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Livro - Fundamentos do Agronegocio

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FUNDAMENTOS
DO AGRONEGÓCIO
Rodolfo Coelho Prates
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Curitiba
2018
Fundamentos 
do Agronegócio
Rodolfo Coelho Prates
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
P912f Prates, Rodolfo Coelho
Fundamentos do agronegócio / Rodolfo Coelho Prates. – Curitiba: 
Fael, 2018.
308 p.: il.
ISBN 978-85-5337-037-5
1. Economia agrícola 2. Agroindústria I. Título
CDD 338.1
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/Hennadii H
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Conceitos Gerais do Agronegócio | 7
2. Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio | 35
3. Políticas Específicas ao Agronegócio | 61
4. Panorama das Principais Cadeias Produtivas 
do Agronegócio no Brasil | 93
5. Competitividade Internacional dos 
Produtos do Agronegócio | 123
6. Marketing no Agronegócio | 151
7. Derivativos agropecuários | 179
8. Responsabilidade Social e Ambiental no Agronegócio | 207
9. Tecnologias Aplicadas ao Agronegócio | 233
10. Perspectivas do Agronegócio no Brasil | 259
Gabarito | 287
Referências | 299
Prezado(a) aluno(a),
Independentemente do país, do nível de desenvolvimento 
ou do tamanho da população, a produção de bens agropecuários 
é essencial, pois todos nós necessitamos de alimentos e de outros 
bens gerados no campo. E isso se revela importante para o Brasil, 
que conta naturalmente com uma grande quantidade de recursos 
disponíveis à produção agropecuária, ou seja, o Brasil detém as 
condições favoráveis para a atividade agropecuária, como amplo 
território e grande disponibilidade de energia solar, por exem-
plo. Atualmente, a agropecuária é um setor econômico altamente 
dependente de outros setores, particularmente da indústria (que 
fornece os insumos e transforma os bens agropecuários em outros 
bens) e de serviços. Essa junção forma o denominado agronegócio, 
que abrange atividades além da tradicional “porteira para dentro”.
Carta ao Aluno
– 6 –
Fundamentos do Agronegócio
Compreender o funcionamento e a dinâmica do agronegócio é uma 
tarefa essencial, não apenas para o produtor rural, mas para diversas ativi-
dades profissionais que estejam direta ou indiretamente relacionadas com 
o agronegócio, como administradores, agrônomos, jornalistas, economis-
tas e engenheiros, por exemplo.
Dessa forma, a presente obra tem o objetivo de discutir e analisar as 
diferentes características do agronegócio. Ao completar a leitura da obra, 
você terá uma visão, ao mesmo tempo abrangente, sistêmica e minuciosa 
sobre as principais áreas que constituem o agronegócio.
Vale também ressaltar que a escolha dos temas foi realizada cuidado-
samente com o objetivo de trazer a discussão aos aspectos mais relevan-
tes. Isso implica que algumas áreas não foram contempladas. No entanto, 
a compreensão dos conceitos, teorias, processos e relações apresentados 
nessa obra o qualifica a aprofundar o entendimento desse assunto tão rico 
e importante para a sociedade.
Desejo que esta obra lhe forneça um caminho seguro para conhecer, 
de maneira mais pormenorizada, a complexidade do agronegócio, e que 
ela também lhe inspire a se aprofundar sobre o tema. 
O autor.
1
Conceitos Gerais 
do Agronegócio
Toda pessoa, independentemente de onde mora, do nível de 
renda e da cultura, por exemplo, necessita de alguns bens essen-
ciais à manutenção de sua vida, como abrigo, vestimentas e ali-
mentos. Sem a combinação dos três bens essenciais, as condições 
de vida dessa pessoa estará severamente comprometida. Cada um 
desses bens é produzido por um setor na economia. O setor econô-
mico da construção civil constrói residências, que é a forma con-
temporânea de abrigo; o setores têxtil e de confecções elaboram as 
vestimentas; e o setor do agronegócio produz os alimentos.
Por produzir bens considerados essenciais à vida humana, 
esses três setores estão presentes em todos os países do mundo. 
Contudo, é justamente o setor produtor de alimentos que assume 
uma posição de destaque, na medida em que apresenta grande 
diversidade de bens produzidos, uma estrutura de produção 
complexa e heterogênea e igualmente por ser uma atividade que 
ocupa grande quantidade da área de todos os países.
Para termos uma base adequada para compreender os dife-
rentes aspectos das atividades do agronegócio, este capítulo 
apresenta os elementos fundamentais do setor, bem como suas 
características e dinâmicas. Ressaltamos que é muito importante 
que tais conceitos sejam plenamente internalizados, pois os capí-
tulos seguintes terão referência a eles.
Fundamentos do Agronegócio
– 8 –
1.1 Definição de agronegócio e de outros termos
Para entendermos adequadamente o conceito de agronegócio é neces-
sário ter a compreensão de outros termos correlatos que apareceram antes. 
O primeiro termo é agricultura, essa palavra de origem latina é composta 
do prefixo agro e do sufixo cultura. Agro deriva do termo ager e tem como 
significado terra, campo e território. Já cultura deriva do termo cultivo. 
Dessa forma, a composição desses dois termos forma o sentido específico 
de cultivar a terra1.
Podemos compreender como agricultura as atividades realizadas 
pelo ser humano que, por meio do uso da terra, produzem bens vegetais 
destinados aos mais diversos propósitos. Assim, podemos compreender 
que a produção de grãos, legumes, verduras, flores e frutos, por exemplo, 
são atividades da agricultura.
A agricultura é também um processo seletivo, em que o ser humano 
exerce um papel extremamente fundamental visando escolher das cen-
tenas de milhares de espécies vegetais nativas no mundo aquelas que 
vão ao encontro de seus interesses e necessidades. Para ter ideia da vasta 
quantidade de plantas existentes no mundo, ao longo da Cordilheira do 
Andes são cultivadas 4.235 variedades diferentes de batatas pelos diferen-
tes povos tradicionais que ali residem (ARAÚJO, 2018). Curiosamente, 
nós, consumidores finais, temos conhecimento apenas de algumas dessas 
variedades. Isso significa que houve uma grande seleção de espécies para 
atenderem determinados interesses e necessidades. Tal seleção foi baseada 
em vários aspectos, principalmente relacionados a produção, comerciali-
zação e consumo. Sobre a produção, deseja-se que um bem agrícola tenha 
ciclo de produção curto, seja resistente à pragas e seja de fácil produção. 
Sobre a comercialização, ele deve resistir bem aos deslocamentos, ter boa 
aparência e permanecer o máximo possível de tempo sem alterar seus 
aspectos visuais e nutricionais. Em relação ao consumo, ele deve agra-
dar aos hábitos e paladares dos consumidores. Assim, a reunião dessas 
características e de muitas outras forma o critério para selecionar quais 
variedades devem ser escolhidas.
1 Latin Dictionary and Grammar Aid (2018).
– 9 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Além da produção de bens de natureza vegetal, as atividades do 
campo também acolhem as atividades relacionadas com a criação de 
animais. Esse ramo de atividades recebe o nome de pecuária, termo que 
deriva da palavra latina pecus, que significa cabeça de gado. Pecus é tam-
bém a origem da palavra pecúnia, que significa dinheiro ou moeda. Essa 
relação do animal com o dinheiro se deve ao fato de que na antiguidade 
alguns animais eram utilizados como meio de troca e reserva de valor 
(PASSOS; NOGAMI, 2012), ou seja, eram utilizados como dinheiro.
Embora a palavra gado esteja mais associada aos bovinos, a pecuária 
é a atividade que se relaciona a diversos animais, como frango, porco, 
ovelhas, cabras, cavalos, ovelhas etc. Ou seja, atividades que têm estreita 
relação com a zootecnia.
Como a agriculturae a pecuária são atividades que necessitam de 
terra, elas guardam estreita relação entre si, de tal maneira que muitas uni-
dades de produção combinam em alguma proporção as duas atividades, 
reunião denominada agropecuária. Segundo Bacha (2004, p. 14), o termo 
agropecuária se refere ao “grupo de atividades que usam a terra como fator 
de produção, seja para o plantio de culturas, para a criação de animais, o 
plantio de florestas, a aquicultura, por exemplo. Agricultura passa a ser um 
subsetor da agropecuária, e a pecuária é outro subsetor da agropecuária”.
Até o advento da industrialização, a agropecuária era a principal ati-
vidade econômica de uma sociedade, mas não a única, pois já existiam 
também o comércio e múltiplas formas de produção manual ou, em alguns 
casos, de manufatura, que se responsabilizavam pela produção de uma 
variedade muito grande de bens. Independentemente de quantas ativida-
des econômicas existissem, era a produção agropecuária que ocupava o 
lugar central. Se a atividade, por alguma razão, entrasse em crise, todas as 
demais também entrariam; por outro lado, se ela atravessasse um momento 
de expansão, as demais também aproveitariam esse crescimento.
Durante muitos milênios, a agropecuária foi uma atividade econômica 
centrada em si mesma, ou seja, não dependia de outros setores econômicos, 
e os bens gerados por ela não passavam por outras transformações até che-
gar aos consumidores finais. Basicamente eram os próprios produtores os 
agentes que consumiam os bens produzidos. No entanto, com o surgimento 
Fundamentos do Agronegócio
– 10 –
da industrialização, o setor da agropecuária passou a depender de bens pro-
duzidos pela indústria, como máquinas e equipamentos específicos para 
a produção vegetal e animal. Além disso, a indústria utilizava também a 
produção vegetal e animal como matéria-prima do seu processo produtivo.
Com o passar o tempo, o processo de industrialização foi se tornando 
mais amplo e complexo, surgiram outras atividades relacionadas com o 
conhecimento, como pesquisa e inovação, e isso tudo se incorporou à ati-
vidade agropecuária. Atualmente a agropecuária faz parte de uma rede 
imensa de atividades de todos os setores econômicos, incluindo os finan-
ceiros. A essa imensa rede dá-se o nome de agronegócio.
