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P Penal 10 1

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INTENSIVO I 
Renato Brasileiro 
Direito Processual Penal 
Aula 10 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Competência criminal II 
 
8. Competência criminal da Justiça Federal 
 
Conforme o artigo 106 da Constituição Federal são órgãos da Justiça Federal: 
 
• Tribunais Regionais Federais (5)1. 
 
✓ 1ª Região: DF, MG, GO, MT, MA, PA, AM, RO, AP, RR, AC, BA, PI e TO. 
✓ 2ª Região: RJ e ES. 
✓ 3ª Região: SP e MS. 
✓ 4ª Região: RS, SC e PR. 
✓ 5ª Região: PE, AL, CE, PB, RN e SE. 
 
• Juízes Federais. 
Tecnicamente, o art. 106 está incompleto, pois não são apenas esses os órgãos que atuam na Justiça Federal. Além 
deles, há: 
 
• Tribunal do Júri Federal. 
 
1 Houve uma emenda constitucional (n. 73) que tinha por objetivo aumentar o número de Tribunais (6º, 7º, 8º e 9º). No 
entanto, não obstante sua promulgação, a emenda teve sua eficácia suspensa em uma decisão proferida pelo então 
Ministro Joaquim Barbosa. 
 
 
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• Juizados Especiais Criminais Federais. 
 
8.3.4. Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades 
autárquicas ou empresas públicas 
 
I – CF, art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de 
suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça 
Militar e da Justiça Eleitoral; 
(...)”. 
 
II – De acordo com o inciso IV do art. 109 a competência da Justiça Federal será fixada quando visualizada uma lesão a 
um dos pontos dos dois tripés: 
 
Lesão 
Bens. 
Serviços. 
Interesses. 
União. 
Autarquias federais. 
Empresas públicas. 
 
Observação n. 1: interesses da União: CF, art. 21. Exemplo: o crime de falsificação de moeda é da competência da 
Justiça Federal. 
 
III - Não obstante no Brasil a União ter interesse em praticamente tudo, na visão dos Tribunais Superiores a 
competência para ser federal pressupõe uma lesão direta ou imediata. Do contrário, caso a lesão seja indireta, reflexa, 
remota ou mediata, a competência será da Justiça Estadual. Exemplo: 
 
S. 107 STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante falsificação 
das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal”. 
 
Na hipótese do enunciado acima, a vítima não é o INSS, mas as pessoas jurídicas que foram enganadas e 
patrimonialmente lesadas. 
IV - Exemplos: 
 
1) Fraude eletrônica praticada em detrimento de correntista da Caixa Econômica Federal, cuja agência está localizada 
em São Paulo e os saques fraudulentos são realizados em Curitiba. 
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Questão n. 1: a fraude eletrônica configura furto qualificado pela fraude (CP, art. 155, § 4º, II) ou estelionato (CP, art. 
171)? Depende do caso concreto. No estelionato a vítima é enganada e entrega a coisa ao agente; e no furto 
qualificado, por exemplo, o agente instala um vírus no computador da vítima, obtém sua senha e ele mesmo movimenta 
a conta bancária. 
 
Assim, no exemplo citado, temos o crime de furto qualificado pela fraude (CP, art. 155, § 4º, II). Questão n. 2 quem foi a 
vítima desse delito? A jurisprudência dominante entende que o correntista é mero prejudicado. A vítima do delito seria 
a instituição financeira bancária que teve seu sistema de vigilância burlado. Assim, como o sujeito passivo do delito é 
uma empresa pública federal (CEF), a competência é da Justiça Federal. 
 
Por fim, qual é a seção judiciária competente (competência territorial)? Na visão dos Tribunais Superiores, a 
competência territorial será de São Paulo. Por mais que isso ocorra eletronicamente, o dinheiro está “custodiado” em 
São Paulo e o crime de furto se consuma no exato momento em que a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da 
vítima. 
 
