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PRINCÍPIOS DE FINANÇAS INTERNACIONAIS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Magnus dos Reis CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. R375p Reis, Magnus dos Princípios de finanças internacionais. / Magnus dos Reis. – In- daial: UNIASSELVI, 2018. 153 p.; il. ISBN 978-85-7141-285-9 1.Finanças internacionais. – Brasil. II. Centro Universitário Leonar- do Da Vinci. CDD 332.042 Impresso por: Sumário CAPÍTULO 1 Introdução ao Mercado de Câmbio 5 CAPÍTULO 2 Entendendo o Câmbio 69 CAPÍTULO 3 Balança de Pagamentos 129 CAPÍTULO 1 Introdução ao Mercado de Câmbio A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � dominar os conceitos e definições relacionados a moeda e taxa de câmbio; � descrever a relação entre câmbio e preços relativos; � compreender o funcionamento dos mercados de câmbio e financeiro internacionais; � diferenciar os regimes cambiais existentes; � aplicar cálculos de conversão de moedas; � examinar os participantes e as características do mercado de câmbio; � analisar o mercado financeiro internacional. 6 Princípios de Finanças Internacionais 7 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 1 Contextualização A primeira parte desse capítulo fornece algumas definições a respeito da moeda, apresentando suas funções e condicionantes, com o objetivo de apresentar um modelo que relaciona a oferta e a demanda por moeda doméstica de um país com as taxas de juros e taxas de câmbio. Como será visto, as variações monetárias influenciam a taxa de câmbio, modificando as taxas de juros da economia. Ao examinar as influências que as variáveis monetárias exercem sobre a taxa de câmbio, é possível analisar como os fatores monetários influenciam tanto os preços dos produtos quanto as taxas de juros. Na seção seguinte, o foco é sobre alguns conceitos relacionados a taxa de câmbio, tais como os de cotação direta/indireta e desvalorização/apreciação cambial. Além disso, são apresentados os regimes de câmbio existentes e é analisado como a taxa de câmbio se relaciona com os preços relativos das economias. A última seção desse capítulo, além de abordar como o sistema financeiro internacional foi desenvolvido até chegar aos dias atuais, apresenta os participantes do mercado de câmbio, os aspectos mais técnicos relacionados a compra e venda de moeda estrangeira e alguns dados do sistema financeiro internacional. 2 Moeda Para analisar a oferta e a demanda por moeda em uma economia, faz- se necessário conceituá-la, primeiramente, e, após, torna-se fundamental compreender suas características e funções, além de aprender a diferenciá-la de outros ativos disponíveis nos mercados. A subseção a seguir abordará justamente esses temas e enfatizará como as moedas estrangeiras interagem com a oferta de moeda doméstica de um país. 2.1 Definições, Funções e Conceitos A moeda é o ativo legalmente autorizado pelos governos a circular nos países como meio oficial de pagamento da economia. Tradicionalmente, ela é emitida em cédulas de papel e/ou cunhada em moedas metálicas, no entanto, novas tecnologias surgiram e isso tem alterado a maneira dos agentes econômicos transacionarem nos mercados. Especificamente, são os casos das operações comerciais e financeiras realizadas com cartões de débito/crédito ou, mais recentemente, com a criptomoeda chamada de bitcoin. Essas alternativas, A moeda é o ativo legalmente autorizado pelos governos a circular nos países como meio oficial de pagamento da economia. 8 Princípios de Finanças Internacionais em conjunto com o surgimento de novas teorias macroeconômicas, mudaram, consideravelmente, não somente a maneira como a política monetária é executada, mas também o montante de moeda ofertado pelos bancos centrais dos países. Atualmente, a moeda não tem valor em si mesma, mas sim por meio de seu poder de compra, diferentemente do que ocorreu durante boa parte no século XX, período em que os bancos centrais dos países ofertavam papel-moeda atrelada a depósitos em ouro. Essa abordagem ficou conhecida como padrão ouro e se demonstrou insustentável no longo prazo, fazendo com que fosse abandonada, gradualmente, em todos os países do mundo. Para preencher essa lacuna, a moeda passou a não ter nenhum valor intrínseco, estabelecendo o conceito de moeda fiduciária. A moeda fiduciária é um tipo de moeda cujo valor advém somente da confiança dos agentes econômicos em seus respectivos governos. Deve-se destacar também que a moeda deve apresentar a peculiar propriedade de liquidez, e é justamente essa característica que a diferencia dos demais ativos ofertados, tais como os imóveis e os carros. Nas economias, a moeda desempenha, essencialmente, as funções de intermediária de troca, unidade de conta e reserva de valor. Pode-se afirmar que a função de intermediária de troca foi quem motivou o surgimento da moeda no mundo. Essa função, também conhecida como meio de troca, é a mais importante delas, pois tornou a moeda um meio de pagamento amplamente aceito nas sociedades. De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), se a moeda não existisse, então o único comércio possível seria o escambo, isso é, seria necessário trocar, diretamente, bens e serviços por outros bens e serviços. No entanto, esse processo tornaria a circulação das mercadorias mais lenta, elevaria os custos comerciais e faria com que os mercados passassem a atuar de forma subótima. Portanto, sem a moeda como meio de troca, um indivíduo só conseguiria comercializar com outro caso ambos tivessem interesse em realizar a troca de bens, o que, no longo prazo, dificultaria o funcionamento da economia. Outra função para a moeda, apresentada por Krugman e Obstfeld (2005), é que ela deve servir como unidade de conta. Isso significa dizer que a moeda deverá ser uma medida de valor amplamente reconhecida na economia. Alternativamente, a moeda, para desempenhar sua função de unidade de conta, deverá fornecer um padrão para expressar os valores das demais mercadorias da economia, ou seja, ela deve ser um referencial para que os preços dos produtos ofertados sejam cotados nos mercados nacionais e internacionais. Nas economias, a moeda desempenha, essencialmente, as funções de intermediária de troca, unidade de conta e reserva de valor. Meio de troca, é a mais importante delas, pois tornou a moeda um meio de pagamento amplamente aceito nas sociedades. A moeda deverá ser uma medida de valor amplamente reconhecida na economia. 9 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 A terceira função, denominada reserva de valor, é intrínseca à moeda. A moeda como reserva de valor surge do fato de que ela é um ativo, de modo que ela pode ser utilizada para transferir poder de compra do presente para o futuro. Essa característica é essencial para um meio de troca e, se não fosse assim, então a moeda não seria aceita na forma como é hoje, porque ela poderia perder seu valor a qualquer momento. Durante o período de altas taxas de inflação no Brasil, observou-se que a moeda perdeu essa propriedade,fazendo com que as pessoas que tivessem moeda a trocassem por bens ou outros ativos para minimizar os custos que uma alta inflação impõe sobre seu poder de compra, o que, por sua vez, reduzia ainda mais a credibilidade da autoridade monetária do país. Não obstante, a função reserva de valor torna a moeda o ativo mais líquido existente na economia, ou seja, é o ativo que mais rapidamente pode ser transformado em bens e serviços e que não apresenta custos de transação elevados, característica que a torna um padrão referencial de liquidez em relação a outros ativos na economia. No que diz respeito às definições relacionadas a moeda, considera- se a base monetária de uma economia o papel-moeda em poder do público e o volume de reservas mantido pelos bancos comerciais. Ademais, outra definição relevante é a dos meios de pagamentos restritos ou, simplesmente, chamada de M1. Por outro lado, os meios de pagamentos ampliados são definidos pela soma dos agregados monetários M2 e M3, enquanto que a poupança financeira é dada pelos meios de pagamento chamados de M4. A moeda como reserva de valor surge do fato de que ela é um ativo, de modo que ela pode ser utilizada para transferir poder de compra do presente para o futuro. A base monetária de uma economia o papel-moeda em poder do público e o volume de reservas mantido pelos bancos comerciais. A função reserva de valor torna a moeda o ativo mais líquido existente na economia. O Banco Central do Brasil define seus agregados monetários como: • M1 = papel moeda em poder do público + depósitos à vista; • M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias; • M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas registradas no Selic; • M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez. A Tabela 1 apresenta a evolução dos agregados monetários no Brasil no período 2008-2017 considerando sempre o valor em R$ milhões e para o mês de dezembro do respectivo ano. Entre 2008-2017, observa-se uma 10 Princípios de Finanças Internacionais taxa de crescimento média dos agregados monetários M1, M2, M3 e M4 de, respectivamente, 5,6%, 9,8%, 13,1% e 12,8%. TABELA 1 – EVOLUÇÃO DOS AGREGADOS MONETÁRIOS NO BRASIL (R$ MILHÕES) Período M1 M2 M3 M4 2008 Dez 223.440 1.072.986 1.908.187 2.242.126 2009 Dez 250.234 1.167.424 2.206.320 2.604.911 2010 Dez 280.141 1.360.654 2.548.005 3.038.760 2011 Dez 285.377 1.617.480 3.030.280 3.550.253 2012 Dez 324.483 1.764.049 3.518.467 4.103.137 2013 Dez 344.843 1.957.179 3.824.225 4.459.365 2014 Dez 351.603 2.150.684 4.319.484 4.993.133 2015 Dez 334.417 2.285.721 4.759.312 5.554.333 2016 Dez 347.811 2.371.655 5.283.355 6.144.485 2017 Dez 364.735 2.485.583 5.793.588 6.638.102 FONTE: Banco Central (2018, s. p.). Além disso, para se ter uma ideia da magnitude dos agregados monetários no Brasil, no ano de 2017, M1, M2, M3 e M4 tiveram uma participação percentual sobre o PIB do Brasil de 5,6%, 37,9%, 88,3% e 101,2%, respectivamente. 