Trabalho de Sociologia- Sociologia da Infancia

1 ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DA CRUZ VERMELHA PORTUGUESA 25º CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM ANTROPOLOGIA /SOCIOLOGIA A CRIANÇA E A INFÂNCIA COMO OBJETTO SOCIOLÓGICO: Os contributos de Karl Marx, Max Weber, Émile Durkheim, Marcel Mauss e Norbert Elias Miriam Valente, n.º 3 949 Docente: Profe ssora Sofia Moreira ANO LETIVO 2015/2016 Índice 2 I. Introdução …………………………………………………………… .3 II. Contributos dos diferentes sociólogos …………………………… ..4 II.1. Karl Marx........................................................................................4 II. 2. Max Weber ……………………………………………………… .5 II.3. Émile Durkheim………………………………………………… ..6 II.4. Marcel Mauss…………………………………………………… ..7 II.5. Norbert Elias…………………………………………………… ...7 III. Sociologia da infância......................................................................9 IV. Conclusão……………………………………………………… ....10 V. Referências ………………………………………………………… 11 3 I . I n t r o d u ç ã o O presente trabalho foi realizado, no âmbito da unidade curricular de Antropologia/Sociologia, lecionada pela professora Sofia Moreira. Decidi abordar este tema, pois gostaria de exercer a mi nha profissão na área da pediatria, sendo assim achei int eressante ve r c omo a sociologia usa as crianças e a infância c omo objeto sociológico e como contribuíram os primeiros sociólogos para este facto. As crianças ao longo da história da sociologia, ocuparam um lugar secundário no que diz respeito ao p ensamento sociológico. As análises sociológicas baseiam-se no mundo percecionado pelos adultos, como eles reagem, quais os seus pensamentos, as suas opiniões entre inúmeras an alises que são feitas, o que fa z parecer que esta sociedade é apenas vivida p or adultos, pondo de parte as crianças. É aqui que surg e a sociolo gia da infância, os sociólogos, Karl Marx, Max Webe r, Émile Durkheim, Marcelo Mauss e Norbert Elias, já haviam discutido e analisado esta temática levantando importantes contribuições para se comp reender o lugar destina do às cri anças nas sociedades, mas sobretudo o papel que elas têm na tradição do pensamento sociológico e o porquê d e só agora r ecentemente se f alar mai s. Atualmente os so ciólogos têm provado que as crianças s ão um objet o fundamental para a compreensão e construção das sociedades. Sendo assim, o objetivo deste trabalho será compreender a criança e a infância como um objeto sociológico no ponto de vist a de cada soci ólogo e falar do surgimento da Sociologia da Infância. Este trabalho foi f eito com ba se na análise do artig o: “ Os clássicos da “ literatura ” socioló gica infantil: as crianças e a inf ância d e acordo com Marx, Weber, Durkheim e Mauss ” . 4 I I. C o n t r i b u t o s do s d i f e r e nt e s s o c i ó l o g o s I I . 1 . K a r l M a r x ( 1 8 1 8 - 1 8 8 3 ) Para Ma rx a fa mília é figurada como a primeira forma de proprieda de na humanidade, por exe mplo desde cedo que as esposas e os filhos são os primeiros a serem usados pelo homem para realizarem tarefas mandadas. Por outro lado Marx também se foca nos efeitos que a Revolução Industrial trouxe para que as crianças no que diz respeito ao lugar secundário que elas passam a ter. C om o aparecimento das máquinas o homem deixava de ser preciso para realizar tarefas complicadas e pes adas, pois e stas substituíram-se pelas m áquinas, e os trabalhos q ue até então eram difíce is passaram a ser mais acessíveis de realizar por isso coloca ram as c rianças e a s mulheres dos operários a faze-lo, saindo assim mais barato a mão-de-obra. Os operários diminuíram e a e xploração infantil aumentou, Marx enunciou uma s érie de características e consequências do trabalho infantil durante o período da Revolução Industrial. As cria nças não descansavam o suficiente e faziam longas jornadas, sendo que havia a divisão sexual no trabalho, ou seja, era m ais provável encontrar men inos abaix o dos 13 anos e meninas com menos de 18 anos a trabalhar. Ao trabalharem muitas