamente se equaliza no meio extra e intracelular. As proteínas são mais concentradas dentro da célula. A distribuição entre a ingestão e a eliminação demonstra que por dia o corpo praticamente, em média, ingere e elimina a mesma quantidade de líquido. Através de bebidas, comidas e produtos do próprio metabolismo o corpo recebe em média 2550 ml de água, e elimina os mesmos 2550 ml através da perde pela pele e pulmões, suor, fezes e urina. Existem distúrbios Página | 5 clínicos que vão desregular o metabolismo da água, como a diarreia, vômito, sudorese intensa, e até o fluxo menstruale a lactação. No caso da lactação, a mulher precisa de ocitocina, e esse hormônio é liberado no momento da sucção do mamilo para a liberação do leite. Curiosamente esse hormônio também causa sede, onde o aumento do consumo de água vai ajudar no processo da lactação. A regulação da osmolaridade no corpo pode variar, onde encontramos casos de urinas mais diluídas e mais concentradas, porém a quantidade de água não interfere na quantidade de sais sendo eliminados, pois essa quantia tende a se manter constante. Dependendo do volume urinado, o rim tem a capacidade de separar sal de água durante o trajeto de formação da urina no néfron. Esse efeito é a capacidade que o rim apresenta de separar Na+ e K+ pra tentar diluir ou concentrar a urina. Esse efeito acontece pelas propriedades que a alça de Henle, principalmente no ramo ascendente, tem de trocar o Na+, K+ e Cl-. A osmolaridade sanguínea normal gira em torno de 300 mOsm/L e na urina é 4x vezes maior, girando em torno de 1200 mOsm/L. Assim entende-se que o corpo precisa de um mecanismo que elimine essa quantidade residual de íons. Em um caso de osmolaridade plasmática aumentada, para conseguir reduzir essa osmolaridade o corpo precisa ingerir mais água e jogar mais íons fora. Basta alterar os valores plasmáticos em até 2% para que os rins entrem em ação visando manter os níveis normais, o que mostra um mecanismo muito preciso. Podemos encontrar a urina hiperosmótica (mais concentrada), isosmótica (menos concentrada), e hiposmótica (mais diluída). Quanto maior a quantidade de soluto diluído no solvente, maior a osmolaridade do sistema. Soluções hipertônicas vão estimular os osmorreceptores a induzirem o núcleo supra-óptico do hipotálamo a liberar ADH. Déficit de água também está relacionado a queda da pressão arterial, onde o hipotálamo percebe alteração de pressão pelos barorreceptores e induz a sede para que o indivíduo aumente a ingestão de água e consequentemente aumente a volemia, e também libere ADH para manter os níveis de água normais no organismo. Página | 6 LER OBSERVANDO A IMAGEM ABAIXO Nós temos então reabsorção no túbulos contorcido proximal, na porção descendente da alça de Henle, porção ascendente, túbulo contorcido distal e ducto coletor. O néfron justaglomerular é aquele em que a alça de Henle mergulha em parte da medula, e o terço superior se localiza no córtex renal. No túbulo contorcido proximal ocorre reabsorção de H2O e NaCl (transporte ativo). Dependendo da conformação das arteríolas aferentes e eferentes, ocorre maior ou menor formação de urina. No túbulo contorcido proximal a osmolaridade do ultrafiltrado é a mesma do interstício, pois está perdendo sal e água junto. Se perdesse apenas sal, a osmolaridade do ultrafiltrado diminuiria. Na porção descendente da alça de Henle ocorre apenas perda de água pelos canais de aquaporina do tipo 7 e 5, o que deixa a urina mais concentrada. Os canais aquaporina são abertos sob influencia do ADH, assim eliminando menos água na urina e mandando mais água para o interstício. Para isso, o interstício precisa ter uma osmolaridade maior do que a do ducto. Como ocorre perda de água na porção descendente da alça de Henle, na porção ascendente (porção fina) o excesso de NaCl começa a ser absorvido, e posteriormente (porção espessa) aparece um trocador NKCC2, que absorve Na+, K+, Cl-, ou seja, ele pega o sal do ultrafiltrado e joga para o interstício ativamente. O ultrafiltrado agora entra no túbulo contorcido distal, com osmolaridade de 100 mOsm/L, pois agora além da água, também perdeu sal. Então ocorrerá mais perda de H2O, mais perda de sal, e normalmente o ultrafiltrado atinge a osmolaridade de 300 mOsm/L, a mesma de quando teve inicio o processo. Isso não quer dizer que o ultrafiltrado do início seja igual ao do fim, o que também explica como a osmolaridade passa de 100 para 300 mOsm/L. Isso ocorre pois entra no ducto a Ureia, então o meu ultrafiltrado fica mais concentrado graças a essa substância. Neste momento temos baixa concentração de NaCl e muita concentração de Ureia, enquanto no inicio existia alta concentração de NaCl e quase nada de Ureia. A osmolaridade chega até a mais ou menos 600 mOsm/L, e aí o ducto coletor começa a expulsar Ureia para o interstício. A presença do ADH neste momento faz com que haja liberação de H2O para o interstício pelas aquaporinas tipo 2, mas em ausência deste hormônio a água continua na composição da urina, lembrado que o ADH é regulado pela Página | 7 osmolaridade do plasma, interferindo na perda e na reabsorção de água. No ato de urinar, a urina apresenta osmolaridade de 1200 mOsm/L. Isso porque na medula ocorre mais saída de agua para o interstício (vasos retos) do que sal, assim deixando a urina mais concentrada. Um homem de 70kg naturalmente elimina cerca de 600 miliosmóis de soluto por dia. A capacidade máxima do ser humano de concentrar a urina é de 1200 