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ATUAÇÃO DE ENFERMAGEM NAS EMERGÊNCIAS 1ª Edição Universidade Braz Cubas - UBC Mogi das Cruzes - SP 2016 ATUAÇÃO DE ENFERMAGEM NAS EMERGÊNCIAS Milene Fernandes Munarin Reitor: Prof. Maurício Chermann EQUIPE DE PRODUÇÃO CORPORATIVA Gerência: Adriane Aparecida Carvalho Orientação Pedagógica: Karen de Campos Shinoda Coordenação de Produção: Diego de Castro Alvim Revisão de Textos: Adrielly Rodrigues Coordenação de Edição/Arte: Michelle Carrete Diagramação: Amanda Holanda Ilustração: Everton Arcanjo Impressão: Grupo VLS / Infotec / Jet Cópias Imagens: Fotolia / Acervo próprio 1ª edição 2016 Os autores dos textos presentes neste material didático assumem total responsabilidade sobre os conteúdos e originalidade. Proibida a reprodução total e/ou parcial. © Copyright UBC 2016 Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233 - Mogilar CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes - SP A Braz Cubas 5 A Braz Cubas Nascida em 1940, na cidade de Mogi das Cruzes, a Braz Cubas, que iniciou suas atividades com um pequeno curso preparatório, conta hoje com cerca de 20 mil alu- nos, entre as modalidades presencial e educação a distância. Ao longo desses 75 anos no mercado, a instituição passou por diversas trans- formações, abrigando, inclusive, cursos de ginásio, nível médio, comércio, até que chegou a Faculdade de Direito, em 1965. O ensino superior, estimulado pela política da educação, cresceu em todo o País e a Braz Cubas, atendendo às exigências e necessidades do mercado, continuou a crescer, tanto no aspecto acadêmico, quanto no social, até que em 1985, o Conse- lho Federal de Educação reconhece a então Federação das Faculdades Braz Cubas como Universidade. A importante notícia veio valorizar a região de Mogi das Cruzes e premiar uma longa carreira de bons serviços prestados à educação brasileira, formando profissio- nais competentes e capacitados ao mercado de trabalho. Missão Valorizar as pessoas, despertando talentos por meio de uma aprendizagem diferente para desenvolver hoje o ser humano para o amanhã. Visão Ser reconhecida como uma instituição de Ensino centrada na aprendizagem. Valores Cidadania, humanização, sabedoria, humildade e transparência. Sumário Sumário Apresentação 9 O Professor 11 Introdução 13 1Unidade I O Enfermeiro em situações de urgência e emergência 15 1.1 Acolhimento e triagem em unidade de emergência 16 1.2 Acolhimento e classificação de risco em unidade de emergência 18 1.2.1 Suporte básico de vida - SBV 21 1.2.2 Suporte avançado de vida 28 1.3 Considerações da unidade I 31 2Unidade II Atendimento cardiovascular 33 2.1 Infarto agudo do miocárdio 34 2.2 Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) 42 2.2.1 Morte súbita e parada cardiorrespiratória 46 2.3 Considerações da unidade II 51 3Unidade III Atendimento de emergência em neurologia, hemorragias, queimados, afogados 53 3.1 Hemorragias 54 3.1.1 Hemorragia digestiva alta (HDA) 54 3.1.2 Hemorragia digestiva baixa (HDB) 55 3.2 Acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico 56 3.3 Queimaduras 66 3.4 Afogamento 69 4Unidade IV Acidentes com animais peçonhentos, politrauma, intoxicações exógenas 71 4.1 Acidentes provocados por animais 72 4.1.1 Acidente com animais peçonhentos 72 4.1.2 Serpentes 72 4.1.3 Aranhas 73 4.1.4 Escorpiões 75 4.1.5 Abelhas e vespas 75 4.2 Intoxicações exógenas 76 4.2.1 Pesticidas agrícolas 76 4.2.2 Medicamentos depressores do sistema nervoso central 77 4.3 Politrauma 80 4.4 Considerações da unidade IV 83 Considerações Finais 85 Referências 87 Apresentação 9 Apresentação O enfermeiro atuante em unidades de urgência e emergência deve ser um profissional altamente qualificado e tecnicamente capaz de atender as mais diversas situações críticas cotidianas, que fazem parte da rotina de quem atua em unidades de atendimento emergenciais. Esse profissional é o que geralmente tem o primeiro contato com o paciente logo em sua entrada na unidade, realizando o que chamamos de acolhimento de enfermagem ou classificação de risco, onde a partir daí seu atendimento será dire- cionado de forma rápida e eficaz dentro de suas necessidades até que sua alta seja concedida pelo profissional médico. Independente da área de atuação, o enfermeiro deve ser capaz de reconhecer e atuar nas mais diversas situações que comprometam ou não a integridade física e psíquica de seus pacientes. Geralmente, é esse o profissional que identifica proble- mas e realiza o primeiro atendimento até a chegada de outras equipes. As situações de urgência e emergência podem acontecer nos mais diversos cenários, dessa forma, qualquer profissional enfermeiro, seja ele atuante nas áreas de emergência ou nas demais áreas da Enfermagem, deve estar preparado para os primeiros cuidados de manutenção da vida do paciente. O Professor 11 O Professor Prof.ª Milene Fernandes Munarin Milene Fernandes Munarin é enfermeira graduada pela Universidade Paulista – UNIP (2013), pós-gra- duada em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP (2015). Atuou durante 2 anos em Unidades de Pronto Socorro de Hospitais privados na cidade de SP e há 1 ano como coordenadora de enfer- magem em clínicas ambulatoriais de especialidades. Introdução 13 Introdução O Enfermeiro é o profissional da saúde responsável pelo atendi- mento de alta complexidade executado pela equipe de enfermagem, além de ser o responsável por toda sistematização da assistência execu- tada pela equipe em âmbito hospitalar. As unidades de urgência e emergência diariamente atendem uma demanada razoável de pacientes nas mais diversas situações, com di- ferentes peculiaridades, e o enfermeiro será o primeiro contato do pa- ciente na unidade que, por sua vez, terá como primeira atitude realizar o acolhimento e a classificação de risco segundo queixa e apresentação de sinais e sintomas, dando início assim à trajetória do paciente no âmbito hospitalar. Em situações de extrema urgência o profissional enfermeiro tem grande importância no atendimento, avaliando o planejamento da assis- tência e, para isso, deve saber reconhecer algumas situações que levem a vida a risco iminente. O enfermeiro acompanha, planeja, executa e reavalia a assistência prestada aos pacientes em todos os momentos, é através dele que as equipes de enfermagem conseguem dirigir sua assistência de maneira adequada e sistematizada. Sendo assim, entende-se que um bom enfermeiro tem um vasto conhecimento sobre diversas áreas e situações que possam agravar o estado geral do paciente que procura as unidades de atendimento e o preparo técnico e científico é imprescindível para esse profissional. Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 15 1Unidade I O Enfermeiro em situações de urgência e emergência Objetivos da Unidade: • Conhecer a atuação do enfermeiro em unidade de emergência. • Compreender o acolhimento de Enfermagem e triagem em unidade de emergência. • Identificar o Suporte Básico de Vida (SBV). • Identificar o Suporte Avançado de Vida. Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 16 Habilidades e Competências da Unidade: • Receber o paciente em unidade de emergência de forma adequada e eficaz. • Realizar o acolhimento e a classificação de risco de maneira assertiva. • Atendimento básico à vítima de parada cardiorrespiratória. • Atendimento avançado à vítima de parada cardiorrespiratória. 1.1 Acolhimento e triagem em unidade de emergência Unidades de urgência e emergência existem em hospitais de grande e médio porte, onde recebemos pacientes em diversas situações de urgência e emergência, sejam eles pacientes graves ou potencialmente graves. Serviços de emergência prestam atendimento aos pacientes que apresen- tam agravos a saúde, garantindo manobras de manutenção à vida com condições para assistência no local ou transferência para outro local especializado. Os estabelecimentos de pronto-socorro oupronto-atendimento, devem ser es- truturados de forma a garantir atendimento especializado a pacientes em estado de urgência e emergência, proporcionando assim, manutenção à vida (CREMESP, 2001). 9 ocorrência imprevista com agravo a saúde, com ou sem risco de morte, sendo que o paciente necessita de as- sistência médica e de enfermagem imediata (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). 9 condições de agravo a saúde com risco de morte emi- nente, necessitando de tratamento imediato de equipe médica e enfermagem (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). URGÊNCIA EMERGÊNCIA A sala de emergência deve estar equipada com material de reanimação car- diorrespiratória, sendo esses: aspiração respiratória, oxigenação, materiais para pro- Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 17 cedimentos de emergência, monitor cardiológico, carrinho de medicações e desfibri- lador automático. Da mesma forma, é necessário o apoio de serviços fundamentais como laboratório de análises clínicas, radiologia, centro cirúrgico, unidade de terapia intensiva, unidade transfusional e farmácia (CREMESP, 2001). Em unidades de saúde onde são desenvolvidas atividades de enfermagem, o Conselho Federal de Enfermagem - COFEN, normatiza a obrigatoriedade da presença do profissional enfermeiro em tempo integral (COREN, 2000). Cabe ao enfermeiro a organização da unidade, bem como a supervisão, o planejamento e a organização da assistência de enfermagem prestada aos pa- cientes. Além disso, o enfermeiro deve coordenar e distribuir equipe, garantir a segurança da assistência no atendimento ao paciente e ainda garantir o canal de comunicação entre as equipes multidisciplinares e, quando da necessidade de realização de procedimentos de alta complexidade, é ele quem deve desenvolver (COREN, 2000). Quando pensamos em um serviço de emergência, pensamos logo de cara em grande demanda de pacientes, demora no