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Deficiência Visual e AEE W B A 0 2 15 _ v1 .1 2/267 Deficiência Visual e AEE Autora: Tatiana dos Santos Como citar este documento: SANTOS, Tatiana dos. Deficiência Visual e AEE. Valinhos: 2016. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira 05 Assista a suas aulas 33 Unidade 2: Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos interna- cionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 40 Assista a suas aulas 64 Unidade 3: Estimulação visual e intervenção pedagógica 71 Assista a suas aulas 93 Unidade 4: Orientação e mobilidade e atividades da vida diária 101 Assista a suas aulas 130 2/267 3/2673 Unidade 5: Alfabetização e o sistema Braille 137 Assista a suas aulas 162 Unidade 6: Soroban: origem, estrutura e conceitos básicos 170 Assista a suas aulas 193 Unidade 7: Tecnologia assistiva para estudantes com DV 201 Assista a suas aulas 224 Unidade 8: As salas de recursos multifuncionais e os núcleos de acessibilidade 231 Assista a suas aulas 258 Sumário Deficiência Visual e AEE Autora: Tatiana dos Santos Como citar este documento: SANTOS, Tatiana dos. Deficiência Visual e AEE. Valinhos: 2016. 4/267 Apresentação da Disciplina Caro estudante! Seja bem-vindo à disciplina de Deficiência Visual e Atendimento Educacional Especia- lizado (AEE). Esta disciplina discute a neces- sidade de compreensão da deficiência visu- al, desde o funcionamento do sistema visu- al até a cegueira propriamente dita. Discutir a deficiência visual e compreender o modo como as pessoas visualizam o mundo é o primeiro passo para realizar a inclusão des- ses alunos, respeitando e valorizando a di- ferença em sala de aula. Lembre-se sempre de que a inclusão escolar depende de todos: pais, professores, alunos e comunidade. As barreiras atitudinais pre- cisam ser superadas, tornando as pessoas mais humanas e sensíveis diante da diver- sidade. Espero que esta disciplina contribua de al- guma forma com esse processo de sensibi- lização e acolhimento da diversidade e com os conceitos acerca da deficiência visual e o modo específico de “ver” o mundo por meio dos outros sentidos, principalmente, do tato, olfato e da audição. Bons estudos e muita sensibilidade humana nas suas discussões! 5/267 Unidade 1 Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira. Objetivos 1. Compreender o sistema visual. 2. Reconhecer as doenças mais comuns, responsáveis pelas alterações do sis- tema visual. 3. Conceituar cegueira e baixa visão. 4. Contextualizar a história da deficiên- cia visual, no decorrer dos tempos. 5. Conceituar surdocegueira. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira6/267 Introdução Você está iniciando uma disciplina de grande importância para qualificar o desenvolvimento de um trabalho voltado para a educação inclusiva. Por muito tempo, a sociedade praticou e, por vezes, ainda pratica ações excludentes e preconceituosas. Passamos por períodos de exclusão, segregação e integração. A inclusão escolar rompe com paradigmas excludentes e abraça a educação através da valoriza- ção e respeito pela diferença, compreendendo todas as pessoas como únicas e especiais, capa- zes de superar dificuldades, desde que respeitadas as suas possibilidades e necessidades. Além da valorização do ser humano, a educação inclusiva segue o princípio da amizade, da convivên- cia e da socialização e aprendizagem entre as pessoas. Para Mittler: A nossa tendência é a de subestimar pessoas e de superestimar as dificul- dades que podem enfrentar e os desapontamentos que podem experien- ciar se ‘falharem’. Mas isso é cair na linguagem do ‘nós’ e do ‘eles’: dificil- mente estas são as palavras que constroem uma sociedade inclusiva ou uma escola inclusiva (2003, p. 16-17). Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira7/267 Durante esta disciplina, você deverá com- preender um mundo, talvez, por muitos, desconhecido, estudando de forma mais aprofundada a deficiência visual e compre- endendo o desenvolvimento da pessoa com essa condição. É importante atentar já no início dos seus estudos para informações relativas a esse público que, muitas vezes, é classificado de forma equivocada. Pessoas com deficiência visual podem apresentar a condição de ce- gueira ou baixa-visão, e tal deficiência pode ser congênita ou adquirida. Compreender o sistema visual é fundamen- tal para ampliar o conhecimento acerca das necessidades deste público. Tal conhe- cimento qualifica a prática profissional e contribui para a construção humana sensí- vel, fundamental para o trabalho com o ser humano, tendo em vista que amplia o olhar para as possibilidades, para as diferenças e para os diferentes modos de ensinar e aprender. É muito importante que você, pós-gradu- ando, compreenda as deficiências e sín- dromes, para que possa, da melhor e mais humana maneira possível, realizar o seu trabalho voltado para uma educação justa e inclusiva. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira8/267 Nesse sentido, Mantoan sinaliza que: Ensinar atendendo às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada um, depende, entre outras condições, de se abandonar um ensi- no transmissivo e de se adotar uma pedagogia ativa, dialógica, integrado- ra, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber (2003, p. 70-71). A autora atenta para a valorização das individualidades, por meio de um trabalho que atenda às diferenças, mas não diferencie o ensino. Assim, faz-se necessário compreender essas necessida- des biológicas e sociais, a fim de qualificar este processo. A pessoa com deficiência visual terá acesso ao mundo imagético por meio dos demais sentidos: auditivo, olfativo e tátil. Sua relação com os seus pares e contexto que está inserido influenciarão na sua inclusão e no seu desenvolvimento. Pensar a inclusão de pessoas nessa condição é pensar em possibilidades diferenciadas de enxer- gar e de se relacionar com o mundo. Do nascimento até a fase adulta, pessoas com deficiência visual buscam adaptações que permitam seu desenvolvimento com autonomia e qualidade de Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira9/267 vida. É muito importante entender esse uni- verso antes de desenvolver qualquer ação que envolva acessibilidade. O conhecimen- to do sistema visual e das especificidades da deficiência é fundamental para avançar nas práticas inclusivas. Inicie derrubando as barreiras atitudinais que podem influenciar o processo de inclu- são e busque ampliar o rol de informações que agreguem valor a sua atuação profis- sional e pessoal. Convido você a iniciar nossos estudos com- preendendo o nosso sistema visual. 1. Definição e Classificação da Deficiência Visual. Para conversar sobre a deficiência visual, primeiramente é necessário compreender o sistema visual e, a partir daí, estudar essa deficiência. O sistema visual é composto pelos nossos olhos que estão diretamente ligados ao sis- tema nervoso central, através dos nervos ópticos. A visão é um sentido muito importante para a convivência e socialização do ser humano, pois os olhos são responsáveis por captar imagens, transformá-las em impulsos e en- viá-las ao cérebro, através do nervo óptico, possibilitando seu entendimento, sua fun- ção é fundamental para a visualização do ser humano. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueirae baixa visão) e da surdocegueira10/267 Sua estrutura está dividida em: Quadro 1 – Sistema visual Estrutura do sistema visual Córnea É uma parte transparente que juntamente com a íris, foca a imagem na retina. Íris É a parte colorida dos olhos. Fica localizada entre a córnea e o cristalino e funciona como um diafragma, determinando a quantidade de luz que penetra no olho, abrindo e fechando a pupila. Cristalino É a lente natural dos olhos. É transparente e fica atrás da íris. Retina É responsável por transformar a imagem em impulsos e en- viá-los ao cérebro. Funciona como um prolongamento do sistema nervoso central e está posicionada na face interna do olho. Humor aquoso É um líquido que preenche o olho, juntamente com o humor vítreo. Fica entre a córnea e o cristalino e é renovado con- stantemente. Humor vítreo Tem característica de gel e preenche a cavidade posterior do olho humano. Fonte Disponível em: <http://www.iobh.com.br>. Acesso em: 21 dez. 2016. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira11/267 Quando a estrutura dos olhos é comprometida por qualquer razão, pode ocasionar uma série de doenças e também a deficiência visual. As doenças mais comuns são a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. Essas são doenças comuns que normalmente são corrigidas com o uso dos óculos. Quadro 2 – Doenças comuns. DOENÇAS COMUNS CORRIGIDAS COM O USO DE ÓCULOS Miopia A miopia dificulta a visão principalmente para longe. Acontece quando a imagem se forma antes da retina; normalmente, a criança que apresenta miopia aproxima-se para ver as coisas mais de perto. Hipermetropia A hipermetropia é o contrário da miopia. A imagem se forma após a retina, dificultando a visão de perto. Tanto a pessoa com miopia como a com hipermetropia apresentam visão embaçada. Astigmatismo É uma irregularidade da córnea. A córnea do olho da pessoa com astigmatismo apresenta forma ovalada, o que acaba desfocando alguns raios de luz e provoca imagens embaralhadas e distorcidas. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira12/267 DOENÇAS COMUNS CORRIGIDAS COM O USO DE ÓCULOS Fonte: http://www.cemahospital.com.br/editor/assets/noticias/miopia,%20hipermetropia%20e%20astigmatismo.jpg Esses são alguns exemplos de doenças comuns, corrigíveis com o uso de óculos. Existem ainda doenças mais severas que necessitam de um tratamento mais complexo e que podem ocasionar perda de visão. No adulto, ocorrem doenças como a catarata, a diabetes ocular e o glaucoma. Já na criança, po- dem ocorrer a catarata congênita, o glaucoma congênito, a ambliopia e a retinopatia da prema- turidade. As doenças citadas anteriormente podem ocasionar a baixa-visão ou a cegueira, tanto na pes- soa adulta como na criança. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira13/267 A deficiência visual refere-se à diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou adquiridas. Essa diminuição da resposta visual pode variar de leve a se- vera, ou até a ausência total da resposta visual. Quando se tratar de diminuição de capacidade visual severa, significa que es- tamos nos referindo às pessoas com visão subnormal ou baixa-visão. Já a ausência to- tal da resposta visual refere-se à cegueira. a) Cegueira A cegueira, como já mencionado anterior- mente, refere-se à ausência total da res- posta visual. Pode ser classificada em con- gênita ou adquirida. Uma pessoa é considerada cega se corres- ponde a um dos seguintes critérios: a vi- são corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de vi- são normal pode ver a 200 pés (60 metros), ou se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200. Esse campo visual restrito é, muitas vezes, chamado “visão em túnel” ou “em ponta de alfinete” (CONDE, 2006). Para saber mais Normalmente, os exames que detectam o grau de acuidade visual utilizam a Escala de Snellen, ou seja, aqueles testes de visão realizados nas escolas, em oftalmologistas e para comprovar aptidão para carteira de habilitação. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira14/267 A cegueira pode ser dividida em cegueira absoluta (a pessoa não distingue nada) e a cegueira parcial (a pessoa distingue luz, sombra ou contornos) e pela idade de iní- cio da deficiência. As formas de manifesta- ção da cegueira, no que se refere ao grau de imagem retida e à idade em que a cegueira iniciou, são essenciais para compreender a pessoa acometida pela deficiência. A cegueira congênita caracteriza-se pela perda total de visão desde o nascimento ou anterior aos cinco anos de idade. O cego congênito, na maioria das vezes, não apre- senta memória visual, o que normalmente provoca o cérebro a criar mecanismos na- turais de substituição do sentido da visão por outros sentidos sensoriais, como o tato, a audição, o gosto e o olfato. Normalmente, os sentidos sensoriais mais desenvolvidos são o tato e a audição. A cegueira adquirida caracteriza-se pela perda quase total ou integral do sentido da visão em pessoas que possuíram a visão e onde as imagens visuais ainda estão de cer- ta forma, presentes. Essa perda de visão pode ocorrer devido a acidentes, ou em vir- tude de doenças degenerativas específicas, ou ainda com o avanço da idade. A cegueira adquirida caracteriza-se pela perda total de visão após os cinco anos de idade, e a pes- soa que a desenvolve possui memória visu- al, guardando na memória imagens e cores que visualizou, o que auxilia na sua readap- tação. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira15/267 Segundo Tojal: A cegueira adquirida ou cegueira tardia é caracterizada pela perda quase total ou integral do sentido da visão em indivíduos que já possuíram a visão e cujas imagens visuais ainda estão, de certa forma, presentes. A perda da visão, nestes casos, poderá ocorrer em razão de acidentes ou mais frequen- temente, de maneira progressiva em virtude de doenças específicas ou de- generativas, acarretadas muitas vezes pelo avanço da idade (1999, p. 10). Quem nasce desprovido da visão não apresenta essas referências e não podem formar uma me- mória visual. Link Acuidade visual é o grau de aptidão do olho, para discriminar os detalhes espaciais, ou seja, a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos. Essa capacidade discriminatória é atributos dos cones (cé- lulas fotossensíveis da retina), que são responsáveis pela acuidade visual, central, que compreende a visão de forma e a visão de cores. Entenda mai sobre o assunto no link a seguir. Disponível em: <http://www. vejam.com.br/baixavisao-acuidade-visual/>. Acesso em: 17 dez. 2016. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira16/267 b) Baixa visão ou visão subnormal A baixa visão ou visão subnormal caracteri- za-se como a alteração na capacidade visu- al, ocasionando rebaixamento na acuidade visual, redução do campo visual e da sensi- bilidade aos contrastes. Classifica-se a defi- ciência visual como baixa visão, se a pessoa apresenta acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ou um campo visual en- tre 20 e 50º. Pode ser classificada em leve, moderada, severa ou profunda e decorrente de doenças como: doenças de retina, glau- coma, catarata, traumas, diabetes, senili- dade, entre outras causas. Essas doenças podem ocasionar a perda da visão central, perda da visão periférica, perda difusado campo visual e diminuição da sensibilidade ao contraste. Entenda como uma pessoa com baixa visão visualiza o seu meio. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira17/267 Quadro 3 – Comprometimento de uma pessoa com baixa visão Perda da visão central Perda da visão periférica. Perda difusa do campo visual. Diminuição da sensibilidade ao contraste. Fonte: Disponível em: <http://brasilmedia.com/Baixa-visao.html>. Acesso em: 21 dez. 2016. As crianças podem demonstrar certas pistas comportamentais que possibilitam perceber se ela está com alguma dificuldade de visão. Algumas dessas pistas, segundo o Instituto de Cegos da Bahia, podem ser lacrimejamento, sen- sibilidade à luz, mancha branca no olho, redução do tamanho do globo ocular, grande dilatação na pupila, tremor ocular, olho torto (estrabismo), necessidade de grande aproximação dos obje- tos para uma melhor visão. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira18/267 Ao perceber esses indícios no comporta- mento de seu aluno, deverá comunicar os pais e solicitar um exame oftalmológico, para certificar-se se está tudo bem com a visão dessa criança. Lembre-se de que o olhar atento do pro- fessor e da família pode auxiliar muito no diagnóstico precoce de algum comprometi- mento visual. Muitas das doenças que com- prometem a visão, se diagnosticadas desde cedo, poderão ser devidamente tratadas, evitando maiores complicações com a visão de seu aluno. 2. Causas mais Comuns da Defi- ciência Visual. As causas mais comuns de doenças durante a gestação que podem desenvolver a defi- ciência visual nos bebês são doenças infec- tocontagiosas como a toxoplasmose, a ru- béola, o sarampo, o glaucoma congênito e a catarata congênita. Toxoplasmose: é uma doença transmitida pelo parasita Toxoplasma Gondii. Normal- mente, seu contágio está relacionado ao contato com animais, principalmente gatos. Durante a gravidez, a Toxoplasmose pode provocar desde o aborto até malformações diversas. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira19/267 Rubéola: é uma doença transmitida pelas vias aéreas. Normalmente, é uma doença considerada benigna, porém, durante a ges- tação, pode ocasionar infecção embrioná- ria, principalmente nos três primeiros meses de gestação. Nessa situação de infecção, a rubéola pode ocasionar desde o aborto até Para saber mais A toxoplasmose é uma doença infecciosa trans- mitida pelo T. Gonddi e responsável por grande parte da retinite. Muitas pessoas acreditam que os transmissores são apenas gatos. Contudo este parasita, a contaminação também é possível por meio de ingestão ou manipulação de carnes mal cozidas, principalmente de porco ou carneiro, pela ingestão de água ou alimentos contaminados... o parto prematuro, malformação, catarata congênita e glaucoma congênito. Sarampo: o sarampo também é uma doen- ça transmitida pelas vias aéreas como a ru- béola. Provoca manchas avermelhadas pelo corpo e febre alta. Durante a gravidez, tam- bém pode provocar abortos e partos pre- maturos. Doenças infectocontagiosas como a toxo- plasmose, a rubéola e o sarampo, adqui- ridas durante a gravidez, podem provocar partos prematuros e ocasionar a retinopa- tia da prematuridade. A retinopatia da prematuridade é causada pela imaturidade da retina, em decorrência de parto prematuro ou de excesso de oxigê- nio na incubadora. Pode ser tratada se diag- Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira20/267 nosticada cedo, porém, dependendo do es- tágio em que se encontra, pode ocasionar a cegueira nos bebês. É responsável por gran- de número de bebês com deficiência visual em todo o mundo, e, muitas vezes, os pais nem dispõem de informações referentes a uma doença tão agravante. Link Para compreender um pouco mais sobre a reti- nopatia da prematuridade, assista ao vídeo dis- ponível no seguinte link. Disponível em: <http:// www.youtube.com/watch?v=cOLTPTDEW- Jo>. Acesso em: 17 dez. 2016. A catarata e o glaucoma são doenças que podem comprometer o sistema visual e, consequentemente, a visão de bebês, crian- ças e adultos. Cada uma dessas doenças apresenta características diferenciadas. a) Catarata A catarata é uma doença que atinge o cris- talino dos olhos, provocando alterações na entrada de luz. Essas alterações podem ocasionar desde distorções visuais até a ce- gueira. Segundo o CBO (Conselho Brasileiro de Of- talmologia), várias podem ser as causas da catarata, bem como sua evolução. Entre as principais dessas causas, estão: medi- camentos (esteróides), substâncias tóxicas (nicotina), doenças metabólicas (diabetes mellitus, galactosemia, hipocalcemia, hi- pertiroidismo, doenças renais), trauma, ra- Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira21/267 diações (UV, raio-X, e outras), doença ocular (alta miopia, uveíte, pseudoexfoliação), ci- rurgia intraocular prévia (fístula antiglau- comatosa, vitrectomia posterior), infecção durante a gravidez (toxoplasmose, rubéola), fatores nutricionais (desnutrição). A catarata pode ser dividida em catarata congênita, secundária e senil. Catarata congênita: surge desde o nas- cimento. São causadas por problemas de infecções durante a gestação ou são ge- néticas. Nem sempre a catarata congênita é descoberta logo após o nascimento do bebê, porém a cirurgia deve acontecer o quanto antes, a fim de possibilitar a recupe- ração visual da criança. Catarata secundária: surge de forma se- cundária devido à influência de diferentes fatores, entre eles oculares e sistêmicos. Catarata senil: surge normalmente com o avanço da idade. É a opacidade do crista- lino e atinge normalmente as pessoas com mais de cinquenta anos. Entende-se com um processo normal do envelhecimento e, por isso, não é considerada uma doença. Normalmente, essa catarata é tratada com correção cirúrgica. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira22/267 A catarata, quando atinge crianças, princi- palmente bebês, pode ocasionar a amblio- pia, ou seja, o desenvolvimento anormal da capacidade visual, que pode causar redução ou perda de visão. Para saber mais O olho com catarata apresenta certos reflexos brancos na pupila. Esses reflexos são chamados de leucocoria. A leucocoria pode ser detectada por observação ou na maternidade, por meio do teste do olhinho. Em alguns casos, ele pode ser observado apenas quando a pupila fica maior, como em ambientes escuros. O diagnóstico precoce é importantíssi- mo, tendo em vista que pode impedir o desenvol- vimento da cegueira. b) Glaucoma O glaucoma é uma doença que está relacio- nada com a pressão dos olhos e que pode levar a cegueira. Quando essa pressão dos olhos é muito alta, pode atingir o nervo óp- tico, comprometendo o sistema visual. Alguns sintomas de glaucoma são a visão borrada, dores fortes nos olhos, dores de cabeça, náuseas e vômito. O glaucoma pode ser classificado em: Glaucoma crônico: acontece normalmen- te em adultos. É uma doença que atinge o sistema de drenagem no olho, que deixa de funcionar com o envelhecimento. Glaucoma secundário: acontece quando o sistema de drenagem é afetado por drogas, lesões, tumores ou inflamações. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira23/267 Glaucoma congênito: o glaucoma con- gênito atinge normalmente os bebês, que quando nascem apresentam os olhos maio- res que o normal, sensibilidade, piscando e lacrimejando diante da luz.O glaucoma pode atingir desde bebês até pessoas idosas, diabéticos, usuários de cor- ticoides, pessoas que sofreram fortes lesões nos olhos, ou pode também ser hereditário. Normalmente, seus danos são irreversíveis e os tratamentos são a cirurgia, a prescrição de colírios e remédios específicos que aju- dam a controlar a pressão dos olhos. Link O vídeo organizado pelo Laboratório Allergan, apresenta importantes informações sobre o Glaucoma. Acesse a amplie os seus conhecimen- tos sobre esta doença. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=qlbcBoMO8iI>. Acesso em: 17 dez. 2016. Como você percebeu, tanto a catarata como o glaucoma pode provocar desde a baixa vi- são até a cegueira, ou seja, uma deficiência visual. Observe como uma pessoa com uma dessas doenças enxerga: Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira24/267 Quadro 4 – Catarata e Glaucoma Visão com Catarata Visão com Glaucoma Fonte: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-ZojDh-z6ejY/UVcr-RrV4hI/AAAAAA- AACOs/rHBlWxRb0Rs/s1600/Slide20.JPG>. Acesso em: 21 dez. 2016. 3. Surdocegueira. A surdocegueira não é classificada como deficiência visual, pois a criança surdocega não é ape- nas uma criança cega que não escuta e nem mesmo uma criança surda que não enxerga, pois, Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira25/267 quando essas duas deficiências estão as- sociadas, repercute em termos de desen- volvimento humano perdas significativas na aquisição dos comportamentos sociais aceitos e de adaptação ao meio. A perda dessas duas funções limita o poder de antecipação dos fatos que irão ocorrer em sua volta. Assim, essas crianças neces- sitam ser trabalhadas e estimuladas a de- senvolver estilos de aprendizagem próprios para compensar suas perdas sensoriais. Para isso, é necessário desenvolver formas de comunicação efetiva para sua participa- ção em sociedade e interação com o meio. Essas formas de comunicação e desenvol- vimento passam primeiramente através do toque. As causas da surdocegueira podem ser: • Acidentes graves; • Síndrome de Usher (as manifestações clínicas dessa síndrome de origem ge- nética incluem a surdez, que se mani- festa logo no início da vida e a perda visual que ocorre, geralmente, mais tarde); • Surdocegueira congênita, resultan- te de doenças como a rubéola ou de nascimentos prematuros. Os surdocegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) pode ser adaptada aos surdocegos, utilizando- -se o tato. Colocando a mão sobre a boca e o pescoço de um intérprete, a pessoa com Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira26/267 surdocegueira pode sentir a vibração de sua voz e entender o que está sendo dito. Esse método de comunicação é chamado de Ta- doma. Também é possível para o surdocego escre- ver na mão de seu intérprete, utilizando o alfabeto manual dos surdos, soletrando as palavras ou ele pode redigir suas mensa- gens em sistema braille. Uso do alfabeto manual, em alguns casos, já utilizados pelos surdos. O interlocutor faz a letra na palma da mão da pessoa surdoce- ga. Cada letra corresponde a uma posição dos dedos. A forma mais simples de comunicação para a pessoa com surdocegueira é a do alfabe- to manual. Nesse caso, é preciso que o in- terlocutor saiba as letras maiúsculas do alfabeto. O dedo indicador funciona como uma caneta e o interlocutor escreve na pal- ma da mão da pessoa com surdocegueira. Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira27/267 Glossário Retinopatia: lesão patológica que afeta a retina Leucocoria: reflexo pupilar anormal à luz incidente, em geral relacionado a uma anormalidade intraocular, ocorrendo frequentemente em crianças. Tabela de Snellen: também conhecida como escala optométrica de Snellen. Diagrama utilizado para medir a acuidade visual, desenvolvido pelo oftalmologista holandês Herman Snellen. Questão reflexão ? para 28/267 Agora que você já estudou e compreendeu o sistema vi- sual e as causas da deficiência visual, pesquise alguns casos de superação e elabore um texto sobre como você percebe a inclusão dessas pessoas nos dias atuais? Essa reflexão certamente o auxiliará na compreensão dos conceitos que serão trabalhados nos próximos temas desta disciplina. 