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RESUMO O significado clássico e moderno de política - Bobbio

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O significado clássico e moderno de política - Norberto Bobbio
O SIGNIFICADO CLÁSSICO E MODERNO DE POLÍTICA
Política vem do grego politikós, que por sua vez é originado de pólis, palavra que se refere à cidade e ao que é urbano, civil, público, sociável e social;
A obra Política, de Aristóteles, é o primeiro grande tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado e sobre as várias formas de Governo; 
Para Bobbio, é difícil diferenciar a intenção meramente descritiva ou normativa em relação às coisas da cidade na obra de Aristóteles;
Antigamente, o termo política era usado para designar obras dedicadas ao estudo daquela esfera de atividades humanas que eram, de alguma forma, associadas às coisas do Estado – exemplo de Politica methodice digesta, obra de Johannes Althusius, que entende a política como simbiótica e também como uma consociatio publica; o Estado é a maior das consociationes e abriga várias outras menores em si;
Na época moderna, ganhou-se novos significados, como “ciência do Estado”, “ciência política”, etc; o termo passou a ser utilizado para indicar a atividade ou o conjunto delas que têm como termo de referência o Estado;
Dessas atividades, a pólis pode ser tanto o sujeito – quando referidos à esfera da Política atos como ordenar/proibir alguma coisa com validade para todos os membros desse Estado, o exercício de um domínio exclusivo sobre determinado território, legislar através de normas erga omnes, tirar/transferir recursos entre os setores sociais – como o objeto – quando referidas a ações como a conquista, manutenção, defesa, ampliação, robustecimento, derrubada, destruição do poder estatal -;
“Ao longo do tempo, o termo política deixou de ter o sentido de adjetivo (aquilo que é da cidade, sociedade) e passou a ser um modo de “saber lidar” com as coisas da cidade, da sociedade. Assim, fazer política pode estar associado às ações de governo e de administração do Estado. Por outro lado, também diria respeito à forma como a sociedade civil se relaciona com o próprio Estado.”
Uma obra que conserva parcialmente o significado clássico é Elementos da política (1925), de Croce, onde há a reflexão sobre a atividade política, equivalendo a “elementos de filosofia política”.
A TIPOLOGIA CLÁSSICA DAS FORMAS DE PODER
O sentido de política como atividade está estreitamente ligada ao sentido de poder; 
Poder, para Hobbes: “consistente nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem”;
Poder, para Russell: “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”;
Muitas vezes, o poder é definido como uma relação entre dois sujeitos, no qual um deles impõe sua vontade; porém, para Bobbio, como o domínio sobre os homens não é um fim em si mesmo, essa definição deve ser completada pela noção do poder como posse dos meios que permitem, finalmente, alcançar uma “vantagem qualquer” ou os “efeitos desejados”;
O poder político pertence à categoria do poder do homem sobre outro homem, não à do poder do homem sobre a natureza;
A tipologia clássica das formas de poder remonta à Aristóteles, com os três tipos básicos de dominação. Para ele, a distinção é feita de acordo com o interesse daquele em benefício de quem se exerce o poder – o paterno se exerce pelo interesse dos filhos; o despótico pelo interesse do senhor; e o político pelo interesse de quem governa e de quem é governado (nas formas viciadas, o poder é exercido no interesse apenas dos governantes);
Porém, o critério que prevaleceu foi o do fundamento ou o princípio da legitimação: o fundamento do poder paterno é a natureza (ex natura), do poder despótico o castigo por um delito cometido – há sempre a iminência do castigo - (ex delicto), do poder civil o consenso (ex contractu);
Bobbio, entretanto, deixa clara a diferença entre o que o governo do poder político deveria ser do que ele é. A preocupação principal sempre foi determinar como um bom governo deveria ser, mas sempre identificou-se governos paternalistas ou governos despóticos, e não necessariamente não havia consenso ou não se agia pelo bem público – é uma parte do texto em que Bobbio deixa claro que essas definições não constituem caráter distintivo de todo governo;
A TIPOLOGIA MODERNA DAS FORMAS DE PODER
O interesse de Bobbio é encontrar o elemento específico do poder político; para isso, ele acha apropriado usar os meios de que o sujeito ativo, na relação de poder, usa para determinar o comportamento do sujeito passivo. Assim, são identificadas três classes, que são
- poder econômico (1);
- poder ideológico (2);
- poder político (3);
(1): em geral, todo aquele que possui abundância de bens é capaz de determinar o comportamento de quem se encontra em condições de penúria, mediante a promessa e concessão de vantagens;
(2): é a influência que as ideias formuladas de certo modo, expressas em certas circunstâncias, por uma pessoa investida de certa autoridade e difundidas de certa maneira possuem na conduta dos consociados, sejam eles sacerdotes, cientistas, sábios...