atendimento, falta de qualidade no aten- dimento, insatisfação - isso independe do local onde o serviço é prestado. Atualmen- te, tantos serviços públicos quanto serviços privados apresentam o mesmo fluxo de atendimento à pacientes (PARANHOS et.al., 2007). Na unidade de emergência, geralmente contamos com o serviço de classifica- ção de risco, onde o Enfermeiro, por meio de uma avaliação (sinais vitais e avaliação geral da gravidade de cada caso particularmente) e utilizando de sistema de classifi- cação escolhidos - dependendo do nível de gravidade – define se o paciente perma- nece no aguardo de atendimento médico e de enfermagem, respeitando os prazos estabelecidos. A admissão do paciente em unidade de emergência segue de forma sistemati- zada, seguindo as etapas de avaliação, diagnóstico, planejamento e implementação da assistência de forma suscinta e resolutiva, abordando os pontos principais e suas queixas (PARANHOS et.al., 2007). Após a avaliação, um planejamento médico e de enfermagem deve ser reali- zado de forma integrada entre as equipes - isso engloba a prescrição médica e de enfermagem, medicações a serem administradas, os exames e coletas, curativos a serem realizados e a forma de realizá-los, instalação de suporte ventilatório (onde o enfermeiro atua ativamente na hora da intubação orotraqueal), monitorização car- Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 18 díaca e de pressão arterial e, para que a assistência multidisciplinar siga um roteiro efetivo, utiliza-se algumas ferramentas que indicam que o cuidado está sendo efeti- vo, como escalas para avaliação de estado de coma e escala para avaliação de per- cepção sensorial. É de extrema importância que todas as condutas realizadas para o paciente es- tejam devidamente documentadas em seu prontuário e é dever da equipe multidis- ciplinar garantir que as informações sejam transmitidas de maneira clara e objetiva. É de responsabilidade do enfermeiro dirigir, coordenar, planejar, avaliar, prescrever, delegar e supervisionar a assistência de enfermagem prestada confor- me o grau de dependência do paciente, os cuidados que deverão ser executados devem estar descritos minuciosamente de maneira a manter uma assistência de qualidade e padronizada (COREN, 2000). A descrição das atividades desenvolvidas com os pacientes no pronto-socorro é de extrema importância, inclusive para a continuidade do atendimento em âmbito ambulatorial ou até mesmo em unidades de terapia intensiva. O método de avalia- ção do processo de assistência requer um prontuário completo com a descrição de cada ato praticado pela equipe multidisciplinar (PARANHOS et.al., 2007). A implementação da SAE – Sistematização da Assistência em Enfermagem - em pronto-socorro exige muito comprometimento da equipe de enfermagem, pois mui- tas vezes são realizados diversos atendimentos simultaneamente com poucos re- cursos humanos para suprir a demanda. Para melhorar esse fluxo de atendimento, já existe disponível, na grande maioria dos hospitais públicos e privados, fichas com roteiro de atendimento, que auxiliam o enfermeiro na coleta de dados, diagnóstico e prescrição de enfermagem, sendo desta forma possível realizar um atendimento de enfermagem sistematizado e individualizado em uma unidade de urgência e emer- gência (PARANHOS et.al., 2007). 1.2 Acolhimento e classificação de risco em unidade de emergência O enfermeiro é o profissional habilitado para realização da classificação de ris- co, conforme consta na lei do exercício profissional como atividade privativa do En- fermeiro. Mesmo com treinamento e conhecimento sobre os materiais disponíveis Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 19 para realização da classificação de risco de pacientes, a maior dificuldade encontrada atualmente é a divergência de opiniões dos profissionais quanto a gravidade de cada um, o que nos mostra a necessidade de protocolos de atendimento organizacionais (COREN, 2001). Na classificação de risco são utilizados instrumentos que nos permitem ava- liar o paciente de maneira rápida e eficaz e, para isso, utilizamos as escalas ordinais que possibilitem a identificação de pacientes que têm a necessidade de atendimento imediato, com ameaça à instabilidade de sinais vitais, urgência, potencial urgência e não urgência (PARANHOS et.al., 2007). Atualmente, os instrumentos mais utilizados nas classificações de risco são a escala de Manchester e a ESI (Emergency Severity Index), ambas auxiliam na sinalização através de cores ou na quantidade de recursos que o paciente utilizará em sua esta- da no setor de pronto-socorro. Protocolo Manchester Essa escala teve sua origem na Inglaterra, na cidade de Manchester, e tem por finalidade classificar o risco do paciente por cores - essas cores subdividem-se em vermelho, laranja, amarelo, verde e azul e cada cor tem um tempo de espera estima- do, conforme demonstrado no quadro abaixo: CRITÉRIO PRAZO DE ATENDIMENTO SITUAÇÃO Vermelho (Atendimento Imediato) RISCO IMINENTE DE VIDA Laranja (Pode levar até 30’) URGÊNCIA Amarelo (Pode levar até 1h) POTENCIALMENTE URGENTE Verde (pode levar até 2h) NÃO URGENTE Azul (Pode levar até 4 h) ORDEM DE CHEGADA Fonte: COREN, 2012 O profissional Enfermeiro, ao avaliar o paciente na classificação de risco cons- tatando-o como nível vermelho, deve encaminhar o paciente diretamente a sala de emergência para que sejam prestados os primeiros atendimentos pela equipe multidisciplinar, pois esse nível revela risco iminente à vida (PARANHOS et.al., 2007). O profissional Enfermeiro, quando classifica o paciente nível laranja, deve encaminhá-lo para atendimento multidisciplinar imediato, pois o mesmo apresenta grande probabilidade de instabilidade de sinais vitais, com risco significativo perma- nente ao paciente. Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 20 O profissional Enfermeiro, quando classifica o paciente nível amarelo, deve encaminhá-lo ao atendimento médico por serum caso com potencial de gravidade elevado, porém o paciente não apresenta risco imediato à vida. O profissional Enfermeiro, quando classifica o paciente nível verde, após ava- liação em sala de triagem encaminha o paciente à sala de espera para que aguarde o atendimento médico, pois seu caso não apresenta riscos imediatos à vida, sendo considerado atendimento preferencial de atenção primária (PARANHOS et.al., 2007). O profissional Enfermeiro, ao classificar o paciente como nível azul, também o encaminha para a sala de espera, pois seu atendimento não necessita de condutas da equipe multidisciplinar com urgência, podendo assim aguardar sua vez. No caso de protocolo de Manchester, se o atendimento for realizado via ficha manuscrita, ou seja, sem sistema operacional, para que a ficha seja corretamente si- nalizada é utilizada sinalização tipo adesivo colorido, por exemplo. Caso seja feito em sistema de atendimento computadorizado, a classificação é feita por via digital, e na tela do médico antes da chamada do paciente já é possível observar sua classificação (PARANHOS et.al., 2007). Protocolo ESI (Emergency Severity Index) Essa escala foi desenvolvida pela agência norte-americana para qualidade e pes- quisa de cuidado a saúde. Separa os pacientes que não podem esperar pelo atendi- mento médico daqueles que podem esperar - para esses pacientes o enfermeiro rea- liza a triagem e verifica a quantidade de recursos necessários, sendo laboratoriais ou de diagnósticos por imagem, ou apenas a medicação que o paciente vai fazer uso após sua consulta com o médico.São separados em níveis (GILBOY et al., 2005): 9 Nível 5 - Não irá utilizar nenhum recurso, no máximo receita para medi- camentos em casa. 9 Nível 4 - Irá utilizar apenas um recurso, como medicação endovenosa. 9 Nível 3 - Irá utilizar dois ou mais recursos, como realização de um ultras- som, medicação e exames laboratoriais. 9 Nível 2 - Estado de saúde potencialmente grave, necessário ser atendido de maneira rápida, risco de instabilidade de sinais vitais, irá usar mais de 3 recursos. 9 Nível 1 - Atendimento imediato por risco de morte, utilizar todos os recur- sos disponíveis na unidade para atendimento e restabelecimento da vida. Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 21 Algoritmo Protocolo ESI: Necessidade de Manobras de Reanimação? Sim Sim Nenhum Um Vários Não Não Não Considerar Situação de alto risco ou letargia ou dor severa? Quais os recursos necessários para o atendimento? Nível 1 Nível 2 Nível 5 Nível 4 Nível 3 Zona de risco, avaliar SSVV Fonte: Adapatado de Lähdetet.al., 2009, Gilboy et. al., 2005 1.2.1 Suporte básico de vida - SBV Se realizarmos um atendimento de emergência com qualidade aumentaremos as chances de sobrevida da vítima. O suporte básico de vida é composto de três etapas. São elas: Compressões torácicas1 Abertura de vias aéreas e respiração2 Desfibrilação3 Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 22 Ao contrário da abordagem com apenas um socorrista em âmbito hospitalar, a RCP é realizada por equipe multiprofissional, formada por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas. As equipes recebem treinamento para realização de suporte básico e avançado de acordo com protocolos institucionais, guidelines e diretrizes. Em âmbito hospitalar para que possamos realizar um atendimento de quali- dade a pacientes em PCR, é necessário seguir algumas instruções básicas que são: Ao deparar-se com paciente desacordado verificar a responsividade, se respira (expansão de tórax) ou se respira de maneira anormal (gasping); Chamar por ajuda, solicite desfibrilador (checar ritmo); Verificar pulso (dar preferência a pulso central); Iniciar a RCP. A primeira pessoa que se deparar com a vítima deve primeiro certificar-se que o local para atendimento não oferece riscos a ele e a própria vítima. Em seguida deve verificar se a vítima responde ao comando de voz (bater no ombro da vítima e dar o comando de voz: Você está bem?) (American Heart Association, 2011). Verificar se a vítima está respirando ou com respiração anormal (o que chamamos de gasping agônico), chamar por ajuda imediatamente e solicitar ao colega mais próximo que disponibilize o DEA (desfibrilador). Para verificar o pulso, localize a traquéia usando 2 ou 3 dedos. Deslize os dedos até a região entre a traquéia e os músculos laterais do pescoço, onde é possível pal- par o pulso carotídeo. Deve-se sentir o pulso por no mínimo 5 segundos, na ausência de pulso devemos iniciar a RCP (ressuscitação cardiopulmonar) imediatamente, ini- ciando pelas compressões torácicas, seguindo a sequência C-A-B. As compressões torácicas devem usar a relação compressão-ventilação, 30 compressões por 2 ventilações, o tórax deve ser comprimido com força e rapidez a uma frequência mínima de 100 compressões por minuto em uma profundidade de 5 cm, permitindo o retorno do tórax a cada compressão realizada, devendo evitar interrupções. Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 23 Nota: As compressões bombeiam o sangue do coração para o resto do corpo, se a vítima estiver contra uma superfície rígida a força na compressão do tórax será mais efetiva criando assim melhor fluxo sanguíneo sistêmico. Para a abertura de vias aéreas podemos utilizar dois métodos com a finalidade de realizar uma ventilação efetiva: Inclinar a cabeça elevando a mandíbula do queixo e anteriorização/subluxação da mandíbula e administração com bolsa – valva – máscara se existe a suspeita de lesão cervical; Incline a cabeça – elevando o queixo se a anteriorização/subluxação da mandíbula não abrir via aérea, essa manobra alivia a obstrução da via aérea da vítima que não responde, obstrução pela língua, por conta da obstrução da via aérea superior (American Heart Association, 2011). 1 2 Para ventilações com bolsa – valva – máscara, o método mais comum usado por profissionais da saúde para administrar ventilação por pressão positiva durante a RCP, a técnica de ventilação requer treinamento e não pode ser executada por apenas um socorrista. As ventilações devem ser administradas a cada 1 segundo, pois usando esse método interrompem-se as compressões torácicas o mínimo possível e vai evitar hiperventilações. Durante a RCP em âmbito intra-hospitalar devemos: 9 Posicionar ao lado da vítima para executarmos compressões torácicas, comprimindo o tórax com 5 cm de profundidade e uma frequência mí- nima de 100/minuto, permitir que ocorra o retorno total do tórax após cada compressão, usar a relação 30:2, trocar a função com outro socorris- ta para evitar exaustão. 9 Manter vias aéreas pérvias com inclinação da cabeça-elevação do quei- xo, anteriorização/subluxação da mandíbula, administrar ventilações para que se produza elevação do tórax e evitar hiperventilações (American Heart Association, 2011). Algoritmo de simplificado de RCP, segundo diretrizes American Heart Association: Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 24 Algoritmo simplificado de SVB BLS em adultos Não responde Não respira ou não respira normalmente Ativar o sistema de resposta de emergência a obtenção de um desfibrilador DEA Verificar pulso Iniciar a RCP CAB 5 Ciclos de 30:2 30 Compressões em 18 segs. ou menos Comprovar o ritmo/ aplicar descargas se for o caso Repetir a cada 2 minutos Com prim ir com força • Comprimir co m f orç a Ao menos 100 X ’ Fonte: Reproduzido da American Heart Association, Destaque das Diretrizes da American Heart Association, 2011. Desfibrilador Automático Externo para adultos e crianças a partir de 8 anos de idade A utilização do DEA é de extrema importância para sobrevivência na PCR súbita por fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso. O DEA é um dispositivo automático externo capaz de identificar ritmos car- díacos que necessitem de choque.O DEA é bem simples de ser manuseado para que tanto pessoas leigas e profissionais da saúde consigam operá-lo de maneira correta (American Heart Association, 2011). O dispositivo deve ser posicionado ao lado da vitima, a frente do profissional que irá manuseá-lo. Os ritmos específicos para choque são: Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 25 FV (Fibrilação ventricular), dis- túrbio de sinapse nas células cár- dicas, o que dificulta a contração das fibras cardíacas de maneira uniforme, dificultando o bombea- mento de sangue de forma sistê- mica para todo o organismo. TV (Taquicardia ventricular) caracteri- za-se por um ritmo ventricular superior a 30 segundos, podendo causar colapso he- modinâmico e sincope em pacientes com doença cardíaca prévia, em pacientes com TV sem pulso devemos seguir o protocolo de atendimento de PCR . Como Manusear um Desfibrilador Automático Ao ligar o dispositivo, o mesmo irá dar as orientações necessárias para as se- guintes etapas: 9 Abrir o estojo e retirar as pás geralmente acopladas na parte inferior do aparelho; 9 Aplicar as pás sobre o tórax desnudo do paciente, sendo que uma pá deve ser colocada no tórax superior a direita, abaixo da clavícula e a outra na linha axilar média na direção do mamilo esquerdo; 9 Acoplar os cabos das pás ao aparelho; 9 Manter a vítima em local seguro, solicitar para que os demais profissionais ou socorristas afastem-se do paciente; 9 O aparelho irá realizar a leitura do ritmo cardíaco que pode durar entre 5 e 15 segundos, constatando ritmo ventricular anunciará e em seguida administrará o choque; 9 Esse choque irá produzir uma contração repentina dos músculos do pa- ciente; 9 O aparelho não localizando um ritmo chocável irá transmitir a ordem para que se inicie a RCP, ou após o choque irá produzir a mesma ordem, deve- se então retomar as compressões torácicas; 9 Após 5 ciclos de compressões ou 2 minutos o aparelho realizará outra lei- tura do ritmo cardíaco, se o choque não for recomendado, irá novamente solicitar a ordem de iniciar a RCP, caso contrário irá administrar novamen- te um choque. Algumas situações podem dificultar o manuseio do aparelho, sendo assim os profissionais de saúde envolvidos terão que realizar algumas tarefas imediatas a ponto de não prejudicar o atendimento ao paciente, tais como (American Heart Association, 2011): Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 26 Se o tórax do paciente tiver muitos pelos o aparelho pode não conseguir realizar a leitura, e emitirá a mensagem solicitando a verificação dos eletrodos, nesse caso o profissional deverá realizar a retirada do excesso de pelos com as próprias pás do dea se não houver disponível dispositivo específico para tal atividade, porém o mesmo deve se certificar que tenha em mãos outro jogo de pás. Se o paciente estiver molhado ou imerso em água, deve-se movimentar o paciente para um local seco, ou enxugar o corpo da vítima, pois a água é condutora de ele- tricidade, e ao disparar o choque a água irá conduzir a eletricidade do choque pela pele, o que irá prejudicar que a carga adequada do choque chegue ao coração. Pacientes portadores de marca-passo cardíaco são vítimas que têm um risco maior de morte súbita, ao identificar que o paciente é portador desse tipo de dispositivo evita-se colocar a pá sobre o aparelho que poderá bloquear o estímulo elétrico, as- sim como não instalar as pás sobre adesivos de medicação que causam o mesmo efeito de bloqueio do estímulo elétrico. Noções básicas para atendimento de emergência em Pediatria Acredita-se que crianças antes de evoluírem para uma PCR, primeiramente apresentam bradicardia e parada respiratória. Para o reconhecimento de PCR em criança utilizamos o mesmo método que no adulto, palpando as carótidas ou femoral, na ausência de pulso e a observação de perfusão deficiente inicie as compressões cardíacas e as ventilações, seguindo a regra de 15:2 (American Heart Association, 2011). A profundidade das compressões em crianças é de um terço da profundidade anteroposterior do tórax. Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 27 Siga as etapas abaixo para execução de SBV para crianças: • Devemos avaliar o padrão respiratório da criança, se a mesma não responde r ou não apresentar movimentos respiratórios ou estiver em gasping agônico, devemos iniciar as manobras de reanimação; • Verificar se a criança apresenta pulso carotídeo ou femoral, • Em 10 segundos se não observamos pulso ou a oxigenação não estiver adequ a- da deve-se executar ciclos compressões seguidos de ventilações; • Para a realização das ventilações assim como no adulto, utilizamos dispositiv o barreira, que pode ser máscara pocket ou bolsa- valva- máscara (ambú), co- nectado a rede de oxigênio. A mascará utilizada deve ter tamanho adequado a criança para que evitemos escapes ventilatórios. Certifique-se que a máscara escolhida cubra o nariz e a boca da criança, deixando apenas os olhos e o quei- xo para fora; • Após a seleção do dispositivo a ser utilizado, deve-se realizar a inclinação d a cabeça da criança para abertura das vias aéreas. Acople a máscara sobre sua face e a conecte a rede de oxigênio se a opção for o ambú, e assim inicie o ciclo ventilatório. Quando a criança apresenta PCR subitamente, a quantidade de oxigênio no sangue diminui, pois sofre insuficiência respiratória ou choque. Na maioria dos bebês e crianças em PCR somente a aplicação das compressões torácicas não supre as demandas de perfundir adequadamente coração e cérebro, por esse motivo é necessário que façamos as compressões seguidas das ventilações (American Heart Association, 2011). RCP em bebês A RCP em bebês é bem similar a pediátrica e em adultos, sendo as principais diferenças: • Verifica-se o pulso em artéria braquial; • Compressões cardíacas são realizadas apenas com 2 dedos; • A profundidade das compressões é de um terço da profundidade do tórax, aproximadamente 4 cm; • Relação compressão ventilação idênticas as pediátricas 15: 2; • Aplique 5 ciclos de compressões ou dois minutos ininterruptos. Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 28 Utilização do DEA em bebês e crianças de 1 a 8 anos de idade Ao usar um DEA em criança menor de 8 anos ou um bebê, utilize as pás espe- cíficas pediátricas. A colocação das pás segue o mesmo padrão de colocação em adultos, o apa- relho dará as instruções da mesma maneira após realizar a leitura do ritmo cardíaco apresentado pela criança. A RCP deve ser iniciada sempre após leitura de ritmo, não sendo constatado, necessário a administração do choque. O bebê deve ser mantido em superfície rígida durante todo o atendimento, em local seguro para que o cuidado seja prestado de maneira rápida e objetiva (American Heart Association, 2011). 1.2.2 Suporte avançado de vida Entende-se que um atendimento de PCR de alta qualidade aumenta a chance de sobrevida do paciente; equipe multidisciplinar bem alinhada em que cada indiví- duo sabe qual sua atribuição durante um atendimento, apresenta melhores resulta- dos pós procedimento. As equipes de atendimento geralmente dão maior ênfase na RCP as compressões torácicas, que por sua vez se bem executadas conseguem um bombeamento de sangue efetivo sistemicamente (American Heart Association, 2015). Seguindo novas diretrizes segundo AHA hoje compreendemos que (American Heart Association, 2015): 9 As compressões torácicas devem alcançar uma frequência cardíaca míni- ma de 100 a 120 bpm/minuto; 9 Ao aplicar as compressões a profundidade que deve ser aplicada no tórax do paciente deve ser de 5 cm em adultos médios, evitando excesso na compressão observando retorno do tórax e evitando que essa compres- são ultrapasse 2,4 polegadas aproximadamente 6 cm; 9 Quanto às ventilações com via aérea avançada (I.O.T), aplicamos uma ven-tilação a cada 6 segundos, enquanto as compressões torácicas permane- cem contínuas sem interrupções. Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 29 O Atendimento avançado em vítimas que apresentem PCR compreende: 9 Se o paciente apresentar ritmo chocável FV /TV ao chegar no ambiente hospitalar imediatamente deve ser monitorizado o paciente ao DEA e, se necessário, administrar um choque por desfibrilação a 200 j, após verifi- car ritmo cardíaco, observa-se sinais de reperfusão periférica e central, na ausência inicia-se manobras de RCP; 9 Realiza-se a intubação orotraqueal, de forma a manter vias aéreas pérvias, sem interrupções durante as compressões torácicas, juntamente com a disponibilização de acesso venoso periférico calibroso, para início de infu- sões medicamentosas; 9 Para ritmos não chocáveis devemos manter manobras de RCP, infusão de inotrópicos positivos (adrenalina), não se recomenda pelo novo protocolo de atendimento ACLS que se utilize a vasopressina, pois não existem rela- tos de efeitos benéficos específicos ao paciente. 9 O intervalo entre as medicações e a checagem do ritmo cardíaco do pa- ciente deve ser feito a cada 2 minutos ou ciclos de 30 compressões, o pulso palpável em adultos preferencialmente deve ser o carotídeo em se- guida o femoral, em crianças de 8 anos o pulso palpável é o femoral e em bebês o pulso braquial; 9 Após estabilizar o quadro e corrigir a causa da PCR, o paciente deve ser en- caminhado ao serviço de unidade de terapia intensiva para monitorização e estabilização do quadro inicialmente apresentado. Manutenção da RCP e reavaliação do ritmo As manobras devem persistir inclusive após detecção de um ritmo chocável, não é recomendado checar o pulso ou o ritmo logo após o choque, ao invés disso deve-se começar prontamente a RCP. O diagnóstico diferencial consiste na identificação das causas e tratamentos possíveis para as causas da assistolia ou Atividade Elétrica sem pulso. Para cada uma dessas alterações deve-se utilizar um tratamento específico, en- quanto as demais medidas de PCR são adotadas (American Heart Association, 2015). Não devemos esquecer que para confirmação de intubação orotraqueal, deve- se solicitar um RX de tórax, para avaliar mal posicionamento do tubo, qua também deve ser feita pela ausculta dos cinco pontos: região epigástrica, ápice esquerdo, ápice direito, base pulmonar esquerda e base pulmonar direita. Unidade 1 O enfermeiro em situações de urgência e emergência 30 Observe o quadro abaixo com algoritmo de PCR, segundo diretrizes e guideline American Heart Association: Fonte: American Heart Association, 2015 Unidade 1O enfermeiro em situações de urgência e emergência 31 1.3 Considerações da unidade I Nesta unidade pudemos obsevar a importância do Enfermeiro em unidades de urgência e emergência, e toda a complexidade que a unidade exige desses pro- fissionais. Foi possível entender sobre o atendimento a vítima de parada cardiorrespira- tória em ambiente hospitalar e os passos que devem ser seguidos para um atendi- mento de qualidade buscando melhores prognósticos. Também enfatizo-se com detalhes como deve ser realizado o acolhimento do paciente que procura a unidade de pronto-socorro e sua classificação de risco segun- do escalas operacionais. Assim, após esse estudo, você será capaz de receber e executar uma classi- ficação de risco adequada segundo sinais e sintomas apresentados pelo paciente e reconhecer e atender pacientes que apresentem parada cardiorrespiratória em diferentes idades e o manuseio do DEA (desfibrilador automático). A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 33 2Unidade II Atendimento cardiovascular Objetivos da Unidade: • Estudar o Infarto Agudo do Miocárdio. • Estudar sobre Insuficiência cardíaca. • Entender Morte súbita. • Compreender sobre Suporte Avançado de vida. Habilidades e Competências da Unidade: • Reconhecer e atender vítimas de Infarto Agudo do miocárdio. • Reconhecer sinais e sintomas de ICC, realizar atendimento adequado. • Atendimento à vítima de Morte Súbita. • Atendimento em Suporte Avançado de vida. A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 34 2.1 Infarto agudo do miocárdio As doenças cardiovasculares são atualmente a principal causa de morbidade e mortalidade no mundo. A incidência de doenças cardiovasculares vem apresentando um aumento pro- gressivo a cada ano, isto ocorre devido ao aumento da estimativa de vida e a modifi- cação do estilo de vida, que passa a ser mais sedentária, resultando na obesidade e por consequência pode levar ao aumento de lipídios no sangue ou picos de pressão, que associados ao tabagismo e etilismo tendem a potencializar o risco de uma pessoa desenvolver algum tipo de doença cardiovascular (BAGNATORORI, et. al., 2009). Aterosclerose é uma doença que acomete as artérias musculares grandes e médias, e as artérias elásticas, é caracterizada por uma elevação da parede do vaso que contem lipidesintra e extracelulares na camada íntima, recoberta por uma pare- de fibrosa, sendo a aterosclerose a lesão básica (BAGNATORORI, et. al., 2009). Entende-se por síndrome coronariana aguda o conjunto de manifestações is- quêmicas da musculatura miocárdica. As síndromes coronarianas mais comuns são: angina instável e infarto agudo do miocárdio, que pode apresentar-se com ou sem supra de segmento ST. A fisiopatologia da Síndrome Coronariana Aguda (SCA) está ligada a placa de ateroma, que pode ser instável ou vulnerável, ela se difere da placa que causa a angina que denomina-se placa estável, pois apresenta uma maior quantidade de células inflamatórias, maior conteúdo de gorduras, presença de agentes infecciosos e capa fibrótica menos e mais frágil, sendo assim torna-se mais suscetível a ruptura (BAGNATORORI, et. al., 2009). Quando a placa se rompe causa o que chamamos de trombose aguda colo- cando, assim, grande exposição de sangue a fatores pró-coagulantes existentes abai- xo do endotélio vascular, dando início a cascata de reações enzimáticas que resultam na formação local de trombina e de fibrina e desencadeiam a agregação plaquetária (BAGNATORORI, et. al., 2009). Em situações que a ruptura da placa é superficial e não existe obstrução total do lúmen da artéria, a expressão clínica utilizada para retratação desse evento é síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento de seguimento ST, que ocorre devido a isquemia da área afetada, sendo considerada Angina Instável ou Infarto subendocardico, ou IAM sem supra de seguimento ST, que além de se re- lacionar à obstrução subtotal do vaso coronariano culpado, possui maior incidência de fluxo colateral para a zona infartada (BAGNATORORI, et. al., 2009). A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 35 Quando existe a ruptura da placa de forma mais extensa e profunda, temos a oclusão total da coronária o que causa uma grande zona de necrose, que pode envol- ver quase que por inteiro a espessura da parede ventricular. Nesse caso ocorre uma elevação bem típica do seguimento ST no traçado do ECG, denominando-se Infarto agudo do Miocárdio com supradesnivelamento de seguimento ST (BAGNATORO- RI, et. al., 2009). Por volta de 1980, começou-se a implantar em serviços de saúde o atendimen- to específico para pacientes que apresentassem dor torácica, visando fornecer assim um atendimento mais ágil, com melhor acurácia diagnóstica e maior eficiência no atendimento multidisciplinar desses pacientes (BAGNATORORI, et. al., 2009). Os enfermeiros têm um papel de extrema importância no atendimento de pacientes com síndromes coronarianas agudas, sendo fundamental que os pro- fissionais conheçam a fisiopatologia da doença e suas classificações, as alterações clínicas apresentadas pelo paciente e as alterações diagnósticas. Após o reconhecimento inicial de uma SCA a abordagem a ser seguida é a seguinte: • Confirmação do diagnóstico (através de exameslaboratoriais, ou de imagem); • Diminuir as taxas de oxigênio pelo miocárdio utilizando