Segundo Bacha (2004, p. 14), “o termo agronegócio é a tradução 
do termo agribusiness e se refere ao conjunto de atividades vinculadas 
com a agropecuária”. Portanto, o setor de insumos à agropecuária, como 
sementes, fertilizantes, defensivos químicos, máquinas, equipamentos, 
consultoria agronômica e pesquisa e inovação, por exemplo, pertence ao 
agronegócio. E igualmente os setores que se responsabilizam, direta ou 
indiretamente pelos bens gerados pela agropecuária também fazem parte 
do agronegócio, como as atividades logísticas, as empresas de comerciali-
zação, de transformação etc.
Podemos então compreender o agronegócio como um conjunto muito 
vasto de atividades econômicas que se relacionam diretamente com os 
três grandes setores de uma economia: primário (produção agropecuária), 
secundário (produção industrial) e terciário (comércio e serviços).
Para se ter uma compreensão panorâmica da dimensão do agronegó-
cio, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estima que o Produto 
Interno Bruto (PIB) do setor representa aproximadamente 23% do PIB 
brasileiro2. Isso significa que praticamente um quarto de tudo que é produ-
zido na economia brasileira passa pelo setor do agronegócio.
A figura 1.1, a seguir, exibe uma representação das diversas ativi-
dades econômicas que compõem o agronegócio. Podemos observar, à 
esquerda, os setores que fornecem insumos e equipamentos específicos 
para a atividade agropecuária. Inicialmente há os insumos agropecuários, 
2 PIB e performance do agronegócio (2018).
– 11 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
compostos de sementes, fertilizantes, defensivos agrícolas, vacinas para 
animais etc. Associado a ele há o ramo de máquinas e equipamentos, como 
tratores, arados, plantadeiras, colhedeiras, equipamentos para irrigação, 
aviões para pulverização e todos os demais instrumentos utilizados tanto 
na agricultura quanto na pecuária. Observe que tanto os insumos agrope-
cuários quanto as máquinas e equipamentos são produzidos pela indústria 
de transformação, que pode ser tanto doméstica quanto estrangeira. Se for 
estrangeira, haverá a necessidade de importar tais insumos ou máquinas.
Figura 1.1 – Visão geral do agronegócio
Insumos
Agropecuários
Maquinário
Agropecuário
Manipulação
Processamento
Agropecuária Marketing e
Distribuição
Agroindústria
Atividades de Suporte
Fonte: elaborada pelo autor.
O potássio, que consiste em um dos principais componentes dos fer-
tilizantes, é um exemplo de insumo que deve ser importado, pois ele é um 
mineral que praticamente não existe no Brasil. Dessa forma, há empre-
sas especializadas que importam esse mineral para o Brasil e o revendem 
às empresas que produzem os fertilizantes. Na sequência, há a atividade 
agropecuária propriamente dita, que essencialmente se desenvolve no 
ambiente rural, tanto nas proximidades das cidades, como nos cinturões 
verdes que produzem verduras e legumes para atender ao mercado urbano, 
quanto em regiões bastante afastadas de qualquer cidade, povoado ou vila.
A atividade da agropecuária consiste em combinar o uso da terra 
com os insumos e equipamentos e também com o trabalho humano. 
Fundamentos do Agronegócio
– 12 –
É importante frisar que a agropecuária é uma atividade que apresenta 
muitas diferenças relacionadas a técnicas de cultivo, dimensões da pro-
priedade e quantidade de trabalho utilizada. Sobre tais diferenças, Prates 
(2017, p. 15) afirma que:
A atual estrutura da produção agropecuária é extremamente diver-
sificada, abrangendo pequenos produtores familiares que produ-
zem com técnicas literalmente arcaicas até grandes produtores 
intensivos em tecnologia que estão voltados a atender às demandas 
mundiais. Entre esses dois extremos há uma miríade de possibili-
dades, mas o que se nota no setor é uma elevada heterogeneidade 
entre as dimensões da produção, incluindo a terra, e igualmente 
das técnicas utilizadas para produzir. Coexistem técnicas que pos-
sibilitam elevadas produtividades de terra e trabalho, por meio 
da intensidade do capital, com técnicas simples e rudimentares, 
desamparadas e desassistidas de qualquer tipo de conhecimento.
Há propriedades agropecuárias com milhares de hectares, muitos 
tratores, aviões, drones e todos os equipamentos tecnológicos para a pro-
dução. Geralmente, essas propriedades têm poucos trabalhadores, pois 
grande parte das atividades são realizadas por máquinas e equipamentos, 
elevando as produtividades da terra e do trabalho. Por outro lado, existem 
propriedades extremamente pequenas, que carecem de qualquer equipa-
mento mais sofisticado e que utilizam o trabalho como principal fator de 
produção. Nessas propriedades, o trabalho manual se dá por meio de ins-
trumentos muito rudimentares, como enxadas e foices.
Entre os profissionais, a agropecuária é conhecida como a atividade 
“da porteira para dentro”. Isso significa que é uma atividade essencial-
mente rural. Há também um sentido crítico nessa designação, pois se 
diz que muitos produtores agropecuários carecem de informações sobre 
as demais atividades que compõem todo o agronegócio, principalmente 
sobre a comercialização do bem produzido.
Uma vez ocorrida a produção, ela se destina a outro setor da agroin-
dústria, que é a manipulação e o processamento. A manipulação, geral-
mente de verduras, legumes e frutos, é realizada visando à limpeza, à sele-
ção e, eventualmente, à embalagem do bem produzido. O processamento 
é a transformação do bem agropecuário em outro tipo de bem. A soja é 
convertida em óleo, o frango vivo em carnes, e assim sucessivamente, 
– 13 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
para uma grande quantidade de bens que não podem ser consumidos após 
deixar as propriedadesagropecuárias.
Depois dessa etapa, há o marketing e a distribuição do bem para os 
postos de comercialização, a exemplo de supermercados e outros setores 
que atendem o consumidor final. O bem também pode ser exportado, ou 
seja, ser consumido por pessoas residentes em outros países.
E perpassando por todos esses setores há as atividades de suporte, 
que podem ser relacionadas com consultorias agronômicas e veterinárias, 
atividades financeiras e mecanismos de política econômica direcionados 
para o setor, por exemplo. As atividades de suporte também são importan-
tes na medida em que possibilitam aumentar a eficiência de todo o sistema.
1.1.1 Outros conceitos relacionados ao agronegócio
Até o presente momento, analisamos três grandes conceitos: agricul-
tura, pecuária e agronegócio. No entanto, existem outros termos e con-
ceitos que são importantes para compreendermos melhor as relações que 
existem nesse setor econômico.
Inicialmente é importante diferenciar os conceitos de minifúndio e 
latifúndio. Como eles estão relacionados à dimensão da propriedade rural, 
foi adotada uma medida, denominada módulo fiscal. Segundo a Empresa 
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2018):
Módulo fiscal é uma unidade de medida, em hectares, cujo valor 
é fixado pelo INCRA para cada município levando-se em conta: 
(a) o tipo de exploração predominante no município (hortifruti-
granjeira, cultura permanente, cultura temporária, pecuária ou 
florestal); (b) a renda obtida no tipo de exploração predominante; 
(c) outras explorações existentes no município que, embora não 
predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área 
utilizada; (d) o conceito de “propriedade familiar”. A dimensão 
de um módulo fiscal varia de acordo com o município onde está 
localizada a propriedade. O valor do módulo fiscal no Brasil varia 
de 5 a 110 hectares.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) adota 
a seguinte classificação sobre a dimensão das propriedades rurais:
1. minifúndio – imóvel rural com área inferior a 1 (um) módulo fiscal;
Fundamentos do Agronegócio
– 14 –
2. pequena propriedade – imóvel de área compreendida entre 1 
(um) e 4 (quatro) módulos fiscais;
3. média propriedade – imóvel rural de área superior a 4 (quatro) 
e até 15 (quinze) módulos fiscais;
4. grande propriedade – imóvel rural de área superior a 15 
(quinze) módulos fiscais.
A classificação é definida pela Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, 
e leva em conta o módulo fiscal (e não apenas a metragem), que varia de 
acordo com cada município.
O Incra (2018) também fornece uma relação da área necessária para 
se considerar um módulo fiscal para os municípios brasileiros.
A figura 1.2 apresenta a dispersão das dimensões dos módulos fiscais 
no Brasil. Nela é possível verificar que nas regiões Sul e parte da Sudeste 
a dimensão dos módulos fiscais é menor, entre 5 e 20 hectares3. Em partes 
das regiões Centro-Oeste e Nordeste estão os módulos fiscais de dimensão 
intermediária, compreendendo de 21 até 70 hectares. E nas regiões Norte 
a partes da Centro-Oeste estão os maiores módulos fiscais, que compreen-
dem áreas entre 71 e 110 hectares.
Alcântara Filho e Fontes (2009) salientam que a definição de mini-
fúndio e latifúndio surgiu no contexto da reforma agrária, ainda na década 
de 1960. Segundo esses autores,
Em 30 de Novembro de 1964, durante o governo do presidente-
-Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, instituiu-se a 
primeira Lei de Reforma Agrária no Brasil, a Lei no 4504. Conhe-
cida como Estatuto da Terra, essa lei surge devido à necessidade 
de distribuição de terras no Brasil, além de conceituar o campo, 
determinar os níveis de produtividade e caracterizar o uso social da 
terra. O Estatuto teve um caráter inovador, pois introduziu novos 
conceitos ligados a questão agrária. Foi através do estatuto que se 
mensurou o minifúndio e o latifúndio. Essa mensuração se daria 
através dos módulos fiscais, que variam de acordo com a região. 
Uma propriedade rural deveria ter entre 1 e 15 módulos rurais, 
caso contrário, seria minifúndio ou latifúndio, logo, passíveis de 
3 Hectare é uma medida de área que corresponde a 10.000 m2, ou seja, uma área 
formada por um quadrado em que cada lado tem o comprimento de 100 metros.
– 15 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
desapropriação a fins de reforma agrária. Outra caracterização 
refere-se aos níveis de produtividade. Para essa foram traçadas 
as unidades mínimas de produção por módulo rural a fim de 
caracterizá-las como produtivas ou improdutivas (BRASIL, 1964). 