Jurisprudência: STJ: “(...) O furto mediante fraude não se confunde com o estelionato. A distinção se faz 
primordialmente com a análise do elemento comum da fraude que, no furto, é utilizada pelo agente com o fim de burlar 
a vigilância da vítima que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba; no estelionato, a fraude é usada 
como meio de obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega voluntariamente o bem ao agente. Hipótese em 
que o Acusado se utilizou de equipamento coletor de dados, popularmente conhecido como "chupa-cabra", para copiar 
os dados bancários relativos aos cartões que fossem inseridos no caixa eletrônico bancário. De posse dos dados obtidos, 
foi emitido cartão falsificado, posteriormente utilizado para a realização de saques fraudulentos. No caso, o agente se 
valeu de fraude - clonagem do cartão – para retirar indevidamente valores pertencentes ao titular da conta bancária, o 
que ocorreu, por certo, sem o consentimento da vítima, o Banco. A fraude, de fato, foi usada para burlar o sistema de 
proteção e de vigilância do Banco sobre os valores mantidos sob sua guarda, configurando o delito de furto qualificado”. 
(STJ, 5ª Turma, Resp 1.412.971/PE, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 07/11/2013, Dje 25/11/2013). 
 
2) Roubo contra casa lotérica. 
 
Não obstante a casa lotérica manter vínculos com a CEF, sua natureza jurídica é de pessoa jurídica de direito privado 
(concessionária de um serviço público federal). Em outras palavras, o fato de vender jogos de azar, por exemplo, não 
afasta sua natureza jurídica. 
Portanto, a competência para julgar o roubo contra casa lotérica será da Justiça Estadual. 
 
3) Roubo contra agência dos Correios. 
 
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No Brasil há duas formas de agência dos Correios: 
 
• Explorada pela própria EBCT (empresa pública federal): competência da Justiça Federal. 
• Franquia (pessoa jurídica de direito privado): competência da Justiça Estadual. 
 
4) Crime cometido em detrimento da FUNASA. 
 
A FUNASA é uma fundação pública federal. 
 
Ao menos criminalmente falando, o STF entende que a fundação pública federal seria uma espécie do gênero autarquia 
federal. Portanto, eventual crime cometido contra a FUNASA deve ser processado e julgado pela Justiça Federal. 
 
5) Crime cometido em detrimento da OAB. 
 
Observação n. 2: STF – ADI 3.026 (OAB teria natureza jurídica “sui generis”). 
 
Os Tribunais Superiores vêm entendendo que crime cometido em detrimento da OAB é da competência da Justiça 
Federal, sobremaneira quando o delito envolver a função da OAB de fiscalizar o exercício da atividade profissional dos 
advogados (assemelha-se às autarquias federais). 
 
Exemplo de crime nesse sentido: 
 
CP, art. 205: “Exercer atividade, de que está impedido por decisão administrativa: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa”. 
 
6) Roubo contra o Banco do Brasil. 
 
A competência é da Justiça Estadual porque o Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista – a Constituição 
Federal cita União, autarquias federais e empresas públicas federais. 
 
Sobre o assunto: S. 42 STJ: “Compete a justiça comum estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte 
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento”. 
No mesmo sentido, a competência para crimes contra empresas concessionárias de serviços públicos (interesse 
indireto): STJ: “(...) Compete àJustiça Estadual Comum julgar e processar crimes cometidos contra empresa 
concessionária de serviços públicos, por inexistir prejuízo a bens e/ou interesses da União”. (STJ, 5ª Turma, RHC 
19.202/SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Dje 08/09/2008). 
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7) Crimes cometidos contra bens tombados. 
 
É necessário verificar quem foi o responsável pelo tombamento do bem: 
 
• União: Justiça Federal. 
• Estado, DF ou Município: Justiça Estadual. 
 
8) Crime cometido contra consulado estrangeiro. 
 
A competência é da Justiça Estadual. 
 
O consulado estrangeiro é uma representação de outro país no território nacional e a Constituição não indica que tal 
característica é suficiente para ser da competência da Justiça Federal. 
 
9) Peculato cometido em detrimento do MPDFT. 
 
Segundo o professor, em razão do MPDFT fazer parte do MPU, o crime deveria ser julgado pela Justiça Federal. No 
entanto, não é essa a orientação da jurisprudência. Segundo ela, apesar do MPDFT estar inserido no MPU, ele não é um 
órgão da União. Na verdade, o MPDFT está inserido na estrutura do DF e, consequentemente, eventual crime de 
peculato cometido em detrimento do MPDFT, deve ser julgado pela Justiça comum do DF. Precedente: 
 
STJ: “(...) O Poder Judiciário do Distrito Federal, assim como seu Ministério Público, sua Defensoria Pública e seu sistema 
de Segurança Pública, embora organizados e mantidos pela União (art. 21, XIII a XIV, da CF), não tem natureza jurídica 
de órgãos de tal Ente Federativo, pois compõem a estrutura orgânica do Distrito Federal, equiparado aos Estados 
Membros (art. 32, § 1º, da CF). Os delitos perpetrados em detrimento de bens, serviços e interesses do Ministério 
Público do Distrito Federal não se enquadram na regra de competência do art. 109, IV da CF. Conflito conhecido para 
declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal e dos Delitos de Trânsito de Samambaia – DF, suscitado”. 
(STJ, 3ª Seção, CC 122.369/DF, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira, j. 24/10/2012). 
 