29/267 Considerações Finais (1/3) • O sistema visual é composto pelos olhos que estão diretamente ligados ao sistema nervoso central, através dos nervos ópticos; • Os olhos são responsáveis por captar imagens, e sua estrutura está dividida em: córnea, íris, cristalino, retina, humor aquoso e vítreo; • Quando a estrutura dos olhos é comprometida por qualquer razão, pode oca- sionar uma série de doenças e também a deficiência visual; • As doenças mais comuns que normalmente são corrigidas com o uso dos óculos são: miopia, hipermetropia e astigmatismo; • Entre as doenças mais severas que necessitam de um tratamento mais com- plexo e que podem ocasionar perda de visão, estão: catarata, diabetes ocular, glaucoma, catarata congênita, glaucoma congênito, ambliopia e retinopatia da prematuridade; 30/267 • A deficiência visual refere-se à diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou adquiridas; • A cegueira refere-se à ausência total da resposta visual. Pode ser classificada em congênita ou adquirida; • A cegueira congênita caracteriza-se pela perda total de visão, desde o nasci- mento ou anterior aos cinco anos de idade; • A cegueira adquirida caracteriza-se pela perda quase total ou integral do sentido da visão, após os cinco anos de idade; • A baixa visão ou visão subnormal caracteriza-se como a alteração na ca- pacidade visual, ocasionando rebaixamento na acuidade visual, redução do campo visual e da sensibilidade aos contrastes. Pode ser classificada em leve, moderada, severa ou profunda e decorrente de doenças que podem ocasio- nar a perda da visão central, perda da visão periférica, perda difusa do campo visual, diminuição da sensibilidade ao contraste; Considerações Finais (2/3) 31/267 • A surdocegueira não é classificada nem como deficiência visual, nem como deficiência auditiva. Trata-se de uma deficiência única com perda de dois sentidos. Considerações Finais (3/3) Unidade 1 • Caracterização da deficiência visual (cegueira e baixa visão) e da surdocegueira32/267 Referências CONDE, Antonio João Menescal. Quando houver crianças deficientes da visão em sua sala de aula: sugestões para professores. Disponível em: <http://200.156.28.7/Nucleus/media/common/ Nossos_Meios_RBC_RevJun1998_Artigo1.doc>. Acesso em: 1 nov. 2016. GIL, Marta (Org.). Deficiência visual. Brasília, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ seed/arquivos/pdf/deficienciavisual.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2016. MARTÍN, Manuel Bueno; RAMIREZ, Francisco Ruiz. Visão Subnormal. In: MARTÍN, Manuel Bue- no; BUENO, Salvador Toro (Org.). Deficiência Visual: Aspectos Psicoevolutivos e Educativos. São Paulo: Santos, 2003. p. 27-40. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003. MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Tradução de Windyz Brazão Ferreira. Por- to Alegre: Artmed, 2003. 33/267 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: Caracterização da deficiência vi- sual. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/7b9cf6720dc85399429f3f6357eec298>. Aula 1 - Tema: Caracterização da deficiência vi- sual. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ e73d106ae0432f5113987f95e4c1ac9e>. 34/267 1. A estrutura dos olhos está dividida em: a) Córnea, íris, cristalino, retina, humor aquoso e vítreo; b) Córnea, íris, cristalino, nervos ópticos, humor aquoso e vítreo; c) Nervos oculares, íris, retina, humor aquoso e vítreo; d) Córnea, íris, cristalino, retina, humor leitoso; e) Córnea, íris, leucocoria, retina, humor vítreo. Questão 1 35/267 2. A deficiência visual pode ser classificada em dois grupos, que são: a) De pessoas com baixa visão (ou visão subnormal) e de pessoas cegas; b) De pessoas com cegueira grau 1 e cegueira grau 2; c) De pessoas com baixa visão e visão subnormal; d) De pessoas cegas e de pessoas com cataratas; e) Pessoas com glaucoma e vítimas de acidentes. Questão 2 36/267 3. São doenças normalmente corrigíveis com o uso dos óculos: a) Astigmatismo, miopia, hipermetropia. b) Astigmatismo, catarata, glaucoma. c) Astigmatismo, miopia, retinopatia da prematuridade. d) Catarata, retinopatia da prematuridade, hipermetropia. e) Leucocoria, retinopatia, hipermetropia, catarata. Questão 3 37/267 4. São doenças que podem ocasionar a perda de visão: a) Glaucoma, catarata, astigmatismo e retinopatia da prematuridade. b) Hipermetropia, catarata, astigmatismo e retinopatia da prematuridade. c) Glaucoma, catarata, astigmatismo e ambliopia. d) Ambliopia, glaucoma, catarata e retinopatia da prematuridade. e) toxoplasmose, glaucoma, astigmatismo e miopia. Questão 4 38/267 5. Podemos caracterizar como “pistas” que indicam dificuldade de visão: a) Lacrimejamento, resistência à luz, manchas brancas nos olhos, grande dilatação da pupila, tremor ocular. b) Lacrimejamento, sensibilidade à luz, manchas pretas nos olhos, pouca dilatação da pupila, tremor ocular. c) Lacrimejamento, sensibilidade à luz, manchas brancas nos olhos, grande dilatação da pupi- la, tremor ocular. d) Olho torto, resistência à luz, manchas pretas nos olhos, pouca dilatação da pupila, tremor ocular. e) Lacrimejamento, resistência à luz, manchas nos olhos, pouca dilatação da pupila, coceira constante. Questão 5 39/267 Gabarito 1. Resposta: A. A estrutura dos olhos está dividida em cór- nea, íris, cristalino, retina, humor aquoso e vítreo. 2. Resposta: A. A deficiência visual pode ser classificada em dois grupos. As pessoas com baixa visão (ou visão subnormal) e de pessoas cegas. 3. Resposta: A. O astigmatismo, a miopia e a hipermetropia são doenças mais comuns, normalmente corrigíveis com o uso dos óculos. 4. Resposta: D. A ambliopia, o glaucoma, a catarata e a re- tinopatia da prematuridade são doenças mais graves que podem comprometer a vi- são, provocando desde a baixa visão até a cegueira. 5. Resposta: D. Quando uma criança desenvolve alguma di- ficuldade de visão, pode apresentar algumas pistas, entre elas o lacrimejamento, a sensi- bilidade à luz, manchas brancas nos olhos, grande dilatação da pupila, tremor ocular. 40/267 Unidade 2 Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual. Objetivos 1. Compreender a história da pessoa com deficiência visual na sociedade. 2. Reconhecer as diferentes fases da his- tória que influenciaram a Legislação para a inclusão das pessoas com defi- ciência visual. 3. Conhecer os principais documentos da legislação internacional e nacional. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 41/267 Introdução O tema anterior abordou o sistema visual e as principais doenças que o afetam. Você pode perceber que tanto a cegueira como a baixa visão estão diretamente ligadas a uma dessas doenças, seja no período de gesta- ção ou durante o decorrer da vida. No mundo atual, já dispomos de várias in- formações referentes à deficiência visual, graças ao trabalho desenvolvido por dife- rentes institutos ao longo de muitos anos, porém nem sempre foi assim! É possível separar a história das pessoas com deficiência visual na sociedade em di- ferentes épocas. O registro da presença do cego na Antigui- dade é praticamente nulo, pois, nessa épo- ca, as pessoas enfermas ou com deficiência eram mortas ou abandonadas. Segundo Motta (2008), quando uma criança nascia cega, era comum o assassinato. Já as pes- soas que desenvolviam a cegueira na vida adulta eram abandonadas. Conforme a mesma autora, na história da humanidade, as sociedades primitivas acreditavam que o cego era possuído por espíritos malignos, o que lhes remetia dire- tamente ao mal, e algumas pessoas acre- ditavam que o nascer cego era um castigo, por algum pecado de algum ente da família. Observe o quadro a seguir: Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 42/267 Quadro 5 – Exclusão na antiguidade Povos da Antiguidade Ações sociais desenvolvidas Tribos nômades Abandonavam as pessoas velhas, doentes ou deficiente em lugares perigosos, sujeitos aos ataques de bichos ou inimigos. Hebreus Acreditavam que as pessoas com alguma deficiência ou membro quebrado estavam marcadas pelo sinal dos maus espíritos. Atenas Os bebês recém-nascidos com deficiência eram colocados em vasilhas de argila e abandonados. Esparta Os pais tinham de apresentar seus filhos aos magistrados. As crianças com deficiência eram abandonadas ou eliminadas. Roma Os bebês com deficiência eram eliminados ou abandonados no Rio Tibre ou nas montanhas. Fonte: a autora Durante a Idade Média, a cegueira foi utilizada como castigo ou vingança. Existem registros de que no século XI, em Constantinopla, o imperador Basílio II mandou retirar os olhos de quinze mil prisioneiros antes de devolvê-los a sua pátria. Nesse mesmo período, a cegueira também era sinônimo de pena judicialFoi com o fortalecimento da era Cristã que a situação da pessoa com deficiência visual começou a mudar. Os cegos, como todos os homens, passaram a ser considerados filhos de Deus. Enquanto alguns cegos eram se- Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 43/267 gregados em asilos, atitude considerada de caridade na época, outros eram deixados para viver da caridade das pessoas, outros ainda foram sacrificados pela Inquisição. No período do Renascimento, a mentalidade das pessoas em relação aos cegos começa a mudar, graças às descobertas dos primeiros conhecimentos anatômicos e fisiológicos, que auxiliaram a ciência a compreender o funcionamento do olho e a estrutura do cé- rebro. Você poderá perceber que uma das maio- res necessidades da pessoa com deficiência visual está além da sua capacidade visual, pois muitas dessas pessoas lutam para se- rem