(ALCÂNTARA FILHO; FONTES, 2009, p. 67)
Figura 1.2 – Dimensão em hectares dos módulos fiscais no Brasil
Fonte: IBGE (2012); Incra (2012).
Portanto, podemos concluir que minifúndio é um imóvel rural que, 
em algumas regiões, tem uma área inferior a 5 hectares e, em outras, tem 
Fundamentos do Agronegócio
– 16 –
área inferior a 20 hectares. Por outro lado, o latifúndio é uma área que 
começa a partir de 75 hectares em estados da região Sul; nos estados da 
região Norte, um latifúndio começa a partir de 1.050 hectares. No entanto, 
o uso popular do termo latifúndio se refere a uma grande extensão de terra 
sob uma mesma propriedade.
Outro conceito importante é o de agricultura familiar. Segundo 
o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA, 2018), a agricul-
tura familiar pode ser entendida como aquela em que “a gestão da 
propriedade é compartilhada pela família e a atividade produtiva agro-
pecuária é a principal fonte geradora de renda”. Souza et al. (2011, p. 
106) definem a agricultura familiar como aquela em que os “agricul-
tores familiares são aqueles que desenvolvem atividades em estabe-
lecimentos cuja área não exceda a quatro módulos fiscais, dirigidos 
pela própria família, desempenhem os trabalhos com mão de obra 
predominantemente familiar, e cuja renda deve, predominantemente, 
originar-se dessas atividades” . É importante ressaltar que essa definição 
inclui uma dimensão física para o tamanho da propriedade rural, a qual 
não deve exceder quatro módulos fiscais.
Por outro lado, certamente, a agricultura não familiar é aquela que 
não se caracteriza como agricultura familiar, ou seja, aquela em que a área 
de produção é superior a quatro módulos fiscais e onde há trabalhadores 
contratados no mercado de trabalho. Podemos compreender a agricultura 
não familiar como aquela realizada em latifúndios, em que o número de 
pessoas empregadas é significativamente maior do que o número de fami-
liares envolvidos ou que a renda advém de outras fontes que não seja a 
produção agropecuária. Embora existam exceções, a agricultura familiar 
também se caracteriza por várias restrições adicionais, incluindo falta de 
acesso a mecanismos de crédito, baixa tecnologia empregada, pequena 
escala de produção e dificuldades adicionais de comercialização. Algumas 
dessas características também estão atuantes em grandes propriedades, 
mas geralmente não em conjunto. Por exemplo, uma grande propriedade 
pode se defrontar com problemas de comercialização, mas tem acesso ao 
crédito, dispõe de tecnologia mais atual e se beneficia por apresentar gan-
hos de escala na produção.
– 17 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Embora o termo utilizado seja agricultura familiar e agricultura não 
familiar, o contexto correto a que se refere é o da agropecuária. Sobre esses 
termos, Bacha (2004, p. 14) reconhece que são tratados como sinônimos: 
“O uso dos dois termos, agricultura e agropecuária, como sinônimos é 
ainda bastante normal no meio acadêmico”. Nesse sentido, é possível e 
coerente falar em agropecuária familiar e agropecuária não familar.
1.2 Da agricultura ao surgimento do agronegócio
Embora o termo agronegócio, que é a tradução da palavra inglesa 
agribusiness, tenha sido introduzido em 1957 pelos norte-americanos Ray 
A. Goldberg e John H. Davis, o seu surgimento como processo técnico e 
produtivo é mais antigo, das primeiras décadas do século XX. Porém, a 
atividade não surgiu espontaneamente,mas incorporou à agropecuária já 
existente elementos da segunda Revolução Industrial, como os tratores, 
as colheitadeiras e todos os demais equipamentos de tração movida pelo 
motor de combustão, bem como todos os produtos gerados pela indústria 
química, a exemplo dos fertilizantes e dos defensivos químicos, também 
chamados de agrotóxicos. Ao conhecimento empírico, passado de gera-
ção em geração pelos próprios produtores rurais, foi acrescido o conheci-
mento científico gerado por universidades, centros de pesquisa e órgãos do 
governo. A comercialização ganhou contornos mais específicos, contanto 
com profissionais especializados em marketing e em canais de venda.
Podemos dizer que, com o advento do agronegócio, a essência do 
bem continua a mesma, pois estamos diante de um conjunto muito amplo 
de bens produzidos pela agropecuária há milhares de anos, mas a sua 
roupagem se modificou amplamente. Portanto, é possível compreender 
o agronegócio como a fase atual da agropecuária, quando esta se uniu de 
maneira mais intensiva aos demais setores da economia.
Há consenso entre os acadêmicos de que a agricultura surgiu há apro-
ximadamente 10 mil anos. E, ao contrário do que podemos pensar, ela sur-
giu paulatinamente, sendo desenvolvida e depois abandonada, passando 
por uma nova etapa de desenvolvimento para cair em desuso novamente e 
depois retornar. Esse ciclo de avanço e retrocesso ocorreu até ela se conso-
lidar definitivamente como estrutura de produção das sociedades antigas.
Fundamentos do Agronegócio
– 18 –
Conforme destaca Oliveira Júnior (1989, p. 5):
A agricultura não surgiu como uma transformação brutal onde, 
como num passe de mágica, o homem, de caçador e coletor, virou 
agricultor. Algumas espécies (vegetais e animais) começaram a ser 
cultivadas e criadas e logo após foram abandonadas. Animais e 
plantas foram domesticados e em seguida retornaram a seu estado 
selvagem. Populações humanas diferentes domesticaram certas 
espécies por razões diferentes, para fins e usos diferentes. Uma 
mesma população escolheu espécies diferentes porque tinham 
razões diferentes para esta escolha.
Nesse período inicial da agricultura, as plantas e animais escolhidos 
eram típicos da região, pois não havia ainda um sistema de transporte que 
pudesse levar plantas e animais de uma região a outra. Por meio de grande 
poder de observação, as plantas foram escolhidas para a produção agrí-
cola, bem como animais para a pecuária. Vale ressaltar que, inicialmente, 
a pecuária visava à produção de leite, pois a de carne era proveniente da 
caça. O quadro 1.1 apresenta uma visão panorâmica sobre esse processo 
de escolha de plantas e animas no mundo.
Quadro 1.1 – Plantas e animais característicos de cada região
Regiões Plantas Animais
Oriente Médio
Cereais: trigo e cevada
Leguminosas: lentilha, 
ervilha, fava
Têxtil: linho
Bovinos, ovinos, capri-
nos e aves (galinhas)
Europa Ocidental 
Cereais: trigo, cevada 
aveia e centeio
Leguminosas: lentilha, 
ervilha, fava
Têxtil: linho
Bovinos, ovinos, capri-
nos e aves (galinhas)
América Central
Cereais: milho
Leguminosas: feijão
Têxtil: algodão
Porcos
– 19 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Regiões Plantas Animais
Amazônia Mandioca
Países Andinos Batata
Fonte: adaptado de Oliveira Júnior (1989).
Essas plantas e animais marcam o início da atividade preponderante 
de domesticação em cada uma das regiões citadas. Mas deve-se ressaltar 
que a quantidade real foi muito maior, pois outras variedades tanto de 
plantas quanto de animais foram domesticadas pela humanidade, pelo 
menos em um tempo pequeno. É importante ressaltar que esses bens 
domesticados são os que chegaram até o nosso conhecimento atual, e 
não deve-se levar em consideração que muitos foram abandonados ao 
longo do tempo.
Vale ressaltar que todas as áreas cultivadas tinham cobertura vege-
tal original. Isso significa que a humanidade precisou desenvolver um 
método de substituição ou eliminação da cobertura vegetal original para 
poder iniciar a atividade de plantio. No caso da criação de animais, mui-
tas áreas naturais têm como cobertura vegetal original as savanas, que 
consistem em extensas áreas cuja vegetação é formada por gramíneas. 
Nesse tipo de vegetação, as árvores ou arbustos estão dispersos, iso-
lados ou em pequenos grupos. Dessa forma, o ambiente da savana e 
outros ambientes similares são propícios para a realização da atividade 
da pecuária.
Para a agricultura, a prática utilizada consistia na derrubada e 
queima da cobertura vegetal original. Isso foi fundamental para que os 
raios solares pudessem alcançar o solo e, consequentemente, a planta 
que estava sendo cultivada, bem como para eliminar demais plantas que 
pudessem concorrer com as plantas de cultivo. Com os meios disponí-
veis, ou seja, instrumentos rudimentares, os grupos derrubavam vegeta-
ção e, após um período, queimavam-na. Esse sistema tornava a prepa-
ração do terreno mais eficiente e rápida. Além disso, liberava minerais 
resultantes da queima, como o potássio, contribuindo para a fertilidade 
do solo.
Fundamentos do Agronegócio
– 20 –
Figura 1.3 – Área do Cerrado brasileiro sendo queimada
Fonte: CC BY 3.0/José Cruz/ABr.
Essa técnica, embora milenar, ainda é plenamente utilizada para abrir 
novas áreas de cultivo e pastagem. No Brasil, é comum utilizar essa téc-
nica nos Cerrados e na Amazônia. No entanto, por diversas razões, ela 
deve ser combatida. Esse tema será melhor discutido no capítulo 8.
Outro procedimento adotado pelos povos antigos era o sistema de 
rotação e pousio. Esse procedimento consistia em dividir a área destinada 
à produção agrícola em parcelas. A cada ciclo agrícola havia a rotação 
de culturas de uma parcela para outra, assim não havia o plantio sequen-
cial da mesma cultura na mesma área em ciclos agrícolas consecutivos. 
E sempre uma das parcelas era destinada ao pousio, ou seja, em um ciclo 
agrícola não se plantava nessa parcela, deixando que ela pudesse recupe-
rar sua fertilidade. A figura 1.4 mostra um esquema onde se representam 
os ciclos agrícolas, a rotação das culturas e o pousio.