horas seguidas gerou uma decadência da população op eraria (no século X IX, n a Inglaterra) não só fisica mente mas também intelectualmente e moralmente, pois em vez de estudarem, trabalhavam, tornando-se umas máquinas. Marx chegou a ouvir duas crianças que r elataram o q ue sofriam e o que faziam naquelas horas que nunca mais pareciam ter fim. Para melhorar esta decadência o p arlamento Inglês decretou em 1857 , que todos os menores d e 14 anos, trabalhadores, teriam de ter acesso à escolaridade . Marx, não era contra este tipo de trabalho, mas sim contra a exploração infa ntil, por isso em 1865 escreveu uma carta à Associação Internacional dos trabalhadores onde levantou a questão do trabalho juvenil e infantil onde recomendou que deveria de haver três divisões nas faixas etárias e as respetivas horas diárias que eles deveriam de trabalhar. N esta mesma carta surgiu uma dim ensão essencial a quest ão da infância (primeiro pe ríodo da vida humana, que vai do nascimento até à adolescência (2 ) ) - a educação, as crianças teriam de conciliar o tr abalho com a instrução escolar, compreendendo a educação mental, visando o desenvolvimento de um pensamento critico e de reflexão, a educação física, possibilitando a criança a melhorar a sua fo rma física, para ficar mais forte, e por últim o educação politécnica, propondo que elas se capacitassem a aspetos mais teóricos e práticos das atividades produtiva s. Esta conciliação é um dos meios de transformação da sociedade. 5 Ao serem mais vulneráveis e não saberem agir por conta própria, a sociedade deveria entrar aqui para os a judar, com por ex emplo os direitos d as crianças e dos jovens. Apesar de Marx analisar um tipo de crianças em específico (as operárias) ele demonstra que é possível analisar os fenómenos sociais a partir da infânc ia e qu e o que as crianç as vivem e relata m pode m interferir nos ditos fenómenos. Para o sociólogo o que lhe im portava analisar não era propriamente como as sociedades se r elacionam com as crianças, mas sim, como a sociedade as explorava. I I . 2 . M a x W e b e r ( 1 8 6 4 - 1 9 2 0 ) Para Weber, a Sociolo gia é uma ciência que procura compr eender a ação social, considerando o indivíduo e as suas ações como ponto principa l da investigação e da análise ( 2) . Se levarmos esta maneira de ver a sociologia par a a parte das crianças, Weber vê-as como um ser que é domi nado pelos p ais ou pelos tutores, e leva- o a acreditar que o comportamento das crianças pequenas, assim como a d os feiticeiros ou a dos lo ucos (eram todos considerados igua is) nã o sã o alcançáveis à explicação compreensiva, ou seja, o comportamento destes indivíduos é inexplicável, pois não tem um sentido explicito e não tem um guia em r elaçã o a normas e regras. Po dendo significar na mente deles inúmeras coisas, cada criança pode ter diversas reações a cerca de uma ação, tendo elas assim, atitudes inesperadas e que não se estão à espera Estas crianças necessitam de educação para poderem conhecer as regras e normas da sociedade, para se tornarem pessoas intelectuais e explícitas. É uma preparação para que o indivíduo possa vir a compreender o seu papel no cont exto social e se racionalizar à medida que se vai deparan do com ações sociais. (3) Com o re ferido acima podemos perceber que segundo Webe r as crianças são int erlocutoras da sociedade, permitindo que se estude, mas q ue não se considere parte da s teorias. S ó são consideradas quando já têm a ções racionais, ou seja, adultos. Pondo para segundo parte as criança s. 6 I I . 