medicações específicas; • Estabelecer um plano terapêutico para estabilização da placa esclerótica ou a desobstrução da artéria coronária afetada. • Estabelecer intervenções para melhora da qualidade de vida durante o atendimento. Para nós enfermeiros, o que constitui um bom atendimento ao paciente em SCA: Exame clínico: que compreende a anamnese que mostra ser o instrumento de melhor avaliação do diagnóstico da SCA, sendo que neste caso o exame físico passa a não ter um valor significativo, a menos que tenhamos repercussões acentuadas valvares ou ventriculares. Quanto à abordagem do paciente que apresente dor torácica seguimos: • Encaminhamos para sala de atendimento de emergência; • Realizam-se ECG de 12 derivações; A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 36 • Monitoriza-se a pressão arterial, oximetria de pulso, instala-se oxigênio e punciona-se um acesso venoso periférico calibroso de modo a realizar grandes volumes medicamentosos em caso de necessidade. Os sinais que devemos analisar em um paciente com SCA são: • Normalmente a maneira com a qual o paciente descreve a dor, que vem em forma de peso, aperto, opressão ou sensação de mal-estar, pontadas ou fisgadas não são típicas, mas não se deve excluir o comprometimento coronariano; • A localização da dor é geralmente indicada com a mão que o paciente es- frega no peito, ou com o punho cerrado, que aponta para uma região maior que a polpa digital, que se manifesta no precórdio ou no epigástrio. Sinais e sintomas apresentados pelo paciente durante o atendimento na uni- dade hospitalar, como exemplo para onde a dor irradia, atente-se que os locais de radiação vão desde a região supra-umbilical até a mandíbula, ombros e membros superiores, sendo que a mais comum é a dor irradiar para o membro superior es- querdo, porém a dor pode irradiar para qualquer porção do tórax, membro superior direito, epigástrio ou até mesmo dorso (BAGNATORORI, et. al., 2009). • Fatores precipitantes de piora e alívio, como estado de estresse emocional, embora a dor quando de origem coronariana geralmente inicia-se em re- pouso, a presença de fatores precipitantes de piora como a inspiração pro- funda, a posição que ocupa no leito, a movimentação de feixes musculares específicos, a alimentação copiosa ou a palpação do local da dor, mostram uma condição pouco provável para síndrome coronariana aguda. Quando apresenta-se dor típica de SCA , ela geralmente tende a melhorar no repou- so e com o uso de algum nitrato de ação rápida. • A duração da dor é variável, com apresentação intermitente superior a 2 mi- nutos, e inferior a 20 minutos, quando a dor se prolonga por mais de 30 mi- nutos é mais associada ao IAM com supradesnivelamento de seguimento ST. • Fatores associados são diaforese, extremidades frias e pegajosas, palidez, náuseas, vômitos. Tradicionalmente, a dor precordial é o sintoma mais importante encontrado na SCA, embora em algumas situações a dor não exista ou simplesmente se apresenta de forma atípica para dores isquêmicas. A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 37 As principais apresentações para síndromes coronarianas agudas são: angi- na de repouso, angina de início recente, e angina progressiva. Geralmente a angina típica se caracteriza por uma dor opressiva, profunda, de localização torácica mal definida, que pode se potencializar ao esforço, estresse emocional, com alívio rápido em até 5 minutos, com repouso ou uso de nitrato sublingual. Alguns pacientes não apresentam dores precordiais, apenas nos braços, man- díbula e cervical ou epigástrio, esse esforço se aliviado com nitrato pode ser conside- rado equivalente de angina. A apresentação atípica da SCA acomete principalmente pacientes abaixo de 40 anos de idade ou acima de 75 anos, diabéticos e do sexo feminino, essas apresen- tações incluem dores anginosas, que permanecem ao repouso, dor reproduzida a palpação, dor epigástrica, dor tipo pleurítica, dispneia progressiva, náuseas, vômitos. A morte súbita também pode ser manifestação inicial da doença cardíaca isquêmica em pacientes adultos com fatores de risco positivo para doença ateros- clerótica. O exame mais simples e mais efetivo para diagnosticar SCA é o eletrocardiogra- ma, pois é capaz de fornecer dados que sugiram diagnóstico de isquemia miocárdica ou de outros diagnósticos diferencias, como por exemplo, pericardites, tromboem- bolismo pulmonar ou cardiomiopatia. O ECG deve ser realizado nos primeiros dez minutos após a queixa do paciente em âmbito hospitalar, a realização do exame durante a apresentação de sintomas é de grande relevância, visto que a presença de alterações de seguimento ST e de onda T durante episódios de dor precordial, que se resolvem após alívio da dor sugerem fortemente o diagnóstico de SCA. A presença de supra desnível de seguimento ST de ao menos 0,1 mV em duas derivações contíguas faz o diagnóstico de SCA com supra desnivelamento de segui- mento ST, e esse paciente é um forte candidato a terapia de reperfusão imediata. Portanto, ao analisar o ECG devemos entender que de acordo com a alteração apresentada é possível entender se o paciente está ou não com uma lesão miocárdi- ca (IAM) e qual o grau de comprometimento. Pode-se, também, identificar o IAM pelos biomarcadores de necrose tecidual, pois a dosagem é essencial para estabelecer o diagnóstico de SCA, e também faz o diagnóstico diferencial entre angina e infarto, que se encontram alteradas no IAM e inalteradas na angina. A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 38 Geralmente dosamos CK-MB, Troponinas e mioglobulinas, a CK é uma enzima reguladora na produção e utilização de fosfato de alta energia, nos tecidos muscu- lares, e seus níveis tem interação com integridade e tônus muscular, é um marca- dor sensível à lesão miocárdica, porém não é específico, ele eleva-se na circulação sanguínea de 4 a 6 horas após a lesão tecidual e atinge seu pico de 14 a 18 horas e normaliza-se entre 48 e 72 horas. A CK-MB é uma isoenzima da CK, é uma enzima encontrada no músculo cardía- co por isso é mais específica para diagnósticos de injúria miocárdica. A mioglobulina é uma hemeproteina que pode ser encontrada no músculo es- triado esquelético, portanto torna-se um marcador menos específico de injúria mio- cárdica, mas é a primeira a ser liberada da circulação sanguínea, seu pico de ação é de seis horas após sua liberação e a normalização entre 12 e 14 horas. As troponinas T e I são proteínas que se encontram na membrana dos miócitos cardíacos, por esse motivo são específicas do músculo cardíaco. Ao ser liberada na corrente sanguínea é possível identificar injúria miocárdica, seu pico é entre 36 e 72 horas após sua liberação e se normaliza em 5 a 14 dias (GARG, 1998). Observe o quadro abaixo: Enzimas miocárdicas, elevação, pico e normalização: Elevação Pico Normalização CK-MB 4-8 horas 12-20 horas 2-3 dias Troponina T 3-6 horas 10-24 horas 10-15 dias Troponina I 3-6 horas 14-20 horas 5-7 dias Mioglobulina 0,5- 3 horas 5-12 horas 1-2 dias Fonte: BAGNATORORI, et. al., 2009. Drogas utilizadas em atendimento inicial a dor torácica A utilização de drogas como intervenção inicial ao tratamento de dor toráci- ca visa a diminuição da taxa de oxigênio do miocárdio e retarda o processo atero- trombótico de obstrução coronária, para esse procedimento seguimos a expressão MONAB – que tem por tradução Morfina, Oxigênio, nitroglicerina, antiagregante pla- quetário, betabloqueador, porém nem todos os pacientes devem ser submetidos a essa terapia medicamentosa em sua totalidade, algumas alterações particulares nos impedem de realizar determinadas drogas, o que poderia ao invés de melhorar a A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 39 condição do paciente, agravar seu estado e assim complicar seu prognóstico(BAG- NATORORI, et. al., 2009). Após tratamento inicial do paciente diagnosticado com SCA, os subdividimos em dois grupos; 9 Os que apresentam elevação de seguimento ST (IAM com supradesnivela- mento de seguimento ST); 9 Os que não apresentam elevação do seguimento ST (IAM sem supra des- nivelamento de seguimento ST) (American Heart Association, 2005). A sequência a ser seguida quando observamos dor torácica é a seguinte: Dor torácica sugestiva de evento isquêmico Monitorização, oxigênio e veia (MOV), anamnese e exame físico, realização de ECG (10 minutos), exames complementares (laboratoriais e imagem), MONAB (terapia medicamentosa) Se supra de seguimento ST ou BRE novo devemos implementar terapia medicamentosa com infusão de fibrinolíticos ou terapia de reperfusão mecânica ( Angioplastia primária ) Se infradesnivelamento de seguimento ST ou inversão de onda T ou se ECG não apresentar alterações de seguimento ST realizar estratificação de risco Se risco intermediário para alto, devemos realizar terapia medicamentosa e diag- nóstico invasivo para SCA, e solicitar internação em unidade coronariana se baixo risco , solicitar internação para investigação de possíveis causas de dor torácica (Bagnatorori RS et. al, 2009). A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 40 O ECG com supradesnivel de seguimento ST, observado no traçado eletrocar- diográfico é um aumento de 2mm em duas derivações contíguas periféricas ou 1mm nas derivações precordiais, sendo assim quando observadas, compõem o diagnósti- co de SCA com supradesnivelamento de seguimento ST (American Heart Association, 2005). O tempo é um fator de extrema importância no tratamento de SCA com su- pra de seguimento ST, pois qualquer que seja a estratégia de reperfusão miocárdi- ca (trombólise ou angioplastia primária tem um tempo para ser administrado com maior eficácia no tratamento), ou seja quanto mais precoce for o tratamento, melhor seu prognóstico, pode-se dizer, portanto, que durante as primeiras horas do evento isquêmico é onde são realizadas as contribuições mais importantes. A terapia de reperfusão deve ser avaliada de maneira individual, respeitando o tempo de início dos sintomas que deve ser de até 12 horas, respeitando-se assim as contra-indicações para realização de trombólise, se opção de escolha de reperfusão for a terapia trombolítica, essa deve acontecer em sala de emergência nos primeiros 30 minutos após a realização do ECG, o que chamamos de tempo porta agulha, ou ainda pela reperfusão mecânica que deve respeitar o tempo de 60 a 90 minutos, o que consideramos tempo porta-balão que é a chegada do paciente até o cateterismo (BAGNATORORI, et. al., 2009). Atualmente são usados como terapia medicamentosa trombolítica ou fibrino- lítica as seguintes medicações: Alteplase (TPA), o tenecteplase (TNK) e a menos utilizada hoje em dia Es- treptoquinase (SK), são elas: 9 Estreptoquinase: proteína extraída da cultura de estreptococos que rea- liza a ativação do plasminogênio, utilizada na rede pública por ter baixo custo em relação aos demais fibrinolíticos (Bagnatorori RS et. al, 2009). 