2.2 Oferta e Demanda Por Moeda Doméstica Muito embora sua definição possa variar, de modo geral a oferta de moeda de uma economia é dada pela soma do papel-moeda em poder do público e dos depósitos à vista, sendo ambos controlados pelo Banco Central do país. A teoria clássica afirma que o Banco Central possui três instrumentos para a realização de sua política monetária, ou seja, maneiras pelas quais ele controla a oferta monetária: i) operações de mercado aberto, ii) redesconto e iii) recolhimentos compulsórios. Assim, essa instituição financeira governamental não somente determina diretamente o volume de moeda em circulação na economia, mas também indiretamente por meio do controle do montante de depósitos à vista emitidos pelos bancos privados, também chamado de depósito compulsório. Normalmente, a atuação direta do Banco Central sobre a oferta de moeda ocorre por meio das suas operações no mercado aberto (open market). Nelas, ele compra títulos governamentais do público, quando deseja expandir a oferta de A oferta de moeda de uma economia é dada pela soma do papel-moeda em poder do público e dos depósitos à vista. 11 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 moeda doméstica, e vende seus títulos governamentais para os agentes econômicos, quando o objetivo for retrair a oferta. Por outro lado, os bancos comerciais têm suas operações refletidas na oferta monetária, mais especificamente, também ocorre criação/redução de moeda na economia quando essas instituições financeiras privadas realizam/ resgatam empréstimos junto às famílias e às empresas. No entanto, por hora, suponha apenas que o Banco Central estabelece a oferta de moeda em um montante desejado que, nesse caso, é representado por Ms. Portanto, a oferta de moeda é exógena. Essa suposição, de que a oferta de moeda não é função de nenhuma outra variável econômica, faz com que ela, nos gráficos apresentados a seguir, seja uma reta vertical. No que diz respeito à quantidade de moeda que um agente econômico deseja reter, ou seja, a demanda individual de moeda, torna-se necessário analisar a teoria da demanda por ativos, a qual sugere que são três os determinantes da demanda por ativos: a) Retorno esperado O papel-moeda em si não paga nenhum juro ao seu portador, enquanto que os depósitos à vista pagam, muito embora esses depósitos ofereçam uma taxa de retorno muito baixa se comparada àquelas proporcionadas por outros ativos da economia. Assim, quando um indivíduo retém moeda, automaticamente ele estará renunciando receber uma taxa de retorno, uma vez que ele teria a opção de adquirir um outro ativo que remunerasse sua riqueza por meio de uma taxa de juros, tal como ocorre nos títulos de renda fixa, por exemplo. Entretanto, para ter esse retorno ele teria que abrir mão da liquidez que só o papel-moeda possui. Além disso, a diferença entre as taxas de retorno da moeda (zero no caso de papel-moeda ou baixas, no caso dos depósitos a prazo) e dos diversos ativos com menor liquidez reflete diretamente na taxa de juros de mercado, de modo que se cria uma relação que quanto maior a taxa de juros, mais o indivíduo deixa de ganhar ao optar por reter moeda. Essa relação tem suporte teórico na teoria da demanda por ativos, a qual afirma que, ceteris paribus, os agentes econômicos preferem os ativos que oferecem os retornos esperados mais elevados. Uma vez que um aumento na taxa de juros provoca uma elevação da taxa de retorno dos ativos de menor liquidez em relação à taxa de retorno da moeda, os agentes econômicos optariam por manter sua riqueza em ativos não monetários, uma vez que eles pagam uma taxa de juros mais alta e, por isso, abririam mão de reter moeda. Dessa forma, fica evidente que, ceteris paribus, taxas de juros mais elevadas provocam uma redução na demanda por moeda. A atuação direta do Banco Central sobre a oferta de moeda ocorre por meio das suas operações no mercado aberto. Também ocorre criação/redução de moeda na economia quando essas instituições financeiras privadas realizam/resgatam empréstimos junto às famílias e às empresas. Quando um indivíduo retém moeda, automaticamente ele estará renunciando receber uma taxa de retorno, uma vez que ele teria a opção de adquirir um outro ativo que remunerasse sua riqueza por meio de uma taxa de juros, tal como ocorre nos títulos de renda fixa Quanto maior a taxa de juros, mais o indivíduo deixa de ganhar ao optar por reter moeda. Ceteris paribus, os agentes econômicos preferem os ativos que oferecem os retornos esperados mais elevados. Taxas de juros mais elevadas provocam uma redução na demanda por moeda. 12 Princípios de Finanças Internacionais Ceteris paribus é uma palavra em latim muito utilizada na economia que pode ser traduzida como “permanecendo tudo mais constante”. Alternativamente, essa relaçãoentre demanda por ativos e retorno também pode ser descrita por um conceito amplamente utilizado na teoria econômica, o custo de oportunidade. O custo de oportunidade é o montante que o indivíduo deve renunciar, ao fazer uma determinada escolha, frente a uma outra alternativa disponível, por exemplo, quando você mora no seu próprio imóvel, o custo de oportunidade de manter esse ativo refere-se ao aluguel que você poderia obter caso alugasse seu imóvel, ao invés de morar nele. No caso da demanda por moeda, o custo de reter moeda é medido pela taxa de juros. Se um indivíduo puder ganhar uma taxa de juros de 10% ao ano com uma Letra do Tesouro e utilizar R$ 10.000,00 de sua riqueza para comprar esse título do governo, então ele receberá R$ 11.000,00 após um ano. No entanto, se mesmo conhecendo esse possível ganho ele preferir manter seus R$ 10.000,00 em papel moeda em um cofre, então ele estaria abrindo mão de receber R$ 1.000,00 no final do ano, ou seja, ele deixaria de ganhar uma taxa de retorno de 10% ao ano. Assim, os R$ 1.000,00 são justamente o custo de oportunidade de manter sua riqueza na forma de papel-moeda. b) Risco Torna-se arriscado para um agente econômico manter moeda, porque as economias exibem aumentos inesperados nos preços de bens e serviços, o que, por sua vez, reduz o poder de compra do papel-moeda. Contudo, o risco não pode ser considerado o principal determinante na demanda por moeda, conforme salientaram Krugman e Obstfeld (2005), isso porque a rentabilidade dos ativos (títulos do governo, por exemplo) é fixada em termos de moeda, de modo que O custo de oportunidade é o montante que o indivíduo deve renunciar, ao fazer uma determinada escolha, o custo de reter moeda é medido pela taxa de juros. Torna-se arriscado para um agente econômico manter moeda, porque as economias exibem aumentos inesperados nos preços de bens e serviços, o que, por sua vez, reduz o poder de compra do papel-moeda. 13 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 eventuais aumentos nos preços das mercadorias acarretariam também em uma diminuição no valor real desse ativo em igual magnitude relativa (mesmo percentual). Assim, uma mudança no risco de reter moeda não necessariamente deveria fazer com que os indivíduos reduzissem sua demanda por moeda para aumentar sua demanda por ativos. Quem tiver maior interesse sobre relações entre risco e retorno dos ativos, veja: GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 10ª ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. c) Liquidez Os agentes econômicos têm gastos diários na compra de bens e serviços e, por isso, eles demandam moeda para facilitar essas trocas, uma vez que a moeda é um meio de troca amplamente aceito na economia. Essa é a principal vantagem da moeda, em comparação aos demais ativos da economia. A necessidade de reter moeda aumenta à medida que o indivíduo aumenta o valor diário médio dos seus gastos. Assim, pode-se concluir que um aumento dos gastos com consumo dos agentes econômicos provoca um aumento da demanda por moeda. Essa análise da demanda individual por moeda é útil para deduzir o que determina a demanda agregada por moeda, ou seja, a demanda total por moeda por parte de todas as famílias e das firmas da economia. A demanda agregada por moeda é dada pela soma da demanda individual de moeda dos agentes econômicos, sendo determinada por três fatores principais: • Taxa de juros: Variações na taxa de juros impactam na demanda por moeda. Ceteris paribus, quando a taxa de juros se reduz, os agentes econômicos aumentam a demanda por moeda e, contrariamente, quando a taxa de juros aumenta, a demanda agregada por moeda se retrai. Dessa forma, percebe-se que as variáveis demanda por moeda e taxa de juros se relacionam negativamente. Uma mudança no risco de reter moeda não necessariamente deveria fazer com que os indivíduos reduzissem sua demanda por moeda para aumentar sua demanda por ativos. Um aumento dos gastos com consumo dos agentes econômicos provoca um aumento da demanda por moeda. A demanda agregada por moeda é dada pela soma da demanda individual de moeda dos agentes econômicos, sendo determinada por três fatores principais. Quando a taxa de juros se reduz, os agentes econômicos aumentam a demanda por moeda 14 Princípios de Finanças Internacionais • Nível de preços: O nível de preços de uma economia nada mais é que o preço de uma ampla cesta de bens e de serviços em termos monetários que, usualmente, é chamado de inflação. Ocorrendo um aumento no nível de preços, automaticamente