Figura 1.4 – Ciclos agrícolas, rotação de cultura e pousio
Pousio Cultura 1
Cultura 3 Cultura 2
Ciclo 1
Cultura 3 Pousio
Cultura 2 Cultura 1
Ciclo 2
Cultura 2 Cultura 3
Cultura 1 Pousio
Ciclo 3
Cultura 1 Cultura 2
Pousio Cultura 3
Ciclo 4
Fonte: elaborada pelo autor.
– 21 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
A figura 1.4 mostra uma área de produção agrícola dividida em qua-
tro parcelas de mesma dimensão para a produção agrícola. No primeiro 
ciclo agrícola, que pode ser um ano ou o prazo entre um plantio e outro 
dependendo da região onde se está, o primeiro quadrante há a cultura 1 
(posição nordeste) o segundo quadrante (podição noroeste) está em pou-
sio; no terceiro quadrante (posição sudoeste) há a cultura 3 e no quarto 
quadrante (sudeste) está a cultura 2.
No ciclo seguinte (segundo), o pousio ocupa o primeiro quadrante, no 
segundo quadrante está a cultura 3, no terceiro quadrante a cultura 2, e no 
quarto a cultura 1. Houve uma rotação, de tal forma que, por exemplo, a 
cultura 1, que estava no primeiro quadrante durante o ciclo 1, passou para 
o quarto quadrante no segundo ciclo. Esse sistema de rotação de culturas 
associado ao pousio, ou seja, ao descanso da terra, permitiu manter a fer-
tilidade do solo e a manutenção dos níveis de produção.
Em algumas regiões, principalmente do Oriente Médio, onde havia 
problemas relacionados com a escassez de água, foram desenvolvidos 
muitos sistemas de irrigação de superfície. Esses sistemas consistiam basi-
camente de sulcos cavados na superfície do solo formando uma rede de 
canais que direcionavam a água. Associadas a essa rede de canais havia 
pequenas comportas, que faziam com que a água fosse dirigida até os 
campos de cultivo. O “bom-
beamento” da água dos rios, 
poços ou outras fontes era feito 
de forma manual ou por meio 
de animais. Dependendo dos 
casos, eram também constru-
ídos dutos,permitindo que a 
água chegasse a lugares distan-
tes. A figura 1.5 exibe uma das 
diversas formas de irrigação 
utilizadas pelos povos da Anti-
guidade. Nela é possível ver os 
canais de irrigação, as compor-
tas que direcionam a água e o 
trabalho para abastecer de água todo o sistema.
Figura 1.5 – Sistema de irrigação primitivo utilizado 
pelos egípcios na Antiguidade
Fonte: www.sutori.com.
Fundamentos do Agronegócio
– 22 –
Com o passar do tempo foram também introduzidas diversas ferra-
mentas simples e rudimentares que ajudavam os produtores com o tra-
balho no campo. De maneira ainda mais primitiva, as ferramentas eram 
inicialmente de madeira e rocha, depois, com o conhecimento das técni-
cas de metalurgia, as ferramentas eram feitas com metal. Na figura 1.6 
é possível visualizar algumas das ferramentas utilizadas na agricultura 
da Mesopotâmia.
Figura 1.6 – Ferramentas antigas utilizadas na Mesopotâmia
Fonte: ancientmesopotamians.com.
Com algumas exceções, a grande maioria dos bens agropecuários 
produzidos era para o consumo dos próprios produtores e de habitantes 
próximos. Como o sistema de transporte era rudimentar, era tecnicamente 
e economicamente inviável transportar produtos para longas distâncias. 
A exceção na Antiguidade era o Mar Mediterrâneo, que possibilitou um 
intenso comércio de diversos bens, inclusive agropecuários, entre vários 
países. Nesse período destaca-se o comércio desenvolvido pelo Impé-
rio Romano, em que algumas regiões se especializaram na produção de 
azeite, vinho e trigo, por exemplo. E essas regiões especialistas enviavam 
a produção para outras regiões do Império Romano por meio do trans-
porte marítmo, constituindo um amplo e próspero comércio entre os paí-
ses banhados pelo Mar Mediterrâneo (REZENDE, 2001).
Entre os séculos IX e XI houve um aprimoramento no sistema de 
rotação de culturas e pousio na Europa feudal, gerando um incremento 
substancial na produção agrícola. Hunt (1981, p. 33) destaca que
– 23 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
O crescimento da produtividade agrícola significava que o exce-
dente de alimentos e manufaturados tornava-se disponível tanto 
para os mercados locais como para o mercado internacional. Os 
progressos da energia e do transporte tornaram possível e lucrativo 
concentrar os indivíduos nas cidades, produzir em grande escala 
e vender os bens produzidos nos mercados mais amplos de longa 
distância. Assim, esses desenvolvimentos básicos na agricultura e 
na indústria foram pré-requisitos necessários para a disseminação 
do comércio, o que, por sua vez, estimulou mais ainda a expansão 
urbana e encorajou a indústria.
Na citação apresentada, Hunt (1981) destaca a palavra indústria, mas 
devemos ressaltar que não se trata da concepção atual desse setor econô-
mico, mas sim de algo mais relacionado com a manufatura. No entanto, 
a ideia central do autor é que tal mudança na agricultura estimulou o sur-
gimento de novas atividades econômicas, como o comércio de longa dis-
tância e uma forma inicial de indústria. Dessa forma, a produção agrope-
cuária, que tinha como objetivo atender predominantemente a população 
local, passou a atingir outros mercados mais distantes, contribuindo para o 
ressurgimento do comércio. Além disso, tal crescimento de produtividade 
liberou pessoas do trabalho no campo para as cidades, que se tornaram o 
centro dinâmico da economia.
As técnicas de produção agrícola e pecuária não sofreram grandes 
transformações até a virada do século XIX para o século XX. A produção 
se operacionalizava essencialmente por meio do uso da terra e do trabalho 
humano. Os animais de tração também foram intensamente utilizados e 
ainda são em algumas propriedades rurais. No entanto, a partir do século 
XX, a indústria já estava bastante avançada (vários países europeus e os 
Estados Unidos já estavam na Segunda Revolução Industrial), tendo se 
modificado quantitativamente e qualitativamente por um conjunto muito 
amplo de bens e por novos processos de produção, a exemplo da linha de 
montagem desenvolvida por Henry Ford.
Na Segunda Revolução Industrial surgiram ou se consolidaram novos 
setores de atividades, como a siderurgia, o setor elétrico e o setor químico. 
Apareceram bens novos à disposição tanto da própria indústria quanto de 
consumidores, como telefone, lâmpada elétrica, motor a explosão, elevador, 
veículos terrestres e aviões, por exemplo. E dois setores da Segunda Revo-
lução Industrial tiveram amplo impacto na agricultura. O primeiro deles foi 
Fundamentos do Agronegócio
– 24 –
o setor químico, que desenvolveu um conjunto de bens, como fertilizantes 
e defensivos contra pragas, que possibilitou aumento significativo da pro-
dução. O segundo setor foi de máquinas e equipamentos, que inaugurou a 
mecanização da agricultura. Dessa forma, o trabalho humano passou a ser 
progressivamente substituído por máquinas e demais equipamentos. São 
exemplos de máquinas e equipamentos o trator, as plantadeiras automáticas, 
as colheitadeiras e um conjunto muito diversificados de bens que tornaram 
a atividade agrícola muito mais produtiva.
A figura 1.7, a seguir, mostra um dos primeiros tratores de combustão 
interna desenvolvidos. Vale ressaltar que já existiam máquinas de tração 
para fins agrícolas, mas eram movidas a vapor, tendo baixa eficiência, tanto 
técnica quanto econômica. Com o desenvolvimento do motor a combustão 
interna (gasolina), o trator se tornou mais leve e eficiente, consolidando-se 
como um importante fator de crescimento da atividade agrícola moderna.
Figura 1.7 – Um dos primeiros modelos de trator elaborado pela Companhia Norte-
Americana John Deere na década de 1910
Fonte: johndeerejournal.com.
A concepção de produção agropecuária nessa nova fase, principal-
mente por conta do aumento da população e, consequentemente, do con-
sumo, estava baseada em seis pontos fundamentais:
 2 aumento de áreas cultivadas;
 2 melhora contínua das variedades visando menor ciclo produtivo 
e mais produtividade;
 2 mecanificação da produção;
– 25 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
 2 introdução ou expansão do uso de fertilizantes;
 2 controle de pragas por meio do uso que elementos químicos ou 
agentes biológicos;
 2 introdução ou expansão dos meios de irrigação.
Esses seis aspectos tornaram a produção agropecuária muito mais 
tecnificada e dependente de outros setores econômicos. É nesse momento, 
início do século XX, que surge então o embrião do agronegócio e que pro-
gressivamente vai incorporando outras atividades até se tornar um sistema 
bastante complexo, que movimenta uma quantidade imensa de recursos, 
utiliza a maior parte da superfície da terra, fornece emprego e renda para 
muitas famílias, mas também tem contribuído para a extinção de espécies, 
para a erosão de solos, para a seca de leitos de água e para o aquecimento 
global. Nos capítulos seguintes iremos analisar em detalhes os demais 
aspectos do agronegócio.
1.3 Importância do agronegócio 
na economia brasileira
Sabemos que o Brasil é um país de dimensão continental, sendo o 
quinto maior em extensão territorial do mundo, tendo área menor apenas 
do que Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Além disso, dos países 
citados é o que mais recebe energia solar e igualmente o que tem as maio-
res bacias de água doce do mundo. O clima do Brasil, tropical, favorece 
a atividade agropecuária, pois não se defronta com invernos rigosos que 
dificultam ou impossibilitam a atividade agrícola nessa estação climática4. 
Dadas essas informações, nota-se claramente que o Brasil tem, de fato, as 
condições necessárias para as produções agrícola, pecuária e, consequen-
temente, da cadeia que abrange o agronegócio.
4 Nos países onde o clima é mais severo, as baixas temperaturas reduzem significativa-
mente a incidência de pragas, tornando o uso de defensivos químicos (agrotóxicos) menos 
frequente. No Brasil, por conta da conjugação de temperaturas mais elevadas e umidade, a 
proliferação de pragas é grande, e igualmenteo é o uso de defensivos.