(3): se baseia na posse dos instrumentos mediante os quais se exerce a força física; é o poder coator.
TODOS ESSES PODERES FUNDAMENTAM E MANTÊM UMA SOCIEDADE DE DESIGUAIS: RICOS E POBRES (1), SÁBIOS E IGNORANTES (2) E FORTES E FRACOS (3);
ENTRETANTO, O PODER POLÍTICO É O PODER SUPREMO, POIS OS OUTROS PODERES ESTÃO, DE UMA FORMA OU DE OUTRA, SUBORDINADOS A ELE;
O poder político é o extrema ratio, ou seja, a última solução possível a ser recorrida, é extremo; Bobbio entende que o uso da força física, seja ela na relação entre expropriadores e expropriados ou à aceitação passiva da minoria do pensamento ideológico dominante, é por si só suficiente para impedir a insubordinação ou a desobediência dos subordinados;
Esses três tipos de poder social estão presentes na sociedade global, articulado em três subsistemas fundamentais, que são a organização das forças produtivas, a organização do consenso e a organização da coação. A teoria marxista pode ser interpretada assim também: a base real, ou estrutura, é o poder econômico. A superestrutura, por sua vez, estaria dividida entre dois momentos: o ideológico, e o principal, que seria o político. Gramsci distingue, nessa estrutura supra, o momento do consenso (que chama de sociedade civil) e o momento do domínio (que chama de sociedade política ou de Estado); 
Dicotomia tradicional (poder espiritual e poder temporal); dicotomia marxista (estrutura e supra-estrutura); em ambas existem as três formas de poder. Porém, é importante ressaltar que, na tradicional, o momento principal é o ideológico, enquanto que no marxista, o momento principal é o econômico. 
O PODER POLÍTICO
Embora poder recorrer ao uso da força é o que difere o poder político dos outros poderes, isso não significa que ele se resolva no uso da força; tal uso é uma condição necessária, mas não suficiente para a existência do poder político:
- é necessário exclusividade do uso da força (ou seja, a monopolização da posse e uso de meios com que se pode exercer a coação física; 
Bobbio entende a hipótese de Hobbes do Leviatã como abstrata, mas enxerga respaldo histórico na teoria do Estado de Marx e Engels, segundo a qual, numa sociedade dividida por classes antagônicas, as instituições políticas têm a função primordial de permitir à classe dominante manter seu domínio, coisa que só é possível de ser alcançada por via do antagonismo de classes por meio da organização sistemática e eficaz do monopólio da força. E é por isso que cada Estado deve ser uma ditadura, para Marx e Engels;
Max Weber: “Por Estado se há de entender uma empresa institucional de caráter político onde o aparelho administrativo leva avante, em certa medida e com êxito, a pretensão do monopólio da legítima coerção física, com vistas ao cumprimento das leis”;
Quando falamos de sistema político, referimo-nos também a todas as interações respeitantes ao uso ou à ameaça de uso de coerção física legítima;
Como consequência da monopolização do uso da força, o poder político possui também outras três caraterísticas
fundamentais:
- exclusividade: não há permissão concedida a outros grupos armados independentes de serem formados;
- universalidade: apenas os detentores do poder são capazes de tomar decisões legítimas e verdadeiramente eficazes para toda a coletividade;
- inclusividade: possibilidade de intervir, imperativamente, nas esferas de atividades do grupo para desviar os caminhos de algo não desejado. Isso não significa que o poder politico é ilimitado, mas sim que os limites são delimitados de maneiras diferentes de acordo com as formações políticas.
O FIM DA POLÍTICA

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