9 Alteplase: Ativa o plasminogênio ligado a fibrina, sendo considerada sele- tiva ao coágulo; 9 Tenecteplase: é ativador recombinante do plasminogênio especifico com a fibrina, derivado do t-PA humano por meio de modificações genéticas. O TNK liga-se a fibrina, componente do tombo e seletivamente converte o plasminogênio em plasmina a qual degrada a matriz da fibrina do trombo. A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 41 Quando devemos usar o trombolítico? 9 Dor torácica de IAM < 12 horas; 9 Supra de ST > 1mm em > 2 derivações contíguas; 9 BRE (bloqueio de ramo esquerdo) novo. Contraindicações absolutas 9 AVC hemorrágico; 9 Outros eventos cerebrais < 1 ano; 9 Neoplasia intracraniana; 9 Sangramento interno ativo (exceto menstruação); 9 Suspeita de dissecção de aorta. Contraindicações relativas • HAS > 180 x 110 mm HG e não controlável; • Outras patologias cerebrais; • Uso de anticoagulantes (INR > 2-3); • Trauma recente (2-4 semanas); • RCP prolongada (>10 minutos) e traumática; • Cirurgia de grande porte (<3 semanas); • Punção vascular não compressível; • Sangramento interno recente (<2-4 semanas); • Estreptoquinase nos últimos dois anos; • Gravidez; • Úlcera péptica ativa. A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 42 Angioplastia primária A angioplastia primária é denominada quando utilizada como primeira conduta te- rapêutica destinada à recuperação do fluxo coronariano, sem que se tenha realizado a trombólise. Angioplastia de resgate ou salvamento é aquela que acontece após a realização de trombólise (BAGNATORORI, et. al., 2009). 2.2 Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) A Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICC se transformou em uma das sín- dromes clínicas de mais alta complexidade, no que diz respeito a sua fisiopatologia e seu tratamento. A ICC é uma síndrome clínica que resulta do processo de remodelação, na qual o tamanho e o formato e função da capacidade do ventrículo de bombear sangue oxigenado não é suficiente para satisfazer os requisitos metabólicos. Os mecanismos compensatórios da frequência cardíaca aumentada, vasoconstrição e hipertrofia fa- lham mais adiante, levando a característica síndrome de insuficiência cardíaca: pres- sões atriais ou ventriculares aumentadas, retenção de sódio ou água, débito cardíaco diminuído e congestão circulatória pulmonar. A disfunção sistólica ocorre quando existe dificuldade em esvaziar o ventrículo esquerdo por conta da contratilidade mio- cárdica prejudicada; a disfunção diastólica ocorre quando o ventrículo esquerdo é incapaz de se relaxar e encher de maneira suficiente para acomodar o sangue oxigenado suficiente, que retorna do circuito pulmonar. A disfunção sistólica leva à resistência vascular sistêmica aumentada e após carga aumentada, e a disfunção diastólica leva a congestão vascular pulmonar. As causas da insuficiência cardíaca incluem os distúrbios do músculo cardía- co, que por sua vez reduz a contratilidade cardíaca, que pode ser ocasionada por miocardite, miocardiopatia, infarto do miocárdio, doença valvular congênita ou ad- quirida, hipertensão e arritmias. As complicações da insuficiência cardíaca incluem a insuficiência cardíaca re- fratária levando à morte, arritmias cardíacas, insuficiência miocárdica, infarto pulmo- nar, pneumonia e embolia (BACAL et. al., 2009). A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 43 A insuficiência cardíaca subdivide-se em 4 estágios, são eles: Estágio A: • Pacientes que apresentam alto risco de desenvolver IC, porém não apre- sentam sintomas ou doença estrutural manifesta. O tratamento deve ter como objetivo o controle rigoroso dos fatores de risco, tais como: hiperten- são arterial, diabetes, dislipidemia, tabagismo e álcool. Outros fatores a serem observados são a frequência ventricular em pa- cientes com taquiarritmias supraventriculares, tratamento de possíveis disfunções de tireoide e avaliações periódicas para diagnóstico precoce de disfunção ventricular. Estágio B • Pacientes que apresentem disfunção ventricular esquerda e que ainda não apresentaram sintomas da doença. Estágio C • Pacientes que apresentam disfunção ventricular esquerda com sintomas, essa fase já é possível introduzir terapia medicamentosa como uso de diu- réticos, inibidores da eca, betabloqueadores, digitálicos para sintomas de descompensão e espironolactona em pacientes que mantêm função renal preservada e níveis de potássio adequados. Nessa fase o uso de determi- nadas medicações pode agravar os sintomas de IC, como por exemplo os antiinflamatórios ou betabloqueadores, alguns antiarrítmicos. Estágio D • Nessa fase o paciente apresenta IC refratária e necessita de transplante. A insuficiência cardíaca pode ser tratada de duas maneiras distintas, são elas otratamento farmacológico e o não farmacológico. Tratamento não farmacológico Esse tratamento baseia-se na prevenção e acompanhamento do paciente an- tes da fase crítica da IC. Ele consiste nas orientações realizadas pelas equipes multi- A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 44 disciplinares, isso podendo ser em âmbito ambulatorial, ou até mesmo por telefone, onde dentre as principais orientações observamos os sintomas de descompensação da IC, acompanhamento nutricional, o controle de peso, a melhora do autocuidado, repouso e exercício, vacinação, viagens, instruções para contato direto com as equi- pes e a avaliação rigorosa do paciente periodicamente. Tratamento farmacológico Sabendo-se que a IC é uma complexa síndrome, no que tange ao tratamento medicamentoso, podemos e devemos fazer algumas combinações para melhor ava- liar o alívio dos sintomas, mas também impedir ou retardar a progressão da disfun- ção ventricular, sendo que o primeiro objetivo é a remoção da causa precipitante de descompensação, quando possível, como segundo objetivo temos a progressão da doença (BACAL et.al., 2009). O tratamento farmacológico visa inibir os efeitos deletérios dos mecanismos “compensatórios”, interrompendo o ciclo vicioso que leva a progressão da disfunção ventricular, no sentido de não apenas aliviar os sintomas, mas também reduzir a progressão da doença e a mortalidade. • Diuréticos: Os diuréticos aliviam os sintomas de congestão e reduzem a hospitalização, sendo assim uma das principais medicações utilizadas para portadores de IC, a maioria dos pacientes requer o uso de diuréticos de alça, e aqueles com IC refratária requerem com frequência associações de diuréticos que agem em diferentes locais do nefron. Os efeitos colaterais mais frequentes dos diuréticos são distúrbios hidroeletrolíticos. • Digitálicos: Apresentam efeito inotrópico, e promovem aumento do cálcio intracelular mediante a inibição da bomba sódio-potássio-ATpase. Modu- lam a ativação neuro-hormonal através da redução da atividade simpática, estimulando a ação vagal, e aumentando a sensibilidade dos reflexos, ba- rorreceptores e cardiopulmonares com consequente diminuição no consu- mo de oxigênio (BACAL et.al., 2009). • IECA: Inibidores da enzima conversora de angiotensina. Esses mecanismos ocorrem principalmente na enzima de conversão de angiotensina, redu- zindo a angiotensina II, e em consequência a aldosterona, e na redução do metabolismo da bradicinina, com consequente liberação de óxido nítrico e prostaciclina, obtendo assim uma potente ação vasodilatadora. A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 45 • Betabloqueadores: a introdução dos receptores beta-adrenérgicos no tra- tamento farmacológico da IC constitui um dos maiores avanços nos últimos anos no que se diz ao manejo da doença, seu uso é de extrema importância na atenuação da hiperatividade simpática aumentada na IC, que contribui para progressão da disfunção miocárdica (Bacal F et al, 2009). Seus efeitos benéficos incluem a inibição da cardiotoxidade das catecolaminas, redução do consumo de energia pelo miocárdio e melhora no relaxamento diastóli- co, proteção contra espasmo microvascular e contra necrose miocárdica secundária a produção de catecolaminas, inibição da vasoconstrição periférica, redução da fre- quência cardíaca, normalização do número e resposta dos receptores beta miocárdi- cos, melhora do remodelamento cardíaco, efeitos anti-hipertensivos, antianginosos, antiarrítmicos, antiproliferativos. Os 3 betabloqueadores disponíveis para IC com efetividade comprovada são o metroprolol, bisoprolol, carvedilol (BACAL et.al., 2009). Anticoagulante e ácido acetilsalicílico são indicados como prevenção para pa- cientes com trombos intracavitários, Fibrilação atrial e infarto anterior extenso ou evento embólico pregresso. Apesar do maior risco de eventos embólicos, não está definido o papel de anticoagulantes como prevenção primária em pacientes com miocardiopatia