Fundamentos do Agronegócio
– 26 –
Para compreender a inserção do agronegócio na economia brasileira 
necessitamos comparar o seu desempenho histório com os demais grandes 
setores econômicos. Isso pode ser visto na figura 1.8, que mostra a parti-
cipação do Produto Interno Bruto (PIB) dos três grandes setores: agrope-
cuária, indústria e serviços.
Figura 1.8 – Evolução da participação dos três setores econômicos no PIB brasileiro: 
1947-2013
0
22,5
45
67,5
90
1947 1952 1957 1962 1967 1972 1977 1982 1987 1992 1997 2002 2007 2012
Agropecuária Indústria Serviço
Fonte: elaborada pelo autor com dados obtidos no Ipeadata.
Nota: A disponibilização das participações dos três setores pelo Ipea não retirou as impu-
tações dos serviços financeiros de intermediação. Em momentos de elevada inflação, a 
intermediação financeira pode superestimar a participação do setor de serviços.
Na figura anterior, podemos observar que o setor de serviços manteve 
uma trajetória de participação constante no período de 1947 até meados da 
década de 1980, embora com algumas oscilações nesse período; a indús-
tria teve uma nítida trajetória de crescimento; e a atividade da agropecuá-
ria mostrou nesse período uma sensível retração. No período entre meados 
da década de 1980 até o presente momento, podemos notar uma elevação 
muito grande da participação do setor de serviços, uma queda intensa na 
produção industrial e a contínua perda de participação da agropecuária.
– 27 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Como dito anteriormente, a atividade agropecuária é aquela com-
preendida por se realizar “dentro da porteira”, ou seja, proveniente da 
atividade rural onde a participação do fator de produção terra é imprescin-
dível. Por sua vez, o agronegócio compreende outros setores econômicos 
caracterizados por atividades industriais e de serviços. Dessa forma, não 
podemos confundir o agronegócio com a agropecuária, pois ele é muito 
mais amplo que a agropecuária.
Por conta justamente dessa diferença, há a necessidade de ter medi-
das específicas do setor do agronegócio. A evolução desse setor pode ser 
vista na figura 1.9, que exibe os valores do PIB do agronegócio para o 
período de 1996 a 2017.
Figura 1.9 – Evolução do PIB real do agronegócio no período de 1996 a 2017 (em bilhões 
de reais)
900
1.025
1.150
1.275
1.400
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Fonte: elaborada pelo autor com dados obtidos no Centro de Pesquisas Econômicas 
Aplicadas (Cepea/USP).
Na figura 1.9, pode-se constatar que o setor vem apresentando uma 
clara tendência de crescimento no período que compreende um pouco 
mais de duas décadas, como é possível observar pela linha de tendência 
(linha reta). No entanto, a atividade apresenta um comportamento de osci-
Fundamentos do Agronegócio
– 28 –
lação, ou seja, em determinados anos ela tem um desempenho melhor e, 
em outros, o desempenho é menor. Esse comportamento se deve a vários 
fatores, entre eles, naturais (climáticos) e econômicos (taxa de câmbio e 
desempenho da economia doméstica e internacional). 
Para compreender melhor o panorama do agronegócio, é importante 
analisar a participação de cada setor no conjunto de toda a economia. A 
figura 1.10 mostra o comportamento de cada setor nessas últimas décadas.
Figura 1.10 – Evolução do PIB real dos setores do agronegócio no período de 1996 a 2017 
(em bilhões de reais)
0
150
300
450
600
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
Insumos Agropecuária Indústria Serviços
Fonte: elaborada pelo autor com dados obtidos no Centro de Pesquisas Econômicas 
Aplicadas (Cepea/USP).
Por meio da figura 1.10, é possível perceber algumas tendências 
de maneira bastante nítida. O setor de insumos, que corresponde a todo 
maquinário, fertilizantes, sementes e defensivos, por exemplo, vem apre-
sentando uma pequena tendência de alta nesses últimos 20 anos. A par-
ticipação da agropecuária no PIB do agronegócio vem crescendo subs-
tancialmente nesse período. Por outro lado, as atividades industriais vêm 
perdendo participação. E o setor de serviços não apresenta tendência de 
crescimento ou de declínio, embora com significativas oscilações.
– 29 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Um aspecto nesse contexto é preocupante. Como foi discutido na 
figura 1.9, nota-se um crescimento do PIB do agronegócio, no entanto, 
quando analisamos a figura 1.10, constatamos que a agropecuária vem 
ganhando espaço, e a indústria vem perdendo. Isso significa que a cadeia 
do agronegócio está entregando os bens aos consumidores finais, tanto 
domésticos quanto estrangeiros, com menor nível de transformação. Essa 
tendência faz parte de um quadro mais geral da economia brasileira, a qual, 
progressivamente, vem perdendo a capacidade de produzir bens industriais.
1.4 Contribuição do agronegócio para 
o desenvolvimento econômico
É indiscutível que toda atividade econômica, desde que seja lícita, 
pode contribuir para o desenvolvimento econômico de uma sociedade. 
O desenvolvimento é quando o crescimento econômico, expresso pela 
elevação quantitativa do produto, gera elementos qualitativos para todos os 
indivíduos da sociedade, melhorando, por exemplo, a educação, a saúde, o 
lazer etc., enfim, contribuindo efetivamente para a elevação da qualidade 
de vida das pessoas. No entanto, é comum encontrarmos situações em que 
o crescimento agrava alguns problemas, a exemplo da poluição ambiental 
e da precarização urbana.
A importância do agronegócio pode ser entendida por elevar a efi-
ciência e propiciar ganhos obtidos de produtividade da agropecuária. Por 
sua vez, a contribuição da agropecuária ao desenvolvimento está baseada 
em cinco funções básicas (BACHA, 2004). A primeira – e mais óbvia – é 
gerar alimentos à população. Essa é sua função primordial, principalmente 
diante de um cenário em que a população brasileira e a mundial estão cres-
cendo. Além disso, alguns países estão passando por uma grande expan-
são de renda, como é o caso da China, e isso impacta nos padrões alimen-
tares. Normalmente, os países com ganhos de renda subsitutem proteinas 
vegetais por proteinas animais. Portanto, a agropecuária deve se ater às 
dinâmicas mundiais.
A segunda função, ainda bastante importante para os países em 
desenvolvimento e para os países pobres, é fornecer capital, principal-
Fundamentos do Agronegócio
– 30 –
mente financeiro, para os demais setores da economia. Como se bem sabe, 
foi do excedente gerado na agropecuária que possibilitou o desenvolvi-
mento de outras atividades, principalmente a indústria.
A terceira função é o fornecimento de mão de obra para os demais 
setores econômicos. Na verdade há uma espécie de inter-relação. À 
medida que a agricultura possibilitou o surgimento de outras atividades, 
os bens gerados por essas outras atividades tornaram a agricultura mais 
produtiva e menos intensiva em mão de obra, que pôde se dedicar a essas 
demais atividades.
A quarta função é a geração de dividas (moeda estrangeira). A expor-
tação de bens agropecuários e o ganho comercial com essa atividade pro-
piciou a importação de diversos bens, desde bens de consumo não durá-
veis, a exemplo de alimentos, até máquinas e equipamentos complexos.
E a quinta função é absorver bens produzidos em outros setores da 
economia. Atualmente, com a consolidação dos mercados urbanos, essa 
função vem progressivamente perdendo importância. No entanto, até os 
anos 1960, a atividade rural era um importante mercado consumidor.
Conclusão
O agronegócio é uma atividade que expande as fronteiras da agrope-
cuária, incorporando o setor que fornece insumos, o de transformação e 
o de serviços. Na verdade, o agronegócio pode ser compreendido como a 
fase atual de produção de alimentos. Obviamente ele deriva da agropecu-
ária, mas como todas as atividades econômicas são dinâmicas, ao longo 
do tempo elas se tornam mais abrangentes e complexas. A agricultura e 
a pecuária podem ser consideradas as primeirasatividades econômicas. 
A indústria, na sua concepção atual, surgiu no século XVIII e propiciou 
grandes avanços à agropecuária, tornando-a mais produtiva e eficiente. O 
Brasil é um país bastante dependente do agronegócio, pois outros setores 
econômicos vêm, progressivamente, perdendo participação. Dessa forma, 
o agronegócio ganha importância para propiciar o desenvolvimento da 
sociedade brasileira.
– 31 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
Ampliando seus conhecimentos
O texto a seguir, escrito pelo prof. Marcos Jank, mostra que o Bra-
sil vem se especializando no agronegócio, e tal especialização neces-
sita de complementariedade, que é obtida por meio de parcerias, como 
com a China.
Estamos condenados a nos casar 
com a China 
Marcos Sawaya Jank
Folha de São Paulo – 3 de fevereiro de 2018.
São louváveis as raras iniciativas de reflexão sobre o longo 
prazo no Brasil. O Cebri (Centro Brasileiro de Relações Inter-
nacionais) criou um grupo para discutir em profundidade dez 
temas estruturais da relação Brasil-China. Participei do debate 
sobre complementaridade e dependência no agronegócio.
Quarenta anos após as primeiras reformas agrícolas conduzidas 
por Deng Xiaoping, podemos dizer com segurança que as trans-
formações do agronegócio chinês foram profundas e impressio-
nantes. A saber:
1. Segurança alimentar – a China trocou a diretriz da autossu-
ficiência alimentar a qualquer custo por uma política de segu-
rança alimentar estratégica orientada pelo mercado.
Nesse contexto, ela se abriu inicialmente para a soja em grãos, 
que responde sozinha por 40% da exportação total e 80% da 
exportação agrícola do Brasil. Nossas exportações agro para a 
China e Hong Kong saltaram de US$ 6 bilhões para 30 bilhões 
nos últimos dez anos.
Agora a China começa a rever a sua política de estoques estraté-
gicos e preços administrados, o que deve levar gradualmente a 
Fundamentos do Agronegócio
– 32 –
maiores importações de milho, açúcar e carnes no futuro, ainda 
que com grandes dificuldades de acesso (cotas e barreiras téc-
nicas e sanitárias) acopladas a travas de defesa comercial (sal-
vaguardas no açúcar e antidumping no frango). O Brasil precisa 
diversificar a pauta de exportações e adicionar valor aos produ-
tos exportados.