10) Súmulas relacionadas ao desvio de verbas federais: 
 
• S. 208 STJ: “Compete a justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a 
prestação de contas perante órgão federal”. 
• S. 209 STJ: “Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada 
ao patrimônio municipal”. 
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Observação n. 3: a S. 208 refere-se ao Prefeito, o qual é julgado originariamente pelos Tribunais. Portanto, enquanto 
Prefeito, o ideal é que o enunciado tivesse dito que ele deveria ser julgado pelo TRF. No mesmo sentido, a S. 209 
(Tribunal de Justiça). 
 
11) Desvio de verbas do FUNDEF. 
 
A competência é da Justiça Federal. Precedente: 
 
STJ: “(...) O FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, 
atende a uma política nacional de educação (artigo 211, § 1º, parte final). A teor do disposto no artigo 212, caput, da 
Carta Magna, "A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 
vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, 
na manutenção e desenvolvimento do ensino." A malversação de verbas decorrentes do FUNDEF, no âmbito penal, 
ainda que não haja complementação por parte da União, vincula a competência do Ministério Público Federal para a 
propositura de ação penal, atraindo, nessa hipótese, a da Justiça Federal, bem como o controle a ser exercido pelo TCU, 
conforme dispõe o artigo 71 da CR/88. Evidenciado o interesse da União frente à sua missão constitucional na 
coordenação de ações relativas ao direito fundamental da educação, principalmente por tratar-se de fiscalização 
concorrente entre entes federativos, a competência é da Justiça Federal, sendo nula a sentença condenatória proferida 
por Juízo Estadual, a teor do disposto no artigo 5º, III, da Carta Republicana”. (STJ, 3ª Seção, CC 119.305/SP, Rel. Min. 
Adilson Vieira Macabu, Dje 23/02/2012). 
 
12) Falsificação de moeda estrangeira. 
 
A falsificação de reais (R$) atenta contra um interesse da União e, portanto, a competência para o crime é da Justiça 
Federal. No caso de moeda estrangeira a competência continua sendo da Justiça Federal em razão da lesão sofrida pelo 
Banco Central do Brasil (autarquia federal) que, dentre suas atribuições, está a de fiscalizar a circulação de moeda 
estrangeira no território nacional. 
 
13) Falso testemunho cometido em processo trabalhista (ou perante a Justiça Eleitoral, Federal ou Militar da União). 
 
As quatro “Justiças” citadas acima integram o Poder Judiciário da União e o falso testemunho é um crime cometido 
contra a Administração da Justiça. 
 
Portanto, se há um crime contra a Administração da Justiça da União, o delito de falso testemunho será julgado pela 
Justiça Federal. 
 
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Sobre o assunto: S.165 STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no 
processo trabalhista”. 
 
14) A Justiça Militar da União integra o Poder Judiciário da União. Portanto, eventual crime cometido contra a Justiça 
Militar da União deve ser processado e julgado pela Justiça Federal. Precedente: 
 
STJ: “(...) O eventual ilícito decorrente do uso de artefato incendiário contra edifício-sede da Justiça Militar da União em 
Porto Alegre/RS não é crime militar, uma vez que o bem atingido não integra patrimônio militar, nem está subordinado 
à administração militar (art. 9º, III, a, do CPM). Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 11ª 
Vara de Porto Alegre - SJ/RS, o suscitado”. (STJ, 3ª Seção, CC 137.378/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 11/03/2015, 
Dje 14/04/2015). 
 
15) Crime cometido contra (ou por) funcionário público federal. 
 
Caso o crime seja cometido em razão das funções a competência será da Justiça Federal. Exemplos: a) fiscais do 
Ministério do Trabalho mortos em razão de fiscalização exercida em fazendas; e b) morte de um patrulheiro em blitz da 
Polícia Rodoviária Federal. 
 
S. 147 STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público federal, 
quando relacionados com o exercício da função”. 
 
O enunciado pode ser interpretado extensivamente para também abranger os crimes praticados por funcionário público 
federal. 
 