dilatada. • Antiarrítmicos da classe I são contra indicados na IC. O uso de amiodarona na insuficiência cardíaca se restringe apenas a manutenção do ritmo sinu- sal e controle de frequência cardíaca em pacientes com Fibrilação atrial e na prevenção secundária de morte súbita geralmente associada a CDI (re- duzindo a frequência de choques). Os exames complementares a realizar em pacientes com IC são basicamente: ECG no qual podemos observar a hipertrofia e tensão ventricular; radiografia de tó- rax, que nos mostra a cardiomegalia e possíveis derrames pleurais; congestão vascu- lar e pulmonar; Ecocardiografia (bidimensional) que nos mostra a hipertrofia, dilata- ção dos compartimentos e constrição anormal; gasometria arterial para detecção de hipoxemia; provas de função hepática que podem apresentar-se elevadas por conta do aumento da congestão hepática, o nível de digoxina, os eletrólitos, e as provas de função renal; o BNP peptídeo natriurético cerebral que é produzido por células car- díacas quando a pressão aumenta, elevando-se de maneira crescente conforme a IC se agrava; o cateterismo pode ser realizado para verificar isquemias. A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 46 2.2.1 Morte súbita e parada cardiorrespiratória A morte súbita cardíaca (MSC) é definida como interrupção abrupta, inespera- da e irreversível de todas as funções biológicas, com ou sem sintomas premonitó- rios. A parada cardiorrespiratória tem como mecanismo desencadeante a interrup- ção súbita da função contrátil-propulsora cardíaca, podendo ser reversível por uma intervenção, o que caracteriza o conceito de “morte súbita” abortada (Quilici AP et al, 2009). No Brasil estima-se que anualmente há 300 mil vítimas de morte súbita, su- perando todas as mortes por síndrome de imunodeficiência adquirida, câncer de mama e pulmão e acidente vascular cerebral. A MSC tem causa cardiovascular em 70 a 80% dos casos, e neurovascular em 10 a 15 %. A MSC decorre de uma arritmia em 88% dos casos, sendo que desses de 60 a 80% incluem os ritmos desfibriláveis, como TV sem pulso ou FV. As taxas de sobrevivência a uma PCR dependem da eficácia do atendimento, assim como o tempo da primeira desfibrilação, alguns dados encontrados na litera- tura relatam que quando o primeiro choque foi aplicado com mais de 12 minutos de PCR a sobrevida girou de 2 a 5 %. A gênese da MSC e da PCR está intrinsecamente relacionada com distúrbios do sistema de condução cardíaco, o que deflagra arritmias por complexos mecanismos, os quais variam em função da patologia de base, e também com os próprios pacien- tes (Quilici AP et al, 2009). Desta forma, a instabilidade elétrica do miocárdio, os fatores agudos ou tran- sitórios que atuam sobre a propagação do impulso elétrico, os radicais livres, as ar- ritmias de reperfusão e as anormalidades estruturais cardíacas, podem interferir na homeostase do sistema de condução e culminar em arritmias malignas como a FV e a TV sem pulso, assistolia e AESP, as quais caracterizam os ritmos de PCR, podendo ser reversíveis ou levar a morte súbita cardíaca (QUILICI, et. al., 2009). Descrição das arritmias malignas e seus fatores etiológicos Fibrilação Ventricular (FV). É considerada a mais grave de todas as arritmias cardíacas, que o não tratamento imediato da FV resultará em PCR - trata-se de um rit- mo caótico e desorganizado no qual diversas áreas dentro dos ventrículos mostram variações na despolarização. A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 47 9 Geralmente resultando em óbito de 3 a 5 minutos, por colapso hemodinâ- mico. Durante a FV o ritmo é irregular e as ondas elétricas apresentam-se polimórficas, não existe complexo QRS, seguimento ST, ondas P, e ondas T (QUILICI, et. al., 2009). 9 Taquicardia ventricular é definida como três batimentos ou mais sucessi- vos de origem ventricular, com a frequência cárdica maior que 100 bpm, oscomplexos QRS não apresentam formas normais, mostrando-se em- pastados decorrente de foco ectópico ventricular, o ritmo costuma ser re- gular, essa arritmia pode ser bem controlada como também pode estar associada a comprometimento hemodinâmico grave, o que acarreta risco de morte ao paciente. As consequências da TV dependem da presença de ou ausência de disfunção miocárdica e da frequência da taquicardia. O paciente com TV que não apresenta pulso ou que está inconsciente deve receber desfibrilação sincronizada imediata (QUILICI, et. al., 2009). 9 Assistolia ventricular é um ritmo de PCR não passível de receber tratamen- to elétrico, descrito na ausência de atividade elétrica discernível ao moni- tor ou ECG observando-se apenas um traçado isoelétrico. Não costuma ser associada a um prognóstico positivo, pois representa frequentemente o ritmo terminal de pacientes cujos órgãos estavam insuficientes, essa ar- ritmia pode ser decorrente de bloqueios cardíacos completos, bem como suceder uma FV grosseira, a qual gradativamente torna-se mais fina até deteriorar-se por completo para uma assistolia (QUILICI, et. al., 2009). 9 AESP (Atividade Elétrica sem pulso) refere-se a qualquer ritmo que embora organizado aparente no monitor ou ao ECG, não produz pulso detectável devido a deterioração progressiva da atividade contrátil-propulsora car- díaca, essa definição exclui arritmias ventriculares, sendo assim podemos ter ritmos taquicárdicos ou bradicárdicos, apresentando complexo QRS estreito ou alargados. A AESP é muitas vezes associada a estados clínicos reversíveis (QUILICI, et. al., 2009). Algumas vítimas de morte súbita não apresentam eventos premonitórios imi- nente, entretanto quando presentes caracterizam-se por dor torácica, palpitações, dispneia e cansaço aos mínimos esforços, hipotensão e visão turva. Quando evolui para parada cardíaca, a ausência de débito cardíaco efetivo pro- duz depleção da oxigenação cerebral e subsequente perda do nível de consciência, paciente apresenta-se irresponsivo, apnéica ou com respirações agônicas e sem pul- so palpável em grandes artérias. A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 48 O atendimento de uma PCR pode ser realizado em dois contextos: âmbito pré- -hospitalar ou hospitalar. No que entende-se por atendimento pré-hospitalar, deve-se considerar a de- finição de “corrente da sobrevida” pela American Heart Association (AHA). Trata-se de uma sequência de quatro elos encadeados, que padronizam as condutas a serem seguidas, de forma rápida e eficaz na vigência de uma parada cardiorrespiratória: acesso precoce com o respaldo imediato do time de emergência, RCP precoce asse- gurando a reperfusão e oxigenação de órgãos vitais, desfibrilação precoce e suporte avançado precoce (QUILICI, et. al., 2009). O suporte básico de vida compreende: 9 Realizar manobras e vários passos que compreendem o ABCD primário da ressuscitação (QUILICI, et. al., 2009). 9 Alertar, ajudar e abrir vias aéreas, avaliando o nível de consciência, ativa- ção do serviço médico de emergência na confirmação de irresponsividade e abertura das vias aéreas com manobra de inclinação da cabeça- eleva- ção da mandíbula; 9 Realizar ventilações de resgate; 9 Checar o pulso, se necessário iniciar compressões torácicas; 9 Aplicar desfibrilação quando recomendado. Avaliar nível de consciência 9 Após avaliação primária e secundária, avaliar a responsividade do paciente. Abertura de vias aéreas 9 Movimentando a mandíbula para frente elevando a língua, liberando a parte posterior da faringe, o que desbloqueia a via aérea e permite a pas- sagem do ar, se não observar sinais de trauma então opta-se pela inclina- ção da cabeça e elevação do queixo (QUILICI, et. al., 2009). Respiração Para avaliar a respiração deve-se tentar ouvir a passagem do ar pelo nariz ou boca da vítima, e observar expansibilidade torácica, se não observar expansibilidade ou a respiração apresentar-se anormal, promover respirações de resgate. A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 49 Circulação Checar pulso carotídeo, deve ser efetuada a cada 5 a 10 segundos, em caso de dúvidas, realizar manobras de RCP. Compressões torácicas 9 Recomenda-se 30 compressões por duas ventilações, o tórax deve ser comprimido com até 5 cm de profundidade, possibilitando seu retorno total. Desfibrilação Nos primeiros minutos da PCR o coração encontra-se na fase elétrica quando a amplitude da Fibrilação ventricular é de alta frequência (FV grosseira), estando o coração preparado para ser desfibrilado. Após os primeiros 5 minutos de PCR o co- ração entra na fase circulatória, onde a amplitude da FV é diminuída, pela depleção do substrato energético do miocárdio (FV fina). Ao iniciar a RCP com mais de 5 minutos de parada, preconiza-se iniciar mano- bras de reanimação e em seguida avaliar possibilidade de desfibrilação (QUILICI, et. al., 2009). O nível de energia utilizada para o procedimento depende do dispositivo a ser utilizado, para dispositivos chamados monofásicos utiliza-se 360 J e para dispositivos bifásicos utilizamos de 120 a 200 J de acordo com orientações do fabricante, preco- niza-se iniciar com um choque de 200J e os choques sequência de voltagem similar ou superior ao primeiro. Reavaliação Se a vítima se movimentar após manobras de RCP e pós-choque não é reco- mendado checar o ritmo, se pulso palpável, respiração presente e adequada, indica- do lateralizar a vítima e permanecer monitorando a respiração e circulação de ma- neira intermitente. Suporte Avançado de vida 9 O ABCD secundário compreende a obtenção de via aérea definitiva; 9 Confirmação da posição do dispositivo orotraqueal, ventilação e oxigenação; A Braz CubasUnidade 2 Atendimento cardiovascular 50 9 Obtenção de acesso venoso, monitorização cardíaca, administrações de drogas, manutenção da RCP; 9 Tratar causas reversíveis. Para a obtenção de via aérea definitiva, opta–se por intubação orotraqueal