2. Investimentos para garantir a originação das matérias-primas 
– a internacionalização das empresas chinesas visa o controle 
das cadeias de suprimento genética, infraestrutura, armazena-
mento, processamento e comercialização. Exemplos são as aqui-
sições de empresas como Syngenta, Noble, Nidera e Fiagril.
3. Segurança do alimento, qualidade e sustentabilidade – hoje a 
grande obsessão da China é com qualidade, sanidade e susten-
tabilidade ambiental da produção.
Nessa área temos muito a contribuir nas relações bilaterais, 
mas é preciso melhorar o processo regulatório: processos 
e padrões mais transparentes, qualidade das respostas nos 
questionários, rastreabilidade de produtos, combate ao con-
trabando, integração das cadeias produtivas com investimen-
tos cruzados das empresas e um diálogo fluido para evitar as 
constantes arbitrariedades.
4. O papel do Brasil e da China no agronegócio mundial – inves-
timentos em tecnologia, ganhos de escala e subsídios a insumos 
modernos transformaram a China em uma potência agrícola.
O país virou o 3º maior exportador de agro do mundo, à frente 
do Brasil. O exemplo mais contundente está nas exportações de 
pescados, frutas e hortaliças, que já ultrapassa US$ 40 bilhões 
anuais. São centenas de categorias de produtos frescos e proces-
sados exportados basicamente para o resto da Ásia.
Os ganhos de produtividade total da agricultura chinesa são 
equivalentes aos obtidos pelo Brasil desde 1980 3% ao ano, o 
dobro da média mundial. Esse desempenho extraordinário 
exige uma visão estratégia concertada nos fóruns internacio-
– 33 –
Conceitos Gerais do Agronegócio
nais que tratam de segurança alimentar, comércio, clima, água 
e energia. A coordenação praticamente inexiste, e a relação é 
dominada por conflitos pontuais de curto prazo.
Estamos condenados a nos casar com a China, de alguma forma. 
Mas até aqui foi ela que deu corda e dominou a relação, pois 
pensa estrategicamente e sabe perfeitamente o que quer. Nós 
somos o oposto da China: ansiosos, imediatistas, individualis-
tas e meio esquizofrênicos. Não sei se isso é curável, mas ano 
eleitoral é sempre uma oportunidade para refletir sobre a nossa 
desorganização endêmica e mudar hábitos.
 
Atividades
1. Com base no texto, indique similaridades e diferenças entre os 
conceitos de agropecuária e agronegócio.
2. A atividade da agricultura combina técnicas de produção con-
sideradas modernas e antigas. Elabore uma breve discussão 
sobre o uso de ténicas antigas e relacione com a dinâmica atual 
do agronegócio.
3. Explique a razão de a agricultura e a pecuária terem sido consi-
deradas as primeiras atividades econômicas da sociedade.
4. Explique a importância da indústria para o agronegócio.
2
Políticas Econômicas 
que Afetam o 
Agronegócio
O agronegócio é uma atividade que reúne todos os setores 
econômicos, gera produtos para consumidores e renda para pes-
soas, comunidades, regiões e países. Por conta disso, alterações 
na economia, de forma geral, impactam o desempenho do agro-
negócio ou de alguns de seus componentes específicos. 
Um dos principais agentes causadores de impacto no desem-
penho de atividades econômicas é o governo, que, por meio de 
um conjunto bastante amplo de medidas, modifica o funciona-
mento das atividades econômicas. Tais medidas podem ter des-
dobramentos positivos ou negativos, dependendo do contexto e 
dos objetivos a serem alcançados. O propósito deste capítulo é 
esclarecer quais são essas medidas, como são operacionalizadas 
e quais são os impactos gerados no agronegócio.
Fundamentos do Agronegócio
– 36 –
2.1 A política fiscal
A política fiscal, adotada pelas três esferas de governo (municipal, 
estadual e federal) é o conjunto de ações ligadas a procedimentos relacio-
nados com gastos e geração de receitas por meio de tributos. O governo 
tem três mecanismos para tributar agentes econômicos, independente-
mente de serem pessoas físicas ou pessoas jurídicas: taxa, contribuição e 
imposto. Embora todos eles impliquem em coletar dinheiro da sociedade, 
distinguem-se por terem finalidades diferentes.
Conforme define Leite (1994, p. 186): “Taxa é a denominação que 
se dá ao tributo que tem como fato gerador o exercício, pelo governo, do 
poder de polícia e de fiscalização, ou o custeio de determinado serviço 
público posto à disposição da comunidade de modo geral”; “Contribuição 
é uma denominação aplicada aos tributos destinados a custear serviços 
públicos recebidos diretamente pelo contribuinte”; e “Imposto é a deno-
minação que se dá ao tributo que tem como fator gerador um fenômeno 
econômico independente de qualquer atividade estatal”.
Imposto é um tributo geral que não está atrelado a uma finalidade 
específica. Isso significa que é um recurso financeiro disponível para que 
o governo utilize de acordo com o próprio planejamento. Há inúmeros 
impostos divididos entre as três esferas de governo. O governo federal, por 
exemplo, tem à disposição os seguintes impostos: Imposto sobre Produtos 
Industrializados (IPI), Imposto sobre a Importação de Produtos Estrangei-
ros (II), Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR), 
Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títu-
los ou Valores Mobiliários e Imposto Territorial Rural (ITR)
No agronegócio, o IPI afeta diretamente o setor de insumos e as 
empresas que transformam bens agropecuários. O imposto de importação 
impacta também alguns dos insumos consumidos pela atividade agrope-
cuária, a exemplo de alguns fertilizantes e defensivos químicos. O IR é 
incidido sobre qualquer atividade econômica que gere renda.
Já o governo estadual detém em seu poder três impostos: Impostosobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações 
de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunica-
– 37 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
ção (ICMS); Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); 
e Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doações de Quaisquer 
Bens ou Direitos (ITCMd). O principal imposto incidido sobre as ativida-
des do agronegócio é o ICMS, pois os produtos partem de uma origem até 
um destino e isso é a causa de sua tributação. Um importo que recai indi-
retamente é o IPVA, que incide sobre veículos que transportam as merca-
dorias, sendo que parte desse imposto é repassado sobre o preço do bem.
E os impostos destinados ao município são: Imposto Predial e Terri-
torial Urbano (IPTU); Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI); e 
Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS ou ISSQN).
Sobre os demais tipos de tributos, taxas e contribuições, podemos 
afirmar que existe um amplo conjunto destinado aos mais diversos pro-
pósitos. A título de ilustração, destacamos Taxa de Classificação, Ins-
peção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo 
nas atividades agropecuárias (federal); Taxa de Controle e Fiscalização 
Ambiental (municipal); Contribuição ao Sistema S, que é constituído 
por organizações como Sesi, Senai, Senac e Senar (Serviço de Apren-
dizagem Rural); Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária (Incra).
Para compreendermos adequadamente o efeito de um tributo, toma-
remos como base de análise as curvas de oferta e de demanda de mercado 
para um bem normal1.
Pela teoria microeconômica, sabemos que oferta é a quantidade pro-
duzida por empresas, em função do preço do bem produzido, dos fato-
res de produção, de mudanças tecnológicas, de alterações nos preços de 
outros bens correlacionados, de mudanças climáticas e de expectativas 
dos preços no futuro. Por sua vez, a demanda representa a quantidade 
consumida de um bem em função do preço do próprio bem, do preço dos 
bens correlacionados e da renda do consumidor.
1 Para a economia, bem normal é aquele que tem seu consumo elevado quando o consumi-
dor se defronta com um aumento em sua renda; esse tipo de bem constitui grande parte dos 
bens disponíveis para consumo. Bens considerados inferiores são aqueles cujo consumo 
cai diante de uma elevação da renda do consumidor, como carne de frango; e bens de con-
sumo constante não são impactados por mudanças na renda.
Fundamentos do Agronegócio
– 38 –
Figura 2.1 – Gráfico das curvas de oferta e demanda formando o equilíbrio de mercado
Preço
PE E
QE Quantidade
Demanda
Oferta
Fonte: elaborada pelo autor.
Na figura 2.1 podemos observar a curva de oferta, que é positiva-
mente inclinada, e a curva de demanda, que é negativamente inclinada. A 
intersecção das duas curvas forma o ponto E, que representa o equilíbrio 
nesse mercado. O equilíbrio diz que a esse nível de preço (PE – preço de 
equilíbrio) os produtores desejam vender QE (quantidade de equilíbrio) 
desse bem; por sua vez, a esse mesmo nível de preço os consumidores 
também desejam consumir QE. Como a quantidade que os produtores 
desejam vender é igual à quantidade que os consumidores desejam con-
sumir, existe o equilíbrio de mercado, representado pelo ponto E. Vale 
ressaltar que, no ponto de equilíbrio de mercado, o preço pago pelos con-
sumidores é exatamente igual ao preço recebido pelos produtores.
Verificaremos agora quais são os efeitos sobre o equilíbrio de mer-
cado decorrentes da imposição de um tributo – para facilitar a exposi-
ção, suporemos que o tributo incide sobre o produtor2. Como a incidência 
2 O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incide sobre o produtor. Há também 
tributos que incidem sobre os consumidores, como é o caso ICMS. A análise dos impactos 
desse tipo de tributo é ligeiramente diferente da apresentada, por isso sugerimos consultar 
livros de microeconomia para compreender adequadamente seu funcionamento.
– 39 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
do tributo eleva os custos de produção, a curva de oferta se desloca para 
esquerda, como retratado na figura 2.2.
Figura 2.2 – Impacto de um tributo no mercado
Preço
PE
PTP
PTC
QEQT Quantidade
B
E
A
Demanda
Oferta1
Oferta2
Fonte: elaborada pelo autor.