Jurisprudência: 
 
STJ: “(...) se um servidor público federal é vítima de um delito em razão do exercício de suas funções, tem-se que o 
próprio serviço público é afetado, o que atrai a competência da Justiça Federal para processar e julgar o feito. Doutrina. 
Enunciado 147 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes. No caso dos autos, ainda que a atuação dos 
policiais rodoviários federais tenha se dado de forma casuística, como sustentado na impetração, o certo é que era sua 
incumbência, naquele momento, reprimir a prática criminosa, nos termos do artigo 301 do Código de Processo Penal, 
motivo pelo qual não há dúvidas de que agiram no exercício de suas funções, o que revela a competência da Justiça 
Federal para processar e julgar o paciente, que desferiu diversos tiros contra eles ao empreender fuga de agência 
bancária que tentou assaltar. Precedente. Habeas corpus não conhecido”. (STJ, 5ª Turma, HC 309.914/RS, Rel. Min. 
Jorge Mussi, j. 07/04/2015, Dje 15/04/2015).16) Crimes contra o meio-ambiente. 
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Durante muitos anos vigorou a S. 90 do STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a 
Fauna” (CANCELADA). 
 
Os crimes contra a fauna eram julgados pela Justiça Federal porque antigamente entendia-se que a fauna era um bem 
da União (antiga lei de crimes ambientais). Portanto, a competência para julgar crimes contra a fauna era da Justiça 
Federal. No entanto, esse entendimento não é mais válido porque a atual lei de crimes ambientais (9.605/98) em 
momento algum indica que a fauna seria um bem da União, fazendo com que o STJ cancelasse a súmula n. 90. 
 
Atualmente, em regra, os crimes contra o meio-ambiente devem ser processados e julgados pela Justiça Estadual. No 
entanto, poderão ser julgados pela Justiça Federal em duas situações: 
 
• Crime ambiental cometido em detrimento de bem da União. Exemplos: a) pesca do camarão no mar territorial 
no período do defeso; e b) extração de cascalho na propriedade de um indivíduo. 
• Visualização de interesse do IBAMA. Exemplo: cidadão que mantém em cativeiro animais da fauna exótica 
(babuínos e tigres de bengala) sem marcação e em desacordo com o IBAMA (autoriza o ingresso e posse de 
animais exóticos). 
 
Questão n. 3: quem é que julga o crime ambiental cometido na Floresta Amazônica? De acordo com a Constituição 
Federal, a Floresta Amazônica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense, a Zona Costeira e a Mata Atlântica integram 
o patrimônio nacional. Nesses casos, a competência é da Justiça Estadual. Na visão dos Tribunais Superiores, patrimônio 
nacional não se confunde com patrimônio da União. Jurisprudência: 
 
STJ: “(...) Não há se confundir patrimônio nacional com bem da União. Aquela locução revela proclamação de defesa de 
interesses do Brasil diante de eventuais ingerências estrangeiras. Tendo o crime de desmatamento ocorrido em 
propriedade particular, área que já pertenceu - hoje não mais - a Parque Estadual, não há se falar em lesão a bem da 
União. Ademais, como o delito não foi praticado em detrimento do IBAMA, que apenas fiscalizou a fazenda do réu, 
ausente prejuízo para a União. Conflito conhecido para julgar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA DE 
CEREJEIRAS - RO, suscitante”. (STJ, 3ª Seção, CC 99.294/RO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 12/08/2009). 
 
STJ: “(...) CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXTRAÇÃO DE CASCALHO SEM AUTORIZAÇÃO. ART. 55 DA LEI 
9.605/98. PROPRIEDADE PRIVADA. IRRELEVÂNCIA. RECURSO MINERAL. BEM DA UNIÃO. ART. 20, IX, DA CF. 
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, IV, DA CF. Cuidando-se de delito contra bem da União, explicitamente 
trazido no artigo 20 da Constituição Federal, mostra-se irrelevante o local de sua prática, pois onde o legislador 
constituinte não excepcionou, não cabe ao intérprete fazê-lo. Conflito conhecido para julgar competente o JUÍZO 
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FEDERAL DE RONDONÓPOLIS - SJ/MT, suscitante”. (STJ, 3ª Seção, CC 116.447/MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, j. 25/05/2011). 
 