os agentes econômicos terão que utilizar mais moeda para adquirir suas cestas semanais normais de bens e serviços. Com isso, para manter o nível de liquidez anterior à elevação do nível de preços, os agentes precisarão reter mais moeda. Portanto, o nível de preços tem uma relação direta e positiva com a demanda por moeda. • Renda nacional real: Quando a economia cresce, mais bens e serviços estarão sendo vendidos na economia, então, para um dado nível de preços, esse aumento real das transações provoca um aumento na demanda por moeda. Portanto, a relação entre demanda por moeda e renda nacional é positiva. Conhecendo as variáveis que determinam a demanda agregada por moeda, pode-se formalizar essas relações por meio da seguinte equação: Md = P × L (R, Y) Onde: Md é a demanda agregada por moeda; P equivale ao nível de preços; R é a taxa de juros; Y é o PNB real. Perceba que a demanda agregada por moeda é proporcional ao nível de preços porque, se os preços dobrarem de valor, ceteris paribus, o valor monetário das transações médias aumentaria na mesma magnitude, assim como o montante de moeda demandado. Uma forma equivalente de expressar a demanda agregada por moeda é representada pela equação a seguir: O nível de preços tem uma relação direta e positiva com a demanda por moeda. A relação entre demanda por moeda e renda nacional é positiva. ( ) dM = L R,Y P onde L (R, Y) é a demanda agregada por moeda real e Md/P é o saldo em moeda desejado, medido em termos de uma cesta de mercadorias de referência, que é igual ao poder de compra que os agentes econômicos desejam manter na forma de moeda. 15 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 A Figura 1 apresenta uma análise gráfica de como a demanda agregada por moeda real se relaciona com a taxa de juros, mantendo constante a renda real (Y). Observe que a curva de demanda agregada por moeda real possui inclinação negativa, em virtude de que uma queda na taxa de juros provoca um aumento nos saldos em moeda real que cada agente econômico deseja manter. Ademais, ainda mantendo constante a renda real, variações na taxa de juros acarretam movimentos sobre a curva L (R, Y). Assim, ceteris paribus, a demanda por moeda real aumenta à medida que a taxa de juros se reduz, conforme destacaram Krugman e Obstfeld (2005). Observe que a curva de demanda agregada por moeda real possui inclinação negativa, em virtude de que uma queda na taxa de juros provoca um aumento nos saldos em moeda real que cada agente econômico deseja manter. Mudanças no PNB real fazem com que a curva de demanda agregada se desloque, alterando o saldo em moeda real que os agentes econômicos desejam manter para uma determinada taxa de juros. FIGURA 1 – DEMANDA AGREGADA POR MOEDA REAL E TAXA DE JUROS FONTE: O autor Diferentemente, ceteris paribus, mudanças no PNB real fazem com que a curva de demanda agregada se desloque, alterando o saldo em moeda real que os agentes econômicos desejam manter para uma determinada taxa de juros. Exemplificando, quando ocorre um aumento da renda real, de Y¹ para Y², a demanda agregada por moeda real, para uma determinada taxa de juros, sofre um deslocamento para direita de sua posição inicial, de L(R,Y¹) para L(R,Y²), conforme demonstraa Figura 2. 16 Princípios de Finanças Internacionais FIGURA 2 – AUMENTO DA RENDA E O DESLOCAMENTO DA DEMANDA AGREGADA POR MOEDA REAL FONTE: O autor Com base nessas informações, deve-se estudar agora como a oferta e a demanda por moeda interagem no mercado. Como de costume nas ciências econômicas, o mercado estará em equilíbrio quando a oferta for igual à demanda, conforme representado pela igualdade a seguir: Ms = Md Quando a igualdade mencionada anteriormente se mantém, o mercado monetário estará em equilíbrio, estabelecendo uma taxa de juros e um saldo em moeda real de equilíbrio. Uma vez que Md = P × L (R, Y), pode-se substituir essa equação na condição de equilíbrio da economia, obtendo: Ms = P × L (R, Y) Dividindo os dois lados da igualdade pelo nível de preços P, encontra-se a equação que expressa a condição de equilíbrio do mercado monetário em termos da demanda agregada por moeda real, como segue: O mercado estará em equilíbrio quando a oferta for igual à demanda. 17 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 FONTE: O autor Nesse caso, para um determinado nível de preços e renda, a taxa de juros de equilíbrio é aquela que faz com que a demanda agregada por moeda real seja igual à oferta de moeda real, conforme detalhada na Figura 3: ( ) ( ) s s P×L R,YM = P P M = L R,Y P FIGURA 3 – EQUILÍBRIO NO MERCADO MONETÁRIO Para um determinado nível de preços e renda, a taxa de juros de equilíbrio é aquela que faz com que a demanda agregada por moeda real seja igual à oferta de moeda real Observe que a curva de demanda agregada por moeda real (Md) intercepta a curva de oferta de moeda real (Ms) exatamente no ponto 1, estabelecendo a taxa de juros de equilíbrio R¹ do mercado monetário. Destaca-se, ainda, que a taxa de juros da economia tende a permanecer em equilíbrio porque eventuais desequilíbrios (pontos 2 e 3) não se sustentam com o tempo. Para entender porque isso ocorre, inicie observando o ponto 2, local em que não somente a taxa de juros R² é maior que a taxa de juros de equilíbrio (R¹), mas também a condição em que a demanda por saldos em moeda 18 Princípios de Finanças Internacionais real é menor que a oferta (Q¹ > Q²). Isso significa dizer que existe um excesso de oferta de moeda no mercado, ou seja, os agentes econômicos estão retendo mais moedas do que realmente desejam e, em virtude disso, eles optariam por reduzir sua liquidez comprando ativos que rendam juros ou emprestando seu dinheiro. Entretanto, essa transferência para tentar reduzir a liquidez não seria factível para a taxa de juros R², pois nesse ponto há mais agentes ofertando do que demandando empréstimos, logo, o mercado de empréstimos estaria com um excesso de oferta no ponto 2. Por sua vez, esse excesso faria com que os indivíduos diminuíssem a taxa de juros cobrada para o nível R¹ com o objetivo de atrair potenciais tomadores de empréstimos. Com a taxa de juros sendo R¹, não somente o mercado de empréstimos estaria em equilíbrio, mas também o mercado monetário, uma vez que no equilíbrio de mercado a oferta e a demanda por moeda são iguais (ponto 1). Por outro lado, se a taxa de juros estiver no nível de R³, ou seja, R¹ < R³, ela tenderá a subir até chegar à taxa de equilíbrio do mercado (R¹), pois haveria um excesso de demanda por moeda no ponto 3, representado pela distância entre Q³ e Q¹. Detalhando, no ponto 3 os agentes econômicos venderiam seus ativos que rendem juros para adquirir papel-moeda, entretanto nem todos teriam êxito nessa venda, considerando a taxa de juros de R³, e isso faria eles oferecerem uma taxa de juros mais alta para atrair potenciais compradores, de modo que a taxa de juros dessas operações progressivamente subiria até R¹, estabelecendo um mercado de equilíbrio. Em resumo, Krugman e Obstfeld (2005, p. 272) apresentam essa tendência ao equilíbrio de mercado da seguinte forma: [...] o mercado sempre se move para uma taxa de juros na qual a oferta de moeda real seja igual à demanda agregada por moeda real. Se houver inicialmente um excesso de oferta de moeda, a taxa de juros diminuirá e, se houver inicialmente um excesso de demanda, a taxa de juros aumentará. Uma outra situação recorrente é analisada na Figura 4, especificamente, nela apresentam-se as consequências de uma política monetária expansionista sobre a taxa de juros e o saldo em moeda real de equilíbrio do mercado, ou seja, de um aumento da oferta de moeda por parte do Banco Central do país. Para um dado nível de renda e preços, observe que o equilíbrio inicial do mercado encontra-se no ponto 1, entretanto, com um aumento na oferta de moeda de M¹ para M², representada por um deslocamento da curva de oferta para a direita na Figura 4, a oferta real de moeda altera-se também, de M¹/P para M²/P. Esse aumento na oferta de moeda real gera um novo equilíbrio de mercado, representado pelo ponto 2, o qual determina uma nova taxa de juros (R²). Ainda, perceba que essa nova taxa de juros de equilíbrio é mais baixa que aquela do equilíbrio inicial (R² < R¹), o que faz com que os indivíduos retenham um maior saldo em moeda real. Se houver inicialmente um excesso de oferta de moeda, a taxa de juros diminuirá e, se houver inicialmente um excesso de demanda, a taxa de juros aumentará. 19 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 FIGURA 4 – EFEITO DE UMA POLÍTICA MONETÁRIA EXPANSIONISTA FONTE: O autor Esse ajuste para um novo equilíbrio, após o Banco Central provocar um excesso de oferta de moeda real à taxa de juros de equilíbrio inicial (R¹), inicia com o desejo dos indivíduos em trocar papel-moeda por ativos que pagam juros, o que ocasiona uma redução na taxa de juros até R², nível esse que é suficiente para que os agentes econômicos estabeleçam um equilíbrio entre oferta e demanda por empréstimos e, também, para que a demanda por moeda real seja igual à nova oferta de moeda real, o que ocorre no ponto 2. Krugman e Obstfeld (2005, p. 273) simplificam muito bem essa análise da seguinte forma: [...] um aumento na oferta de moeda diminui a taxa de juros, enquanto uma queda na oferta de moeda eleva a taxa de juros, dado o nível de preços e o produto. Assim como nos exemplos anteriores, variações na renda também afetam o equilíbrio da economia e é justamente isso que é apresentado na Figura 5, a qual retrata o efeito de um aumento no nível de produto sobre a taxa de juros e sobre o saldo em moeda real. Considerando constante a oferta de moeda e o nível de preços, um aumento na renda real, de Y¹ para Y², faria com que a curva de demanda agregada por moeda real fosse deslocada para a Um aumento na oferta de moeda diminui a taxa de juros, enquanto uma queda na oferta de moeda eleva a taxa de juros, dado o nível de preços e o produto. 