convencional ou através de dispositivos facilitadores, como máscara laríngea combi- tube esofágico (QUILICI, et. al., 2009). Confirmação e fixação de I.O.T pode ser realizada por ausculta ou exame de imagem tipo radiografia de tórax, ou com testes onde é possível detectar se a intu- bação está epigástrica por meio de uma seringa acoplada ao tubo e estetoscópio em região gástrica, ao insuflar a seringa se a ausculta for predominante em região gástrica será necessário a retirada do dispositivo e a sua recolocação. Obtenção de acesso venoso, é realizado através de cateter venoso periférico capaz de aguentar grandes volumes de medicamentos que necessitem ser infundi- dos de maneira imediata no paciente. Monitorização cardíaca, realizada através de monitor com eletrodo de 5 ou 3 derivações, preconizando avaliar periodicamente o ritmo cardíaco do paciente. Medicações, geralmente é utilizada a epinefrina como primeira droga de esco- lha em uma PCR, a cada 3 minutos ou após cada ciclo de compressões, em substitui- ção a epinefrina pode-se utilizar a vasopressina, recentemente retirada do protocolo ACLS, pela não confirmação da relevância na PCR. Para manutenção da RCP e reavaliação do ritmo deve-se evitar minimizar as interrupções nas compressões cárdicas, apenas interromper para obtenção de via aérea avançada ou para reavaliação de ritmo a cada 2 minutos (QUILICI, et. al., 2009). Para o diagnóstico diferencial, deve-se tratar a causa base da RCP, para cada condição realiza-se uma conduta específica (American Heart Association, 2015). A Braz CubasUnidade 2Atendimento cardiovascular 51 2.3 Considerações da unidade II Nessa unidade você pôde entender sobre algumas afecções do aparelho car- diovascular e suas complexidades, como o atendimento e reconhecimento de pa- cientes que possam vir a apresentar infarto, ou descompensações cardiovasculares graves. Com esse estudo é possível qualificar-se no reconhecimentode morte súbita e as manobras necessárias para o atendimento de pacientes que possam apresentar essa situação (CALIL, et. al., 2009). O atendimento no suporte avançado de vida mostra ao profissional enfermei- ro o quanto o atendimento de qualidade e eficiente pode trazer benefícios ao pacien- te, melhorando seu prognóstico. A Braz CubasUnidade 3Atendimento de emergência em neurologia, hemorragias, queimados, afogados 53 3Unidade III Atendimento de emergência em neurologia, hemorragias, queimados, afogados Objetivos da Unidade: • Reconhecer e tratar as hemorragias; • Reconhecer e atender pacientes em emergências neurológicas; • Tratar Afogamentos, Queimados, intoxicados em diversos âmbitos; • Reconhecer o politrauma e prestar o atendimento necessário. Habilidades e Competências da Unidade: • Atendimento de pacientes com doenças neurológicas agudas; • Atendimento para queimados, afogados e intoxicados em emergência; • Estar apto a atender politraumatizados; • Manejo e atendimento de pacientes que apresentem hemorragias. A Braz CubasUnidade 3 Atendimento de emergência em neurologia, hemorragias, queimados, afogados 54 3.1 Hemorragias 3.1.1 Hemorragia digestiva alta (HDA) A hemorragia digestiva é a perda de sangue do aparelho digestivo, geralmente o sangramento se divide em alto e baixo ou mais conhecidos como hemorragia di- gestiva alta (HDA) ou baixa (HDB). É bastante frequente e pode ocorrer na forma de vômitos com sangue (hematêmese) ou por evacuação (melena e enterorragia). HDA tem origem em qualquer ponto do tubo digestório, desde a faringe até o ângulo Treitz (onde termina o duodeno e se inicia o jejuno), a doença ulcerosa e a gastrite hemorrágica representam etiologias mais comuns da HDA, e ocorrem em mais da metade dos casos seguidas por varizes esofágicas (CALIL et. al., 2009). A perda de sangue pode ocorrer de maneira discreta e continuada junto às fezes, podendo levar a anemia, e também pode manifestar-se tardiamente como fraqueza, mal-estar e hipotensão postural, ou mesmo levar ao estado de choque ou até a morte se a perda de sangue for grande. É importante avaliar se juntamente com a hemorragia existem mais doenças que podem potencializar esse estado, pois a perda de sangue tem como complicação a baixa oxigenação de tecidos e pode acarretar alto risco de isquemia e muitas vezes agravar doenças preexistentes (CALIL et. al., 2009). Ao apresentar HDA, devemos sempre nos atentar ao estado hemodinâmico do paciente, que é realizado por meio de obtenção de alguns dados como valores pressóricos, frequência cardíaca, diurese e pressão venosa central, seriar exames laboratoriais como hemoglobina e hematócrito, além de um coagulograma para cor- relacionar possíveis distúrbios. Na HDA as principais manifestações de sangramento se traduzem por hematêmese - vômito com presença de sangue que pode ser tipo borra de café, e melena, fezes enegrecidas e com odor fétido além do aceitável para uma pessoa saudável, enterorragia, sangue vivo nas fezes, é menos frequente na HDA (CALIL et. al., 2009). Varizes esofágicas, câncer gástrico e as úlceras gástricas, além de estarem re- lacionadas com maior mortalidade, tem maior índice de ressangramento. Na HDA é fundamental que sejam monitorados os sinais vitais de forma minuciosa, e assim analisar da melhor forma a reposição volêmica adequada. A Braz CubasUnidade 3Atendimento de emergência em neurologia, hemorragias, queimados, afogados 55 Após avaliação e estabilização do quadro clínico do paciente, deve-se investigar a presença de hemorragia ativa, causa que pode levar o paciente a morte, a presença de hematêmese e enterorragia traduzem a presença de hemorragia ativa, a melena é um quadro que pode permanecer de 3 até 5 dias após cessar a hemorragia; se ainda existir dúvidas quanto a presença de sangramentos, pode-se optar pela rea- lização de lavagem gástrica ou aspiração via sonda nasogástrica, que será efetiva na maioria dos casos que persistirem a hemorragia, sendo que esse procedimento ainda tem como função preparar o paciente para a realização do exame de E.D.A (endoscopia digestiva alta). Um tratamento que vem auxiliando para combater esse quadro hemorrágico é a erradicação da Helicobacterpilory, de contraponto a incidên- cia de hemorragias por varizes esofágicas tem aumentado pelo uso indiscriminado de anti-inflamatórios não hormonais (CALIL et. al., 2009). O melhor exame indicado para diagnosticar HDA é a E.D.A, endoscopia, pois pode- se observar em tempo real a presença de hemorragias e seu local específico. Também é possível usar para identificar hemorragias a cintilografia e arteriografia com hemácias marcadas, especialmente nos casos onde não é possível encontrar a hemorragia. O tratamento das hemorragias consiste em pausa alimentar, estabilização clí- nica e reposição de volume corpóreo, correção da coagulação, devemos atentar para os pacientes olitransfundidos medicamentos que tenham intuito de cessar o sangra- mento, como antiácidos bloqueadores de H2, vitamina K, endoscopia, eletrocoagula- ção, balão esofágico. 3.1.2 Hemorragia digestiva baixa (HDB) São aquelas que ocorrem abaixo do ligamento de Treitz, tem taxa de mortalida- de consideravelmente alta, se tratando de apresentação clínica podem ser divididas entre agudas, subagudas e crônicas com sangue oculto ou vivo (CALIL et. al., 2009). Sangramentos agudos ocorrem quando a perda rápida de sangue com volu- mes variáveis. Em grandes quantidades, a perda de sangue pode ser significativa levando em geral a hipovolemia. O sangramento subagudo é observado quando os volumes da perda de san- gue são em média quantidade, pode apresentar sangue oculto ou vivo nas fezes. A Braz CubasUnidade 3 Atendimento de emergência em neurologia, hemorragias, queimados, afogados 56 O sangramento crônico pode ocorrer sem manifestações clínicas aparentes, havendo uma adaptação gradual do organismo, caracteriza-se por sangramento oculto ou escuro, palidez cutâneo-mucosa é um dos sinais cardinais de hemorragia digestiva (CALIL et. al., 2009). As causas mais frequentes são hemorroidas, fissura anal, traumatismo anorre- tal, doença inflamatória intestinal, doença diverticular, pólipos colônicos, tumores de cólon e reto (adenocarcinoma), angiodisplasia colônica. Na HDB a característica das fezes pode auxiliar na localização do sangramento, como por exemplo, atentar para vestígios de sangue no papel higiênico, fezes cober- tas com sague são sinais mais frequentes de hemorragia anal, quando o sangue vem misturado com fezes ou com raios suspeitamos de neoplasia ou pólipo, sangramen- to intestinal podemos identificar na presença de melena, quando falamos de doença dos divertículos, podemos observar grande quantidade de sangue sem quase pre- sença de fezes (CALIL et. al., 2009). Exames complementares como o hemograma, coagulograma, colonoscopia, fleet enema, laparotomia, ajudam no diagnóstico de HDB. O tratamento consiste, assim como na HDA, em estabilizar o paciente, realizar reposição volêmica e o controle das condições gerais do paciente. O tratamento endoscópio pode ser utilizado para aplicar procedimentos de homeostase com o uso de vasoconstritores, esclerose e eletrocoagulação, em diver- sas situações como divertículo crônico sangrante, sangramento após polipectomia, e fissuras anais acompanhadas de sangramento. A conduta mais adotada em grandes hemorragias, além da reposição volêmica é a correção da anemia e da coagulação, e a restauração do equilíbrio hemodinâmi- co. A realização da colonoscopia na urgência pode não ser uma boa escolha já que nem sempre se consegue visualizar o ponto de sangramento. Cirurgias de urgência devem ser propostas quando o sangramento é ativo e intermitente nos casos onde a instabilidade hemodinâmica é persistente. 3.2 Acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico O Acidente vascular cerebral
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