3 . É m i l e D u r k h e i m ( 1 8 5 8 - 1 9 1 7 ) Foi atr avés de Durkhe im que as crianças sur giram na sociolo gia. Derivado à importân cia do papel d a educação para formar uma sociedade contemporânea, surgiu assim, a criança como um foco de análise, Durkheim não usou a criança ou a infância como o objeto, mas sim a importância que a educação tem durante a infância, e as suas reflex ões e impli caçõe s no s eu futuro, o que leva a crer que é um ponto crucial para o desenvolvimento de uma Sociologia da infância. O conceito de “educação” é utilizado como sinónimo de “socialização”, lo go, quando o sociólo go fala sobre educação , está se a refer ir a socialização das crianças e jovens em qualquer sociedade. A socialização é uma forma de transmitirmos conhecimentos, por isso , a partir do momento em que haja interação contínua entre indivíduos que possam ensinar e indivíduos que possam apre nder já está a haver um processo de socialização. Este fact o acontece mui to entre os adultos e as crianças, onde os adultos ensinam normas, reg ras às crianças, com o objetivo de prepara-las e desenvolve-las para a vida social. Para hav er uma soci edade, os indi víduos não pode m ser estranhos uns aos outros, e têm de compartilhar coisas em comum, para os tornar com al go em comum tiveram de ter tempo para amadurecerem, para transmitirem, para ensinarem e para aprenderem conhecimentos q ue são produzidos nessa mesma sociedade, e a post erior conservação, desenrolar e seguimento d e qualquer sociedade depende da primeira socialização na infância. A criança terá de ser estimul ada desde cedo para aprender as normas e regras da soci edade, para qu e post eriormente no seu futuro, possa viv er numa sociedade adequada e civili zada. A gora, se a estas não lhes fore m incutidas educação e socializarem tornarão a sua sociedade futura anomia. O interesse de Durkheim não incide ne m sobre a c riança, nem sobre a infância, mas sim sobre a forma como são educadas e na importância que a educação terá para a harmonia social. Todas as normas, v alores, sentimentos, ideias e práticas são impostas às crianças pelos adultos . No caso das crianças este carácter co ercivo dos factos sociais é em dupl o, ou seja, as crianças além de estarem sujeitas as obrigações so ciais, também estão sujeitas às obr igações dos adultos. Esta dupla coerção permite pe rceber o lugar secundário que ocupam as crianças na tradição do pap el sociológico, sendo elas vistas como indivíduos imat uros, sem regras, sem valores e sem normas, considerando - as “pré - sociais”, pois não interferem nos pro cessos sociais. Como já referi inicialmente pa ra Durkheim a socialização remete -nos para a parte do ensinamento, visto que 7 estas não o conseguem f azer são vistas como “aprendizes”, e são postas em segundo plano. II. 4 . M a r c e l M a u s s ( 1 8 7 2 - 1 9 5 0 ) Mauss, foi quem d elineou os primeiros passos para uma Sociologia da Infância. É um manusc rito inacabado escrito em 1937 para um congresso sobre a infância com o título : “ Tr ês observações sobre a sociologia da infância ” . O autor sobressai três questões para o desenvolvimento d e uma sociologia virada para o estudo das crianças e da i nfância. A primeira questão rem ota nos para a importância de elaborar um estudo sobre o meio da infância, ou seja, para o autor a infância é o meio social das crianças, havendo por isso vá rios meios socias, r elativamente a cada sociedade, o sociólogo supõem que existem diversos tipos de crianças assim como respetivamente diferentes formas de infância. Realça que esta s análises deveriam ser post as para realizar estatísticas para se pe rceber que existem vários tipos de crianças e não são todas iguais. A segunda questão l eva-nos para o probl ema das gerações, visto que, as crianças tanto s e podem relacionar com os adultos, como com crianças d a sua idade, ou mais novas, ou mais velhas. Deste modo, Mauss por meio da diferenciação entre gerações dividiu e obs ervou dois modelos da educação, um mais “ livre ” , que equivalia à criança ensinar a outra criança, e o outro ao ensinamento de adultos a crianças. Embora os adultos também possam aprender com as crianças, ou seja, serem socializados pelas crianças. Por últ imo , a terceira questão fala sobre como os movimentos do corpo, a postura co rporal e ge stos físicos, são necessários para a educação, o que se deveria ter em c onta a realização de educação física nas escolas. Referindo que além de haver um a Sociologia da Infância, também deveria haver uma Sociologia voltada para aparte do ensino nas escolas. Assim sendo, Mauss contribuiu em muito para o desenvolvimento da Sociologia da Infância, re velando pontos cruciais para este. Sendo a principal, que as crianças são todas difere ntes e não existe ape nas um tipo de crianças e sim vários, meninos e meninas, pobr es e ricos, pequenas e grandes, obedientes e desobedientes entre outras inúmeras características. I I . 