17) Crimes contra fé pública. 
 
a) Falsificação: a competência será fixada de acordo com o órgão responsável pela emissão do documento: Exemplos: 
 
• Falsificação de CNH (emitida pelo DETRAN): Justiça Estadual. 
• Falsificação de CPF (emitido pela Secretaria da Receita Federal): Justiça Federal. 
 
Observação n. 4: falsificação de carteira arrais-amador. Trata-se de um documento emitido pela Marinha do Brasil 
necessário para pilotar embarcações de pequeno-porte. Na hipótese de sua falsificação, o Supremo entendeu que o 
crime será julgado pela Justiça Federal, sob o argumento que a fiscalização naval é uma atribuição da União: 
 
S.V. 36: “Compete à Justiça Federal Comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de 
documento falso quando se tratar de falsificação da caderneta de inscrição e registro (CIR) ou de carteira de habilitação 
de amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil”. 
 
Ainda sobre a falsificação, duas súmulas: 
 
• S. 104 STJ: “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de documento 
falso relativo a estabelecimento particular de ensino”. 
• S. 73 STJ: “A utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da 
competência da Justiça Estadual”. 
 
Com relação à S. 73 STJ se a falsificação é grosseira significa dizer que não há crime de falso, pois toda falsidade deve ter 
idoneidade para enganar. No entanto, eventualmente, pode haver a tipificação do crime de estelionato, desde que a 
moeda grosseiramente falsificada tenha a capacidade de enganar uma pessoa. 
 
b) Uso de documento falso: a competência será determinada com base na pessoa prejudicada pelo uso, pouco 
importando o órgão emissor do documento. 
Exemplos: CNH falsa apresentada à Polícia Federal Rodoviária: Justiça Federal (atenta contra um serviço da União). 
 
Sobre o assunto: S. 546 STJ: “A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em 
razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão 
expedidor”. 
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c) Crime de falso como crime-meio: a falsificação ou o uso de documento falso pode ter sido cometido como um crime-
meio, ou seja, perpetrado exclusivamente para que o crime-fim fosse praticado. À luz do princípio da consunção, 
quando a potencialidade lesiva do falso se exaurir no crime-fim, o crime-meio será absorvido pelo crime fim. Portanto, a 
competência deverá ser determinada com base no crime-fim. 
 
Ainda sobre os crimes contra a fé-pública algumas questões pontuais a seguir: 
 
d) Falsa anotação na CTPS 
 
S. 62 STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na Carteira de Trabalho e Previdência 
Social, atribuído à empresa privada”. 
 
O enunciado acima sofreu uma desatualização em razão da Lei n. 9.983/00, a qual acrescentou ao CP, art. 297 dois 
parágrafos (3º e 4º). Assim, se o crime em questão for o crime dos §§ 3º e 4º há um atentado ao interesse do INSS e, 
consequentemente, serão julgados pela Justiça Federal. Jurisprudência: 
 
STJ: “(...) CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. ART. 297, § 4.º, DO CÓDIGO PENAL. OMISSÃO DE 
LANÇAMENTO DE REGISTRO. CARTEIRAS DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL. INTERESSE DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. 
JUSTIÇA FEDERAL. O agente que omite dados na Carteira de Trabalho e Previdência Social, atentando contra interesse 
da Autarquia Previdenciária, estará incurso nas mesmas sanções do crime de falsificação de documento público, nos 
termos do § 4.º do art. 297 do Código Penal, sendo a competência da Justiça Federal para processar e julgar o delito, 
consoante o art. 109, inciso IV, da Constituição Federal. 2. Competência da Justiça Federal”. (STJ, 3ª Seção, CC 
58.443/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Dje 26/03/2008). 
 
e) Falsificação de certificado de conclusão de curso 
 
S. 31 TFR: “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de crime de falsificação ou de uso de certificado de 
conclusão de curso de 1º e 2º Graus, desde que não se refira a estabelecimento federal de ensino ou a falsidade não 
seja de assinatura de funcionário federal”. 
 
Diploma de 3º grau (superior): competência da Justiça Federal, ainda que a faculdade seja particular, pois há chancela 
ou autenticação do Ministério da Educação.18) Execução penal 
 
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A competência é determinada com base na natureza do presídio (não interessa qual foi o juízo do processo de 
conhecimento). 
 
S. 192 STJ: “Compete ao juízo das execuções penais do estado a execução das penas impostas a sentenciados pela 
justiça federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos a administração estadual”. 
 