A figura 2.2 tem como pressuposto o equilíbrio de mercado, em situa-
ção análoga à exibida na figura 2.1. A incidência de tributos é similar ao 
aumento do custo dos fatores de produção, contribuindo para o desloca-
mento da oferta para esquerda; assim, há mudança de posição, passando de 
Oferta1 para Oferta2. A presença do tributo faz que o equilíbrio de mercado 
seja modificado; então a nova intersecção das curvas de oferta (Oferta2) e 
de demanda ocorre no ponto A.
O preço no ponto A é PTC, que é o valor que os consumidores pagarão 
para consumir esse bem. A nova quantidade produzida e consumida após o 
tributo é QT. No entanto, e diferentemente da condição de equilíbrio inicial 
(ponto E), o preço pago pelos consumidores é superior ao preço recebido 
pelos produtores, justamente por conta da incidência do tributo. O preço 
recebido pelos produtores é o ponto em que a linha vertical AQT intercepta 
a curva Oferta1, gerando o preço PTP.
Após a incidência do tributo e por conta do aumento do preço, os 
consumidores passam a consumir menos (QT) e a pagar mais quando se 
Fundamentos do Agronegócio
– 40 –
compara com a situação inicial. Os produtores, por sua vez, passaram a 
produzir menos e a receber menos. A diferença entre o valor pago pelos 
consumidores e o valor recebido pelos produtores é justamente o tributo.
Como agora estão sendo produzidas e consumidas QT unidades do 
bem, o tributo incide sobre todas essas quantidades, gerando uma receita 
para o governo que é equivalente à área formada pelo retângulo PTCA-
BPTPB. Essa área é a diferença entre o preço pago pelos consumidores e 
o preço recebido pelos produtores PTC PTP-( ) multiplicada pela nova 
quantidade (QT). A área que representa os tributos pagos ao governo pode 
ser visualizada na figura 2.3. Mas vale ressaltar que os tributos não são as 
únicas fontes de receita, pois também são considerados os empréstimos 
realizados, que devem ser remunerados pela taxa básica de juros da eco-
nomia no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).
Figura 2.3 – Representação do valor arrecadado pelo governo por meio de tributos
Preço
PE
PTP
PTC
QEQT Quantidade
B
E
A
Demanda
Oferta1
Oferta2
Fonte: elaborada pelo autor.
É importante ressaltarmos que, embora os produtores consigam 
repassar o custo do tributo aos consumidores, não o fazem integralmente, 
ou seja, também arcam com alguma perda pela incidência do tributo. 
Isso pode ser visto na figura 2.3. E vale lembrar que, antes do tributo, a 
– 41 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
quantidade vendida pelos produtores era QE ao preço PE; após a incidência 
do tributo, o preço recebido passou a ser PTP e a quantidade se tornou QT, 
ou seja, os produtores passaram a vender menos a um preço menor, dimi-
nuindo toda sua rentabilidade.
Exemplo numérico
Suponhamos que a função inversa da demanda por um bem seja 
dada por p q= -400 e a função inversa da oferta, por p q= +80 . Como 
sabemos, para encontrar o ponto de equilíbrio e respectivamente o preço 
de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio, devemos igualar a oferta e a 
demanda O D=( ):
80 3 400+ = −q q
Temos agora uma equação cuja incógnita é apenas a quantidade. 
Resolvendo a equação para o preço, temos:
4 320q =
q = 80
Assim, a quantidade de equilíbrio é igual a 80. Para encontrar o preço, 
basta substituirmos o valor da quantidade em qualquer uma das funções. 
Substituiremos na função de demanda:
p = -400 80
p = 320
Portanto, o preço de equilíbrio é de 320 unidades monetárias.
Suponhamos agora que o governo adote um tributo que incida sobre 
os produtores em R$ 40 por unidade. Como o impacto é sobreos produto-
res, devemos somar esse valor à curva da oferta, gerando uma nova oferta:
p q' = + +80 3 40
p q' = +120 3
Fundamentos do Agronegócio
– 42 –
Temos a nova função da oferta. O próximo passo é calcularmos nova-
mente a quantidade de equilíbrio, igualando a demanda e a nova oferta:
120 3 400+ = -q q
4 280q =
q = 70
p ' = -400 70
p ' = 330
Portanto, a incidência do tributo gerou um novo ponto de equilíbrio 
com preço de R$ 330 e quantidade de 70 unidades. É importante ressaltar-
mos que os consumidores pagam R$ 330, mas nem todo esse valor é dos 
produtores, pois para cada unidade vendida é necessário pagar R$ 40 de 
tributos ao governo. Assim, o preço recebido pelos produtores é de R$ 290. 
Após a incidência do tributo, o governo obtém receita de R$ 40 para cada 
unidade, totalizando R$ 2.800.
É justamente com esse recurso que o governo pode realizar gastos 
em suas múltiplas funções. A figura 2.4 exibe as propriedades geométricas 
apresentadas anteriormente e podemos notar as curvas de demanda e de 
oferta. Inicialmente, a curva de demanda (negativamente inclinada) inter-
cepta a curva de oferta original (positivamente inclinada e situada mais à 
direita) no ponto E, o qual representa o equilíbrio de mercado, gerando 
o preço de R$ 320 e a quantidade de 80. Com a incidência do tributo, 
a curva da oferta se deslocou para a esquerda (nova oferta) e intercepta 
também a curva de demanda.
Há um novo ponto de equilíbrio, gerando o preço de R$ 330 e a quan-
tidade de 70 – esse é o preço pago pelos consumidores. Sobre esse preço 
devemos descontar o valor dos tributos, totalizando R$ 290, que é o preço 
recebido pelos produtores.
– 43 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
Figura 2.4 – Representação gráfica do exemplo numérico
350
300
250
200
150
100
50
0 40 80 120 160
Nova
Oferta
Demanda
Oferta
Original
PTC=330
PE=320
PTP=290
Fonte: elaborada pelo autor.
Por meio dos recursos financeiros arrecadados pelos tributos, o 
governo realiza gastos para atender às múltiplas necessidades da socie-
dade, incluindo gastos com saúde, educação, aposentadorias, auxílios, 
Fundamentos do Agronegócio
– 44 –
meio ambiente, sistema de transporte, segurança, ciência e tecnologia, 
limpeza etc. De forma agregada, a figura 2.5 mostra a evolução dos tri-
butos que incidiram sobre a atividade agropecuária e os gastos realizados 
nesse setor.
Figura 2.5 – Evolução dos gastos totais e da carga tributária referentes à agropecuária 
entre 2000 e 2010 (em milhões de reais)
-9375
0
9375
18750
28125
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Gastos Tributos Saldo
Fonte: adaptado de Regazzini; Bacha (2012).
É possível observar que no período houve ligeira tendência de ele-
vação tanto dos tributos quanto dos gastos. O saldo, que consiste na dife-
rença entre o que o governo gastou e o que arrecadou, é aleatório e não 
exibe um comportamento constante, pois há anos em que o saldo é posi-
tivo e anos em que é negativo.
Quando o saldo é positivo, o governo transfere recursos do setor 
agropecuário para outros setores; quando o saldo é negativo, há uma trans-
ferência de outros setores para a agropecuária. Sobre o desempenho dos 
gastos do governo federal no setor agropecuário no período de 2000 a 
2010, Regazzini e Bacha (2012, p. 66) salientam que:
Os resultados obtidos por este artigo permitem constatar que, ao 
longo da primeira década dos anos 2000 e do ano de 2010, o grau 
– 45 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
de apoio do Governo Federal ao setor agropecuário brasileiro redu-
ziu-se moderadamente, uma vez que o volume de tributos federais 
pagos pelo setor cresceu mais rapidamente (6,62% a.a.) do que os 
gastos públicos federais voltados à agropecuária (que cresceram 
4,08% a.a.). Mais do que isso, esse apoio tem apresentado valores 
negativos em termos líquidos, uma vez que tanto em 2010 – último 
ano analisado por este trabalho – quanto no acumulado do período 
(2000 a 2010), o gasto total da União com a agropecuária brasi-
leira apresentou valor negativo em termos líquidos (isto é, quando 
descontados os recursos arrecadados do setor via tributação). Pelos 
resultados obtidos, é válido supor que os ganhos de competitivi-
dade da agropecuária nacional resultantes do apoio do Governo 
Federal são inferiores à perda de competitividade associada às 
reduções das margens líquidas resultantes da tributação federal 
que incide sobre o setor.
Dois instrumentos econômicos também utilizados pelo governo 
sobre o setor do agronegócio são as isenções fiscais e os incentivos fiscais. 
Segundo Bacha (2004, p. 37), a isenção fiscal é “a situação em que certas 
atividades ou setores são liberados, temporariamente, do pagamento da 
totalidade ou de certa parcela de certos impostos, respeitando a legisla-
ção tributária existente”. Poderíamos citar como exemplo de isenção fiscal 
situações em que o governo decide não cobrar o ITR de um grupo de pro-
dutores rurais por conta de uma grave seca que assolou a região e acabou 
com toda a produção.
Já o incentivo fiscal, de acordo com Bacha (2014, p. 37),
ocorre quando o Imposto de Renda pago por certa empresa ou pes-
soa física em uma região retorna a essa pessoa desde que a mesma 
aporte esse recurso em investimentos realizados em outra região 
ou atividade. As décadas de 1960 a 1980 presenciaram grande 
coleção de programas de incentivos fiscais visando ao desenvol-
vimento regional (do Nordeste e da Amazônia) ou de certas ativi-
dades (caso do reflorestamento, da pesca, do turismo, da indústria 
aeronáutica). Atualmente, os incentivos fiscais restringem-se ao 
desenvolvimento regional.
Perceba que os tributos incidem em todos os setores econômicos. A 
política fiscal, dessa maneira, consiste em ampliar ou reduzir o valor do 
tributo. Quando o governo o eleva, retira mais recursos financeiros dos 
produtores e dos consumidores; quando o reduz, deixa os agentes com 
Fundamentos do Agronegócio
– 46 –
mais recursos financeiros. Um estudo realizado por Maciel (2010) revela 
que a redução de tributos para os setores da agricultura, da pecuária, da 
produção florestal, da pesca e da aquicultura somou R$ 166 milhões em 
2009, valor bastante irrisório quando comparado com o setor de comér-
cio, de reparação de veículos automotores e motocicletas, cuja redução foi 
perto de R$ 14 bilhões.