percebidas e vistas como seres huma- nos em um mundo marcado pela diversida- de humana. A história da pessoa com deficiência visual na sociedade converge com os documentos que definem a legislação para a inclusão so- cial e escolar. Esses documentos de cunho internacional e nacional surgiram em dife- rentes contextos e sob diferentes grupos de influência. Contudo, normalmente um complementa o outro no sentido de garan- tir o direito de todos. Vários são os estudos acerca dessa temáti- ca. Mas como será que essas políticas são organizadas? Como as discussões e reivin- dicações acabam virando um documento oficial, uma política? Dentre os autores que estudam a organiza- ção das políticas públicas, Ball (2011)de- fende um ciclo de políticas que são orga- nizadas em diferentes contextos, entre os Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 44/267 quais o contexto de influência, da produção do texto e da prática. O contexto de influência é representado por grandes potências que manifestam inte- resse em determinadas causas a ponto de apoiar a criação de políticas. Também de grupos menos representativos, mas que lu- tam pela igualdade de direitos e defendem alguma especificidade. É o caso de grupos da comunidade surda e grupos de familia- res de pessoas com autismo, por exemplo. O contexto da produção de texto tenta tra- duzir a discussão por meio da escrita de do- cumentos de circulação nacional ou inter- nacional. Professores, políticos, pesquisa- dores, relatores, enfim, pessoas que ficam com a responsabilidade de traduzir os de- bates em um documento oficial. O contexto da prática traduz e interpreta a política nos espaços a qual se destina. Pode ser em sala de aula, na vida em sociedade a depender da especificidade da política. Contudo, o autor acima citado, trata como ciclo tendo em vista que não apresenta um sequência específica e sim contextos que se relacionam e que compõe a organização e tradução das políticas. Especificamente na área da educação espe- cial, você conseguirá perceber a relação dos três contextos nos documentos internacio- nais e nacionais. Conhecer a legislação certamente contri- buirá com as suas reflexões acerca do tema desta disciplina. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 45/267 1. História da Deficiência Visual e a Legislação para a Inclusão. A preocupação com a educação de pesso- as cegas surgiu no século XVI, com Girolínia Cardono, médico italiano que testou a pos- sibilidade do aprendizado de leitura através do tato. Peter Pontamus, Fleming (cego) e o padre Lara Terzi escreveram os primeiros livros sobre a educação das pessoas cegas (BRUNO; MOTA, 2001). As primeiras tentativas para a criação de métodos que permitissem aos cegos o acesso à linguagem escrita utilizavam fun- dição de letras em metal, caracteres recor- tados em papel, alfinetes de diversos tama- nhos pregados em almofadas, mas esses só permitiam a leitura de pequenos textos, enquanto a escrita era impossível de se rea- lizar (BELARMINO, 1996). Por volta dos séculos XVIII e XIX, houve uma grande mudança e um avanço na história das pessoas cegas, a criação do Instituto Real de Jovens Cegos de Paris, inaugurado no ano de 1784, por Valentim Hauy. Esse instituto foi a primeira escola do mun- do destinada à educação de pessoas ce- gas, escola em que posteriormente estudou Louis Braille. Para saber mais A história da pessoa com deficiência passou por fases de extermínio, exclusão, segregação, inte- gração e inclusão. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 46/267 Nesses séculos e após a inauguração desse Instituto, outras escolas para cegos foram fundadas em outros países da Europa e, em 1829, foi instalado na América o primeiro instituto para cegos. Não apenas os cegos, mas as pessoas com deficiência passaram por períodos da histó- ria que foram desde a segregação, a função caritativa, função clínica até tornar-se um assunto de cunho social e inclusivo. O contexto da Segunda Guerra Mundial contribuiu para que a sociedade enxergasse pela primeira vez alguma possibilidade de socialização das pessoas com deficiência. Assim, diante do problema social oriundo do pós-guerra, em que os soldados sobre- viventes acabavam voltando cegos ou mu- tilados, consequentemente com deficiência física, visual ou transtornos mentais e psi- cológicos, surge o primeiro documento que norteou as ações sociais e alertou para algo até então desconhecido. A igualdade de di- reitos, assegurada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este documento, retomou os Ideais da Revolução Francesa de 1789, que “buscavam reconhecer os va- lores supremos da igualdade, da liberdade e da fraternidade entre os homens” (FERNA- DES, 2011, p. 53). Para saber mais A Declaração de Direitos Humanos surge de uma necessidade de reabilitação dos soldados sobre- viventes da guerra. Trata-se de uma estratégia de governo que contribui para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 47/267 A partir da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, surgiu uma série de movimentos sociais em prol das minorias e com as pessoas com deficiência não foi diferente. Especificamente no campo das Políticas Públicas, a partir de 1948, tivemos uma explosão de do- cumentos que traçaram as especificidades dessa área, que buscavam defender o direito das pes- soas com deficiência por meio de uma trajetória entre os processos de segregação, integração e inclusão. Vários países iniciaram a discussão para atender esse público tanto na esfera social como educacional, gerando conceitos e concepções diferenciadas. A seguir, apresentamos os principais documentos internacionais que norteiam a educação in- clusiva até hoje. Quadro 6 – Documentos Internacionais DOCUMENTO Teor Declaração de Jomtien Em 1990, aconteceu em Jomtien, na Tailândia, a Conferência Mundial sobre Educação para todos, na qual o Brasil participou. Assim, ao assinar essa Declaração, o Brasil assume o compromisso perante a comunidade internacional de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no país. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 48/267 DOCUMENTO Teor Declaração de Salamanca Foi construída na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, em Salamanca (Espanha), em 1994, realizada pela UNESCO. O objetivo principal desta conferência foi a atenção educacional aos alunos com necessidades educacionais especiais. Convenção de Guatemala Trata-se de uma convenção que foi realizada em Guatemala, em 1999, da qual vários países sul-americanos são signatários, inclusive o Brasil. Nessa convenção, o foco foi a eliminação da discriminação contra as pessoas com deficiência. Esse documento dispõe que as pessoas com deficiência não podem receber tratamentos diferenciados que impliquem exclusão ou restrição ao exercício dos mesmos direitos que as demais pessoas têm. Fonte: a autora 2. Inclusão Social. A preocupação com a inclusão social e educacional da pessoa com deficiência teve início com a Declaração dos Direitos Humanos, após a Segunda Guerra Mundial. Nas décadas de 1960 e 1970, estruturaram-se leis e programas de atendimento especializado que favoreciam a integração da pessoa cega no mercado de trabalho, porém esses documentos baseavam-se no modelo médi- co, que tratava a deficiência como doença e objetivava a adaptação dessas pessoas aos padrões impostos pela sociedade da época. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 49/267 Esses documentos internacionais contribu- íram de forma significativa para o desen- volvimento de políticas públicas em âmbito nacional. O Brasil, ao comprometer-se ofi- cialmente na convenção de Guatemala, ini- ciou um grandetrajeto em prol de melho- rias e ações afirmativas na área da inclusão. Contudo, o desenvolvimento de políticas Para saber mais Foi somente com a Declaração da Salamanca, no ano de 1994, que surgiu uma nova visão de edu- cação, uma visão de escola inclusiva que vinha propor a escola para todos, reforçando a Decla- ração dos Direitos Humanos, que determina a igualdade de direitos entre os seres humanos. Um grande marco na história da Inclusão. no Brasil sempre tem passado por períodos mais generalistas e também períodos mais específicos. Ou seja, vamos encontrar docu- mentos relacionados à inclusão de pessoas com deficiência e também documentos por especificidade, o que comprova as relações e contextos de influência para a criação de políticas. O direito reforçado pela Declaração dos Di- reitos Humanos já aparece na própria Cons- tituição Nacional de 1988. O artigo 205 da Constituição Nacional ga- rante a educação como direito de todos, dever do estado e da família. O artigo 208 assegura o atendimento espe- cializado aos portadores de deficiência, pre- ferencialmente na rede regular de ensino. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 50/267 O direito à educação na rede regular de en- sino também é reforçado pela Lei de Dire- trizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) 9394/96, no capítulo V, artigo 58, que trata da educação especial. Mais recentemente, a Lei 13.146/2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pes- soa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) e busca garantir todos os direitos à educação, saúde, transporte e la- zer, previstos nos documentos anteriores. Link Quer saber mais sobre esse importante docu- mento nacional? Acesse o link a seguir. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>. Aces- so em 17 dez. 2016. Diante de tantas leis e diretrizes que garan- tem a educação para todos é que aos pou- cos o movimento pela inclusão social vem ganhando força, aumentando a cada dia a valorização do ser humano e da própria di- versidade. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 51/267 Para Mittler, [...] envolve um processo de reforma e de reestruturação das escolas como um todo, com o objetivo de assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas as gamas de oportunidades educacionais e sociais ofereci- das pela escola. [...] O objetivo de tal reforma é garantir o acesso e a parti- cipação de todas as crianças, em todas as possibilidades de oportunidades oferecidas pela escola [...] (2003, p. 25). Para o mesmo autor, a inclusão parte da aceitação da diversidade humana e valoriza as pessoas como únicas e a educação como um processo de cooperação, sendo que o trabalho do professor deverá ser pensado de forma que todas as crianças possam participar indiferente de suas limitações. 3. Os Documentos Nacionais. O número de políticas brasileiras para o atendimento a esse público é significativo. Os docu- mentos regulamentam desde o atendimento educacional especializado (AEE) até a inclusão em classes de ensino comum. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 52/267 Veja o quadro a seguir: Quadro 7 – Documentos Nacionais DOCUMENTO DATA TEOR LDBEN Lei nº 4.024/61 1961 A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade – art. 88. Decreto nº 72.425 1973 Cria o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), que atuará de forma a proporcionar oportunidades de educação, propondo e implementando estratégias decorrentes dos princípios doutrinários e políticos, que orientam a educação especial no período pré-escolar, nos ensinos de 1º e 2º graus, superior e supletivo, para os deficientes da visão, audição, mentais, físicos, educandos com problemas de conduta para os que possuam deficiências múltiplas e os superdotados, visando sua participação progressiva na comunidade. Constituição Federal do Brasil 1988 O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: “[...] III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino [...]”. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 53/267 DOCUMENTO DATA TEOR Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº9.394 1996 “Art. 58. Educação especial oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 2º O Atendimento Educacional Especializado será feito em classes, escolas, serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.” ABNT NBR 9050 2005 Dispõe sobre a acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Portaria nº 2.678 2002 Aprova diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 54/267 DOCUMENTO DATA TEOR Decreto nº 5.296 2004 Regulamenta as Leis 10.048/2000 e 10.098/2000, estabelecendo normas gerais e critérios básicos para o atendimento prioritário à acessibilidade de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Em seu artigo 24, determina que os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos e privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios, instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva 2008 Define a educação especial como modalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, tendo como função disponibilizar recursos e serviços de acessibilidade e o atendimento educacional especializado, complementar a formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Lei 13.146 2015 Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Fonte: Brasil, 2013. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 55/267 Mas como será que esses documentos in- fluenciaram e ainda influenciam a inclusão social desse público no Brasil? Link Para aprofundar seus conhecimentos sobre a Polí- tica Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, acesse o texto na íntegra. Essa é uma leitura fundamental para a sua forma- ção docente. Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/index.php?option=com_docman&- view=download&alias=16690-politica-na- cional-de-educacao-especial-na-perspec- tiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Ite- mid=30192>. Acesso em: 17 dez. 2016. 4. A Deficiência Visualno Brasil. No Brasil, a primeira instituição, fundada com o intuito de oferecer atendimento es- pecializado à pessoa com deficiência visual, foi o Instituto Benjamim Constant. Após a fundação desse instituto, muitos ou- tros foram fundados aqui no Brasil. Observe a ordem cronológica da criação desses ins- titutos: • 1854 – Instituto Benjamim Constant. Criado pelo imperador Dom Pedro II, primeira iniciativa em prol dos defi- cientes visual no Brasil. Atualmente, é um centro de referência, em nível nacional, para questões da deficiên- cia visual. Possui uma escola, capacita Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 56/267 profissionais da área da deficiência vi- sual, assessora escolas e instituições, realiza consultas oftalmológicas à população, reabilita, produz material especializado, impressos em braille e publicações científicas. • 1929 – Instituto Padre Chico. Inau- gurado em 29 de novembro de 1929. Resultado da cooperação generosa do povo, acrescida das vultuosas quan- tias dos Senhores Conde de Lara, Dr. Antonio de Castro e de outros magnâ- nimos paulistas. A direção do Instituto de Cegos “Padre Chi- co” foi entregue às filhas da caridade de São Vicente de Paulo desde a sua fundação. • 1933 – Instituto de Cegos da Bahia: a primeira sede foi um casarão localiza- do na Rua Augusto Guimarães (Barba- lho), doado pelo prefeito Americano da Costa. Essa foi inaugurada no dia 30 de abril de 1933. Por alguns anos, a instituição funcionou nesse local, onde os albergados trabalhavam na confecção de vassouras, visando ga- rantir a sua sobrevivência. Logo após, a diretoria presidida por Edla Lima ini- cia a construção de um novo prédio. A partir desse momento, a entidade passou a atender somente crianças e adolescentes deficientes visuais dos estados da Bahia e Sergipe. A trans- formação do ICB em uma casa de en- sino teve como principal mentora a senhora Dorina Nowill, portadora de Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 57/267 deficiência visual e criadora da Fun- dação do Livro do Cego. • 1943 – Lar das Moças Cegas. Inaugu- rado no dia 18 de abril de 1943, um núcleo em Santos vinculado ao Insti- tuto Profissional Paulista para Cegas de São Paulo. Por sugestão de Nelson Serra, foi no- meada a Instituição “Lar das Moças Cegas”, que, desligada do Instituto de São Paulo, tornou-se um órgão inde- pendente com a finalidade de assistir e educar a mulher cega da região. Em 1988, a Instituição passou a atender deficientes visuais do sexo masculino, oferecendo as mesmas oportunida- des e direitos. • 1946 – Fundação Dorina Nowill. Fun- dada no ano de 1946, através da von- tade de ensinar os outros – cegos ou não – a entender a deficiência visual, por Dorina Nowill, com o objetivo de favorecer a inclusão social de pessoas com deficiência visual ou baixa visão. A fundação trabalha em duas frentes: uma prioriza a inclusão social e a rea- bilitação dos deficientes, e a outra faz um trabalho de produção editorial, com livros dos mais diversos segmen- tos para atender os deficientes visuais. • 1991 – LARAMARA: fundada a partir da iniciativa de Mara, que tem uma filha com deficiência visual. De tanto ouvir de médicos e profissionais dis- cursos desencorajadores, ela resolveu Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 58/267 fundar essa associação e acabou des- cobrindo que há muito a ser feito pe- las crianças com problemas visuais e suas famílias. Hoje, a instituição atua junto a profissionais, pais, crianças e jovens deficientes visuais, promoven- do, principalmente, a integração na sociedade. Esses são os principais Institutos do Brasil, criados com o objetivo de prestar assistên- cia para as pessoas com deficiência visual. Como você pode perceber, ao longo da história foram surgindo vários institutos, tanto no Brasil como em todo o mundo, dis- postos a prestar atendimento especializado à pessoa com deficiência visual, no entanto foi com a Declaração dos Direitos Humanos que a sociedade iniciou um processo de in- tegração da pessoa com deficiência na vida social e educacional. Link Quer conhecer a história desses institutos que existem até hoje como centros de referência na- cional? Amplie seu conhecimento e acesse o link a seguir. Disponível em: <http://www.ibc.gov. br/; http://www.laramara.com; http://www. fundacaodorina.org.br/>. Acesso em: 17 dez. 2016. Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 59/267 Glossário Segregação: segregação envolve a organização em grupos considerados iguais. Separa as pes- soas com deficiência das sem deficiência, em espaços específicos. Exclusão: envolve o afastamento de pessoas consideradas fora do padrão de normalidade ins- tituído pela sociedade. Integração: envolve a inserção de pessoas com deficiência em classes de ensino regular, sem adequações necessárias. Contudo, inserir as crianças não garantia sua participação ativa e igualitária no processo. Inclusão: envolve a inserção do público-alvo da educação especial em classes de ensino regu- lar, com garantia de adequações necessárias. Os alunos são partícipes do processo de sociali- zação e aprendizagem. Questão reflexão ? para 60/267 Como observado, a legislação para a inclusão de pessoas com deficiência é ampla e acompanha o desenvolvimento social da humanidade. O Brasil conta com vários documentos que norteiam a inclu- são social e escolar com base nos importantes documentos internacionais. Agora que você já conhece um pouco sobre essas políticas, busque aprofundar seus estudos sobre a Lei 13.146/2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De- ficiência, e levante os principais pontos para fundamentar os seus estudos futuros. Certamente, essa reflexão agregará valor no momento de compreender as práticas de inclusão atuais. 61/267 Considerações Finais (1/2) • Na Antiguidade, a presença de pessoas cegas é nula, pois pessoas que nasciam com essa condição visual eram eliminadas ou abandonadas; • Existem registros históricos de algumas civilizações antigas. São elas: tribos nômades e Hebreus. Povos de Atenas, Esparta e Roma; • Durante a Idade Média, a cegueira foi utilizada como castigo ou vin- gança e também como pena judicial; • Foi com o fortalecimento da era Cristã, que a situação da pessoa com deficiência visual começou a mudar e o cego passou a ser considera- do homem, filho de Deus; • No período do Renascimento, a mentalidade das pessoas em rela- ção aos cegos começa a mudar, graças às descobertas dos primeiros conhecimentos anatômicos e fisiológicos, que auxiliaram a ciência a compreender o funcionamento do olho e a estrutura do cérebro; 62/267 • Em 1784, foi fundada, em Paris, a primeira escola do mundo destinada à educação de pessoas cegas, escola em que posteriormente estudou Louis Braille, o Instituto Real de Jovens Cegos de Paris, inaugurado, por Valentim Hauy; • No Brasil, a primeira instituição, fundada com o intuito de oferecer atendimento especializado à pessoa com deficiência visual, foi o Ins- tituto Benjamim Constant, no ano de 1854; • Os documentos que asseguram a inclusão escolar no Brasil são pri- meiramente a Declaração dos Direitos Humanos, seguida pela Decla- ração da Salamanca, Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional; • Os documentos mais recentes que asseguram a inclusão de pessoas com deficiência são a Política Nacional de Educação Especial na Pers- pectiva da Educação Inclusiva e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Considerações Finais (2/2) Unidade 2 • Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Os documentos internacionais e nacionais e as especificidades da deficiência visual 63/267 Referências BELARMINO, J. Associativismo e política: a luta dos grupos estigmatizados pela cidadania ple- na. João Pessoa: Ideia, 1996. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 1996b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 22 maio 2014. 134. _____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Acesso em 10 abr. de 2016. BRUNO, M.M.G.; MOTA, M.G.B. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: deficiência visual vol. 1 fascículos I – II – III. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2001. FERNANDES, Sueli. Fundamentos para Educação Especial. Curitiba: Ibpex, 2011. MITTLER, Pieter. Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. 64/267 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ b0d493957e09a83fea6b0c54b372fcd9>. Aula 2 - Tema: Legislação para a inclusão de pessoas com deficiência visual. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ a5784add35ff3c18d91d890a5101d7c8>. 65/267 1. Referente à deficiência visual no mundo, é correto afirmar que: a) Na Antiguidade, era comum o abandono ou o assassinato das pessoas que nasciam cegas. b) Na Antiguidade, as tribos nômades costumavam proteger as pessoas cegas de todos os pe- rigos que encontrassem em sua trajetória. c) Os hebreus acreditavam que a pessoa com alguma deficiência estava marcada pelo sinal dos bons espíritos. d) As pessoas cegas sempre foram vistas como pessoas abençoadas por Deus. e) Nem a igreja, por meio da função caritativa, acolheu as pessoas com deficiência. Questão 1 66/267 2. Os primeiros indícios de preocupação com a educação da pessoa cega surgiram: Questão 2 a) No século XIV, com Benjamin Constant, professor brasileiro, que testou a possibilidade do aprendizado de leitura através de um método próprio. b) No século XX, com Louis Braille. c) No século XVI, com Girolínia Cardono, médico italiano que testou a possibilidade do apren- dizado de leitura através do tato. d) No século XV, com os primeiros conhecimentos anatômicos e fisiológicos. e) No século XVI, com os primeiros nobres que resolveram acolher os deficientes em situação de exclusão na sociedade. 67/267 3. O Artigo 58, “Entende-se por educação especial, para efeitos desta Lei, modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede re- gular de ensino, para educandos com necessidades especiais”, pertence a qual documento? Questão 3 a) Declaração de Jomtien. b) Declaração de Salamanca. c) LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). d) Plano Nacional de Educação. e) Política Nacional de Educação Especial. 68/267 4. São documentos que determinam a Inclusão social, garantindo a educação para todos: Questão 4 a) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Declaração da Salamanca, Declaração dos Direitos Humanos, Declaração de Jontiem. b) Constituição Federal do Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente, Convenção da Guate- mala e Estatuto do Idoso. c) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Declaração da Louis Braille, Declaração dos Direitos Humanos, Declaração de Jontiem. d) Constituição Federal do Brasil, Estatuto da Criança e do Adolescente, Convenção da Austrá- lia e Plano Nacional da Educação. e) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Declaração da Salamandra, Declaração dos Direitos Humanos, Estatuto do idoso, Convenção da Inclusão Nacional. 69/267 5. A primeira instituição fundada no Brasil, no ano de 1854, para prestar aten- dimento especializado à pessoa com deficiência visual, foi: Questão 5 a) Lar das Moças Cegas. b) Fundação Dorina Nowill. c) Instituto Padre Chico. d) Instituto Benjamim Constant. e) Fundação Laramara. 70/267 Gabarito 1. Resposta: A. Na Antiguidade, era comum o abandono ou o assassinato das pessoas que nasciam ce- gas. 2. Resposta: C. No século XVI, com Girolínia Cardono, mé- dico italiano que testou a possibilidade do aprendizado de leitura através do tato. 3. Resposta: C. Corresponde à LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). 4. Resposta: A. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional, Declaração da Salamanca, Declara- ção dos Direitos Humanos, Declaração de Jontiem. 5. Resposta: D. Instituto Benjamim Constant. 71/267 Unidade 3 Estimulação visual e intervenção pedagógica. Objetivos 1. Compreender a importância do lúdico para o desenvolvimento de crianças com deficiência visual. 2. Valorizar a importância da estimula- ção precoce. 3. Apontar brinquedos de estimulação visual. Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica72/267 Introdução Você já parou para pensar por que é impor- tante estudar a intervenção visual e a inter- venção pedagógica? Ao desenvolver qualquer atividade junto a crianças com a condição de deficientes vi- suais, é necessário atentar para pontos fun- damentais que envolvem o desenvolvimen- to visual, motor, e da linguagem. A estimulação visual pode fazer uma dife- rença significativa nos processos de inte- ração da criança com deficiência visual e a família, e com o meio que a cerca. O lúdico, os brinquedos e brincadeiras são fatores importantíssimos para o desenvol- vimento de todas as crianças. As crianças com deficiência visual precisam brincar, relacionando-se com seus pares, pois esse contato permite além da interação e socia- lização, o desenvolvimento de habilidades motoras e estimulação visual para essas crianças. A interação e o lúdico são fatores impor- tantíssimos, contudo cabe atentar para os brinquedos e as possíveis adaptações para o trabalho com a criança com deficiência visual. O tema que você vai estudar, além de alertar para a importância desta ação, aponta uma série de brinquedos que pos- sibilitam além da estimulação visual, desde os primeiros meses de vida. Essas atividades devem ser desenvolvidas desde o nascimento do bebê e acompanhá- -lo durante toda a vida escolar. A família tem papel fundamental no desenvolvimento e nas interações do bebê com o meio social Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica73/267 onde vive; cabe a ela estabelecer parcerias com especialistas e professores em busca do melhor atendimento às necessidades de seus filhos. A criança no seu processo de desenvolvi- mento normal apropria-se das informações do mundo como forma de aprendizado e interação social. Esse meio também ser- ve de estímulo para a criança, como pode- mos observar, por exemplo, quando essa se sente interessada pelos objetos à sua volta, identificando suas características, textura, forma, tamanho, cor, o que a motiva a in- teragir com esse objeto. Esse também é um dos meios de contato e interação da família com o bebê, brincando através do contato físico, com brinquedos, expressões faciais e tantos outros. A criança que nasce com deficiência visualnão apresenta contato com estímulos visu- ais; sendo assim, limita-se nos seus movi- mentos e interações, pois não há uma rela- ção visual com o meio externo. Para isso, é fundamental que seus cuidadores e, poste- riormente, seus educadores estejam aten- tos a essas limitações e que as estimulem através da interação, no contato corporal, no contato com objetos (brinquedos, ali- mentos etc.), enfim, nas experiências diver- sas. Nessa interação, além do contato, é im- prescindível a estimulação da linguagem da criança. Ainda, além dos estímulos que o ato de brin- car propicia para todas as pessoas, e em es- pecífico para as crianças, ele exercita situa- ções de interação, de apropriação de regras, Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica74/267 rotinas do dia a dia, de movimentar-se e tornar-se independente, de relacionar-se com o outro, de desenvolver o físico, a mente, a afetividade e a autoestima. As crianças precisam brincar independentemente das suas condições fí- sicas, intelectuais ou sociais, pois a brincadeira é essencial a sua vida. O brincar alegra e motiva as crianças, juntando-as e dando-lhes oportunida- de de ficar felizes, trocar experiências, ajudarem-se mutuamente; as que enxergam e as que não enxergam, as que escutam muito bem e aquelas que não escutam, as que correm muito depressa e as que não podem cor- rer (SIAULYS, 2005, p.11). As habilidades desenvolvidas na infância através do ato de brincar influenciarão e auxiliarão no desenvolvimento e na aprendizagem nos anos seguintes. Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica75/267 Para Bruno, Deve-se considerar que o sentido visual é responsável pelo comando, an- tecipação e coordenação dos esquemas de assimilação. O olho guia a mão. A visão rege a preensão e aumenta a atividade da mão, e esta coordenação se estabelece pela ação na presença do objeto no campo visual (1997, p. 50). Por isso, a criança com deficiência visual deve ser alertada de que algum objeto tátil se encontra no seu campo tátil de ação, para que ela possa, através de pistas auditivas ou toque, coordenar os esquemas de audição, tato e preensão. A utilização da mão será o canal principal para a assimilação e compreensão do mundo. Para isso, a criança necessita desenvolver sua autonomia, oportunizada pela possibilidade de descolar-se, orientar-se, vivenciar as experiências, fazer coisas e realizar descobertas com o próprio corpo. As crianças com deficiência visual poderão ser ajudadas pela oportunidade que tiverem de ação sobre o meio, de experiências significativas e de pessoas que repassem informações adequadas. A falta de ações, do movimento do corpo, do conhecimento de si e o reconhecimento do outro dificulta a essas crianças iniciar a imitação e o jogo simbólico, como indicado por Bruno: Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica76/267 O jogo simbólico é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança com deficiência visual porque, através dele, a criança exercita o pensamento pré-lógico, estabelece relações e comunica- -nos a sua compreensão do meio, seus sentimentos, fantasias e aprende a lidar com suas emoções (1997, p. 51). A experiência concreta é importante nos estágios iniciais do desenvolvimento e servirá para que a criança alcance níveis abstratos de pensamento, e essas experiências podem ser estimuladas através das suas vivências com brinquedos, com o jogo simbólico (faz-de-conta) e jogos de regras. Para saber mais A estimulação visual trabalha com a visão residual da criança, através de atividades e exercícios que ob- jetivam alcançar o melhor desempenho e desenvolvimento da acuidade visual. Ela deve acontecer des- de cedo, normalmente com programas que atendem crianças de 0 a 6 anos, por compreender essa fase como fundamental no processo do desenvolvimento infantil. Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica77/267 Para Gagliardo (2001, p. 18), “[...] na criança vidente, a visão é o agente desencadeador da motivação para a realização de movi- mentos e ações. A criança com deficiência visual necessita de intervenção para que sejam nela despertados o desejo, a curiosi- dade e a motivação para agir sobre o am- biente”. A intervenção precoce é uma par- ceria entre médicos especializados, família e escola, que necessitam dialogar sobre o desenvolvimento visual, motor e psicológi- co da criança. Para esse diálogo, é funda- mental o conhecimento de suas capacida- des visuais e possibilidades de desenvolvi- mento da sua visão. 1. Atividades de Estimulação Vi- sual e Intervenção Precoce. As atividades de estimulação visual e inter- venção precoce objetivam a integração da criança com o meio ambiente e a descoberta da sua identidade pessoal. Para realizá-las, utilizam-se adaptações de atividades e ma- Link Para ampliar seus conhecimentos sobre o brin- car para a criança com DV, e possibilidades de brinquedos acesse o link a seguir. Disponível em: <http://www.reab.me/crianca-cega-tam- bem-brinca-conheca-brinquedos-para-os- -pequenos-com-deficiencia-visual/>. Acesso em: 17 dez. 2016. Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica78/267 teriais que facilitem a aprendizagem de ha- bilidades, bem como o desenvolvimento físi- co e social da criança com deficiência visual. A criança, quando nasce, procura, através da visão, aprender sobre o mundo que a ro- deia, porém o seu sistema visual ainda está em desenvolvimento e passará por mudan- ças e alterações neurológicas durante todo o primeiro ano de vida. “[...] a estimulação visual que o lactente recebe a partir do nas- cimento é de fundamental importância para a formação de conexões neurais responsá- veis pela visão” (GAGLIARDO, 2001, p. 17). Segundo a autora, o primeiro ano de vida é considerado crítico para o desenvolvimen- to da visão do bebê, porém o sistema visu- al continuará se desenvolvendo durante os anos seguintes. As experiências sensorio- motoras vivenciadas pela criança contri- buem para o desenvolvimento da visão de forma significativa. A criança com defici- ência visual poderá apresentar, no decor- rer deste processo, comprometimento no desenvolvimento motor, cognitivo e na lin- guagem. Para saber mais Existem diferentes recursos de estimulação visu- al e intervenção precoce. Se, por um lado, o bebê com baixa-visão necessita de estímulos visuais propiciados por brinquedos e objetos em preto e branco que gerem contraste, o bebê cego neces- sita de texturas, sons e aromas. Unidade 3 • Estimulação visual e intervenção pedagógica79/267 2. Intervenção Pedagógica e Fa- miliar. A família tem um papel fundamental no de- senvolvimento da criança com deficiência visual. Os primeiros contatos com a mãe propiciam a aprendizagem e a familiariza- ção com o meio onde a criança está inse- rida, todavia nem sempre a adaptação com a situação do nascimento de uma criança com deficiência é tarefa fácil. Em determi- nados casos, essa situação acaba gerando mudanças em relações familiares e atin- gindo diretamente a relação de mãe e filho. Essas mudanças podem culminar em atitu- des de rejeição até superproteção, o que, muitas vezes, acaba interferindo na procu- ra por atendimento especializado por parte dos pais. Alguns pais demoram a compre- ender que a intervenção precoce pode ser, em muitos casos, o melhor caminho para o desenvolvimento da criança. Link Hoje, já existem vários materiais que abordam o tema da deficiência visual. O livro de literatura in- fantil A felicidade das Borboletas apresenta a im- portância do faz de conta e da participação da fa- mília neste processo. Acesse a animação no link a seguir. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=GyuTyD7TxHg>.
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