5 . N o r b e r t E l i a s ( 1 8 9 7 - 1 9 9 0 ) Elias, apresentou e explicou a relevância de que a constituição das sociedades depende dos indivíduos, assim como também, a sociedade tem a função de formar os aspetos individuais de cada individuo. 8 Logo, no que diz respeito às crianças, a infância será o período onde ela ir á aprender os aspet os da sua soci edade, que se estenderá por toda a sua vida, formando as sociedades. Esta aprendizagem será um pouco geracional, visto que os mais velhos ensinaram os mais novos de acordo com o padrão que eles também vivem. Só existe sociabilidade quando existe relação entre os indivíduos, por exemplo entre as crianças e os adultos. Desta forma e comparando com o tema, para se poder compreender e perceber o significado da infância, que m são as crianças e como s e constituem as sociedades, há que perceber o que é a criança em si, os ensina mentos dos adultos dados em relação às crianças, a socialização li gada às interações entre adultos e crianças e o lugar que elas ocupam na sociedade. São questões importantíssimas para o desenvolvime nto da Sociologia da Infância. 9 I II . S o c i o l o g i a d a In fâ n c i a At é aos anos 80, foram estudados e analisados por diversos sociólogo diferentes form as de ver as crianças, a infância, a educação e a socialização, como referi anteriorme nte (C ap ítulo II ). A partir daqui passaram a r econhecer interesse no que diz respeito a este objeto (criança) e novos sociólogos focaram-se nos estudo que os primeiros cl ássicos abordaram acerca do tema. Em 1986, sociólogos Norte-Americanos produz iram o primeiro número da revista “ Sociological Studies o f Chil d Development ” . Em 1990 no Congresso Mundial de Sociologia, um grupo de sociólogos da infânc ia reúne- se pela primeira vez. E, em 1992, a Associação Americana de Sociolo gia faz nascer uma secção chamada de Sociologia das Crianças. Outro dos fa c to s é que em 1992, a revista que mencionei acima, passou a chamar- se “ Sociological Studies of Children ” . Apesar de estas serem os primeiros, a partir d aqui muitos sociólogos começaram a estudar c ada vez mais esta temática, o conteúdo que e les passaram a analisar e a es crever dividia-se em quatro categ orias : “ os trabalhos que tratam das relações entre g erações; aqueles qu e estudam as relações ent re crianças; que aborda m as cria nças como um grupo de idade e, finalmente, que examinam os diferentes dispositivos institucionais dirig idos às crianças ” (Frones-1994). Sempre abordaram com o objetivo de estudar as crianças não como objetos da socialização dos adultos mas como , sujeitos do processo de socialização. A o contrário dos clássicos sociológicos que o objetivo er a analisar as relações que as crianças estabele cem com a sociedade e com o pensamento sociológico da criança, por meio dos adultos, tornando-se nu m papel secundário. 10 I V . C o n c l u s ã o Com este trabalho fiquei a perceber a ori gem e os contributos dos diferentes so ciólogos pa ra este tema, assim como as diferenças que se vêm na atualidade no que diz respeito à Sociologia da Infância. Se as crianças desde cedo, durante a sua inf ância, forem ensinadas com reg ras, normas, sentimentos, ideias e valore s se rá que toda esta aprendizagem mudará a sua futura soc iedade, e tentaram marcar a diferença? Há que tentar, e n ão deixar estas crianças à ma rgem da marginalização, sem conhecerem nada, e continuarem assim i gnorantes o resto da vida. As criança s vão marcar a sociedade do futuro, hoje crianças amanha adultos!

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