2.2 A política monetária
Podemos entender como política monetária as ações adotadas pelo 
governo, por meio do Banco Central, que impactam a oferta de moeda. 
Como a moeda atualmente está relacionada com todos os tipos de tran-
sação, impacta diretamente o funcionamento da economia. Além disso, a 
quantidade de moeda existente em uma economia define a taxa de juros, 
em conjunto com a demanda por moeda. E, como sabemos, a taxa de juros 
interfere em um conjunto muito amplo de atividades econômicas, princi-
palmente sobre os investimentos.
É possível dizer que todos os agentes demandam moedas. As razões 
para tal demanda estão relacionadas com a necessidade de realizar tran-
sações, com a precaução e com a especulação3. A demanda por moeda, 
assim como a demanda por bens, é negativamente inclinada em relação 
ao preço da moeda, que é justamente a taxa de juros. Por sua vez, a auto-
ridade monetária (Banco Central) determina a quantidade de moeda em 
circulação na economia, compondo a oferta, que é representada por uma 
linha reta vertical. A figura 2.6 mostra as curvas de demanda por moeda e 
de oferta por moeda.
3 Para compreender melhor os motivos pelos quais os agentes demandam moeda, sugeri-
mos consultar qualquer livro de macroeconomia ou de introdução à economia que discuta 
macroeconomia.
– 47 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
Figura 2.6 – O equilíbrio no mercado monetário
Taxa de
juros
r
QE Quantidade
de moeda
E
Demanda
por moeda
Oferta de Moeda
Fonte: elaborada pelo autor.
Dada certa demanda por moedas e uma oferta, a intersecção das duas 
curvas constitui o equilíbrio nomercado monetário, determinando a taxa 
de juros de equilíbrio (r). O Banco Central define apenas a quantidade de 
moeda em circulação na economia e a taxa de juros deve também levar em 
consideração a demanda por moeda. Em um regime de metas de inflação4, 
como o adotado no Brasil, a quantidade de moeda que o Banco Central 
coloca no mercado faz que a inflação se direcione para o centro da meta 
estabelecida. Se a inflação se mostra mais alta do que a meta, o Banco 
Central retira moeda do mercado. 
Isso tem duas consequências. A primeira é diminuir a inflação; a 
segunda é elevar a taxa de juros da economia. Se a inflação está baixa, 
o Banco Central pode colocar dinheiro no mercado e fazer que a taxa de 
juros caia – essa condição pode ser vista na figura 2.7, em que o governo 
amplia a quantidade de moeda na economia de Q1 para Q2. Esse movi-
4 O Regime de Metas de Inflação foi adotado no Brasil em 21 de junho de 1999 pelo De-
creto Presidencial n. 3.088, assinado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde 
então, periodicamente, geralmente uma vez ao ano, o Conselho Monetário Nacional deter-
mina a meta e os respectivos intervalos para a inflação.
Fundamentos do Agronegócio
– 48 –
mento de ampliação desloca a curva da oferta monetária para a direita, 
gerando um novo ponto de equilíbrio (r2) em um nível inferior ao ponto 
anterior (r1). Assim, podemos perceber que a ampliação da quantidade de 
moedas gera queda na taxa de juros.
Figura 2.7 – Representação de uma política monetária expansionista
Taxa de
juros
r1
r2
Q1 Quantidade
de moeda
E1
Demanda
por moeda
Oferta1
E2
Q2
Oferta2
Fonte: elaborada pelo autor.
Um aspecto importante dentro da taxa de juros é a distinção entre 
taxa de juros nominal e taxa de juros real. O juro nominal é o preço da 
moeda, ou seja, quanto um agente deverá pagar por ter tomado emprestada 
determinada quantia de moeda. Mas se na economia houver inflação5, que 
nada mais é do que a perda do poder de compra da moeda, a quantidade 
que esse agente deverá pagar vai diminuindo. A relação entre a inflação e 
as taxas de juros nominal e real é:
1 1 1+( ) +( ) = +( )r r*
Em que r * é a taxa de juros real; r é a taxa de juros nominal; e 
é a taxa de inflação. Todas as variáveis devem ser expressas em valores 
5 Em outro contexto, pode-se compreender a inflação como o aumento sistemático e gene-
ralizado dos preços de uma economia.
– 49 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
decimais. Caso alguma taxa seja de 10%, o valor incluído na expressão é 
0,1; se for 1%, deve ser 0,01.
Para conhecermos a taxa de juros real de uma economia a partir 
da taxa de juros nominal e da taxa de inflação, devemos realizar o 
seguinte procedimento:
r
r
* =
+( )
+( )
−
1
1
1
Portanto, a taxa de juros real é aquela que elimina a inflação do juro 
nominal. Tomemos como exemplo os seguintes valores: r = =9 0 09% , e 
=2 0 02% , , com os quais a taxa de juros real é:
r*
,
,
, ,=
+( )
+( )
- = - =
1 0 09
1 0 02
1 1 0686 1 0 0686
Note que a taxa de juros nominal foi de 9%. Como a inflação no perí-
odo foi de 2%, o que contribuiu para corroer o poder de compra da moeda, 
a taxa de juros real foi de 6,86%, inferior ao da taxa nominal. Há casos 
em que a taxa de juros real pode ser negativa. Sobre isso, Bacha (2004, p. 
50) esclarece que “uma taxa de juros real negativa significa um subsídio 
ao tomador de empréstimo e ocorre uma transferência de renda do agente 
que concede o crédito ao tomador de crédito”.
A taxa de juros é um importante elemento da economia, pois deter-
mina os investimentos no país, independentemente do setor econômico: 
quanto maior for a taxa de juros, menor será o investimento. O agronegó-
cio, como visto, é o encadeamento de diversos setores da economia, sendo 
que um deles é necessariamente a agropecuária.
Em trabalho sobre o impacto da taxa de juros sobre somente o desem-
penho da atividade agropecuária, Barros e Spolador (2004, p. 2) consta-
taram que
Os resultados mostram que uma política monetária mais restri-
tiva, que eleve em 10% a taxa de juros, tem um efeito recessivo 
sobre a taxa de crescimento do PIB da agropecuária de cerca de 
54%. Esse efeito se manifesta tanto pelo maior custo na obtenção 
Fundamentos do Agronegócio
– 50 –
de crédito para financiar a produção, como no custo de oportuni-
dade dos investimentos no setor representado por maiores retornos 
financeiros alternativos em outras atividades. Além disso, juros 
altos reduzem o emprego e renda do país, contraindo o consumo 
doméstico de produtos agropecuários. Pode-se concluir, portanto, 
que as altas de juros são responsáveis por boa parte do desempenho 
irregular do agronegócio na década passada. Além disso, embora 
o setor agrícola venha, nos últimos dois anos, apresentando resul-
tados muito superiores ao da economia em geral, em face de uma 
melhoria de sua lucratividade, um cenário macroeconômico mais 
favorável, que envolve uma taxa de juros mais baixa, será um fator 
adicional relevante para a expansão do agronegócio brasileiro.
Como qualquer atividade econômica, os ganhos de produtividade são 
decorrentes de novas formas mais eficientes de produção, que, por sua vez, 
são introduzidas por meio de investimentos que precisam de taxa de juros 
adequadas para que o setor produtivo se sinta estimulado a implantá-los. 
Assim, taxas de juros menores estimulam os investimentos e, consequen-
temente, a ampliação e a melhoria de todos os segmentos do agronegócio.
2.3 Política cambial
Como vimos no Capítulo 1, o agronegócio tem relações com ativi-
dades econômicas de outros países, seja por meio da importação de insu-
mos, seja pelas exportações de commodities, como soja ou bens com valor 
agregado mais elevado, a exemplo de carnes processadas e congeladas. E 
um dos fatores fundamentais que afetam as importações e as exportações 
é a taxa de câmbio.
Podemos compreender a taxa de câmbio como a taxa de conversão 
de uma moeda em outra moeda ou como o preço para se obter a moeda 
estrangeira. Geralmente a taxa de câmbio é representada da seguinte 
maneira: quantidade de reais/unidade de moeda estrangeira.
Se a moeda em questão for o dólar norte-americano, a taxa de câmbio 
é expressa como R$ 3,00/US$; se for em relação ao euro, a taxa de câmbio 
é de R$ 4/€; se for em relação à libra, de R$ 5/£; e assim se procede em 
relação a todas as moedas existentes. A taxa de câmbio pode ser entendida 
como um preço, ou seja, diz quanto devemos abrir mão de nossa moeda 
– 51 –
Políticas Econômicas que Afetam o Agronegócio
para conseguir obter a moeda estrangeira. Vale ressaltar que o Banco Cen-
tral6 mantém uma página na internet na qual informa a taxa de câmbio 
para um grande número de moedas estrangeiras.
A política cambial é a regra adotada pela autoridade monetária 
(Banco Central) para definir o valor da taxa de câmbio. Segundo Tripoli e 
Prates (2016, p. 118),
A política cambial é um dos elementos que mais interfere sobre o 
comércio entre os países. E essa interferência ocorre justamente 
pelo fato dela definir os mecanismos que definem o preço ou o 
valor da taxa de câmbio, que por sua vez, define o preço dos bens 
domésticos nos mercados estrangeiros (exportações) e o preço dos 
bens estrangeiros no mercado doméstico (importações). Segundo o 
Banco Central Brasileiro, a política cambial é o conjunto de ações 
governamentais diretamente relacionadas ao comportamento do 
mercado de câmbio, inclusive no que se refere à estabilidade rela-
tiva das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos.
A política cambial interfere sobre o mercado de câmbio. A diferença 
entre o mercado de câmbio e o mercado de bens é que o bem transacio-
nado pela primeira são moedas estrangeiras. Atualmente também é possí-
vel definir taxa de câmbio para criptomoedas.
O mercado de câmbio é bastante similar ao mercado de bens, pois 
também há agentes que ofertam moedas e agentes que demandam moedas. 
Os exportadores, as empresas internacionais que

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