20 Princípios de Finanças Internacionais direita. Perceba que para esse aumento da renda real, dada a taxa de juros inicial (R¹), haveria um excesso de demanda por moeda real no mercado, medido pela distância entre os pontos Q¹ e Q², o que, por sua vez, geraria uma situação temporária, denotada pelo ponto 1’. Como no ponto 1’ o mercado não se encontraria em equilíbrio, a taxa de juros aumentaria até R² e, assim, estabelecendo um novo equilíbrio (ponto 2). Resumidamente, ceteris paribus, qualquer aumento no produto real eleva a taxa de juros e, de maneira oposta, uma queda no produto real diminui a taxa de juros. Qualquer aumento no produto real eleva a taxa de juros e, de maneira oposta, uma queda no produto real diminui a taxa de juros. FIGURA 5 – EFEITO DE UM AUMENTO DA RENDA REAL SOBRE A TAXA DE JUROS FONTE: O autor Finalmente, constata-se que a demanda por moeda pode ser afetada por diversos fatores, além de variar com as intervenções diretas e indiretas do Banco Central para regular a economia ou com o objetivo de estabelecer políticas econômicas. Entretanto, alémde ocasionar alterações na moeda interna, essas intervenções do Banco Central podem determinar as taxas de câmbio e as transações internacionais, temas que serão abordados na subseção a seguir. 21 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 2.3 Operações do Banco Central e os Impactos no Mercado de Câmbio Para compreender de uma maneira mais ampla os efeitos das intervenções do Banco Central sobre a economia, torna-se necessário estudar não somente a maneira como suas operações financeiras afetam a oferta monetária doméstica, mas também as consequências de sua atuação sobre a taxa de câmbio de equilíbrio da economia. Porém, antes disso, cabe salientar que os depósitos negociados no mercado de câmbio não são considerados no cálculo da oferta de moeda, pois não apresentam a mesma liquidez e não são usados nas transações rotineiras. De acordo com o Banco Central do Brasil, a taxa de câmbio é: [...] o preço de uma moeda estrangeira medido em unidades ou frações (centavos) da moeda nacional. No Brasil, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar dos Estados Unidos, fazendo com que a cotação comumente utilizada seja a dessa moeda. Assim, quando dizemos, por exemplo, que a taxa de câmbio é 3,10, significa que um dólar dos Estados Unidos custa R$ 3,10. A taxa de câmbio reflete, assim, o custo de uma moeda em relação a outra. FONTE: <http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/taxCam.asp> Para avaliar as transações do Banco Central no mercado, Krugman e Obstfeld (2005) propõem examinar o balancete de um Banco Central. Em virtude disso, nesse livro foi adotada a mesma estratégia, além de seguir o exemplo utilizado pelo autor. Em termos gerais, o balancete do Banco Central funciona como os balancetes das empresas privadas, de modo que ele é organizado de acordo com o princípio contábil das partidas dobradas, sistema amplamente utilizado nas demonstrações contábeis das empresas no mundo inteiro. Assim, a aquisição de um ativo resulta em uma variação positiva no lado do ativo, enquanto que o aumento do passivo provoca uma variação positiva do lado do passivo. Além disso, o ativo total deve ser igual à soma do passivo total e do patrimônio líquido que, desde já, assume-se que seja igual a zero e constante, uma vez que o patrimônio líquido não interessa para a análise em questão. Essa suposição O balancete do Banco Central funciona como os balancetes das empresas privadas, de modo que ele é organizado de acordo com o princípio contábil das partidas dobradas. 22 Princípios de Finanças Internacionais implica que variações no ativo do Banco Central devem acarretar variações de igual magnitude em seu passivo. A Tabela 2 apresenta o balancete do Banco Central do país imaginário Brasilis. TABELA 2 – BALANCETE INICIAL DO BANCO CENTRAL Ativo Passivo Estrangeiros R$ 1.000,00 Depósitos de bancos privados R$ 500,00 Domésticos R$ 1.500,00 Moeda em circulação R$ 2.000,00 FONTE: Krugman e Obstfeld (2005, p.360). Primeiramente, observe que o lado do ativo pode ser dividido entre ativos estrangeiros e domésticos. Costumeiramente, os ativos estrangeiros são os títulos em moeda estrangeira que o Banco Central possui, formando as suas reservas internacionais. O valor desse ativo se modifica quando o Banco Central realiza intervenções no mercado de câmbio, seja comprando ou vendendo moeda estrangeira. Essas reservas, segundo Krugman e Obstfeld (2005), são “obrigações” sobre os estrangeiros ou, alternativamente, um meio para realizar pagamentos internacionais. A outra conta existente do lado direito do balancete da autoridade monetária do país é a dos ativos domésticos, que, geralmente, contempla títulos do governo e financiamentos aos bancos privados. Assim, os ativos domésticos representam os direitos a pagamentos futuros pelos agentes econômicos ao Banco Central de seu país. No exemplo de balancete apresentado, o Banco Central do país Brasilis possui um ativo total de R$ 2.500,00, sendo 40% desse montante alocado em ativos estrangeiros e, o restante, em ativos domésticos. Ponderando o lado do passivo do balancete, percebe-se que ele é formado pelo montante de moeda em circulação e pelos depósitos dos bancos privados (essas instituições privadas, por lei, são obrigadas a manter depósitos no Banco Central de seu país como garantia de seus próprios passivos). A moeda em circulação, segundo Krugman e Obstfeld (2005), é considerada um passivo para o Banco Central porque, historicamente, essa autoridade monetária era obrigada a fornecer uma quantidade de ouro e prata específica para os agentes econômicos que desejassem trocar moeda doméstica por um desses bens preciosos. Já os depósitos dos bancos privados são considerados passivos, pois eles podem ser sacados a qualquer momento, de acordo com as necessidades de seus detentores. No exemplo apresentado, o Banco Central do país Brasilis possui um passivo total de R$ 2.500,00. 23 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 Apresentadas as hipóteses assumidas e o balancete do Banco Central, inicia- se o estudo de como ocorrem as variações nessas contas e os seus reflexos sobre a oferta de moeda. Ao comprar um ativo, além de aumentar o valor de uma de suas contas do ativo, o Banco Central expande a oferta de moeda em circulação na economia, porém a forma como ele efetua o pagamento, em dinheiro ou em cheque, é que determina quais as contas serão movimentadas em seu passivo. Pagando o ativo em dinheiro, imediatamente a quantidade de moeda em circulação aumenta (conta do passivo) no exato valor do ativo adquirido. Para uma compra de ativo em cheque, a movimentação que ocorre no balancete é a de um aumento dos direitos dos bancos privados sobre o Banco Central (conta do passivo), uma vez que o receptor do cheque deverá depositá-lo em sua conta em um banco privado que, por sua vez, fará a compensação em nome do Banco Central. Em uma situação contrária à supracitada, ou seja, supondo uma venda de ativos (redução em uma de suas contas do ativo), os resultados seriam opostos àqueles apresentados na análise dos efeitos de uma compra de ativos. Dessa forma, uma venda de ativos pelo Banco Central retira moeda de circulação ou reduz os direitos dos bancos privados sobre si (redução em uma de suas contas do passivo). Perceba que um aumento/redução no passivo do Banco Central associado à compra/venda de ativos gera uma expansão/retração da oferta monetária. Alternativamente, variações dos ativos do Banco Central provocam alterações na oferta monetária na mesma direção da mudança do ativo porque o sistema de partidas dobradas impõe que isso ocorra. Diante disso, podemos concluir, conforme Krugman e Obstfeld (2005, p. 364), que: [...] qualquer compra de ativos que o Banco Central faça resulta em um aumento na oferta de moeda doméstica, enquanto qualquer venda de ativos que o Banco Central faça, automaticamente faz com que a oferta de moeda diminua. Entretanto, após estudar o balancete do Banco Central com o objetivo de compreender os movimentos da oferta monetária, o desafio agora é examinar os canais pelos quais a oferta de moeda doméstica se relaciona com intervenções do Banco Central no mercado de câmbio e, para isso, os exemplos do Krugman e Obstfeld (2005) permanecem sendo utilizados. Suponha que o Banco Central de Brasilis venda no mercado de câmbio R$ 100,00 em títulos estrangeiros e que o comprador faça o pagamento em dinheiro. Primeiramente, essa venda reduziria o estoque de ativos estrangeiros do Banco Central de R$ 1.000,00 para R$ 900,00, de modo que seu ativo total passaria a ser Qualquer compra de ativos que o Banco Central faça resulta em um aumento na oferta de moeda doméstica, enquanto qualquer venda de ativos que o Banco Central faça, automaticamente faz com que a oferta de moeda diminua. 