Lei n. 11.671/08, art. 2º: “A atividade jurisdicional de execução penal nos estabelecimentos penais federais será 
desenvolvida pelo juízo federal da seção ou subseção judiciária em que estiver localizado o estabelecimento penal 
federal de segurança máxima ao qual for recolhido o preso”. 
 
19) Contravenções penais 
 
As contravenções penais não podem ser julgadas pela Justiça Federal de 1ª instância: 
 
S. 38 STJ: “Compete à justiça estadual comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, 
ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades”. 
 
Observações: 
 
• Ainda que haja conexão com um crime federal, as contravenções não podem ser julgadas pela Justiça Federal. 
• As contravenções penais podem ser julgadas pelos TRFs em razão de foro por prerrogativa de função 
(competência originária). 
 
8.3.5. Crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no país, o resultado 
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente 
 
CF, art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha 
ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”. 
 
8.3.5.1. Requisitos 
 
O simples fato do crime estar previsto em tratado ou convenção internacional não é suficiente para atrair a 
competência da Justiça Federal. São necessários dois requisitos (cumulativos) à luz da CF, art. 109, V. 
 
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• Crime previsto em tratado ou convenção internacional. 
• Internacionalidade territorial do resultado em relação à conduta delituosa. 
 
Exemplos: 
 
a) Tráfico internacional de drogas (Justiça Federal). 
 
Observações: 
 
➢ Exemplos que dependem da análise do caso concreto: droga não produzida no Brasil e cidade na fronteira. 
 
➢ Caso a substância não seja considerada droga no país onde foi adquirida, mas seja no Brasil será hipótese de tráfico 
doméstico (Justiça Estadual). 
 
➢ Indivíduo preso no free-shop do aeroporto de Guarulhos com passagem com destino à Cidade do México flagrado 
com dez quilos de cocaína: trata-se de tráfico internacional (“tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro”). 
 
➢ Remessa pela via postal: S. 528 STJ: “Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior 
pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional”. 
 
➢ Desclassificação de tráfico internacional para doméstico e perpetuação de competência. Há um entendimento no 
sentido de que a competência deveria continuar nas mãos do juiz federal. No entanto, essa não é a posição dos 
Tribunais Superiores, pois não mais subsistiria um crime de competência da Justiça Federal. Jurisprudência: 
 
STF: “(...) PROCESSO PENAL E CONSTITUCIONAL. AÇÃO PENAL. CONTRABANDO DE ARMA DE FOGO (CP, ART. 334, § 1º, 
C). DESCLASSIFICAÇÃO PARA RECEPTAÇÃO (CP, ART. 180). PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 
IMPOSSIBILIDADE. 1. A norma do art. 81, caput , do CPP, ainda que busque privilegiar a celeridade, a economia e a 
efetividade processuais, não possui aptidão para modificar competência absoluta constitucionalmente estabelecida, 
como é o caso da competência da Justiça Federal. 2. Ausente qualquer das hipóteses previstas no art. 109, IV, da CF, 
ainda que isso somente tenha sido constatado após a realização da instrução, os autos devem ser remetidos ao Juízo 
competente, nos termos do § 2º do art. 383 do CPP. 3. Ordem concedida. (STF, 2ª Turma, HC 113.845/SP, Rel. Min. Teori 
Zavascki, j. 20/08/2013). 
b) Prática de pedofilia pela internet 
 
A pedofilia pela internet pode ou não ter o potencial de internacionalidade. Exemplo: 
 
• Envio de fotos por e-mail entre residentes no Brasil: Justiça Estadual. 
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• Criação de um site com fotos: Justiça Federal. 
 
Jurisprudência: 
 
STJ: “(...) O art. 109, V, da Constituição Federal estabelece que compete aos Juízes Federais processar e julgar "os crimes 
previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter 
ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente". Para fixar a competência da Justiça Federal, não basta o Brasil ser 
signatário de tratado ou convenção internacional que prevê o combate a atividades criminosas relacionadas a pedofilia, 
inclusive por meio da Internet. O crime há de se consumar com a publicação ou divulgação, ou quaisquer outras ações 
previstas no tipo penal do art. 241, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 8.069/90, na rede mundial de computadores (Internet), de 
fotografias ou vídeos de pornografia infantil, dando o agente causa ao resultado da publicação, legalmente vedada, 
dentro e fora dos limites do território nacional. Na hipótese dos autos, e pelo que se apurou, até o presente momento, 
o material de conteúdo pornográfico, em análise no apuratório, não ultrapassou os limites dos estabelecimentos 
escolares, nem tampouco as fronteiras do Estado brasileiro. Assim, não estando evidenciada a transnacionalidade do 
delito - tendo em vista que a conduta do investigado, a ser apurada, restringe-se, até agora, à captação e ao 
armazenamento de vídeos, de conteúdo pornográfico, ou de cenas de sexo explícito, envolvendo crianças e 
adolescentes, nos computadores de duas escolas -, a competência, in casu, é da Justiça Estadual”. (STJ, 3ª Seção, CC 
103.011/PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, Dje 22/03/2013). 
 