mOsm/L, pois o máximo que se consegue concentrar é o valor que se tem na medula. Para se eliminar 600 miliosmóis numa urina de 1200 mOsm/L, precisa de 0,5 L de água por dia. Um indivíduo ao beber constantemente água do mar morre desidratado porque curiosamente a água do mar possui 1200 miliosmóis, então se eu bebo 1L de água do mar, eu estarei ingerindo 1200 miliosmóis. Para eliminar essa quantidade, mais a produzida pelo corpo (600), seriam necessários 1,5 L de água. Portanto, a água do mar causa desidratação. Um nível alto de ADH aumenta a permeabilidade no túbulo distal e ducto coletor. Se o ADH aumenta a permeabilidade no túbulo distal, a água é mais reabsorvida para o interstício, o que deixa a urina do indivíduo mais concentrada. Uma alta osmolaridade do líquido intersticial medular renal produz Página | 8 um gradiente osmótico para tirar água do tubo e passar para a medula (quanto maior a osmolaridade entre medula e túbulo renal, maior vai ser a quantidade de água que sai e maior será a osmolaridade da urina). Como foi visto, ao longo do trajeto do ultrafiltrado, este sofre diversas alterações de osmolaridade, e alguns outros íons também participam do processo, como Ca++, Mg, K+, HCO3. A aldosterona troca Na com K no túbulo contorcido distal, o que aumenta a reabsorção de água e aumenta a volemia no plasma, sendoum dos mecanismos do corpo para manutenção da pressão arterial. No interior do néfron, a água entra com muito sal, passa pela parte descendente, chega na porção ascendente, lembrando que nessa fase não ocorre reabsorção de água, apenas de NaCl pelo NKCC2. No ducto coletor não corre perda de água normalmente, mas na presença de ADH, ocorre grande reabsorção de água, deixando a urina mais concentrada. Portanto, novamente, o ADH é importantíssimo para determinar se a urina será mais diluída ou concentrada. Além disso, na presença do ADH ocorre maior reabsorção de ureia. Página | 9 Explicando o sistema multiplicador de contracorrente na alça de Henle O ultrafiltrado entra com 300 miliosmóis, porém começa a perder íons pelo transportador NKCC2. Então se eu começo a transferir íon do ultrafiltrado para a medula, que incialmente também tem 300, a medula aumenta a concentração de íons, passando para 400. Como esse transportador opera ativamente jogando os íons para fora, a osmolaridade do ultrafiltrado diminui, passando para 200. Porém, o ultrafiltrado continua entrando e a bomba continua funcionando, e como a medula já estava a 400 por conta do processo anterior, ela vai ficando cada vez mais concentrada, passando para 500, e assim por diante. Isso acontece porque os vasos retos captam principalmente a água do interstício medular, o que mantém a osmolaridade alta nessa região, já que a bomba está mandando íons para la constantemente. Isso acontecerá até a osmolaridade chegar no limite máximo de 1200, e a partir de então tudo vai sendo diluído até chegar em 100 no túbulo contorcido distal, pois com essa osmolaridade muita água vai ser puxada. Quando essa urina chega no ducto coletor ela encontra o ADH, e dependendo se o indivíduo está com osmolaridade do plasma alta ou baixa, e dependendo de quanto de ADH foi secretado, os canais de aquaporina são abertos e a água vaza de forma brutal para a medula, diluindo a alta concetração de íons ali presente, que é captada pelos vasos retos posteriormente. No ducto coletor ocorre reabsorção de água até que os níveis osmóticos do ducto e da medula se equiparem, explicando porque a urina é eliminada com cerca de 1200 miliosmóis. É IMPORTANTE QUE A LEITURA SEJA FEITA OBSERVANDO A IMAGEM ABAIXO Página | 10 Página | 11 A ureia contribui muito para a omolaridade medular, pois está altamente concentrada nessa região, representando cerca de 40 a 50% da osmolaridade do interstício. Dos 1200 miliosmóis da medula, 600 são responsáveis pela ureia. Ela é reabsorvida passivamente pelo túbulo pelos transportadores de ureia UT-A1,UT-2 e UT-A3 (ativado pelo ADH). Observando o mecanismo, podemos ver quer a ureia entra proximamente a curvatura da alça de Henle, segue normalmente o trajeto do túbulo, mostrando grande concentração de ureia no túbulo contorcido distal, e novamente ela é reabsorvida no ducto coletor pelos seus transportadores. Esse ciclo de reabsorção é importante para a manutenção da osmolaridade da medula. Os vasa recta estão dispostos paralelamente a alça de Henle e vão até a intimidade da medula, e em algumas regiões a osmolaridade é a mesma encontrada no interior do ducto. Isso é importante porque com essa osmolaridade, a água que estava na medula extravasa para dentro do vaso. Algumas substâncias como a própria angiotensina vão interferir no aumento da sede. Outros fatores são a queda da pressão, aumento da osmolaridade do plasma, queda da volemia sanguínea, causando secura da boca. A diminuição da sede está associada justamente ao contrário, e a distensão gástrica também ocasiona isso. Por isso água com gás da sensação Página | 12 de matar a sede mais rápido, pois o gás causa distensão do estômago e faz a sede diminuir. O mecanismo da sede acontece muitas vezes quando não há déficit de água, estando então associado a outro fator clínico, como tumor, trauma, inflamação, ingestão compulsiva de água. Alguns pacientes podem apresentar hipodipsia, que é a diminuição ou ausência de sede, ocasionada por tumores como craniofaringioma, glioma, pinealoma ectópico, ou mesmo por trauma.
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