24 Princípios de Finanças Internacionais R$ 2.400,00. Simultaneamente,essa venda provocaria uma diminuição do passivo total em R$ 100,00, mais especificamente, sua conta de moeda em circulação passaria a ter um valor de R$ 1.900,00. Assim, a oferta de moeda doméstica se reduz porque os títulos estrangeiros do Banco Central vendidos foram pagos em moeda doméstica, de modo que esse dinheiro sairia de circulação da economia para permanecer nos cofres do Banco Central. A Tabela 3 apresenta o balancete do Banco Central após a venda de um ativo estrangeiro em dinheiro. TABELA 3 – BALANCETE APÓS A VENDA DE UM ATIVO ESTRANGEIRO EM DINHEIRO Ativos Passivo Estrangeiros R$ 900,00 Depósitos de bancos privados R$ 500,00 Domésticos R$ 1.500,00 Moeda em circulação R$ 1.900,00 FONTE: Krugman e Obstfeld (2005, p. 365). Como já havia sido adiantado, observe que, mesmo após a venda de ativos estrangeiros, foi mantida a igualdade no valor do ativo e do passivo do Banco Central, entretanto, ambos tiveram uma diminuição de seus valores. Contudo, se o comprador desse ativo estrangeiro tivesse feito o pagamento com um cheque de um banco privado do país, então o Banco Central debitaria os R$ 100,00 diretamente na conta que esse banco privado possui junto à autoridade monetária, ou seja, na conta que o banco emissor do cheque possui no Banco Central e, semelhantemente, o banco privado também debitaria esse valor da conta corrente do comprador do ativo. Assim, o valor da conta de depósitos dos bancos privados no Banco Central do Brasilis passaria a ser de R$ 400,00 e essa operação de venda de ativo estrangeiro em cheque também reduziria a oferta monetária, como ilustrado na Tabela 4. TABELA 4 – BALANCETE APÓS A VENDA DE UM ATIVO ESTRANGEIRO EM CHEQUE Ativos Passivo Estrangeiros R$ 900,00 Depósitos de bancos privados R$ 400,00 Domésticos R$ 1.500,00 Moeda em circulação R$ 2.000,00 FONTE: Krugman e Obstfeld (2005, p. 365). Caso o exercício hipotético realizado anteriormente considerasse que o Banco Central de Brasilis estivesse comprando ativos estrangeiros no valor de R$ 100,00 e não vendendo, então, independentemente da forma que ocorresse o pagamento, ambas as modalidades causariam uma expansão na oferta de moeda doméstica. 25 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 Entretanto, nem sempre o Banco Central tem interesse em alterar a oferta monetária doméstica e, para isso, a autoridade monetária pode utilizar-se de uma política denominada “intervenção cambial esterilizada” para anular os efeitos de suas operações no mercado sobre a oferta de moeda doméstica. De acordo com Krugman e Obstfeld (2005), a política de intervenção cambial esterilizada é justamente a estratégia utilizada pelo Banco Central para neutralizar os efeitos de suas intervenções no mercado de câmbio sobre a oferta de moeda doméstica, por meio de transações iguais de ativos estrangeiros e domésticos em direções opostas. Para entender como isso pode ser utilizado, assuma, novamente, que o Banco Central de Brasilis venda R$ 100,00 de seus ativos estrangeiros e que o comprador realize o pagamento em um cheque emitido por um banco privado nacional nesse exato valor. Consequentemente, essa operação faria com que, concomitantemente, o ativo e o passivo do Banco Central diminuíssem R$ 100,00 e, por isso, a oferta monetária doméstica teria uma retração. No entanto, se o Banco Central quisesse anular os efeitos dessa venda de ativos estrangeiros sobre a oferta de moeda doméstica, então ele poderia realizar uma segunda operação no mercado com o objetivo de adquirir R$ 100,00 em ativos domésticos, tais como os títulos do governo, nos quais assume-se, por conveniência, que seriam pagos em cheque. Assim, essa compra do Banco Central aumentaria não somente seus ativos domésticos, mas também o seu passivo em R$ 100,00, compensando, assim, plenamente o efeito da venda de ativos estrangeiros sobre a oferta de moeda doméstica. Essas duas operações fariam com que o balancete do Banco Central tomasse a forma expressa na Tabela 5: TABELA 5 – BALANCETE APÓS A VENDA ESTERILIZADA DE UM ATIVO ESTRANGEIRO Ativos Passivo Estrangeiros R$ 900,00 Depósitos de bancos privados R$ 500,00 Domésticos R$ 1.600,00 Moeda em circulação R$ 2.000,00 FONTE: Krugman e Obstfeld (2005, p. 366). Note que no exemplo apresentado a redução de R$ 100,00 nos ativos estrangeiros do Banco Central é compensada por um aumento nesse mesmo valor na conta destinada aos ativos domésticos, de modo que o lado do passivo do seu balancete não sofre alterações. Portanto, uma venda de ativos esterilizada do Banco Central não tem nenhum efeito sobre a oferta de moeda doméstica. Sintetizando os exemplos analisados, a Tabela 6 apresenta um resumo dos efeitos dessas intervenções cambiais do Banco Central sobre a oferta de moeda doméstica, como segue: A política de intervenção cambial esterilizada é justamente a estratégia utilizada pelo Banco Central para neutralizar os efeitos de suas intervenções no mercado de câmbio sobre a oferta de moeda doméstica, por meio de transações iguais de ativos estrangeiros e domésticos em direções opostas. 26 Princípios de Finanças Internacionais TABELA 6 – RESUMO DOS EFEITOS DAS POSSÍVEIS INTERVENÇÕES CAMBIAIS DO BANCO CENTRAL Ação do Banco Central doméstico Efeito sobre a oferta de moeda doméstica Efeito sobre os ativos domés- ticos do Banco Central Efeito sobre os ativos estran- geiros do Banco Central Compra não esterilizada de câmbio + R$ 100,00 R$ 0,00 + R$ 100,00 Compra esterilizada de câmbio R$ 0,00 - R$ 100,00 + R$ 100,00 Venda não esterilizada de câmbio - R$ 100,00 R$ 0,00 - R$ 100,00 Venda esterilizada de câmbio R$ 0,00 + R$ 100,00 - R$ 100,00 FONTE: Krugman e Obstfeld (2005, p. 366). Não obstante, a oferta de moeda doméstica está fortemente conectada com o balanço de pagamentos de um país. Muito embora o balanço de pagamentos será detalhado no Capítulo 3 desse livro, é pertinente destacar, desde então, que essa ligação ocorre porque o saldo do balanço de pagamentos de um país é definido pelas compras líquidas de ativos estrangeiros pelo seu Banco Central deduzidas das compras líquidas de ativos domésticos pelos bancos centrais estrangeiros. Em virtude disso, conforme Krugman e Obstfeld (2005, p. 366) destacam: Se os bancos centrais não estão fazendo esterilizações e o país tem um superávit do balanço de pagamentos, por exemplo, qualquer aumento dos ativos estrangeiros no banco central implica um aumento na oferta de moeda doméstica. De forma semelhante, qualquer diminuição dos ativos de um banco central estrangeiro no país implica a diminuição na oferta de moeda estrangeira. Apesar do raciocínio lógico desenvolvido acima, Krugman e Obstfeld (2005, p. 366) afirmam que é difícil mensurar o quanto o balanço de pagamentos afeta a oferta de moeda, seja doméstica ou estrangeira, uma vez que isso depende de diversos fatores, tais como as metas macroeconômicas dos bancos centrais do mundo inteiro e seus arranjos institucionais e se as autoridades monetárias estão utilizando operações esterilizadas para mitigar os efeitos monetários das variações de suas reservas. A despeito disso, é possível apresentar os canais pelos quais o balanço de pagamentos afeta a oferta e a demanda de moeda estrangeira e doméstica. De acordo com Eiteman, Stonehill e Moffett (2002), a relação entre o balanço de pagamentos e a taxa de câmbio pode ser representada pela equação a seguir, a qual apresenta a versão simplificada de todas as contas que compõem o balanço de pagamentos de um país: 27 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 BP = TC + CC + CF + EO Onde: BP é o saldo no balanço de pagamentos; TC é o saldo em transações correntes; CC é o saldo da conta capital; CF é o saldo da conta financeira; EO são os erros e omissões. Simploriamente, o saldo em transações correntes (TC) refere-se à soma de três subcontas principais, a saber: i) a movimentação líquida de mercadorias(exportação e importação de bens, também chamada de balança comercial) e de serviços (serviços de manutenção, transportes, viagens, seguros e outros), ii) as rendas líquidas de capital e trabalho e iii) as rendas secundárias (antigamente eram chamadas de transferências unilaterais de renda) que dizem respeito às movimentações financeiras internacionais que não envolvem uma contrapartida de um bem ou serviço e nem o uso de um fator de produção. Já a conta capital (CC) registra transferências unilaterais de ativos reais, ativos financeiros ou ativos intangíveis entre residentes e não residentes. Por outro lado, a conta financeira (CF) contabiliza todos os tipos de fluxos de capitais entre o país e o resto do mundo, entre eles os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no país e o Investimento Brasileiro Direto (IBD) no exterior. Por fim, a soma das contas TC, CC e CF deveria ser simétrica ao saldo das reservas internacionais (RI) do país (nas quais são apuradas mais facilmente e com maior rigor pela autoridade monetária), mas na prática quase sempre não é. É nesse contexto que a conta de erros e omissões (EO) surge, para lidar com as falhas na contabilidade das contas TC, CC e CF, de modo que a conta de erros e omissões é calculada da seguinte forma: EO = RI - (TC + CC + CF). Destaca-se que o equilíbrio do balanço de pagamentos ocorre quando ele é próximo ou igual a zero, ou seja, BP = 0. Nesse caso, o balanço de pagamentos não afeta a oferta de moeda estrangeira. No entanto, quando isso não ocorre, o balanço de pagamentos estará em déficit (BP < 0) ou superávit (BP > 0). Os déficits indicam saídas de reservas cambiais superiores às entradas (desencadeando queda nas reservas cambiais do país). Por outro lado, os superávits apontam ingressos líquidos de recursos, com aumento dos estoques de ativos externos do país (aumento de reservas). 