Observação n. 5: na hipótese de provedores internacionais, a competência territorial para julgar a pedofilia pela 
internet é do local de onde emanaram as imagens pedófilo-pornográficas. 
 
c) Crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de 
TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços de card sharing. 
 
A competência é da Justiça Federal. Jurisprudência: 
 
STJ: “(...) Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software 
decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços de card 
sharing. A conduta assinalada consiste no compartilhamento ilícito de sinal de TV, por meio de um cartão no qual são 
armazenadas chaves criptografadas que carregam, de forma cifrada, o conteúdo audiovisual. Tais cartões são inseridos 
em equipamentos que viabilizam a captação do sinal, via cabo ou satélite, e sua adequada decodificação, conhecidos 
como AZBox, Duosat, AzAmérica, entre outros. (...)Ao que consta dos autos, uma das formas de quebra das chaves 
criptográficas é feita por fornecedores situados na Ásia e Leste Europeu, que enviam, via internet, a pessoas que as 
distribuem, também via internet, aos usuários dos decodificadores ilegais, assim permitindo que o sinal de TV seja 
irregularmente captado. Nesse sentido, de acordo com o art. 109, V, da Constituição Federal, a competência da 
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jurisdição federal se dá pela presença concomitante da transnacionalidade do delito e da assunção de compromisso 
internacional de repressão, constante de tratados ou convenções internacionais. A previsão normativa internacional, na 
hipótese, é a Convenção de Berna, integrada ao ordenamento jurídico nacional através do Decreto n. 75.699/1975, e 
reiterada na Organização Mundial do Comércio – OMC por acordos como o TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual 
Property Rights) - Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (AADPIC), 
incorporado pelo Decreto n. 1.355/1994, com a previsão dos princípios de proteção ao direitos dos criadores. O outro 
requisito constitucional, de tratar-se de crime à distância, com parcela do crime no Brasil e outra parcela do iter 
criminis fora do país, é constatado pela inicial prova da atuação transnacional dos agentes, por meio da internet. Nesse 
contexto, tem-se por evidenciados os requisitos da previsão das condutas criminosas em tratado ou convenção 
internacional e do caráter de internacionalidade dos delitos objeto de investigação, constatando-se, à luz do normativo 
constitucional, a competência da jurisdição federal para o processamento do feito. (STJ, 3ª Seção, CC 150.629/SP, Rel. 
Min. Nefi Cordeiro, j. 22/02/2018, DJe 28/02/2018). 
 
8.3.6. Incidente de deslocamento de competência (IDC) 
 
I - O IDC é uma criação da EC n. 45/04 e consiste no deslocamento da competência da Justiça Estadual para a Justiça 
Federal. 
 
II - O IDC foi criado a partir do momento em que o Brasil passou a se sujeitar à jurisdição da Corte Interamericana de 
Direitos Humanos e, portanto, a União poderia ser responsabilizada pela Corte por uma falha cometida pelo Estado-
membro. 
 
III – O instituto continua válido, inclusive contando com mais de um precedente no âmbito do STJ. 
 
IV – Previsão: 
 
CF, art. 109, § 5º: “Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a 
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos 
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou 
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal”. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 
45, de 2004). 
 
8.3.6.1. Pressupostos 
 
• Crime cometido com grave violação aos direitos humanos. 
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• Risco de descumprimento dos tratados internacionais de direitos humanos firmados pelo Brasil em virtude da 
inércia do Estado-membro em proceder à persecução penal. 
 
8.3.6.2. Legitimidade e competência 
 
• Legitimidade: PGR. 
• Competência: STJ (3ª Seção). 
 
8.3.7. Crimes contra a organização do Trabalho 
 
CF, Art. 109: “(...). 
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem 
econômico-financeira”. 
 
Segundo a doutrina, quando a Constituição outorga à Justiça Federal a competência para julgar os crimes contra a 
organização do trabalho deve-se compreender apenas quando violados os direitos dos trabalhadores coletivamente 
considerados. Portanto, diante de uma lesão individualizada a competência será da Justiça Estadual. 
 
Inclusive, há uma súmula do extinto Tribunal Federal de Recursos, mas que continua válida como lição doutrinária: S. 
115 TFT: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a organização do trabalho, quando tenham por 
objeto a organização geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente”. 
 
8.3.8. Crimes contra o Sistema Financeiro e a ordem econômico-financeira 
 
CF, art. 109: “(...): 
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem 
econômico-financeira”. 
 
Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira só serão julgados pela Justiça Federal nos casos 
determinados por lei. 
 
a) Lei n. 1.521/51 (crimes contra a economia popular): Justiça Estadual. 
S. 498 STF: “Compete à justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a 
economia popular”. 
 
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b) Lei n. 4.595/64 (Dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho 
Monetário Nacional): Justiça Estadual. 
 
c) Lei n. 7.492/86 (crimes contra o sistema financeiro nacional): Justiça Federal. 
 
Lei n. 7.492/86, art. 26: “A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal, 
perante a Justiça Federal”. 
 
d) Lei n. 8.137/90 (crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo) 
 
➢ Crimes contra a ordem tributária (depende da natureza do tributo): 
 
• Tributos federais: Justiça Federal. 
• Tributos estaduais ou municipais: Justiça Estadual. 
 
➢ Crimes contra a ordem econômica e contra as relações de consumo: Justiça Estadual. 
 
e) Lei n. 8.176/91 (crime de adulteração de combustíveis): Justiça Estadual – pouco importando o fato da ANP exercer 
a fiscalização quanto a esse delito. 
 
f) Lei n. 9.613/98 (lavagem de capitais): em regra, a competência é da Justiça Estadual. 
 
Lei n. 9.613/98, art. 2º: “O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: 
(...) 
III – são da competência da Justiça Federal: 
a) Quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços 
ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; 
b) Quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal”. 
 
8.2.9. Crimes cometidos a bordo de navios e aeronaves (CF, art. 109, IX) 
 
CF, art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; 
(...)”. 
 
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• “Navios”: embarcações de grande porte. 
• “Aeronaves”: Lei n. 7.565/86, art. 106: “Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em voo, que possa 
sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou 
coisas”. 
 
Observação n. 6: na visão dos Tribunais Superiores pouco importa se a aeronave está no ar ou em terra. 
 
8.9.10. Crimes praticados por (ou contra) índios 
 
CF, art. 109: “Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
XI - a disputa sobre direitos indígenas. 
(...)”. 
 
Em regra, os crimes praticados por (ou contra) índios são de competência da Justiça Estadual. No entanto, poderá ser 
julgado pela Justiça Federal quando violados os direitos indígenas. Observações: 
 
• S. 140 do STJ: “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como 
autor ou vítima”. 
• Interpretação da expressão “direitos indígenas”: CF, art. 231: “São reconhecidos aos índios sua organização 
social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente 
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. 
 
Observação n. 7: genocídio contra índios (Lei n. 2.889/56): 
 
O genocídio contra índios é da competênciada Justiça Federal. 
 
Questão n. 4: o genocídio contra índios é julgado por um juiz singular federal ou pelo Tribunal do Júri Federal? O 
genocídio, em regra, não é crime doloso contra a vida, pois tutela um bem jurídico supra individual: a existência de um 
grupo nacional, racial, étnico ou religioso. Assim, em tese, o genocídio contra índios será de competência de um juiz 
singular da Justiça Federal. Já no caso do agente praticar o genocídio matando membros do grupo, ele deverá responder 
pelos crimes de homicídio e pelo crime conexo de genocídio (concurso formal impróprio): os homicídios dolosos serão 
julgados pelo Tribunal do Júri Federal que exercerá força atrativa quanto ao crime de genocídio (STF – RE n. 351.487). 
8.10. Conexão e continência entre crime “federal” e “crime estadual” 
 
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Exemplo: crime de moeda falsa (Justiça Federal) e crime de tráfico doméstico de drogas (Justiça Estadual). Em razão da 
conexão ou da continência, o crime de tráfico será julgado pela Justiça Federal. 
 
S. 122 STJ: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e 
estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal”. 
 
9. Competência da Justiça estadual 
 
Possui natureza residual. 
 
 
 
 
 
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