28 Princípios de Finanças Internacionais Portanto, é por meio dos desequilíbrios no balanço de pagamento que a oferta de moeda doméstica é afetada, mais especificamente, o aumento dos ativos estrangeiros (superávit) em um país pode provocar um aumento na oferta de moeda doméstica, enquanto que uma redução desses ativos (déficit) em um país retrai a oferta de moeda estrangeira. Além disso, os efeitos dos desequilíbrios no balanço de pagamentos dependem, em grande parte, do regime cambial adotado pelo país, a ser detalhado na sequência. O aumento dos ativos estrangeiros (superávit) em um país pode provocar um aumento na oferta de moeda doméstica, enquanto que uma redução desses ativos (déficit) em um país retrai a oferta de moeda estrangeira. Atividade de Estudo: 1 Considerando a teoria que determina a taxa de câmbio de curto prazo, leia cuidadosamente cada uma das afirmações a seguir e assinale V para as que considerar verdadeiras e F para as que considerar falsas: a) ( ) A moeda desempenha as funções de intermediária de troca, unidade de conta e reserva de valor. b) ( ) A moeda tem a função de unidade de conta porque ela é útil para armazenar poder de compra para o futuro. c) ( ) A base monetária de uma economia é dada pela soma do papel-moeda em poder do público e do volume de reservas mantido pelos bancos comerciais. d) ( ) A oferta de moeda de uma economia é dada pela soma do papel-moeda em poder do público e dos depósitos à vista. e) ( ) A demanda agregada por moeda é dada pela soma da demanda individual de moeda dos agentes econômicos, sendo determinada pela taxa de juros e pelo nível de emprego. f) ( ) A taxa de juros de equilíbrio é aquela que faz com que a demanda agregada por moeda real seja igual à oferta de moeda real. g) ( ) Uma redução na oferta de moeda diminui a taxa de juros. h) ( ) Um aumento no produto real eleva a taxa de juros da economia. i) ( ) O balancete do Banco Central funciona de uma maneira diferente dos balancetes das empresas privadas, as quais utilizam o princípio contábil das partidas dobradas. j) ( ) Uma compra de ativos pelo Banco Central provoca uma redução na oferta de moeda doméstica. 29 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 3 Taxas de Câmbio e Transações Internacionais Os países adotam moedas diferentes para estabelecer os preços que vigoram em seus respetivos mercados. Por exemplo, Brasil, União Europeia, Estados Unidos, Japão e China utilizam, respectivamente, como moeda oficial, o Real, o Euro, o Dólar, o Iene e o Renminbi. Em virtude dessas distintas moedas domésticas, as taxas de câmbio têm um papel fundamental para o comércio internacional e para os investimentos estrangeiros diretos, porque elas possibilitam comparar os preços dos bens e serviços dos países. Tecnicamente, quando a taxa de câmbio for expressa em unidade de moeda doméstica sobre unidade de moeda estrangeira, que é a maneira mais utilizada para cotar as moedas estrangeiras no Brasil, então ela é denominada taxa de câmbio direta. Por exemplo, caso esteja sendo analisada a taxa de câmbio entre as moedas do Brasil e dos Estados Unidos na forma de reais por dólar americano (R$/US$), então ela é cotada de maneira direta. No caso contrário, ou seja, se estiver cotada no formato de dólar americano por reais (US$/R$), então ela é chamada de taxa de câmbio indireta. Para se ter uma ideia, em 19 de julho de 2018, a cotação do dólar americano no Brasil na forma direta era de 3,88, o que significa dizer que o brasileiro precisaria ofertar R$ 3,88 para comprar US$ 1,00 (um dólar) naquela data. Nessa mesma data, a taxa de câmbio indireta era de 0,26, o que significa que, estando no Brasil, os americanos comprariam R$ 1,00 com apenas US$ 0,26. A literatura econômica tem sugerido que, preponderantemente, dois fatores influenciam diretamente a dinâmica da taxa de câmbio de um país, conforme destacou Carvalho (2007). De acordo com o autor, esses dois fatores são: i) o balanço de pagamentos e ii) o regime cambial do país emissor da moeda, dado que o primeiro deles exerce influência pelo seu papel na inserção do país na economia e no comércio internacional, e o segundo contribui pela forma como a autoridade monetária atua no país. Uma vez que os temas relacionados ao balanço de pagamentos foram brevemente discutidos na seção anterior ou aqueles mais complexos serão abordados no Capítulo 3, parte-se agora para analisar os regimes cambiais. Quando a taxa de câmbio for expressa em unidade de moeda doméstica sobre unidade de moeda estrangeira, que é a maneira mais utilizada para cotar as moedas estrangeiras no Brasil, então ela é denominada taxa de câmbio direta. 30 Princípios de Finanças Internacionais 3.1 Regimes Cambiais O regime cambial nada mais é do que a referência conceitual utilizada pelos países para estabelecer regras de atuação no mercado de câmbio, conforme conceitua Carvalho (2007). Dessa forma, o regime cambial irá determinar como o governo opera no mercado, ou seja, a maneira como suas intervenções são feitas para fins de política cambial. No entanto, o regime cambial de um país não é definitivo, ou seja, ele pode variar de acordo com as condições econômicas em que ele se encontra, especialmente aquelas relacionadas ao balanço de pagamento, e com as ideologias de seus governantes. Além disso, Frankel (1999) afirma que a teoria econômica ainda não tem uma resposta definitiva a respeito de qual seria o melhor regime de câmbio para um país adotar, especialmente porque nenhum regime cambial existente pode ser considerado adequado para todos os países e em todos os momentos, uma vez que as economias apresentam peculiaridades distintas. De modo geral, os países têm adotado um dos três diferentes regimes cambiais apresentados a seguir: 3.1.1 Taxa de Câmbio Fixa Trata-se de um regime no qual o governo estabelece uma meta fixa para a taxa de câmbio, de modo que a autoridade monetária do país se compromete a ofertar ou demandar a moedaestrangeira para manter essa meta mesmo em situações adversas, tais como em momentos de crises ou os ataques especulativos no mercado de câmbio. Entretanto, no curto prazo essa estratégia só é factível se o país tiver um bom nível de reservas estrangeiras e, no longo prazo, se o país for competitivo internacionalmente e apresentar ganhos de produtividade sustentáveis, além de possuir um balanço de pagamentos em equilíbrio permanente. Como resultado dessa política cambial, a inflação do país converge para a inflação do país detentor da moeda estrangeira na qual foi vinculada a moeda doméstica, o que pode ser considerado algo bom em certas circunstâncias. A convergência do nível de preços doméstico e estrangeiro ocorre porque as pressões inflacionárias internas tendem a ser mitigadas pela entrada de bens e serviços importados no mercado interno sempre com um preço competitivo. Esse tipo de estratégia pode ser útil em determinadas situações, tal como ocorreu no Brasil durante a implementação do Plano Real, momento em que a taxa de O regime cambial nada mais é do que a referência conceitual utilizada pelos países para estabelecer regras de atuação no mercado de câmbio. 31 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 câmbio ficou, durante algum tempo, cotada de um para um com o dólar americano e fez com que a inflação fosse reduzida consideravelmente. A necessidade de o balanço de pagamentos estar em equilíbrio para esse regime cambial pode ser melhor compreendida analisando uma situação de desequilíbrio no balanço. Supondo que a soma das contas corrente e de capital for maior que zero, então haveria um excesso de demanda por moeda doméstica e o governo deveria trocar moeda doméstica por moedas estrangeiras. Por outro lado, se a soma das contas corrente e de capital for menor do que zero, então existiria um excesso de oferta monetária doméstica, o que, por sua vez, obrigaria o governo a comprar moeda doméstica no mercado por meio de suas reservas de moeda estrangeira. Desse modo, os desequilíbrios no balanço de pagamentos fazem com que o país que utiliza a taxa de câmbio fixa sempre atue no mercado, fazendo com que acumule ou reduza suas divisas, algo que dificilmente é sustentável. 3.1.2 Taxa de Câmbio Flutuante O regime com taxa de câmbio flexível (free float) é adotado por países liberais nos quais o mercado de câmbio é totalmente livre. Isso implica que as taxas de câmbio são determinadas pela interação entre a oferta e a demanda de divisas, ou seja, o valor da taxa de câmbio dependerá, fundamentalmente, i) do volume de comércio de bens e serviços com o exterior (exportações e importações), ii) pelos movimentos de capitais internacionais (entradas e saídas de recursos) e iii) por variações nos níveis de preços provocadas pelos diferenciais entre as taxas de juros domésticas e internacionais. Além disso, uma vez que nesse regime o governo do país não tem nenhuma responsabilidade sobre a taxa de câmbio, eventuais desequilíbrios no balanço de pagamentos são automaticamente compensados por variações na taxa de câmbio, permitindo que o balanço de pagamento retorne ao equilíbrio novamente. 3.1.3 Target Zone Esse regime tem como objetivo principal minimizar a volatilidade das cotações da taxa de câmbio. Trata-se de um regime em que o governo estabelece uma banda cambial para a taxa de câmbio flutuar livremente dentro dela. Entretanto, sempre que a cotação cambial estiver fora desse intervalo estabelecido, o governo atua no mercado com o objetivo de colocá-la, novamente, dentro da banda estabelecida, seja comprando ou vendendo divisas. 32 Princípios de Finanças Internacionais Uma banda cambial nada mais é que um intervalo entre uma cotação cambial mínima e máxima na qual a taxa de câmbio pode flutuar. Por exemplo, se a banda cambial do real frente ao dólar for de R$ 3,20 a R$ 3,80, então a autoridade monetária só fará uma intervenção no mercado de câmbio, ofertando ou demandando dólares, se a cotação vigente estiver acima ou abaixo do intervalo supracitado. Nesse tipo de regime o governo confia que as variações na cotação da taxa de câmbio produzidas pelo mercado tendem a deixar o balanço de pagamento em equilíbrio, muito embora, eventualmente, o país realize intervenções no mercado para que a cotação da taxa se mantenha na banda definida. Nesse caso, os governos, geralmente, mudam as taxas de juros relativas para influenciar os fundamentos econômicos da determinação da taxa de câmbio, uma vez que taxas de juros internas mais altas atraem mais capital estrangeiro para o país, o que valoriza a moeda doméstica. Entretanto, intervenções desse tipo aumentam o custo dos empréstimos internos, afetando a demanda interna por moeda. Obviamente, com o tempo, cada um desses três regimes acabou sofrendo pequenas variações, originando outros regimes cambiais. Dessa forma, a seguir será apresentada uma lista dos nove regimes cambiais mais utilizados no mundo, incluindo os já apresentados anteriormente, partindo do mais flexível para o mais rígido, como segue: • Free float (livre flutuação) – regime caracterizado pela ausência total de intervenção governamental, ou seja, a taxa é estabelecida pelo livre mercado; • Managed float (livre flutuação administrada) – regime em que há, ou poderá haver, intervenção governamental, mas sem que exista uma meta para a taxa de câmbio; • Target zone ou band (faixa-alvo ou faixa de meta): regime que permite a taxa de câmbio flutuar dentro de uma margem ou faixa determinada pelo governo, com intervenção governamental para esse fim; • Basket peg (cesta de moedas): regime em que a taxa de câmbio se vincula a uma cesta de moedas; • Crawling peg (minidesvalorizações periódicas): regime no qual o governo intervém no mercado realizando pequenas desvalorizações periódicas da taxa de câmbio em curtos intervalos de tempo; • Adjustable peg (taxa ajustável de câmbio): regime que permite o governo ajustar a taxa de câmbio de acordo com as variações no balanço de pagamentos; 33 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 • Truly fixed peg (taxa rigidamente fixa): regime com total intervenção do governo no mercado, pois uma vez definida, a taxa de câmbio não se altera; • Currency board (conselho de moedas): regime que possui três características específicas: o a taxa de câmbio é fixa não somente pela política econômica, mas também por uma legislação nacional específica; o a taxa de câmbio sustenta a base monetária do país na relação de um para um no que se refere às reservas cambiais; o em caso de déficits no balanço de pagamentos, a taxa de câmbio se reajusta automaticamente para enxugar a base monetária. • Monetary union (união monetária): regime que incorpora uma moeda estrangeira como meio de pagamento em sua economia doméstica (dolarização da economia). 3.2 Preços Domésticos e Estrangeiros Conhecendo a taxa de câmbio de um país em uma determinada data, definida de acordo com seu regime cambial e com seu balanço de pagamentos, pode-se calcular o preço dos produtos em um país em termos da moeda de outro. Por exemplo, para um brasileiro, quando custaria uma água de 500 mL que é ofertada na União Europeia por €$ 3,00 euros? Responder essa questão só é possível se for conhecida a taxa de câmbio entre o Real (R$) e o Euro (€). Considerando uma taxa de câmbio direta, ou seja, reais por euros, cotada em R$ 4,00 por Euro, basta multiplicar o preço do produto ofertado no mercado europeu, cotado em moeda local, pela taxa de câmbio direta entre as duas moedas, como segue: (R$ 4,00/€$) x (€$ 3,00) = R$ 12,00 Assim, para um brasileiro comprar uma água na União Europeia, ele necessita desembolsar R$ 12,00. No entanto, é interessante conhecer as consequências sobre o preço dos produtos ofertados em um mercado externo, em termos de uma outra moeda, quando a taxa de câmbio se altera. Com esse intuito,suponha agora que a taxa de câmbio fosse de R$ 2,00 por euro e não de R$ 4,00 por euro, como anteriormente havia sido cotada, logo o preço da água ofertado na União Europeia em Reais se tornaria: 34 Princípios de Finanças Internacionais (R$ 2,00/€$) x (€$ 3,00) = R$ 6,00 Portanto, comparando ao primeiro preço calculado, percebe-se que o segundo foi reduzido pela metade, de maneira idêntica ao que ocorreu com a taxa de câmbio. Por outro lado, assuma, dessa vez, que a mudança na taxa de câmbio fosse diferente, de modo que ela foi alterada para R$ 6,00 por Euro. Nesse caso, o preço da água na União Europeia em reais seria de: (R$ 6,00/€$) x (€$ 3,00) = R$ 18,00 Logo, constata-se que esse último preço e taxa de câmbio aumentaram 50% em relação ao inicialmente calculado e informado, respectivamente. Essas variações na taxa de câmbio são muito comuns e denominam-se apreciações e depreciações, conforme será melhor detalhado a seguir. 3.3 Apreciação A apreciação cambial ocorre quando uma moeda se valoriza em relação ao preço das moedas estrangeiras. No exemplo apresentado anteriormente, a variação da taxa de câmbio de R$ 4,00 por Euro para R$ 2,00 por Euro é um exemplo em que o Real se apreciou frente ao Euro, uma vez que o preço, em moeda doméstica, da moeda estrangeira caiu. Portanto, a apreciação da moeda de um país frente a outra, ceteris paribus, torna os produtos estrangeiros mais baratos para o país que teve sua moeda apreciada. 3.4 Depreciação Contrariamente, a depreciação cambial acontece em situações de desvalorização de uma moeda frente a outra, ou seja, quando ocorre um aumento do preço, em moeda doméstica, da moeda estrangeira. Essa situação foi observada no exemplo anterior, no momento em que a taxa de câmbio passou de R$ 4,00 por Euro para R$ 6,00 por Euro. Dessa forma, ceteris paribus, a depreciação da moeda de um país torna os bens estrangeiros mais caros para o país que depreciou sua moeda. No entanto, sempre que uma moeda se deprecia com relação a outra, a segunda moeda acaba se apreciando em relação à primeira. Por isso, é muito A apreciação cambial ocorre quando uma moeda se valoriza em relação ao preço das moedas estrangeiras. A depreciação cambial acontece em situações de desvalorização de uma moeda frente a outra. 35 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 importante sempre especificar a qual moeda refere-se a mudança. Diante disso, Krugman e Obstfeld (2005, p. 243) concluem da seguinte forma: [...] quando a moeda de um país se deprecia, os estrangeiros descobrem que suas exportações estão mais baratas e os residentes domésticos descobrem que as importações do exterior estão mais caras. Uma apreciação tem efeito oposto: os estrangeiros pagam mais pelos produtos do país e os consumidores domésticos pagam menos pelos produtos estrangeiros. 3.5 Câmbio e Preços Relativos Além de permitir comparar preços em moeda doméstica com preços em moeda estrangeira, a taxa de câmbio pode ser utilizada para calcular os preços relativos de bens e serviços cotados em moedas distintas. Para melhor entender essa relação, novamente foi desenvolvido um exemplo, seguindo a apresentação de Krugman e Obstfeld (2005). Suponha que um francês deseja comprar um chinelo brasileiro que custa R$ 45,00 no Brasil. Se a taxa de câmbio (R$/€$) for de R$ 4,00 por euro, então o chinelo, em euros, custaria para o francês: (R$ 45,00)/(R$4,00/€$) = €$ 11,25 Portanto, o chinelo custaria €$ 11,25 para o francês. No entanto, caso o euro tivesse uma apreciação frente ao real, fazendo com que a taxa de câmbio alcançasse R$ 6,00 por euro, então o valor do chinelo, em euros, custaria: (R$ 45,00)/(R$6,00/€$) = €$ 7,50 Dessa forma, para o francês, uma valorização de sua moeda torna o chinelo brasileiro mais barato. Contudo, se ocorresse uma desvalorização do euro frente ao real tornando a cotação de R$ 2,00 por euro, o preço do chinelo, em euro, ficaria: (R$ 45,00)/(R$2,00/€$) = €$ 22,50 Ou seja, a desvalorização do euro frente ao real torna o chinelo, em euros, mais caro para o francês. Com base nesses cálculos, podemos calcular o preço de um bem em relação a outro, mesmo que os dois estejam apresentados em moedas diferentes. Para isso, retome o exemplo do brasileiro que viajou para a França e comprou uma Quando a moeda de um país se deprecia, os estrangeiros descobrem que suas exportações estão mais baratas e os residentes domésticos descobrem que as importações do exterior estão mais caras. Uma apreciação tem efeito oposto: os estrangeiros pagam mais pelos produtos do país e os consumidores domésticos pagam menos pelos produtos estrangeiros. 36 Princípios de Finanças Internacionais água de 500 mL que era vendida por €$ 3,00 euros. Quando a cotação do real frente ao euro era R$ 4,00, R$ 2,00 e R$ 6,00, o preço da água, em reais, para o brasileiro era de R$ 12,00, R$ 6,00 e R$ 18,00, respectivamente. Assim, para que esse indivíduo decida quanto deve gastar em chinelos brasileiros ou em água francesa, ele deverá traduzir seus preços a uma moeda comum, assim, calculará o preço dos chinelos em termos de água. Para isso, uma vez que o preço do chinelo brasileiro é de R$ 45,00, o preço dele em termos de água francesa é calculado da seguinte maneira: (R$ 45,00 por chinelo)/(R$ 12,00 por água) = 3,75 chinelo por água Paralelamente, o francês encontrará a mesma situação que o brasileiro: (€$ 11,25 por chinelo)/(€$ 3,00 por água) = 3,75 chinelo por água Após calcular o preço relativo para as demais cotações, os mesmos foram sintetizados na Tabela 7: TABELA 7 – VARIAÇÕES NAS TAXAS DE CÂMBIO (R$/€$) E O PREÇO RELATIVO DO CHINELO BRASILEIROS E A ÁGUA FRANCESA Preço Relativo / Taxa de câmbio (R$/€$) R$2,00 R$4,00 R$6,00 Chinelo/água 7,50 3,75 2,50 FONTE: O Autor (2005) Com base nos cálculos efetuados, percebe-se que se os preços monetários dos bens não forem impactados pelas variações da taxa de câmbio, então uma apreciação do real em relação ao euro tornaria a água mais barata em termos de chinelo, ou seja, cada chinelo compra mais água. Também se observa que uma depreciação do real em relação ao euro tornaria a água mais cara em termos de chinelo, ou seja, cada chinelo compra menos água. Por fim, Krugman e Obstfeld (2005, p. 244) definem um princípio geral para o que foi apresentado: [...] permanecendo tudo o mais constante, uma apreciação da moeda de um país eleva o preço relativo de suas exportações e diminui o preço relativo de suas importações. Inversamente, uma depreciação diminuiu o preço relativo das exportações de um país e eleva o preço relativo de suas importações. Uma apreciação da moeda de um país eleva o preço relativo de suas exportações e diminui o preço relativo de suas importações. Inversamente, uma depreciação diminuiu o preço relativo das exportações de um país e eleva o preço relativo de suas importações. 37 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 Atividade de Estudos 1 Considerando a teoria que determina a taxa de câmbio de curto prazo, leia cuidadosamente cada uma das afirmações a seguir e assinale V para as que considerar verdadeiras e F para as que considerar falsas: a) ( ) Quando a taxa de câmbio for expressa em unidade de moeda estrangeira sobre unidade de moeda doméstica, então ela é denominada taxa de câmbio direta. b) ( ) O regime cambial é a referência conceitual utilizada pelos países para estabelecer as suas regras de atuação no mercado de câmbio. c) ( ) O regime com taxa de câmbio flexível estabelece que a interação entre a oferta e a demanda atua livremente para determinar a taxa de câmbio de equilíbrio. d) ( ) Considerando uma taxa de câmbio direta, quando a moeda local se desvaloriza em relação às demais, os preços dos bens importados se tornam mais caros domesticamente. e) ( ) Uma depreciação cambial de um paíseleva o preço relativo de suas exportações e diminui o preço relativo de suas importações. 4 Mercado de Câmbio De modo geral, a interação entre a oferta e a demanda em um mercado determina o preço do bem ou serviço em análise. Semelhantemente, o mercado em que ocorre a interação entre os agentes econômicos que desejam comprar e vender moeda estrangeira, para enviar ou receber valores do exterior, é denominado mercado de câmbio. No momento em que a demanda for igual à oferta de moeda estrangeira, ou seja, estando o mercado em equilíbrio, então a taxa de câmbio é determinada. O mercado de câmbio é a plataforma, ambiente ou a estrutura física e institucional na qual a moeda de um país é trocada por uma moeda de uma outra nação, ou seja, local onde ocorrem as liquidações financeiras das moedas nacionais de vários países e das divisas internacionais. Assim, nesse mercado No momento em que a demanda for igual à oferta de moeda estrangeira, ou seja, estando o mercado em equilíbrio, então a taxa de câmbio é determinada. 38 Princípios de Finanças Internacionais ocorrem diversas movimentações de bens e de capitais entre os países, tais como importações e exportações, financiamentos e investimentos internacionais. As operações no mercado de câmbio ocorrem por intermédio de um instrumento financeiro denominado Contrato de Câmbio, no qual já estabelece, entre outras coisas, a cotação da taxa de câmbio utilizada para realizar a operação. Alternativamente, o mercado de câmbio pode ser entendido como o local destinado para transferir poder de compra entre os países e obter/fornecer crédito para as transações internacionais, além de poder mitigar o risco decorrente das variações cambiais, sendo tudo isso factível graças a um denominador comum entre os países, a moeda ou, atualmente, o dólar americano. Essas funções do mercado de câmbio serão apresentadas na sequência, nesse momento apenas serão analisadas as variações cambiais. De modo geral, atualmente os agentes econômicos podem realizar suas operações cambiais por meio de dois diferentes mercados: o mercado Over The Counter (OTC), também conhecido como operações em balcão, ou no mercado da bolsa de valores. No entanto, uma vez que eles possuem características diferentes, as peculiaridades da operação cambial demandada pelo agente envolvido indicarão qual será a forma mais adequada para uma determinada situação, não havendo, portanto, uma regra geral. Uma das principais diferenças entre essas duas modalidades é que os contratos cambiais negociados em balcão estabelecem preços, quantidades e cotações diretamente entre as partes envolvidas no acordo. Desse modo, são operações mais individuais, o que dificulta os envolvidos a transferir essa obrigação a um terceiro, caso seja de sua vontade, uma vez que esse contrato foi negociado para satisfazer as necessidades específicas dos participantes que o celebraram. Logo, o mercado de balcão faz com que as partes fiquem amarradas umas às outras até a data de vencimento do contrato. Por outro lado, o mercado de câmbio ocorrido nas bolsas de valores estabelece contratos padronizados, o que permite que eles possam ser negociados com um terceiro e, dessa forma, são mais líquidos se comparados àqueles registrados na modalidade OTC. Os contratos na bolsa, então, são intercambiáveis, isto é, podem ser repassados a outros participantes a qualquer momento. Outra diferença relevante é a existência de uma câmara de compensação no mercado da bolsa que, ao se interpor entre os negociantes, reduz o risco de inadimplência das operações. A Figura 6 ilustra esses tipos de ambiente de negociação e os riscos envolvidos nesses dois mercados. O mercado de câmbio pode ser entendido como o local destinado para transferir poder de compra entre os países e obter/ fornecer crédito para as transações internacionais, além de poder mitigar o risco decorrente das variações cambiais, sendo tudo isso factível graças a um denominador comum entre os países, a moeda ou, atualmente, o dólar americano. Os agentes econômicos podem realizar suas operações cambiais por meio de dois diferentes mercados: o mercado Over The Counter (OTC), também conhecido como operações em balcão, ou no mercado da bolsa de valores. Os contratos cambiais negociados em balcão estabelecem preços, quantidades e cotações diretamente entre as partes envolvidas no acordo. 39 Introdução ao Mercado de Câmbio Capítulo 1 FIGURA 6 – FUNCIONAMENTO DOS MERCADOS OTC E BOLSA FONTE: Prosper (1993, p. 22). Um outro aspecto interessante que deve ser observado é a volatilidade histórica existente nas taxas de câmbio. Muito embora essa volatilidade faça com que os agentes econômicos assumam maiores riscos, ela também cria oportunidades de lucros para eles, caso compreendam corretamente a administrar o risco cambial. Muitos fatores explicam o comportamento volátil da cotação das moedas nos mercados e a grandiosa extensão geográfica desse mercado e o alto grau de conexão entre os principais centros financeiros do mundo são alguns deles. O mercado de câmbio abrange o mundo inteiro, com transações ocorrendo em diversas moedas a todo segundo e taxas de câmbio se alterando a todo instante. Sabe-se que esse mercado inicia suas transações em Sydney e em Tóquio e segue em direção ao Ocidente, passando por Hong Kong e Cingapura, cruza por Bahrein e até encontrar os mercados europeus mais importantes do mundo, tais como os de Frankfurt, de Zurique e de Londres, como descrevem Eiteman, Stonehill e Moffett (2002). Posteriormente, ele cruza o Oceano Atlântico chegando em Nova York, Chicago e, por fim, São Francisco e Los Angeles. De acordo com Eiteman, Stonehill e Moffett (2002), a grande extensão do mercado de câmbio faz com que exista um “melhor horário” para operar nele, nesse caso, no início da tarde europeia, pois nesse momento há maior liquidez de divisas nos mercados internacionais, dado que aqueles da costa leste dos Estados Unidos e da Europa estão operando simultaneamente, fazendo com que se obtenha uma execução mais tranquila quando se necessita de altas quantias monetárias. Diferentemente, no final da tarde da costa leste americana, Mercados de Balcão (OTC) Mercados Organizado (bolsa) Risco de Preço Risco de Preço Pagamento de Prêmio Pagamento de Prêmio Pagamento de Prêmio Contrato Contrato Contrato Risco de Contrapartida Risco de Contrapartida COMPRADOR COMPRADOR VENDEDOR VENDEDORCÂMARA DE COMPENSAÇÃO O mercado de câmbio abrange o mundo inteiro, com transações ocorrendo em diversas moedas a todo segundo e taxas de câmbio se alterando a todo instante. 40 Princípios de Finanças Internacionais o mercado é mais escasso, uma vez que os agentes econômicos em Tóquio e Hong Kong estão apenas iniciando seu dia. Além disso, durante essas horas a Europa permanece de fora do mercado, sendo que a costa oeste americana continua operando, é precisamente nesse momento que os especuladores mais agressivos, ou os bancos centrais, tentam mover as cotações cambiais por meio de negociações volumosas, com o objetivo de influenciar o comportamento dos europeus nos mercados na manhã seguinte. Em virtude disso, muitos bancos multinacionais operam nas salas de negociações durante 24 horas por dia, para que eles não percam nenhuma oportunidade existente no mercado. Alguns países têm a maior parte das negociações ocorrendo em um saguão de negociações oficial, por meio de lances livres. Conforme explicam Eiteman, Stonehill e Moffett (2002), nesse caso as cotações de fechamento são publicadas como a taxa de câmbio para o dia e muitas operações comerciais e de investimento são baseadas nesse câmbio oficial, inclusive aquelas que ocorrem em mercados secundários. Além disso, em alguns países as empresas que operam no mercado de câmbio devem entregar as receitas de suas exportações
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